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Sandro Tôrres de Azevedo Aline Frederico ORGS. relatos da EXTENSÃO criatividade e resistência em tempos de pandemia VOL. 1 relatos da EXTENSÃO criatividade e resistência em tempos de pandemia III reitora Denise Pires de Carvalho vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha pró-reitoria de graduação Gisele Viana Pires pró-reitoria de Denise Maria Guimarães Freire pós-graduação e pesquisa pró-reitoria de planejamento, Eduardo Raupp de Vargas desenvolvimento e finanças pró-reitoria de pessoal Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca pró-reitoria de extensão Ivana Bentes Oliveira pró-reitoria de gestão André Esteves da Silva e governança pró-reitoria de Roberto Vieira políticas estudantis prefeitura da ufrj Marcos Benilson Gonçalves Maldonado pró-reitora de extensão Ivana Bentes Oliveira superintendente de formação Ana Inês Sousa acadêmica de extensão superintendente de integração Bárbara Tavela da Costa e articulação da extensão superintendente Sheila Camlot administrativa de extensão coordenadora Beatriz Moreira de Azevedo de comunicação Porto Gonçalves assessora especial Margareth Cristina da pró-reitoria de Almeida Gomes Sandro Tôrres de Azevedo Aline Frederico ORGS. relatos da EXTENSÃO criatividade e resistência em tempos de pandemia PREFÁCIO DE Ivana Bentes Copyright © 2022 Universidade Federal do Rio de Janeiro / Pró-Reitoria de Extensão. O conteúdo dos textos desta publicação é de inteira responsabilidade de seus autores. organização e edição executiva Sandro Tôrres de Azevedo Aline Frederico comitê científico Ana Cristina Barbosa Andrade Ana Inês Sousa Ana Paula Santos da Silva de Oliveira Débora Henrique da Silva Anjos Filipe Boechat Francisco Thiago Sacramento Aragão Maria Clara Amado Martins Miriam Gandelman Roberta Pereira Coutinho Sandra Maria Becker Tavares Sandro Tôrres de Azevedo Thadia Turon editora assistente Laira Moreira capa Júlia Menezes projeto gráfico Matheus Nogueira diagramação Aline Matias, Clara Luz, Júlia Menezes, Laira Moreira, Matheus Nogueira revisão Amanda Ariani Ferreira da Silva, Ana Luiza Soares Benevenute, Beatriz Girão Albuquerque, Brenda Christine Barbosa Sayão, Brígida Adriely R. M. M. Carvalho, Clara de Moraes Souza, Dominique Alves J. M. do Nascimento, Emanuela V. S. Botelho, Fernanda Kopke Reis, Julia Maria Barcelos Soliva, Lalia Crystian do N. de Souza, Leandro Reis Franco Vieira, Luma Macedo Buchbinder, Thayane Correia Lima Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R382 Relatos da extensão: criatividade e resistência em tempos de pandemia / Sandro Tôrres de Azevedo, Aline Frederico [organizadores] ; prefácio de Ivana Bentes. - Rio de Janeiro: UFRJ, Pró-Reitoria de Extensão, 2022. v.1 (304 p.) ISBN 978-65-84554-02-3 (on-line) 1. Extensão universitária - Atividades. 2. Comunicação digital 3. Mídia social. 4. Pandemias. I. Azevedo, Sandro Tôrres de. II. Frederico, Aline. III. Bentes, Ivana. IV. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pró-Reitoria de Extensão. CDD: 378.1 Elaborada por Adriana Almeida Campos CRB-7 4.081 Universidade Federal do Rio de Janeiro / Pró-reitoria de extensão – PR5 Praça Jorge Machado Moreira, s/nº, Cidade Universitária, Rio de Janeiro, RJ CEP: 21941592. Tel. (21) 3938-0482 / (21) 3938-0494 / (21) 3938-061 E-mail: gabinetepr5@pr5.ufrj.br SUMÁRIO prefácio Terra Virtual: o desafio de fazer comunidade 1. A presença de um periódico científico nas redes sociais digitais: criação de ações informativas para o fomento da comunicação científica e divulgação científica no ciberespaço 2. Acessibilidade comunicativa em produções audiovisuais: Projeto de extensão TradInter Lab - laboratório de tradução audiovisual acessível e interpretação Libras < > português 3. Ações remotas XIII 1 Gustavo Henrique de A. Freire Marcus Vinícius de A. Guimarães Raimunda Fernanda dos Santos 13 Adriana B. de Souza Naila de O. Ferreira Daniel M. Pereira Valeria F. Nunes Flávio Matheus Rosa 23 em prol da conservação e do uso sustentável da Baía da Ilha Grande Ivana Bentes Bruno V. L. Siqueira Andrea O. R. Junqueira Bernardo de la Vega Marcella T. Pinto Maria Teresa M. Széchy 4. Acontece no IFCS: A iniciativa que virou projeto de extensão durante a pandemia 5. Anatomia com criatividade: atividades do projeto de extensão Ciência para a sociedade em meio a pandemia 35 Patrícia C. P. da silva 45 Ludmila R. de Carvalho Amanda D. do C. Santone Daniel C. M. da Cunha Luis Gustavo C. Leitão Letícia de O. Ribeiro Emmanuel G. V. Rodrigues 6. Aprender com o cinema: interdisciplinaridade, ciências ambientais e educação VII 59 Rafael N. Costa Maria Júlia B. de Araújo Bruno V. Vasconcelos 7. Articulação entre propaganda e saúde: a campanha de prevenção da gravidez na adolescência do Compasso 8. Atitudes sustentáveis em tempos de pandemia 71 Sandro T. de Azevedo 85 Helena C. L. Brandão Luciana F. Murgel Patrizia di Trapano Sonia S. Costa 9. Conexões, conversas e afetos: notas sobre um evento de extensão intercultural 10. Conhecimento em ação nas redes sociais digitais: práticas de gerenciamento de conteúdos para a divulgação científica 11. Construindo uma casa 93 Lucas Barroso Mariane Barbosa 105 Gustavo Henrique de A. Freire Hugo S. Pinto Rafael G. Assunção Raimunda Fernanda dos Santos 117 de farinha com assentados da reforma agrária: tecnologia social e educação popular em tempos pandêmicos Daniella Assemany Maurício A. N. de Oliveira Camila R. Laricchia Rute R. da S. Costa Marcel M. Biangolino 12. Direitos humanos, saúde mental e racismo: diálogos a partir do pensamento de Frantz Fanon 127 Rachel G. Passos Patricia C. Magno Arthur Coutinho Giselle Moraes Malú R. Vale Giulia de C. L. de Araujo 13. Encontros on-line: 135 estudos surdos João Paulo F. da Silva Daniel M. Pereiras Fernanda G. A. Soares Valeria F. Nunes VIII 14. Extensão na quarentena: 145 a experiência do projeto Participação Sociocultural da População Idosa Claudia R. A. de Carvalho Marcus Vinícius S. Peres Karina A. N. de Oliveira Amanda C. Mendonça 15. O teleatendimento e o Instagram “@diskcovid19” como ferramentas de diálogo com a população em tempos de pandemia: relato de experiência de estudantes extensionistas 16. O uso das mídias sociais no ensino-aprendizagem sobre o corpo humano 155 Alessandra A. F. de Figueirêdo Lucas P. de Amorim Bruna do N. Vilela Renata de C. Rojão Iza R. Mello Taís C. dos S. Silva Joelma M. Teixeira Stella A. Benjamin Nathanielle S. de Andrade Juliana S. e Silva Peri B. Gobbi Maria Luiza S. do Nascimento Rafael N. Suzuki Fernanda P. de P. Freitas Ramon W. H. Gutierrez Ana Karolina de C. Paiva Renato C. de Pinho 165 Beatriz Z. Lupepsa Fabrício L. S. Silva Gabriel L. Anthero Letícia N. B. da Silva Renata B. da Silva Flávia B. Mury Elane da S. Ribeiro Cintia M. de Barros 17. Olimpíada Brasileira 177 de Neurociências: desafios e experiências no processo de virtualização Aliny Carvalho João Vítor G. Esteves Anna Luíza de L. Lemos Hugo Marins Gláucio Aranhao Alfred Sholl-Franco IX 18. Produção de sentidos na construção coletiva de programetes para mídias sonoras: o Sistema Único de Saúde, as(os) estudantes da área da saúde, a pandemia de covid-19 189 Nilcéia N. de Figueiredo Valéria F. Romano Luan L. S. H. do Amaral Ana B. de O. R. Duarte Lucas E. da Silva Dorinda D. A. Ntiamoah Wendy A. Pereira Larissa F. de Oliveira Clara J. de J. Nascimento Gabriela J. N. Figueiredo Victor S. Lopes Ana Caroline M. Cordeiro Nayara F. de A. Oliveira Thaynara V. da Costa Eduardo Matheus Z. da Silva Lara Eduarda S. do Amaral 19. Projeto Conhecendo o Cenabio - Ciência, Arte & Educação em parceria com a Escola Inkiri: experimentos científicos feitos em casa em tempos pandêmicos 201 Isalira P. R. Ramos Danielle F. S. Ferraz Ronald S. Silva Ana Beatriz V. de Araújo Isabela D. Paiva Camila Victória S. Oliveira Renata Travassos Daniel M. dos Anjos Adalberto Vieyra 20. “Quem tem medo do 213 coronavírus?”: ludicidade e esperança em tempos pandêmicos Melissa R. Teixeira Barbara V. M. Forte Isadora S. C. Ribeiro Fernanda M. V. O. de Avila Luisa B. de M. Rezende Gabriela B. S. Maior Helena F. Strattner Patricia A. de Oliveira Amanda O. Ferreira X 21. Saúde da mulher: relato de experiência sobre projeto de extensão durante a pandemia 225 Giulia R. Lopes Kiara R. Heringer Carla C. da S. Sant’ana Lara P. Lopes Helene N. H. Blanc Milena B. Carneiro Taís F. de Almeida 22. Tecnologias digitais, formação e a relação com a sociedade na pandemia por covid-19: visibilidade e reconhecimento público das pessoas com albinismo 23. Uma extensão universitária antimanicomial, antirracista e feminista: um breve relato em tempos pandêmicos 235 Nereida Palko 247 Melissa de O. Pereira Lilian Kimura Rachel G. Passos Priscila F. da Silva Amanda R. F do Lago Jessica T. da Silva Nathalia G. de S. D. E. Meyer Priscila M. N. de Oliveira 24. Uma imagem, uma mensagem… expressões de profissionais de saúde no contexto da covid-19 25. Viva Tradição Viva – Nossos Saberes Vêm de Longe: um seminário mandingueiro que lhe chama ao pé do berimbau 26. Voos: conhecendo e contemplando a biodiversidade da UFRJ 253 Neide E. K. e Silva 265 Bruno Rodolfo Martins 279 Cássia C. Turci César Augusto Paro Silvia L. Martins Graça Lima Jeanine Geammal Anael Alves XI PREFÁCIO TERRA VIRTUAL: O DESAFIO DE FAZER COMUNIDADE Ivana Bentes, Pró-reItora de extensão da UFrJ A inda estamos processando e entendendo os reais impactos que a pandemia da covid-19 produziu no cenário global, no Brasil e também no campo da educação e da formação. O certo é que a crise de saúde, a crise humanitária e as incertezas em todos os níveis se tornaram um acontecimento divisor, que nos faz ver o que uma época tem de singular e de intolerável e fez emergir novas possibilidades de pensar a vida, os processos cotidianos, a forma de estarmos juntos e os processos de ensino e de aprendizado. Ao longo desta pandemia – que teve momento traumáticos e atingiu quase 700 mil mortos no Brasil, em outubro de 2022 – milhares de estudantes, professores e técnicos tiveram que interromper suas rotinas dentro e fora das salas de aula. Mais de 1,5 bilhão de estudantes foram afetados, segundo a Unesco, com a suspensão das aulas presenciais e a necessidade do isolamento social para mitigar a contaminação pelo vírus da covid-19. Diante desse cenário de virtualização da vida (para os que podiam ficar em isolamento), um novo desafio se impôs: reinventar e repensar os espaços de convivência, de trabalho e de produção do conhecimento e, de forma massiva, achar soluções para experiências de educação virtual ou remota, retomar as experiências de Educação a Distância (EAD), utilizar toda a inteligência coletiva e as tecnologias de comunicação para tentar mitigar o que foi uma provação coletiva. O que fazer quando a vida da espécie está ameaçada e é preciso parar ou desacelerar? Muitas estratégias e conflitos se deram entre a necessidade de ficarmos em casa e a de mantermos ações emergenciais que sustentassem a vida. Na educação, não foi diferente, e muitos debates foram travados até se chegar a alguns consensos, como mitigar o isolamento social por meio de tecnologias de comunicação, plataformas e redes sociais. Experimentamos uma explosão de lives para todos os fins, buscando minorar o isolamento com um encontro ao vivo remoto. XIII Na extensão universitária, de uma hora para outra, centenas de ações emergenciais de extensão forma propostas na UFRJ, ancoradas nos princípios do encontro de saberes, das trocas, do dialógico, da empatia e do sentido da urgência, e buscando nas tecnologias comunicacionais um meio para responder a um cenário difícil e ameaçador, que produziu traumas coletivos. As ações de extensão puderam acontecer via plataformas e ambientes on-line, estratégias de inclusão digital e tecnológica tiveram que ser tomadas, como a disponibilização de kits multimídias quando a UFRJ lança, em junho de 2020, um programa de inclusão digital para ensino remoto emergencial, permitindo acesso gratuito à internet para que alunos pudessem participar de atividades acadêmicas on-line. Estar juntos, mesmo que à distância e em ambientes virtuais, foi decisivo não apenas para dar continuidade ao processo de formação, mas permitiu manter a cola social, o sentido de coletividade diante de uma crise humanitária, social e de saúde pública. Esse momento histórico difícil também nos levou a outros debates decisivos, aos quais os relatos apresentados neste livro respondem. Como a extensão universitária, um campo desengessado, menos disciplinar e mais interativo, que já atua para além da sala de aula, poderia pensar estratégias de comunicação dialógicas, reinventando as comunidades virtuais de aprendizagem para além das experiência tanto do ensino tradicional quanto da EAD, a Educação