O BOLSONARISMO COMO FASCISMO
DO SÉCULO XXI1
DEMIAN MELO
Sabendo o que sabemos hoje sobre o ciclo fascista,
poderemos encontrar sinais de advertência ainda
mais funestos em situações de impasse político diante
de uma crise, em que os conservadores ameaçados
procuram por aliados brutais, dispostos a abrir
mão do devido processo legal e do estado de direito,
tentando angariar o apoio das massas por meio de
demagogia nacionalista e racista.
[ PAXTON, 2007, P. 334 ]
Todas as vezes que se fala em fascismo a primeira imagem que vem à cabeça
é a do movimento da extrema direita liderado por um ex-socialista de nome
Benito Mussolini e que chegou ao poder na Itália no fim de 1922. Todavia, já
naquela época, embora seu nome de batismo seja italiano, analistas mais argutos
assinalaram que se tratava de um fenômeno internacional. Antonio Gramsci,
num artigo publicado em 24 de dezembro de 1920, no jornal socialista Avanti!,
escreveu: “O fenômeno do ‘fascismo’ não é apenas italiano, assim como não é
apenas italiana a formação do Partido Comunista” (Gramsci, 2004, p. 65-66).
Em vários países do continente europeu surgiram organizações de massas
ideologicamente contrarrevolucionárias dotadas de disciplina militar e alas
1
Agradeço a leitura crítica e sugestões dos amigos Marcelo Badaró Mattos, Virgínia Fontes e
Rejane Hoeveler. Como de praxe, reitero que o texto é de minha inteira responsabilidade.
12
dedicadas a atividades violentas contra o movimento operário. A mais conhecida foi aquela liderada por Adolf Hitler na Alemanha. Os fascismos italiano
e alemão são mais lembrados por terem sido capazes de alcançar o poder e
implantar regimes ditatoriais que levaram a humanidade ao sangrento conflito
da Segunda Guerra Mundial. No entanto, houve movimentos fascistas que
não conseguiram chegar ao poder, ou que chegaram ao âmbito de coalizões
mais amplas das direitas, como Espanha e Portugal. Outros se empoderaram
na condição de colaboracionistas da ocupação alemã a partir de 1940, como
o governo-fantoche de Vidkun Quisling na Noruega, mas é preciso lembrar
também de casos como o da França ocupada, cujo regime colaboracionista
de Vichy dispensou os movimentos fascistas locais que se conformaram em
apenas apoiar a situação. Somaram-se a estes aqueles movimentos fascistas fora
da Europa que nunca ultrapassaram a fase de movimento político. Da China
à Argentina, dos Estados Unidos ao México, movimentos fascistas surgiram
em várias latitudes do planeta.2
O próprio Brasil assistiu o surgimento de um autêntico movimento fascista
com o Integralismo em 1932, fundado por iniciativa do escritor modernista
Plínio Salgado, que se inspirou no modelo do fascismo italiano após uma
visita à península mediterrânea no início daquela década. A Ação Integralista
Brasileira (AIB) foi o primeiro partido de massas da história brasileira, chegando
a recrutar dezenas de milhares de brasileiros, com estimativas que vão de 200
mil a um milhão de adeptos.
Com o propósito comum de combater a esquerda, o governo Vargas foi
simpático aos integralistas que lhe apoiaram inclusive no golpe de Estado
de novembro de 1937, que instituiu o Estado Novo. Os fascistas brasileiros
acreditavam que aquele regime ditatorial poderia ser um passo decisivo para
a realização da utopia reacionária do Estado Integral concebido por ideólogos
como Miguel Reale. Houve até a esperança de que Vargas entregaria a estratégica
pasta do Ministério da Educação e Cultura ao líder Plínio Salgado, mas logo
perceberam que o ditador já não precisava mais de seus serviços. A frustração
acabou alimentando a tentativa de insurreição integralista em 1938, uma aventura
2
Cf. Paxton, 2007, 185-191; Finchelstein, 2017, p. 36.
13
que acabaria levando à dissolução temporária do movimento e ao exílio de
Plínio Salgado no Portugal do já ditador de traços fascistas Oliveira Salazar.3
Daquela época até hoje outras organizações fascistas surgiram na história
do Brasil, além do próprio integralismo, que através da legenda do Partido da
Representação Popular (PRP) participou dos processos eleitorais da República
de 1946, e posteriormente ingressou nos circuitos conspiratórios que efetivaram
o golpe de Estado de 1964, ajudando a formar com outras direitas o partido de
sustentação da ditadura militar, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Mas o
integralismo não mais conseguiu apresentar a face de movimento de massas que
marcou as suas origens, cindindo-se em grupelhos após a morte de seu líder em
1975. De lá pra cá alguns neointegralistas se filiaram ao Partido de Reedificação
da Ordem Nacional (PRONA), de Enéas Carneiros, e atualmente um ramo
encontra-se abrigado no Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB),
de Levy Fidelix e do vice-Presidente da República, general Hamilton Mourão.4
Hoje, nessa forma fragmentada, os neointegralistas compõem um dos muitos
movimentos de extrema direita reunidos em apoio ao governo Bolsonaro, ao
lado de monarquistas, tradicionalistas católicos, neonazistas, anarcocapitalistas,
fundamentalistas evangélicos, saudosistas da ditadura militar etc. Se é correto
caracterizar o bolsonarismo como um fenômeno fascista, que é o propósito
deste texto, uma primeira constatação é a de que ele reúne uma miríade de
correntes, catalisando uma série de grupúsculos de extrema direita.
O influente historiador do fascismo Roger Griffin assinalou a fragmentação
como um traço da extrema direita desde o fim da Segunda Guerra Mundial,
trazendo a imagem do rizoma para destacar o movimento fluido e fragmentário de grupelhos de extrema direita surgidos no mundo durante as últimas
décadas, uma “rede celular, sem centro e sem líder, com limites mal definidos
e sem hierarquia formal ou estrutura organizacional interna para fornecer uma
inteligência unificada” (Griffin, 2003). Essa imagem também corresponde
ao prognóstico compartilhado por Griffin e outros autores segundo o qual as
mudanças culturais ocorridas no mundo do capitalismo liberal impediriam um
reavivamento de um fascismo de massas, estando o neofascismo condenado à
3
Cf. Trindade, 1974; Rosas, 2019.
4
Cf. Calil, 2010; Caldeira Neto, 2014; Barbosa, 2015.
14
insignificância do ponto de vista de sua atração para o grande público,5 embora
o terrorismo de grupelhos de extrema direita possam causar grande impacto. A
segunda década do século XXI, todavia, observa o surgimento de experiências
políticas um pouco mais complexas que as que se enquadram nesse perfil,
embora a existência de uma miríade de grupelhos de extrema direita ainda seja
encontrada.6 Como fenômeno de massas, o bolsonarismo possui uma natureza
fascista também por estar tendo capacidade de aglutinação de várias correntes
contrarrevolucionárias em apoio ao governo Bolsonaro.
Se o bolsonarismo tem diversas direitas em seu interior, é preciso lembrar
que mesmo os movimentos fascistas originais resultaram da fusão de diversos
grupos, no caso italiano desde nacionalistas e artistas futuristas, mas também
elementos oriundos do mundo operário, ex-socialistas, ex-anarquistas e sindicalistas revolucionários. Menos lembrada é a presença também de defensores
intransigentes do livre mercado, como foi o caso de Alberto De Stefani, que
ocupou o Ministério da Fazenda do gabinete Mussolini entre 1922 e 1925, um
membro do Partido Nacional Fascista que empreendeu uma gestão liberal na
economia. O intervencionismo estatal na economia fascista esteve presente
de forma mais pronunciada após a crise de 1929, e era resultado de concepções
corporativistas que animaram intelectuais como Ugo Spirito na crítica ao
laissez-faire.7
O que aqui nos interessa é o fato de que as organizações fascistas mais
desenvolvidas atravessaram processos de síntese, conseguindo seu ponto
principal de unificação em torno de valores centrais como o anticomunismo
e o uso da violência política, o que também permitiu às organizações fascistas
5
Cf. o prefácio de Stanley Payne à Feldman, 2008.
6
Estudiosa dessa extrema direita há 18 anos, a antropóloga Adriana Dias assinalou a existência
de 349 células de perfil neonazista no Brasil, sendo essa rede responsável pelo engajamento de
7 mil indivíduos. Cf. Veiga, 2020.
