Em Populações meridionais do Brasil, ensaio de cunho historiográfico-sociológico de Oliveira Vianna, podemos flagrar certa heterogeneidade ou polaridade na representação da figura do senhor rural, do poder a ela articulado e suas...
moreEm Populações meridionais do Brasil, ensaio de cunho historiográfico-sociológico de Oliveira Vianna, podemos flagrar certa heterogeneidade ou polaridade na representação da figura do senhor rural, do poder a ela articulado e suas consequências sociais e políticas para a formação da sociedade brasileira . Algo parecido ocorre na obra de Machado de Assis, em que vemos dois extremos de representação em dois extremos de sua produção literária, em “Virginius”, conto de 1864, e em Memorial de Aires, romance de 1908. No caso de Oliveira Vianna, os polos contrários de representação situam-se no corpo de um mesmo ensaio. Há inúmeras diferenças entre esses dois autores e suas obras, como de gêneros, de contexto histórico e mesmo de intervalo de tempo na figuração diversa do senhor rural. Contudo, no exercício de imaginar essa figura nacional, ambos produziram um arco semelhante que vai da representação calcada em bases míticas positivadas, até uma visão crítica que percebe no senhor rural um elemento de violência e exclusão, quase antagonista de uma comunidade imaginada nacional. A travessia de um extremo a outro da obra de ambos coloca questões das mais debatidas às mais esquecidas em termos de imaginação histórica da nação, de sua formação e mesmo de impasses que se estendem aos dias de hoje. Nosso capítulo convida a demarcar algumas veredas dessa travessia.