a Distância, tal como conhecemos? Para reduzir o impacto do isolamento social, a Extensão da UFRJ lançou a campanha Extensão Virtual estimulando a continuidade das ações de extensão presenciais de forma virtual e a criação de novas ações que respondessem ao cenário de crise, trazendo informações científicas, ações de apoio e de cuidados, ações inovadoras e ampliando a noção de “divulgação científica” para a de “comunicAção”, ações de mídias e comunicação com interação e impacto nos territórios. Relatos da Extensão: Criatividade e resistência em tempos de pandemia, organizado pelos professores e coordenadores de ações de extensão, Sandro Tôrres de Azevedo e Aline Frederico, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, traz essa experiência a quente, com respostas e questionamentos, pensamento crítico e ações da extensão universitária diante desses desafios. E as respostas e questionamentos são os mais diversos e inovadores: vídeos disponibilizados nas redes sociais, lives e encontros remotos de formação, ações virtuais, mudança de linguagem, campanhas nas redes, debates XIV interativos sobre os mais diferentes temas (como saúde e vacinas), ações culturais, exibições de filmes on-line, debates nas redes e plataformas de questões sociais urgentes (como saúde mental, segurança alimentar, racismo, feminicídio, crise de desinformação, negacionismos, prevenção da gravidez na adolescência, acessibilidade digital, consumo consciente e meio ambiente), e estratégias de comunicação no combate ao coronavírus nas favelas cariocas. Destacamos ainda as ações de sustentabilidade, direitos humanos, ações de valorização das culturas tradicionais e muitas ações de popularização e divulgação científicas que impactam no cotidiano e nos territórios. O que essas experiências têm em comum? Essa virtualização da vida em diferentes dimensões foi emergencial e uma exceção e, em outubro de 2022, já estamos de volta de forma plena aos ambientes presencias, mas essas experiências educacionais novas em uma escala nunca vista produziram um acúmulo, produziram referências e formas inovadoras de estarmos juntos, mesmo que à distância. Temos um desafio: qualificar as interações dialógicas nos ambientes virtuais. Os relatos apontam para esses desafios: como não sucumbir à exaustão das telas ou da sobreposição e dissolução dos limites entre o doméstico e público, o informal e o formal, como lidar com a transformação das casas em escola, escritório e fábrica. Também ficam claras a necessidade de políticas públicas para a inclusão digital, a necessidade de cuidados com a saúde mental e a importância do comunitário. Os relatos selecionados para este primeiro volume de uma série de 4 edições nos levam a repensar o uso das tecnologias, das formas de interação remotas, dos ambientes virtuais e como esses podem se associar ao presencial. A extensão respondeu à crise e à urgência com ações inspiradoras que foram decisivas para mantermos o sentido de comunidade e para nos mantermos conectados em um momento de grande comoção, de riscos, de expectativas e de incertezas. As ações realizadas ativaram laços de pertencimento que criaram comunidades virtuais. O resultado e o impacto dos textos nos fazem pensar e desejar agir. Mostram a centralidade da extensão universitária em tempos de crise, impactando na sociedade, na formação de estudantes e extensionistas, envolvendo professores e técnicos e construindo novos laços com a comunidade externa, e aponta para novas formas de comunicação direta com a sociedade como um todo. XV Em meio a um trauma coletivo, nós atravessamos uma terra virtual, criamos comunidades de produção, de conhecimento e de afetos, ampliamos nossa visibilidade e nossa comunicação com a sociedade, democratizando saberes e reafirmando os nossos valores voltados para o bem comum. Quais são nossos desafios ao voltarmos para o convívio presencial pós-pandemia? São repensar as formas de trabalho, da produção do conhecimento e os modos de estar juntos, além de qualificar esses ambientes de presença virtual e de copresença que passaram a fazer parte do nosso cotidiano, para incorporar todo esse aprendizado de forma inovadora em nossas instituições e na extensão da UFRJ. Nós da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ, vendo projetos como esses, lendo cada relato, vendo a produção de conhecimentos novos e de novas práticas e tecnopolíticas, podemos reafirmar a força e celebrar a ampliação da conexão entre universidade e sociedade. Atravessamos e plantamos sementes nessa terra virtual. Outubro de 2022 XVI 01 A PRESENÇA DE UM PERIÓDICO CIENTÍFICO NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS: CRIAÇÃO DE AÇÕES INFORMATIVAS PARA O FOMENTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO CIBERESPAÇO gUstavo henrIqUe de araúJo FreIre coordenador do ProJeto divulgação científica no ciberespaço marcUs vInícIUs de alBUqUerqUe gUImarães gradUando em BIBlIoteconomIa e gestão de UnIdades de InFormação - UFrJ raImUnda Fernanda dos santos docente no dePartamento de BIBlIoteconomIa - UFrJ resumo Comunica as atividades desenvolvidas por discentes no projeto de extensão Divulgação Científica no Ciberespaço na pandemia do novo coronavírus. A extensão engloba a gestão das redes sociais digitais da “Revista Conhecimento em Ação”, periódico de acesso aberto do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Objetiva relatar as ações promovidas nas mídias sociais da Revista, em especial, no Instagram. Para tanto, utiliza como metodologia as pesquisas bibliográfica e documental com abordagem qualitativa. O projeto de extensão visa analisar as ações que podem ser desenvolvidas nas redes sociais do periódico para a promoção da comunicação e divulgação científica. Dentre os resultados, verificou-se o aumento de submissões de artigos científicos na revista. palavras-chave Periódico Científico; Redes Sociais Digitais; Comunicação Científica; Divulgação Científica; Ciberespaço. 1 1. introdução O projeto de extensão Divulgação Científica no Ciberespaço aborda o uso das redes sociais digitais sob a perspectiva de promoção da comunicação e divulgação científica, e visa, assim, explorar as funcionalidades das redes sociais digitais. Essas redes, conforme descrito no plano de trabalho do projeto, configuram-se como “novos espaços de comunicação e aprendizagem na sociedade em rede”. É um projeto vinculado ao Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação (CBG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenado pelo professor Gustavo Henrique de Araújo Freire e vice-coordenado pela professora Raimunda Fernanda dos Santos, ambos docentes do CBG/UFRJ. O projeto tem como objetivos gerais analisar e implementar ações de informação, especificamente no universo das redes sociais digitais, a fim de angariar visibilidade e popularizar o conhecimento científico entre pesquisadores, discentes, docentes, profissionais e entusiastas da área da Ciência da Informação e demais áreas correlatas. É importante ressaltar que a prática de fomento à comunicação científica e também da divulgação científica estão focadas em toda a sociedade, buscando a sintonia com os pressupostos da Extensão de levar o conhecimento científico para além da Academia. Esse processo ocorre ao serem divulgados os conteúdos científicos publicados na revista pelas redes sociais e, primordialmente, pelo motivo das publicações se encontrarem disponíveis em acesso aberto, o que permite acesso indiscriminado pelo público-alvo mencionado. Esse projeto tem como objetivos específicos: gerenciar as informações nas e entre as redes sociais digitais; interagir com os usuários; acompanhar e atualizar a postagem de notícias; e verificar o funcionamento dos serviços e produtos. O projeto possui como campo da pesquisa as redes sociais digitais da Revista Conhecimento em Ação (RCA)1, um periódico científico eletrônico com cinco anos de existência e vinculado ao CBG/UFRJ, disponibilizada totalmente em acesso aberto, com extrato B2 no Qualis CAPES, com fluxo contínuo de submissões de contribuições exclusivamente inéditas. Esse periódico possui periodicidade semestral com números publicados eletronicamente nos meses de junho e dezembro, contando com a participação de pesquisadores de universidades nacionais e internacionais, além de estudantes da Graduação e da Pós-Graduação. A revista tem como 1 Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca. Acesso em: 28 abr. 2021. 2 finalidade “propor debates e reflexões críticas sobre os processos de produção, organização, mediação, disseminação da informação e do conhecimento técnico-científico [...] ao contribuir para a promoção de novos conhecimentos no campo da informação” (REVISTA CONHECIMENTO EM AÇÃO, 2021, não paginado). A avaliação das produções científicas é realizada por uso do sistema double blind peer review, e mantém o sigilo da identidade dos autores e dos avaliadores. As redes sociais digitais da revista, campo empírico do projeto, são constituídas pelo Blog Conhecimento em Ação, as páginas do Facebook, Instagram e Twitter. Nessa perspectiva, a ação de extensão utiliza como metodologia a pesquisa-ação, pois apresenta os meios para uma intervenção empírica em uma dada situação. Os resultados esperados são, conforme planos de trabalho da ação de extensão, primeiramente a integração dos conhecimentos teóricos adquiridos no curso de graduação em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação com os objetivos práticos da ação de extensão, assim como o fomento da comunicação científica entre o público-alvo do projeto e a popularização do conhecimento científico na web. Os materiais necessários para execução das atividades do projeto de extensão são, primordialmente, o acesso dos discentes à internet e dependem, portanto, de aparelhos tecnológicos como computador ou notebook, bem como a contratação de serviços que ofertam o acesso à internet. Como o ambiente de execução das atividades se dá no universo da web, as ações do projeto e os estudantes universitários foram pouco impactados no que diz respeito às implicações da pandemia do novo coronavírus (covid-19)2 , que se intensificou durante o ano de 2020 e 2021 em todo o mundo. 2 “A covid-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. O SARS-CoV-2 é um betacoronavírus descoberto em amostras de lavado broncoalveolar obtidas de pacientes com pneumonia de causa desconhecida na cidade de Wuhan, província de Hubei, China, em dezembro de 2019. Pertence ao subgênero Sarbecovírus da família Coronaviridae é o sétimo coronavírus conhecido a infectar seres humanos. Os coronavírus são uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais, incluindo o homem, camelos, gado, gatos e morcegos. Raramente os coronavírus de animais podem infectar pessoas e depois se espalhar entre seres humanos como já ocorreu com o MERS-CoV e o SARS-CoV-2. Até o momento, não foi definido o reservatório silvestre do SARS-CoV-2.” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021, não paginado). 