7
Por outro lado, é justamente a capacidade do regime fascista de realizar a transição da economia
laissez-faire para a economia planista, com a introdução do fordismo na Itália, que leva Gramsci
a escrever: “Ter-se-ia uma revolução passiva no fato de que, por intermédio da intervenção
legislativa do Estado e através da organização corporativa, teriam sido introduzidas na estrutura
econômica do país modificações mais ou menos profundas para acentuar o elemento ‘plano
de produção’, isto é, teria sido acentuada a socialização e cooperação da produção, sem com
isso tocar (ou limitando-se apenas a regular e controlar) a apropriação individual do lucro.”
(Gramsci, 1999, p. 299). Cf. também Gramsci, 2002, p. 239-282.
15
estabelecerem alianças com outras direitas para chegar ao poder. Naqueles
movimentos coube ao líder fascista criar a unidade possível e estabelecer as
alianças necessárias, e Bolsonaro vem desempenhando esse papel até aqui, não
obstante a crise que atravessa seu governo neste momento.
Fascismo no século XXI
Discutindo esse retorno do debate sobre o fascismo diante da emergência do
trumpismo nos Estados Unidos e dos sucessos eleitorais da extrema direita
européia, o historiador Enzo Traverso vem propondo a noção de pós-fascismo.
O seu conceito de pós-fascismo tenta capturar a situação atual da nova extrema
direita no tempo histórico distinto daquele do entreguerras, nas condições do
mundo em que desapareceu do horizonte de expectativas a revolução socialista, mas também da crise internacional aberta desde 2008 e do desgaste dos
sistemas políticos vigentes. Em suma, insere-se a atual crise do capitalismo
neoliberal, que também é a crise da descrença no sistema político representativo e nas estruturas supranacionais — como a Organização das Nações
Unidas (ONU), a União Europeia etc. — celebradas outrora pelos vitoriosos
da Guerra Fria. A noção de pós-fascismo tenta também capturar uma situação
transitória de emergentes fenômenos da extrema direita nesse contexto, que
tanto podem evoluir para o fascismo tout court — constituindo partidos de
massa de programa fascista, com as práticas violentas que lhes correspondem
e/ou mesmo implantando regimes ditatoriais — como transitar para uma forma
política populista, conservadora e autoritária que, no entanto, ocuparia uma
posição normalizada no interior dos sistemas liberal-representativos em crise.8
Num enfoque similar, David Renton vem propondo entender a nova convergência entre a direita conservadora e a extrema direita na conformação de
novos autoritários, no que evita a noção de fascismo por considerá-la também
específica.9 Ele observa como as extrema direitas nas últimas décadas buscaram
se distanciar de pretéritas vinculações com o fascismo histórico, assim como,
8
Cf. Traverso, 2019, p. 11-37.
9
Cf. Renton, 2018, p. 207-226.
16
de outro lado, observa a deriva da direita conservadora em direção à extrema
direita. Seria essa a raiz do fenômeno do que muitos chamam de onda conservadora, e na avaliação do autor pode ser corretamente apreendida como essa
nova convergência autoritária das direitas expressas em governos como o de
Trump nos Estados Unidos, Putin na Rússia, Modi na Índia e Bolsonaro no
Brasil. Não obstante, Renton admite que não pode ser descartada a possibilidade de que tal convergência possa evoluir para formas fascistas, ou ao menos
abrir espaço político para isso.
Em suma, tomando todos os cuidados contra o uso inconsistente do termo
fascismo para o entendimento da emergência de novos fenômenos da extrema
direita, e propondo noções como pós-fascismo ou novos autoritários, Traverso
e Renton não descartam a possibilidade de ressurgimento de algo que possa
ser referido como fascismo a partir da evolução da crise. Além disso, os dois
autores concordam que a comparação com o fascismo histórico é um método
incontornável no entendimento da extrema direita no século XXI. De nossa parte
este texto faz esse exercício, embora divergindo pontualmente desses autores.10
Nossa hipótese é a de que o bolsonarismo representa a tendência ao fascismo,
e com a ocupação do governo federal e as explícitas manobras e mobilizações
realizadas nesse um ano e meio de governo Bolsonaro, suas pretensões de
implantação de uma ditadura de características fascistas são mais que evidentes.
As linhas que seguem buscam esmiuçar essas características.
No caminho do fascismo: a crise
Com o propósito de apreender o fenômeno do fascismo, fugindo das reduções
ideológicas do fenômeno (elemento importante, que discutiremos a seguir,
mas que por vezes é superdimensionado em algumas propostas analíticas)
e atentando para o comportamento efetivo do fascismo histórico, Robert
Paxton (1998) observou uma sequência de cinco etapas. São elas: 1) a criação
dos movimentos; 2) a criação de raízes no sistema político; 3) a conquista do
10
Para um debate mais profundo com esses autores e aqueles que têm se valido da noção de neofascismo para caracterizar tais fenômenos de extrema direita, cf. Mattos (no prelo), especialmente
o terceiro tópico do capítulo 1.
17
poder; 4) o exercício do poder; 5) e um longo período no qual os regimes escolheram entre a radicalização e a entropia. A partir desse modelo, concluiu que
apenas os casos italiano e alemão cumpriram todas essas etapas, sendo que a
maior parte dos movimentos fascistas no período entreguerras ficaram entre a
primeira e segunda. Em sua análise, Paxton destaca as condições excepcionais
que permitiram as fases 3 a 5, ou seja, a natureza da crise e a disposição das elites
tradicionais (políticas e militares principalmente) de permitir a ascensão dos
fascistas ao poder.11
Entretanto, como um fenômeno de massas, o fascismo para se instituir
precisou encontrar um ambiente favorável para que suas atitudes e modos de
pensar e sentir pudessem prosperar. Esses aspectos constituem para Paxton
(2007, p. 78-79) um conjunto de nove paixões mobilizadoras, uma espécie de lava
emocional que permitiu o fascismo ser tomado como alternativa política. São
elas: 1) “o sentimento de uma crise catastrófica, além do alcance de qualquer
das soluções tradicionais”; 2) “a primazia de um grupo, com relação ao qual
as pessoas têm deveres superiores a quaisquer direitos, sejam eles individuais
ou universais, e a subordinação do indivíduo a esse grupo”; 3) “a crença de que
o próprio grupo é uma vítima, sentimento esse que serve como justificativa
para qualquer ação, sem limites legais ou morais, contra seus inimigos, tanto
externos quanto internos”; 4) “o pavor da decadência do grupo sob os efeitos
corrosivos do liberalismo individualista, do conflito de classes e das influências
alienígenas”; 5) “a necessidade da maior integração de uma comunidade mais
pura, por meio do consentimento, se possível, ou da violência excludente, se
necessário”; 6) “a necessidade da autoridade dos líderes naturais (sempre
do sexo masculino), culminando num chefe nacional que é o único capaz de
encarnar o destino do grupo”; 7) “a superioridade dos instintos desse líder sobre
a razão abstrata e universal”; 8) “a beleza da violência e a eficácia da vontade,
quando voltadas para o êxito do grupo”; 9) e “o direito do povo eleito de dominar
os demais sem limitações de qualquer natureza, sejam elas impostas por leis
humanas ou divinas, esse direito sendo determinado pelo critério único do
grupo no interior de uma luta darwiniana”.
11
“As crises do sistema político e econômico abriram espaço para o fascismo, mas foram as
infelizes escolhas de uns poucos dirigentes que de fato instalaram os fascistas nesse espaço.”
(Paxton, 2007, p. 196).
18
O que é possível apreender das experiências fascistas desde o período entreguerras é que só em condições de crise profunda tais movimentos conseguiram
chegar ao poder. A Itália do início dos anos 1920 vivia o impasse provocado pela
frustração com os resultados da participação do país na Guerra Mundial, depois
que a própria deflagração mundial havia provocado a entrada de massas, antes
passivas, no processo político. Outro elemento desse impasse foi o temor nas
classes dominantes de que o poderoso movimento dos trabalhadores italianos
e seu grande Partido Socialista pudessem promover uma revolução social
nos moldes daquela ocorrida na Rússia em 1917. O crescimento eleitoral dos
socialistas no pleito de 1919, a onda de ocupação de fábricas no norte do país
de 1919 a 1920, além da intensificação das lutas dos trabalhadores rurais do sul,
ligaram o sinal de alerta nas classes dominantes.
