Brazilian Journal of Health Review 10432
ISSN: 2595-6825
Contribuições da musicoterapia para a psicoterapia infantil
Contributions of music therapy for child psychotherapy
DOI:10.34119/bjhrv4n3-067
Recebimento dos originais: 13/04/2021
Aceitação para publicação: 13/05/2021
Julio Cesar Pinto de Souza
Mestre em psicologia, na linha psicossocial (UFAM).
Instituição: Professor de graduação e pós-graduação do Centro Universitário
FAMETRO
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Carlos Justino Ferreira Neto
Acadêmico do curso de psicologia
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Josenira Catique Pereira
Acadêmica do curso de Psicologia
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RESUMO
A musicoterapia funciona como uma técnica que vai da prática da arte até o tratamento
clínico com o objetivo de fornecer bem-estar e qualidade de vida. No contexto de
psicoterapia infantil, ela auxilia no tratamento e intervenção, promovendo
desenvolvimento de crianças em tratamento clínico ou no acompanhamento
psicoeducacional. O objetivo desta investigação foi discutir a prática da musicoterapia no
atendimento psicológico de crianças. Trata-se de um estudo bibliográfico de abordagem
qualitativa que se utilizou de artigos no idioma português, indexados nas bases de dados:
Google Acadêmico, Scielo e Pepsic. Como resultados desta pesquisa constatou-se que a
musicoterapia oferece uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem quando
utilizada nos atendimentos ludo terapêuticos com crianças diagnosticadas com
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro
Autista (TEA). O uso da musicoterapia auxilia o psicólogo nas intervenções
psicoterápicas com crianças, criando um espaço lúdico que promove desenvolvimento de
habilidades de comunicação, socialização, bem como nas funções cognitivas e
emocionais, por meio da música. Essa técnica pode ser expandida para outras áreas, visto
a boa receptividade observada no tratamento com crianças.
Palavras-Chaves: Musicoterapia, Psicoterapia Infantil, Benefícios, Revisão Integrativa.
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ABSTRACT
Music therapy works as a technique that goes from the practice of art to health to clinical
treatment or psychoeducational monitoring. The aim of this investigation was to discuss
the practice of music therapy in the psychological care of children. This is a bibliographic
study with a qualitative approach that used articles in Portuguese, indexed in the
databases: Google Acadêmico, Scielo and Pepsic. As a result of this research, it was found
that music therapy offers an improvement in the teaching-learning process when used in
play therapy sessions with children diagnosed with Attention Deficit Hyperactivity
Disorder (ADHD) and Autistic Spectrum Disorder (ASD). The psychologist offers
possibilities for interventions in the treatment of children, creating a playful therapeutic
space that promotes the development of communication, socialization skills, as well as
cognitive and emotional functions, through music. This technique should be expanded to
other areas that treat children, given the good receptivity observed in the treatment with
children. eatment in order to provide well-being. In the context of child psychotherapy,
she assists in treatment and intervention, promoting the development of children
undergoing clinical tr.
Keywords: Music Therapy, Child Psychotherapy, Benefits, Systematic Review.
1 INTRODUÇÃO
O uso da música com fins terapêuticos não é algo recente (PUCHIVAILO;
FURTADO, 2014). Na Grécia usava-se a música para acalmar e proporcionar harmonia
durante o tratamento de pacientes com perturbações ou doenças. No decorrer da história
a música foi sendo reconhecida como uma ferramenta útil no espaço clínico-terapêutico.
Em conjunto com a evolução da medicina, a música passou a ser utilizada como um
instrumento de relaxamento para auxiliar no tratamento de doentes (SAMPAIO et al.,
2015). Entretanto, apesar de ser utilizada há séculos como meio terapêutico, somente em
meados do século XX, a musicoterapia surgiu como uma área focada na melhoria da
saúde das pessoas.
A musicoterapia é definida por Santos et al. (2016) como um conjunto da arte
integrada à saúde, que visa fornecer desenvolvimento intelectual, comunicativo e bemestar, auxiliando nos fatores de socialização para melhorar a qualidade de vida do sujeito.
Millecco et al. (2000, p. 80) afirmam que “[...] a musicoterapia pode ser definida como
uma terapia auto expressiva, que estimula o potencial criativo e a ampliação da
capacidade comunicativa, mobilizando aspectos biológicos, psicológicos e culturais do
indivíduo.”