3 Sob esse viés, esta pesquisa tem como objetivo relatar as ações promovidas nas mídias sociais da Revista, em especial, no Instagram. Para o desenvolvimento deste relato, foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e documental com abordagem qualitativa. Este relato está organizado em pequenas seções a começar pela introdução e, em seguida, uma pequena seção que comunica os conceitos utilizados no projeto tendo como base alguns autores da área. Após esta seção, serão apresentadas a metodologia utilizada na aplicação das atividades da ação de extensão, as atividades desenvolvidas, os principais resultados e sujeitos atuantes na ação de extensão, as considerações finais e as referências utilizadas para elaboração deste relato de experiências. Os obstáculos enfrentados no decorrer da extensão durante a pandemia da covid-19 foram quedas e interrupções no acesso à internet devido a sobrecarga na região de moradia dos estudantes dado o fato de muitos trabalhadores terem sido realocados para o trabalho à distância, e demais dificuldades relacionadas ao enfrentamento da doença como dispêndio da saúde física e mental proveniente dos efeitos do isolamento social e enfermidade de familiares com vínculo afetivo aos discentes extensionistas no projeto, sendo essas dificuldades superadas a partir do apoio do vínculo familiar de cada estudante e do apoio institucional da UFRJ. 2. comunicação científica e divulgação científica no ciberespaço O projeto Divulgação Científica no Ciberespaço possui uma rede conceitual para embasar suas atividades práticas de extensão no ambiente digital. O campo de pesquisa para realização das atividades se dá, como dito anteriormente, pela gestão das redes sociais digitais da Revista Conhecimento em Ação (RCA). Assim, é importante ter ciência sobre o embasamento teórico utilizado no projeto para compreender seus objetivos e metodologia. Oliveira (2008) entende como periódico científico eletrônico a publicação que possui a pretensão de ser continuada indefinidamente, que tenha procedimentos de controle de qualidade das contribuições publicadas, e que oferte essas produções científicas de modo on-line. O acesso aos artigos publicados na RCA está disponível a toda a comunidade e sem quaisquer custos para leitura. No que tange à discussão sobre o conceito de redes sociais, Aguiar (2008, p. 2) as define como: 4 Redes sociais são, antes de tudo, relações entre pessoas, estejam elas interagindo em causa própria, em defesa de outrem ou em nome de uma organização, mediadas ou não por sistemas informatizados; são métodos de interação que sempre visam algum tipo de mudança concreta na vida das pessoas, no coletivo e/ou nas organizações participantes. Desse modo, é importante ressaltar que as redes sociais abordadas na ação de extensão relatadas neste material se tratam das redes digitais, ou seja, as páginas criadas para a RCA no ambiente da web, tais como o Blog Conhecimento em Ação3, o Facebook4, o Instagram5 e o Twitter6. Um dos objetivos da ação de extensão é contribuir com a comunicação científica e a divulgação científica no ambiente da web e, sobretudo, a partir da divulgação dos artigos científicos, relatos de pesquisa, de experiências, ensaios e editoriais, com a comunidade científica e sociedade no geral, ambos públicos conectados no ciberespaço. Para Bueno (2010, p. 2) a comunicação científica “[...] diz respeito à transferência de informações científicas, tecnológicas ou associadas a inovações e que se destinam aos especialistas em determinadas áreas do conhecimento.” Assim, a comunicação científica ocorre a partir das interações e trocas realizadas dentro da comunidade científica e é o exercício de emissão e recepção de mensagens por entre os pares de pesquisa e/ou entre as distintas áreas do conhecimento, e que objetivam o aprimoramento do estudo sobre determinada pesquisa ou experimento científico em andamento. Para Freitas e Leite (2019, p. 274) a comunidade científica se caracteriza “[...] por interesses e práticas em comum, que direcionam os indivíduos no estudo de um determinado problema, sendo fundamental a concepção da ciência aceita pelo grupo”. Sob a perspectiva da divulgação científica, Bueno (2009, p. 162) a define como a “[…] utilização de recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais) para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou associadas a inovações ao público leigo.” 3 4 5 6 Endereço eletrônico do Blog Conhecimento em Ação: http://conhecimentoemacao.blog.br/. Endereço eletrônico do Facebook da Revista Conhecimento em Ação: https:// www.facebook.com/RevistaConhecimentoemAcao. Endereço eletrônico do Instagram da Revista Conhecimento em Ação: https:// www.instagram.com/revistaconhecimentoemacao/. Endereço eletrônico do Twitter da Revista Conhecimento em Ação: https:// twitter.com/acao_revista. 5 Neste sentido, a divulgação científica está direcionada ao público leigo, ou seja, ao público que não é dotado de conhecimento científico e que, portanto, não faz parte da comunidade científica. A relação de troca de mensagem entre emissor (comunidade científica) e receptor (público leigo sobre ciência) se dá por um processo atencioso que consiste na eliminação de jargões científicos e linguagens técnicas para que a sociedade consiga entender e assimilar de modo claro, conciso e objetivo a comunicação da ciência. No que tange ao ciberespaço, Monteiro (2007, não paginado) o define como: O ciberespaço é o mais novo local de “disponibilização” de informações possibilitado pelas novas tecnologias. Uma nova mídia que absorve todas as outras e oferece recursos inimagináveis, há algumas décadas. Trata-se de um espaço que ainda não se conhece completamente, cheio de desafios e incertezas, tanto na sua práxis, quanto em suas formulações filosófico e teóricas. Um espaço aberto, virtual, fluído, navegável. O ciberespaço como ambiente de interação social e política é um dos recursos tecnológicos mais importantes utilizados em escala global no século XXI. É possível perceber que inúmeros setores da sociedade se debruçam sobre tal ferramenta para realizarem diversas de suas atividades cotidianas. O ciberespaço é, assim, um ambiente de comunicação livre, amplo e aberto, proveniente da conexão em rede em computadores, proporcionada pelas tecnologias digitais e de comunicação no mundo contemporâneo (LÉVY, 2000). 3. metodologia da ação de extensão O projeto de extensão a que este relato encontra-se vinculado possui como metodologia a pesquisa-ação, tendo em vista os objetivos almejados no plano de trabalho da ação de extensão. Conforme Thiollent (1997, p. 15) a pesquisa-ação “[...] consiste essencialmente em acoplar pesquisa e ação em um processo no qual os atores implicados participam, junto com os pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar a realidade em que estão inseridos”. A escolha dessa metodologia se deve à consonância da informação como ação transformadora, como Araújo (1995) atribui, e cria, assim, um 6 espaço para intervenção empírica em dada situação. Com isso, acredita-se que essa metodologia seja mais adequada ao campo de pesquisa em questão e às necessidades informacionais e comunicacionais da equipe, a fim de gerir as redes sociais digitais da RCA. 4. atividades, resultados e sujeitos atuantes na ação de extensão O projeto agrega atualmente a participação de 10 (dez) estudantes universitários de diferentes cursos de graduação da UFRJ como Biblioteconomia e Comunicação Social. Cada estudante está alocado (a) em um determinado eixo de atuação, o qual contempla atividades a serem desenvolvidas pelos extensionistas. Os eixos de atuação no projeto em foco são: a. Gestão das redes sociais digitais da RCA: quatro vagas ocupadas, sendo dois extensionistas encarregados da gestão do Instagram da revista, um extensionista para o Facebook e outro para o Twitter; b. Design gráfico: duas vagas ocupadas por extensionistas encarregados(as) de criar e executar materiais gráficos para a divulgação das ações informativas da revista; c. Entrevistas e ensaios: uma vaga ocupada por extensionista encarregado(a) de formatar, corrigir e criar modelos de entrevistas e ensaios direcionados aos artigos e relatos publicados na revista; d. Estante virtual: uma vaga ocupada por extensionista encarregado(a) de buscar e disponibilizar e-books em acesso aberto da área da Ciência da Informação e áreas correlatas, criando, assim, uma estante virtual disponível no blog da revista; e. Notícias e eventos: uma vaga ocupada por extensionista encarregado(a) de publicar notícias e eventos da área tanto no blog da revista quanto em sua página no Facebook; f. Informática: uma vaga ocupada por extensionista responsável por lidar com soluções e reparos técnicos nos endereços eletrônicos da revista e suas redes sociais. O extensionista responsável pela redação deste relato participa nas atividades de gestão do Instagram da RCA e contribui, dessa forma, com a comunicação da ciência ao divulgar os conteúdos presentes na revista, tais como: artigos científicos, ensaios e relatos de pesquisa. 7 Além disso, são publicados no Instagram da revista materiais audiovisuais produzidos pelos autores cujos artigos foram publicados na revista, objetivando apresentar resumidamente o conteúdo e os objetivos das suas pesquisas, relatando a metodologia utilizada, os resultados e as considerações gerais acerca do artigo científico publicado na RCA. Em síntese, os resultados observados envolvem o aumento da quantidade de submissões de artigos científicos à revista; o aumento de interações do corpo científico da área da Ciência da Informação interessados em publicar no periódico científico; o alcance e número de acessos à revista, bem como de suas redes sociais digitais. Ademais, percebe-se a articulação dos conhecimentos teóricos adquiridos no curso de graduação em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação com os objetivos da ação de extensão, além do fomento da comunicação científica entre o público-alvo do projeto e a popularização do conhecimento científico na web. O extensionista criou o perfil da RCA no Instagram, identificado como @revistaconhecimentoemacao, que hoje conta com 101 publicações e 3.228 seguidores das mais diversas regiões do país e do mundo, conforme mostra a Figura 1. Somado a isso, na ilustração apresentada é possível visualizar algumas ações informativas realizadas no Instagram da revista como: compartilhamentos sobre a covid-19; vídeos curtos sobre as produções científicas publicadas no periódico sobre os mais diversos assuntos que concernem à área da Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia, Comunicação e demais áreas inerentes ao campo da informação. Em relação às estatísticas de acesso e alcance da página da revista no Instagram, foi computado um alcance de mais de 440% entre as datas de 13 a 19 de abril de 2021, com 267 impressões (aumento de mais de 394,4%) e 43 visitas ao perfil nessa mesma data. A página obteve um crescimento de mais de 67 seguidores nos últimos dias e a faixa etária desses(as) usuários(as), em sua maioria, é de 25 a 34 anos de idade (36,1% do total) e 35 a 44 anos (28,2% do total de seguidores). Quanto ao gênero dos(as) seguidores(as), foi observado que 69% são pessoas declaradas do sexo feminino e 31% do sexo masculino. Foi observado também que a página conta com a presença de seguidores das cidades brasileiras do Rio de Janeiro (13,8% do número total de seguidores), São Paulo, Fortaleza, Brasília e João Pessoa. No panorama de acesso dos países, foram registradas interações de internautas do Brasil, Argentina, Venezuela, México, Espanha e Estados Unidos. 8 É importante ressaltar que o projeto se debruçou no objetivo de internacionalizar a revista, de modo a alcançar pesquisadores da área da Ciência da Informação de outros países da América Latina e de outros continentes. O primeiro passo realizado foi traçar os perfis de instituições de pesquisa estrangeiras sobre a área abordada na revista e, em seguida, foi realizado o movimento de seguir e interagir com essas páginas. É preciso pontuar que as interações ocorridas no perfil do Instagram da revista se dão por meio de enquetes, respostas aos comentários de seguidores nas postagens feitas e também por respostas concedidas na caixa de mensagens da página. Figura 1 – Principais métricas do Instagram da Revista Conhecimento em Ação Fonte: https://www.instagram.com/revistaconhecimentoemacao. 9 Ademais, o extensionista participou de reuniões virtuais com toda a equipe para o planejamento das atividades do semestre, esteve presente em eventos acadêmicos sobre as temáticas inerentes à extensão, e criou um vídeo para divulgação do projeto de extensão, publicado no I Festival do Conhecimento – Universidade Viva da UFRJ, no ano de 20207. 5. considerações finais O projeto contribui para a formação cidadã dos extensionistas e cumpre com a responsabilidade social da área ao propagar ações informativas de qualidade e com rigor científico para a comunidade como um todo. A ação de extensão agrega benefícios tanto para os discentes quanto para a sociedade, pois a extensão universitária visa o contato com as pessoas, seja física ou virtualmente. Desse modo, a sociedade conectada em rede se beneficia por adquirir informações com respaldo científico, o que é importante vide o cenário de incertezas globais devido às crises econômicas, à pandemia em curso, à uma crise amplificada por discursos negacionistas, infodemia, movimentos antivacina e pela disseminação da desinformação e das fake news que tentam descredibilizar a comunidade científica como um todo. Além disso, a sociedade em geral e os pesquisadores que estão conectados em rede recebem as divulgações feitas pela revista de forma horizontal, de fácil entendimento, e são beneficiados com as ações informativas promovidas a partir das redes sociais digitais da revista. referências bibliográficas AGUIAR, S. Redes sociais na internet: desafios à pesquisa. 2007. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 30., 2007, Santos. Anais [...]. Santos: Intercom, 2007. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2008/resumos/R3-1977-1.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021. ARAÚJO, V. Sistemas de informação: nova abordagem teórico-conceitual. Ciência da Informação, v. 24, n. 1, 1995. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/ view/610. Acesso em: 26. abr. 2021. 7 Disponível em: https://youtu.be/5lmMrXONza0?list=PLs_n0oj-a3rnFVjco9FjAIlnuSLfqrB1g. Acesso em: 28 abr. 2021. 