Quando em 23 de março de 1919, na Piazza San Sepolcro, na sede da Aliança
Industrial de Milão, Mussolini fundou seu movimento, esse não parecia muito
promissor. Mas o desenvolvimento da violência fascista contra a insurgência
socialista e a capacidade do fascismo de recrutar uma massa de ex-combatentes
para ações violentas contra os socialistas não demorou a ganhar a simpatia
das classes dominantes italianas que desconfiavam da capacidade do governo
liberal em impedir a bolchevização do país. Por outro lado, os liberais acreditavam poder usar o fascismo contra a esquerda, e nas eleições de 1921, no Bloco
Nacional dirigido pelo liberal Giovanni Giolitti, foi aberto espaço para o recém-fundado Partido Nacional Fascista, que além de Mussolini elegeu três dezenas
de fascistas para o Parlamento. Mas a força do fascismo não correspondia ao
número de eleitores, e sim de sua capacidade de recrutar e de perpetrar ações
terroristas. De acordo com Donald Sassoon, o número de membros do partido
fascista aumentou rapidamente de 1921 a 1922, passando de 80 mil a 322 mil e
se tornando o maior partido de massas da Itália.12
No que toca ao patamar da violência, alguns autores estimam em 10 mil o
número de mortos nos anos iniciais do fascismo enquanto movimento, sem
falar das destruições violentas das sedes do Partido Socialista, além da expulsão
de prefeitos socialistas de cidades onde haviam ganhado pleitos eleitorais, uma
violência que naturalmente atingiu comunistas, anarquistas, mas também os
12
Cf. Sassoon, 2009, p.19.
19
católicos mais reformistas do Partido Popular Italiano.13 Nada disso teria sido
possível sem o apoio das classes dominantes e a cumplicidade dos agentes
públicos que, em tese, deveriam coibir ações paramilitares. Ainda em julho de
1921, Antonio Gramsci observava que:
Os fascistas só puderam realizar suas atividades porque dezenas de
milhares de funcionários do Estado, em particular dos organismos de
segurança pública (delegados de polícia, guardas-régias, carabineiros) e
da Magistratura, tornaram-se seus cúmplices morais e materiais. Estes
funcionários sabem que a manutenção de sua impunidade e o êxito de
suas carreiras estão estreitamente ligadas aos destinos da organização
fascista, e, por isso, têm todo interesse em apoiar o fascismo em qualquer
tentativa que este faça no sentido de consolidar sua posição política.
(Gramsci, 2004, p. 66).
E foi jogando com isso, e também com a simpatia que setores da cúpula das
Forças Armadas e da monarquia tinham por Mussolini que este conseguiu ser
nomeado primeiro-ministro em outubro de 1922, formando um governo com
outras forças das direitas. Em alguns anos todos os partidos italianos foram
proibidos, exceto o Partido Nacional Fascista; e o sistema político liberal veio
abaixo em favor de uma ditadura.
Foi o rompimento entre as classes dominantes e seus partidos tradicionais que abriu o caminho de Mussolini para sua ditadura. Esse rompimento
ficaria ainda mais pronunciado quando, em meados de 1924, um bando fascista
assassinou o deputado socialista Giacommo Matteotti após o parlamentar
denunciar a violência fascista no pleito de abril daquele ano. Sequestrado e
depois morto, o corpo do parlamentar seria encontrado meses depois, levando
toda a oposição ao fascismo a abandonar o Parlamento, esperando que o rei
Vitório Emmanuel demitisse Mussolini. Em vez disso, após a reação moral da
opinião pública arrefecer, o rei manteve Mussolini no cargo, e este, após admitir
sua responsabilidade pessoal no delitto Matteotti, em 3 de janeiro de 1922, baixou
um pacote de leis de exceção e iniciou o processo de implantação da ditadura.14
13
Cf. Paxton, 2007, p. 163.
14
Cf. Sassoon, 2009, p. 150-151.
20
Também na Alemanha do início dos anos 1930, a democracia da República de
Weimar entrou em colapso muito antes do nazismo alcançar o poder.15 A devastação econômica e social provocada pelo impacto da crise de 1929 na Alemanha
gerou um colapso da estrutura política, o que fortaleceu na consciência das classes
dominantes a opinião de que a solução para a crise deveria ser procurada fora dos
quadros tradicionais da jovem experiência republicana. Foi também a negativa
em se comprometer com as regras do jogo da República espanhola que fez com
que as classes dominantes daquele país apoiassem a insurreição contrarrevolucionária dirigida pelo general Franco, e com o apoio de Hitler e Mussolini. Não
obstante, nem todas as crises com tais contornos, que Gramsci denominou de
crise orgânica,16 produziram necessariamente experiências fascistas. Mas é certo
que sem uma crise dessa natureza podemos supor que os movimentos fascistas
nunca prosperariam ou alcançariam as fases 3 a 5 no modelo de Paxton.
Voltando ao Brasil do século XXI, por aqui temos visto uma crise orgânica
nos últimos anos, num processo que envolveu desde a recusa da oposição liberal
aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) em reconhecer o resultado
do pleito de 2014 até a volta da participação mais pronunciada dos militares
15
“Hitler não teria podido tomar o poder se o país não estivesse há quase três anos em regime de
ditadura presidencial e se o Parlamento estivesse funcionando.” (Agamben, 2004, p. 29).
16
Cf. “Em um certo ponto de sua vida histórica, os grupos sociais se separam de seus partidos
tradicionais, isto é, os partidos tradicionais naquela dada forma organizativa, com aqueles determinados homens que os constituem, representam e dirigem, não são mais reconhecidos como
sua expressão por sua classe ou fração de classe. Quando se verificam estas crises, a situação
imediata torna-se delicada e perigosa, pois abre-se o campo às soluções de força, à atividade de
potências ocultas representadas pelos homens providenciais ou carismáticos. Como se formam
estas situações de contraste entre representantes e representados, que, a partir do terreno dos
partidos (organizações de partido em sentido estrito, campo eleitoral-parlamentar, organização
jornalística), reflete-se em todo o organismo estatal, reforçando a posição relativa do poder da
burocracia (civil e militar), da alta finança, da Igreja e, em geral, de todos os organismos relativamente independentes das flutuações da opinião pública? O processo é diferente em cada país,
embora o conteúdo seja o mesmo. E o conteúdo é a crise de hegemonia da classe dirigente, que
ocorre ou porque a classe dirigente fracassou em algum grande empreendimento político para
o qual pediu ou impôs pela força o consenso das grandes massas (como a guerra), ou porque
amplas massas (sobretudo de camponeses e de pequeno-burgueses intelectuais) passaram
subitamente da passividade política para uma certa atividade e apresentam reivindicações que,
em seu conjunto desorganizado, constituem uma revolução. Fala-se de ‘crise de autoridade’:
e isso é precisamente a crise de hegemonia, ou crise do Estado em seu conjunto.” (Gramsci,
2000, p. 60).
21
no jogo político. Também há no Brasil algum nível de ruptura entre as classes
dominantes e suas representações tradicionais, como denota a decadência
do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no sistema partidário.
No meio de tal crise, a operação Lava Jato e a deposição do governo Dilma
aprofundaram a ruptura das classes dominantes com as regras da República
de 1988, chegando a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. O processo eleitoral de
2018 serviu para consolidar a ruptura de 2016.17 E, dado o histórico de Bolsonaro
como defensor da ditadura militar, de torturadores conhecidos, como o major
Brilhante Ustra, do discurso misógino, homofóbico, racista e armamentista,
muitos observadores deram o epíteto de fascista para o atual presidente da
República. Afinal, tal caracterização é procedente?
Um “Trump tropical”?
Uma parte considerável dos comentaristas internacionais têm preferido caracterizar a figura de Jair Bolsonaro como “populista”, sendo muito usual sua
comparação com o atual presidente dos Estados Unidos. Voltaremos ao tema
do populismo um pouco adiante, mas primeiro apenas assinalaremos que a
imagem de um “Trump tropical” é bastante enganosa para o entendimento
do presidente brasileiro.
Embora o apoio do governo Donald Trump seja um dos principais esteios
do governo brasileiro, e haja por parte de Bolsonaro uma ridícula mimetização de discursos e posturas do presidente americano, as diferenças entre as
duas experiências não podem ser negligenciadas. A despeito de toda retórica
populista contra as “elites”, Trump chegou ao poder ganhando a máquina do
tradicional partido da direita conservadora americana. Donald Trump não
está organizando e nunca pretendeu organizar um partido-movimento de
massas, com milícias, um projeto declarado de fechamento do regime etc. Há,
todavia, a presença de símbolos, elementos discursivos e inclusive o apoio de
movimentos notadamente supremacistas brancos, e mesmo neofascistas, ao
governo Trump.
17
Cf. Miguel, 2019.
22
Contudo, as tentativas de caracterizar Trump como “fascista”, ou “neofascista”, não parecem sustentáveis, embora as analogias tenham sido feitas por
comentaristas de diferentes posições políticas no contexto estadunidense.18
De acordo com Enzo Traverso:
Trump foi definido como fascista não apenas por publicações de esquerda
liberal como The Nation ou The New Republic, mas também por colunistas do New York Times e Washington Post (incluindo um analista
neoconservador como Robert Kagan) e até pela ex-secretária de Estado
Madeleine Albright. (Traverso, 2019, p. 24).
