- Doutoranda em História da Filosofia Antiga na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde pesquisa as metáforas alimentícias para o discurso como objeto de desejo e fonte de prazer nos diálogos de Platão, sob orien... moreDoutoranda em História da Filosofia Antiga na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde pesquisa as metáforas alimentícias para o discurso como objeto de desejo e fonte de prazer nos diálogos de Platão, sob orientação da Prof. Dra. Luisa Severo Buarque de Holanda. Mestre em Filosofia na mesma universidade. Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo (2020) com especialização em Cultura Clássica Greco-Latina também pela PUC-Rio.
http://lattes.cnpq.br/9003698478598671
https://orcid.org/0000-0002-7985-7175edit
Este artigo foca nas primeiras partes do discurso de Sócrates no Banquete, no qual o filósofo descreve a natureza de eros, antes de discutir seus efeitos. Propõe-se que Platão introduz ali um vocabulário específico para descrever o... more
Este artigo foca nas primeiras partes do discurso de Sócrates no Banquete, no qual o filósofo descreve a natureza de eros, antes de discutir seus efeitos. Propõe-se que Platão introduz ali um vocabulário específico para descrever o fenômeno erótico que, diferente de outras abordagens sobre o desejo amplamente dito através do corpus, substitui o modelo de preenchimento e esvaziamento (πλησμονή e κένωσις) mais característico dos chamados “apetites” (ἐπιθυμίαι). Neste diálogo, o eros socrático, intermediário por excelência, oscila entre estados fugazes de ἔνδεια, falta, e εὐπορία, inventividade, sem visar à saciedade. A primeira seção do texto se debruça sobre o vocabulário da falta estabelecido, na maior parte, durante o elenchos de Agatão (199c-201d), personagem cuja tese, apoiada na superabundância divina, é refutada pelo estabelecimento do caráter necessitado e aporético (sem-recursos) de eros. Na segunda seção, a escolha de Poro (Recurso) e Penía (Penúria) por Diotima como os genitores de eros (203b-204c) é analisada a partir dos usos relevantes destes termos na literatura precedente. É pela interação das características parentais que eros será definido como euporético ou “inventivo”. Tendo estabelecido o par endeia (aporia) x euporia – termos familiares às leitoras do corpus por sua aplicação eminentemente discursiva –, Sócrates poderá descrever a melhor atividade ou expressão do desejo erótico como a busca incessante por um lógos.
Research Interests:
O objetivo geral deste artigo é interpretar o episódio dos soluços de Aristófanes (185c- e) no Banquete de Platão como exemplo do uso que o filósofo faz de tópicas cômicas para seus próprios fins, algo que tem sido objeto de inúmeros... more
O objetivo geral deste artigo é interpretar o episódio dos soluços de Aristófanes (185c- e) no Banquete de Platão como exemplo do uso que o filósofo faz de tópicas cômicas para seus próprios fins, algo que tem sido objeto de inúmeros estudos recentes. Em específico, se argumenta, a partir de elementos lexicais e dramáticos platônicos e aristofânicos, que a atribuição do fenômeno dos soluços a um “empanturramento” (πλησμονή) tem como objetivo satirizar o discurso de Pausânias e sua proposta erótico-pedagógica. Entende-se que tal plesmoné consiste em um “preenchimento por discursos” e é uma das ocasiões de aplicação, por Platão, da metáfora do discurso como um fluxo gustativo. Esta é bem estabelecida na tradição literária anterior e é especialmente manipulada pelo poeta Aristófanes para criticar oradores, políticos e sofistas. O comediógrafo, enquanto personagem e representante do seu gênero no diálogo, serve ao filósofo no projeto mais amplo de propor que a sabedoria não é um produto acabado que possa ser adquirido por meio de uma transação.
Research Interests:
Novaes, Julia Guerreiro de Castro Zilio; Buarque de Holanda, Luisa Severo. Sede de discursos: lógos como vinho e objeto de desejo no Banquete de Platão. Rio de Janeiro, 2023. 309p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Filosofia,... more
Novaes, Julia Guerreiro de Castro Zilio; Buarque de Holanda, Luisa Severo.