10 BRASIL. Ministério da Saúde. O que é a covid-19?: saiba quais são as características gerais da doença causada pelo novo coronavírus, a covid-19. [Brasília, DF]: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/ coronavirus/o-que-e-o-coronavirus. Acesso em: 26. abr. 2021. BUENO, W. Comunicação cientifica e divulgação científica: aproximações e rupturas conceituaiss. Informação & Informação, v. 15, n. 1 (especial), p. 1-12, 2010. BUENO, W. Jornalismo cientifico: revisitando o conceito. In: VICTOR, C.; CALDAS, G.; BORTOLIERO, S. (Org.). Jornalismo científico e desenvolvimento sustentável. São Paulo: All Print, 2009. p.157-178. FREITAS, M.; LEITE, F. Atores do sistema de comunicação científica: apontamentos para discussão de suas funções. Informação & Informação, v. 24, n. 1, p. 273-299, 2019. LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 2000. MONTEIRO, S. O ciberespaço: o termo, a definição e o conceito. DataGramaZero, v. 8, n. 3, 2007. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/6089. Acesso em: 26 abr. 2021. OLIVEIRA, E. Periódicos científicos eletrônicos: definições e histórico. Informação & Sociedade, v. 18, n. 2, 2008. Disponível em: https://brapci.inf.br/ index.php/res/v/91095. Acesso em: 26 abr. 2021. REVISTA CONHECIMENTO EM AÇÃO. Capa. [Página principal], 2021. ISSN: 2525-7935. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/index. Acesso em: 26 abr. 2021. THIOLLENT, M. Pesquisa-Ação nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997. 11 02 ACESSIBILIDADE COMUNICATIVA EM PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS: PROJETO DE EXTENSÃO TRADINTER LAB - LABORATÓRIO DE TRADUÇÃO AUDIOVISUAL ACESSÍVEL E INTERPRETAÇÃO LIBRAS < > PORTUGUÊS adrIana BaPtIsta de soUza coordenadora do ProJeto tradinter lab naIla de olIveIra FerreIra gradUanda em letras PortUgUês e Inglês - UFrJ danIel monteIro PereIra Bacharel em letras-lIBras - UFrJ valerIa Fernandes nUnes docente de lIBras no dePartamento de letras-lIBras - UFrJ FlávIo matheUs rosa gradUando em lIcencIatUra em qUímIca - UFrJ resumo O TradInter Lab é um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que visa promover a inclusão e a acessibilidade dentro e fora do ambiente acadêmico por meio da tradução e da interpretação Libras < > Português e da legendagem de vídeos para surdos e ensurdecidos. A promoção desses recursos aos vídeos é firmada por meio de parcerias do projeto com outras ações da UFRJ. O intuito deste trabalho é descrever os objetivos e as atividades realizadas pelo TradInter Lab, assim como seus processos, pautas e resultados. palavras-chave Acessibilidade Comunicativa; Tradução Audiovisual; Interpretação Libras < > Português; Legendagem para Surdos e Ensurdecidos. 13 1. introdução O mês era julho e o ano, 2020. O Brasil vivenciava trágicos momentos de uma pandemia mundial. Nesse mesmo período, com aulas presenciais suspensas em todo o país, outras atividades acadêmicas da UFRJ (como pesquisa e extensão) aconteciam a todo vapor remotamente. Foi nesse contexto que nasceu o TradInter Lab: laboratório de tradução e interpretação Libras < > português, projeto de extensão vinculado ao Departamento de Letras-Libras da UFRJ. Idealizado há muito pela professora Adriana Baptista de Souza, o TradInter Lab visava promover a tradução de materiais didático-pedagógicos para Libras, bem como a interpretação Libras < > português de acontecimentos institucionais, oferecendo-se, assim, como espaço de prática real para alunos do curso de bacharelado em Letras-Libras da UFRJ. Nesse mesmo contexto pandêmico, estava sendo produzido um evento de grandes proporções na UFRJ, o Festival do Conhecimento. Inicialmente planejado para acontecer presencialmente, o evento precisou ser reinventado em tempo recorde para que pudesse acontecer remotamente ao invés de ser simplesmente cancelado. Com muitas lives programadas para serem exibidas todos os dias da semana, nos turnos da manhã, da tarde e da noite, por duas semanas consecutivas, muitas delas acontecendo simultaneamente, havia uma grande preocupação a respeito de como seria possível promover acessibilidade de maneira satisfatória. Eram muitos os desafios. Já imersos nessa discussão, encontramos no Festival do Conhecimento on-line a possibilidade de iniciar os trabalhos do TradInter Lab – de forma bastante inesperada, e não como havíamos idealizado inicialmente, mas com entusiasmo suficiente para nos engajarmos nas mais ricas discussões sobre questões de acessibilidade comunicativa, especialmente em tempos de atividades remotas. Após o registro oficial do TradInter Lab como projeto de extensão no sistema da UFRJ, em junho de 2020, foi aberta uma chamada de extensionistas para atuarem na interpretação das lives do Festival do Conhecimento. Com o fim das lives, os colaboradores do TradInter Lab se dedicaram a organizar um plano de ação para a legendagem do material audiovisual do evento. Assim, para além da equipe de interpretação, que se formou diante da demanda de interpretação das lives, constituíram-se as equipes de 14 legendagem e de tradução, que visavam acessibilizar as atividades gravadas do Festival do Conhecimento – pois, além de apresentações ao vivo, que foram interpretadas de forma simultânea, conforme já mencionado acima, alguns apresentadores enviaram atividades gravadas, que foram disponibilizadas em playlists pelos organizadores do evento. Para tais atividades foram criadas equipes que pudessem promover a tradução para Libras (formadas, em grande parte, pelos extensionistas que já haviam atuado na interpretação das lives), bem como a legendagem para surdos e ensurdecidos. Com a expansão do projeto para além da tradução e da interpretação Libras < > português, em novembro de 2020 o TradInter Lab passou a ser o laboratório de tradução audiovisual acessível e interpretação Libras < > português, hoje com interesse crescente, também, em estudos sobre audiodescrição. Espaço de formação extensionista articulada ao ensino e à pesquisa, o TradInter Lab conta hoje com aproximadamente 100 colaboradores, entre eles docentes, técnicos, discentes e colaboradores externos, distribuídos entre as seguintes equipes e subequipes: equipe executora; equipe de interpretação; equipe de tradução (subequipes: tradução, revisão de tradução, revisão linguística e técnica, edição); equipe de legendagem (subequipes: transcrição, legendagem, revisão de legendas); equipe de pesquisa acadêmica; equipe de audiodescrição em formação (subequipes: roteiro, consultoria, locução, edição, revisão). No âmbito de atuação de cada equipe, em reuniões que acontecem remotamente com certa regularidade, refletimos sobre teoria e prática, sempre tentando traçar estratégias de ação que visem à melhoria da qualidade da acessibilidade promovida para os públicos-alvo. Em nossas reuniões, teoria e prática se retroalimentam com frequência. Com esferas de atuação que não podem, todas, ser contempladas no âmbito deste relato, vamos apresentar algumas experiências de extensionistas que atuam nas áreas da legendagem para surdos e ensurdecidos (ARAUJO, 2008) e da tradução para Libras (NASCIMENTO & NOGUEIRA, 2019), com foco na acessibilidade comunicativa de produções audiovisuais, o que traz à tona um campo de estudos emergente dentro do grande campo dos Estudos da Tradução: a tradução audiovisual acessível (SPOLIDORIO, 2017), nosso objeto de estudo e prática reflexiva no âmbito do projeto de extensão. 15 2. objetivos Nesta seção, devido à extensão deste estudo, delimitamos os objetivos do TradInter Lab e descrevemos a seguir as principais metas: (i) promover a acessibilidade comunicativa em produções da UFRJ para o público interno e externo à universidade; (ii) pesquisar e capacitar sobre o processo de produção de legendas e processos de tradução-interpretação (Libras < > português), desenvolvendo estratégias práticas para tal; (iii) contribuir com a formação discente no âmbito da pesquisa e da extensão universitária. Em relação ao primeiro objetivo, o projeto tem realizado parcerias com membros da UFRJ, como professores, técnicos e discentes de diferentes institutos da universidade para atender às demandas das produções audiovisuais acessíveis de acordo com a disponibilidade da equipe do TradInter Lab. O segundo objetivo tem sido desenvolvido por meio de grupos de pesquisa e oferta de oficinas sobre temas relacionados à produção de legendas e à tradução-interpretação (Libras < > português). As oficinas contam com palestrantes externos ou membros do projeto que possuem conhecimento específico e atuação profissional na área. O último objetivo está relacionado à formação dos graduandos nos cursos da UFRJ. Participam do projeto alunos de diferentes áreas do conhecimento e, principalmente, discentes dos cursos de Letras-Libras que veem no projeto uma oportunidade de desenvolver estudos e prática na tradução-interpretação (Libras < > português). 3. metodologias A metodologia empregada na produção deste relato tem como fundamentação os estudos desenvolvidos por Silveira e Gerhardt (2009). Quanto à abordagem, este estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, pois gera ações para descrever, compreender e explicar os processos empregados no âmbito do projeto na produção de legenda e de tradução-interpretação (Libras < > português). Por meio de uma coleta de dados composta por produções audiovisuais do projeto, considera-se este trabalho uma pesquisa explicativa, pois se preocupa em identificar os fatores que contribuem para a produção da acessibilidade comunicativa. 16 Em relação aos procedimentos, este estudo é uma pesquisa bibliográfica realizada por intermédio de um levantamento de referências teóricas publicadas em documentos produzidos pelo projeto, como livros, sites e artigos científicos. 4. descrição do contexto e procedimentos Nesta seção, contextualizamos a importância de promover a acessibilidade comunicativa em nossa sociedade. Em seguida, descrevemos os procedimentos adotados no projeto para a produção da legendagem e, posteriormente, para a tradução-interpretação (Libras < > português). A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015) regulamenta o direito à inclusão em várias esferas, estando incluso o “acesso à informação e comunicação” conforme artigo 67 da referida lei: Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros: I - subtitulação por meio de legenda oculta; II - janela com intérprete da Libras; III - audiodescrição. (BRASIL, 2015) Diante disso, o projeto de extensão TradInter Lab tem buscado, com a colaboração de professores, técnicos e alunos, promover a acessibilidade de vídeos produzidos no âmbito universitário. O laboratório está dando passos em direção a uma legenda cada vez mais acessível e correspondente às normas esperadas. A legendagem é um recurso de acessibilidade que consiste na inserção de legendas em produções audiovisuais (ARAÚJO, 2008). A legendagem específica para surdos e ensurdecidos pode diferir da que estamos acostumados a ver em filmes internacionais, por exemplo, pois ela não tem o caráter de traduzir um conteúdo de uma língua para outra, mas sim de representar na forma escrita o que está sendo apresentado na forma acústica, sejam falas, momentos de silêncio, instruções ou outros tipos de som. Chamamos isso de tradução intralingual, que não é exatamente o tipo de tradução a que nos referimos anteriormente (de uma língua para outra), mas é considerada um tipo de tradução e, por essa razão, é contemplada 17 teoricamente no que hoje conhecemos como Estudos da Tradução, mais especificamente no campo emergente da Tradução Audiovisual. No âmbito do TradInter Lab, o processo de legendagem dos vídeos é composto por três etapas: transcrição, legendagem e revisão. Cada um desses processos possui uma equipe coordenada por um supervisor. Durante o processo, o mesmo vídeo não pode ser legendado e revisado pela mesma pessoa, uma vez que isso poderia levar o extensionista a se equivocar por já estar acostumado com o conteúdo presente no vídeo; por esse motivo, cada pessoa só pode fazer parte de uma equipe. Às vezes, por vários fatores, os extensionistas podem migrar de equipe, mas o foco é direcionado a um tipo de tarefa por vez. A primeira equipe a ter contato com o vídeo é a de transcrição. Durante essa etapa, os extensionistas (após escolherem o vídeo com o qual querem trabalhar) assistem ao vídeo e transcrevem seu conteúdo, produzindo um documento que posteriormente será utilizado pela equipe de Legendagem. Alguns extensionistas optam por utilizar programas ou aplicativos específicos para facilitar o processo de transcrição, como, por exemplo, o Transcrição Instantânea e Notificações Sonoras. Porém, esse tipo de software ainda não consegue fazer a transcrição de maneira perfeita, tornando