Skip to main content
Reimaginar a Europa
  • Centro de Estudos Sociais
    Universidade de Coimbra
    Colégio da Graça
    Rua da Sofia, nº136
    Apartado 3087
    3000-995 Coimbra
    Portugal
  • +351 239 855 570
  • noneedit
  • MEMOIRS offers a radical vision of contemporary European history, interrogating the crucial role of its multiple colo... moreedit
MEMOIRS - Children of Empires and European Postmemories (648624
MEMOIRS - Children of Empires and European Postmemories (648624
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma... more
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma escritora, Isabela Figueiredo, com o Cadernos de Memórias Coloniais (2009), uma cineasta, Filipa César, e a performer Grada Kilomba, com Conakry (2017) e uma artista visual, Ana Vidigal, com Penélope (2000). Na minha leitura estes trabalhos constituem-se cartas ao pai/ pátria. O contexto histórico e o quadro teórico de análise é dado no início do artigo.
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma... more
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma escritora, Isabela Figueiredo, com o Cadernos de Memórias Coloniais (2009), uma cineasta, Filipa César, e a performer Grada Kilomba, com Conakry (2017) e uma artista visual, Ana Vidigal, com Penélope (2000). Na minha leitura estes trabalhos constituem-se cartas ao pai/ pátria. O contexto histórico e o quadro teórico de análise é dado no início do artigo.
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée... more
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée fédéral originellement appelé Musée du Congo. Il fut créé en 1898 par le roi Léopold II dans le sillage de la tenue de l’Exposition universelle de Bruxelles de 1897. À cette occasion, un premier bâtiment fut édifié à Tervuren, qui était d’abord conçu comme une construction temporaire, mais qui devint permanente en raison de son caractère grandiose. Cette exposition universelle devait favoriser le rayonnement de la Belgique dans le monde et avait notamment pour objectif de glorifier la figure de Léopold II en tant que roi des Belges et propriétaire de l’État indépendant du Congo. Dans ce musée du Congo, il s’agissait de mettre en valeur les ressources naturelles de ce territoire africain et de promouvoir la recherche sur ces terres par le biais de la sci...
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée... more
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée fédéral originellement appelé Musée du Congo. Il fut créé en 1898 par le roi Léopold II dans le sillage de la tenue de l’Exposition universelle de Bruxelles de 1897. À cette occasion, un premier bâtiment fut édifié à Tervuren, qui était d’abord conçu comme une construction temporaire, mais qui devint permanente en raison de son caractère grandiose. Cette exposition universelle devait favoriser le rayonnement de la Belgique dans le monde et avait notamment pour objectif de glorifier la figure de Léopold II en tant que roi des Belges et propriétaire de l’État indépendant du Congo. Dans ce musée du Congo, il s’agissait de mettre en valeur les ressources naturelles de ce territoire africain et de promouvoir la recherche sur ces terres par le biais de la sci...
Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a... more
Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a dividir o passado entre as memórias que nos pertencem e Fábrica de Carboneto abandonada, Bhopal | 2014 | Giles Clarke
Nas últimas semanas, Lilian Thuram, futebolista campeão do mundo pela França em 1998, voltou ao centro das notícias e debates na Europa quando se pronunciou em defesa de um jogador negro vítima de racismo de torcedores. Thuram teve a... more
Nas últimas semanas, Lilian Thuram, futebolista campeão do mundo pela França em 1998, voltou ao centro das notícias e debates na Europa quando se pronunciou em defesa de um jogador negro vítima de racismo de torcedores. Thuram teve a coragem de dizer que os brancos pensam ser superiores e acreditam nisso, pois o racismo é uma construção de séculos e muito difícil de ser mudada.
Between  1961 and 1974 Portugal sustained a long-term colonial war, that was not public acknowledge, with Angola, Mozambique and Guinea-Bissau. After this conflict, a sudden process of decolonization occurred, following the revolution of... more
Between  1961 and 1974 Portugal sustained a long-term colonial war, that was not public acknowledge, with Angola, Mozambique and Guinea-Bissau. After this conflict, a sudden process of decolonization occurred, following the revolution of 25 th  of April 1974, which ended the long-term dictatorship of the fascist regime and also the colonial war. This essay focuses on the reasons of this process of decolonization, its frames and reconfigurations and its impact in the Portuguese identity. The second part of this essay focuses on Portugal as a postcolonial European nation in direct confrontation and dialogue with other countries in the European Community that share a similar past, which affect Europe as a continent haunted by its colonial issues.
Monolinguismo, línguas nacionais, literatura em línguas minoritárias, o sindroma de Babel
Num livro clássico dos estudos da memória, The Ethics of Memory, de Avishai Margalit, observa-se que, na memória, muitas vezes não há moralidade. Por isso, é necessário refletir sobre uma ética, individual e coletiva, dos seus usos. Este... more
Num livro clássico dos estudos da memória, The Ethics of Memory, de Avishai Margalit, observa-se que, na memória, muitas vezes não há moralidade. Por isso, é necessário refletir sobre uma ética, individual e coletiva, dos seus usos. Este traço da memória torna-se evidente em contextos históricos de guerras de memória, deflagradas e em curso. Trata-se dos conflitos que surgem quando o uso do passado não cria elos comunitários. Estamos perante essa situação quando, a partir de uma dialética de salvação s/t (Rádio), da série Escuta os Bárbaros em Primeiro Lugar, Planalto Norte, Santo Antão | 2016 | Diogo Bento (cortesia do artista)
Domus della Nave Europa Il nome di questa domus deriva dal graffito di uma nave de carico presente sulla parte a sinistra del porticato. È raffigurata una nave, «Europa», che rimorchia uma barchetta di salvataggio: è l’immagine più... more
Domus della Nave Europa Il nome di questa domus deriva dal graffito di uma nave de carico presente sulla parte a sinistra del porticato. È raffigurata una nave, «Europa», che rimorchia uma barchetta di salvataggio: è l’immagine più imponente ed elegante di imbarcazione ritrovata in área vesuviana. La casa è caratterizzata da un porticato posto al centro della struttura e delimitato sui tre lati da un colonato dórico. Sono state rinvenute un grande numero di anfore, probabilmente legate all’attività commerciale della domus. La vasche presenti a destra del porticato servivano verosimilmente a pulire le anfore stesse (apresentação da Domus della Nave Europa, em Pompeia)
Quando a literatura busca transmitir a experiência da violência, o resultado está determinado pela distância entre quem escreve e a realidade traumática referida. Existem, no entanto, constantes entre as representações artísticas da... more
Quando a literatura busca transmitir a experiência da violência, o resultado está determinado pela distância entre quem escreve e a realidade traumática referida. Existem, no entanto, constantes entre as representações artísticas da memória feitas pelas testemunhas directas dos acontecimentos e aquelas reelaboradas pelos seus descendentes (as chamadas pós-memórias). Os casos de António Lobo Antunes, nas crónicas, e de Paulo Faria, no texto Estranha Guerra de Uso Comum (2016), apontam para algumas semelhanças no que diz respeito à escrita da guerra no contexto português. Luanda | 2018 | Tatiana Macedo (cortesia da artista)
Very few topics mobilize both the "Portuguese thought" -just to use a porous category of difficult definition- and the Portuguese decolonization in the mid-70s, after the Carnation Revolution. Multiple imaginations were... more
Very few topics mobilize both the "Portuguese thought" -just to use a porous category of difficult definition- and the Portuguese decolonization in the mid-70s, after the Carnation Revolution. Multiple imaginations were elaborated from this event that fractured an expansion and a secular colonial theory. However, as Eduardo  Lourenco  fully shows ( Do  colonialismo como nosso impensado , 2014) the dereliction of the Atlantic history produces a multitude of ontological and symbolic specters and critical problems for the country called to articulate a new inscription outside of the Atlantic-Europe dialectics, exclusively turned to the European mythologies and destiny. The article deals especially with the conceptual plan of the Portuguese decolonization, in particular deepening the topic in terms of conceptual history, connected to two involved categories: negation and belonging. A reflection on the temporal tangle of decolonization in particular valorizes the messianic aspe...
Neste artigo e realizada uma leitura critica da rececao e do desenvolvimento do pos-colonialismo em Portugal, na sua vertente academica, artistica e na programacao cultural. E realizada uma analise detalhada do Programa Proximo Futuro da... more
Neste artigo e realizada uma leitura critica da rececao e do desenvolvimento do pos-colonialismo em Portugal, na sua vertente academica, artistica e na programacao cultural. E realizada uma analise detalhada do Programa Proximo Futuro da Fundacao Calouste Gulbenkian, decisivo para a ampliacao do cânone do pos-colonial em Portugal e na Europa.
O que são memórias pós-imperiais e até que ponto pode uma reflexão sobre os dois termos em causa, "pós-império" e "memória" - e aquilo que está silenciosamente implícito, ou seja, a "pós-memória"... more
O que são memórias pós-imperiais e até que ponto pode uma reflexão sobre os dois termos em causa, "pós-império" e "memória" - e aquilo que está silenciosamente implícito, ou seja, a "pós-memória" e a sua relação com os legados fantasmagóricos imperiais - nos ajudar a compreender o papel da resistência na literatura anticolonial e pós-colonial? Este ensaio aborda esta questão através do conjunto de narrativas de Luandino Vieira de 1963, Luuanda, e dois romances recentes de Djaimilia Pereira de Almeida, Esse Cabelo, de 2015 e, principalmente, Luanda, Lisboa, Paraíso, de 2018. Como conclusão sugere-se uma consideração da memória pós-imperial como uma forma de assombramento, inevitavelmente e irredutivelmente ligada à história da escravidão.
Este texto analisa, numa perspectiva comparada, uma seleção de obras literárias de Portugal, França e Bélgica, em que o tema da pós-memória no âmbito pós-colonial europeu se apresenta como fulcral para compreender a transmissão do passado... more
Este texto analisa, numa perspectiva comparada, uma seleção de obras literárias de Portugal, França e Bélgica, em que o tema da pós-memória no âmbito pós-colonial europeu se apresenta como fulcral para compreender a transmissão do passado colonial. O nosso ponto de partida é um corpus que tem vindo a ser analisado no âmbito do projecto europeu MEMOIRS—Filhos do Império e pós-memórias europeias (Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra), financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (ERC). O nosso objectivo é o de comentar as diferentes estratégias textuais utilizadas pelos herdeiros destas memórias coloniais para dar conta da apropriação, pela ficção, da experiência traumática. Serão abordadas obras do Português Paulo Faria, do Belga Laurent Demoulin, e dos Franceses Thierry Crouzet e Éric Vuillard.
Após o fim do Império Colonial português, o termo de lusofonia veio marcar um espaço de influência que Portugal não desejava perder. Entretanto, as dinâmicas geopolíticas do mundo permitem que os países lusófonos utilizem a Comunidade dos... more
Após o fim do Império Colonial português, o termo de lusofonia veio marcar um espaço de influência que Portugal não desejava perder. Entretanto, as dinâmicas geopolíticas do mundo permitem que os países lusófonos utilizem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como uma ferramenta de afirmação e posicionamento no mundo. Dessa maneira, como entender a literatura produzida na África dos PALOP e sua relação com o cânone lusófono e mundial? A partir de interrogações da literatura anglófona e do exemplo de manifesto por uma literatura mundo feita pelos escritores francófonos, buscamos interrogar o espaço da produção literária africana lusófona.
Resumo Este trabalho visa analisar a relação entre literatura e pobreza, por meio de sua forma simbólica, no conto de Roniwalter Jatobá intitulado Insônia, presente em Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, organizado por Luis Ruffato.... more
Resumo Este trabalho visa analisar a relação entre literatura e pobreza, por meio de sua forma simbólica, no conto de Roniwalter Jatobá intitulado Insônia, presente em Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, organizado por Luis Ruffato. Para isso, trabalha-se com diversos conceitos que servem como aporte teórico e, posteriormente, como categorias críticas de análise. Neste estudo, etimologias, metáforas e conceitos de Giorgio Agamben, de Hans Blumenberg e de outros teóricos, que servem como figuras de pensamento, são implicados para refletir sobre a representação da pobreza, da miséria e do trabalho dentro da literatura e cultura brasileira.
Resumo Este artigo trata, de maneira comparada, da prática de poesia performática slam presente nas periferias de alguns países da Europa e o Brasil. Observam-se as preocupações contíguas das comunidades marginalizadas e como exprimem de... more
