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O desejo erótico de Sofia e a inscrição da subjetividade nos moldes do indivíduo – ou do que (não) se deixa predicar como posse
Em Populações meridionais do Brasil, ensaio de cunho historiográfico-sociológico de Oliveira Vianna, podemos flagrar certa heterogeneidade ou polaridade na representação da figura do senhor rural, do poder a ela articulado e suas... more
Em Populações meridionais do Brasil, ensaio de cunho historiográfico-sociológico de Oliveira Vianna, podemos flagrar certa heterogeneidade ou polaridade na representação da figura do senhor rural, do poder a ela articulado e suas consequências sociais e políticas para a formação da sociedade brasileira . Algo parecido ocorre na obra de Machado de Assis, em que vemos dois extremos de representação em dois extremos de sua produção literária, em “Virginius”, conto de 1864, e em Memorial de Aires, romance de 1908. No caso de Oliveira Vianna, os polos contrários de representação situam-se no corpo de um mesmo ensaio. Há inúmeras diferenças entre esses dois autores e suas obras, como de gêneros, de contexto histórico e mesmo de intervalo de tempo na figuração diversa do senhor rural. Contudo, no exercício de imaginar essa figura nacional, ambos produziram um arco semelhante que vai da representação calcada em bases míticas positivadas, até uma visão crítica que percebe no senhor rural um elemento de violência e exclusão, quase antagonista de uma comunidade imaginada nacional. A travessia de um extremo a outro da obra de ambos coloca questões das mais debatidas às mais esquecidas em termos de imaginação histórica da nação, de sua formação e mesmo de impasses que se estendem aos dias de hoje. Nosso capítulo convida a demarcar algumas veredas dessa travessia.
Esta dissertação aborda a psicologia e a concepção de pessoa humana e moral como mediações estéticas fundamentais do realismo de Machado de Assis, tomando Quincas Borba, em sua primeira versão, como corpus de investigação. Embora utilize... more
Esta dissertação aborda a psicologia e a concepção de pessoa humana e moral como mediações estéticas fundamentais do realismo de Machado de Assis, tomando Quincas Borba, em sua primeira versão, como corpus de investigação. Embora utilize majoritariamente a fatura do texto tal como publicado entre 1886 a 1891 na revista A Estação, fundam minhas interrogações menos o horizonte editorial e mais o horizonte intelectual e histórico de elaboração do romance. A dissertação levanta elementos estéticos dominantes na primeira versão e os examina à luz de uma constelação de problemas que extrapola esse romance em particular, fazendo referência ao arcabouço epistemológico do literário e suas personagens-pessoas. Busco compreender como pressupostos estéticos levantados de textos críticos do escritor se fazem dispositivos de composição do romance, resultando em uma poética preocupada com o que permeia as relações interpessoais e a subjetivação, e que institui a qualidade de “moral e humana” da pessoa como um efeito de relações – e não como resultado de determinantes metafísicos ou científicos. A nucleação da representação a partir da pessoa moral e humana contraria, assim, determinismos postos na ordem externa à composição estética. Desenvolvo essa questão, em primeiro lugar, a partir da obra de Machado de Assis, seus romances, críticas, crônicas e contos, e, depois, a partir da leitura de obras presentes em sua biblioteca pessoal, as quais contribuem para mapear possíveis referências sobre a psicologia humana, com especial atenção à entrada da noção de inconsciente em sua literatura, a qual também localizo e interpreto. Busco compreender, ainda, como ao mostrar por dentro a psicologia e as relações intersubjetivas de suas pessoas, Machado as enlaça ao processo social e econômico de passagem de uma sociedade de base escravista para a ordem moderna e capitalista de relações monetarizadas. A noção de propriedade se torna nevrálgica no Quincas Borba, e aparece tanto nos termos da dominação sexual patriarcal, quanto no processo de avanço do capitalismo naquela sociedade, donde surgem tensões em torno da subjetivação sob a forma do indivíduo, um modelo de inscrição dos sujeitos que os define a partir de relações de posse. Acessando o modo como as personagens-pessoa operam e contradizem a gramática de sua própria dominação, discuto, finalmente, como o romance expõe a erosão da validade das relações baseadas na propriedade da pessoa em si.
