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Brazilian Journal of Health Review 10432 ISSN: 2595-6825 Contribuições da musicoterapia para a psicoterapia infantil Contributions of music therapy for child psychotherapy DOI:10.34119/bjhrv4n3-067 Recebimento dos originais: 13/04/2021 Aceitação para publicação: 13/05/2021 Julio Cesar Pinto de Souza Mestre em psicologia, na linha psicossocial (UFAM). Instituição: Professor de graduação e pós-graduação do Centro Universitário FAMETRO Endereço: Avenida Constantino Nery, 3204 - 69050-000 MANAUS - AM. Telefone: (92) 3642 3770. E-mail: cmte01@yahoo.com.br Carlos Justino Ferreira Neto Acadêmico do curso de psicologia Instituição: Centro Universitário FAMETRO Endereço: Rua Claudiano Moreira - n1240, Crespo - 69073-130 - MANAUSAMAZONAS E-mail: carlos.justinofn@gmail.com Josenira Catique Pereira Acadêmica do curso de Psicologia Instituição: Centro universitário FAMETRO Endereço: Rua Mozart Guarnieri 730 Condomínio Residencial Amazônia casa 2 Cep 69054733 Manaus-Amazonas E-mail: gicacatique@hotmail.com RESUMO A musicoterapia funciona como uma técnica que vai da prática da arte até o tratamento clínico com o objetivo de fornecer bem-estar e qualidade de vida. No contexto de psicoterapia infantil, ela auxilia no tratamento e intervenção, promovendo desenvolvimento de crianças em tratamento clínico ou no acompanhamento psicoeducacional. O objetivo desta investigação foi discutir a prática da musicoterapia no atendimento psicológico de crianças. Trata-se de um estudo bibliográfico de abordagem qualitativa que se utilizou de artigos no idioma português, indexados nas bases de dados: Google Acadêmico, Scielo e Pepsic. Como resultados desta pesquisa constatou-se que a musicoterapia oferece uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem quando utilizada nos atendimentos ludo terapêuticos com crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA). O uso da musicoterapia auxilia o psicólogo nas intervenções psicoterápicas com crianças, criando um espaço lúdico que promove desenvolvimento de habilidades de comunicação, socialização, bem como nas funções cognitivas e emocionais, por meio da música. Essa técnica pode ser expandida para outras áreas, visto a boa receptividade observada no tratamento com crianças. Palavras-Chaves: Musicoterapia, Psicoterapia Infantil, Benefícios, Revisão Integrativa. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10433 ISSN: 2595-6825 ABSTRACT Music therapy works as a technique that goes from the practice of art to health to clinical treatment or psychoeducational monitoring. The aim of this investigation was to discuss the practice of music therapy in the psychological care of children. This is a bibliographic study with a qualitative approach that used articles in Portuguese, indexed in the databases: Google Acadêmico, Scielo and Pepsic. As a result of this research, it was found that music therapy offers an improvement in the teaching-learning process when used in play therapy sessions with children diagnosed with Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) and Autistic Spectrum Disorder (ASD). The psychologist offers possibilities for interventions in the treatment of children, creating a playful therapeutic space that promotes the development of communication, socialization skills, as well as cognitive and emotional functions, through music. This technique should be expanded to other areas that treat children, given the good receptivity observed in the treatment with children. eatment in order to provide well-being. In the context of child psychotherapy, she assists in treatment and intervention, promoting the development of children undergoing clinical tr. Keywords: Music Therapy, Child Psychotherapy, Benefits, Systematic Review. 1 INTRODUÇÃO O uso da música com fins terapêuticos não é algo recente (PUCHIVAILO; FURTADO, 2014). Na Grécia usava-se a música para acalmar e proporcionar harmonia durante o tratamento de pacientes com perturbações ou doenças. No decorrer da história a música foi sendo reconhecida como uma ferramenta útil no espaço clínico-terapêutico. Em conjunto com a evolução da medicina, a música passou a ser utilizada como um instrumento de relaxamento para auxiliar no tratamento de doentes (SAMPAIO et al., 2015). Entretanto, apesar de ser utilizada há séculos como meio terapêutico, somente em meados do século XX, a musicoterapia surgiu como uma área focada na melhoria da saúde das pessoas. A musicoterapia é definida por Santos et al. (2016) como um conjunto da arte integrada à saúde, que visa fornecer