Resumo Este artigo trata, de maneira comparada, da prática de poesia performática slam presente nas periferias de alguns países da Europa e o Brasil. Observam-se as preocupações contíguas das comunidades marginalizadas e como exprimem de modo poético sua forma de ocupar um lugar no mundo. Apoiado em conceitos como terceira diáspora (Guerreiro, 2010) e artivismo (Debord, 1997), entre outros, o artigo busca entender como essas comunidades afirmam suas alteridades nas dinâmicas das migrações e pós-colonizações, assim como reclamam versões alternativas à narrativa oficial e sua inscrição no presente.
L’écriture de Sony Labou Tansi engage une réflexion historique, politico-sociale et idéologique par l’emploi d’un mode de langage qui bouleverse les normes. Par l’analyse de deux de ses romans, La vie et demie et Les sept solitudes de... more
L’écriture de Sony Labou Tansi engage une réflexion historique, politico-sociale et idéologique par l’emploi d’un mode de langage qui bouleverse les normes. Par l’analyse de deux de ses romans, La vie et demie et Les sept solitudes de Lorsa Lopez nous voulons montrer comment il s’approprie de la langue française pour faire de l’hybridation un troisième espace habité et habitable par la différence, une différence créatrice de nouvelles possibilités de comprendre le divers.
Lusophony is a neo-colonial concept that only emerges once the Empire is irrevocably dissolved. Whereas Lusophony cannot escape its neo-colonial entanglements, Lusotopy, on the contrary, strives precisely not only to go beyond, but... more
Lusophony is a neo-colonial concept that only emerges once the Empire is irrevocably dissolved. Whereas Lusophony cannot escape its neo-colonial entanglements, Lusotopy, on the contrary, strives precisely not only to go beyond, but against them. This article reflects on the ways in which literature, film, or ‘tuga’ hip-hop music, strive to advance transnational forms of resistance to unending and ever renewed kinds of oppression. Focusing on Lusotopy one can hope to work towards constructing a different future that builds on all the riches and all the wounds, many not yet healed, of the intersections derived from Portuguese colonialism.
The article discusses the concept of postmemory, demonstrating its productivity through an analysis of the memorialization of the Colonial War in the contemporary Portuguese context. Drawing on the results of two research projects carried... more
The article discusses the concept of postmemory, demonstrating its productivity through an analysis of the memorialization of the Colonial War in the contemporary Portuguese context. Drawing on the results of two research projects carried out at the Centre for Social Studies of the University of Coimbra, different aspects of the production of postmemory by members of the second generation are presented, with particular, but not exclusive, emphasis on the domain of the arts.
ResumoO termo lusofonia tem sido aceite e até proclamado como estratégia de entendimento entre as comunidades de Portugal e dos PALOPs como um facto inquestionável. Para que tal aconteça o termo tem sido mascarado como sendo uma emanação... more
ResumoO termo lusofonia tem sido aceite e até proclamado como estratégia de entendimento entre as comunidades de Portugal e dos PALOPs como um facto inquestionável. Para que tal aconteça o termo tem sido mascarado como sendo uma emanação do português como língua oficial destes países. No entanto isto é uma falácia. A sustentar este termo está a ideia de que todas as culturas dos PALOPs se inspiram na matriz de uma cultura portuguesa essencialista associada ao luso-tropicalismo teorizado por Gilberto Freyre. Conclui-se que a lusofonia na verdade é uma forma de neo-colonialismo de Portugal ao qual não são indiferentes os vários interesses dos negócios entre as elites destes países.
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée... more
En Belgique, c’est dans les murs de l’ancien Musée royal d’Afrique centrale, définitivement fermé le 7 décembre 2018, qu’a récemment vu le jour une nouvelle institution baptisée AfricaMuseum. L’ancien Musée royal belge était un musée fédéral originellement appelé Musée du Congo. Il fut créé en 1898 par le roi Léopold II dans le sillage de la tenue de l’Exposition universelle de Bruxelles de 1897. À cette occasion, un premier bâtiment fut édifié à Tervuren, qui était d’abord conçu comme une construction temporaire, mais qui devint permanente en raison de son caractère grandiose. Cette exposition universelle devait favoriser le rayonnement de la Belgique dans le monde et avait notamment pour objectif de glorifier la figure de Léopold II en tant que roi des Belges et propriétaire de l’État indépendant du Congo. Dans ce musée du Congo, il s’agissait de mettre en valeur les ressources naturelles de ce territoire africain et de promouvoir la recherche sur ces terres par le biais de la science, tout en exaltant l’action coloniale de la Belgique. Or, cet espace se révéla trop exigu pour accueillir les collections et pour permettre l’accueil des nombreux visiteurs. En conséquence, avec les revenus de l’exploitation de l’État indépendant du Congo, un nouveau bâtiment majestueux fut construit et inauguré officiellement par le roi Albert Ier en 1910, quatre mois après la mort de Léopold II. C’est dans ce second bâtiment qu’étaient présentées, jusqu’au 7 décembre dernier, les collections du Musée royal d’Afrique centrale de Tervuren. Ces collections se composaient d’œuvres en provenance du Congo, du Burundi et du Rwanda ; la plupart d’entre elles étaient des objets de culte, d’artisanat, des minéraux, des espèces animales et végétales (dont certains animaux de grande taille, empaillés), et incluaient une grande partie des objets exposés à l’occasion de l’Exposition universelle. Seuls étaient exclus de cette collection les deux cent soixante-sept Congolais qui avaient été, eux, exposés en 1897, dans des villages préfabriqués construits en plein air à Bruxelles et que la Belgique a maintenus lors des expositions internationales jusqu’en 1958, date de la première exposition universelle à être organisée depuis la Seconde Guerre mondiale, et qui fut aussi la dernière de ce genre à exhiber des humains.
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma... more
Neste artigo abordo a relação entre arte e pós-memória a partir das heranças coloniais ligadas à ditadura portuguesa, à guerra colonial em África e à descolonização expressas no trabalho de quatro mulheres artistas portuguesas: uma escritora, Isabela Figueiredo, com o Cadernos de Memórias Coloniais (2009), uma cineasta, Filipa César, e a performer Grada Kilomba, com Conakry (2017) e uma artista visual, Ana Vidigal, com Penélope (2000). Na minha leitura estes trabalhos constituem-se cartas ao pai/ pátria. O contexto histórico e o quadro teórico de análise é dado no início do artigo.
In this article, I approach the relationship between art and post-memory based on the colonial legacies linked to the dictatorship regime in Portugal, the colonial wars in Africa, and the decolonization expressed in the work of four Portuguese women artists: Isabela Figueiredo with Cadernos de Memórias Coloniais (2009), Filipa César, Grada Kilomba, with Conakry (2013), and Ana Vidigal with Penélope (2000). In my reading, these works are letters to the father/motherland. The historical context and the theoretical frame are developed in the first part of the article.
Ist nicht das Gedächtnis unabtrennbar von der Liebe, die bewahren will, was doch vergeht? Theodor W. Adorno (Minima Moralia, 79) Todos os romances de Lídia Jorge são romances políticos. Mas isso em si pouco ou nada significa. Em primeiro... more
Ist nicht das Gedächtnis unabtrennbar von der Liebe, die bewahren will, was doch vergeht? Theodor W. Adorno (Minima Moralia, 79) Todos os romances de Lídia Jorge são romances políticos. Mas isso em si pouco ou nada significa. Em primeiro lugar porque os romances de Lídia Jorge não são de modo algum o que se poderia convencionar como arte política, com todas as limitações que tal designação invariavelmente acarreta. São, antes de mais, grandes obras literárias que combinam uma experimentação radical da forma do romance com uma beleza e um poder emotivo perturbantes. Os Memoráveis (2014) representa uma intervenção direta na sociedade por-tuguesa contemporânea, ao mesmo tempo que proporciona aos seus leitores uma reflexão crítica metaliterária sobre o processo de escrita, sobre as condi-ções da memória, sobre opções pessoais e condicionamentos históricos, que nos interpela a todos quer como portugueses quer como agentes responsáveis pelas nossas escolhas e atos. A receção crítica deste romance de Lídia Jorge tem salientado prioritariamente a questão da memória-tema central da obra da autora-assim como o foco na revolução de 19741. Sem dúvida serão esses dois eixos fundamentais para qualquer leitura do romance, a que irei também recorrer. Neste momento, porém, penso ser necessário contemplar o romance através de uma perspetiva ligeiramente diferente, ou complementar, com recurso ao questionamento sobre pós-memória que o romance gera, com todas as implicações éticas assim suscitadas. E também a questão da responsa-bilidade, individual e coletiva, em relação quer à revolução, ou melhor, à sua memória, quer ao presente na sua imediata intensidade. Tal como Adorno nos lembra na passagem de Minima Moralia que uso como epígrafe, «não é a memória inseparável do amor, que quer guardar aquilo que sempre passa?» Um dos grandes valores da literatura em geral, e deste romance em particular, é exatamente o de colocar questões essenciais,
RESUMO: Neste artigo é realizada uma leitura crítica da receção e do desenvolvimento do pós-colonialismo em Portugal, na sua vertente académica, artística e na programação cultural. E realizada uma análise detalhada do Programa Próximo... more
RESUMO: Neste artigo é realizada uma leitura crítica da receção e do desenvolvimento do pós-colonialismo em Portugal, na sua vertente académica, artística e na programação cultural. E realizada uma análise detalhada do Programa Próximo Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian, decisivo para a ampliação do cânone do pós-colonial em Portugal e na Europa. ABSTRACT: This article presents a critical analysis of the reception and development of post-colonialism in Portugal in its academic, artistic, and cultural programming aspects. This critical analysis is achieved through the detailed evaluation of the Calouste Gulbenkian Foundation's Próximo Futuro Program, decisive for the expansion of the post-colonial canon in Portugal and Europe. RESUMEN: Este artículo efectúa una lectura crítica de la recepción y del desarrollo del postcolonialismo en Portugal, en sus aspectos académicos, artísticos y en la programación cultural. Se realiza un análisis detallado del Programa Próximo Futuro, de la Fundación Calouste Gulbenkian, decisivo para la ampliación del canon de los estudios postcoloniales en Portugal y en Europa PALABRAS CLAVE: Portugal, postcolonialismo, programación cultural, cosmopolitismo.
Ler Eduardo Lourenço é sempre uma experiência bastante gratificante: convergem nele uma altíssima qualidade de observação, de análise, de pensamento e, não última, de escrita. Muito disto não cabe nas óticas condicionadas da investigação... more
Ler Eduardo Lourenço é sempre uma experiência bastante gratificante: convergem nele uma altíssima qualidade de observação, de análise, de pensamento e, não última, de escrita. Muito disto não cabe nas óticas condicionadas da investigação académica, ou das lógicas disciplinares (Filosofia? História da cultura? Crítica literária? História?) onde o palimpsesto disciplinar age sempre como um rígido dispositivo de controlo normativo. Quem olhar para a obra do Professor através dessas lentes rígidas, terá sempre uma impressão de lacuna ou incompletude. Mas imenso será o pensamento que perderá em consequência de uma apreensão redutora.
Do Colonialismo como o nosso impensado, de 2014", reúne a maioria dos textos publicados e inéditos de Eduardo Lourenço relativos à análise da questão colonial portuguesa em toda a sua complexidade e escritos ao longo de mais de 50 anos.... more
Do Colonialismo como o nosso impensado, de 2014", reúne a maioria dos textos publicados e inéditos de Eduardo Lourenço relativos à análise da questão colonial portuguesa em toda a sua complexidade e escritos ao longo de mais de 50 anos. Muitos destes textos foram escritos na solidão da distância do auto-exílio, sem perspetiva de publicação, em particular, no Portugal ditatorial de Salazar. Transformaram-se em monólogos ou diálogos impossíveis com o ditador ou com os portugueses até verem a luz neste livro. Alguns são de facto premonições de alguém que não só analisa subtilmente a essência de Portugal, mas que também o estava a ver de fora e num contexto em que a referência europeia da liberdade na Europa, a França, se comprometia e dissolvia nas terras ensanguentadas da Guerra da Argélia. O fim de “une certaine idée de la France” estava ali anunciado, bem como o mito da pátria da liberdade e da democracia, pois bastava atravessar o Mediterrâneo para ver a liberdade e a democracia suspensas pelas ações da “terra da liberdade” contra a luta pela liberdade e a emancipação dos “outros”.
António Pinto Ribeiro
Memória, Cidade e Literatura: De São Paulo de Assunção de Loanda a Luuanda, de Lourenço Marques a Maputo
Margarida Calafate Ribeiro | Francisco Noa (org.)
2019, Porto: Afrontamento, pp. 215-216.
Roberto Vecchi
Memória, Cidade e Literatura: De São Paulo de Assunção de Loanda a Luuanda, de Lourenço Marques a Maputo
Margarida Calafate Ribeiro | Francisco Noa (org.)
2019, Porto: Afrontamento, pp. 201-211.
Margarida Calafate Ribeiro
Memória, Cidade e Literatura: De São Paulo de Assunção de Loanda a Luuanda, de Lourenço Marques a Maputo
Margarida Calafate Ribeiro | Francisco Noa (org.)
2019, Porto: Afrontamento, pp. 37-61.
Felipe Cammaert

