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O Golpe Segue. A esquerda amarelou total e foi cuidar
das Eleições!
15.07.2020
Mário Maestri
A história não é um ônibus circular em que o passageiro, ao perder a condução,
aguenta um pouco de frio e chuva, e embarca na próxima volta do coletivo. Nada impede
que a presente agonia dos trabalhadores, dos assalariados e da população brasileira
tenha chegado para ficar, em uma triste história sem fim. Michel Temer e Jair Bolsonaro
são apenas atores circunstanciais do programa de desventramento em curso do país, que
conhece saltos de qualidade desde os sucessos de 2016. Apenas os inocentes,
assustados e mal-intencionados propõem golpes ou fascismo à espera, na esquina.
O golpe já ocorreu, se instalou e não cessa de se espraiar. Em 2016, o monstro,
tratado há muito como convidado ilustre, forçou a porta, semi-aberta, e se aboletou no
sofá da sala, adonando-se do controle da televisão. Trazia um bode fedorento, trocado em
2018, que será substituído, espera-se, em 2022. A malhação periódica de um Judas
desgastado pelo uso e a entronização esperançosa de outro, de pelo diferente e mesma
catinga, é fundamental gestão dos oprimidos, pela democracia representativa burguesa.
Golpismo Permanente
A sucessão de presidentes golpistas constitui fluxo superficial do caudaloso
movimento que, nas profundidades da sociedade brasileira, cava leitos pedregosos e
permanentes. E esse movimento avassalador se constrói com vocação à perenidade. Ele
arrasou e segue arrasando o pouco que restava de capital monopólico privado e público
do país, privatiza os bens públicos -bancos, estatais, portos, aeroportos, represas, etc.tudo em favor do voraz imperialismo estadunidense, senhor do Brasil novo, monturo do
capital internacional.
Milhares de populares iraquianos, sírios, líbios, etc., morreram defendendo a
independência e as riquezas nacionais. No Brasil, políticos e parlamentares entregaram
jazidas de minério e depósitos petrolíferos, por alguns trocados, sem resistência efetiva
dos partidos ditos de oposição, das confederações, dos sindicatos, etc. Destruição do
país
supervisionada pelos senhores generais, que, bem pagos, alimentam com a
população e com a nação a fome pantagruélica do capital e do imperialismo yankee, que
não deve ser confundido com Trump, seu atual administrador. A destruição geral da nação
brasileira foi organizada pelo politicamente correto black Barack Hussein Obama. É delírio
sonhar com refresco, se ganhar o democrata Biden, em novembro deste ano!
Os presidentes golpistas passam e segue o arrasamento geral. A aniquilação da
limitada legislação trabalhista, associada ao desemprego imposto pelo golpismo, à crise
econômica geral e ao Covid-19, impõem a precarização, a terceirização, o desemprego e
o sub-emprego etc., reduzindo a remuneração do trabalho abaixo do mínimo para
sobrevivência digna. Os desempregados já superam os empregados, instaurando-se no
país espécie de escravidão assalariada. Política que os empresários nacionais festejam
efusivamente, mesmo quando tropeçam e caem golpeados pela nova ordem.
Nova Ordem
Em junho de 2016, no Brasil, ingressamos em um novo mundo e em uma nova
era. Não se trata mais de impor ditadura exposta aos olhos de todos, sob as ordens de
militares, obedecendo facções do capital nacional ou mundial. Um regime castrense puro
pode sempre incorrer em desvios desenvolvimentistas ou outros, indesejáveis ao
imperialismo e ao grande capital. Trata-se agora de empreender a reconstrução das
instituições e da estrutura da propriedade para que a nação seja regida através de
decisões econômicas essenciais já fora da alçada nacional. Rebaixam-se as instituições
políticas de tal forma que as eleições e os órgãos administrativos interfiram
marginalmente na condução da nação pelo grande capital.
Trata-se de um retorno aos idos coloniais, em tempos de globalização, com a
transição do país do status semi-colonial a neo-colonial globalizado. Processo em
acelerada implantação através de legislação aprovada pelo Parlamento, sob o silêncio e
mesmo com o apoio de boa parte da oposição. O Brasil participa na divisão mundial do
trabalho como produtor de manufaturados de baixo valor agregado e exportador de
minérios, petróleo, proteína animal e grãos, sob o controle do capital mundial. Um anexo
do grande capital imperialista, sobretudo estadunidense.
É anacronismo propor uma ordem ditatorial aberta, na vigência de Parlamento e
de Justiça elitistas, anti-populares e anti-nacionais, representantes de interesses
pessoais, corporativos, etc.;
de legislação que garanta a "segurança jurídica" da
apropriação das mais diversas esferas do país pelo grande capital, no relativo à produção,
aos serviços, etc.; da criminalização e penalização financeira da oposição; do
enquadramento da liberdade de expressão pela legislação judiciária e monopolização dos
grandes meios tradicionais -jornais, rádio, televisão, etc. - e emergentes -WhatsApp,
Facebook, etc.
