Thesis Chapters
Trinta anos depois de suas primeiras músicas gravadas em português, o funk carioca se consolidou ... more Trinta anos depois de suas primeiras músicas gravadas em português, o funk carioca se consolidou como um dos gêneros musicais mais populares do Brasil contemporâneo. Produzido majoritariamente pela juventude negra e favelada, o funk responde com arte à uma sociedade que lhe é hostil: inventividade pulsante presente em seus cantos, rimas, arranjos, vídeos, festas e danças. O presente trabalho propõe uma análise histórico-etnográfica do funk carioca a partir de suas técnicas de produção e circulação musical. Fruto de pesquisas de campo com artistas funkeiros entre os anos de 2014 e 2020, o material aqui apresentado conjuga dezenas de entrevistas a descrições de eventos que acompanhei de perto como observador participante. Abrangendo um período que se estende dos anos 1970 até os dias atuais, procuro conectar as trajetórias de vida destes artistas a suas técnicas de produção e circulação da música a partir do que chamo de uma economia política da música. Quatro eixos são fundamentais para esta análise. Primeiro, que a produção e a circulação da música são necessariamente mediadas por objetos que devem ser levados em conta na rede de relações. Em segundo lugar, as músicas são elas mesmas integrantes de um sistema técnico que condensa a agência dos artistas e seus contextos. O terceiro pilar ressalta que em um sistema capitalista estas músicas são mercantilizadas, o que é parte fundamental de seus modos de produção, circulação e consumo. Por fim, destaco que as músicas podem integrar regimes de troca pautados por arranjos que a ideia de mercantilização não explica completamente.
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Esta dissertação tem como foco os produtores, intérpretes e compositores do “proibidão”, subgêner... more Esta dissertação tem como foco os produtores, intérpretes e compositores do “proibidão”, subgênero do funk carioca que aborda o universo da criminalidade. Por meio de trabalho etnográfico e entrevistas, procuro trazer à tona o modo como estes artistas pensam seu trabalho, suas vivências enquanto moradores de favelas e as diversas atualizações do Estado nestes contextos. Nas epopéias que elaboram narrativamente eles produzem reflexões complexas e politicamente potentes não apenas sobre os bandidos, mas sobre os lugares onde vivem e seu papel enquanto funkeiros.
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Capítulos de livro e verbetes
Nó em pingo d’agua: sobrevivência, cultura e linguagem (org. Adriana C. Lopes, Adriana Facina e Daniel N. Silva), Sep 18, 2019
O texto divide-se em cinco seções. "Semântica e pragmática" conceitua o proibidão. "Vozes" mostra... more O texto divide-se em cinco seções. "Semântica e pragmática" conceitua o proibidão. "Vozes" mostra o que alguns de seus expoentes pensam da designação. "Verdade/veracidade" elabora estas noções em função da ideia de ser o proibidão "realidade da favela" ou "crônica da vida no crime". "Narrar o Caos" apresenta as narrativas proibidas como perspectivas labirínticas (i.e. faveladas) do caos (i.e. da guerra às drogas). "Perguntas frequentes" conclui este ensaio com uma coleção de FAQs.
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Ementas
O curso tem como objetivo discutir em perspectiva interdisciplinar a relação entre criação/produç... more O curso tem como objetivo discutir em perspectiva interdisciplinar a relação entre criação/produção musical, diáspora africana e tecnologias de registro fonográfico em diferentes contextos históricos e territoriais contemporâneos. As Américas produziram diversas manifestações dessas músicas em diáspora e através de outros movimentos de um complexo chamado Atlântico Negro — algumas delas, como o hip-hop, o dancehall e o funk carioca, intrinsecamente associadas a sociabilidades juvenis. Dialogaremos com autores clássicos que se voltaram para a relação entre música e sociedade, e com etnografias e registros fonográficos. Analisaremos música enquanto som organizado em suas relações com corpos, afetos e estruturas sociais, e não apenas letra e contexto. Encontros, leituras e filmes Livros e monografias integralmente citados terão os capítulos ou seções pertinentes especificados no decorrer do curso.