Heranças Pós-Coloniais nas literaturas em língua portuguesa

Margarida Calafate Ribeiro | Phillip Rothwell (org.)

2019, Porto: Afrontamento, pp. 309-321.
Fernanda Vilar

Heranças Pós-Coloniais nas literaturas em língua portuguesa

Margarida Calafate Ribeiro | Phillip Rothwell (org.)

2019, Porto: Afrontamento, pp. 273-290.
Margarida Calafate Ribeiro

Heranças Pós-Coloniais nas literaturas em língua portuguesa

Margarida Calafate Ribeiro | Phillip Rothwell (org.)

2019, Porto: Afrontamento, pp. 291-307.
Roberto Vecchi
José Saramago: Nascido para isto
Carlos Reis (org.)
2020, Fundação José Saramago, pp. 199-217.
When countries construct their heroes, they generally appeal to unanimous and coherent figures. The anti-colonialist people fighting for power in Mozambique began to appeal to the memory of Ngungunyane as an inspirational figure during... more
When countries construct their heroes, they generally appeal to unanimous and coherent figures. The anti-colonialist people fighting for power in Mozambique began to appeal to the memory of Ngungunyane as an inspirational figure during the liberation struggle. Afterwards, FRELIMO (the Liberation Front of Mozambique) came to consider him a national hero, and a guide in the civil war that followed the country's independence. Ngungunyane was chosen as a figure of national unification and functioned as a "symbol of love" for Mozambique. At the request of Samora Machel, Mozambique's first post-independence president, a handful of sand from the Azores cemetery was taken to Maputo in 1985 to celebrate the tenth anniversary of  Mozambican independence. This sand symbolized Ngungunyane’s remains: he died on the Azorean island of Terceira in 1906. Coincidentally, several political figures in Mozambique hail from the Gaza province where Emperor Ngungunyane reigned: not only Machel but also Eduardo Mondlane, co-founder and first president of FRELIMO and Joaquim Chissano, the second president of Mozambique.
Este trabalho visa analisar a relação entre literatura e pobreza, por meio de sua forma simbólica, no conto de Roniwalter Jatobá intitulado Insônia, presente em Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, organizado por Luis Ruffato. Para... more
Este trabalho visa analisar a relação entre literatura e pobreza, por meio de sua forma simbólica, no conto de Roniwalter Jatobá intitulado Insônia, presente em Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, organizado por Luis Ruffato. Para isso, trabalha-se com diversos conceitos que servem como aporte teórico e, posteriormente, como categorias críticas de análise. Neste estudo, etimologias, metáforas e conceitos de Giorgio Agamben, de Hans Blumenberg e de outros teóricos, que servem como figuras de pensamento, são implicados para refletir sobre a representação da pobreza, da miséria e do trabalho dentro da literatura e cultura brasileira.
This study aims to analyze the relationship between literature and poverty, through its symbolic form, in Roniwalter Jatobá’s short story Insônia, part of the anthology Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, organized by Luis Ruffato. For this purpose, we work with several concepts that serve as theoretical input and, subsequently, as critical categories of analysis. In this study, etymologies, metaphors and concepts by Giorgio Agamben, Hans Blumenberg and other theorists thatserve as figures of thought, are implicated to reflect on the representation of poverty, misery and work in Brazilian literature and culture.
Questo lavoro si propone di analizzare il rapporto tra letteratura e povertà, attraverso la sua forma simbolica, nel racconto di Roniwalter Jatobá, dal titolo Insônia, presente in Contos Antológicos de Roniwalter Jatobá, editato da Luis Ruffato. Per fare questo, ci si appella a diversi concetti che servono come input teorici e, successivamente, come categorie critiche di analisi. Etimologie, metafore e concetti di Giorgio Agamben, Hans Blumenberg, insieme ad altri teorici e figure di pensiero, vengono chiamati in causa allo scopo di riflettere sulla rappresentazione della povertà, della miseria e del lavoro all’interno della letteratura e della cultura brasiliana.
Este artigo trata, de maneira comparada, da prática de poesia performática slam presente nas periferias de alguns países da Europa e o Brasil. Observam-se as preocupações contíguas das comunidades marginalizadas e como exprimem de modo... more
Este artigo trata, de maneira comparada, da prática de poesia performática slam presente nas periferias de alguns países da Europa e o Brasil. Observam-se as preocupações contíguas das comunidades marginalizadas e como exprimem de modo poético sua forma de ocupar um lugar no mundo. Apoiado em conceitos como terceira diáspora (Guerreiro, 2010) e artivismo (Debord, 1997), entre outros, o artigo busca entender como essas comunidades afirmam suas alteridades nas dinâmicas das migrações e pós-colonizações, assim como reclamam versões alternativas à narrativa oficial e sua inscrição no presente.
This article compares the practice of slam performance poetry in the peripheries of some European countries with slam performances in Brazil. We note the contiguous concerns of marginalized communities and how they express poetically their way of occupying a place in the world. Based on concepts such as the third diaspora (Guerreiro, 2010) and artivism (Debord, 1997), among others, this article analyzes how these communities affirm their alterities in the dynamics of migration and post-colonization, as well as their claim for alternative versions of the official narrative and its inscription in the present.
Este artículo trata, de manera comparada, de la práctica de la poesía performática slam presente en las periferias de algunos países de Europa y Brasil. Se observan las preocupaciones contiguas de las comunidades marginadas y la manera como expresan de modo poético su forma de ocupar un lugar en el mundo. Basado en conceptos como la tercera diáspora (Guerreiro, 2010) y el artivismo (Debord, 1997), entre otros, el artículo busca comprender cómo estas comunidades afirman sus alteridades en las dinámicas de las migraciones y post-colonizaciones, así como reclaman versiones alternativas a la narrativa oficial y su inscripción en el presente.
The article discusses the Portuguese Colonial Wars in Africa (1961-1974) from the point of view of the second generation, the children of the Colonial Wars. Drawing on the results of two research projects carried out at the Centre for... more
The article discusses the Portuguese Colonial Wars in Africa (1961-1974) from the point of view of the second generation, the children of the Colonial Wars. Drawing on the results of two research projects carried out at the Centre for Social Studies of the University of Coimbra, different aspects of the production of postmemory are analyzed. The concept of postmemory demonstrates its productivity through a study of the memorialization of the Colonial War in the contemporary Portuguese context.