Melos e Mello (2019) comentam que a musicoterapia possui o objetivo de
fornecer promoção a saúde, comunicação e expressão, aprendizado de seus elementos,
proporcionando possibilidades de contato do paciente com o ambiente inserido. Além
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disso, a musicoterapia ajuda o paciente a utilizar de suas experiências musicais para
desenvolver em cima delas mudanças comportamentais, sociais e emocionais. Desta
forma, ela pode ser aplicada na reabilitação, prevenção ou tratamento (BRUSCIA, 2016).
A prática da musicoterapia, em face de seus efeitos terapêuticos, mostrou-se uma
grande aliada da psicologia, pois, de acordo com Doro et al. (2017), a musicalidade e a
psicologia se unem em uma esfera aplicada a saúde, por conta do sofrimento psicológico
identificado em crianças com perdas sociais, angústias e inseguranças. Com essa
interação da música com a psicologia, o psicólogo passa a ser um mediador dessas
relações no processo de cuidar do paciente e de seu cuidador, interceptando os sintomas
psíquicos apresentados naquele âmbito (DORO et al., 2017). Entre os grupos que reagem
bem a musicoterapia destacam-se as crianças, pois, a música consegue envolver
emocionalmente as crianças, deixando-as mais felizes e calmas, tornando-se mais adeptas
a participar da psicoterapia (NOGUEIRA; SOUZA, 2020).
A partir de um tema tão relevante, esta pesquisa teve como objetivo primário
discutir a prática da musicoterapia no atendimento psicológico de crianças. Para tratar
desse tema buscou-se levantar os principais conceitos da musicoterapia, o seu emprego
na psicoterapia infantil e a apresentação das suas contribuições.
Com esta pesquisa espera-se apresentar contribuições no contexto clínicopsicoterapêutico, considerando a musicoterapia como um recurso para avaliação e
tratamento, de modo a proporcionar o desenvolvimento do paciente, com ênfase nos
transtornos do neurodesenvolvimento em período escolar. Encontra-se ainda a relevância
da pesquisa para a sociedade, pois, por meio dos achados da pesquisa, desmistifica-se a
ideia de uma psicologia voltada somente para as patologias no tratamento psicoterápico
de crianças. Este trabalho apresenta uma revisão de conhecimentos, com o qual se pode
aperfeiçoar suas práticas psicoterapêuticas e apresentar uma nova forma de criar um
setting terapêutico favorável para o paciente.
Esta produção científica contribui com informações que podem fomentar
discussões necessárias acerca do tema, levando conhecimento para as áreas social,
psicológica e saúde.
2 PERCURSO METODOLÓGICO
Esta investigação científica possui um procedimento bibliográfico e abordagem
qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi adotada por ser um procedimento exclusivamente
teórico que é feito a partir do levantamento de referências bibliográficas já publicadas por
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meio eletrônicos e escritos, como livros, artigos, etc. (FONSECA, 2002). A abordagem
qualitativa contribuiu para que fosse realizada a análise dos conteúdos dos trabalhos
científicos levantados, momento em que se estudou as particularidades subjetivas e
experiências individuais do objeto analisado (APPOLINARIO, 2012).
Para a construção deste artigo levantaram-se inicialmente trabalhos que tratavam
do assunto em questão. Após esse levantamento inicial, obteve-se 32 publicações entre
artigos científicos, trabalhos acadêmicos e livros publicados, no idioma português
(brasileiro), indexados nas bases de dados Google acadêmico, Scielo e Pepsic. Como
descritores da seleção dos trabalhos foram utilizados os termos: musicoterapia,
psicoterapia infantil e benefícios da musicoterapia. O período considerado para os
trabalhos analisados foi de 10 anos.
As publicações foram analisadas, ocorrendo a eliminação dos artigos de títulos
iguais. Em uma segunda etapa, foram lidos os resumos das publicações, retirando-se os
trabalhos que não preenchiam os critérios exigidos para esta investigação ou que não
estavam alinhados ao propósito do estudo.