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Papers
Resumo: O presente artigo propõe um breve panorama histórico do mundo funk carioca a partir de su... more Resumo: O presente artigo propõe um breve panorama histórico do mundo funk carioca a partir de suas técnicas de produção e circulação musical. Focando em duas dimensões principais as quais denomino música como coisa e as coisas na música procuro evidenciar como estes elementos se articulam nas produções dos DJs e estilos de composições dos Mcs.
Abstract: This article proposes a brief historical overview of the funk world of Rio de Janeiro based on its techniques of production and musical circulation. Focusing on two main dimensions that I called music as a thing and things in music I try to show how these elements are articulated in the productions of DJs and MCs compositions.
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Papers/Comunicações
Anais do Décimo Terceiro Encontro Internacional de Música e Mídia, Mar 7, 2018
O canal KondZilla lançou “Deu onda”, do MC G15, na produção musical do DJ Jorge Lemes Ferreira, e... more O canal KondZilla lançou “Deu onda”, do MC G15, na produção musical do DJ Jorge Lemes Ferreira, em 21 de dezembro de 2016. O videoclipe superou “Bumbum granada”, dos MCs Zaac e Jerry, em 12 de março de 2017, quando atingiu 220 milhões de visualizações e, em menos de três meses, passou à primeira posição no canal. À medida que ganhava popularidade, ao ritmo dos dois milhões de visualizações diárias, uma polêmica se desenvolvia sobre suas qualidades musicais: a melodia estaria em tonalidade maior, e o acompanhamento, no mesmo tom menor. Netnografia (BARTL; KANNAN; STOCKINGER, 2016) conduzida entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017 expõe a querela da bimodalidade, que mobilizou DJs, produtores, MCs, funkeiros e o cantor-compositor Ritchie. Se a harmonia desempenhou papel secundário no desenvolvimento dos subgêneros putaria e proibidão, e se ela se tornou um traço distintivo do melody e do pop funk, “Deu onda” a emprega de modo original, sem os clichês costumeiros. Tal uso decorre do fato de a música combinar características de putaria e melody, e constituir assim um caso particular de hibridação de subgêneros.
On 21 December 2016 the YouTube channel KondZilla released “Deu onda”, by MC G15, produced by DJ Jorge Lemes Ferreira. On 12 March 2017 the video reached 220 million views, thus surpassing “Bumbum granada”, by MCs Zaack and Jerry, and attaining the first position on the channel in less than three months. As its popularity grew at the rate of 2 million views a day, a controversy developed about its musical qualities: the melody would be in a major key whereas the accompaniment would be in the same minor key. Netnography (BARTL; KANNAN; STOCKINGER, 2016) conducted from December 2016 to February 2017 expounds the quarrel of bimodality, which mobilized DJs, musical producers, MCs, funksters and the singer-songwriter Ritchie. If harmony has played a secondary role in the development of the the subgenres putaria and proibidão, and if it has become a distinctive feature of funk melody and pop funk, “Deu onda” uses it in an original manner, without the usual clichés. Such a use follows from the fact that the music combines characteristics of putaria and melody, and thus constitutes a particular case of genre hybridation.