And 30 more

O desconhecido entra na sala onde eu já me encontro sentado à mesa, um cubículo triangular sem janelas num centro comercial da Costa da Caparica. Aqui se vão reunir vários veteranos da guerra do Ultramar, amigos de um veterano meu... more
O desconhecido entra na sala onde eu já me encontro sentado à mesa, um cubículo triangular sem janelas num centro comercial da Costa da Caparica. Aqui se vão reunir vários veteranos da guerra do Ultramar, amigos de um veterano meu conhecido, que hoje faz o papel de anfitrião. Chama-se Marco Mané, é o gerente deste centro comercial, antigo comando africano da Guiné-Bissau. É assim que venho fazendo há vários anos. Falo com um veterano, que por sua vez conhece outros, que por sua vez Operário | 2019 | Paulo Faria (cortesia do autor)
Paulo Faria
Um dos ensaios mais marcantes de Imre Kertész tem por título a simples interrogação "A quem pertence Auschwitz?". Apesar de bastante breve, trata-se de um ensaio que enfrenta exemplarmente a questão da persistência da memória e do papel... more
Um dos ensaios mais marcantes de Imre Kertész tem por título a simples interrogação "A quem pertence Auschwitz?". Apesar de bastante breve, trata-se de um ensaio que enfrenta exemplarmente a questão da persistência da memória e do papel de gerações posteriores na preservação da memória. A questão inescapável que o sobrevivente do campo de extermínio não pode deixar de formular é colocada logo de início: O escritor húngaro, Imre Kertész, prémio Nobel da literatura, com a chanceler alemã Angela Merkel | 2007 | Axel Schmidt/DDP/AFP via Getty Images
Amadú Bailo Djaló é, até à data, o único antigo combatente africano das Forças Armadas Portuguesas (FAP) que publicou um livro sobre a sua experiência na Guerra Colonial portuguesa. Amadú tinha 70 anos quando o seu livro Guineense,... more
Amadú Bailo Djaló é, até à data, o único antigo combatente africano das Forças Armadas Portuguesas (FAP) que publicou um livro sobre a sua experiência na Guerra Colonial portuguesa. Amadú tinha 70 anos quando o seu livro Guineense, Comando Português (1964-1974) foi publicado pela Associação de Comandos, em 2010. Este livro foi escrito a partir de um dos seus diários. Tinha, pelo menos, mais dois que desejava poder publicar um dia. Amadú Djaló nasceu no dia 10 de novembro de 1940, em Bafatá, na Guiné ainda sob o domínio português. Frequentou a escola do Alcorão durante 3 anos, e uma escola católica localizada em frente à sua casa durante 2 anos. Com pouco mais de 18 anos pensou em alistar-se na tropa portuguesa para poder tirar a carta de condução, mas foi adiando essa decisão porque precisava de continuar a trabalhar para sustentar a sua família. Em 1962, foi chamado para cumprir o serviço militar português que cumpriu Encontro dos Comandos | 29 junho de 2008 | fotografia da autora
Ilustração de Mundus subterraneus | 1665 | Athanasius Kircher (Wikimedia Commons)
Illustration from Mundus subterraneus | 1665 | Athanasius Kircher (Wikimedia Commons)
Uma reflexão sobre o lugar das ancestralidades, das memórias e das identidades nas políticas contemporâneas parece tornar-se imperiosa quando assistimos ao modo hábil como a extrema-direita vem alavancando o seu crescimento na fácil... more
Uma reflexão sobre o lugar das ancestralidades, das memórias e das identidades nas políticas contemporâneas parece tornar-se imperiosa quando assistimos ao modo hábil como a extrema-direita vem alavancando o seu crescimento na fácil caricatura das políticas identitárias, tidas como ameaçadoras de vetustos costumes, apologistas do politicamente correcto ou avessas à liberdade de expressão. Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes.
In pursuit of expansion, the far-right has been astute in leveraging a simplistic caricature of identity politics, casting it as a threat to old ways of life, an apology for political correctness and an attack freedom of expression. In... more
In pursuit of expansion, the far-right has been astute in leveraging a simplistic caricature of identity politics, casting it as a threat to old ways of life, an apology for political correctness and an attack freedom of expression. In this context, a reflection on the place of ancestry, memory and identity in contemporary politics seems crucial. The far-right has grown as a parasite upon neoliberal accumulation, which has created diminishing socioeconomic perspectives for large parts of the population. This situation has favoured right-wing populisms that declare themselves to be anti-systemic while they Grafitti | Eça de Queiroz School, Lisbon | anonymous photo
O universo mediático alemão tem sido agitado nos últimos meses por uma controvérsia que parece não ter encontrado grande repercussão fora da Alemanha, mas merece atenção pelo seu carácter sintomático. A história conta-se em poucas... more
O universo mediático alemão tem sido agitado nos últimos meses por uma controvérsia que parece não ter encontrado grande repercussão fora da Alemanha, mas merece atenção pelo seu carácter sintomático. A história conta-se em poucas palavras. De origem camaronesa, professor da Universidade de Witwatersrand, Achille Mbembe é autor de obras bem conhecidas e extremamente influentes no âmbito da mais recente reflexão pós-colonial, como Crítica da Razão Negra ou Políticas da Inimizade.
A entrevista que se segue, de Verónica de Fátima, foi realizada no dia 28 de março de 2018 por Margarida Calafate Ribeiro. A minha história é diferente. Normalmente, as pessoas quando olham para mim dizem "mais uma filha de um retornado"... more
A entrevista que se segue, de Verónica de Fátima, foi realizada no dia 28 de março de 2018 por Margarida Calafate Ribeiro.
A minha história é diferente. Normalmente, as pessoas quando olham para mim dizem "mais uma filha de um retornado" e eu explico: "não, não é bem isso”. Nasci a 12 de março de 1959, em Luanda, Angola e cheguei a Lisboa em 1975. O meu pai é português, foi para Angola de castigo porque não quis tirar o curso superior. A sua família abrasonada e de posses, do norte de Portugal, enviou-o para África trabalhar.
Num ensaio lucidamente intitulado “Da ficção do império ao império da ficção”, publicado em 1984, Eduardo Lourenço escreve a propósito da descolonização portuguesa: Temos de nos habituar a pensar que sempre habitámos um espaço maior que... more
Num ensaio lucidamente intitulado “Da ficção do império ao império da ficção”, publicado em 1984, Eduardo Lourenço escreve a propósito da descolonização portuguesa:
Temos de nos habituar a pensar que sempre habitámos um espaço maior que nós e por isso mesmo sem sujeito. É a parte de verdade da nossa imperial ficção. Contentemo-nos hoje com a ficção dessa verdade. E adaptemo-nos em casa e fora dela a essa ficção. (Lourenço, p. 269)
No referido ensaio, Eduardo Lourenço defende a ideia segundo a qual, na percepção sobre a descolonização durante os anos 1980 em Portugal, mantinha-se a atitude de “desdramatização” quanto ao facto colonial, a coberto da ideia imperialista do regime salazarista de uma “colonização diferente”.
No primeiro artigo desta série “Obras de arte na condição da pós-memória” referíamo-nos, entre outros aspectos, ao facto de as obras de vários artistas afro-descendentes das segunda e terceira gerações, vivendo na Europa, terem um lugar... more
No primeiro artigo desta série “Obras de arte na condição da pós-memória” referíamo-nos, entre outros aspectos, ao facto de as obras de vários artistas afro-descendentes das segunda e terceira gerações, vivendo na Europa, terem um lugar de destaque na arte contemporânea europeia, não só pela sua qualidade artística, mas também por um conjunto de características de natureza formal, temática e estética, que lhes dão uma identidade muito própria dentro da cena contemporânea.
Transportamos em nós várias vivências. Muitas estão fechadas a sete chaves e são apenas memórias, como uma natureza morta. Outras ganham vida, perspectiva, e pelo exercício da criatividade, abrem-se portas… e um infinito de possibilidades... more
Transportamos em nós várias vivências. Muitas estão fechadas a sete chaves e são apenas memórias, como uma natureza morta. Outras ganham vida, perspectiva, e pelo exercício da criatividade, abrem-se portas… e um infinito de possibilidades começa a pulsar. Obstáculos existem, ouvimos falar deles… na cabeça de algumas pessoas.
Por ocasião dos 60 anos da independência do Congo, em 30 de Junho passado, numa carta ao presidente congolês, Félix Tshisekedi, o rei Philippe da Bélgica apresentou oficialmente, pela primeira vez, desculpas (“les plus profonds regrets”)... more
Por ocasião dos 60 anos da independência do Congo, em 30 de Junho passado, numa carta ao presidente congolês, Félix Tshisekedi, o rei Philippe da Bélgica apresentou oficialmente, pela primeira vez, desculpas (“les plus profonds regrets”) pelas “feridas coloniais” que a Bélgica provocou à sua antiga colónia africana. A manifestação do soberano inscreve-se no movimento de revisão (complexo, tumultuoso, mais reativo do que reflexivo) do passado de injustiças que se manifestou através de multíplices atos iconoclastas em relação aos monumentos que são símbolo de violações históricas de direitos, hoje, consagrados.
Os campos de tensão social não desapareceram durante o período de confinamento na pandemia do coronavírus de 2020. Embora o espaço público estivesse de alguma maneira condenado aos encontros e mobilizações, atos de racismo e violência... more
Os campos de tensão social não desapareceram durante o período de confinamento na pandemia do coronavírus de 2020. Embora o espaço público estivesse de alguma maneira condenado aos encontros e mobilizações, atos de racismo e violência policial  ativaram as manifestações do Black Lives Matter, ultrapassando as fronteiras norte-americanas com demonstrações de solidariedade em diversos países como França, Brasil e Portugal, onde ocorre sistematicamente o mesmo tipo de crimes contra a população não-branca.
Research Interests:
Research Interests:
Mais do que um signo de união sobre a responsabilidade da transmissão da memória, a pós-memória é separador de águas. Menosprezada pelas ciências sociais, subestimada pelos historiadores, endeusada nos estudos culturais e nas artes, o... more
Mais do que um signo de união sobre a responsabilidade da transmissão da memória, a pós-memória é separador de águas. Menosprezada pelas ciências sociais, subestimada pelos historiadores, endeusada nos estudos culturais e nas artes, o tema da memória das gerações seguintes às gerações testemunhais é um território controverso, por vezes conflituoso, de qualquer modo estranho. As causas Tchandisila (Herança): Gamba | 2019-10 | Yara Monteiro (cortesia da artista) [fotografias originais de arquivo familiar (anos 60), com colagem digital]
More than just a message of unity about our common responsibility for the transmission of memory, post-memory is a watershed. As much as it has been prized in cultural studies and the arts, the memory of the generations who follow those... more