Após essa análise das publicações, foram selecionados 19 artigos, 05 livros e 02
Trabalhos acadêmicos, os quais passaram por uma leitura reflexiva e interpretativa para
que fosse construída a discussão deste trabalho, conforme será visto a seguir.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na pesquisa verificou-se que a musicoterapia é um recurso bastante utilizado em
vários contextos, como na clínica, na escola e na comunidade, sendo aplicada em diversos
ambientes com objetivos diferentes e faixas etárias diversas. Com isso, falar de
musicoterapia torna-se um desafio, pois é considerada uma técnica interdisciplinar,
possuidora de um caráter misto de conceituação. Portanto, torna-se necessário entender e
discutir o conceito da musicoterapia para adentrarmos na discussão central do tema.
3.1 A MUSICOTERAPIA COMO UMA TÉCNICA TERAPÊUTICA
O uso da música como recurso terapêutico já era praticado na Grécia antiga. As
melodias obtidas por meio da tetracorde era utilizada para o restabelecimento da harmonia
humana e no tratamento de doenças manifestadas aquele período. A medicina usou a
música como um calmante para o enfermo, durante o tratamento de doenças orgânicas.
Apesar de ainda não existir essa nomenclatura desde aquela época a música era utilizada
como ferramenta terapêutica. Guazina e Tittone (2019) afirmam que a musicoterapia é
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um campo do saber de formação específica que possui como característica a utilização da
música para buscar resgatar a saúde ou facilitar o tratamento.
A musicoterapia é reconhecida como uma junção de arte e saúde, fundamentada
em técnicas, normas e procedimentos metodológicos, podendo ser atribuída a diversas
áreas de intervenção que varia desde a educação ao contexto clínico-médico. Santos et al.
(2016) argumentam que a musicoterapia se trata de um composto entre a arte e a saúde,
como um artifício para fornecer a comunicação, aprendizado e bem-estar, além de auxiliar
nos trabalhos direcionados à socialização do indivíduo e melhoria da qualidade de vida
do paciente.
Tal afirmação, mostra-se pertinente, pois existem diversos trabalhos com o uso da
música no contexto da saúde, como um meio auxiliar no tratamento de pacientes de
diversas comorbidades e condições clínicas, que fomentaram uma melhoria do humor dos
pacientes. Esse entendimento ainda é corroborado por Melos e Mello (2019) ao
comentarem que a musicoterapia possui como manejo fornecer ganho de promoção à
saúde, comunicação, aprendizado de seus elementos e proporciona possibilidades de
contato do paciente com o ambiente inserido.
Apesar de a música ser utilizada desde a Grécia como uma forma de contribuir
para a recuperação e melhoria da qualidade de vida de pacientes, somente na década de
1940 surgiram os primeiros estudos científicos para a utilização da música como um
tratamento alternativo de patologias. A musicoterapia surge, nessa época como um a
“tratamento e apoio em saúde mental que se apresenta como uma interseção de várias
áreas do conhecimento, em que se relacionam o ser humano e a música, num encontro
que abarca arte, ciência e saúde” (PIAZETTA, 2017, p.110).
A função terapêutica da música se apresenta nas ondas sonoras emitidas as quais
proporcionam relaxamento físico e mental, causando bem-estar e prazer às pessoas. O
uso da música como técnica terapêutica é entendida por Bruscia (2016, p. 22) como “um
processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a
saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas
como forças dinâmicas de mudança”. Através de intervenções dinâmicas, a musicoterapia
promove ao paciente a potencialização de suas habilidades, de forma prazerosa.
A música pode ser utilizada por várias áreas do conhecimento e contextos, seja no
âmbito da comunidade, ensino-aprendizagem e da saúde (ROMÃO, 2015). Entretanto, a
musicoterapia ainda é vista como uma técnica de relaxamento que pode ser aplicada por
qualquer pessoa, bastando ter conhecimento musical pode realizá-la. Esse entendimento
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é equivocado, pois o uso da música como técnica terapêutica e de intervenção exige uma
capacitação do profissional, obtida por meio de cursos.
Atualmente a Musicoterapia está presente na Classificação Brasileira de
Ocupações, sendo fiscalizada e normatizada através da Associação Brasileira
de Musicoterapia e das Associações Regionais em todo o país. Sua
aplicabilidade compreende as áreas Clínica, Hospitalar, Reabilitação Física,
Deficiências Mentais, Saúde Mental, educacional tanto em instituições
privadas ou públicas (ROMÃO, 2015, p. 1714).