Não há possibilidade de golpe bolsonariano
Por essas e outras razões, não há possibilidade de golpe bolsonarista. Os
membros do alto comando militar se consideram príncipes fardados predestinados a
proteger uma versão elitista da nação, de povo que consideram minorado, formado por
índios, pardos, negros, pobres e malandros. Praticam hierarquização rigorosa, segundo
seus padrões. Uma distinção quando da formação na Academia Militar das Agulhas
Negras constitui empurrão para um oficial se alçar ao status de príncipe entre o príncipes
- general de quatro estrelas da ativa. Essa aristocracia castrense jamais submeteria-se
por prazo indefinido a um tenente mentecapto, reformado como capitão.
Bolsonaro encontra-se debilitado, perdeu seu ex-partido (PSL) e foi incapaz de
fundar um outro - após sete meses, obteve apenas três por cento das assinaturas
necessárias. As fantasmagóricas hordas bolsonarianas sumiram sem mostrar a cara. Seu
atual apoio popular é passivo e residual, devendo-se sobretudo à falta de oposição e aos
abonos multitudinários Covid-19. A simpatia de milicianos e policiais militares permitiria,
ao máximo, agitação localizada, rapidamente reprimida pelo exército, cioso do monopólio
militar que possui desde 1937. Os empresários evangélicos estão ocupados com a queda
dos dízimos, sem as sessões presenciais de escorcho. Boa parte do apoio a Bolsonaro
provém do núcleo direitista permanente, transferível para qualquer outro direitista
ocupando o cargo.
Como proposto, o grande capital e o imperialismo se mobilizam contra o controle
direto do Estado por poder cesarista, eventualmente permeáveis a projetos nacionalistas
ou outros, de esquerda e de centro, do tipo Velasco Alvarado, Peru, (1968-75), Hugo
Chaves, Venezuela (1999-2013), hoje quase impossíveis. Ou mesmo de direita, como o
"golpe no golpe, em 1967", no Brasil. A grande imprensa liberal e o capital fezeram cara
feia para a proposta castrense de um desmilinguido "Plano Pró-Brasil"! E, sobretudo, o
que um regime militar faria, que não está sendo feito, sob o silêncio ou com o apoio da
oposição, em plena vigência da democracia e da Constituição "flexibilizadas"?
Golpe e Colaboracionismo
Não há paradoxo na instalação do golpe, em maio-agosto sem oposição real da
oposição parlamentar e de grande parte dos grupos que se reivindicam do socialismo e
do marxismo. O governo Dilma Roussef, o PT e movimentos satélites aceitaram o
pretenso respeito à Constituição do golpismo, combatendo-o com tentativas de acordos
espúrios no Parlamento. Às portas do impeachment, Dilma Rousseff seguia despejando
baldes de maldades sobre os trabalhadores, na esperança de reconquistar as boas
graças das facções do grande capital que se mobilizava contra seu governo. O PT e a
CUT jamais chamaram os trabalhadores e a população a descerem às ruas contra o
golpismo.
Parte da esquerda que se diz revolucionária fez pior. O PSTU apoiou -por
negativa- o golpe, propondo que ele não existia, ao igual que grupos do PSOL, como o
MES, de Luciana Genro, e a CST, de Babá. A direção do PSOL manteve-se no geral
impassível, esperando crescer com a crise do PT. O PCB negou-se ir à rua, dizendo que
o governo era colaboracionista, esquecendo-se que o golpe era contra os trabalhadores e
o país e não contra a Dilma e o PT. A postagem do YouTuber pecebista e neo-estalinista
Jones Manoel, de 2 de abril de 2016, é paradigmática. Propunha que estavam na rua,
mas não para prestar "qualquer apoio ao Governo do PT" e sem entrar na "histeria do
Golpe". Na oposição incondicional ao golpe, talvez apenas o pequenino PCO, o MST,
populares e militantes esparsos, por iniciativa própria.
No primeiro governo golpista, no início do ataque às leis trabalhistas, à
Previdência e ao ensino universitário público, com a população afluindo numerosa às
ruas, e com o sucesso da greve geral, de 28 de abril de 2017, Lula da Silva gritou, em 26
de agosto do mesmo ano, em Salinas, Minas Gerais, "Fica Temer", e mandou a militância
sair das ruas e se preocupar com as eleições de 2018. A patuleia desenxabida foi para
casa e as eleições farsescas entronizaram, como inscrito estava nas estrelas, o segundo
governo golpista. Imediatamente, Haddad e Boulos, ajoelhados, reconheceram a
legalidade da eleição ilegal. PT e PSOL regozijavam-se com os bons resultados eleitorais,
enquanto a população afundava na miséria, desorientação, angustia.
Em 7 de abril de 2018, meses antes das eleições, quando os trabalhadores
acorriam numerosos para defender Lula da Silva, no sindicato dos Metalúrgicos em São
Bernardo do Campo, na iminência dele ser preso, o ex-sindicalista se entregou aos
esbirros federais, dizendo acreditar na justiça brasileira - i.e. golpista. Em 8 de novembro
de 2019, quando foi libertado, em Curitiba, com a permissão dos senhores generais, após
quase quinhentos dias de prisão, gritou alto,"Fica Bolsonaro", mandando outra vez a
população preocupar-se com as eleições de 2020 e 2022.
Descalabro Governamental
Em 1° de janeiro de 2019, empossado o Ogro, a chamada oposição, com as
exceções de sempre, denunciou histérica o perigo fascista que espreitaria na esquina.
