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Este estudo tem por objetivo principal abordar a segunda definição de belo (καλός) oferecida pelo sofista Hípias de Élis no diálogo Hípias Maior de Platão. Após o fracasso da primeira tentativa, de que o belo seria uma bela donzela (Hp.... more
Este estudo tem por objetivo principal abordar a segunda definição de belo (καλός) oferecida pelo sofista Hípias de Élis no diálogo Hípias Maior de Platão. Após o fracasso da primeira tentativa, de que o belo seria uma bela donzela (Hp. mai. 287e), Sócrates introduz um novo elemento à investigação: a ideia de que é preciso descobrir a forma (εἶδος) que, quando acrescentada (προσγένηται), fará com que um ser surja (φαίνεται) belo (Hp. mai. 289d). Diante dessa nova compreensão, Hípias desenvolve a tese de que o belo é na verdade o ouro (χρυσός), pois o ouro, ao ser acrescido a um objeto, é capaz de torná-lo belo e valioso. A fim de melhor esclarecer essa hipótese, o presente estudo divide-se em um comentário de duas partes: uma primeira, em que se aborda a tese áurica do sofista, suas peculiaridades, motivações e dificuldades preliminares e uma segunda, em que se discute a refutação da tese de Hípias e o problema do conveniente (πρέπων), levantado por Sócrates, tendo como exemplo a escultura de Fídias.

Palavras-chave: Platão; beleza; ouro; Hípias de Élis; eidos.
Aspásia de Mileto (470?-400?) é uma figura cuja história nos é nebulosa e ao mesmo tempo muito clara. Nebulosa pois, como sugere Marta Andrade (2022, p. 24), trata-se de uma existência, como muitas outras, cuja memória a posteridade... more
Aspásia de Mileto (470?-400?) é uma figura cuja história nos é nebulosa e ao mesmo tempo muito clara. Nebulosa pois, como sugere Marta Andrade (2022, p. 24), trata-se de uma existência, como muitas outras, cuja memória a posteridade raramente se ocupou ou simplesmente esqueceu. Mas também clara pois Aspásia possui uma persona constituída no que chamamos de "tradição". A amante de Péricles. A professora de Sócrates. A esposa de Lísicles. Sua figura é frequentemente resgatada à sombra das figuras masculinas com as quais se envolveu. Em grande medida porque as fontes que a resgatam trazem seu nome à margem, mas também em parte devido a uma postura metodológica que, por vezes, ignora nomes de mulheres. Neste artigo, viso recorrer às fontes para trazer à tona o protagonismo de Aspásia no que tange à educação e seu pioneirismo no pensamento retórico. Na primeira seção, desenvolverei uma breve biografia de Aspásia, sua possível influência política e suas habilidades pedagógicas. Na segunda seção, tratarei especialmente de suas contribuições para a retórica, abordando o discurso atribuído a si no Menêxeno de Platão e a Oração Fúnebre atribuída a Péricles por Tucídides. Por fim, na conclusão, diante das teses desenvolvidas, chegaremos a uma imagem mais digna de Aspásia, vislumbrando o retrato de uma mulher que dirige um elogio à coragem e cuja opinião incide diretamente em seu corpo social e político. Desse modo, compreenderemos melhor seus avanços nos âmbitos pedagógicos e retóricos, tidos como cruciais para o desenvolvimento dos cidadãos gregos.

Palavras-chave: Aspásia. Retórica. Virtude. Educação. Menêxeno.
O presente artigo tem como objetivo principal esclarecer a concepção da tradição megárica acerca do conceito de capacidade (δύναμις), tal como apresentada no livro Theta da Metafísica de Aristóteles. A análise se faz necessária devido à... more
O presente artigo tem como objetivo principal esclarecer a concepção da tradição megárica acerca do conceito de capacidade (δύναμις), tal como apresentada no livro Theta da Metafísica de Aristóteles. A análise se faz necessária devido à falta de atenção aristotélica na formulação da tese adversária dos megáricos, pois em nenhum momento Aristóteles parece nos oferecer argumentos plausíveis que justifiquem de maneira adequada a tese de seus oponentes. Partindo desta dificuldade de reconstrução do argumento megárico e visando lhe oferecer uma maior dignidade, o estudo irá, em primeiro lugar, destrinchar possíveis argumentos que sustentem a tese no contexto da referida obra. Em seguida, irá provar que, mesmo a tese megárica não sendo tão facilmente refutável como uma primeira leitura poderia sugerir, há em sua estrutura problemas graves, que se evidenciam diante da concepção aristotélica da capacidade.