No Brasil, de acordo com Sampaio et al. (2015), o estabelecimento de normas
para o reconhecimento do musicoterapeuta foi estabelecido a partir da unificação, em
1968, da Associação Brasileira de Musicoterapia com a Associação Sul Brasileira de
Musicoterapia, onde agregam profissionais de áreas diferentes que usavam a música
como recurso terapêutico. A normatização foi uma evolução para a construção de uma
técnica terapêutica, com base científica, que proporciona melhoria das condições de saúde
de pessoas com a saúde físico-mental debilitadas.
Percebe-se, portanto, que a musicoterapia vai além de uma prática de
musicalização, trata-se do emprego da música para proporcionar uma mitigação dos
sintomas psicofisiológicos, influenciando diretamente a qualidade de vida dos pacientes.
As técnicas utilizadas nas atividades terapêuticas, quando conduzidas corretamente,
auxiliam no desenvolvimento dos processos cognitivos, aliviam a ansiedade, estimulam
fatores de socialização e diminui níveis de estresse.
3.2 O USO DA MUSICOTERAPIA NA PSICOTERAPIA INFANTIL
Por se tratar de uma técnica terapêutica com excelentes resultados, no auxílio da
recuperação de pacientes enfermos, a musicoterapia começou a ser utilizada como uma
técnica na psicoterapia infantil. Porter et al. (2012) comenta que a musicoterapia se tornou
um recurso valioso para a psicoterapia infantil, sendo uma categoria de interferência que
busca desenvolver e/ou restaurar funções das crianças que se encontram em processo
psicoterapêutico.
O paciente interage e participa deste processo por meio das músicas, dos sons, do
corpo, da voz e com a utilização de instrumentos musicais, atividades que comumente
geram o interesse das crianças. Anjos et al. (2017) argumenta que a musicoterapia possui
uma eficácia com crianças, pois trabalha com brincadeiras e a presença do lúdico que é
entendido como um “importante processo psicológico, capaz de proporcionar
aprendizado e, por consequência, desenvolvimento. Dentre os elementos que abarcam o
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brincar estão [...] o uso da música, interpretação e outros elementos provenientes das
ciências artísticas.” (p. 230).
O uso da música no atendimento terapêutico é direcionado a todas as faixa-etárias,
havendo uma técnica adequada para as diversas fases da infância. A utilização da
musicoterapia com crianças é caracterizada como um espaço de brincadeira, totalmente
associado ao uso da ludoterapia (em boa parte do processo), com acompanhamento de
brinquedos, instrumentos e o emprego de materiais que auxiliem na prática da
musicoterapia com a participação ativa das crianças.
Mas como a psicologia em seu fazer prático se atrela ao uso da musicoterapia na
intervenção com crianças? Doro et al. (2017) diz que a musicalidade e a psicologia se
unem em uma esfera aplicada à saúde, por conta do sofrimento psicológico identificado
em crianças com perdas sociais, angústias e inseguranças, ou seja, impossibilidades de
desenvolvimento pleno. Portanto, o psicólogo torna-se um mediador dessas relações no
processo de cuidar do paciente e de seu cuidador interceptando os sintomas psíquicos
apresentados naquele âmbito.
A musicoterapia pode se configurar como uma grande aliada da psicologia,
bem como para outras especialidades que considerem o desdobramento
terapêutico do cuidado como uma possibilidade na construção e/ou no resgate
interativo de atitudes saudáveis que viabilizam o acesso à condição afetiva e
transferencial de bem-estar do paciente. (DORO et al., 2017, p.108)
A música auxilia no processo terapêutico, possibilitando a criação de condições
para o bem-estar da criança e propiciando um ambiente confortável e acolhedor. Tais
condições oferecem um relaxamento aos praticantes, viabilizando uma condição em que
a criança se torne apresentadora dos seus aspectos e o psicólogo tenha condições de medir
essa relação.
Quanto às aplicações clínicas, a musicoterapia ter uma finalidade terapêutica ou
diagnóstica. A finalidade terapêutica é, de acordo com Hanai (2021) a própria sessão de
musicoterapia onde o paciente e o musicoterapeuta trabalham de forma ativa. Na
diagnóstica
[...] é realizada a ficha musicoterapêutica, que consiste em um interrogatório a
respeito da história sonoro-musical do paciente. Além desta ficha, o paciente é
defrontado com uma série de instrumentos de percussão simples e alguns
pouco melódicos com a finalidade de se observar como o paciente consegue se
comunicar por meio deles, é a chamada testificação do enquadre não verbal.
