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O mote desta dissertação é investigar as razões que levaram a maioria dos intérpretes do Poema de Parmênides a desvalorizar filosófica e metafisicamente as βροτῶν δόξας. A Deusa, nos versos finais do proêmio, afirma que o jovem iniciado... more
O mote desta dissertação é investigar as razões que levaram a maioria dos intérpretes do Poema de Parmênides a desvalorizar filosófica e metafisicamente as βροτῶν δόξας. A Deusa, nos versos finais do proêmio, afirma que o jovem iniciado deve aprender a respeito de tudo: ἠμὲν ἀληθείς εὐπειθέος ἀτρεμες ἦτορ/ἠδὲ βροτῶν δόξας, ταῖς οὐκ ἔνι πίστις ἀληθής. Ou seja, é necessário que ele saiba da verdade inviolável (B8, 48), mas também é preciso que ele conheça de perto e muito bem as opiniões dos mortais. Todavia, os scholars, desde Edward Zeller, perguntam-se por quais motivos o Eleata teria dedicado uma seção inteira de sua poesia aos conteúdos equivocados e carentes de confiança verdadeira das opiniões dos mortais. Diante deste questionamento, uma série de soluções foram propostas nos últimos 200 anos de recepção ao corpus fragmentário de Parmênides e a imensa maioria delas não se mostra satisfatória. Ver-se-á neste trabalho dissertativo que o “assombro” dos intérpretes diante da última seção do Poema se deu porque eles foram formados por uma certa concepção de metafísica, que remete inicialmente a Platão e foi seguida por todos os doxógrafos que resguardaram os versos do Eleata. É por causa do que chamarei de descredenciamento metafísico das opiniões que elas foram deixadas de lado, vistas como um epílogo à verdade e ao ente, sendo colocadas como uma escada a ser subida e depois jogada fora. As opiniões dos mortais, por conseguinte, possuem um valor epistemológico positivo, cuja validação resta em tudo aquilo que a bibliografia especializada quase sempre neglicenciou durante esses dois séculos: a errância, o equívoco e o pensamento frenético-vagante dos mortais. Elas, enfim, criam os significados que o κόσμος possui, não podendo ser esquecidas, tampouco deixadas de lado por serem fruto de uma deficiência sensório-linguística dos humanos.