Leonardo Moraes

Resumo do simpósio: As narrativas que compõem esse simpósio, em formato de relato de experiência, são decorrentes da realização de projeto com foco nas práticas pedagógicas musicais e pesquisa de músicas, mestres e grupos de tradição cultural e apontam ações descolonizadoras do currículo de Educação Musical de escolas Educação Básica. Os relatos escritos a muitas mãos sinalizam o que foi desenvolvido nos/dos/com os cotidianos (ALVES, 2001) das escolas participantes do projeto e apontam possibilidades de práticas pedagógicas musicais decentralizadas do aspecto eurocêntrico abissal (BOAVENTURA, 2010) e hegemônico conservatorial ainda impregnado nos processos de Educação Musical Educação Básica que invisibilizam práticas pedagógicas, saberes culturais e epistemologias outras. O projeto, que possui o título desse simpósio objetivou levar para o espaço escolar musicalidades e práticas culturais dos povos tradicionais brasileiros buscando nesse caminho trabalhar as questões relacionadas à identidade e à diferença (SILVA, 2000). O projeto ocorreu no decorrer do ano de 2016, em cinco regiões do país, nos estados do Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Cuiabá, Pará e Ceará e teve seu público alvo centrado nas alunas e alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental (anos iniciais e finais), Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. O conceito de Interculturalidade proposto por Catherine Walsh (2001, 2005) nos auxiliou a embasar o processo pedagógico musical e cultural no debate emergente contra ao patriarcado, conservadorismo e colonialismo que ainda é presentemente demarcado nos currículos do processo de formação humana. Nesse caminho a relação de aprendizagem e ensino de músicas e culturas outras, nas escolas do Sesc teve total arcabouço de possibilidades e caminhos para a ampliação do conhecimento e saberes plurais de forma singular e significativa aos indivíduos. Visibilizar, (des)construir, (des)marginalizar, (re)construir e entre tantas outras palavras formaram o mosaico de abordagens que fizeram parte da ação do projeto nas escolas da instituição. A formação continuada de professores para tratar das ideias, conceitos e gestão do projeto, a pesquisa das músicas de mestres e/ou grupos de tradição cultural local/regional para a inserção de repertórios musicais e apresentações artísticas culturais nos espaços escolares em que o projeto se desenvolveu e registo audiovisual escrito do processo como um todo, foram formas que encontramos de tecer enfrentamento decolonial (WALSH, 2007; MIGNOLO, 2003, 2005) contra as abissalidades geoculturais (SANTOS, 2010) existentes no pensamento estético musical e cultural. Dividido em cinco narrativas de ações pedagógicas musicais os textos apresentam as bases epistemológicas e metodológicas do projeto fazendo encontro com identidades indígenas e afro-brasileiras no trabalho com Educação Infantil traz também enredos da paisagem sonora e musical da ferrovia Bahia – Minas no trabalho com alunos do Ensino Médio, a tradição cultural Poconeana visível na sala de aula com estudantes do Ensino Fundamental e por fim, na pisada do Coco com alunas e alunos da Educação de Jovens e Adultos, anunciam orquestradas tessituras ordinárias (CERTEAU, 2014) que fizeram parte da construção de um projeto que entendemos como emancipatório.

Esse artigo apresenta dados parciais da minha pesquisa de mestrado em andamento, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Música (PPGM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa "Música, Saúde e Educação". Esta pesquisa em formato de estudo de caso, tem como objetivo analisar, refletir e descrever as possíveis ações que a música favorece ou não para vida de alunos participantes do Projeto Social Som+EU, na sua formação para a cidadania e emancipação sociocultural por meio da Educação Musical. O estudo se constitui na análise reflexiva e crítica sob quatro pilares (a) institucional, (b) histórico, (c) sociocultural e (d) ensino e aprendizagem, do Projeto Social Som+EU, que tem por missão "promover a qualidade de vida de crianças e jovens por meio da educação musical gratuita, da prática coletiva de música e da fruição artística" (PROJETO PEDAGÓGICO SOM+ EU, 2012, p.3). As literaturas que permearão o diálogo dessa trama estarão embasadas em: Cruvinel (2005) que trata do ensino musical como meio de transformação social; Souza (2004) que propõe uma discussão sobre o papel da música como fato social, apoiada na sociologia da música; Queiroz e Marinho (2005) (2004, 2011) que tece relações entre educação musical e cultura com o objetivo de analisar diferentes dimensões de ensino e aprendizagem apoiadas no campo da etnomusicologia e da antropologia; e por fim, Swanwick (2003) que delineia princípios para uma educação musical permeada pelos discursos musicais dos contextos vividos pelos sujeitos que fazem parte do processo.