Neste teste, pode-se identificar o instrumento que servirá de objeto
intermediário. (HANAI et al., 2021, p. 03).
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Entende-se, portanto, que a musicoterapia diagnóstica consiste em um processo
de investigação, que através dos instrumentos musicais que o paciente mais se identifica,
elabora-se uma ficha musicoterapêutica para produção das sessões de musicoterapia com
objetivo de evoluir o paciente de forma ativa e responsiva.
A utilização da musicoterapia no contexto clínico é aplicável em situações clínicas
com modificações em cada, pois funciona como uma intervenção técnica psicológica,
residindo na objetivação de modificar problemas emocionais, atitudes comportamentais,
auxiliar no tratamento de qualquer patologia de ordem física ou psicológica (HANAI et
al., 2021). A musicoterapia atua também como um canal de comunicação para outras
técnicas psicológicas, auxiliando na eficácia delas.
Desta forma, pode-se dizer que a música, como um recurso terapêutico,
caracteriza-se por um manejo humanizado no cuidado ao paciente infantil. Melos e Mello
(2019, p. 156) ressaltam “a importância de que o profissional esteja capacitado para
perceber e lidar com sentimentos existentes, que normalmente emergem durante
atividades que utilizam música.”, reforçando assim a necessidade de o profissional ter um
conhecimento técnico quanto ao emprego dessa técnica na terapia.
Os espaços músico terapêuticos, devem ser conduzidos por profissionais
capacitados, pois tornam-se espaços onde comumente ocorre a liberação de energias,
emoções e comportamentos que devem ser devidamente observados e analisados para que
haja resultados terapêuticos satisfatórios. Cabe ao musicoterapeuta mediar essas
situações, de uma forma que conduza o seu paciente a estabelecer conexões com a música
ou com a sonoridade.
3.3 AS CONTRIBUIÇÕES DA MUSICOTERAPIA NO TRATAMENTO DE
CRIANÇAS COM TEA E TDAH
O processo musico terapêutico proporciona bem-estar físico e psicológico às
crianças, auxiliando no desenvolvimento emocional e comportamental, pois ouvir música
implica muito em como o indivíduo se relaciona socialmente e com sua subjetividade,
angústias e sentimentos (SOUZA; FERREIRA, 2018). Com as crianças, a principal
funcionalidade da música é otimizar o acesso às suas qualidades sociais, afetivas e
comunicativas existentes em seu contexto cultural.
O contato com a música, mesmo que não direcional, faz com que o paciente
desenvolva suas capacidades musicais, habilidades cognitivas e de socialização
(SANTOS, 2015). Sousa (2018) explana que na vida social da criança a musicoterapia
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proporciona e estimula capacidade de interatividade e de comunicação, promove a
socialização, melhoras em seus aspectos emocionais, físicos e biológicos. Essas
propriedades da musicoterapia tornaram-se muito úteis para alguns transtornos do
neurodesenvolvimento como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) e o Transtorno de Espectro Autista (TEA). O primeiro transtorno possui como
características alterações nas funções da atenção e controle dos impulsos e no segundo as
características estão voltadas para a dificuldade na interação social e socialização (APA,
2014).
Em face das características do TEA e TDAH o uso da musicoterapia mostrou-se
muito eficaz com resultados satisfatórios. Santos et al. (2015) argumentam que entre os
efeitos psicológicos produzidos pela musicoterapia estão os efeitos sedativos que atuam
como relaxantes, estimulantes, sentimentos de alegria que provocam bem-estar físico e
mental e a facilitação no processo de aprendizagem. Pode-se citar ainda as contribuições
no desenvolvimento psicomotor da criança. Percebe-se, portanto, que o uso da música na
psicoterapia de crianças com TDAH e TEA é muito positiva, fato que nos leva a discutir
detalhadamente as contribuições da musicoterapia no tratamento desses transtornos,
conforme veremos a seguir.
3.4 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
O TDAH pode levar a criança a ter dificuldades de atenção e/ou uma
hiperatividade, deixando-o incomodado durante atividades onde se exige calma e
concentração. O uso da musicoterapia nesses casos mostra-se favorável, pois de acordo
com Teixeira e Fernandes (2021) a música permite que crianças experimentem emoções,
mobilizar processos cognitivos complexos como atenção, memória, controle de impulsos,
execução e controle de ações motoras.