O artigo discute a escrita como um nexo crucial da elaboração contraetnográfica de Davi Kopenawa Yanomami a respeito dos brancos. Ele apresenta uma visão avessa à escrita e defende de modo enérgico e insubmisso os meios e valores próprios... more
O artigo discute a escrita como um nexo crucial da elaboração contraetnográfica de Davi Kopenawa Yanomami a respeito dos brancos. Ele apresenta uma visão avessa à escrita e defende de modo enérgico e insubmisso os meios e valores próprios de sua tradição oral. Atentando ao modo como seu pensamento opera e o que revela, apresenta-se seu extrato contraetnográfico com foco em suas reflexões a respeito da escrita. A discussão também se apoia nos termos da língua e cosmologia Yanomami pelos quais a escrita foi pensada, e que fornecem, finalmente, os subsídios à conclusão sobre a xamanização da escrita exercida em A queda do céu ou sobre como o xamã faz a escrita adentrar a cosmopolítica.
Resumo: Neste artigo, tomo como ponto de partida a observação de que o livro A queda do céu, do xamã yanomami Davi Kopenawa em coautoria com o antropólogo Bruce Albert, foi elaborado no chão editorial da Coleção Terre Humaine, que disputa... more
Resumo: Neste artigo, tomo como ponto de partida a observação de que o livro A queda do céu, do xamã yanomami Davi Kopenawa em coautoria com o antropólogo Bruce Albert, foi elaborado no chão editorial da Coleção Terre Humaine, que disputa historicamente um viés Humanista como orientação para o conhecimento produzido no meio letrado. Mapeando esse viés, comparo certas mediações editoriais, a saber, o entendimento de humanismo e de humano, com o modo como essas noções podem ser entendidas a partir da perspectiva xamânica de Kopenawa. Argumento sobre como ela, ao mesmo tempo em que expande a compreensão do humano, o reivindica como uma condição ecológica. Se por um lado a perspectiva de Kopenawa fala de uma humanidade não só humana,
RESUMO: Neste artigo, confronto a proposta do xamã yanomami Davi Kopenawa de dar suas palavras aos brancos no livro A queda do céu com uma questão fundante da Teoria Literária: o que permite que sejamos afetados no contexto da recepção de... more
RESUMO: Neste artigo, confronto a proposta do xamã yanomami Davi Kopenawa de dar suas palavras aos brancos no livro A queda do céu com uma questão fundante da Teoria Literária: o que permite que sejamos afetados no contexto da recepção de um objeto estético? Retorno a alguns pressupostos da teoria aristotélica sobre a tragédia, perspectiva fundadora da estética no pensamento ocidental, para pensar as condições de produção da afetação a partir do exemplo paradigmático desse dispositivo estético. Ainda, para fazer um desdobre teórico da questão, tomo o caminho já aberto pelas reflexões da filósofa Judith Butler, em seu livro Quadros de Guerra, no sentido de refletir sobre como objetos estéticos podem produzir relações de alteridade e reconhecimento e qual o papel da literatura na produção do reconhecimento de uma vida passível de luto, da representação da vida enlutável e o efeito, em um sentido ético, que essa representação pode ter sobre quem lê. A ideia é ponderar como as condições de ser afetado e a construção do eu e do outro se articulam. Todas essas questões, como deverei apontar, são de maior interesse para se pensar os desafios à recepção e crítica da circulação do pensamento de Davi Kopenawa no campo da cultura letrada e entre os brancos, o qual, em minha hipótese, traz uma quebra em relação àqueles pressupostos.