Sede de discursos: lógos como vinho e objeto de desejo no Banquete de Platão. Rio de Janeiro, 2023. 309p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Sede de discursos propõe uma leitura do Banquete de Platão que segue como fio condutor a identificação de uma metáfora: o discurso como vinho. A hipótese consiste em postular que há um uso estratégico dessa imagem para descrever a natureza e os efeitos do discurso, lógos, enquanto objeto e modo de expressão do desejo erótico, eros. A dissertação se dedica a mapear o desenvolvimento dessa metáfora a partir de elementos dramáticos e lexicais específicos, representativos do modo como os personagens agem, interagem e se expressam na atmosfera ébria de um sympósion. Interpretado à luz desta estratégia, o Banquete emerge como um diálogo que não apenas se preocupa com as condições filosóficas de emissão e recepção de discursos, mas que dispõe também de um vocabulário teórico específico para as descrever em oposição a outras. Os valores heurístico e hermenêutico da metodologia fundada na metáfora do vinho estão, justamente, na explicitação e contextualização deste vocabulário, que opõe, simultaneamente, dois tipos de desejo e dois tipos de práxis discursiva. Tanto estes quanto aqueles são sistematizados em dois pares dicotômicos: de um lado, um paradigma apetitivo passivo-aquisitivo de preenchimento x esvaziamento (πλησμονή x κενώσις); de outro, um paradigma erótico ativo-poiético de falta x inventividade (ἔνδεια x εὐπορία). A diferença entre eles é referente à postura do sujeito desejante frente ao objeto: enquanto o primeiro consome, intro-verte, o segundo produz, extro-verte. Dito de outro modo, é a diferença entre um apetite por discursos e um eros por sabedoria.
Sede de discursos: lógos como vinho e objeto de desejo no Banquete de Platão. Rio de Janeiro, 2023. 309p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Sede de discursos propõe uma leitura do Banquete de Platão que segue como fio condutor a identificação de uma metáfora: o discurso como vinho. A hipótese consiste em postular que há um uso estratégico dessa imagem para descrever a natureza e os efeitos do discurso, lógos, enquanto objeto e modo de expressão do desejo erótico, eros. A dissertação se dedica a mapear o desenvolvimento dessa metáfora a partir de elementos dramáticos e lexicais específicos, representativos do modo como os personagens agem, interagem e se expressam na atmosfera ébria de um sympósion. Interpretado à luz desta estratégia, o Banquete emerge como um diálogo que não apenas se preocupa com as condições filosóficas de emissão e recepção de discursos, mas que dispõe também de um vocabulário teórico específico para as descrever em oposição a outras. Os valores heurístico e hermenêutico da metodologia fundada na metáfora do vinho estão, justamente, na explicitação e contextualização deste vocabulário, que opõe, simultaneamente, dois tipos de desejo e dois tipos de práxis discursiva. Tanto estes quanto aqueles são sistematizados em dois pares dicotômicos: de um lado, um paradigma apetitivo passivo-aquisitivo de preenchimento x esvaziamento (πλησμονή x κενώσις); de outro, um paradigma erótico ativo-poiético de falta x inventividade (ἔνδεια x εὐπορία). A diferença entre eles é referente à postura do sujeito desejante frente ao objeto: enquanto o primeiro consome, intro-verte, o segundo produz, extro-verte. Dito de outro modo, é a diferença entre um apetite por discursos e um eros por sabedoria.
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O presente capítulo tem como ensejo uma passagem no início do Banquete (175c-e), acerca da qual se deseja defender que Platão, por um determinado uso lexical, atribui a Agatão uma concepção “apetitiva” do desejo de sabedoria — ou seja,... more
O presente capítulo tem como ensejo uma passagem no início do Banquete (175c-e), acerca da qual se deseja defender que Platão, por um determinado uso lexical, atribui a Agatão uma concepção “apetitiva” do desejo de sabedoria — ou seja, que o poeta o entenderia como um vazio a ser preenchido pelo “consumo” de discursos advindos de fonte externa. Todavia, o caminho escolhido para tal não será percorrido internamente ao Banquete, mas através do corpus platônico, de modo a evidenciar o alinhamento entre o vocabulário da passagem em questão e um uso bastante bem sedimentado do que poderia ser chamado um “vocabulário do preenchimento por fluxos”, o qual Platão empresta da tradição literária anterior. Este vocabulário é comumente empregue no corpus em vista de pelo menos três fins, que serão aqui analisados em sequência: (1), caracterizar o discurso como um fluxo sensível que preenche aquele que o ouve; (2), descrever a fisiologia do desejo, e em especial o de inflexão apetitiva — a epithymia stricto sensu —, como um preencher e esvaziar; e (3), resultante da confluência dos dois primeiros empregos, sugerir que, no corpus, o discurso é um objeto de desejo que se presta a um tipo de consumo metafórico, tal como se fosse comida ou bebida da alma.