desenvolvimento intelectual, comunicativo e bemestar, auxiliando nos fatores de socialização para melhorar a qualidade de vida do sujeito. Millecco et al. (2000, p. 80) afirmam que “[...] a musicoterapia pode ser definida como uma terapia auto expressiva, que estimula o potencial criativo e a ampliação da capacidade comunicativa, mobilizando aspectos biológicos, psicológicos e culturais do indivíduo.” Melos e Mello (2019) comentam que a musicoterapia possui o objetivo de fornecer promoção a saúde, comunicação e expressão, aprendizado de seus elementos, proporcionando possibilidades de contato do paciente com o ambiente inserido. Além Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10434 ISSN: 2595-6825 disso, a musicoterapia ajuda o paciente a utilizar de suas experiências musicais para desenvolver em cima delas mudanças comportamentais, sociais e emocionais. Desta forma, ela pode ser aplicada na reabilitação, prevenção ou tratamento (BRUSCIA, 2016). A prática da musicoterapia, em face de seus efeitos terapêuticos, mostrou-se uma grande aliada da psicologia, pois, de acordo com Doro et al. (2017), a musicalidade e a psicologia se unem em uma esfera aplicada a saúde, por conta do sofrimento psicológico identificado em crianças com perdas sociais, angústias e inseguranças. Com essa interação da música com a psicologia, o psicólogo passa a ser um mediador dessas relações no processo de cuidar do paciente e de seu cuidador, interceptando os sintomas psíquicos apresentados naquele âmbito (DORO et al., 2017). Entre os grupos que reagem bem a musicoterapia destacam-se as crianças, pois, a música consegue envolver emocionalmente as crianças, deixando-as mais felizes e calmas, tornando-se mais adeptas a participar da psicoterapia (NOGUEIRA; SOUZA, 2020). A partir de um tema tão relevante, esta pesquisa teve como objetivo primário discutir a prática da musicoterapia no atendimento psicológico de crianças. Para tratar desse tema buscou-se levantar os principais conceitos da musicoterapia, o seu emprego na psicoterapia infantil e a apresentação das suas contribuições. Com esta pesquisa espera-se apresentar contribuições no contexto clínicopsicoterapêutico, considerando a musicoterapia como um recurso para avaliação e tratamento, de modo a proporcionar o desenvolvimento do paciente, com ênfase nos transtornos do neurodesenvolvimento em período escolar. Encontra-se ainda a relevância da pesquisa para a sociedade, pois, por meio dos achados da pesquisa, desmistifica-se a ideia de uma psicologia voltada somente para as patologias no tratamento psicoterápico de crianças. Este trabalho apresenta uma revisão de conhecimentos, com o qual se pode aperfeiçoar suas práticas psicoterapêuticas e apresentar uma nova forma de criar um setting terapêutico favorável para o paciente. Esta produção científica contribui com informações que podem fomentar discussões necessárias acerca do tema, levando conhecimento para as áreas social, psicológica e saúde. 2 PERCURSO METODOLÓGICO Esta investigação científica possui um procedimento bibliográfico e abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi adotada por ser um procedimento exclusivamente teórico que é feito a partir do levantamento de referências bibliográficas já publicadas por Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10435 ISSN: 2595-6825 meio eletrônicos e escritos, como livros, artigos, etc. (FONSECA, 2002). A abordagem qualitativa contribuiu para que fosse realizada a análise dos conteúdos dos trabalhos científicos levantados, momento em que se estudou as particularidades subjetivas e experiências individuais do objeto analisado (APPOLINARIO, 2012). Para a construção deste artigo levantaram-se inicialmente trabalhos que tratavam do assunto em questão. Após esse levantamento inicial, obteve-se 32 publicações entre artigos científicos, trabalhos acadêmicos e livros publicados, no idioma português (brasileiro), indexados nas bases de dados Google acadêmico, Scielo e Pepsic. Como descritores da seleção dos trabalhos foram utilizados os termos: musicoterapia, psicoterapia infantil e benefícios da musicoterapia. O período considerado para os trabalhos analisados foi de 10 anos. As publicações foram analisadas, ocorrendo a eliminação dos artigos de títulos iguais. Em uma segunda etapa, foram lidos os resumos das publicações, retirando-se os trabalhos que não preenchiam os critérios exigidos para esta investigação ou que não estavam alinhados ao propósito do estudo. Após essa análise das publicações, foram selecionados 19 artigos, 05 livros e 02 Trabalhos acadêmicos, os quais passaram por uma leitura reflexiva e interpretativa para que fosse construída a discussão deste trabalho, conforme será visto a seguir. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na pesquisa verificou-se que a musicoterapia é um recurso bastante utilizado em vários contextos, como na clínica, na escola e na comunidade, sendo aplicada em diversos ambientes com objetivos diferentes e faixas etárias diversas. Com isso, falar de musicoterapia torna-se um desafio, pois é considerada uma técnica interdisciplinar, possuidora de um caráter misto de conceituação. Portanto, torna-se necessário entender e discutir o conceito da musicoterapia para adentrarmos na discussão central do tema. 3.1 A MUSICOTERAPIA COMO UMA TÉCNICA TERAPÊUTICA O uso da música como recurso terapêutico já era praticado na Grécia antiga. As melodias obtidas por meio da tetracorde era utilizada para o restabelecimento da harmonia humana e no tratamento de doenças manifestadas aquele período. A medicina usou a música como um calmante para o enfermo, durante o tratamento de doenças orgânicas. Apesar de ainda não existir essa nomenclatura desde aquela época a música era utilizada como ferramenta terapêutica. Guazina e Tittone (2019) afirmam que a musicoterapia é Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10436 ISSN: 2595-6825 um campo do saber de formação específica que possui como característica a utilização da música para buscar resgatar a saúde ou facilitar o tratamento. A musicoterapia é reconhecida como uma junção de arte e saúde, fundamentada em técnicas, normas e procedimentos metodológicos, podendo ser atribuída a diversas áreas de intervenção que varia desde a educação ao contexto clínico-médico. Santos et al. (2016) argumentam que a musicoterapia se trata de um composto entre a arte e a saúde, como um artifício para fornecer a comunicação, aprendizado e bem-estar, além de auxiliar nos trabalhos direcionados à socialização do indivíduo e melhoria da qualidade de vida do paciente. Tal afirmação, mostra-se pertinente, pois existem diversos trabalhos com o uso da música no contexto da saúde, como um meio auxiliar no tratamento de pacientes de diversas comorbidades e condições clínicas, que fomentaram uma melhoria do humor dos pacientes. Esse entendimento ainda é corroborado por Melos e Mello (2019) ao comentarem que a musicoterapia possui como manejo fornecer ganho de promoção à saúde, comunicação, aprendizado de seus elementos e proporciona possibilidades de contato do paciente com o ambiente inserido. Apesar de a música ser utilizada desde a Grécia como uma forma de contribuir para a recuperação e melhoria da qualidade de vida de pacientes, somente na década de 1940 surgiram os primeiros estudos científicos para a utilização da música como um tratamento alternativo de patologias. A musicoterapia surge, nessa época como um a “tratamento e apoio em saúde mental que se apresenta como uma interseção de várias áreas do conhecimento, em que se relacionam o ser humano e a música, num encontro que abarca arte, ciência e saúde” (PIAZETTA, 2017, p.110). A função terapêutica da música se apresenta nas ondas sonoras emitidas as quais proporcionam relaxamento físico e mental, causando bem-estar e prazer às pessoas. O uso da música como técnica terapêutica é entendida por Bruscia (2016, p. 22) como “um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança”. Através de intervenções dinâmicas, a musicoterapia promove ao paciente a potencialização de suas habilidades, de forma prazerosa. A música pode ser utilizada por várias áreas do conhecimento e contextos, seja no âmbito da comunidade, ensino-aprendizagem e da saúde (ROMÃO, 2015). Entretanto, a musicoterapia ainda é vista como uma técnica de relaxamento que pode ser aplicada por qualquer pessoa, bastando ter conhecimento musical pode realizá-la. Esse entendimento Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10437 ISSN: 2595-6825 é equivocado, pois o uso da música como técnica terapêutica e de intervenção exige uma capacitação do profissional, obtida por meio de cursos. Atualmente a Musicoterapia está presente na Classificação Brasileira de Ocupações, sendo fiscalizada e normatizada através da Associação Brasileira de Musicoterapia e das Associações Regionais em todo o país. Sua aplicabilidade compreende as áreas Clínica, Hospitalar, Reabilitação Física, Deficiências Mentais, Saúde Mental, educacional tanto em instituições privadas ou públicas (ROMÃO, 2015, p. 1714). No Brasil, de acordo com Sampaio et al. (2015), o estabelecimento de normas para o reconhecimento do musicoterapeuta foi estabelecido