Em crianças diagnosticadas com TDAH, a utilização de músicas agitadas ou
estimulantes auxiliam esses pacientes a extravasar sua condição constante de mobilidade
(PEÑALBA, 2010). Pereira e Vasques (2016) em seus achados concluíram que a
utilização da musicoterapia no tratamento de crianças com TDAH, auxiliam na redução
de sua hiperatividade, através do gasto de energia, na melhora de sua atenção através de
tarefas que adaptadas para os processos de aprendizagem com a ajuda da música.
Ponce (2012, p. 26) comenta que "qualquer atividade musical e instrumental, sem
que os usuários percebam e se deem conta do que estão fazendo, contribui para o trabalho
da hiperatividade". Verifica-se, portanto, que a música, seja ela em terapia ou não, auxilia
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a criança hiperativa a fazer manejo de sua energia, de forma que extravasam, aliviando
sua condição agitada.
Ainda dentro dessa discussão Bruscia (2000) Apud Pereira e Vasques (2016, p.11)
elucida que
A música pode contribuir para a resolução dos problemas que possam surgir
durante o crescimento de crianças com TDAH no que diz respeito à
hiperatividade, a desatenção e impulsividade. Levando isso em conta, temos a
musicoterapia como uma ferramenta que possui o objetivo de alcançar estes
benefícios através de sessões de escuta ativas e passivas, momentos de
interpretação e improvisação, trabalho colaborativo, e outras situações que
promovam a geração de experiências musicais construtivas.
Na musicoterapia infantil o paciente com TDAH é ativo em suas tarefas e
receptivo, fazendo com que a terapia se torne um trabalho colaborativo. Mesmo com suas
condições patológicas, a musicoterapia com crianças diagnosticadas com TDAH tem o
objetivo de atingir benefícios construtivos que amenizem ou auxiliem nas experiências
musicais.
3.5 TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA
De acordo com Fernandes (2017) no tratamento de crianças com Transtorno do
espectro autista (TEA) a musicoterapia surge como uma nova ferramenta que auxilia na
comunicação verbal e não-verbal, regulação emocional e social, capacitando a criança a
ter uma atenção conjunta e capacidade de selecionar estímulos externos.
Para Teixeira e Fernandes (2021) a música na terapia com crianças diagnosticadas
com TEA é uma porta de entrada ao mundo autista, principalmente no contexto infantil,
pois ajuda a estabelecer canais de comunicação com essas crianças. Enquanto
comunicação com a criança autista a musicoterapia promove a interação e socialização
das crianças que nela participam de forma espontânea, o permite que a criança se liberte,
se permita a comunicar-se com o musicoterapeuta e o mundo que está ao seu redor.
Conforme Castro (2016), a musicoterapia fornece para as crianças com TEA
desenvolvimento em sua comunicação, na sua sociabilidade e na sua imaginação.
Contribuindo assim para um integral e harmonioso progresso, possibilitando integração
social e comportamental, educacional, emocional destas crianças.
Consoante a isso, a musicoterapia facilita o enriquecimento pessoal, social e
cultural da criança, pois de acordo com Matoso e Oliveira (2017, p.88) é por meio da
musicoterapia “[...] que o indivíduo se encontra consigo próprio e com o mundo que o
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rodeia [...] a música é harmonia e equilíbrio.” A música faz parte da nossa construção
como seres sociais e culturais, trazendo identificação com o nosso grupo social e
estabelecendo um elo de pertencimento.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível compreender que a musicoterapia funciona como um auxílio na
psicoterapia de atendimento infantil, visto que este foi o foco do trabalho. Sendo uma
técnica bastante atrelada à ludoterapia, a musicoterapia surge mais efeito enquanto
praticada no atendimento psicoterápico com crianças. Pois, ela sendo um recurso
terapêutico bem elaborado favorece o trabalho do psicólogo enquanto mediador de
crianças que possuem patologias ou não.
Dentre os principais benefícios da musicoterapia enquanto meio terapêutico, para
manejo de sintomas relacionados à infância, foram achados neste trabalho que esta técnica
favorece a socialização de crianças, permitindo uma interação com seu contexto familiar.
Além disso, fornece também aspectos comunicativos e cognitivos, que podem
auxiliar no processo de aprendizagem. O que ajuda as crianças a se expressarem e
demonstrar suas emoções de forma regulada, favorecendo relaxamento do seu estresse e
sintomas angustiantes e principalmente auxilia em aspectos comportamentais.
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