necessária a intervenção do transcritor em certos pontos. O segundo passo do processo é realizado pela equipe de Legendagem que, através do documento de transcrição criado anteriormente, legenda o vídeo. As legendas são produzidas no programa Subtitle Edit que permite a visualização das ondas de som, o que facilita a inclusão das legendas no tempo certo. Vale ressaltar que os vídeos legendados pelo projeto de extensão fazem parte de outros projetos desenvolvidos na UFRJ e que existe uma demanda de datas para que esses vídeos sejam entregues. A terceira e última etapa é composta pela revisão de legendas. A equipe responsável precisa verificar possíveis erros gramaticais cometidos pelas equipes anteriores, como omissões, palavras, sintagmas ou frases que podem não ter sido ouvidas ou acrescentadas corretamente nas outras etapas, assim como realizar a formatação do texto no que diz respeito ao tamanho das legendas (quantidade de linhas, comprimento da linha) e analisar outros aspectos correspondentes às regras estabelecidas pela equipe de extensão como um todo. O projeto de extensão possui um documento orientador, elaborado com base em estudos e discussões pelos próprios colaboradores, com convenções estabelecidas para que as legendas possuam certo padrão. As principais normas estabelecidas são: uso de itálico em palavras que 18 apresentam erro gramatical do ponto de vista da gramática normativa, uso de notas musicais quando houver a presença de música, uso da expressão [SILÊNCIO] quando há grandes períodos de silêncio, uso da expressão [INAUDÍVEL] quando existir algo incompreensível no vídeo, etc. Além disso, o número de caracteres por linha e a recomendação para que sintagmas não sejam separados também se fazem presentes. Vale ressaltar que esse documento está em constante atualização, na medida em que novas questões são identificadas e novas discussões demandam alterações. Em relação ao processo de tradução Libras < > português, temos as seguintes etapas iniciais: estudo dos textos a serem traduzidos; busca de sinais relativos à temática do material; e feedback/acompanhamento de supervisores junto aos discentes durante o processo tradutório. Após essas etapas iniciais, a tradução é encaminhada às equipes de revisão: há um grupo que realiza a revisão da tradução propriamente dita, cotejando o texto fonte e o texto alvo, e outro grupo que realiza a revisão linguística e técnica, em geral composta por extensionistas surdos. Cada uma das equipes de revisão também conta com o apoio de supervisores, responsáveis pelo acompanhamento do trabalho dos discentes. Caso as equipes de revisão identifiquem alguma inconsistência, a tradução volta para que o discente, junto ao seu supervisor, avalie a necessidade ou não de realização do ajuste sugerido pelo revisor. Após a autorização do supervisor, o material é enviado ao responsável pela solicitação da acessibilidade para a futura divulgação. Vale ressaltar que todo o trabalho tem sido realizado de forma remota e cada um dos colaboradores, dentro de suas próprias residências, vêm criando “estúdios caseiros” (alguns tendo que usar a criatividade, com o uso de materiais corriqueiros, como celulares, lençóis, mesas etc.) para que as gravações possam ocorrer com o mínimo de qualidade dentro das condições de cada um. Durante todo esse processo, que é contínuo, reuniões são realizadas por meio de videoconferência com todo o grupo para discutir sobre o andamento das traduções, o estudo dos textos e o envolvimento dos discentes no projeto, bem como suas necessidades e expectativas. Percebe-se que o trabalho em equipe é de grande importância, pois todas as atividades passam por diversas etapas até que o produto, a tradução, possa chegar ao seu destino final. Nas traduções, observamos construções que se realizam a partir da (re)interpretação, adaptação e contextualização (atual) de modos de trazer o sentido do texto de partida, de modalidade oral-auditiva, para o texto de 19 chegada, que é espaço-visual. O tradutor se auto traduz na massificação de escolhas, da(s) cultura(s) e histórias que seguiram o significado em novas possibilidades de significação da obra. Dessa maneira, investe-se em produções autorais dos próprios discentes no sentido de produzirem, em condições remotas, a tradução dos textos para Libras de forma que os mesmos construam possibilidades de tradução em equipe. Em tempos de isolamento, as demandas de tradução crescem e carecem de profissionais que possam fornecer materiais acessíveis à população surda como meta de divulgar o saber em tempos atuais. Assim, o projeto objetiva que o aluno possa desenvolver estratégias diversas em equipe, a partir das etapas estabelecidas na tradução, possibilitando uma formação conjunta. 5. resultados observados Sobre os principais resultados deste projeto, podemos citar a produção da acessibilidade comunicativa em produções audiovisuais da UFRJ, assim como a oferta de capacitação por meio de oficinas para o público interno e externo ao projeto e a produção de pesquisa científica. Dentre as produções acessíveis, para exemplificar, podemos citar a acessibilidade de alguns vídeos e lives no Festival do Conhecimento da UFRJ em 2020. O Festival foi um espaço virtual de encontro e divulgação da produção científica e cultural da UFRJ durante a pandemia. Por meio de um ato colaborativo das ações de ensino, pesquisa e extensão da UFRJ, o evento reuniu estudantes, docentes, servidores técnico-administrativos e terceirizados da comunidade universitária e convidados. O projeto TradInter Lab promoveu a acessibilidade com interpretação Libras < > português das lives, além de legendas e tradução (Libras < > português) em vídeos de diferentes áreas do conhecimento, tais como ciências humanas, exatas, biológicas, sociais, letras e artes, referentes às atividades gravadas enviadas ao Festival. Aos extensionistas que estão iniciando seu trabalho na equipe, também são oferecidas oficinas de preparação. Essas oficinas são geralmente conduzidas pelo supervisor de equipe e tem como principal objetivo apresentar os documentos orientadores armazenados em pastas no Google Drive e explicar as etapas adotadas por cada grupo. Por exemplo, 20 na equipe de legendagem, busca-se preparar o extensionista para a utilização do software Subtitle Edit. Além disso, são oferecidas, em datas pontuais, oficinas abertas à comunidade da UFRJ como forma de apresentar os temas desenvolvidos no projeto, construir interesse pelo mesmo e chamar atenção para sua importância. Vale ressaltar que o projeto também já ofertou oficinas sobre audiodescrição, técnicas de legendagem, identidades e cultura surda e outros temas relevantes para a tradução audiovisual acessível. A respeito da produção de pesquisa científica, destacamos a participação do projeto na XLII Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (JICTAC 2020), evento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem como principal objetivo proporcionar a oportunidade de exposição e discussão de trabalhos de iniciação científica, tecnológica, artística e cultural, contribuindo para a troca de experiências entre os alunos de graduação, de pós-graduação, professores, pesquisadores e técnicos envolvidos em atividades de pesquisa. Na referida Jornada, foram apresentadas duas pesquisas realizadas pelo discente Daniel Monteiro Pereira, sob a orientação das professoras Adriana Baptista e Valeria Nunes: “Formação de Tradutores e Intérpretes de Libras<>Português em Tempos de Excepcionalidade” e “Representações: Tradutores e Intérpretes de Libras<>Português em Produções Audiovisuais”. 6. considerações finais Por meio deste relato, observou-se que o projeto de extensão TradInter Lab – laboratório de tradução audiovisual acessível e interpretação Libras < > português – vem contribuindo para a promoção da acessibilidade comunicativa na UFRJ, com atuação no âmbito da legendagem para surdos e ensurdecidos, e da tradução e interpretação no par linguístico Libras e português. No projeto, foram constatadas atividades de pesquisa e extensão que estão contribuindo para a formação acadêmica e profissional de graduandos da UFRJ. Os principais temas de atuação foram o desenvolvimento de ações que favoreceram à tradução audiovisual acessível (legendagem e traduções para Libras) e interpretação de Libras < > português. 21 Diante disso, o projeto TradInter Lab visa promover acessibilidade para a comunidade surda por meio de ações voltadas para a prática da tradução e da interpretação no par Libras e língua portuguesa, bem como da legendagem de vídeos. referências bibliográficas ARAÚJO, Vera Lúcia Santiago. Por um modelo de legendagem para surdos no Brasil. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores, São Paulo, v. 17, p. 59-76, 30 set. 2008. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015: institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146. htm>. Acesso em: 10 abr. 2021. FRANCO, Eliana P. C. & ARAUJO, Vera Santiago. Questões terminológico-conceituais no campo da tradução audiovisual (TAV). Tradução em Revista 11, 2011/2, p. 1-23. GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. NASCIMENTO, Vinícius; NOGUEIRA, Tiago Coimbra. Tradução Audiovisual e o direito à cultura: o caso da comunidade surda. PERcursos Linguísticos, Vitória (ES), v. 9, n. 21, 2019. SPOLIDORIO, Samira. Mapeando a tradução audiovisual acessível no Brasil. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, n (56:2): 313-345, mai/ago 2017. 22 03 AÇÕES REMOTAS EM PROL DA CONSERVAÇÃO E DO USO SUSTENTÁVEL DA BAÍA DA ILHA GRANDE BrUno v. l. sIqUeIra BIólogo no dePartamento de BotânIca – UFrJ andrea o. r. JUnqUeIra docente no dePartamento de BIologIa marInha – UFrJ Bernardo de la vega mestrando em ecotUrIsmo e conservação – UnIrIo marcella t. PInto lIcencIada em cIêncIas BIológIcas – UFrJ marIa teresa m. széchy docente no dePartamento de BotânIca – UFrJ resumo Para se adaptar às mudanças exigidas por questões sanitárias decorrentes da pandemia, o projeto de extensão optou por continuar trabalhando com temas vinculados ao ambiente da Baía da Ilha Grande, com enfoque em divulgação científica através do Instagram. No segundo semestre de 2020, 24 alunos de graduação do Instituto de Biologia prepararam 21 posts, dez sequências de stories e um IGTV contemplando conteúdos diferentes em cinco temas. A interação com o público variou de 82 a 498 por semana. Foi notado declínio no número de interações com o tempo, sugerindo a necessidade de uma reavaliação do processo em relação à linguagem, interatividade e estratégias de engajamento orgânico. palavras-chave Biologia; Divulgação Científica; Mata Atlântica; Redes Sociais. 23 1. introdução A Baía da Ilha Grande é reconhecida nacional e internacionalmente em função das opções de atividades turísticas, envolvendo práticas náuticas e turismo ecológico (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2015). A riqueza histórico-cultural e a beleza e a diversidade biológica de seus ecossistemas (CREED; PIRES; FIGUEIREDO, 2007) justificam simultaneamente a valorização destas atividades e iniciativas de implantação de unidades de conservação. Ao longo de sua história, outras atividades econômicas se sucederam na região, ocasionando diversos distúrbios antropogênicos e conflitos sociais (ALHO; SCHNEIDER; VASCONCELLOS, 2020; JOVENTINO; JOHNSSON, 2018). O uso e a conservação de seus recursos naturais foram sendo desenvolvidos, na maioria das vezes, de modo independente e sem compromisso com a educação ambiental (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2015). Conhecer os aspectos ecológicos dos ecossistemas e a biologia das espécies da flora e da fauna são requisitos primordiais para motivação e execução de práticas que preservem a biodiversidade local (JOHNSSON, 2015). O projeto de extensão Conservação e uso sustentável de ecossistemas da Baía da Ilha Grande: interação do conhecimento científico e popular surgiu da percepção da necessidade de ampliação de propostas de educação ambiental junto às comunidades locais e da vontade de promover trocas de saberes e experiências entre a academia e a população local. Tendo em vista esta meta, em 2016, foi constituída uma equipe de três professores-pesquisadores do Instituto de Biologia com atividades de pesquisa na região, nos ambientes marinho e terrestre. Com o tempo, esta equipe agregou mais pessoas, incluindo biólogos e ex-alunos. Este projeto de extensão resulta da participação livre e voluntária de diferentes atores, de modo a seguir o princípio da interação dialógica e da interdisciplinaridade, a saber: 1) representantes da UFRJ, incluindo professores-pesquisadores de diferentes laboratórios, responsáveis pela orientação de alunos-monitores, a fim de garantir a aplicação de técnicas adequadas, a transmissão de conhecimento atualizado e de experiências científicas diversificadas; 2) representantes das comunidades locais, através de professores e alunos de escolas públicas de ensinos fundamental e médio dos municípios de Angra dos Reis e Paraty; 3) representantes de instituições atuantes na região, como a ELETRONUCLEAR/Gerência Ambiental, através do compartilhamento de ações de educação ambiental e do apoio em termos de infraestrutura, para permanência das equipes do projeto na região. 