Resumo: Neste artigo, nosso propósito é refletir sobre duas situações nas quais as autoridades eclesiásticas, quando confrontadas, buscaram estigmatizar seus adversários mediante uma argumentação eivada de metáforas médicas. Na primeira...
moreResumo: Neste artigo, nosso propósito é refletir sobre duas situações nas quais as autoridades eclesiásticas, quando confrontadas, buscaram estigmatizar seus adversários mediante uma argumentação eivada de metáforas médicas. Na primeira delas, vemos Cipriano, bispo exilado de Cartago sob o governo de Décio, tratar os lapsi como uma moléstia que colocava em risco a pureza da fé cristã num contexto de perseguição ao cristianismo. Na segunda, lidamos com o caso de João Crisóstomo, que, na condição de presbítero e principal pregador da igreja de Antioquia, se dedicou, em finais da década de 380, a condenar os judaizantes como responsáveis por disseminar o contágio entre os fiéis de sua congregação. Ambos os exemplos nos revelam o quanto a cristianização do Império Romano se fez por intermédio de um confronto discursivo no qual uma das imagens mais poderosas foi a associação entre dissenso religioso e patologia, manejada ad nauseam pelas facções cristãs com o propósito de fortalecerem a sua própria posição. Abstract: In this article, our main purpose is to discuss two cases in which the ecclesiastical authorities, when defied, sought to label their opponents by means of an argumentation soaked into medical metaphors. In the first case, we try to