Vale mencionar mais dois exemplos. O professor de Filosofia da prestigiosa
Universidade de Yale Jason Stanley tem como eixo de seu livro Como funciona
o fascismo provar que Trump é fascista, porém, embora a discussão seja rica e
ajude a iluminar cenários não mencionados na obra (como o brasileiro), não
consegue mais do que provar a existência de discursos e certos comportamentos
fascistas do presidente estadunidense.19 Por sua vez, mesmo tentando provar a
natureza neofascista do governo Trump, o sociólogo marxista estadunidense
John Bellamy Foster admitiu: “Não há violência paramilitar nas ruas. Não há
camisas pretas ou marrons, nem Stormtroopers nazistas. De fato, não há partido
fascista separado.” (Foster, 2017).
Em contraste, o movimento em torno ao governo Jair Bolsonaro não esconde
suas pretensões ditatoriais, e a natureza da crise brasileira abre o caminho para
uma mudança no regime. Além disso, embora tenha tido uma vida parlamentar
no baixo clero durante trinta anos e adotado as práticas mais tradicionais do
jogo político (como colocar filhos na carreira política, empregar parentes nas
respectivas máquinas parlamentares etc.), seria enganoso tratar Bolsonaro como
alguém de dentro do sistema. A marginalidade de sua carreira como deputado
é um fato bastante objetivo. Não reconhecer isso e tratá-lo como um membro
da elite tradicional impede que se compreenda como tal elemento foi capaz de
capitalizar o colapso da República de 1988, chegando ao poder com o apoio de
18
Eu e o professor Alvaro Bianchi discutimos a inadequação de considerar Donald Trump e seu
governo fascistas em Bianchi e Melo (2018).
19
Cf. Stanley, 2019.
23
setores do empresariado, das classes médias, dos setores populares frustrados
pelo lulismo e/ou pertencentes à comunidade evangélica, do partido lavajatista
de Moro, Dallagnol e cia e, não menos importante, das Forças Armadas e dos
efetivos das Polícias Militares.
A ideologia fascista e o bolsonarismo
No que se refere à ideologia fascista, o caráter pragmático dos fascistas no
poder levou uma parte dos analistas durante algum tempo a considerar o
estudo das ideias fascistas um exercício diletante. Todavia, ao menos desde
os anos 1960 vêm se desenvolvendo estudos importantes sobre a questão.20 E
não obstante terem produzido algumas leituras unilaterais de viés culturalista
e politicamente liberal,21 em alguns casos chegando a minimizar a componente
anticomunista no fascismo,22 trouxe também ganhos de conhecimento.23 Nessa
chave, uma das mais influentes sínteses do assunto foi produzida por Griffin,
que definiu o fascismo como “gênero de ideologia política cujo núcleo mítico
em suas várias permutações é uma forma palingenética do ultranacionalismo
populista” (1991, p. 48). Trata-se de um tipo ideal (em termos weberianos) que
nos parece útil e por meio do qual nas linhas a seguir procuraremos expor sua
adequação na caracterização do bolsonarismo.
No sentido dado por Griffin, o termo palingenético remete a mitos de regeneração e renascimento nacional, encontrados em todas as formas históricas
de fascismo que trazem embutidas a narrativa de que a situação de decadência
em que se encontra a sociedade pode ser resolvida por um processo de restauração da glória essencial da nação encontrada em reconstruções míticas do
20
Por exemplo, Sternhell (1976) e Eatwell (1996).
21
Para uma crítica marxista dessa historiografia, cf. Renton (1999, p. 18-29), Rosas (2019) e
Woodley (2010).
22
Sobre este ponto em parte da historiografia, cf. Traverso (2005, p. 245-256).
23
De passagem, cabe mencionar que a proposição de Paxton (2007, p. 38) que expusemos acima
visa superar criticamente o reducionismo cultural na explicação do fascismo, discordando, por
exemplo, da proposição encontrada em Griffin de que possa ser tomado como uma ideologia
política da mesma consistência do liberalismo, conservadorismo e socialismo.
24
passado. O fascismo italiano se revestiu de simbolismos oriundos da Roma
clássica, desde a própria origem do nome do movimento até a autodenominação
de Mussolini como “Cézar” do século XX. No caso do nazismo, são os mitos
românticos teutônicos, o Sacro Império Romano-Germânico e o Segundo Reich,
construído por Bismark na criação do Estado moderno alemão, derivando daí
o próprio termo Terceiro Reich.24
É preciso observar que esses mitos são funcionais na criação de um imaginário com propósitos de mobilização das bases fascistas, e não correspondem a
tentativas grotescas de reerguer realidades históricas pretéritas, como assinalou
o próprio Mussolini em 1922, a poucos dias de chegar ao poder:
Nós criamos o nosso mito. O mito é uma fé, uma paixão. Não é necessário que ele seja uma realidade... Nosso mito é a nação, nosso mito é a
grandeza da nação! E a esse mito, essa grandeza, que queremos transformar numa realidade total, subordinamos tudo. (Stanley, 2019, p. 21).
Seguindo de perto a abordagem de Griffin, o já mencionado Jason Stanley
inicia sua exposição das dez características do fascismo falando justamente
dessa invocação do passado mítico:
A política fascista invoca um passado mítico puro que foi tragicamente
destruído. Dependendo de como a nação é definida, o passado mítico
pode ser religiosamente puro, racialmente puro, culturalmente puro ou
todos os itens acima. Mas há uma estrutura comum a todas as mistificações fascistas. Em todos os passados míticos fascistas, uma versão
extremada de família patriarcal reina soberana, mesmo que há poucas
gerações. Recuando mais no tempo, o passado mítico era um tempo
de glória da nação, com guerras de conquista lideradas por generais
patriotas, com exércitos repletos de guerreiros leais, seus compatriotas,
fisicamente aptos e cujas esposas ficavam em casa cuidando da próxima
geração. No presente, esses mitos se tornam a base da identidade da
nação submetida à política fascista. (Stanley, 2019, p. 19-20).
24
Cabe observar que embora noções paligenéticas sejam encontradas nas narrativas religiosas,
Griffin faz questão de diferenciar o fascismo, chamando atenção para seu caráter secular. Cf.
Griffin, 1991, p. 51-55.
25
Partindo dessa elaboração, evidencia-se o papel que o revisionismo histórico do período da ditadura militar ocupa na ideologia bolsonarista. Trata-se
justamente dessa função mítica. Deste modo, a guerra cultural do bolsonarismo
tem como um dos seus temas centrais o revisionismo e mesmo o negacionismo
histórico, já que desqualificam inclusive a própria leitura (até então canônica)
de que houve uma ditadura militar entre 1964 e 1985. Essa normalização do
passado traumático, cujas manifestações no campo acadêmico já critiquei
em uma série de trabalhos,25 no caso do bolsonarismo assume outro patamar
e liga-se diretamente ao propósito de normalização do estado de exceção nos
tempos que correm.
Além do período da ditadura militar, há também o tópico tradicional do
conservadorismo brasileiro incorporado à ideologia do bolsonarismo, que é
o culto ao medievo português, sendo o próprio Brasil entendido como uma de
suas realizações. Isso aparece nas narrativas históricas presentes em iniciativas
orgânicas da guerra cultural bolsonarista, como no documentário “Brasil: a
última cruzada”, produzido pelo Brasil Paralelo. O historiador Paulo Pachá
chamou atenção para essa leitura e também apontou o caso do uso da expressão
medieval “Deus vult” (“Deus quer”), associada à Primeira Cruzada ocorrida no
ano mil, e que hoje é utilizada por movimentos de extrema direita na Europa e
nos Estados Unidos. No Brasil o uso de “Deus vult” assume a particularidade de
“proclamar uma suposta ‘tradição judaico-cristã’ como pilar único da cultura
brasileira” (Pachá, 2019). Nessa formulação, além do silenciamento das outras
matrizes culturais que formaram a sociedade brasileira, e também por isso,
uma concepção racista sobre a nacionalidade brasileira é evidenciada. Ainda
segundo Pachá:
Em seu discurso de posse, Bolsonaro prometeu “unir o povo, valorizar a
família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater
a ideologia de gênero, conservando nossos valores”. A referência de
Bolsonaro à suposta tradição judaico-cristã do Brasil também foi um
elemento comum dos seus discursos de campanha. Em setembro, durante
um comício em Campina Grande (PB), Bolsonaro disse aos seus apoiadores: “Como somos um país cristão, Deus acima de tudo!” No mesmo
discurso, completou: “Não tem mais essa historinha de Estado laico,
25
Cf. Melo, 2006, 2014.