24 Os princípios básicos que norteiam as atividades do projeto, em relação ao processo de aprendizagem, são: 1) a mudança de pensar e agir se dá através da motivação; 2) aprender requer envolvimento pessoal com o problema e fazer efetivamente algo no sentido de resolvê-lo (DEWEY, 1997). Desta forma, o planejamento das atividades desenvolvidas pelo projeto inclui a avaliação de temas de interesse para as comunidades locais, a formulação de perguntas a serem apresentadas aos alunos, a proposta de atividades práticas, em campo ou laboratório, e a avaliação dos resultados obtidos nas atividades práticas. Nesse contexto, o contato direto entre os alunos-monitores e os alunos das escolas, com o acompanhamento dos professores, é considerado fundamental. O projeto de extensão atuou presencialmente em diferentes eventos na região desde 2017 até 2019. E assim teria atuado em 2020, se não tivesse sido impedido por força do isolamento social, necessário por causa da pandemia. Este foi um momento especial de desafio para a equipe, que não desistiu de seus propósitos frente às dificuldades. Este artigo visa a apresentação de como o referido projeto de extensão se adaptou à nova situação, a fim de continuar suas atividades em modo remoto, enfocando a divulgação científica de temas associados às questões ambientais da Baía da Ilha Grande e disponibilizando-as a um público mais amplo e heterogêneo. 2. como trabalhamos e o que foi produzido 2.1. adaptação às atividades remotas Inicialmente, ainda acreditávamos que um contato presencial fosse possível, de modo a atender às premissas da interação dialógica. No entanto, após alguns meses de isolamento, conscientizamo-nos que isso não seria possível durante a pandemia. Tivemos que buscar essas interações de forma remota. Partimos, então, para a produção de conteúdo digital para mídias sociais, vídeos e jogos. Durante o segundo semestre de 2020, 24 alunos de graduação do Instituto de Biologia atuaram como monitores, trabalhando em conjunto com a equipe de coordenação em temas selecionados. Primeiramente, os monitores receberam treinamento sobre como criar conteúdo digital para mídias sociais com objetivos didáticos. Este treinamento incluiu explanações sobre conceitos da divulgação científica no ciberespaço, estratégias 25 de escrita voltadas às mídias sociais e instruções básicas de como utilizar plataformas on-line de criação de conteúdo digital. Selecionamos a rede social Instagram para a divulgação dos materiais didáticos por ser um aplicativo de compartilhamento de fotografias e vídeos entre os seus usuários. Por se tratar de uma plataforma visual, utilizamos também a plataforma de design gráfico, Canva, para a elaboração de posts, stories e IGTVs. Essa plataforma possibilita aos usuários criarem conteúdos digitais de maneira compartilhada e também fornece elementos gráficos, como figuras, fontes, gráficos, fotografias e templates. Quando possível, incluímos figuras de acervos pessoais ou de produção bibliográfica, seguidos de sua autoria ou de elementos de acervos livres e gratuitos, como o Wikipedia Commons. Além disso, com o intuito de aumentar o alcance e a interatividade dos nossos materiais, incluímos um card padrão ao final de todas as postagens, convidando os usuários a curtir, compartilhar, salvar e comentar. A organização e o gerenciamento de atividades foram realizados a partir da plataforma Trello, uma ferramenta de colaboração coletiva na administração de projetos e tarefas. A partir desta plataforma, a coordenação do projeto planejava o calendário das postagens, realizava revisões de conteúdos e depositava os materiais na forma de acervo. Todo o material produzido pela equipe era avaliado pelos coordenadores temáticos, antes de ser publicado, em reuniões semanais remotas. 2.2. temas escolhidos Selecionamos cinco temas da área de biologia e meio ambiente que pudessem ser explorados a partir de exemplos da Baía da Ilha Grande (Apêndices 1 e 2). Cada tema foi desenvolvido com base em pesquisas científicas, com consulta à literatura ou a especialistas. Nas postagens, temas diferentes foram individualizados por cores variadas (Apêndice 3). 3. resultados observados 3.1. desempenho da página Os materiais preparados começaram a ser postados semanalmente, de outubro a dezembro de 2020, na página do projeto criada em 8 de outubro de 2020, no Instagram, nomeada “Ilha Grande Extensão UFRJ”. 26 Em três meses de duração, a página do projeto alcançou 4122 contas no Instagram. As interações, incluindo curtidas, comentários, salvamentos e compartilhamentos, alcançaram o total de 2609. Estas interações diminuíram ao longo das semanas (Fig. 1). A média móvel das interações (Fig. 1) aponta que houve um pico de interações na terceira semana e, logo após, uma queda acentuada, mantendo-se estável entre a quinta e décima semanas, seguida de outra queda a partir desta. Figura 1: Interações totais, somando todos os temas, a cada semana, no período de outubro a dezembro de 2020. A média móvel semanal das interações é representada pela linha contínua alaranjada. Quanto ao público, a maioria pertencia ao município do Rio de Janeiro (85%), seguido do município de Angra dos Reis (3,8%) nas primeiras semanas. Nas últimas semanas, a proporção de contas de residentes de Angra dos Reis aumentou levemente (4,2%), enquanto a proporção de contas do Rio de Janeiro diminuiu (81,4%). A proporção restante nas últimas semanas pertencia a contas de outros municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Volta Redonda e São Paulo (14%). 3.2. avaliação do projeto pelos alunos-monitores Sobre o perfil dos alunos-monitores, a maioria não tinha experiência com divulgação científica no Instagram e tinha pouca ou nenhuma 27 experiência com o Canva. Todos consideraram que a sua atuação no projeto impactou de moderada a intensamente sua experiência com divulgação científica no Instagram e com o Canva. Mais da metade achou que sua participação no projeto aumentou seu conhecimento acerca de questões sobre conservação da Baía da Ilha Grande. A grande maioria considerou sua experiência no projeto, no geral, como satisfatória a muito satisfatória. Os maiores desafios elencados pelos alunos-monitores durante sua atuação no projeto foram: a adaptação ao trabalho remoto, o desenvolvimento de conteúdos para as publicações e a dificuldade em tornar a escrita acessível ao público leigo. Algumas das sugestões dos monitores para melhorar nossos resultados foram o uso de vídeos e reels, maior exposição dos membros do projeto nos vídeos e mais frequentes quizzes nos stories sobre os posts mais recentes. 4. considerações finais A diminuição no número de interações no Instagram é uma indicação para a necessidade de melhoria na página para manter o engajamento do seguidor. Alguns pontos a serem avaliados devem ser: adequação do tom de voz; padronização do design nos posts, o que facilita a identificação do perfil pelos usuários e, por conseguinte, seu engajamento; e uso de ferramentas mais interativas da plataforma, como reels. Manter um público fiel não é suficiente para promover o aumento das interações com o conteúdo. Uma alternativa seria utilizar ferramentas para atrair mais seguidores como o impulsionamento do Instagram, um recurso pago que aumenta o alcance da página a partir de algoritmos. Em relação ao público, já esperávamos não conseguir alcançar uma grande proporção de seguidores da região da Baía da Ilha Grande. Entretanto, isso também se deve ao nosso alcance ser orgânico, isto é, sem impulsionamento, feito a partir de seguidores que já conheciam nosso projeto, como alunos e servidores do Instituto de Biologia. Desta forma, o uso de hashtags voltadas ao público da comunidade-alvo não parece ser suficiente para despertar o interesse em acompanhar e seguir a nossa página. É necessário que o engajamento tenha a participação orgânica de contas com muitos seguidores residentes da região (contas roteadoras). Assim como, em relação à queda no número de interações, talvez a linguagem, 28 abordagem e formato das publicações não tenham sido atraentes o suficiente para cativar um público fora da Universidade, menos científico, que provavelmente esteja acostumado com outras abordagens nesta rede social. agradecimentos A todos os alunos-monitores, membros da equipe no segundo semestre de 2020, pelo engajamento e dedicação. À Dra. Mariângela Menezes, do Museu Nacional/UFRJ e ao Mestre Roberto Leonan Morim Novaes, da FIOCRUZ, por fornecerem apoio quanto ao conteúdo sobre microalgas e morcegos, respectivamente. À pró-reitoria de extensão da UFRJ pela bolsa PROFAEX 2018-2020 da coautora Marcella Teixeira Pinto. referências bibliográficas ALHO, C.J.R.; SCHNEIDER, M.; VASCONCELLOS, L.A. Degree of threat to the biological diversity in the Ilha Grande State Park (RJ) and guidelines for conserva- tion. Brazilian Journal of Biology, v. 62, n. 3, p. 375-385, 2002. CREED, J.C.; PIRES, D.O.; FIGUEIREDO, M.A.O. Biodiversidade marinha da Baía da Ilha Grande. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2007. DEWEY, J. Experience and education. Washington, D.C.: Free Press, 1997. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Mid-term evaluation of the integrated management of the Ilha Grande Bay ecosystem (BIG) Project: Final report. Italy, Rome: FAO, 2015. Disponível em: http://www.fao.org/evaluation. Acesso em: 27 Abr. 2021. JOHNSSON, R. M. F. Diagnóstico do setor costeiro da Baía da Ilha Grande: subsídios à elaboração do zoneamento ecológico-econômico costeiro. Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Ambiente, Vol.1, 2015. JOVENTINO, F.K.P.; JOHNSSON, R.M.F. Conflitos socioambientais envolvendo a pesca artesanal na Baía da Ilha Grande, Rio de Janeiro. Repocs, v. 15, n. 30, p. 169196, 2018. 29 apêndice 1 Título dos posts publicados entre outubro e dezembro de 2020, por tema e suas respectivas interações. S = número de salvamentos, C = número de compartilhamentos. Temas Posts Interações S I. Conservação 1. Conservação de aves da Mata Atlântica. de aves na Mata 2. Conservação e seus conceitos. Atlântica 3. Diversidade de aves da Baía da Ilha Grande e suas ameaças. 20 C 95 4. Como posso ajudar na conservação de aves? II. Morcegos - Por 1. Morcegos: vilões ou heróis? que estudá-los? 2. Mas afinal... os morcegos são mesmo cegos? 3. Você já conhece os morcegos da Baía da 20 65 26 64 25 47 38 63 Ilha Grande? 4. Morcegos e saúde. III. Impactos 1. Impactos humanos no ambiente marinho humanos no da Baía de Ilha Grande. ambiente marinho 2. Você conhece as espécies marinhas da Baía de Ilha invasoras da Baía da Ilha Grande? Grande 3. Poluição orgânica e balneabilidade. 4. Pesca predatória. IV. Plantas da 1. Você sabe o que é cegueira botânica? Mata Atlântica 2. Plantas de uso pelo homem: medicinais e Fluminense de uso alimentícias pelo Homem 3. Plantas de uso pelo homem: ornamentais, madeireiras e artesanais. 4. Unidades de conservação e comunidades locais. V. Microalgas 1. Maré vermelha marinhas 2. Quais impactos as florações de diatomáceas podem trazer na Baía da Ilha Grande? 3. Espuma no mar! O que aconteceu? 4. O que as diatomáceas têm a ver com tudo isso? 5. Você sabe o que é bioluminescência? 30 apêndice 2 Título dos stories e IGTVs publicados entre outubro e dezembro de 2020, por tema. IGTV está assinalado com *. Temas Stories e IGTVs 1. Quais aves da Mata Atlântica vocês conhecem? Uma caixa de perguntas para levantarmos as espécies citadas de maior ocorrência. 2. Que tal uma aventura “pokémon” para descobrir as espécies I. Conservação de aves da Baía da Ilha Grande? Um teste com opções de aves de aves na Mata locais para as pessoas escolherem a que gostam mais. Atlântica 3. E você, já praticou observação de aves? Tem vontade de tentar? Uma série de stories com testes com os nomes populares de aves da região e suas respectivas imagens. 4*. Aprendendo a identificar aves com o MERLIN. Um tutorial para utilizar o aplicativo de identificação. II. Impactos humanos no ambiente marinho da Baía da Ilha Grande 1. Quais são as espécies marinhas invasoras da Baía da Ilha Grande? Um teste com alternativas. 2. Você sabe o que é a tragédia dos comuns e qual a relação dela com a pesca predatória? Uma enquete para resposta seguida de uma série de stories explicando o conceito e sua relação com a pesca predatória. 