More than just a message of unity about our common responsibility for the transmission of memory, post-memory is a watershed. As much as it has been prized in cultural studies and the arts, the memory of the generations who follow those who bear witness has been underestimated by social scientists and historians. It is field that is controversial, at times conflictual, and always strange. The Tchandisila (Heritage): Gamba | 2019-10 | Yara Monteiro (courtesy of the artist) [digital collage of original photographs from family archives (1960s)]
Assistimos hoje na Europa à afirmação cultural de europeus herdeiros dos movimentos políticos e populacionais saídos das descolonizações e de outros fluxos migratórios para a Europa, ligados à fuga de guerras, à procura de refúgio... more
Assistimos hoje na Europa à afirmação cultural de europeus herdeiros dos movimentos políticos e populacionais saídos das descolonizações e de outros fluxos migratórios para a Europa, ligados à fuga de guerras, à procura de refúgio económico, ao exílio político, ao desenvolvimento de estudos superiores e outros fatores. Hoje os descendentes destes movimentos são sujeitos e corpos políticos Flor para Alda | 2020 | Yara Monteiro (cortesia da artista) (excerto do poema "Presença Africana" de Alda Lara, escrito a caneta num antúrio)
In present day Europe, we are witnessing the cultural affirmation of Europeans who are heirs of political and population movements, resulting from decolonization and other migratory flows to Europe, associated with the flight deserting... more
In present day Europe, we are witnessing the cultural affirmation of Europeans who are heirs of political and population movements, resulting from decolonization and other migratory flows to Europe, associated with the flight deserting from wars, search for economic refuge, political exile, a place for higher education and other factors. Today, the descendants of these movements are European subjects Flor para Alda | 2020 | Yara Monteiro (courtesy of the artist) (excerpt from the poem "Presença Africana" by Alda Lara, handwritten on an anthurium)
Na sequência das independências que se sucederam em África e na Ásia-em alguns casos ainda antes destas-deslocaram-se para a Europa e para as antigas nações colonizadoras centenas de milhares as pessoas. Esta migração era composta por... more
Na sequência das independências que se sucederam em África e na Ásia-em alguns casos ainda antes destas-deslocaram-se para a Europa e para as antigas nações colonizadoras centenas de milhares as pessoas. Esta migração era composta por grupos associados à estrutura colonial-os pieds-noirs, os retornados-por ex-militares das ex-colónias-colaboradores da administração colonial-, por exilados e por emigrantes que ao longo das décadas têm vindo vender a sua força de trabalho aos antigos países colonizadores. Homens na maior parte, às vezes acompanhados das suas mulheres, tendo alguns mais tarde constituído famílias criando descendentes que já vão na terceira geração. Parenthèse | 2018 | Katia Kameli (cortesia da artista)
After the independence in Africa and Asia-and in some cases, before-hundreds of thousands of people from formerly colonized nations moved to Europe. This migration included groups associated with the colonial structure, pieds-noirs,... more
After the independence in Africa and Asia-and in some cases, before-hundreds of thousands of people from formerly colonized nations moved to Europe. This migration included groups associated with the colonial structure, pieds-noirs, retornados, ex-military personnel of the former colonies, collaborators with the colonial administration, exiles, and those who over the decades had sold their labour to the former colonial countries. Generally men, sometimes accompanied by their wives, this wave of migration led to families that now stretch over three generations. Parenthèse | 2018 | Katia Kameli (courtesy of the artist)
Nas obras artísticas da pós-memória, são comuns os casos em que o artista revisita o passado colonial fazendo apelo a uma reinterpretação dos arquivos históricos marcantes, muitos deles silenciados ou esquecidos pelas gerações seguintes.... more
Nas obras artísticas da pós-memória, são comuns os casos em que o artista revisita o passado colonial fazendo apelo a uma reinterpretação dos arquivos históricos marcantes, muitos deles silenciados ou esquecidos pelas gerações seguintes. Um dos eventos que tem dado lugar a uma série de fecundas re-presentações artísticas é o das mãos cortadas, um dos episódios mais medonhos do período colonial da Bélgica no Congo, em que os colonizadores cortaram as mãos dos africanos, especialmente as crianças, como castigo e exemplo de autoridade. geometrias | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)
In the art of post-memory, artists often revisit the colonial past to re-interpret striking historical archives which have been silenced or forgotten by recent generations. One of the subjects that has elicited a series of profound... more
In the art of post-memory, artists often revisit the colonial past to re-interpret striking historical archives which have been silenced or forgotten by recent generations. One of the subjects that has elicited a series of profound artistic responses is the archival trace of the severing of hands; a particularly horrifying episode of the colonial period in the Belgian Congo, when colonizers cut o the hands of African people, especially children, as punishment, and as an assertion of authority. geometries | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (courtesy of the photographer)
No âmbito do trabalho de campo do projeto MEMOIRS-Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (n.º 648624) e sediado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, foram... more
No âmbito do trabalho de campo do projeto MEMOIRS-Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (n.º 648624) e sediado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, foram realizadas, até à data, 169 entrevistas para recolher dados sobre as memórias herdadas pelos filhos e netos da geração que viveu os processos de descolonização de territórios dominados por Portugal, França e Bélgica no continente africano. A entrevista que se segue foi realizada no dia 1 de agosto de 2018, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, a Rui Barbosa de Andrade Lamarana.
A extraordinária proliferação dos estudos sobre trauma, memória e violência veio dar centralidade a conceitos cuja circulação generalizada redunda, com frequência, num efeito de banalização que põe a causa a sua operatividade analítica e... more
A extraordinária proliferação dos estudos sobre trauma, memória e violência veio dar centralidade a conceitos cuja circulação generalizada redunda, com frequência, num efeito de banalização que põe a causa a sua operatividade analítica e exige, assim, uma crítica diferenciada. Esta crítica torna-se tanto mais necessária quando se verifica a tendência para reduzir os conceitos a uma forma singular, abdicando de uma reflexão sobre a sua especificidade. Assim, sem dúvida que uma situação traumática pode ser tipificada de acordo com coordenadas que são comuns a circunstâncias muito Reflexão | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)
The extraordinary proliferation of studies on trauma, memory and violence has given a central position to concepts whose wide circulation quite often results in an effect of banalization that puts into question its analytical productivity... more
The extraordinary proliferation of studies on trauma, memory and violence has given a central position to concepts whose wide circulation quite often results in an effect of banalization that puts into question its analytical productivity and, thus, calls for differentiated critique. Such a critique becomes all the more necessary given the tendency to reduce the concepts to their singular form, eschewing any reflection on their specificity. Thus, there can be no doubt that a traumatic situation may be typified according to coordinates that are common to quite diverse circumstances-namely, the fixation of Reflection | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (courtesy of the photographer)
Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a dividir o passado... more
Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a dividir o passado entre as memórias que nos pertencem e Fábrica de Carboneto abandonada, Bhopal | 2014 | Giles Clarke
Research Interests:
Research Interests:
A exposição retrospetiva de Christian Boltanski no Centre Pompidou em Paris, Faire son temps (até 16 de Março), não representa só um tributo a um dos maiores artistas franceses contemporâneos que tem refundado e disseminado a "arte da... more
A exposição retrospetiva de Christian Boltanski no Centre Pompidou em Paris, Faire son temps (até 16 de Março), não representa só um tributo a um dos maiores artistas franceses contemporâneos que tem refundado e disseminado a "arte da memória", através de gestos salvíficos impressionantes. Esta exposição articula-se também como uma espécie de biografia ("falsa", como o artista a define) por obras, organizada na galeria do último andar que reúne uma pluralidade de objetos (fotografias, Boltanski, in Bienal de Veneza | 2019 | arquivo MEMOIRS
Em Afrotopia, Felwine Sarr afirma que "para ser fecundo, um pensamento do continente (África) tem de transportar consigo a exigência de uma absoluta soberania intelectual" (1). O autor, economista e escritor senegalês, tornou-se... more
Em Afrotopia, Felwine Sarr afirma que "para ser fecundo, um pensamento do continente (África) tem de transportar consigo a exigência de uma absoluta soberania intelectual" (1). O autor, economista e escritor senegalês, tornou-se recentemente famoso por ter sido, com Bénédicte Savoy e a convite do presidente francês Emmanuel Macron, o autor do Relatório sobre a restituição do património cultural africano, tendo contribuído para isso o seu conhecimento da produção intelectual de autores africanos e da situação dos museus em África. A afirmação é particularmente sedutora no contexto actual, em que a alteração de muitos regimes africanos para a democracia, o crescimento económico em alguns países e uma melhor distribuição de rendimentos, a par de uma produção cultural cada vez mais
Num livro clássico dos estudos da memória, The Ethics of Memory, de Avishai Margalit, observa-se que, na memória, muitas vezes não há moralidade. Por isso, é necessário refletir sobre uma ética, individual e coletiva, dos seus usos. Este... more
Num livro clássico dos estudos da memória, The Ethics of Memory, de Avishai Margalit, observa-se que, na memória, muitas vezes não há moralidade. Por isso, é necessário refletir sobre uma ética, individual e coletiva, dos seus usos. Este traço da memória torna-se evidente em contextos históricos de guerras de memória, deflagradas e em curso. Trata-se dos conflitos que surgem quando o uso do passado não cria elos comunitários. Estamos perante essa situação quando, a partir de uma dialética de salvação s/t (Rádio), da série Escuta os Bárbaros em Primeiro Lugar, Planalto Norte, Santo Antão | 2016 | Diogo Bento (cortesia do artista)