Primeiro, se propôs "deixar a poeira baixar". A seguir, estreitar as mãos, à espera das
hordas fascistas que dizimariam esquerdistas, homossexuais, negros, índios. Sobretudo,
se propôs a necessidade de Frente Anti-Fascista ou de Salvação Nacional, não contra o
golpe, mas apenas contra Bolsonaro e o pretendido fascismo em instalação. Para muitos,
o golpe já era página do passado, superada pelas "eleições livres" de 2018, sucesso de
importância menor, como proposto por Fernando Haddad, em 10 de agosto de 2016, ao
defender que "Golpe é uma palavra um pouco dura, que lembra a ditadura militar", para
tratar a recente deposição da presidenta. Desde então, o mesmo Haddad tudo faz para
não verbalizar aquela palavra.
A "Frente Anti-Fascista contra Bolsonaro" devia ser tão ampla que abraçasse todos
os quiméricos "golpistas democráticos" e "generais racionais", muito falados mas jamais
vistos. A reivindicação única era que o Ogro se "comportasse", respeitando a vestal
democracia ameaçada, que já virara bordel do grande capital. E, assim, se pudesse
seguir tranquilamente em direção das eleições de 2020 e 2022. Para se reeleger
vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores, que seguiriam jogando para
a torcida, vestindo a camiseta de MDB na nova ordem liberal-autoritária globalizada.
A proposta da grande "Frente Anti-Fascista" ou "Ampla" abraçava o princípio de
que o que fora perdido perdido estava. Como no caso das privatizações e reformas de
Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, esquecidas pelas administrações
presidenciais petistas seguintes. Nada de "Fora Bolsonaro", de "abaixo o golpismo", de
"generais para os quartéis", de "eleições diretas", de "devolução dos direitos e do que se
perdera", etc. E, sobretudo, a população devia ficar em casa, para não afugentar os
conservadores e golpistas ditos anti-fascistas a serem seduzidos. Nunca é demais repetir
- a salvação viria com as eleições de 2020 e 2022. A população ficou em casa, cada vez
mais desacorçoada, e o golpismo prosseguiu sua metamorfose da sociedade e das
instituições brasileiras.
O Covid-19 foi uma sinistra mão na roda
A pandemia que se instalou no Brasil a partir de fim de fevereiro de 2020
consolidou o programa colaboracionista da oposição faz-de-conta. Com o Covid-19, havia
agora razões palpáveis para que as ruas fossem abandonadas. Desde esse momento, o
importante era "salvar vidas", com todos enfurnados em casa, como propunham até
mesmo organizações na esquerda que se reivindicam da revolução. As formas de luta
seriam os "abaixo assinados", as "lives", os "atos virtuais", os "panelaços", os "conchavos
políticos". Foram execradas as propostas de que os jovens saudáveis descessem às ruas,
numerosos, com máscaras de proteção, para enfrentar os pequenos magotes
bolsonaristas que as dominavam, devido à total liberdade de ação que gozavam. O
importante eram as eleições de outubro de 2020.
Em 25 de março de 2020, construindo a "Frente Anti-Fascista" ou "Ampla",
exclusivamente anti-bolsonarista, PT, PSOL, PCdoB, PCB e Rede anunciaram, em "Nota
dos partidos de oposição sobre o pronunciamento de Jair Bolsonaro", apoio às ações de
"todas as instituições públicas, empresas, gestores estaduais e municipais, entidades de
classe e organizações da sociedade civil, lideranças religiosas","prefeitos e governadores"
que agiriam corajosamente contra o coronavírus, ao contrário do Mensageiro da Morte. A
declaração defendia igualmente "ampla convergência contra a insensatez de Bolsonaro" e
"união em defesa da vida dos brasileiros e da democracia".
O problema não era a política do governo federal, dos generais, do grande capital,
do imperialismo, mas a falta de equilíbrio pessoal do Analfabeto Funcional. Governadores
como Dória e Witzel, que pouco faziam e muito encenavam, foram apresentados como
administradores responsáveis, racionais, humanitários. Em 2 de abril, Lula da Silva
elogiou o golpista João Dória pela sua ação anti-Covid-19, que devolveu a gentileza. Mas
esse contubérnio foi pouco, diante do que se preparava.
Na sexta-feira 1º de Maio de 2020, participaram de comício virtual, FHC, o
"exterminador do futuro"; Rodrigo Maia; Marina Silva; Eduardo Leite, o "matador de
professores do RS", junto com Lula da Silva, Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Fernando
Haddad, Flávio Dino, Manuela D´Avila. Boulos abandonou o bonde, na última parada, sob
o protesto geral pela confraternização com a direita golpista. O ato, de quase nula
repercussão, servia sobretudo para "amansar a população". Ou seja, dava outro passo
em direção da construção de "Frente Ampla", propondo a normalização política do
golpismo, com acomodação e mesmo apoio às transformações estruturais que
impulsiona.