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Caderno de programação e resumos, XIII Encontro Internacional de Música e Mídia, Sep 20, 2017
O canal KondZilla do YouTube lançou “Deu onda”, do MC G15, na produção musical do DJ Jorge Lemes ... more O canal KondZilla do YouTube lançou “Deu onda”, do MC G15, na produção musical do DJ Jorge Lemes Ferreira, em 21 de dezembro de 2016. O videoclipe superou “Bumbum granada”, dos MCs Zaac e Jerry, em 12 de março de 2017, quando atingiu 220 milhões de visualizações e, em menos de três meses, passou à primeira posição no canal. À medida que ganhava popularidade, ao ritmo dos dois milhões de visualizações diárias, uma polêmica se desenvolvia sobre suas qualidades musicais: a melodia estaria em tonalidade maior, e o acompanhamento, em menor. Netnografia (Bartl et al. 2016) conduzida entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017 expõe a querela da bimodalidade (Serapicos 2017), que envolveu DJs, produtores, MCs, funkeiros e o cantor-compositor Ritchie. A partir de uma entrevista concedida pelo DJ Jorge Ferreira a Rodrigo Ortega em 19 de janeiro de 2017 e de uma história sucinta da produção musical no funk carioca (Palombini 2015), discute-se a pertinência da ideia de acompanhamento nesse gênero de música eletrônica dançante, antes de se analisar a música em termos de funções harmônicas (Schoenberg 1954). Se a harmonia desempenhou papel secundário no desenvolvimento dos subgêneros putaria e proibidão, e se ela se tornou um traço distintivo do melody e do pop funk, “Deu onda” a emprega de modo original, sem os clichês costumeiros (camas de cordas, encadeamentos). Tal uso decorre do fato de a música combinar características de putaria e melody, e constituir assim um caso particular de hibridação de subgêneros de um mesmo gênero.
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Book chapters and entries
Folklore and Ethnology in Brasil (ed. Andrea Casa Nova Maia, Durval Muniz de Albuquerque Júnior and Francisco Firmino Sales Neto), Dec 17, 2017
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Artigos em periódicos
Opus: revista eletrônica da Anppom, Apr 28, 2018
On 21 December 2016, MC G15 released the music video of Deu onda, produced by DJ Jorgin, on the K... more On 21 December 2016, MC G15 released the music video of Deu onda, produced by DJ Jorgin, on the KondZilla YouTube channel, which quickly reached the scale of three and a half million views per day. Meanwhile, an unexpected controversy over the harmony of the track developed on social networks and spread to the corporate media. Anthropology and music analysis call into question the idea of bitonality, locating the debate in the arena of conflicts between overlapping “art worlds” (Becker 1982). The “enchantment technology” (Gell 1999) of Deu onda involves: (1) construction of the texture by means of six cyclic lines, in cycles of one, two or four bars, combined with four acyclic lines; (2) organization of two harmonically complementary subgroups of lines, or threads, with different functions; (3) articulation of sections by means of six types of breques (breaks); (4) recourse to three orders of textural variation; (5) superimposition of a reggae rhythmic figure on a funk carioca figure; (6) applying to the whole melody a harmonic scheme devised for the first phrase; (7) evocation of an Afrofuturist (Eshun 2003) roda de funk (funk circle); and (8) semantic games that make the song slide between distinct subgenres. The public debate about the bitonality of Deu onda contributed to render producer-DJs of the Brazilian “funk world” (Vianna 1988) more susceptible to harmonic concerns.
Em 21 de dezembro de 2016 o MC G15 lançou no canal KondZilla do YouTube o vídeo de Deu onda, produção musical do DJ Jorgin, que rapidamente atingiu três milhões e meio de visualizações diárias. Ao mesmo tempo, desenrolava-se nas redes sociais e expandia-se para a mídia corporativa uma polêmica, inédita no funk carioca, acerca da harmonia da música. Antropologia e análise musical refutam a ideia de bitonalidade para situar o debate na arena dos conflitos entre “mundos da arte” (Becker 1982) entrecruzados. A “tecnologia de encantamento” (Gell 1999) de Deu onda envolve: (1) a construção da textura por meio de seis linhas cíclicas, em ciclos de um, dois ou quatro compassos, combinadas com quatro linhas acíclicas; (2) a organização de dois subgrupos de linhas, ou “tramas”, harmonicamente complementares, com funções diversas; (3) a articulação das seções por meio de seis tipos de breques; (4) o recurso a três ordens de variações da textura; (5) a sobreposição de uma figura rítmica característica do reggae a outra típica do funk carioca; (6) a aplicação a toda a melodia de um esquema harmônico concebido em função da primeira frase; (7) a evocação “afrofuturista” (Eshun 2003) de uma roda de funk; e (8) jogos de sentidos que fazem a música deslizar entre subgêneros distintos. O debate público acerca da bitonalidade de Deu onda contribuiu para generalizar a preocupação harmônica entre os DJs-produtores do “mundo funk” (Vianna 1988).