And 179 more

A partir des années 60, le "déseurocentrisme" de la production de la connaissance et la révision des canons et des épistémologies initiées avec les Etudes culturelles auxquelles ont succédé les différents post-colonialismes et les études... more
A partir des années 60, le "déseurocentrisme" de la production de la connaissance et la révision des canons et des épistémologies initiées avec les Etudes culturelles auxquelles ont succédé les différents post-colonialismes et les études de genre ont provoqué une révolution que l'on ne peut que comparer à la révolution copernicienne. C'est dans ce contexte que l'épistémologie et la muséographie se sont déplacées pour comprendre que les musées, n'étant pas seulement des collections mais fondamentalement des dispositifs narratifs, se confrontent au fait de devoir être postcoloniaux. Cette situation nous oblige à revoir les narrations et, au moins, à incorporer les tensions entre les anciennes et les nouvelles histoires, à réfléchir sur la forme dont ces collections et ces butins sont arrivés dans les musées européens et nord-américains et, enfin, à redéfinir le concept de musée à la lumière du "panafricanisme" et de la "pensée amérindienne". Cycle « Atlas des mots et des images des dé-colonisations » proposé par Maria Benedita Basto et Teresa Castro Fondation Bibliothèque Programmes Conférences Diffusion Informations ! AGENDA "
Todas as cidades têm a sua história. Também assim Luanda e Maputo. Luanda situada na costa atlântica, de influência arquitetónica e urbanística luso-brasileira; Maputo, situada à beira Índico, goza de outras influências que combinam... more
Todas as cidades têm a sua história. Também assim Luanda e Maputo. Luanda situada na costa atlântica, de influência arquitetónica e urbanística luso-brasileira; Maputo, situada à beira Índico, goza de outras influências que combinam África, Portugal e Ásia. O mundo destas cidades é particularmente misturado: nelas entrelaçam-se pluralidades e diversidades que envolvem seres, imaginários, objetos, temporalidades e espacialidades. O arcaico convive com o moderno, o progresso com o atraso e todas as épocas expressam e reclamam atenção histórica - a era pré-colonial, a ocupação costeira, o colonialismo moderno, a independência, o pós-colonialismo, o pós-guerra e a atualidade.

Autores: António Pinto Ribeiro, Francisco Noa, Margarida Calafate Ribeiro, Nazir Ahmed Can, Nuno Simão Gonçalves, Phillip Rothwell, Rita Chaves, Roberto Vecchi, Sandra Inês Cruz, Tania Macêdo

Imagem de capa:  «O Homem-Reflexo», 2017. Soldagem com armas e metais desativados / Gonçalo Mabunda / Cortesia da Jack Ball Gallery.
No presente volume, escrito a muitas mãos, pretende-se mostrar as novas fases do estado da crítica das habitualmente designadas literaturas africanas de língua portuguesa ou, num sentido mais lato, das literaturas lusófonas. Começa-se por... more
No presente volume, escrito a muitas mãos, pretende-se mostrar as novas fases do estado da crítica das habitualmente designadas literaturas africanas de língua portuguesa ou, num sentido mais lato, das literaturas lusófonas. Começa-se por traçar os mapas destas literaturas a partir de curtos ensaios de longo fôlego. A segunda parte é dedicada aos recortes temáticos ou de autor destas literaturas e a última parte aborda os trânsitos destas escritas a caminho de uma fase pós-nacional e, por isso, é dada uma atenção concertada às diásporas.
Ambicioso projeto sem dúvida, mas necessário, hoje, no contexto do que, para uns, se tem vindo a designar como literaturas de língua portuguesa e, para outros, literaturas lusófonas.