Fora Bolsonaro, Fica Mourão
O negacionismo de Bolsonaro, de seus ministros, do alto comando das forças
armadas, sob a pressão empresarial, agudizou ao extremo as contradições sociais,
políticas e sanitárias, mesmo no contexto da inação geral da dita oposição. A proposta da
luta pelo fim do governo Bolsonaro e do golpismo ganhou força e jovens começaram a
combater nas ruas os pequenos magotes de bolsonaristas. Em 21 de maio, a totalidade
dos partidos que se reivindicam de esquerda entregaram ao morfético Rodrigo Maia mais
um pedido de impeachment de Jair Bolsonaro - PT, PCdoB, PSOL, PCB, PCO, PSTU, UP,
além de dezenas de organizações associadas. No grupo, não havia sequer um dos
"golpistas democráticos".
No sentido do programa de "Frente Ampla", o pedido trazia imbricado a proposta
de destituição do presidente e sua substituição pelo vice-presidente general Mourão.
Proposta já verbalizada por oposicionistas, como Flávio Dino do PC do B, em 2 de abril de
2020. Ou seja, uma literal legalização da ordem golpista e de suas práticas passadas,
presentes e futuras, em troca da substituição de golpista desequilibrado por um político
fino, inteligente, maneiroso. Mourão aceita a homossexualidade masculina, não é contra o
aborto, etc., mas está comprometido até a medula dos ossos com a submissão total do
nosso país ao grande capital internacional. Sem mobilizações multitudinárias, mesmo
legalizando o golpe, o impeachment era simples proposta retórica, parte das firulas de
oposição que jogava e joga apenas para a torcida, já que não há possibilidade de ela ser
apresentada ao Parlamento e muito menos de ser aprovada. Tudo para garantir eleições
tranquilas em 2020 e 2022.
Em 27 de maio, os partidos e movimentos signatários do pedido de impeachment o PSTU pulou fora -, em plenária virtual de mais de trezentos participantes, marcaram
para o dia 13 de junho, sábado, uma manifestação nacional... virtual, com todos em casa
gritando diante dos computadores, à espera das eleições de 2020. Proposta que
expressava a constituição social do grosso da militância organizada e desorganizada de
esquerda, formada sobretudo por facções das classes médias assalariadas, em geral
capazes de se manterem em quarentena. Enorme parte do povo trabalhador jamais saíra
das ruas, indo para o trabalho ou correndo atrás dele.
Explosão Popular
Já nas semanas anteriores, em Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro,
núcleos auto-organizados de jovens começavam a descer corajosamente às ruas para
pôr com sucesso fim às capengas carreatas e manifestações bolsonaristas. Essa política
era impulsionada em forma aberta pelo PCO. Entretanto, um fato internacional golpeou
duramente a política de desmobilização da população de oposição colaboracionista. Em
centenas de cidades dos USA, milhares de pessoas marcharam por longos dias em
protesto à morte, em 25 de maio, de George Floyd, cidadão negro imobilizado até o
sufocamento por policiais em Minneapolis. Mobilizações que iniciaram, portanto,
concomitantes à plenária abafa-movimento
Na sexta-feira, 29 de maio, o manifesto "Estamos Juntos!" fortaleceu o movimento
de rendição da população e dos trabalhadores à dita "burguesia democrática". A
declaração propunha a união supra-partidária da "esquerda, centro e direita", todos
"unidos" para "defender a lei, a ordem, a política" e tudo mais. Nem uma palavra sobre os
direitos dos trabalhadores e da população e da nação e o fim do golpismo em
consolidação. Assinavam embolados: FHC, Fernando Haddad, Boulos, Dino, Marcelo
Freixo, entre tantos outros outros. Não assinaram Lula e Gleise. A cor do manifesto era o
amarelo, para se diferenciar em algo dos verde-amarelos bolsonaristas e totalmente do
vermelho dos trabalhadores.
No dia 1° junho, segunda-feira, impulsionados pelas manifestações estadunidenses,
milhares de manifestantes contra o racismo e o golpismo desfilaram pelo centro de
Curitiba, Paraná, e, no dia seguinte, em menor número, em Manaus, um dos epicentros
da pandemia no Brasil. Os manifestantes usavam máscaras e mantinham o afastamento
individual regulamentar. Para não perder o ônibus em movimento e dirigi-lo, logo que
possível, de volta para a garagem, o colaboracionismo ensaiou uma presença "enganabobo" em manifestações de rua nos dia 7 e 13 de junho, sem apoiá-las nos fatos.
Parlamentares e direções oposicionistas pronunciaram-se pela permanência em casa. Foi
porém breve o surto oposicionista.
A Frente Ampla Consolida-se
Bolsonaro, ministros, generais, parlamentares etc. negacionistas e terraplanistas
deixaram correr solta e impulsionaram a pandemia e a crise econômica. As contradições
objetivas e subjetivas acirraram-se a um ponto de quase não retorno. Mesmo sem
oposição, o apoio ativo ao Ogro caiu ainda mais. Suas hordas esfumaram-se. Fortaleceuse o cerco ao filho Flavinho, senhor das "rachadinhas"; os pedidos de impeachment se
acumularam no colo de Rodrigo Maia, seu desafeto. O Congresso e o Senado, por conta
própria, seguiam implementando o golpismo, de costas para ele.
Bolsonaro incompatibilizara-se com o Parlamento e o Senado; com os homens da
Toga Preta; com os mais poderosos governadores; com o núcleo central da grande
imprensa burguesa. Quebrou os pratos com Moro e seguiu desconfiando de Mourão.