A proposta desse trabalho coletivo visa construir um diálogo entre quatro pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-Graduação de Mestrado e Doutorado, no campo da Educação Musical em espaços socioculturais de Educação. Tratamos de questões acerca do ensino, da aprendizagem, da música como elemento cultural e desenvolvimento humano e de aspectos que rodeiam o educador musical atuante em projetos sociais. As pesquisas aqui apresentadas estão em sob a ótica qualitativa em âmbito subjetivista e se constituem em análise reflexiva e crítica em pilares institucionais, históricos, socioculturais e pedagógicos musicais. Os pressupostos teóricos utilizados pelos autores trazem conceitos filosóficos e sociológicos do campo da Educação e da Educação Musical que dialogam com um ensino em busca dos direitos humanos e emancipação da realidade social vivida pelo indivíduo participante das ações socioculturais lideradas pela sociedade civil, a partir de uma pedagogia crítica e autônoma frente ao processo aprendizagem tecendo relações com a música, com a cultura e com a sociedade. Tais conceitos estão em consonância com Freire (1987, 1996, 2005), Kleber (2009, 2012, 2014), Tardif (2010), Candau (2008), Gohn (2006, 2010, 2011) e Souza (2009, 2014), visando construir um diálogo entre os espaços não formais de educação que se configuram como ONGs e Projetos Sociais no diálogo com um currículo que possa abarcar as diferentes formas de promoção do interculturalismo como proposta de ampliação de conhecimento de mundo e de si, por parte dos atores que participam das atividades propostas por essas iniciativas da sociedade civil. Como os Projetos Sociais são sobremodo emergentes no campo da Educação Musical, propõe-se nesse texto a ampliação do objeto aprender e ensinar música, para adiante dos aspectos que permeiam o contexto social em que os projetos sociomusicais estão inseridos, objetivamos analisar, refletir e descrever o que a música favorece para a vida dos alunos participantes.

Este artigo trata de um relato de experiência
e tem como objetivo apresentar e analisar
criticamente o processo de formação
continuada em educação musical de professores
unidocentes (pedagogos) que atuam na rede
de educação do Serviço Social do Comércio
(Sesc). O foco do artigo está correlacionado
ao projeto curso Música na Escola desenvolvido
pelo Departamento Nacional do Sesc em 2012
(módulo I) e 2013 (módulo II), por meio de
videoconferência. Será apresentado, no decorrer
do texto, o desenvolvimento do processo de
formação vivenciado durante a capacitação,
desencadeando um diálogo com as recentes
pesquisas no campo da educação, propondo
reflexões, caminhos e abordagens sobre o
exercício da música na escola a partir da
formação docente. Realizamos entrevistas a
partir de um questionário semiestruturado
com os professores pedagogos responsáveis
pelo ensino de música em duas escolas do
Sesc, com o intuito de trazer para o texto as
vozes dos docentes apontando possibilidades e
desafios encontrados no dia a dia das salas de
aula. As perguntas e respostas das entrevistas
realizadas com as professoras com formação
em pedagogia do Departamento Regional do
Maranhão e do Rio Grande do Sul estarão
dispostas no decorrer do artigo

Este estudo relata uma experiência de observação dos ensaios de um coral de adolescentes vinculado à ONG Agência do Bem, que tem como foco de atuação regiões carentes da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Trate-se trata de uma pesquisa em andamento que qualificará a obtenção de grau em Licenciatura em Música no CBM-CEU. Seu objetivo é analisar o processo de Educação Musical que se desenvolve nos ensaios do Coral Nova Sinfonia. As metodologias utilizadas serão: a observação e a confecção de relatórios sobre os ensaios, entrevistas-teste com os integrantes do Coral em dois momentos (no início e no final do período observado) a fim de constatar aspectos de sua voz e musicalidade, além de uma entrevista semi-estruturada com o regente do coro em questão e pesquisa bibliográfica. Uma vez que já realizamos os primeiros testes e já podemos perceber melhoras na afinação e na desenvoltura musical dos participantes, espera-se que o segundo teste demonstre uma melhora significativa nas questões apresentadas

Esse artigo aborda questões de aprendizagem musical para o campo da escola repensando o campo da educação musical em diálogo com a diversidade cultural e o multiculturalismo intercultural como meio de pensarmos novas epistemes fora dos cânones orquestrados pelas culturas europeias. Por meio de conceitos do multiculturalismo sobre a voz de Candau (2008, 2012), com auxílio de Queiroz (2011, 2013, 2015) proponho discussões sobre o lugar da educação musical dentro de um propósito da diversidade cultural com intercâmbios dentro de um contexto democrático, acerca do pluralismo cultural. Com as vozes de Oliveira (2008) e Filho (2010) evoco alguns caminhos no intuito de tecer encontros emancipatórios educativos dentro de uma concepção de autonomia, com justiça social e cognitiva, conversa mútua de culturas e reconhecimento com base na pluralidade de ideias em diálogo com a contemporaneidade para um efetivo exercício de uma aprendizagem musical intercultural com diversidade cultural.