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Journal articles
In January 2017 a controversy over the harmonization of DJ Jorgin’s music production for MC G15’s... more In January 2017 a controversy over the harmonization of DJ Jorgin’s music production for MC G15’s ‘Deu onda’ arose on social media and hit the mainstream press while, on YouTube, the video-clip was garnering millions of views per day. The disputation involved artists from other generations committed to other technical processes who effaced the DJ’s intentions. Music analysis takes his word as its point of departure to reveal the interplay between lines, their organization into threads, and the harmonic role of brakes. A survey of the uses to which harmony has been put in funk carioca shows that ‘Deu onda’ brings into play characteristics of both electronic dance music and song to generate a hybrid between two subgenres, hence the unorthodox nature of its harmonization. The textural construction of the beat synthesizes the biases towards complexity and minimalism that marked funk carioca between 2007 and 2014, DJ Jorgin’s formative years.
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Book chapters, entries and forewords
Exploring Ibero-American Youth Cultures in the 21st Century: Creativity, Resistance and Transgression in the City, ed. Ricardo Campos and Jordi Nofre, Jan 1, 2022
Brazilian favelas and peripheries are constantly threatened by the state, from the promotion of e... more Brazilian favelas and peripheries are constantly threatened by the state, from the promotion of extreme precariousness to outright extermination. Yet, the working class therein, especially the young and mostly black, continue to turn everyday life into language so as to account for their world, survive and dream. Drawing on fieldwork as well as on the writings of Jacques Derrida and Homi Bhabha, we arrive at the notion ofsurvival arts, which we use as a descriptor for their artistic production. Through descriptions of funk carioca and xarpi we analyse how survival arts can defy the logic of the commodity-city and present dreams of possible futures.
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Capítulos de livro e verbetes
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Papers
Abstract: This article proposes a brief historical overview of the funk world of Rio de Janeiro based on its techniques of production and musical circulation. Focusing on two main dimensions that I called music as a thing and things in music I try to show how these elements are articulated in the productions of DJs and MCs compositions.
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On 21 December 2016 the YouTube channel KondZilla released “Deu onda”, by MC G15, produced by DJ Jorge Lemes Ferreira. On 12 March 2017 the video reached 220 million views, thus surpassing “Bumbum granada”, by MCs Zaack and Jerry, and attaining the first position on the channel in less than three months. As its popularity grew at the rate of 2 million views a day, a controversy developed about its musical qualities: the melody would be in a major key whereas the accompaniment would be in the same minor key. Netnography (BARTL; KANNAN; STOCKINGER, 2016) conducted from December 2016 to February 2017 expounds the quarrel of bimodality, which mobilized DJs, musical producers, MCs, funksters and the singer-songwriter Ritchie. If harmony has played a secondary role in the development of the the subgenres putaria and proibidão, and if it has become a distinctive feature of funk melody and pop funk, “Deu onda” uses it in an original manner, without the usual clichés. Such a use follows from the fact that the music combines characteristics of putaria and melody, and thus constitutes a particular case of genre hybridation.