Transformou-se em figura tóxica para a própria direita internacional Fazendo água, o
governo federal enxameou-se de fardados, igualmente incompetentes. Apertando a
Justiça criminal e eleitoral o cerco a sua família, a ele e a seu mandato, para defender-se,
Bolsonaro ensaiou ofensiva farsesca.
Bolsonaro participou e incentivou manifestações e declarações golpistas, com
ataques ao STF, na Esplanada e na porta do Planalto. As postagens do "Gabinete do
Ódio" multiplicaram-se. Fogueou, adulou e mobilizou as tropas que lhe restavam. Soltou
as rédeas de seus jumentos mais agressivos: o Salomão, ministro da Educação; o
Ernestinho, o menino que brinca com as Relações Exteriores do Brasil; os pimpolhos 01,
02, 03. Reafirmou fidelidade canina ao imperialismo estadunidense, com destaque ao
veto à Huawei, no relativo ao G5, antes de abrir a oferta internacional.
Desesperado, abraçou os exóticos "Trezentos do Brasil", espartanos da extrema
direita, acampados na Esplanada dos Ministérios, que pediam a ditadura militar e
atacavam com gosto o STF, prometendo combater até a morte o comunismo. Na falta de
um Leônidas tupiniquim, eles eram comandadas por uma gordinha histriônica, exfeminista, com curso rápido de introdução ao fascismo na Ucrânia, de codinome Sara
Winter. Seriam talvez trinta. Em 13 de junho, os trezentos, que sequer eram trinta,
dispersaram-se ao primeiro grito da força pública e a Leônidas terminou, por alguns dias,
no xilindró, sem qualquer rosnar de dentes bolsonarista no país.
Bolsonaro quase Caindo
Bolsonaro bambaleando, era golpeado pelo STF, que cerrava as filas avançando
as investigações das "Fakes News" e das agressões aos seus ministros. Em 18 de junho,
Fabrício Queiroz -o presunto braço direito das rachadinhas do Flavinho-, foi preso, em
São Paulo, escondido na moradia do ... advogado da família do presidente da República.
O Mito Desmaiado aguentava-se sustentado pelos senhores generais. Já comandando o
governo e orientando as instituições do Estado, os fardados não queriam mostrar ainda
mais a cara, sobretudo com a agora insatisfação crescente da população com a
proliferação de castrenses dependurados no governo federal, que a grande imprensa
começava a criticar. Crítica que alcança, agora, nível inusitado, com a crítica da chefia do
Ministério da Saúde por um paraquedista (sem trocadilhos)!
Não podendo deixar o governo escorrer pelo ralo, atingindo a estabilidade do
próprio golpe, os senhores generais falaram grosso, outra vez, esclarecendo quem manda
no país. O movimento de força registrava porém também fraqueza.
Em 12 de junho,
em Nota Oficial, Bolsonaro, o vice-presidente general Hamilton Mourão e o ministro da
Defesa, general Fernando Azevedo, declararam, em forma quase explícita, que as forças
armadas não aceitariam impeachment do presidente, pelo Congresso, ou a cassação da
chapa Bolsonaro-Mourão pelo Tribunal Superior Eleitoral. No mesmo dia, o ministro da
Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos, recomendou à oposição "não
esticar a corda".
Não foi apenas por covardia que as altas instituições involucradas na declaração
castrense e a oposição faz de conta responderam com apenas muxoxos. A declaração
militar trazia imbricada a aceitação da proposta de Frente Única. Ou seja, a aceitação do
golpe, pela oposição e do controle-recuo do Chupa-Cabras, enquadrado pelos generais.
As eleições se realizariam, postergadas de um mês, em inícios de novembro. A proposta
farsesca de "Fora Bolsonaro, Fica Mourão" foi engavetada e, alavancadas pelos atos
colaboracionistas anteriores, facções políticas burguesas movimentaram-se para adonarse da direção da Frente Ampla, que lhe era oferecida pela oposição.
O pacto de distensão registrava a consciência dos senhores generais que, devido à
crise sanitária e econômica, seguiriam perdendo sustentação política, se deixassem o
bolsonarismo livre, "esticando a corda". A grande mídia, apoiando sempre o golpismo,
aprofundava a oposição ao bolsonarismo e começava a fustigar diretamente os militares.
O alto comando temia sobretudo que crise econômica e sanitária levasse o povo às ruas,
como nos USA, desde 25 de maio, contra o racismo, e, agora, em outras partes do
mundo - Sérvia, Israel, etc. -, diretamente contra a gestão da pandemia.
Mini-Reforma Ministerial
Em 17 de junho, seis dias após a declaração castrense "Fica Bolsonaro", Fábio
Farias, genro de Sílvio Santos, era empossado no novo Ministério das Comunicações,
pedindo pacificação para combater o drama nacional do Covid-19 e defendendo a
importância da liberdade de imprensa, diante do Ogro negacionista e janta-jornalista. No
dia seguinte, 18, Abraham Weintraub, ministro terraplanista da Educação, anunciou sua
demissão e, temendo ser preso, por ofensas ao STF, ao perder o foro privilegiado,
escapuliu para os USA, onde espera assumir uma boquinha de ouro, na direção do Banco
Mundial.