Palavras-chave: Metafísica. Megáricos. Dynamis. Causalidade. Disposição
É relativamente recente a perspectiva revisionista dos intentos filosóficos de Platão. Apesar disso, a ideia de um filósofo preocupado apenas em construir um edifício sistemático e hermético tem se mostrado cada vez menos sustentável,... more
É relativamente recente a perspectiva revisionista dos intentos filosóficos de Platão. Apesar disso, a ideia de um filósofo preocupado apenas em construir um edifício sistemático e hermético tem se mostrado cada vez menos sustentável, principalmente quando se observam as diversas fontes que apontam para interesses que não se restringem à filosofia, bem como para o desenvolvimento dos aspectos dramáticos presentes no corpus platônico como um todo. A ideia de que a literatura tem uma influência na obra platônica parece clara e um consenso entre os estudiosos, visto as inúmeras referências que Platão faz, por exemplo, à poesia épica nas figuras de Homero e Hesíodo. Mas pouco parece ter sido dito a respeito do inverso: da influência que Platão poderia ter exercido na literatura posterior. Visando lidar com esse obscurecimento, o presente estudo tem como intento primordial identificar e analisar a possível existência de elementos platônicos em dois romances do período imperial grego, a saber, em Quéreas e Calírroe de Cáriton de Afrodísias e em Dáfnis e Cloé de Longo. Em seguida, intenta demonstrar de que modo Platão, ao exercer uma clara influência na literatura posterior, deixou atrás de si não somente o já reconhecido legado filosófico, mas contribuiu substancialmente para o desenvolvimento da atividade literária, efetuando uma síntese complexa entre filosofia e literatura, ao mesmo tempo em que nos leva a questionar a suposta rigidez inflexível que as distinguem.

Palavras-chave: Romance antigo. Platonismo. Eros. Beleza.
O objetivo deste artigo é defender uma leitura "inclusiva" da Scala Amoris (210a-212b) presente no Banquete de Platão, na qual o amante, em sua ascensão, incorpora um número cada vez maior de objetos belos em sua esfera de preocupação... more
O objetivo deste artigo é defender uma leitura "inclusiva" da Scala Amoris (210a-212b) presente no Banquete de Platão, na qual o amante, em sua ascensão, incorpora um número cada vez maior de objetos belos em sua esfera de preocupação erótica. Neste sentido, posiciono-me de forma contrária à leitura "exclusiva", na qual tal ascensão implicaria o abandono do que fora anteriormente desejado.

Palavras-chave: Beleza. Eros. Platão. Scala Amoris.
O objetivo deste estudo é propor um modelo explicativo ao problema da beleza desenvolvido no diálogo Hípias Maior de Platão. É um lugar-comum entre os estudiosos defender o senso aporético do diálogo, ressaltando como todas as hipóteses... more
O objetivo deste estudo é propor um modelo explicativo ao problema da beleza desenvolvido no diálogo Hípias Maior de Platão. É um lugar-comum entre os estudiosos defender o senso aporético do diálogo, ressaltando como todas as hipóteses formuladas são descartadas pelos interlocutores, tese que é geralmente endossada pela afirmação final de que as coisas belas são difíceis (304e8). No entanto, no epicentro deste emaranhado de hipóteses, algumas conclusões importantes surgem e serão, conforme se espera demonstrar, fortemente incorporadas em outros lugares daquilo que chamamos de corpus platônico. Assim, a partir desta condição fragmentária, inerente ao próprio texto, e através dela mesma, a presente dissertação visa propor um senso de unidade ao diálogo. Para cumprir tal intento, defende-se que a estrutura do diálogo repousa em três características centrais, sendo estas responsáveis por qualificar o belo em si, são elas: a ordem (kalós é identificado com o kósmos, a ordem, à medida em que estabelece um principio estético de organização, garantindo a ordem harmônica dos seres); a admiração (isto é, o objeto perseguido tem uma validade permanente e universal de estima e, neste sentido, aparece conectado àquilo que é genuinamente bom (agathós), embora a ele não se limite); e, por fim, o comum (kalós é identificado com o koinós, o comum, pois é apresentado como aquilo que é compartilhado pelas coisas belas). A partir destas atribuições, espera-se alcançar uma designação apropriada do belo, de modo a conferir uma certa dignidade e prestígio a um diálogo pouco abordado nos estudos platônicos.

Palavras-chave: Beleza. Ordem. Estética. Hípias Maior. Metafísica.