a partir da unificação, em 1968, da Associação Brasileira de Musicoterapia com a Associação Sul Brasileira de Musicoterapia, onde agregam profissionais de áreas diferentes que usavam a música como recurso terapêutico. A normatização foi uma evolução para a construção de uma técnica terapêutica, com base científica, que proporciona melhoria das condições de saúde de pessoas com a saúde físico-mental debilitadas. Percebe-se, portanto, que a musicoterapia vai além de uma prática de musicalização, trata-se do emprego da música para proporcionar uma mitigação dos sintomas psicofisiológicos, influenciando diretamente a qualidade de vida dos pacientes. As técnicas utilizadas nas atividades terapêuticas, quando conduzidas corretamente, auxiliam no desenvolvimento dos processos cognitivos, aliviam a ansiedade, estimulam fatores de socialização e diminui níveis de estresse. 3.2 O USO DA MUSICOTERAPIA NA PSICOTERAPIA INFANTIL Por se tratar de uma técnica terapêutica com excelentes resultados, no auxílio da recuperação de pacientes enfermos, a musicoterapia começou a ser utilizada como uma técnica na psicoterapia infantil. Porter et al. (2012) comenta que a musicoterapia se tornou um recurso valioso para a psicoterapia infantil, sendo uma categoria de interferência que busca desenvolver e/ou restaurar funções das crianças que se encontram em processo psicoterapêutico. O paciente interage e participa deste processo por meio das músicas, dos sons, do corpo, da voz e com a utilização de instrumentos musicais, atividades que comumente geram o interesse das crianças. Anjos et al. (2017) argumenta que a musicoterapia possui uma eficácia com crianças, pois trabalha com brincadeiras e a presença do lúdico que é entendido como um “importante processo psicológico, capaz de proporcionar aprendizado e, por consequência, desenvolvimento. Dentre os elementos que abarcam o Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10438 ISSN: 2595-6825 brincar estão [...] o uso da música, interpretação e outros elementos provenientes das ciências artísticas.” (p. 230). O uso da música no atendimento terapêutico é direcionado a todas as faixa-etárias, havendo uma técnica adequada para as diversas fases da infância. A utilização da musicoterapia com crianças é caracterizada como um espaço de brincadeira, totalmente associado ao uso da ludoterapia (em boa parte do processo), com acompanhamento de brinquedos, instrumentos e o emprego de materiais que auxiliem na prática da musicoterapia com a participação ativa das crianças. Mas como a psicologia em seu fazer prático se atrela ao uso da musicoterapia na intervenção com crianças? Doro et al. (2017) diz que a musicalidade e a psicologia se unem em uma esfera aplicada à saúde, por conta do sofrimento psicológico identificado em crianças com perdas sociais, angústias e inseguranças, ou seja, impossibilidades de desenvolvimento pleno. Portanto, o psicólogo torna-se um mediador dessas relações no processo de cuidar do paciente e de seu cuidador interceptando os sintomas psíquicos apresentados naquele âmbito. A musicoterapia pode se configurar como uma grande aliada da psicologia, bem como para outras especialidades que considerem o desdobramento terapêutico do cuidado como uma possibilidade na construção e/ou no resgate interativo de atitudes saudáveis que viabilizam o acesso à condição afetiva e transferencial de bem-estar do paciente. (DORO et al., 2017, p.108) A música auxilia no processo terapêutico, possibilitando a criação de condições para o bem-estar da criança e propiciando um ambiente confortável e acolhedor. Tais condições oferecem um relaxamento aos praticantes, viabilizando uma condição em que a criança se torne apresentadora dos seus aspectos e o psicólogo tenha condições de medir essa relação. Quanto às aplicações clínicas, a musicoterapia ter uma finalidade terapêutica ou diagnóstica. A finalidade terapêutica é, de acordo com Hanai (2021) a própria sessão de musicoterapia onde o paciente e o musicoterapeuta trabalham de forma ativa. Na diagnóstica [...] é realizada a ficha musicoterapêutica, que consiste em um interrogatório a respeito da história sonoro-musical do paciente. Além desta ficha, o paciente é defrontado com uma série de instrumentos de percussão simples e alguns pouco melódicos com a finalidade de se observar como o paciente consegue se comunicar por meio deles, é a chamada testificação do enquadre não verbal. Neste teste, pode-se identificar o instrumento que servirá de objeto intermediário. (HANAI et al., 2021, p. 03). Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10439 ISSN: 2595-6825 Entende-se, portanto, que a musicoterapia diagnóstica consiste em um processo de investigação, que através dos instrumentos musicais que o paciente mais se identifica, elabora-se uma ficha musicoterapêutica para produção das sessões de musicoterapia com objetivo de evoluir o paciente de forma ativa e responsiva. A utilização da musicoterapia no contexto clínico é aplicável em situações clínicas com modificações em cada, pois funciona como uma intervenção técnica psicológica, residindo na objetivação de modificar problemas emocionais, atitudes comportamentais, auxiliar no tratamento de qualquer patologia de ordem física ou psicológica (HANAI et al., 2021). A musicoterapia atua também como um canal de comunicação para outras técnicas psicológicas, auxiliando na eficácia delas. Desta forma, pode-se dizer que a música, como um recurso terapêutico, caracteriza-se por um manejo humanizado no cuidado ao paciente infantil. Melos e Mello (2019, p. 156) ressaltam “a importância de que o profissional esteja capacitado para perceber e lidar com sentimentos existentes, que normalmente emergem durante atividades que utilizam música.”, reforçando assim a necessidade de o profissional ter um conhecimento técnico quanto ao emprego dessa técnica na terapia. Os espaços músico terapêuticos, devem ser conduzidos por profissionais capacitados, pois tornam-se espaços onde comumente ocorre a liberação de energias, emoções e comportamentos que devem ser devidamente observados e analisados para que haja resultados terapêuticos satisfatórios. Cabe ao musicoterapeuta mediar essas situações, de uma forma que conduza o seu paciente a estabelecer conexões com a música ou com a sonoridade. 3.3 AS CONTRIBUIÇÕES DA MUSICOTERAPIA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TEA E TDAH O processo musico terapêutico proporciona bem-estar físico e psicológico às crianças, auxiliando no desenvolvimento emocional e comportamental, pois ouvir música implica muito em como o indivíduo se relaciona socialmente e com sua subjetividade, angústias e sentimentos (SOUZA; FERREIRA, 2018). Com as crianças, a principal funcionalidade da música é otimizar o acesso às suas qualidades sociais, afetivas e comunicativas existentes em seu contexto cultural. O contato com a música, mesmo que não direcional, faz com que o paciente desenvolva suas capacidades musicais, habilidades cognitivas e de socialização (SANTOS, 2015). Sousa (2018) explana que na vida social da criança a musicoterapia Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10440 ISSN: 2595-6825 proporciona e estimula capacidade de interatividade e de comunicação, promove a socialização, melhoras em seus aspectos emocionais, físicos e biológicos. Essas propriedades da musicoterapia tornaram-se muito úteis para alguns transtornos do neurodesenvolvimento como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno de Espectro Autista (TEA). O primeiro transtorno possui como características alterações nas funções da atenção e controle dos impulsos e no segundo as características estão voltadas para a dificuldade na interação social e socialização (APA, 2014). Em face das características do TEA e TDAH o uso da musicoterapia mostrou-se muito eficaz com resultados satisfatórios. Santos et al. (2015) argumentam que entre os efeitos psicológicos produzidos pela musicoterapia estão os efeitos sedativos que atuam como relaxantes, estimulantes, sentimentos de alegria que provocam bem-estar físico e mental e a facilitação no processo de aprendizagem. Pode-se citar ainda as contribuições no desenvolvimento psicomotor da criança. Percebe-se, portanto, que o uso da música na psicoterapia de crianças com TDAH e TEA é muito positiva, fato que nos leva a discutir detalhadamente as contribuições da musicoterapia no tratamento desses transtornos, conforme veremos a seguir. 3.4 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE O TDAH pode levar a criança a ter dificuldades de atenção e/ou uma hiperatividade, deixando-o incomodado durante atividades onde se exige calma e concentração. O uso da musicoterapia nesses casos mostra-se favorável, pois de acordo com Teixeira e Fernandes (2021) a música permite que crianças experimentem emoções, mobilizar processos cognitivos complexos como atenção, memória, controle de impulsos, execução e controle de ações motoras. Em crianças diagnosticadas com TDAH, a utilização de músicas agitadas ou estimulantes auxiliam esses pacientes a extravasar sua condição constante de mobilidade (PEÑALBA, 2010). Pereira e Vasques (2016) em seus achados concluíram que a utilização