No dia 25, Bolsonaro anunciou como novo ministro da educação o economista
Carlos Decotelli da Silva, oficial retirado da Marinha, negro e, portanto, muito identitário,
liberal extremado, mas cheio de dedos nas relações inter-pessoais e institucionais e
repletos de diplomas ... fajutas. Descoberta a maquiagem do currículo, foi demitido sem
vacilação, não por ser negro, mas pelos tempos serem outros. Terminou empossado o
pastor presbiteriano Milton Ribeiro, diretamente ligado ao ensino universitário privado,
mas também longe do olavismo.
Bolsonaro resiste a depor Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Ricardo
Salles, do Meio Ambiente, questionados pelas repercussão econômicas e diplomáticas de
seus atos e declarações olavistas. Os ogrinhos se calaram, igualmente, ao ponto de
balbuciarem a necessidade de pacificação. Carlinhos, o 03, assustado com a revelação
pelo Facebook de seus perfis falsos, sugere pela mídia a possibilidade de mudar-se para
os USA. O guru astrólogo fechou-se como caramujo, sob o peso de dívidas judiciais
pesadíssimas.
Bolsonarismo sem Bolsonaro
O olavismo recua, mostrando falta de autonomia estrutural, acrescida com a
possibilidade de derrota eleitoral de Donald Trump, em novembro. Discute-se a
possibilidade de constituição de partido-movimento de extrema-direita, com Abraham
Weintraub, Ernesto Araújo, Sara Winter, os três porquinhos, Olavo de Carvalho, etc. como
lideranças alternativas a Bolsonaro. Algo de difícil execução, para além de um nível
rastejante, sem apoio do grande capital.
Em editorial de 29 de junho, "Em trégua", a Folha de São Paulo saudou o "novo
pacto" e o comportamento civilizado de Bolsonaro, em um momento em que é necessário
"um respiro para o país" para "superação de uma emergência sanitária e de uma
recessão devastadora". Seus articulistas elogiaram a "pacificação", registrando porém o
caráter instável do Besta em Domesticação. A preocupação da Folha é salvar o golpe de
Bolsonaro e, até certo ponto, dos militares.
O STF já registrou também a sua nova boa vontade para com Bolsonaro
Arrependido: mandou Queiroz para casa, com a mulher que se escondia; rejeitou
investigação contra o general Heleno, etc. Agora, a Rede Globo ensaia proposta de
anistia ao PT. Um seu articulista, Ascânio Seleme, propõe que o PT, o "agrupamento
político (PT), talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser
readmitido no debate nacional". Defende que "o ódio ao PT não faz mais sentido" e que a
reintegração já está atrasada.
A Oposição Amarelou
Em 26 de julho, pouco mais de um mês após o "Fica Bolsonaro" castrense, de 12
de junho, a esquerda parlamentar assinou o manifesto "Direitos Já!". Nele, abraçava, forte
o acordão, que seguia se vestindo de amarelo. O manifesto sequer pedia a substituição
de Bolsonaro por Mourão, programa vetado pelos militares e descartado pelo "Príncipe
dos Sociólogos" e pelo presidente de seu partido, atrapalhado com a descoberta do
"Tesourinho" de Serra e filha na Suíça. O manifesto propunha apenas a "defesa da
democracia", que já deixou de existir, com os militares bordando e costurando, e desejos
diáfanos de melhorias sociais.
Políticos que se dizem da oposição, como Fernando Haddad, Guilherme Boulos,
Eduardo Suplicy, Fernanda Melchionna, Jandira Feghali, Marcelo Freixo, Manuela
D'Avilla, Flavio Dino, Tarso Genro (que propusera uma "Frente de Salvação Nacional"
com Dória, Witzel), entre tantos outros, aceitaram arriar as mais tênues bandeiras antigolpistas e conceder atestado pleno de democracia e cidadania a verdadeira seleção de
golpistas e serviçais do grande capital, com FHC e Alckmin à cabeça. José Sarney e
Michel Temer recusaram o convite. O último, acaba de confessar que tem aconselhado
Bolsonaro, direta e indiretamente.
Entre os "novos democratas" estão os indefectíveis Francisco Weffort, Raul
Jungamm, a banqueira Neca Setubal, Tasso Jereissati, Miro Teixeira, Reinaldo Azevedo,
Roberto Freire, Eduardo Leite. Os eternos transformistas estavam todos ali, entre eles,
Ciro Gomes, Cristóvão Buarque, Fernando Gabeira, Heloísa Helena, Marina Silva, Marta
Suplicy, Rodolfo Rodrigues, Tabata Amaral.
Novos Democratas
Em 1° de julho, em plena celebração geral da rendição da oposição que se quer
estepe do golpismo, o ex-sindicalista, ex-presidente e ex-preso político Lula da Silva,
quando de reunião do PT, gritou claro e alto que não subia naquele bonde! E coberto de
razões, apontou que, no manifesto "não se fala(va)", jamais, dos "direitos perdidos" e dos
interesses da "classe trabalhadora". Lula defendeu que o PT quer o "impeachment de
Bolsonaro" para que o "país seja governado para os interesses dos trabalhadores
brasileiros". O que, na sua visão, subentende voltar a ser governado pelo PT. Opôs-se ao
reconhecimento como democratas a alguns dos maiores inimigos dos trabalhadores e da
população brasileira. Gleisi, Stédile e a esquerda petista seguiram o chefe. A declaração
quebrou a unanimidade do assanhamento petista com a direita dita civilizada e passou
rasteira histórica em Fernando Haddad, Flávio Dino e outros iguais.
