O programa, como uma pequena publicação que acompanha um evento social, não é um privilégio das artes cênicas, nem da música, nem das artes plásticas, tão pouco do cinema. A publicação programa é originária de qualquer cerimonia social,...
moreO programa, como uma pequena publicação que acompanha um evento social, não é um privilégio das artes cênicas, nem da música, nem das artes plásticas, tão pouco do cinema. A publicação programa é originária de qualquer cerimonia social, seja ela civil ou militar, laica ou religiosa, artística ou política, de expressão individual ou coletiva, privada ou pública. Sendo assim, o programa é natural dessas cerimônias sociais, apesar de não ser obrigatória a sua existência. Nesse sentido, lembre-se a opinião do coreógrafo Maurice Béjart, que dizia não gostar de programas pois tudo que ele tinha a dizer já havia sido dito pela obra coreográfica. Entretanto, como veremos a seguir, o programa pode falar mais do que simplesmente " repetir " , em palavras, o que o discurso criativo sugere. O meu interesse pelos programas de espetáculos teatrais surgiu, em primeiro lugar, do estudo de alguns prefácios, escritos pelos próprios autores para edição de suas peças. Esse comentário, mormente entendido como paratextual, sobre a obra dramática, sobre o texto teatral em si, escrito pelo próprio dramaturgo, em diferentes períodos da história do teatro ocidental, me levou a pensar sobre os meios de expressão dos agentes criativos na cena teatral, hoje. Sobretudo quando se pensa na diversidade de concepções e experiências que passam a condicionar inclusive o que, tradicionalmente, denominou-se de dramaturgia, ao longo da história do teatro. Foi assim que me debrucei sobre esse objeto bastante periférico em relação aos estudos teatrais contemporâneos: o programa de teatro ou a revista programa de espetáculos, dentre outras denominações possíveis. Apesar de já haver elaborado algumas análises sobre o programa de teatro no âmbito de nossa cultura teatral, passei à apreciação de programas no âmbito estrangeiro, defrontando-me com projetos editoriais distintos que, entretanto, suscitavam problemas similares 1. 1 Graças a um convite do Professor Marvin Carlson da CUNY e de uma bolsa de Estágio Pós-Doutoral da CAPES, pude consultar uma série de acervos que reúnem programas de teatro de grande parte da produção do teatro ocidental, com ênfase para produção teatral dos Estados Unidos e de países da Europa Ocidental. Os acervos visitados foram: as seções de obras raras da Harward University, Brown University e da Biblioteca Pública de NY Perform Arts. Já na França, o acervo da Biblioteca Gaston Baty da Universidade Paris III, da Comédie Française e da Biblioteca do Arsenal. No Brasil, o Centro de Documentação da FUNARTE possui um acervo sobre o teatro brasileiro do final do século XIX e início do século XX, bem como o Museu dos Teatro do RJ que disponibiliza alguns exemplares na internet e, em São Paulo, a Biblioteca Raul Cortez da Escola Superior de Teatro Célia Helena, igualmente, disponibiliza significativa coleção de programas teatrais. Na internet podem ser localizadas diversas bases de dados. E xemplos podem ser encontradas na Base Gálica da BNF em Paris e no Albert e Victoria Museu de Londres.