Ensaios de: Inocência Mata, Francisco Noa, Tania Macêdo, Ana Cordeiro, Moema Parente Augel, Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco, Rita Chaves, Sílvio Renato Jorge, Dorothée Boulanger, José Luís Pires Laranjeira, Inês Nascimento Rodrigues, Sandra Inês Cruz, Alexandra Reza, Nazir Ahmed Can, Vincenzo Russo, Raquel Ribeiro, Roberto Vecchi, Fernanda Vilar, Margarida Calafate Ribeiro, Felipe Cammaert, Phillip Rothwell, António Pinto Ribeiro.

Imagem: sem título | 2018 | Nu Barreto (cortesia do artista e da Galerie Nathalie Obadia, Paris)
La costa de los murmullos
Lídia Jorge
2018, Bogota: Ediciones Uniandes
não são apenas uma localização geograficamente múltipla e historicamente determinada, são, antes de tudo, do meu ponto de vista, um espaço conceptual significativo que induz a repensar, porventura de modo radical, muitas das cartografias... more
não são apenas uma localização geograficamente múltipla e historicamente determinada, são, antes de tudo, do meu ponto de vista, um espaço conceptual significativo que induz a repensar, porventura de modo radical, muitas das cartografias teóricas e culturais da experiência colonial e imperial portuguesa. Na figura do(s) Atlântico(s) Sul projectam-se, de facto, traços profundos do que foi o ultramar do ponto de vista da subjectividade portuguesa na época moderna. Espaço complexo e difícil de circunscrever, desde logo pela sua composição terrestre e marítima, o Império, por inúmeras circunstâncias que não cabe aqui examinar em pormenor, foi sempre marcado por assimetrias, contradições, distorções-contin-gentes e tácticas-que minaram na raiz a co-extensividade entre espaço e poder. Esta circunstância serviu de fundamento à construção imaginária, simbólica, idea-lizada de um império de dimensões universais a que correspondia uma soberania territorial bem mais exígua. O(s) Atlântico(s) Sul confirmam, assim, a modernidade do processo eminentemente simbólico de construção de um edifício imperial, que podemos sintetizar como uma não coincidência entre corpo político e corpo bioló-gico, entre povo e população do sistema metrópole-colónia (Vecchi, 2006: 181), e que muito deve ao movimento complexo bifronte de desterritorialização e reterritorialização simbólicas combinadas. Neste sentido, é compreensível que o(s) 1 Uso o termo simultaneamente no singular e no plural não só para evidenciar a sua complexidade incontornável através de uma forma linguisticamente congruente. Numa primeira versão do texto, tinha usado o termo em registo conceptual no singular, mas a redução à unidade da constelação de multiplicidades envolvidas era uma operação que sacrificava quase por inteiro a genealogia dispersa do(s) Atlântico(s) Sul. Julgo que a coexistência de singularidade e pluralidade que a forma escolhida proporciona consegue dar conta, mesmo que de maneira icónica e numa fase ainda incipiente de aglutinação do conceito, da aporia implícita na opção histórico-conceptual do(s) Atlântico(s) meridionais.
I. Os legados do império: memórias, penitências, agendas A revisitação das histórias imperiais e coloniais tem marcado tanto as agendas historiográficas como os debates públicos das sociedades europeias (e não só), ocupando um lugar... more
I. Os legados do império: memórias, penitências, agendas A revisitação das histórias imperiais e coloniais tem marcado tanto as agendas historiográficas como os debates públicos das sociedades europeias (e não só), ocupando um lugar importante nas discussões sobre identidades coletivas e imagi-nações (geo)políticas contemporâneas. 1 Vivemos numa «era das memórias» (Traverso, 2011). Inúmeras leis procuram governar e regular a memória, individual e coletiva, nacional, mas também global. 2 Vivemos ainda um período dominado por uma «política das exculpações», no qual o debate sobre as reparações, a «justiça tran-sicional» e a importância dos «passados» na interpretação dos vários «presentes» e na imaginação e prescrição de «futuros» sobressai, mobilizando numerosos inter-venientes com graus distintos de comprometimento político e ideológico e com modos distintos de interrogação ou instrumentalização histórica. 3 A omnipresença de uma «viagem perpétua rumo a um passado pessoal», que está associada a um * Este texto constitui uma versão revista e alargada de um outro publicado em Belchior, Ana Maria; Alves, Nuno de Almeida (orgs.) (2016), Dos«anosquentes»àestabilidadedemocrática.Memóriaeaçãopolítica no Portugal contemporâneo. Lisboa: Mundos Sociais, 91-112. 1 Nos Estados Unidos da América, a revisitação do passado imperial e colonial tem sido essencialmente historiográfica. Para os casos europeus, veja-se: Dard e Lefeuvre (orgs.) (2008), Tombs e Vaïsse (orgs.) (2010), Eckert (2009) e Howe (2010). Veja-se ainda o texto recente de Rothermund (2014). 2 Em França, a Lei de 23 de fevereiro de 2005, nos seus artigos 3. o e 4. o (este último retirado da lei em 2006), propunha sublinhar o papel dos «franceses repatriados» e inserir uma referência ao «papel positivo da presença francesa ultramarina, nomeadamente no Norte de África» nos programas escolares. 3 Para uma análise erudita que escapa à mera leitura política e politizada, veja-se Warner (2002; 2003; 2005). Para uma análise sobre o problema das reparações, veja-se Torpey (2006), sobretudo o capítulo v, para as «reparações pós-coloniais» na Namíbia e na África do Sul, e ainda Etemad (2008). Para um exemplo de três obras recentes sobre o problema da memória e das «transições» veja-se a recensão crítica de Naidu (2012).
ANTÓNIO SOUSA RIBEIRO O genocídio nazi, hoje correntemente designado por Holocausto, 1 constitui um acontecimento que não encontra paralelo na história da humanidade, enquanto marco supremo da história da violência num século XX... more
ANTÓNIO SOUSA RIBEIRO O genocídio nazi, hoje correntemente designado por Holocausto, 1 constitui um acontecimento que não encontra paralelo na história da humanidade, enquanto marco supremo da história da violência num século XX certeiramente definido como a «era dos extremos» (Hobsbawm, 1994). Auschwitz tornou-se, assim, sinónimo da violência absoluta, o signo da «ruptura civilizacional» diagnosticada por Dan Diner (1988; 2006), do abismo irreparável que a violência de massas nazi abriu em definitivo em toda a crença ingénua na ordem das coisas na modernidade. É bem sabido como essa ruptura teve influência decisiva no desenvolvimento de uma crítica da modernidade como a que encontrou expressão paradigmática na Dialéc-tica do Iluminismo, de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. Não obstante, a percepção de que o Holocausto não representou um simples acidente ou desvio no curso da história, antes constituiu a manifestação consumada de uma das possi-1 São conhecidas as ambiguidades associadas ao uso da palavra Holocausto para referir o genocídio nazi, um uso vulgarizado sobretudo a partir dos finais da década de setenta graças ao fortíssimo impacto da série televisiva norte-americana Holocaust. A principal dessas ambiguidades é, sem dúvida, a ligação a um conceito de sacrifício expiatório inscrito na etimologia da palavra (cf., por todos, Agamben, 1999). Não apenas, contudo, como lembra Jon Petri (2000), existem exemplos convincentes de um amplo uso secular da palavra pelo menos desde o início do século XX, mas também não é possível ignorar o facto de a designação estar, hoje em dia, inerradicavelmente inscrita no discurso corrente. O mais importante, como lembra Ruth Klüger, ela própria sobrevivente de Auschwitz, é que haja uma palavra «que possa ser usada sem mais e sem necessidade de qualificativos», uma palavra, em suma, que ofereça «um terreno de pensamento pacificado» no qual possa ter lugar um diálogo que faça sentido (Klüger, 1995: 353-54)-mesmo que não deva perder-se de vista que o extermínio dos judeus é apenas uma das faces extremas de uma violência que atingiu igualmente outros grupos, como os ciganos. A vulgarização do uso da palavra, usada em contextos muitas vezes controversos ou mesmo francamente inadequados (como, por exemplo, no título da obra de Robert N. Proctor sobre os malefícios do tabaco, The Golden Holocaust), é ela própria um índice da dimensão paradigmática assumida pelo genocídio nazi relativamente a outros processos marcados pela violência extrema (cf., por exemplo, Thornton, 1987; Davis, 2001; Preston, 2012; Arbex, 2013).
Margarida Calafate Ribeiro
As Voltas do Passado: A Guerra Colonial e as Lutas de Libertação
Miguel Cardina; Bruno Sena Martins (org.)
2018, Lisboa: Tinta da China, 332-337
Os museus ou são pós-coloniais ou não são nada. Reconheço desde logo o radicalismo desta afirmação. Mas ela vai permitir-me, em primeiro lugar, expor as continuidades e as descontinuidades havidas na história da criação de museus, quer... more