da musicoterapia no tratamento de crianças com TDAH, auxiliam na redução de sua hiperatividade, através do gasto de energia, na melhora de sua atenção através de tarefas que adaptadas para os processos de aprendizagem com a ajuda da música. Ponce (2012, p. 26) comenta que "qualquer atividade musical e instrumental, sem que os usuários percebam e se deem conta do que estão fazendo, contribui para o trabalho da hiperatividade". Verifica-se, portanto, que a música, seja ela em terapia ou não, auxilia Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10441 ISSN: 2595-6825 a criança hiperativa a fazer manejo de sua energia, de forma que extravasam, aliviando sua condição agitada. Ainda dentro dessa discussão Bruscia (2000) Apud Pereira e Vasques (2016, p.11) elucida que A música pode contribuir para a resolução dos problemas que possam surgir durante o crescimento de crianças com TDAH no que diz respeito à hiperatividade, a desatenção e impulsividade. Levando isso em conta, temos a musicoterapia como uma ferramenta que possui o objetivo de alcançar estes benefícios através de sessões de escuta ativas e passivas, momentos de interpretação e improvisação, trabalho colaborativo, e outras situações que promovam a geração de experiências musicais construtivas. Na musicoterapia infantil o paciente com TDAH é ativo em suas tarefas e receptivo, fazendo com que a terapia se torne um trabalho colaborativo. Mesmo com suas condições patológicas, a musicoterapia com crianças diagnosticadas com TDAH tem o objetivo de atingir benefícios construtivos que amenizem ou auxiliem nas experiências musicais. 3.5 TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA De acordo com Fernandes (2017) no tratamento de crianças com Transtorno do espectro autista (TEA) a musicoterapia surge como uma nova ferramenta que auxilia na comunicação verbal e não-verbal, regulação emocional e social, capacitando a criança a ter uma atenção conjunta e capacidade de selecionar estímulos externos. Para Teixeira e Fernandes (2021) a música na terapia com crianças diagnosticadas com TEA é uma porta de entrada ao mundo autista, principalmente no contexto infantil, pois ajuda a estabelecer canais de comunicação com essas crianças. Enquanto comunicação com a criança autista a musicoterapia promove a interação e socialização das crianças que nela participam de forma espontânea, o permite que a criança se liberte, se permita a comunicar-se com o musicoterapeuta e o mundo que está ao seu redor. Conforme Castro (2016), a musicoterapia fornece para as crianças com TEA desenvolvimento em sua comunicação, na sua sociabilidade e na sua imaginação. Contribuindo assim para um integral e harmonioso progresso, possibilitando integração social e comportamental, educacional, emocional destas crianças. Consoante a isso, a musicoterapia facilita o enriquecimento pessoal, social e cultural da criança, pois de acordo com Matoso e Oliveira (2017, p.88) é por meio da musicoterapia “[...] que o indivíduo se encontra consigo próprio e com o mundo que o Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10442 ISSN: 2595-6825 rodeia [...] a música é harmonia e equilíbrio.” A música faz parte da nossa construção como seres sociais e culturais, trazendo identificação com o nosso grupo social e estabelecendo um elo de pertencimento. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível compreender que a musicoterapia funciona como um auxílio na psicoterapia de atendimento infantil, visto que este foi o foco do trabalho. Sendo uma técnica bastante atrelada à ludoterapia, a musicoterapia surge mais efeito enquanto praticada no atendimento psicoterápico com crianças. Pois, ela sendo um recurso terapêutico bem elaborado favorece o trabalho do psicólogo enquanto mediador de crianças que possuem patologias ou não. Dentre os principais benefícios da musicoterapia enquanto meio terapêutico, para manejo de sintomas relacionados à infância, foram achados neste trabalho que esta técnica favorece a socialização de crianças, permitindo uma interação com seu contexto familiar. Além disso, fornece também aspectos comunicativos e cognitivos, que podem auxiliar no processo de aprendizagem. O que ajuda as crianças a se expressarem e demonstrar suas emoções de forma regulada, favorecendo relaxamento do seu estresse e sintomas angustiantes e principalmente auxilia em aspectos comportamentais. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 10432-10445 may./jun. 2021 Brazilian Journal of Health Review 10443 ISSN: 2595-6825 REFERÊNCIAS ANJOS, A. et al. 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