MARCIA NEDER

Encontrei no filme TÁR, de Todd Field, um interlocutor para conversar sobre ideias que há algum tempo alimento. E não, não é um filme sobre cancelamento, ou pelo menos não é só um filme sobre isso, mesmo que assim tenha sido entendido pelos que o analisaram. Em “O COLISEU DO SÉCULO XXI – PSICANÁLISE, AGRESSIVIDADE E CULTURA DO CANCELAMENTO” mostro que este filme me mostrou  mais do que a cultura do cancelamento: refiro-me ao poder, sobre a qual tenho pesquisado com o método psicanalítico. Poder entre homens e mulheres, como faço em quase todos os meus artigos e livros, poder entre as gerações, poder nos grupos sociais. Mas poder, ou dimensões do poder que só a psicanálise permite ver. Pois o inconsciente é co-determinante dos fatos sociais - como esse, do cancelamento. Que é apenas um exemplar da nossa constituição psíquica agressiva que Freud demonstra com sua psicanálise.

Em "Psicanálise e Educação: Laços Refeitos" (publicação da minha tese de doutorado), questionei "o que é educar?", de uma perspectiva psicanalítica. Mostrei a insuficiência das definições das psicologias e das psicanálises e, partindo da "Teoria da Sedução Generalizada" do psicanalista Jean Laplanche formulei um conceito de educação no qual o mestre ocupa uma posição verdadeiramente encantatória no inconsciente - dele e de seus discípulos. Em vez de "educar é reprimir", "impor limites", "socializar", propus a educação como a "sedução originária" e, retomando os gregos e sua "paideia", nutrição e outras metáforas que recolhi em minha experiência como professora universitária de professores. Nesse artigo trabalho com o filme "O Carteiro e o Poeta", dentre outros, e tomo como referência constante o herói Ulisses, em sua "Odisseia", particularmente em sua travessia do mar das sereias, para demonstrar a dimensão sedutora da educação. Dimensão enraizada em nosso inconsciente na figura materna, ao mesmo tempo acolhedora e ameaçadora.

"Por que as mulheres permanecem com seus agressores?", é o que me pergunto nesse artigo. Pergunta que se desdobra em "Por que ele agride?", colocando em cena a impotência sexual manifesta na violência. E leva aos "Filhos da Mãe" ou à maternidade, arma usada e abusada pelo terrorista doméstico para manter sua refém. Apesar da importância da condição materna na dinâmica da violência conjugal, ela continua excluída das análises e estudos do problema e para isso venho chamar a atenção. Para concluir que o domínio perseguido pela dominação masculina é mais do que o domínio da mulher: é o domínio da sexualidade feminina.

O propósito deste trabalho é refletir sobre a educação na perspectiva da formação psicológica do professor na Universidade. Um breve histórico ressalta a complexidade com que foi tratada pela Antigüidade, de onde emerge tecida por uma trama simbólica sobre as mesas dos banquetes. A partir desta relação entre educação e alimento, e da intimidade simbólica de oralidade e procriação demonstrada pela psicanálise, articula-se educação e sedução, mantendo-se, no horizonte, a idéia do engendramento de um filho imaginário. Situam-se, então, os conceitos modernos de infância no interior da educação assim compreendida, discutindo-se a possibilidade de derivar limites próprios e inerentes a uma tal combinação, especialmente dificuldades de aprendizagem, e o modo restrito como a educação costuma ser praticada nas escolas.

... Desde o seu Freud: a trama dos conceitos (1982) Mezan vem explorando o argumento anunciado na sua Introdução: "A psicanálise obriga a epistemologia a repensar a objetividade dos conhecimentos". ... Mezan, R. (2002a). Sobre a epistemologia da psicanálise. ...

Esse artigo analisa a dificuldade para ‘‘digerir’’ o outro, cujo cardapio inclui o "canibal, a mulher e o judeu". Sua incorporacao humilha nosso narcisismo, ferindo dolorosamente nosso ideal de autonomia. Expelir esse outro invasivo e obsedante e um dentre outros mecanismos de defesa erigidos em nosso inconsciente contra a diferenca.

Tomando a psicanalise (Laplanche, Bleichmar, Mezan, Mijolla, Kaes, Winnicott) como instrumento, um "estilo instruido de pesquisa" (Peter Gay), a autora se depara com essa peca fundamental do dispositivo educacional que e o mestre e sua paixao de formar, que faz dele sedutor e mestre-cuca. Identidade do professor que a tese adaptativa ofusca e, com ela, todo o potencial da arte de educar que os gregos souberam explorar com sua paideia. Esta concepcao conflita com o ideal da crianca pura, fundado pela (e fundador da) educacao moderna, adaptativa: o professor- libertino, que toma a educacao como iniciacao numa sensibilidade, vai no sentido oposto a neutralizacao afetiva visada por esse nosso ideal moderno da infância. Mas abre um campo extremamente fertil para os professores que hoje assistem sua impotencia crescer, passando das "dificuldades de aprendizagem" para a violencia, as drogas e as gangues cada vez mais precoces. Por ser fecundante, a arte de educar e tamb...

Passando pela tragédia de Nelson Rodrigues de 1944 censurada durante 22 anos, "Álbum de Família" , sigo com o mito grego de Édipo incluindo sua versão mais antiga, a de Homero de onde extraio elementos comuns à história da criança e da família (maternidade - paternidade - filiação) analisando psicanaliticamente a dinâmica familiar inconsciente e recusada pela idealização de uma santa mãe, imune a sentimentos hostis pelos filhos.
Retomo, aprofundando, essa idealização da maternidade em meu livro "Os Filhos da Mãe", bem como a nova relação da criança na família, no século XXI, em "Déspotas mirins, o poder nas novas famílias" - livro publicado em 2012 que ganhou uma edição atualizada, comemorativa dos seus 10 anos de publicação.

Através de personagens como a Solange, da "Dama do Lotação", de Nelson Rodrigues e Séverine, A Belle de Jour, de Buñuel, dentre outras, mostro como a cultura projeta a sexualidade no feminino, concebendo as mulheres como a encarnação do "sexo", como foram chamadas, "ninfomaníacas" por definição. Ao mesmo tempo que as dissociam com a idealização da virgem: a santa e a puta.