26
não! É Estado cristão!” Por fim, o slogan de campanha de Bolsonaro era
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!” — adicionando um tom
religioso ao slogan nazista Deutschland über alles [Alemanha acima de
tudo]. (Pachá, 2019).
Coroando o revisionismo, aparece a velha narrativa amenizadora do passado
escravocrata e, por derivação, a desqualificação das lutas e conquistas do
movimento negro, das comunidades quilombolas e dos povos indígenas. O
compromisso do governo Bolsonaro com o desmonte de políticas públicas
ligadas à promoção da igualdade racial está mais do que evidenciado, por um
lado, pelo tipo de personagem indicado para dirigir a Fundação Palmares,
e, por outro, pelo favorecimento sem limites aos interesses predatórios dos
capitalistas contra as populações indígenas em seus territórios. Em suma, o
grande trauma que conformou a sociedade brasileira, o passado escravocrata
e a dizimação dos povos originários são alvo da normalização feita a partir
de um procedimento de revisionismo histórico que, embora não tenha sido
inaugurado por Bolsonaro e seu staff, é parte das condições culturais em que
o bolsonarismo pôde prosperar.
Ainda no exame da ideologia bolsonarista como fascista, é preciso também
considerar a outra variável da síntese proposta por Griffin, além do passado
mítico na construção ultranacionalista, o populismo, o que nos faz voltar ao
ponto anterior dessa exposição. É preciso reafirmar que o termo vem sendo
usado de forma mistificadora por comentaristas políticos na mídia e mesmo
no campo acadêmico, contudo, além de leituras mais sofisticadas do conceito
de populismo disponíveis,26 vale lembrar que o populismo é uma característica
importante do fenômeno do fascismo. Nos termos de Griffin, o conceito de
populismo nesse caso não é uma referência a movimentos como os surgidos
nos Estados Unidos e na Rússia no fim do século XIX (ou nos contextos latino-americanos do século XX), mas é utilizado “como um termo genérico
para forças políticas que, mesmo lideradas por pequenos quadros de elite ou
‘vanguardas’ autodesignadas, na prática ou em princípio (e não apenas para
exibição) dependem do ‘poder do povo’ como base de sua legitimidade” (1991,
26
Por exemplo, Worsley (1969), Ianni (1975) e Laclau (2013).
27
p. 60). Em síntese, se nem todo movimento populista é fascista, todo fascismo
tem uma componente populista.27 Vejamos.
A variável-chave de qualquer definição de populismo, que é a existência
de uma liderança carismática, é uma componente indispensável do fascismo.
Como vimos acima, duas das paixões mobilizadoras apontadas por Paxton que
tornaram o fascismo possível se ligam diretamente à existência de um chefe
nacional capaz de encarnar o destino do povo, princípio esse que se desdobra
na “superioridade dos instintos desse líder sobre a razão abstrata e universal”
(2007, p. 78-79). Ou como diziam os fascistas italianos, “Mussolini tem sempre
razão!”.
A noção de que tal movimento representa “o povo” que luta contra “as
elites”, que é outra variável de qualquer conceito de populismo, insere-se na
estrutura discursiva fascista segundo a qual a autêntica nação/povo encontraria
na figura carismática do seu líder a tradução de sua própria essência. Deste
modo, todas as manobras que o líder fascista opera contra as estruturas tradicionais do sistema liberal-representativo (como a divisão entre os poderes, a
liberdade de imprensa etc.), e mais ainda contra a auto-organização da classe
trabalhadora, são justificadas como necessárias para a suposta “regeneração
nacional”. Afinal, de acordo com o topos fascista, as instituições tradicionais
do sistema democrático liberal são intrinsecamente corruptas e incapazes de
dar cabo da “ameaça diabólica” do comunismo.
No fascismo italiano, o discurso pretensamente “antipolítico” evidenciou-se,
por exemplo, na demora do movimento de Mussolini para assumir explicitamente
a forma de partido. No caso do fascismo alemão, sua relação com o populismo
se estabeleceu também a partir da capacidade de incorporar os elementos
provenientes do movimento völkschi, que implantou uma significativa cultura
antissemita, ao conspiracionismo que seria central no nazismo.28 O anti-intelectualismo e o apelo a teorias da conspiração tão presentes nos fascismos
históricos são um traço evidente do bolsonarismo, e são esses elementos
que justificam movimentos de ataque a profissionais da educação, escolas,
27
Nesse ponto divergimos da tese de Fichelstein (2017) segundo a qual o populismo seria uma
reelaboração do fascismo após 1945.
28
Cf. Fritzsche, 1990.
28
universidades e instituições científicas, como é o caso de iniciativas como o
Escola Sem Partido, central na mobilização da guerra cultural bolsonarista.
No fascismo nenhuma opinião do líder fascista pode ser invalidada pela
ciência ou pela apuração profissional da imprensa tradicional, sendo assim
as instituições ligadas à ciência e a própria verdade são desqualificadas como
“manipulações de forças ocultas”. Nesse sentido, o ataque a essas instituições
tem o firme propósito de reforçar a noção de que esses espaços são dominados
pela “esquerda globalista”, “gramscista” e/ou “marxista cultural”, sendo o
próprio fato da mídia tradicional não noticiar os sinais apontados pelos conspiracionistas uma espécie de prova de que as elites intelectuais e a mídia são
parte do complô.
Além disso, a retórica populista do fascismo incorpora um traço comum a
todos os populismos de direita, qual seja, a narrativa de que a esquerda opera
para “dividir a sociedade”, “colocando pobres contra ricos, negros contra
brancos, mulheres contra os homens”, um raciocínio no qual todos os movimentos que combatem as injustiças sociais (da exploração capitalista, do
racismo, do machismo, da homofobia etc.) são acusados de divisionismo e
“vitimização”. No fim das contas, o próprio povo tratado como autêntico pelo
fascismo (ou seja, a autenticidade nada mais é do que o apoio ao respectivo
fascismo) é tratado como a verdadeira vítima das elites, o que justifica o uso
de uma violência apresentada como redentora ou regeneradora.29 Essa ideia
da vitimização narcisista dos fascistas também é importante por ser, como diz
Paxton, um sentimento que “justifica qualquer ação, sem limites jurídicos ou
morais, contra seus inimigos, tanto internos quanto externos” (2007, p. 360).
E aqui encontramos outro aspecto importante do fascismo que é o culto à
violência contra os inimigos, elemento ligado à sua característica exterminista.
Por fim, a variável nacionalista, ou do ultranacionalismo, deve ser considerada. Nos casos dos regimes fascistas italiano e alemão, o ultranacionalismo
trazia embutido o expansionismo imperialista. Todavia é preciso entender que
a questão nacional no fascismo tem maior fluidez, sendo importante lembrar,
por exemplo, do comportamento que boa parte dos movimentos fascistas da
29
Nesse ponto acompanhamos de perto as conclusões que a socióloga Esther Solano vem apresentando em sua pesquisa sobre a base bolsonarista nos últimos anos, e que apontam a importância
do tema da “vitimização” em tal discurso. Cf. Solano, 2018, 2020.
29
Europa tiveram no contexto da ocupação de seus territórios pelo Terceiro Reich.
Em muitos casos, dada a situação objetiva de subordinação econômica, política
e/ou militar de determinado país no cenário internacional, podemos seguir a
observação de Gramsci segundo a qual muitas vezes o que é apresentado como
partido nacionalista em vez de “representar as forças vitais do próprio país,
representa sua subordinação e servidão econômica às nações ou a um grupo
de nações hegemônicas” (2000, p. 20).
O grau de submissão da política externa do governo Bolsonaro aos Estados
Unidos só tem precedente no governo Castelo Branco, o primeiro do regime
ditatorial. Seu discurso nacionalista, o verde-amarelo e a camisa da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) nada mais representam senão a subordinação e
servidão econômica à potência hegemônica do capitalismo no século XXI.
De sorte que temos assim uma noção de povo brasileiro identificado com o
“cidadão de bem”, que se sente comprometido não só com o apoio ao governo
Bolsonaro, mas ao próprio governo Trump. E é justamente para consolidar essa
hegemonia que serve a teoria da conspiração anticomunista que organiza toda
a cosmogonia bolsonarista.
A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO DO “MARXISMO CULTURAL”
A teoria da conspiração do “marxismo cultural” difundida no Brasil por Olavo de
Carvalho e seu círculo é parte central do conteúdo ideológico do bolsonarismo.