Procuramos apresentar a série coletiva de crônicas “Balas de esta- lo”, da qual Machado de Assis fez parte, publicada na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, entre 1883 e 1886. Esta apresentação inclui a caracterização da Gazeta de... more
Procuramos apresentar a série coletiva de crônicas “Balas de esta- lo”, da qual Machado de Assis fez parte, publicada na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, entre 1883 e 1886. Esta apresentação inclui a caracterização da Gazeta de Notícias e da série, que, por hipótese, possuía um projeto es- pecífico com diretrizes e procedimentos comuns que orientaram a escrita de seus colaboradores. Reinterpretamos, então, a participação de Machado na série, como sua escrita se particularizou, sob o foco de seu contexto de pro- dução, ao levar em conta informações trazidas à tona pelo estudo das “Balas de estalo” enquanto conjunto.
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Neste artigo, desenvolvo um ângulo para localizar e qualificar a relação de Machado de Assis com a Filosofia do Inconsciente de Eduard von Hartmann. Primeiro, investigo essa relação pelo ângulo da sátira do Humanitismo, no que o... more
Neste artigo, desenvolvo um ângulo para localizar e qualificar a relação de Machado de Assis com a Filosofia do Inconsciente de Eduard von Hartmann. Primeiro, investigo essa relação pelo ângulo da sátira do Humanitismo, no que o pensamento de Eduard von Hartmann se encaixa nas características das novas teorias que serviram à paródia de Machado, precisamente devido a sua pretensão de conciliar cientificidade e metafísica. Contudo, levando em conta o fato de que na primeira versão do romance Quincas Borba Machado praticamente deixou de lado a filosofia do Humanitismo, outro ângulo de sua relação com o pensamento do filósofo alemão apareceu: na primeira versão do Quincas Borba, ele colou em cena um conceito inédito de inconsciente. A relação de Machado com o pensamento de Hartmann apresenta uma ambiguidade fundamental. A melhor forma de compreendê-la parece ser nessa via ambígua produzida pela contradição de um sistema filosófico que encena sua própria arbitrariedade e seu potencial de objeto risível, mas que força a razão a mirar, por meio da metafísica, a concepção do inconsciente como uma lógica outra, como um estrangeiro habitando no interior da morada da razão.
In this article, I develop an angle to track and qualify Machado de Assisápproach to Eduard von Hartmann´s Philosophy of the Unconscious. First, I investigate it from the angle of the satire of Humanitism, a satire of a type of thought that supposes itself scientific and philosophical. In that sense, Eduard von Hartmann's thought fits perfectly to the features of the new theories that served to Machado's parody, precisely due to his pretense to conciliate a scientific basis with the tradition of metaphysics. Nonetheless, as I take into account the fact that in the first version of Quincas Borba Humanistism was almost put aside by Machado, another angle of Ma-chado's approach to Hartmann's ideas showed up. In the first version of Quincas Borba, he brought about an unprecedented concept of unconscious. Machado's approach to Hartmann's thought presents a fundamental ambiguity, to what, it seems so far, the best way to comprehend it is to hold the very contradiction of Hartmann's philosophical system. This contradiction enact the arbitrariness of his philosophy and its potential to become an object of humor, but, at the same time, forces the human reason to stare, through the lances of metaphysics, at the idea of the unconscious as another logic, as a foreigner living within the country of human reason.
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Nas duas últimas décadas propaga-se no Brasil um viés de estudo da literatura embasado na pesquisa da materialidade das condições de produção dos textos e dos meios pelos quais circulam. As preocupações deste viés de estudo se expressam,... more
Nas duas últimas décadas propaga-se no Brasil um viés de estudo da literatura embasado na pesquisa da materialidade das condições de produção dos textos e dos meios pelos quais circulam. As preocupações deste viés de estudo se expressam, por exemplo, no interesse sobre as relações determinantes entre gênero textual e suporte de publicação, entre autor e seu meio editorial, entre o âmbito da recepção e as escolhas textuais. Trata-se de uma abordagem acadêmica da literatura, direcionada ao público especializado, em geral com bases epistemológicas e metodológicas vinculadas a áreas atuais das ciências humanas, sobretudo as da história cultural e da história social.
Research Interests:
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