1. Como superar a cegueira botânica: lista de estratégias para III. Plantas da observação da diversidade vegetal no dia a dia. Mata Atlântica 2. Plantas medicinais: todas fazem bem? Textos explicando Fluminense de uso os riscos do consumo exacerbado de vegetais para fins pelo Homem fitoterápicos, seguido de enquete para saber se o público faz uso diário de plantas medicinais. 1. Não lembra o que é maré vermelha? O que devemos saber? É perigosa para o Homem? IV. Microalgas marinhas 2. As florações que tratamos na postagem sobre maré vermelha também podem ocorrer em ambientes de água doce, como lagos e represas. Conhece algum caso? 3. Você já viu algo assim na Baía da Ilha Grande? Luz saindo do mar à noite! Um teste com alternativas. 31 apêndice 3 Exemplos de posts de cada tema, ressaltando a escolha de conteúdo vinculado às questões ambientais da Baía da Ilha Grande. I a V: temas conforme os apêndices 1 e 2. I. II. 32 III. IV. 33 V. 34 04 ACONTECE NO IFCS: A INICIATIVA QUE VIROU PROJETO DE EXTENSÃO DURANTE A PANDEMIA PatrícIa costa PereIra da sIlva coordenadora do ProJeto acontece no ifcs resumo O presente trabalho apresenta o relato de experiência do projeto de extensão Acontece no IFCS. O referido projeto foi recomendado pela Pró-Reitoria de Extensão em fevereiro de 2021 e tem o objetivo de produzir material audiovisual sobre saberes e conhecimentos acadêmico-científicos pertinentes às áreas de Ciências Sociais e Filosofia para divulgação em mídias digitais. Estima-se que essa produção possa colaborar com a formação acadêmica do corpo discente e da comunidade externa. O trabalho apresenta a trajetória de constituição do projeto, o seu atual desenvolvimento e algumas apostas futuras. Do ponto de vista teórico, o projeto está ancorado na literatura produzida pelos campos da Educação e Comunicação. palavras-chave Formação; Divulgação Científica; Mídias Digitais; Ciências Sociais; Filosofia. 35 o início O Acontece no IFCS nasceu em março de 2019 como uma iniciativa estabelecida do trabalho que desenvolvia como pedagoga no Gabinete da Direção do Instituto de Filosofia e Ciências da UFRJ (IFCS-UFRJ). Naquele momento, a iniciativa visava estabelecer, através das redes sociais, um espaço de comunicação pedagógica para contemplar, em caráter complementar às atividades de ensino, pesquisa e extensão, as necessidades mais diversas da aprendizagem. O público-alvo era, portanto, o corpo discente do IFCS. Com o início da pandemia em 2020, o Acontece no IFCS ganhou novas configurações: a iniciativa que nasceu para ser espaço de comunicação pedagógica tornou-se, também, espaço de divulgação da produção acadêmico-científica desenvolvida pelos membros da comunidade interna do IFCS (docentes, discentes e técnicos). Para tanto, criou-se, num primeiro momento, uma série de lives no Instagram chamada Minha pesquisa em 40 minutos. O objetivo dessa série era realizar entrevistas com estudantes dos três programas de pós-graduação do IFCS (programa de pós-graduação em Filosofia, programa de pós-graduação em Lógica e Metafísica e programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia) sobre suas pesquisas. As entrevistas realizadas tratavam de temáticas diversas, sempre apresentadas numa linguagem acessível e simples, permitindo que o público fora da universidade pudesse interagir com a produção acadêmica. Num segundo momento, o Acontece no IFCS criou uma nova série de lives, também no Instagram, chamada Bate-papo. O objetivo dessa série era estabelecer diálogo franco e direto sobre temas sociais que estavam na ordem do dia e outras temáticas pertinentes ao escopo conceitual do IFCS, tais como racismo, xenofobia, gordofobia, segurança pública, desigualdades sociais no Brasil, política brasileira, política no Rio de Janeiro, movimentos sociais, filosofia africana, estética africana, violência contra a mulher, combate ao coronavírus nas favelas cariocas etc. Os diálogos aconteciam em um formato de entrevista e foram convidados professores do IFCS, professores de outras unidades acadêmicas da UFRJ, professores de outras instituições de ensino superior, profissionais liberais, pesquisadores e ativistas sociais. Em um terceiro momento, por demanda do corpo estudantil, criou-se a série de lives intitulada Iniciação Científica. Com um formato e 36 objetivo parecidos com a série Minha pesquisa em 40 minutos, essa série teve o objetivo de apresentar pesquisas realizadas por estudantes de graduação do IFCS que realizavam trabalhos de iniciação científica. É importante pontuar que as séries Minha pesquisa em 40 minutos, Iniciação Científica e Bate-papo ocorreram de forma concomitante durante todo o ano de 2020. As três séries destacam-se pela intensa adesão do corpo discente à esta iniciativa; era notório o interesse dos jovens pesquisadores do nosso IFCS em socializar seus achados de pesquisa com a comunidade externa. No quarto momento, foi criada uma breve série de lives no Instagram intitulada “Apresentando o IFCS”. O objetivo dessa série era apresentar, através de entrevistas com os coordenadores de curso e programas, os setores do IFCS que possuem mais presença no trajeto do discente na universidade, tais como: as coordenações de graduação, de pós-graduação, de extensão, a biblioteca e a direção da Unidade. Essa série foi realizada no início do Período Letivo Excepcional. Em novembro de 2020, criou-se uma pequena série de lives no Instagram intitulada Política. O objetivo dessa série foi apresentar os principais pontos das principais correntes políticas. Foram realizadas seis lives sobre as seguintes correntes políticas: conservadorismo, liberalismo, social-democracia, socialismo, anarquismo e libertarianismo. Essa série contou com a participação do Professor Paulo Cruz (professor de Filosofia do estado de São Paulo e mestre em Ciências da Religião), Professor Marcelo Silva (Instituto Federal do Espírito Santo e doutorando em Filosofia do IFCS), Professor Josué Medeiros (Departamento de Ciência Política-IFCS), Professor Mauro Iasi (Escola de Serviço SocialUFRJ), Professor Wallace de Moraes (Departamento de Ciência PolíticaIFCS) e Professor Dennys Xavier (Universidade Federal de Uberlândia). Ainda em novembro, por ocasião de celebração ao mês da Consciência Negra, realizou-se a mesa Quilombo acadêmico: conquistas e desafios de negras e negros na universidade em 18 de novembro de 2020. Tratou-se da primeira atividade do Acontece no IFCS no canal do YouTube. A referida atividade foi uma mesa de debates que contou com a participação do Professor Wallace de Moraes (Departamento de Ciência Política-IFCS), Professora Gracyelle Costa (Escola de Serviço Social-UFRJ), Professor Daniel Campos (Escola de Serviço Social-UFRJ), Vitor Matos (servidor técnico-administrativo e mestrando do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos) e Aoi Berriel (graduanda em Ciências Sociais do IFCS). 37 Ainda em celebração ao mês da Consciência Negra, o Acontece no IFCS reuniu breves depoimentos de docentes, técnicos e discentes negros que fazem parte da comunidade do IFCS. Os depoimentos foram expostos no nosso Instagram. Figura 1 – Mosaico de depoimentos da comunidade do IFCS Fonte: arquivos da autora Já em janeiro de 2021, no quarto momento, o Acontece no IFCS inaugurou uma nova série de lives intitulada O cientista social no mercado de trabalho. O objetivo dessa série foi conhecer a realidade profissional de cientistas sociais e suas trajetórias acadêmicas. Para tanto, foram entrevistados profissionais graduados em ciências sociais que atuavam no 38 mercado de trabalho nessa área. Foram apresentadas múltiplas possibilidades de atuação do cientista social para além do ambiente acadêmico como empresas, movimentos sociais e institutos técnicos. Ao todo, foram realizadas mais de 80 lives sobre temáticas diversas pertinentes às áreas de Ciências Sociais e Filosofia. Os resultados de todas as séries de lives foram muito positivos e ajudaram a fortalecer os laços do IFCS com a comunidade externa, em especial com ativistas dos movimentos sociais organizados. O desenvolvimento das novas atividades do Acontece no IFCS extrapolou os limites de uma modesta iniciativa pedagógica vislumbrada no início. Passou a emergir, em sua atuação, as diretrizes fundantes da extensão universitária: a interação dialógica, a interdisciplinaridade e interprofissionalidade, a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, impacto na formação do estudante e impacto e transformação social. O planejamento, a preparação, a organização e a roteirização de entrevistas, por exemplo, demandam atenção e dedicação à pesquisa e ao ensino. As entrevistas ao vivo também proporcionam intensa interação dialógica e interdisciplinaridade. O diagnóstico do impacto causado pelas atividades desenvolvidas durante o ano de 2020 levou a construção da proposta de projeto de extensão, sendo esta recomendada pela Pró-Reitoria de Extensão em fevereiro de 2021. O Acontece no IFCS virou, oficialmente, um projeto de extensão. o desenvolvimento do projeto até o momento O projeto Acontece no IFCS tem como objetivo promover a produção de material audiovisual e multimídia sobre saberes e conhecimentos acadêmico-científicos pertinentes às áreas de Ciências Sociais e Filosofia para divulgação nas principais mídias digitais. Estima-se que esse material produzido possa colaborar com a formação acadêmica do corpo discente da universidade e da comunidade externa e contemplar, em caráter complementar, às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Do ponto de vista teórico, nossa iniciativa está apoiada na literatura produzida pelos campos da Educação e da Comunicação. Pretto (2008), resgatando Paulo Freire (1996) aponta que “o ato de educar é um ato de comunicação”. Segundo Louis Porcher (2009, p.09), “um educador é sempre um comunicador: toda educação implica uma comunicação, uma troca, uma relação intersubjetiva”. 39 Até o presente momento, estamos realizando entrevistas sobre temas sociais que estão na ordem do dia, tais como cultura do cancelamento, reality show, homofobia e o quadro da fome no Brasil. As entrevistas estão sendo transmitidas ao vivo pelo canal do projeto no YouTube. Buscamos atingir, fundamentalmente, a interlocução entre pesquisa, ensino e extensão e promover mecanismos de divulgação científica, compreendendo-a como parte integrante de um processo formativo maior. Além das entrevistas, o projeto realizou em 16 de março de 2021 o evento de extensão intitulado Mulheres Presentes: reflexões sobre o mês de março. Trata-se do primeiro produto gerado pelo projeto, que teve como objetivo o debate sobre o quadro social das mulheres negras no Brasil, com especial atenção à situação de violência e feminicídio. A data do evento foi escolhida pelas seguintes razões: março é o mês anualmente dedicado à celebração internacional da mulher; 14 de março é o aniversário do violento assassinato da vereadora carioca e ativista social Marielle Franco, que encontra-se há 3 anos sem solução. O evento foi transmitido pelo canal da Pró-Reitoria de Extensão no YouTube e contou com a presença de mais de 100 pessoas de diferentes regiões do Brasil. É importante ressaltar que a equipe executora desse evento foi composta 100% por mulheres negras: Patricia Silva (coordenadora do evento), Ingrid David (jornalista e mestranda em Políticas Públicas e Direitos Humanos), Mariana Reis (professora do Instituto Benjamin Constant e doutora em Educação pela UFRJ), Luciene Lacerda (psicóloga da UFRJ e doutoranda em Educação) e Lívia Vitória (graduanda em Serviço Social da UFRJ e extensionista da ação). Ainda no mês de março de 2021, iniciamos o segundo produto gerado pelo projeto: o curso de extensão Quilombo acadêmico: reflexões sobre a população negra no Brasil, que teve como objetivo compreender, em nível introdutório, a situação social da população negra no Brasil. A equipe executora do curso reuniu profissionais de diversas áreas do conhecimento: Educação, Serviço Social, Psicologia, Direitos Humanos, Ciências Sociais e Filosofia. A realização desse curso foi um esforço coletivo que só foi possível graças às parcerias estabelecidas em 2020 com docentes, pesquisadores e ativistas. O curso tinha uma previsão de 30 vagas e, para a surpresa da equipe, recebemos 523 pedidos de inscrição de pessoas das mais variadas regiões do Brasil. Em 26 de abril de 2021, o curso foi concluído. Entre os dias 03 e 06 de maio de 2021, o projeto desenvolverá uma roda de conversas intitulada Ser mãe na universidade em 04 atos. O 40 objetivo dessa atividade é promover debate sobre a realidade das mães na universidade e promover reflexões sobre a relação entre maternidade e universidade. Os dias 03, 