Carvalho certamente não inaugurou a paranoia anticomunista no Brasil, mas
cumpriu o papel de reciclar as velhas narrativas anticomunistas segundo as quais
“os vermelhos” estavam apostando no “caminho pacífico para o poder”, como
diziam os golpistas em 1964. Tal noção é um dos muitos delírios paranoicos
presentes na Doutrina de Segurança Nacional, ideologia central da ditadura
militar que continua a informar o pensamento militar atualizado com novas
tendências do pensamento anticomunista importadas do Atlântico Norte.30
Esse conspiracionismo ganhou novos contornos na narrativa do “marxismo
cultural”, e a suposta nova estratégia dos marxistas não seria mais o ataque
à propriedade privada (base do capitalismo), mas “a destruição da família
30
Cf. Costa Pinto, 2019.
30
tradicional”. Essa teoria recebeu as cores do anti-gramscismo já desenvolvido
na América do Sul desde os anos 198031 dando o tom no Brasil daquilo que, para
o contexto estadunidense, James Hunter chamou de guerra cultural.32
A partir da publicação de textos como o livro A nova era e a revolução cultural
(1994), Olavo de Carvalho penetrou nos meios conservadores elegendo Antonio
Gramsci como o grande demônio do comunismo capaz de sobreviver à própria
dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No meio
militar, esse anti-gramscismo penetrou através da própria presença de Carvalho
nos espaços de formação da elite militar e também de membros desta, que
ajudaram a disseminar tal teoria da conspiração do “marxismo cultural”/“revolução gramscista”. Ajudaram nessa circulação periódicos como Ombro a
Ombro e livros como A revolução gramscista no Ocidente (2002), do general
Sergio Coutinho.33 Isso abre caminho para uma importante particularidade
da tradução brasileira de tal teoria da conspiração, que é a centralidade do
revisionismo e mesmo negacionismo histórico em relação à ditadura militar
na ideologia bolsonarista.
O professor João Cezar de Castro Rocha tem insistido na importância
que ORVIL — o livro nunca publicado, escrito por militares como resposta
ao impactante relatório Brasil Nunca Mais, mas que foi vetado pelo governo
Sarney, tendo uma vida subterrânea no meio da caserna e nos círculos civis da
extrema direita — certamente possui na formação do que estamos chamando
de ideologia bolsonarista.34 Essa narrativa subterrânea seria um testemunho da
memória derrotada pelo processo de transição da ditadura para a democracia
brasileira. As ideias gerais desse documento iriam reaparecer no livro do notório
torturador coronel Brilhante Ustra, A verdade sufocada (2006), mas é preciso
lembrar também da importância que a coleção História Oral do Exército (2003)
teve na formação de oficiais das Forças Armadas durante a década de governos
do Partido dos Trabalhadores.
Como tem sido muito repetido, a criação da Comissão Nacional da Verdade
em 2012 serviu para solidarizar o meio militar com a necessidade de campanhas
31
Cf. Bianchi; Mussi, 2019, p. 84-93.
32
Cf. Hunter, 1991.
33
Cf. Bianchi, 2019.
34
Cf. Castro Rocha, 2020.
31
mais amplas de revisionismo histórico sobre o período militar, um revisionismo cujo ponto de partida é a própria negação do caráter ditatorial do regime
implantado em 1964, como já assinalamos.35 Mas é preciso notar também que,
aliado a isso, determinadas políticas implementadas durante as gestões petistas,
como a missão no Haiti e as recorrentes convocações das Forças Armadas
para atividades de manutenção da lei e da ordem, através das operações de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), empoderaram uma geração de generais
que passaram a fazer pronunciamentos sobre a conjuntura política nacional
e que hoje figuram como eminências pardas do bolsonarismo.
Um caso notório é o do general Augusto Heleno, que após liderar a missão
da ONU no Haiti voltou ao Brasil em 2008 e, ainda pertencendo à ativa, passou
a se pronunciar sobre questões da conjuntura política, como a demarcação de
terras indígenas em Roraima. Quando explicitou seu compromisso público
com o bolsonarismo, durante o processo eleitoral de 2018, Heleno não era mais
um desconhecido do universo político, e cabe lembrar que, tendo pertencido
ao staff do general Sylvio Frota, é herdeiro da ala das Forças Armadas que se
opôs ao processo de abertura política,36 bastante identificada com os agentes do
porão, que protagonizaram episódios de terrorismo político por meio dos quais
essa extrema direita buscou sabotar a transição para a democracia. Bolsonaro,
aliás, vem dessa mesma tradição, e não deve ser surpreendente que sua carreira
política tenha iniciado justamente em uma ação de terrorismo.
E nesse tópico, destaca-se a afinidade eletiva da leitura da extrema direita
militar e a cosmogonia de Olavo de Carvalho no campo do revisionismo histórico
sobre a ditadura. Pois, na avaliação de Olavo, o grande problema da ditadura
militar foi o de não ter dado a devida importância para a luta cultural, deixando
o campo aberto para a esquerda se reorganizar e empreender, segundo ele, “a
35
Cf. Martins Filho, 2019; Domenici, 2019; Costa Pinto, 2019; e a entrevista do professor Renato
Lemos, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Militares na Política da UFRJ, para o
canal da Carta Capital no Youtube. Disponível em: <https://bit.ly/3fNSYtq>.
36
Sylvio Frota foi ministro do Exército e conspirou contra o governo do general Geisel, fazendo
agitação nos quarteis com panfletos e documentos que acusavam o general Golbery do Couto
e Silva de “proteger comunistas” e de ser um “traidor da Revolução de 1964!”. Mesmo após o
maior fechamento do regime, com o Pacote de Abril de 1977, a agitação contra os supostos
“vermelhos” no interior das Forças Armadas persistiu, e Geisel demitiu Frota. Este tentou
reagir, convocando os comandantes das Forças Armadas para derrubar Geisel, só que este já
havia convocado os mesmos comandantes. Isolado, Sylvio Frota vai para a reserva.
32
aplicação da estratégia gramscista de conquista do poder”.37 De tal modo que
acabam se combinando nessa síntese a normalização do Terror de Estado com
o propósito de empreender uma guerra cultural capaz de eliminar a possibilidade da existência da esquerda. A própria noção de esquerda nesse discurso é
um significante vazio em que cabem comunistas, socialistas, anarquistas, mas
também progressistas de vários matizes, democratas e liberais à maneira estadunidense. A distopia bolsonarista refere-se a um povo brasileiro expurgado
de qualquer pluralismo político, unificado em torno do culto ao líder que “tem
sempre razão!”. Temos aqui o núcleo mítico da “forma palingenética do ultranacionalismo populista”; o núcleo mítico do fascismo bolsonarista e elemento
explicativo para a importância que a guerra cultural possui nesse projeto.
Essas práticas de doutrinação ideológica para dar cabo da guerra cultural
objetivam influir no aparelho educacional, através de movimentos que atualizam
a oposição secular da Igreja à escola pública criada pelo Iluminismo e pelas
revoluções liberais, que retiraram dos padres o monopólio da educação das
classes populares. De acordo com o historiador português Manuel Loff, esse
é o cerne de movimentos como o Escola Sem Partido, cujo argumento é o de
que professores de perfil doutrinador estariam dominando o sistema escolar,
supostamente transformando as salas de aula “em aparelhos de criação de
militantes de esquerda” (Viel, 2019). Movimentos similares são encontrados
no ambiente cultural estadunidense, geralmente associados a propostas socialmente irresponsáveis, como o homeschooling, privatistas (com o sistema de
vouchers) ou no limite campanhas ativas de perseguição a professores, como
aquelas promovidas por David Horowitz nos Estados Unidos.38 Sobre o Escola
Sem Partido, o movimento criado em 2004 pelo advogado de extrema direita
Miguel Nagib — transformado pela primeira vez em projeto de lei pelo deputado
estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, dez
37
Quem dera!
38
“David Horowitz é um ativista de extrema direita que tem como alvo as universidades e a
indústria cinematográfica desde a década de 1980. Em 2006, Horowitz publicou um livro, The
Professors [Os professores], apresentando os ‘101 professores mais perigosos da América’ (que
é o subtítulo do livro), uma lista de professores esquerdistas e liberais, muitos dos quais eram
defensores dos direitos palestinos. Em 2009, ele publicou outro livro, One-Party Classroom
[Sala de aula totalitária], com uma lista dos ‘150 cursos mais perigosos da América’.” (Stanley,
2019, p. 31).