Compreende-se a negativa de Lula da Silva de prosseguir no caminho que trilha,
há décadas. O projeto atual de conciliação incondicional com a direita tem como um dos
seus grandes objetivos enterrar de vez o PT, liquidando com o que sobra de sua herança
e simbolismo passados, e com ele, o próprio Lula da Silva. A evolução em direção a um
bi-partidarismo, ao igual que nos USA, é projeto político permanente do grande capital e
do imperialismo para o Brasil, apoiado por inúmeros caciques da direita petista.
Fora as raras e dificilmente audíveis exceções de sempre, a oposição que se diz
socialista aderiu, silenciou ou apenas resmungou, diante da consolidação da Frente
Ampla e do enterro geral da oposição. Nesse momento, ela também enterra suas
veleidades oposicionistas e se prepara para os longos meses de carnaval eleitoral, desde
posições de esquerda, de centro-esquerda, de esquerda extremada, é claro! Navegar,
não é preciso! Eleger vereadores e prefeitos, é preciso! A consolidação da Frente Ampla
fortaleceu o deslizar de organizações que se reivindicam do socialismo e da revolução.
A Oposição que se Diz Socialista
Nas últimas décadas, organizações ditas da esquerda revolucionária apoiaram
subjetiva e mesmo objetivamente movimentos imperialistas e do grande capital,
aplaudindo intervenções na Síria, Líbia, Venezuela, Cuba, etc.; negando e, não raro,
apoiando o golpe de 2016; defendendo a ação de Moro e da Lava Jato -defesa na qual
Luciana Genro se desdobrou, etc. Assistimos, agora, ao apoio ativo ao colaboracionismo
da Frente Ampla. Valerio Arcary, ex-porta-voz do PSTU, é hoje dirigente da tendência
"Resistência" do PSOL. Em artigo recente, serviu-se da sua crítica de uma faixa em
"Defesa da Revolução e da Ditadura do Proletariado", no domingo, 14/6, na Avenida
Paulista, do minúsculo POR, para desancar militantes aos que pedem "Fora Bolsonaro e
Fora Mourão" e se negam a participar da aliança com as "dissidências burguesas”. https://
esquerdaonline.com.br/2020/06/20/nota-sobre-o-ultraesquerdismo/
"Dissidências burguesas" que ninguém jamais viu, mas que Valério jura que
existem e, mais ainda, promete que, abraçados a elas, dividiremos o "campo do inimigo
de classe". Tática que diz extremamente necessária, em "condições de confinamento",
em que -segundo ele- não se pode "expressar nas ruas a força da classe trabalhadora e
dos oprimidos". Nos últimos meses, a tendência "Resistência" tem se destacado pela
orientação geral a que todos permaneçam em casa, para "salvar vidas", sem conseguir
ver os milhões de trabalhadores e de oprimidos que permaneceram nas ruas batalhando
pela sobrevivência, como proposto.
E já divagando, Valério Arcary propõe não ser "impossível" que a maioria do
Congresso, mesmo sem o povo e os trabalhadores nas ruas, aprove o impeachment. E na
continuação, baixa a lenha nos que ele define como ultra-esquerdistas. Estes últimos
proporiam a necessidade de derrubar Bolsonaro e Mourão, com a ação dos trabalhadores
e da população, já que entronizar o vice -também, como propusemos- reconheceria a
legalidade e fortaleceria o golpe. Em elaboração confusa e contraditória, Valério
apresenta o governo de Bolsonaro como fraco e forte, defendendo que um governo
Mourão seria mais fraco do que o de Bolsonaro, que estaria entretanto forte! Agora,
Valério Arcary se mobiliza contra a prévia na escolha do candidato do PSOL para São
Paulo, e aposta suas fichas na dobradinha Boulos-Erundina, que acabam de abraçar-se,
para dar atestado de moderação e colaboração, a FHC e a Alckmin!
Encrostados no Estado
Os grandes partidos parlamentares que se propõem de esquerda e na oposição PT e PCdoB sobretudo-, há décadas participam da administração do país segundo as
necessidades do grande capital, distribuindo migalhas para a população. Lula da Silva
disse com razão que, em seus governos, jamais os capitalistas ganharam tanto. E
compreende-se por que a população não acorreu para defender o governo Dilma
Rousseff ou para retirar o ex-sindicalista da prisão. O PT e Lula da Silva seguem sendo
os principais partido e liderança vistos pela população brasileira como de oposição. Mas
não constituem mais referência aglutinadora-mobilizadora da maioria da classe operária,
assalariada e média. Contam com real prestígio eleitoral, ainda que decrescente e
instável.
