Após a deflagração da Independência, em 1822, alguns entraves dificultaram o objetivo de conservar o imenso território do nascente Império do Brasil, tal como se mantivera no período colonial. As capitanias, agora províncias, retinham...
moreApós a deflagração da Independência, em 1822, alguns entraves dificultaram o objetivo
de conservar o imenso território do nascente Império do Brasil, tal como se mantivera no
período colonial. As capitanias, agora províncias, retinham em seu bojo diferentes atores,
agrupados em tradicionais famílias da terra, cujos interesses e projetos não
necessariamente convergiam com as determinações do novo centro governativo, o Rio de
Janeiro. Esse era o caso do Maranhão, província de ascendente economia embasada na
agroexportação e no tráfico de africanos, cujas rendas estavam mantendo a Corte lusitana
há alguns anos, mesmo sob constantes reclamações acerca do peso dos impostos, da
balança comercial e da interferência dos negociantes advindos da Grã-Bretanha. Embora
a resistência ao projeto independentista tenha sido suplantada em 1823, resultando na
“adesão” da província, longo foi o caminho trilhado pelos seus novos representantes,
membros das famílias da terra, para consolidar um espaço de negociação que
possibilitasse a incorporação das suas pretensões. A fim de mapear e analisar esse moroso
processo de enquadramento das famílias da elite do Maranhão ao corpo político imperial,
nos focamos no período de Primeiro Reinado e Regência, quando a finalização das
primeiras eleições possibilitaram o envio de seus representantes à Assembleia Geral,
enquanto na província iniciavam as sessões do Conselho de Presidência, geralmente
denominado de Conselho Presidial pelos seus contemporâneos, e do Conselho Geral do
Maranhão. Trabalhando junto ao presidente de província, essas instituições reuniram
cidadãos da própria localidade com o intuito de tratar dos “negócios” de seu interesse,
construindo, destarte, o novo âmbito de poder regional que cumpriu o vital papel de
dinamizar as comunicações com a Corte. Um olhar mais acurado desvelou que a nova
agenda constitucional não inaugurou as disputas de poder na província. De fato, os
representantes da elite já se empenhavam em participar da administração burocrática
desde meados do século XVIII. A partir de 1823, facções e identidades políticas foram
adaptadas e mobilizadas para disputar o acesso aos postos administrativos e fiscais. Por
outro lado, observamos a permanência de certas práticas e estratégias, arquitetadas sob a
égide das antigas famílias da terra e de suas redes de sociabilidade, cujas “qualidades” e
aptidões investidas até ali foram ajustadas a fim de manter e ampliar seus status e
privilégios. A repercussão desse jogo de poder no Maranhão ultrapassou suas fronteiras,
impelindo a constituição de uma intricada rede de relações, que pautou as alianças e
propostas em meio ao processo de integração ao Estado imperial. Alternando diferentes
escalas (institucional e social, individual e familiar, “regional” e “nacional”), a presente
tese objetiva investigar de que forma esses atores e grupos (políticos e familiares) da elite
lutaram para se articular e se readaptar diante de novas conjunturas, ao mesmo tempo em
que foram capazes de viabilizar a unificação do território e o fortalecimento de uma
autoridade centralizada, que se perpetuou como o Império do Brasil.
Palavras-chave: Império do Brasil; província do Maranhão; Conselhos provinciais; elites; famílias.