Os museus ou são pós-coloniais ou não são nada. Reconheço desde logo o radicalismo desta afirmação. Mas ela vai permitir-me, em primeiro lugar, expor as continuidades e as descontinuidades havidas na história da criação de museus, quer nos países europeus, onde tiveram origem, quer nos países colonizados pelos impérios europeus e nos EUA, dando particular atenção aos museus da América Latina. Em segundo lugar, a afirmação inicial define um determinado estado da arte relativo às questões do pós-colonialismo e a um certo impasse teórico em alguns setores académicos e políticos. O campo dos estudos pós-coloniais é uma criação das diásporas antilhanas, africanas e indianas educadas na Europa e nos Estados Unidos em diálogo com vários teóricos europeus e norte-americanos ou em interrogação deles. Di-lo a este propósito Kwame Anthony Appiah, que não tem dúvidas sobre uma certa conti-nuidade entre colonialismo e pós-colonialismo, ao afirmar que «os intelectuais pós-coloniais africanos estão quase totalmente dependentes do apoio de duas insti-tuições: a universidade africana, uma instituição cuja vida intelectual é esmaga-doramente concebida como ocidental, e o editor e leitor euro-americano» (Appiah: 2010: 14). Neste campo de estudos, estamos a falar das narrativas históricas e das ferra-mentas conceptuais assim estabilizadas em que a noção de tempo assenta sobre uma divisão entre: 1) um tempo anterior à colonização dos Impérios Europeus, de origem e de constituição de comunidades, com a criação das suas matrizes de funcionamento, dos seus objetos de organização das cosmogonias e dos seus rituais; 2) um tempo colonial, de subjugação e destruição destas comunidades colonizadas, de imposição de valores, línguas, técnicas, tecnologias dos ocupantes e de hegemonia cultural e, finalmente, 3) um tempo pós-colonial, frequentemente identificado com
Enquanto percorria Retornar: Traços de Memória, 1 provavelmente a maior exposição realizada até ao momento sobre os «retornados», dei com algumas fotos de um soldado da Guerra Colonial que me intrigaram de imediato. Na primeira, o... more
Enquanto percorria Retornar: Traços de Memória, 1 provavelmente a maior exposição realizada até ao momento sobre os «retornados», dei com algumas fotos de um soldado da Guerra Colonial que me intrigaram de imediato. Na primeira, o soldado, a rir, tem um bebé negro ao colo e abraça uma mulher negra a quem agarra um seio descoberto. Na segunda foto, o soldado, de pernas ligeiramente abertas, aparece por trás de uma outra mulher negra, encostando-se ao seu corpo e agarrando-a pelos seios nus. A mulher, de braços caídos, tem o corpo hirto e praticamente descoberto. No pano de fundo das duas fotos, vislumbra-se um espaço rural com casas de telhado de colmo. Na terceira foto, o soldado abraça uma jovem negra de vestido curto branco. O homem toca a zona do sexo da mulher levantan-do-lhe ligeiramente a saia, enquanto os dois sorriem para a câmara. Uma quarta foto parece captar uma família africana em que sobressai o patriarca de pé de túnica branca, hirto, rodeado por várias mulheres e crianças. No centro da foto surge o mesmo soldado, sentado e a sorrir de maneira descontraída, com uma mulher negra de olhar sério (triste?) ao colo, a quem apalpa um dos seios.
Chibanis la question
Luc Jennepin
2016, Au Diable Vauvert : Vauvert
No ano de 2003, na sequência da Guerra do Iraque, dois dos mais destacados intelectuais europeus, Jürgen Habermas e Jacques Derrida, assinaram conjunta-mente e fizeram publicar nos jornais Frankfurter Allgemeine Zeitung e Libération uma... more
No ano de 2003, na sequência da Guerra do Iraque, dois dos mais destacados intelectuais europeus, Jürgen Habermas e Jacques Derrida, assinaram conjunta-mente e fizeram publicar nos jornais Frankfurter Allgemeine Zeitung e Libération uma declaração intitulada «A nossa renovação. Depois da guerra: o renascimento da Europa». 1 O apelo teve grande ressonância e indiscutível significado. Nele se convoca a utopia de uma Europa capaz de se unir e de se refundar em torno de um programa fundamental de respeito pelo outro. Mas quem é este outro? Uma leitura atenta mostra que os autores têm em mente, antes de mais, o outro europeu. Da perspectiva de Habermas e Derrida, os muitos conflitos que marcaram e fizeram a Europa, permitindo explicar a «rica diversidade cultural» desta e levando a uma capacidade específica de lidar com a diferença, são, no essencial, conflitos intra-europeus (Habermas / Derrida, 2003: 294). Na verdade, a percepção de que uma parte fundamental da história da modernidade europeia se passou fora dos limites geográficos da Europa e, por outro lado, que a experiência colonial não transformou apenas diversas partes mais ou menos longínquas do mundo, mas revolucionou igualmente a Europa de forma radical-não sendo, por conseguinte, possível pensar o continente fora de um quadro global-, não surge nunca no texto. É apenas no breve parágrafo final que se faz referência ao facto de muitas nações europeias terem entretanto passado pela experiência da perda do império, estando, assim, em condições de «assumir uma distância reflexiva em relação a si próprias» e de assumir a responsabilidade pelo que, de modo marcadamente eufemístico, é carac-1 Numa versão um pouco diferente, o apelo viria a ser reproduzido na revista Constellations (Habermas / Derrida, 2003).
Social Inequality in the Portuguese-Speaking World - Global and Historical Perspectives
Francisco Bethencourt (ed.)
2018, Sussex: Sussex Academic Press
Ao estudar representações literárias do objeto Estado pós-colonial (Schurmans, 2014), deparei-me com a existência de um conjunto de bens simbólicos produzidos após as independências que remetiam as complexidades do Estado em questão para... more
Ao estudar representações literárias do objeto Estado pós-colonial (Schurmans, 2014), deparei-me com a existência de um conjunto de bens simbólicos produzidos após as independências que remetiam as complexidades do Estado em questão para o fracasso, noção redutora com certeza, mas que permeia um número consi-derável de romances, ensaios, filmes, etc. Ou seja, quando se trata de abordar a noção de Estado pós-colonial, coloca-se de imediato uma questão de ordem epis-temológica ou ainda de representação. Como Said mostrou para o Oriente e Mudimbe para a África negra, existe entre o sujeito e o seu objeto de estudo um vasto Texto sempre já presente, um conjunto de representações ideologicamente marcadas ou orientadas, a que o intelectual palestiniano chamava Orientalismo (Said, 1978) e o intelectual congolês Gnose (Mudimbe, 1988). 1 Ambos discriminaram e descreve-ram as genealogias do Orientalismo e da Gnose, o seu contexto epistemológico, as suas características discursivas e o seu conteúdo temático. Ambos se apresentam como incontornáveis para o estudo das representações do Sul enraizadas num certo Norte. O que aqui me interessa particularmente é a existência de um Texto de cariz e conteúdo colonial que tem sido escrito depois das independências e que visa 1 Não será assim tão surpreendente o facto de muitos especialistas das Áfricas abrirem os seus textos com uma reflexão relativa à representação. Philippe Hugon, por exemplo, dedica as primeiras páginas da sua Géopolitique de l'Afrique a uma análise da representação do continente. Mesmo se for difícil desfazer-se da carga ideológica que acompanha os discursos ocidentais nesta matéria, é por aqui que é preciso começar: «A geopolítica da África começa por jogos de representação e de denominação mas igualmente de concetualização» (Hugon, 2006: 7).
A presença da Guerra Colonial (1961-1974) na memória da democracia portu-guesa constituiu, durante muito tempo, algo próximo daquilo que a Michael Taussig chamou «segredo público», ou seja, «algo que é comummente conhecido, mas que não... more
A presença da Guerra Colonial (1961-1974) na memória da democracia portu-guesa constituiu, durante muito tempo, algo próximo daquilo que a Michael Taussig chamou «segredo público», ou seja, «algo que é comummente conhecido, mas que não pode ser articulado» (Taussig, 1999: 6). Embora matizado por uma crescente visibilidade em anos recentes, o lugar residual ou fantasmático a que Guerra Colonial ocupa no senso comum permanece. É exatamente esse pano de fundo que pretendo contrapor às vidas que denunciam a insustentabilidade de um tal segredo. Neste texto, procuro centrar-me no modo como a experiência dos veteranos de guerra, feridos durante o conflito armado, constitui um reduto da memória da violência colonial. Através dessa leitura, fortemente ancorada num saber incorpo-rado da permanência da guerra naqueles que a combateram, procuro contrapor esse «segredo persuasivo» forjado na memória pública às memórias e narrativas por ele subjugadas. A milhares de quilómetros das frentes de combate, quatro décadas após o fim das hostilidades, no âmbito de projetos de investigação 1 realizados numa parceria 1 Este trabalho beneficiou de Fundos FEDER através do Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) e de Fundos Nacionais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no âmbito dos projetos
Geometrias da memória: configurações pós-coloniais
António Sousa Ribeiro | Margarida Calafate Ribeiro (org.)
2016, Porto: Afrontamento
Léxico Concetual Luso-Brasileiro
Ivan Domingues e Roberto Vecchi (org.)
2018, Belo Horizonte: Editora UFMG