UPPs (Pacification Police Units)

Esta dissertação tem como foco as questões sobre a tríade: segurança pública, mídia e violência, relacionada à primeira fase do processo de pacificação de favelas do Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, realizada em novembro de 2010. A ação policial-militar do Estado teve apoio do governo federal com uso das Forças de Pacificação do Exército e se tornou símbolo do programa de segurança pública denominado Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Através da mídia, a ação agenda a construção discursiva de uma metáfora de paz promotora de novos sentidos para a cidade anfitriã de importantes megaeventos esportivos internacionais como a Copa do Mundo (2014) e Jogos Olímpicos (2016). A pesquisa busca as linhas de conexão e encaixe entre o que é dito, silenciado e o que é compreendido como paz na prática dos operadores do Estado. Por meio de observação participante no conjunto de favelas do Complexo do Alemão e a análise do discurso da cobertura jornalística do periódico O Globo, essa dissertação promove uma reflexão sobre a representação das favelas e a segurança pública na cidade do Rio de Janeiro.

La première Unité de Police Pacificatrice (UPP) est apparue à Rio de Janeiro au mois de décembre 2008 dans la favela de Santa Marta. Depuis lors, ce ne sont pas moins de 38 unités qui ont vu le jour au sein de la mégapole brésilienne, hôte de la Coupe du Monde 2014 et des Jeux Olympiques 2016. Après des décennies perdues de « guerre contre le crime », le projet UPP offre un nouvel angle de vue sur la question sécuritaire des favelas, du trafic de drogue et des violences urbaines plus globalement. C'est assez logiquement que ce projet de grande ampleur initié par l'ex-gouverneur Sérgio Cabral Filho s'est directement placé au centre des débats en matière de sécurité publique à Rio. Les plus optimistes voyaient en ces UPP la solution à tous les maux cariocas, le changement de paradigme tant attendu pour en finir une fois pour toutes avec ces décennies perdues. Porteur d'un espoir de renouveau, l'UPP n'a pas réellement su répondre à ces attentes. A l'inverse, le projet a rapidement perdu de sa superbe, pour entrer depuis plusieurs années déjà dans une grave crise existentielle. Ce travail de fin d'études est le fruit d'une enquête de terrain assidue durant six mois, portée sur deux favelas de Rio de Janeiro : Rocinha et Santa Marta.  Au cœur de cette analyse, trenteet-un entretiens qui s'articulent et s'intègrent dans un champs théorique vaste et complexe qu'est l’interactionnisme symbolique. Les concepts de grands sociologues tels que Erving Goffman, Anselm Strauss ou encore Georges H. Mead me serviront à mettre en lumière des jeux d'influences et des rapports de forces qui s'appliquent aux relations entre agents des UPP et habitants des favelas. Une meilleure compréhension des différentes perceptions devrait pouvoir en ressortir.  Malgré les contraintes de temps et d'espace, nous espérons pouvoir amener un éclairage supplémentaire sur ce projet sécuritaire singulier mais aussi, et plus largement, sur la problématique des favelas de Rio de Janeiro. Le contexte particulier de notre enquête, qui s'est déroulée durant les mois qui ont suivi la fin des JO 2016, a permis de souligner la tendance à la disparition des UPP. Crise de légitimité, corruption et factions criminelles font encore bel et bien partie du décor tant à Rocinha qu'à Santa Marta. Si les études statistiques ont tendance à démontrer une légère amélioration de la situation dans les favelas qui comptent une UPP depuis plus longtemps, notre travail qualitatif  aura permis de contre-balancer certains éléments et d'en confirmer d'autres.

Scholars argue that military ideologies, discourses, and practices are increasingly deployed in poor urban areas to control populations deemed " dangerous. " However, very little research exists to document how residents in targeted neighborhoods experience these security interventions. This article addresses this gap by considering the case of Rio de Janeiro's UPP Program, wherein the military police occupied several of Rio de Janeiro's favelas, or low-income marginalized neighborhoods, beginning in 2008 in order to expel drug traffickers who had controlled these areas since the 1970s and install permanent policing precincts. While many studies suggest that the urban poor tend to reject aggressive policing practices, the UPP received widespread approval by favelas in the first years of the occupation. This article draws upon ethnographic fieldwork conducted in the City of God, one of the first neighborhoods occupied by the UPP, to examine the factors underlying residents' positive assessment of the UPP. I found that support for the UPP hinged on (a) its deviation from the historically brutal and ineffective military interventions within the neighborhood; (b) the UPP's ability to subdue violent drug traffickers and restore public security; (c) state investments in social services and resources attribute to the occupation; and (d) the race, gender, and age profiles of participants, wherein women, the elderly, and lighter-skinned residents reported greater approval for the UPP than young black men. Ultimately, these findings suggest that variability between security interventions, their impact on public security and social development, and diversity within targeted neighborhoods must be considered if we are to fully understand how the urban poor experience militarized security interventions. Acknowledgements:

During the 2016 World Economic Forum, the strategy of pacification in Rio's favelas was recognized as the most innovative public security policy in the last decade. From this scenario, and using Competition State-Making , this paper analyzes, under a qualitative approach, the design and implementation of that initiative. Then, we seek to assess its results after implementation, and finally outline main lessons to extract from the Brazilian case. The main conclusion of this survey is that the Brazilian pacification strategy was based on three pillars: operational decriminalization; adoption of comprehensive approach; and coordination between three government levels (federal, state, and municipal).

http://www.rivisteweb.it/doi/10.1447/78785

In 2008, the local government of Rio de Janeiro began the implementation of the Pacifying Police Units (Upps) program in the city’s favelas, Brazil’s informal settlements. The program was first promoted as a new community police initiative, but ultimately came to be rebranded as a proximity policing program. The purpose of this article is to explain this shift and how community policing and proximity practices have being implemented. Data collected from an ethnographic study support the analysis of the relations with community members, decentralization of police powers, prevention of crime and delivery of social services inside the pacified favelas.

In preparation for the mega-events of 2014 and 2016, the city of Rio de Janeiro has been going through a permanent shock of agenda, characterised by important urban reengineering projects, population removal and favela (shanty town) pacification. This essay explores the Rio of (sports and other) mega-events and questions the place of the social, in a paradigm marked by futurism and by techno-culture that may be announcing a new political economy: the political economy of mega-events.

The Pacifying Police Units, rolled out in Rio de Janeiro ahead of the 2016 Summer Olympics, were part of a police intervention conceived to end the logic of war that characterized the city's public security policies. As such, it adopted "soft " strategies of policing aimed at reducing violence and asserting state sovereignty in "pacifi ed" favelas. Drawing on a postcolonial framework of analysis, we argue that these favelas can be understood as sites for experiments in imperial statecraft , where a new set of socio-moral relations that we call police moralism were inscribed onto spaces and bodies. Pacifi cation, in this context, means the reassertion of Brazil's historical racial order. In our conclusion, we read the moral order implemented in the favelas as a prefi gura-tion of President Jair Bolsonaro's right-wing authoritarianism on a national scale.

Neste artigo analisamos o processo de pacificação do Complexo do Alemão realizado em  2010, a partir da cobertura do processo de pacificação publicada em O Globo para instalação das UPPs. O objetivo é desvelar os efeitos discursivos da produção de sentidos midiática da pacificação das favelas do sobre o Complexo do Alemão apresentada pelo periódico como o espaço de representação do mal e inimigo. Acreditamos que esse discurso midiático ocasionou a legitimação das ações da política de segurança do Rio de Janeiro no corpo da representação da violência urbana apresentada pelo jornal enquadrado como a Guerra do Rio”. Promovendo a produção de um discurso de verdade e poder que fomentou a credibilidade da política de segurança pública perante a opinião pública para instalação de uma cultua do controle e da ordem e a estigmatização do espaço favelado do Complexo do Alemão.

Este trabalho discute como a homogeneização do tecido urbano da cidade do Rio de Janeiro na Zona da Leopoldina promove uma estigmatização do espaço público como lugar político e social com a implantação da política de segurança pública das Unidades de Polícia Pacificadoras nos espaços de favelas. A partir do medo da violência, da fala do crime e das ações de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro, em especial no Complexo do Alemão, há uma construção de campos simbólicos de reprodução de discursos políticos e sociais na antropologia urbana da região. Principalmente, a partir do discurso da mídia como palco dos valores de uso e troca do direito à cidade, regulando a percepção simbólica de classe e implantação de muros invisíveis de controle social da pobreza nos espaços de favelas. Tornando assim, as UPPs muros invisíveis de segregação social e do controle da ordem em prol da paz no tecido urbano social dos espaços não favelados da cidade do Rio de Janeiro.

In preparation for the mega-events of 2014 and 2016, the city of Rio de Janeiro is experiencing a permanent clash of agenda, characterized by important urban reengineering projects, population removal and slums pacification. This essay explores the Rio of (sports and other) mega-events, and questions the place of the social in a paradigm marked by futurism and by technoculture that perhaps is announcing a new political economy: the political economy of mega-events.