O presente ensaio problematiza a educação das relações étnico-raciais para além de um “conteúdo” dos componentes curriculares, mas principalmente como uma Esse artigo aponta tensões e aborda perspectivas e interações sobre a decoloneidade para o campo da Educação Musical, com foco na Educação Básica, perpassado pelo debate acerca da Educação das Relações Étnico-Raciais para o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O texto aponta silenciamentos e invisibilidades causadas pelos epistemicídios presentes nos currículos e práticas pedagógico-musicais causado por um negrocídio, e apresenta perspectivas epistemológicas e interações curriculares para uma ação pedagógico-musical outra. É empregado, no decorrer do artigo, o enfoque da pesquisa subjetivista, abrangendo o campo teórico com base em perspectivas político-epistemológicas e legislativas, em diálogo com as vozes de autoras e autores que convido para discutir o tema. Proponho um caminho desobediente às hegemônicas ações estabelecidas pelas estruturas do patriarcalismo, do capitalismo e do colonialismo, impregnados e institucionalizados na sociedade que subalterniza, silencia e invisibiliza a ideia de projeto educativo emancipatório, visto de um âmbito pedagógico-musical.

Resumo: Esse texto centra-se no debate acerca do ensinoaprendizagem 3 de música na escola de Educação Básica. Desenvolvo, no decorrer do artigo, o diálogo entre as abordagens político-epistemológicas do campo da educação antirracista e da Educação Musical, com vias de propor interações e perspectivas para a Educação Básica. De caráter subjetivista, o artigo utiliza conceitos interétnicos para debater as questões da inferioridade, do silenciamento e da não inserção ou equivocada pedagogização dos saberes e conhecimentos advindos das culturas musicais afro-brasileiras nos cotidianos da sala de aula. Abstract: This text focuses on the debate about the teaching and learning of music in the School of Basic Education. In the course of the article, I develop a dialogue between political-epistemological approaches in the field of antiracist education and music education, with a view to proposing interactions and perspectives for basic education. From a subjectivist point of view, the article uses interethnic concepts to discuss the issue of inferiority, silence and non-insertion or mistaken pedagogization of the knowledge and knowledge derived from Afro-Brazilian musical cultures, in the everyday life of the classroom. Resumen: Este texto se centra en el debate sobre la enseñanza de la música en la escuela de educación básica. En el transcurso del artículo, el diálogo entre los enfoques político-epistemológicos del campo 1 Texto recebido em universidade (LABETNO UFRJ). É docente na Especialização em Educação Musical do CBM-CEU e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Musical (GEPEM/Fladem Brasil/UNICBM), com ênfase em pesquisas que tratam de abordagens relacionadas à formação docente, aos estudos decoloniais e interculturais, com projeto de pesquisa intitulado "Música, Cultura, Educação: pensando a Educação Musical nos/dos/com os múltiplos espaços de ensinoaprendizagem". É membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN); compõe o Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), na gestão 2017-2019, e é Presidente da Seção Nacional do Fórum Latino-Americano de Educação Musical (FLADEM)-Fladem Brasil, na gestão 2017-2019. Tem interesse nas seguintes áreas de investigação: Educação Musical, etnomusicologia, decolonialidade, interculturalidade, diversidade cultural, educação, cultura, relações étnico-raciais formação de professores, políticas educacionais, com ênfase especial na atuação do movimento negro brasileiro. 3 Utilizo palavras conectadas por entender que este processo é continuamente interligado no dia a dia da sala de aula. Essas palavras aparecerão no decorrer do texto e tem o sentido de discutir as dicotomias que, a meu ver, dentro de uma ideia de processo educativo emancipatório, não seguem separadas e, sim, conectadas e em contínuo diálogo pela aplicabilidade que elas possuem. Vale destacar que é comum aos pesquisadores/as e afiliados/as à linha de pesquisa nos/dos/com os cotidianos escolares (ALVES; OLIVEIRA, 2008) criarem neologismos quando não encontram uma única palavra que dê conta do que se pretende dizer.