33
anos depois —, a iniciativa é absolutamente central na construção ideológica
do bolsonarismo.39
De lá para cá, o movimento Escola Sem Partido se desenvolveu através
da mobilização do fundamentalismo cristão, especialmente quando entre as
teorias supostamente distribuídas nas escolas por “professores doutrinadores”
apareceu e se difundiu o termo “ideologia de gênero”. Através de uma campanha
que busca explicar as brutais violências sexuais contra crianças como resultados da “erotização das crianças” — algo que conjura a imagem nojenta de
que seriam as crianças atores ativos na sedução de adultos nos casos do crime
abominável da pedofilia —, um processo de criminalização dos professores
atualizou as velhas campanhas contrárias à educação sexual e principalmente
o debate sobre a diversidade sexual no ambiente escolar. Isso depois que, por
exemplo, no âmbito da Igreja Católica, em razão da crise acerca da revelação
de um número impressionante de casos de pedofilia envolvendo membros
da hierarquia católica, o pontificado de Bento XVI tenha acabado antes da
morte deste papa. Pois foi do próprio ventre da Igreja Católica que a noção de
“ideologia de gênero” foi forjada, noção essa que se encontra na construção
narrativa da ideologia bolsonarista como uma espécie de implementação
prática do “marxismo cultural” e seu propósito diabólico de “acabar com a
família tradicional”.40
É propriamente o movimento Escola Sem Partido uma das iniciativas que
deram forma ao bolsonarismo como alternativa política para as massas populares, por ter sido capaz de interpelar os valores conservadores predominantes
no senso comum das classes subalternas, dando uma explicação para a natureza
da crise brasileira que transcende a velha narrativa de combate à corrupção mais
direcionada às classes médias. Alguém pode lembrar corretamente que denúncias
de corrupção sempre foram conjuradas na retórica populista dos movimentos
fascistas, mas caberia ponderar que não é por acaso que foram justamente nas
classes médias que os fascismos recrutaram seus militantes e foram sustentados
socialmente. Essa seria uma diferença entre as experiências fascistas originárias e o fascismo bolsonarista, ainda que seja necessário lembrar que, embora
39
Cf. Penna, 2016.
40
Cf. Miguel, 2016; Moura, 2016.
34
tivesse tal relação com a classe média/pequena burguesia, o fascismo italiano
perseguiu o apoio na classe trabalhadora através do corporativismo sindical e
das instituições que conformavam o sistema da Opera Nazionale Dopolavoro,
criada para organizar o tempo livre da classe trabalhadora na promoção de
atividades recreativas, esportivas, artísticas e culturais.41
Por sua vez, o bolsonarismo parece apostar no apoio de massas oriundo
das estruturas do fundamentalismo neopentecostal, reforçando o discurso
moral conservador num contexto em que a aplicação da agenda neoliberal
leva à desagregação social, um processo que, segundo analistas argutos, tem
levado à ruptura das condições que permitiram a existência dos atuais regimes
democráticos liberais nos países centrais do capitalismo.42
A mobilização bolsonarista e o culto da violência
Uma característica marcante do fascismo é que se apresenta inicialmente como
um movimento de oposição ao status quo, contra a classe política tradicional
(acusada, via de regra, de “corrupção”), embora tenha contado com auxílio
das elites políticas conservadoras, de outros agentes estatais e dos capitalistas
para chegar ao poder. Daí que o alvo primordial da mobilização do fascismo
seja sempre a esquerda em suas mais variadas colorações. Entretanto é preciso
lembrar que também a conformação de regimes ditatoriais fascistas manteve
sempre o processo de mobilização permanente, um aspecto entre outros que
diferenciam os regimes de Mussolini e Hitler de outras ditaduras.43 É claro
que a forma da mobilização fascista se altera nas fases em que se localiza fora
do poder estatal, e a própria violência fascista, que é parte dessa mobilização,
passou por processos de disciplinamento na medida em que tais movimentos
se constituíram como regimes ditatoriais.
41
Cf. Togliatti, 1978, p.69-81; Melo, 2016.
42
Cf. Dardot; Laval, 2016; Brown, 2019.
43
Esse aspecto será destacado na contribuição de Leon Trotski em seus escritos sobre a situação
política na Alemanha no início da década de 1930, e posteriormente por Nicos Poulantzas. Cf.
Wistrich, 1976; Poulantzas, 1977.
35
No que toca esse aspecto que diferencia o fascismo de outros regimes de
exceção, podemos pensar o próprio caso da ditadura militar brasileira, que foi
um regime fundamentalmente desmobilizador e sem propósitos de construção
de um consenso ativo, embora não tenham faltado investimentos em propaganda especialmente no período do chamado “milagre”, quando, de acordo
com Carlos Nelson Coutinho, aquele regime conseguiu o consenso passivo de
parte significativa da população brasileira.44 Além disso, enquanto nos regimes
fascistas o monopólio do poder está no aparelho do partido centralizado pelo
líder, nas ditaduras militares é uma parte do aparelho de Estado que assume
o comando do governo. Com a queda dos regimes fascistas ao fim da Segunda
Guerra Mundial, os partidos fascistas foram desmantelados. De modo distinto,
com o fim das ditaduras militares da América do Sul, as correspondentes Forças
Armadas que exerceram as ditaduras continuam como instituições essenciais
dos Estados nos regimes democráticos liberais. Deste modo, embora correspondam a regimes de exceção que o Estado capitalista assumiu ao longo do
século XX, fascismo e ditadura militar configuram-se de modo distinto.
Há um traço, todavia, em que o regime fascista italiano e a ditadura militar
brasileira se assemelham que foi a expansão do regime de acumulação fordista,
com forte protagonismo estatal no processo econômico. Diferentemente
da experiência chilena sob Pinochet, laboratório inicial do neoliberalismo,
a ditadura militar brasileira ampliou a participação do Estado na economia,
uma estratégia de acumulação capitalista diferente da opção neoliberal do
bolsonarismo. Daí que, reiteramos, o revisionismo sobre a ditadura militar
como “era dourada” na ideologia bolsonarista tenha papel eminentemente
mítico com vistas à mobilização política, e não a proposta grotesca de replicar
no século XXI os traços da última ditadura militar.
Em meados de 2020, o bolsonarismo encontra-se numa fase anterior à
subversão completa das instituições da República e virtual implantação de sua
ditadura. Por isso, na fase em que é apenas o governo, o movimento em torno
à figura de Bolsonaro precisa manter a base mobilizada contra as instituições
liberais do Estado (Judiciário e Legislativo) e da sociedade civil (especialmente
a mídia tradicional). Se a hipótese de fechamento do regime se confirmar (tal
44
Cf. Coutinho, 1999, p. 202 e 216-217.
36
como o caráter fascista dessa experiência histórica), podemos lançar o prognóstico de que a mobilização bolsonarista não deve cessar, antes continuaria a
servir ao processo de consolidação do regime. Assim, ao contrário do ocorrido
no processo de implantação da ditadura militar em 1964, a mobilização reacionária de massas não será desativada.
O imaginário e toda a simbologia ligada ao período da ditadura militar, a
reivindicação da memória de torturadores e do AI-5 (ou seja, a fase mais fechada
da ditadura), remetem a um motivo comum da retórica fascista que é o culto
à violência. Mas sabemos que o bolsonarismo transcende o mero culto e está
ligado organicamente aos grupos de extermínio com grande poder de controle
territorial, de exploração de atividades econômicas em bairros populares, sob
a coerção terrorista de grupos formados por agentes ou ex-agentes do aparelho
de segurança pública que possuem projeto de poder político: as milícias.
Pois as milícias, essa forma mafiosa de crime organizado com fortes vínculos
com a família Bolsonaro, têm origem no tipo de socialização promovida pelo
regime militar para combater os grupos de resistência armada, trazendo os policiais envolvidos nos grupos de extermínio para montar o aparelho de repressão
junto aos militares, processo cujo protótipo foi a Operação Bandeirantes em
São Paulo. No Rio de Janeiro, essa ligação com os grupos de extermínio se
confundiu com as relações promíscuas do aparelho de repressão com o jogo
do bicho, ramo de atividade econômica que após o fim da ditadura militar se
tornou um mercado atrativo para os ex-agentes da repressão. A gênese das
milícias do Rio de Janeiro está nessa conexão, mas só seriam formalmente
implantadas com a estrutura descrita acima nos anos 2000.45
O partido armado bolsonarista
O termo milícia aqui pode gerar alguma confusão, na medida em que deve se
distinguir da forma específica com a qual os movimentos fascistas trazem em
sua organização política tropas de assalto, como foi o caso do squadrismo como
ala do fascismo italiano, ou do Sturmabteilung do nazismo alemão, as milícias
45
Cf. Alves, 2020; Betim, 2019.