Já foi descrita em detalhes a transição do PT e da CUT, de movimentos
tendencialmente socialistas e classistas, quando de suas fundações, a organizações
sociais-liberais e colaboracionistas. Mas esse processo não se restringiu aos grandes
partidos e confederações. No Brasil pós-1985, a profissionalização política e sindical se
transformou em um caminho seguro de realização social e econômica para multidões de
brasileiros e brasileiras, mesmo sem estirar a corda da honestidade pessoal. Os
governadores, senadores, deputados, vereadores, administradores, assessores,
sindicalistas, etc. com suas famílias, são facções sociais de centenas de milhares de
indivíduos, com elevado poder performativo. Eles dependem de vantagens econômicas e
simbólicas sujeitas à incrustação aos aparatos do Estado, aos quais se agarram com
unhas e dentes. A política de esquerda ajuda igualmente a alavancar carreiras na
universidade, na ensaística, na cinematografia, nas artes, etc.
Fundar um partido, um sindicato, uma central sindical é um negócio rendoso.
Partidos de direita e esquerda criam sua central, quando podem. Além das polpudas
remunerações diretas e indiretas concedidas aos governadores, senadores, deputados,
vereadores, etc., os partidos são irrigados com as enormes somas dos "fundos eleitorais"
e "partidários". Somados os dois fundos, o PT vai molhar o bico com 350 milhões nesse
ano. O PSOL, com quase 80 milhões! O PC do B, com pouco menos de 57! E mesmo os
partidos que não superaram a cláusula de desempenho e sequer elegeram um deputado,
recebem alguns milhões e, nos casos extremos, pouco menos que um milhão do "fundo
partidário".
Os sindicalistas de direita, centro, esquerda e extrema-esquerda acomodaram-se
consciente, semi-consciente e inconscientemente às benesses concedidas pelo Estado remuneração pela função, afastamento da produção, estabilidade, viagens, diárias,
automóveis, etc. Os fundos previdenciários tem sido saqueados com a colaboração de
sindicalistas. Organizações de esquerda conquistam as direções de sindicatos, no geral
burocratizados, e se mantém nelas, por décadas, não raro sem comandar uma só greve.
A já gloriosa CUT, no passado combativa na defesa dos trabalhadores, é hoje dura e firma
como geléia. A CSP-Conlutas não consegue dizer para que veio. O resto das centrais,
bem, é o resto. Agora, todos reivindicam a volta ao desconto da contribuição sindical
obrigatória, cortada pelo golpismo para quebrar as pernas de um sindicalismo já capenga.
No passado, o fim do desconto obrigatório já foi exigência do sindicalismo classista.
Eleições, Férias e Bolsonaro
As cartas estão dadas para o próximo período. Até novembro, se falará apenas de
eleições. Como foi proposto recentemente por observador atento de nossa política, os
partidos que se afirmam oposicionistas encerrarão as restrições à saída à rua de seus
militantes, para mandá-los, junto com funcionários e contratados distribuir santinhos.
Haverá pré-candidaturas e, logo, candidaturas, para todos os gostos. Das mais
deslavadamente colaboracionistas às mais declaradamente anti-golpista. Os eleitos farão
o que fizeram até agora. Jogar para a torcida, fazendo que não notam os golpes e os
avanços da institucionalização do autoritarismo e, se necessário, apoiar suas medidas.
Navegar não é preciso! Eleger vereadores e prefeitos, é preciso! Depois de novembro,
chegarão as férias, até inícios de março. Portanto, nenhuma surpresa se não se abrirem
inesperadas caixas de Pandora, o que não é impossível, sobretudo diante da crise
galopante econômica e sanitária.
Bolsonaro seguirá semi-tranquilo, na medida do que lhe é possível. Sua infecção real ou farsesca- ajudará no curto prazo. Ele sabe que prosseguem preventivamente as
investigações sobre os crimes eleitorais, sobre as fake-news, sobre a rachadinha do
menino Flávio, e que a imprensa sugere que ele fez o mesmo, quando deputado. Mas
Bolsonaro não pode e não quer romper totalmente com suas bases, como demonstra
algumas de suas últimas ações. O seu veto ao uso de máscara em ambiente fechado; a
celebração de "cara descoberta" do Independence Day com o embaixador yankee; ter
recheado o Ministério da Educação de olavistas, ao ceder na designação do ministro, etc.
Com tudo sob controle, e nenhum acidente de percurso, nos próximos longos
meses o golpe seguirá seu trote-galope, servindo-se do Guedes, dos presidentes do
Congresso e do Senado, etc. Privatização da água, negócio das Arábias e novas e
grandes privatizações de grandes empresas estatais, etc. estarão em pauta. A população
seguirá morrendo, literalmente, de Covid-19, de doenças várias, de desemprego,
abandonada a sua sorte, mergulhada na profunda alienação e manipulação.. Encerrada
no Coliseu imenso e terrível em que se transformou nosso país, seguirá sendo
literalmente devorada pelas feras selvagens do grande capital, enquanto seus
treinadores, comodamente aboletados na arquibancada da oposição, gritam, histéricos: Vota, Vota, Vota!
* Agradecemos a leitura de Florence Carboni
Mário Maestri, 72, historiador, é autor de, entre outros, Revolução e contra-revolução no
Brasil: 1530-2019. https://clubedeautores.com.br/livro/revolucao-e-contra-revolucao-nobrasil
No YouTube - 1h18min.
https://www.youtube.com/watch?v=WxSa6qLMrh4