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Em 21 de dezembro de 2016 o MC G15 lançou no canal KondZilla do YouTube o vídeo de Deu onda, produção musical do DJ Jorgin, que rapidamente atingiu três milhões e meio de visualizações diárias. Ao mesmo tempo, desenrolava-se nas redes sociais e expandia-se para a mídia corporativa uma polêmica, inédita no funk carioca, acerca da harmonia da música. Antropologia e análise musical refutam a ideia de bitonalidade para situar o debate na arena dos conflitos entre “mundos da arte” (Becker 1982) entrecruzados. A “tecnologia de encantamento” (Gell 1999) de Deu onda envolve: (1) a construção da textura por meio de seis linhas cíclicas, em ciclos de um, dois ou quatro compassos, combinadas com quatro linhas acíclicas; (2) a organização de dois subgrupos de linhas, ou “tramas”, harmonicamente complementares, com funções diversas; (3) a articulação das seções por meio de seis tipos de breques; (4) o recurso a três ordens de variações da textura; (5) a sobreposição de uma figura rítmica característica do reggae a outra típica do funk carioca; (6) a aplicação a toda a melodia de um esquema harmônico concebido em função da primeira frase; (7) a evocação “afrofuturista” (Eshun 2003) de uma roda de funk; e (8) jogos de sentidos que fazem a música deslizar entre subgêneros distintos. O debate público acerca da bitonalidade de Deu onda contribuiu para generalizar a preocupação harmônica entre os DJs-produtores do “mundo funk” (Vianna 1988).
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Abstract: This article proposes a brief historical overview of the funk world of Rio de Janeiro based on its techniques of production and musical circulation. Focusing on two main dimensions that I called music as a thing and things in music I try to show how these elements are articulated in the productions of DJs and MCs compositions.
On 21 December 2016 the YouTube channel KondZilla released “Deu onda”, by MC G15, produced by DJ Jorge Lemes Ferreira. On 12 March 2017 the video reached 220 million views, thus surpassing “Bumbum granada”, by MCs Zaack and Jerry, and attaining the first position on the channel in less than three months. As its popularity grew at the rate of 2 million views a day, a controversy developed about its musical qualities: the melody would be in a major key whereas the accompaniment would be in the same minor key. Netnography (BARTL; KANNAN; STOCKINGER, 2016) conducted from December 2016 to February 2017 expounds the quarrel of bimodality, which mobilized DJs, musical producers, MCs, funksters and the singer-songwriter Ritchie. If harmony has played a secondary role in the development of the the subgenres putaria and proibidão, and if it has become a distinctive feature of funk melody and pop funk, “Deu onda” uses it in an original manner, without the usual clichés. Such a use follows from the fact that the music combines characteristics of putaria and melody, and thus constitutes a particular case of genre hybridation.
Em 21 de dezembro de 2016 o MC G15 lançou no canal KondZilla do YouTube o vídeo de Deu onda, produção musical do DJ Jorgin, que rapidamente atingiu três milhões e meio de visualizações diárias. Ao mesmo tempo, desenrolava-se nas redes sociais e expandia-se para a mídia corporativa uma polêmica, inédita no funk carioca, acerca da harmonia da música. Antropologia e análise musical refutam a ideia de bitonalidade para situar o debate na arena dos conflitos entre “mundos da arte” (Becker 1982) entrecruzados. A “tecnologia de encantamento” (Gell 1999) de Deu onda envolve: (1) a construção da textura por meio de seis linhas cíclicas, em ciclos de um, dois ou quatro compassos, combinadas com quatro linhas acíclicas; (2) a organização de dois subgrupos de linhas, ou “tramas”, harmonicamente complementares, com funções diversas; (3) a articulação das seções por meio de seis tipos de breques; (4) o recurso a três ordens de variações da textura; (5) a sobreposição de uma figura rítmica característica do reggae a outra típica do funk carioca; (6) a aplicação a toda a melodia de um esquema harmônico concebido em função da primeira frase; (7) a evocação “afrofuturista” (Eshun 2003) de uma roda de funk; e (8) jogos de sentidos que fazem a música deslizar entre subgêneros distintos. O debate público acerca da bitonalidade de Deu onda contribuiu para generalizar a preocupação harmônica entre os DJs-produtores do “mundo funk” (Vianna 1988).