37
fascistas encarregadas de atividades paramilitares. A prisão, a tortura, o assassinato e o desaparecimento de opositores são uma marca geral dos regimes
fascistas, e daí que essas sejam atividades de natureza militar encampadas
por partidos armados que objetivam implantar regimes totalitários, como
bem caracterizou o grande historiador do fascismo italiano Emilio Gentile.46
Se fossemos ficar no formalismo, apenas apontaríamos que o partido bolsonarista ainda não foi legalizado pela Justiça Eleitoral até o momento em que
escrevemos este texto, e nossas considerações sobre a natureza fascista do
programa da Aliança pelo Brasil ficariam talvez no uso do mesmo slogan do
integralismo “Deus, pátria e família”. Contudo, para todos os efeitos práticos, o
partido bolsonarista existe e é organizado por uma rede de aparelhos presentes
na sociedade civil que difundem de forma permanente o programa do bolsonarismo nas redes sociais e mobilizam continuamente suas bases. Dos youtubers
e ativistas digitais bolsonaristas, passando por organizações no meio empresarial (como o grupo Brasil 200), os setores bolsonarizados nas polícias, Forças
Armadas, na base de massas de igrejas neopentecostais até chegar aos seus
quadros políticos stricto sensu, o partido de Bolsonaro é uma realidade objetiva. É possível admitir que a formalização do Aliança pelo Brasil permitirá
uma coordenação maior do movimento bolsonarista, mas essa parece ser uma
tarefa exequível num curto prazo. A questão mais importante é o lugar que o
squadrismo miliciano irá ocupar nesse partido, confirmando o viés fascista que
estamos caracterizando.
A gravação da famigerada reunião do governo no dia 22 de abril de 2020 revelou
muito mais do que o propósito de Jair Bolsonaro intervir na Polícia Federal para
impedir que investigações contra seus familiares e aliados avançassem. Revelou,
além de discursos nojentos, racistas, golpistas etc., o firme vínculo que existe
entre as iniciativas do Planalto em “armar a população” e criar um ambiente
propício a uma guerra civil. Repetindo uma manipulação antiga, Bolsonaro
afirmou que desejava armar a população para “evitar uma ditadura”, usando
o termo “ditadura” para se referir às ações de isolamento social tomadas por
governadores e prefeitos em observância das recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e da comunidade científica. Assim, além da evidente
46
Cf. Gentile, 1984.
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bolsonarização dos aparelhos estaduais da Segurança Pública, Bolsonaro almeja
dispersar o monopólio estatal do uso da força legítima armando grupos aliados
na sociedade com propósitos evidentemente liberticidas.
Mais recentemente, a bancada do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
na Câmara dos Deputados pediu ao Ministério Público de São Paulo uma investigação sobre a Associação Nacional de Armas, com a suspeita de se tratar de
uma organização paramilitar ligada ao governo federal. Isso ocorreu depois que,
em resposta a um artigo publicado no Facebook pelo advogado Almir Felitte,
contrário à política de liberalização da venda de armas e munições defendida
por Bolsonaro, o perfil da Associação Nacional de Armas respondeu: “Nós
seremos a força de reação que irá proteger o país, apoiar o presidente e defender
o Brasil das garras vermelhas, junto com as Forças Armadas.” (Alves, 2020).
Digamos que essa denúncia revela um esquema muito mais perigoso do que
o grupo 300 liderado por Sara Winter, ainda que possamos concluir que este
tenha se dedicado mais a uma operação de agitação e propaganda da plataforma
bolsonarista do que à promoção de atos de terrorismo político.
Além disso, a presença de PMs e membros de outras forças policiais na
militância bolsonarista é um dado fundamental. Alguns vêm se construindo
como candidatos nas próximas eleições, a exemplo de Gabriel Monteiro no
Rio de Janeiro, um dos muitos que estão dispostos a seguir os passos de personagens como Daniel Silveira, deputado federal do Rio de Janeiro que usa de
forma regular uma retórica violenta contra a esquerda, além de protagonizar
episódios de pura provocação, como a quebra de uma placa em homenagem à
vereadora socialista Marielle Franco (assassinada por matadores profissionais
ligados à milícia “Escritório do Crime” e muito próximos do clã Bolsonaro), a
invasão de escolas, como o tradicional Colégio Pedro II no Rio de Janeiro etc.
O culto da morte e da violência
José Millán Astray y Terreros foi um general espanhol que exerceu enorme
influência na formação intelectual de Francisco Franco, fornecendo algumas
das bases intelectuais e particularmente do ideário violento presente na ditadura do generalíssimo. No início da insurreição contrarrevolucionária, ao lado
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de Franco e de outros generais chegados da África em Sevilha, no dia 15 de
agosto de 1936, quando decidiram adotar a bandeira da monarquia, Millán
pronunciou violento discurso de ameaça aos partidários da Frente Popular
que haviam vencido o processo eleitoral naquele ano. De acordo com o relato
do historiador Paul Preston:
Millán Astray, gesticulando como um homem possuído, gritou: “Não
temos medo de vocês. Deixe-os vir, deixe-os vir e eles verão o que somos
capazes na sombra dessa bandeira.” Ouviu-se uma voz: “Viva Millán
Astray!” — “O que é isso? Não grite, viva Millán Astray. Grite comigo,
com toda a força que você é capaz: Viva a morte! Viva a morte! Viva a
morte! Viva a morte!” A multidão cantou a vida. Ele acrescentou: “Agora,
deixe os vermelhos virem. Todos morrerão!” E ele acabou jogando seu
gorro com um gesto vingativo sobre a multidão que tentou eletrizar.
(Preston, 1988).
Episódios semelhantes de culto da morte seriam encontrados de forma
generalizada nas experiências fascistas históricas. O culto da violência e a
noção de sacrifício são centrais na ideologia fascista. No ano de 1942, quando a
conflagração internacional atingia uma fase aguda, Mussolini cunhou o slogan
“Não me importo!”. Comentando essa passagem, o historiador argentino
Federico Finchelstein escreveu:
Para Mussolini, essa ação de não se importar estava relacionada à aceitação da morte e ao “purificar o sangue” como forças redentoras. Mesmo
em 1942, ao considerar o futuro da nação italiana, ele não podia (ou não
queria) oculta o abraço fascista da violência que a guerra de destruição
nazista lhe prometeu. (Finchelstein, 2010, p. 33).
Podemos dizer que além da recorrência do discurso violento contra a esquerda,
discurso esse que não esconde seus objetivos exterministas, a famosa reação
de Bolsonaro a uma jornalista que lhe perguntou sobre o número de mortos
provocados pela epidemia da COVID-19 — “E daí? Lamento. Quer que eu faça
o quê? Sou Messias, mas não faço milagre.” — esconde esse desejo de sacrifício
necessário. Ainda longe da guerra civil desejada pelo projeto bolsonarista, o “E
daí?” parece uma tradução na atual relação de forças da indiferença com a vida
humana do “Não me importo!” de Mussolini.
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Considerações provisórias
O propósito deste texto foi o de discutir os aspectos ideológicos e organizativos do fenômeno do bolsonarismo de modo a comprovar sua natureza
fascista. Valendo-se do tipo ideal elaborado pelo historiador Roger Griffin para
o fascismo como uma ideologia política, buscamos apresentar a existência das
variáveis do núcleo paligenético, populista e ultranacionalista, deixando claro
como o viés anticomunista (variável negligenciada por Griffin) é o elemento
que conecta a ideologia do bolsonarismo.
Procuramos demonstrar como o revisionismo histórico dos grandes traumas
da sociedade brasileira, o passado escravocrata e a ditadura militar inserem-se
no programa que visa o desmonte das conquistas democráticas e a implantação
de um regime de exceção de natureza fascista. Diretamente conectado a essa
ideologia encontra-se a prática bolsonarista enquanto um governo que buscar
dar vida a um partido armado nos moldes fascistas. Naturalmente, no estágio em
que se encontra tal processo, nos cabe apenas especular sobre a possibilidade
de sua execução. E nesse sentido a nossa sincera torcida é pela interrupção de
tal escalada fascista por um movimento que ao mesmo tempo apresente um
projeto alternativo, socialista e protagonizado pela classe trabalhadora brasileira.
Por fim, cabe reconhecer que inúmeros fatores importantes não foram
tratados, como os aspectos ideológicos que orientam a atual política externa
de Ernesto Araújo (apenas mencionada), o programa econômico neoliberal
de Paulo Guedes, a importância do patriarcado no imaginário fascista e a
compatibilidade de todas essas questões com a caracterização do fascismo
bolsonarista. Pretendemos desenvolver esses tópicos em trabalhos futuros.
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