Desde el 2008 en Río de Janeiro se ha puesto en práctica una nueva política de seguridad pública: la pacificación de las favelas. Esta consiste en la tomada de control, por parte de las Unidades de Policía Pacificadora (UPPs), de algunas de las favelas ocupadas por grupos criminales fuertemente armados. El presente artículo demuestra
que, contrariamente a lo que afirman las instituciones locales, la pacificación de las favelas no tiene como objetivo principal “llevar la paz” dentro de territorios urbanos caracterizados por altos índices de violencia. Aquí se sostiene que las UPPs hacen parte de una estrategia más amplia de reducción de la visibilidad de la violencia y, en consecuencia, de la fama de Río de Janeiro de ser una ciudad peligrosa.

Creating the Image of a Safe City: Reduction of Visible Violence in
Rio de Janeiro

Abstract:
Recently, a new policy of public security has been instated in Rio de Janeiro, aiming for the pacification of the “favelas”. This policy gives control to the UPP (Pacifying Police Units) of some favelas occupied by heavily armed groups. This article shows that, contrary to what local institutions declare, the pacification processes in the favelas do not actually seek “bringing peace” to these urban territories characterized by a high index of violence. In this article, it is argued that the UPPs are part of a bigger strategy which aims to reduce the visibility of violence, and, as a result, the common perception of Rio de Janeiro as a dangerous city.

(English abstract below)
Resumo – Uma ideia central da criminologia materialista é que a po-
lítica penal de uma determinada sociedade – o que é crime, quanto
e como se pune – não resulta de concepções jurídicas, mas é função
de sua viabilidade e necessidade econômica. Partimos dessa ideia
para analisar a transição histórica sucessiva de três paradigmas pu-
nitivos da sociedade moderna – os castigos físicos, os trabalhos forçados e o encarceramento. Seguindo e desenvolvendo as leituras de Rusche/Kirchheimer, esses paradigmas são apresentados como políticas de Estado relacionadas a alterações no regime de acumulação capitalista e da demanda de força de trabalho. Esse raciocínio é  stendido a formas contemporâneas de política penal – em especial, o controle territorial de espaços de pobreza pela polícia no município do Rio de Janeiro – para sugerir um quarto paradigma dessa política, ligado a alterações no sentido econômico da população no capitalismo contemporâneo.

Abstract – A central idea in materialist critical criminology is that the
criminal policy of a given society – what constitutes a crime, the amount
and form of punishment – does not result from legal concepts, but
is due to its feasibility and economic necessity. We take this idea as
a starting point to analyze the successive historical transition of three
punitive paradigms of modern society – physical punishment, forced labor, and imprisonment. Following and developing readings of Rusche/
Kirchheimer, these paradigms are presented as state policies related
to changes in the regime of capital accumulation and in the demand
for labor force. This reasoning is extended to contemporary forms of
criminal policy – in particular, the territorial control of poverty areas
by the police in the municipality of Rio de Janeiro – to suggest a fourth paradigm of this policy, linked to changes in the economic significance of
population in contemporary capitalism.

http://www.francoangeli.it/riviste/Scheda_Rivista.aspx?IDArticolo=53243&Tipo=Articolo+PDF&lingua=it&idRivista=51

Rio de Janeiro si sta preparando ad ospitare i più grandi eventi sportivi dei prossimi anni: i mondiali di calcio nel 2014 e le Olimpiadi nel 2016. Nel dicembre 2008, con la giustificazione di voler raggiungere misure di sicurezza adeguate ad ospitare questi eventi, la città ha dato vita al processo di “pacificazione” delle favelas. Questo processo consiste nell’occupazione militare di aree urbane che per decenni sono state dominate dai comandos del narco-traffico.
Nelle favelas pacificate però non si è verificata una netta sostituzione tra metodi violenti di gestione del territorio, adoperati da parte delle gang della droga, e metodi non violenti adoperati da parte della polizia. Questo articolo cerca di rispondere alla scomoda domanda che i ricercatori sociali hanno evitato di porsi in modo diretto dal momento in cui è iniziato il processo di pacificazione: i residenti delle favelas  percepiscono come più accettabile il dominio delle gang rispetto all’attuale occupazione militare?

Parole chiave: Pacificazione, Favelas, Rio de Janeiro, Consapevolezza Giuridica, Violenza

Key Words: Pacification, Favelas, Rio de Janeiro, Legal Consciousness, Violence