04 e 05 de maio serão dedicados às mães do IFCS: graduandas, pós-graduandas e corpo funcional (docentes, técnicas e terceirizadas). Essa atividade teve origem numa demanda do corpo discente do IFCS. A equipe do projeto elaborou um formulário com o intuito de conhecer a realidade das mães do IFCS. O referido formulário estava disponível desde o dia 18/03/21 e foi encerrado no dia 30/04/21. As respostas fornecidas pelas mães do IFCS possibilitaram que a equipe do projeto chegasse ao formato da atividade que será realizada em maio. Em decorrência de demandas apresentadas pelas participantes do evento promovido pelo projeto em março, a equipe executora desenvolveu proposta de um novo curso de extensão intitulado Introdução aos estudos sobre subjetividades femininas negras. O curso, que já foi recomendado e registrado pela Pró-Reitoria de Extensão, tem o objetivo de compreender, de forma introdutória, as subjetividades femininas negras e será executado nos dias 05 e 06 de junho de 2021. Novamente, a equipe executora do curso é multidisciplinar e será composta por mulheres negras, a saber: Patrícia Silva (coordenadora da ação), Ingrid David (vice-coordenadora), Lívia Vitória (extensionista da ação e graduanda em Serviço Social), Alessandra Pio (pedagoga do Colégio Pedro II e doutora em Educação), Marcela Rocha (psicóloga e mestranda em Memória Social) e Helena Theodoro (filósofa e doutora em História Comparada). O projeto teve início em fevereiro de 2021 e já gerou desde então quatro produtos muito importantes, além das entrevistas realizadas no nosso canal: um evento, dois cursos e uma roda de conversa. Esse resultado só foi possível graças a existência de uma equipe recém-criada, composta por um estudante de doutorado em Filosofia, três estudantes de graduação em Ciências Sociais, um estudante de graduação em Filosofia e uma forte rede de apoio construída em 2020. Tanto a equipe quanto a rede de apoio possuem três características essenciais para obtenção de tão bons resultados em tão pouco tempo: competência acadêmica, criatividade e empolgação genuína. Todos nós possuímos uma grande fé na universidade enquanto instância de democratização do conhecimento. Como já nos ensinou Paulo Freire: “Num país como o Brasil, manter a esperança viva é um ato revolucionário.” (FREIRE, s/d apud NASCIMENTO&ALBUQUERQUE, 2017, p.14) 41 a principal aposta futura A pandemia demandou que as instituições escolares reformassem suas metodologias de ensino, tornando mandatório o uso de tecnologias da informação. Ainda que esse cenário tenha sido desconfortável no início (e, para alguns, pode ser ainda considerado desconfortável), é importante apontar algumas felicidades que o ensino remoto ocasionou. O curso Quilombo acadêmico: reflexões sobre a população negra no Brasil é um dos exemplos dessa felicidade. Como dito anteriormente, o curso recebeu 523 pedidos de inscrição de pessoas de várias regiões do Brasil. Nossa turma teve um estudante que era professor de um município chamado Zé Doca, que fica a 7 horas de São Luís, capital do Maranhão. Na inscrição, ele relatou que seu interesse em realizar o curso dava-se pelas poucas oportunidades de formação continuada ofertadas de forma gratuita na sua região de origem. Um outro caso que exemplifica os felizes encontros gerados pelo ensino remoto é uma estudante moradora do município de Extrema, interior do estado de Minas Gerais, que procurou nosso curso para aprender formas de desenvolver estratégias de diversidade e inclusão na empresa em que atua. E o que falar do estudante que é psicólogo em uma unidade de saúde e procurou nosso curso para tentar compreender os porquês das mulheres negras que são vítimas de violência doméstica não reportam formalmente esse crime? Ou ainda o que falar do professor universitário do Espírito Santo que procurou nosso curso para aprimorar o desenvolvimento dessa temática em suas aulas sobre saúde e nutrição? Ou a participação de uma vereadora de Florianópolis no nosso curso? A turma do curso supracitado foi marcada pela diversidade regional. Em doze anos de atuação na UFRJ como profissional, nunca vivi uma experiência com pessoas tão diversas num mesmo espaço. Pernambuco, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo, Ceará... nosso curso teve alunos de todos esses estados e isso não seria possível se o curso tivesse sido desenvolvido de forma presencial. Conhecer indivíduos oriundos de municipalidades do interior no Brasil foi uma experiência única e encantadora. Em razão disso, a principal aposta futura do projeto é o desenvolvimento de outros eventos e cursos na modalidade à distância com o desejo de replicar a experiência vivida com o curso Quilombo acadêmico. A expansão das atividades extensionistas para além dos limites do Rio de Janeiro coloca um pouquinho de traços de Brasil profundo na UFRJ e, sem dúvida alguma, coloca um pouquinho de UFRJ em muitos corações pelo país. 42 referências bibliográficas NASCIMENTO, J. C. D; ALBUQUERQUE, E. A. A. Educação para transformar as pessoas do mundo, geografia para mudar o mundo das pessoas: aproximações teóricas entre Paulo Freire e Milton Santos. Geosaberes, Fortaleza, v. 8, n. 15, p. 67-80, mai./ago. 2017. PORCHER, L. Les médias entre éducation et communication. Paris: Vuibert, 2009. PRETTO, N.L. Escritos sobre educação, comunicação e cultura. Campinas: Papirus, 2008 43 05 ANATOMIA COM CRIATIVIDADE: ATIVIDADES DO PROJETO DE EXTENSÃO CIÊNCIA PARA A SOCIEDADE EM MEIO A PANDEMIA lUdmIla rIBeIro de carvalho coordenadora do ProJeto ciência para a sociedade amanda devay do carmo santone gradUanda em odontologIa - UFrJ danIel costa magalhães da cUnha gradUando em odontologIa - UFrJ lUIs gUstavo calmon leItão gradUando em odontologIa - UFrJ letícIa de olIveIra rIBeIro gradUanda em enFermagem e oBstetrícIa - UFrJ emmanUel germano vIeIra rodrIgUes gradUando em FIsIoteraPIa - UFrJ resumo Com a pandemia da covid-19, o projeto de extensão Ciência para a sociedade enfrentou o desafio de continuar disseminando conhecimento científico de modo virtual, antes realizado presencialmente no Museu de Anatomia. As redes sociais Facebook, Instagram, YouTube e TikTok foram usadas para manter a interação com o público através de conteúdos relacionados à Anatomia na forma de vídeos animados, postagens, enquetes, filtros e memes. Com isso, houve a criação de diversos tipos de produções, como: produção de conteúdo de divulgação científica (“Anatomeme”, “Anatopedia”, etc) e de vídeos animados (“Animanato”), participação em eventos on-line como o Festival do Conhecimento e Darwin Day e atividades síncronas com alunos do CAp-UERJ. Assim, o projeto possibilitou aos extensionistas a constância de suas atividades acadêmicas, contribuindo para formação e saúde emocional dos mesmos e mantendo o compromisso de levar ciência para a sociedade. palavras-chave Anatomia Humana; Corpo Humano; Extensão; Museu; Redes Sociais. 45 1. introdução 1.1. extensão universitária e sua importância A extensão universitária traz benefícios para o ensino e é considerada como “uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará na sociedade a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico” (FORPROEX, 1987). De acordo com a Constituição Federal de 1988, o ensino, a pesquisa e a extensão passaram a ser considerados indissociáveis e, com o segundo Plano Nacional de Educação (PNE) em 2001, a curricularização das ações extensionistas tornou-se obrigatória para as Instituições de Ensino Superior Federais. A partir da resolução do Ministério da Educação (nº 7/2018) foram estabelecidas as diretrizes para inserção da extensão nas matrizes curriculares dos cursos de graduação e, desde então, a UFRJ adota o conceito de extensão universitária definido pelo FORPROEX (2012) como: (...) um processo interdisciplinar educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre a universidade e outros setores da sociedade, valorizando características importantes como a interação dialógica entre o extensionista e a sociedade, além de promover o impacto da extensão na formação desse estudante. Essa proposta nacional tem permitido que ações extensionistas componham a formação inicial dos estudantes; uma dessas ações relacionadas à extensão são os museus universitários, onde a extensão colabora para que esses espaços museais cumpram seu papel socioeducativo e não apenas de entretenimento (ALMEIDA e MARTINEZ, 2014). As ações de extensão primam pela interação com a sociedade e pela troca de conhecimento, baseando-se em diretrizes como a interação dialógica, interdisciplinaridade e interprofissionalidade, indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e impacto na formação do estudante e na transformação social. Com estes princípios, o projeto de extensão Ciência para a sociedade tem atuado na formação dos estudantes, capacitando os extensionistas para atuarem como mediadores no Museu de Anatomia. 46 1.2. projeto de extensão ciência para a sociedade e o museu de anatomia O Museu de Anatomia "Por dentro do Corpo" foi criado por iniciativa do projeto de extensão "Ciência para Sociedade" em 2017 e, desde então, recebe visitantes e realiza dinâmicas lúdicas e diversas, contribuindo para a melhor compreensão da Anatomia e do funcionamento do nosso corpo pelo público. O Museu apresenta um acervo variado, disposto didaticamente em 15 vitrines ao longo do corredor do Laboratório Anatômico (localizado no bloco F, subsolo) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-CCS). Além dos modelos didáticos, fotografias artísticas e esculturas em cera centenárias, este acervo é composto por mais de 200 peças anatômicas humanas (ossos e órgãos plastinados), podendo ser manipulados pelos visitantes, proporcionando uma aprendizagem sensorial e efetiva (CARVALHO e UZIEL, 2018). Os principais propósitos deste projeto de extensão são: construir o conhecimento sobre o corpo humano de forma dialógica com o público e contribuir para a formação extensionista dos alunos. Desde sua inauguração, o Museu já atendeu mais de 4300 pessoas em visitas mediadas por graduandos da UFRJ e contribuiu para a formação de mais de 40 alunos, proporcionando treinamento na produção de material didático e de divulgação científica, na mediação das visitas e no relacionamento com o público (RIBEIRO DE CARVALHO, 2019). O papel do mediador é fundamental no museu, sendo a essência das atividades e da interlocução com o público. Os extensionistas mediadores são aqueles que proporcionam uma experiência única e personalizada a cada grupo de visitantes, “são eles que concretizam a comunicação da instituição com o público e propiciam o diálogo com os visitantes acerca das questões presentes no museu, dando-lhes novos significados” (MARANDINO, 2008, p. 28). 2. objetivos Apresentar a experiência de atuação do projeto de extensão Ciência para a sociedade durante o período de pandemia da covid-19, suas produções e relatos dos extensionistas. 47 3. metodologias Para manter a atividade on-line do projeto e a interação entre os membros da equipe são realizadas reuniões semanais através da plataforma Google Meet. Nesses encontros são propostas e registradas as ideias para o planejamento das publicações nas redes sociais (Facebook e Instagram através do perfil @pordentrodocorpo e no canal do YouTube). Os temas de Anatomia a serem abordados e seus formatos são discutidos em grupo e a produção do conteúdo é dividida entre os extensionistas da equipe. O aplicativo Canva é utilizado na produção gráfica das postagens. Já na edição dos vídeos, temos o software Sony Vegas entre outros aplicativos de mídia e animação, como o TikTok, Animaker, SparkAR e Speak Pic, usados para criar e compartilhar vídeos curtos. Todo este material produzido é organizado no Google Drive, na conta Gmail exclusiva do projeto. 4. descrição do contexto e procedimentos 4.1. contexto da pandemia Em dezembro de 2019, após aparecimento de casos na China, foi descoberto o novo Coronavírus, SARS-CoV-2, que faz parte de uma família de vírus que podem infectar tanto animais quanto pessoas. No dia 11 de março de 2020 foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a pandemia de covid-19, doença infecciosa causada pelo SARS-CoV-2 que atravessa barreiras e se dissemina mundialmente (WU et al., 2020). A transmissão se dá através do contato entre pessoas, de gotículas de saliva, tosse, espirros ou por contato com objetos ou superfícies contaminadas por gotículas de saliva de uma pessoa infectada (BRASIL, 2021). Antes da pandemia, os extensionistas acadêmicos da UFRJ realizavam visitas mediadas no Museu de Anatomia, compartilhando com o público conhecimentos de Anatomia e Fisiologia Humana de forma interativa, valorizando os conhecimentos prévios e interesses dos visitantes para melhor adaptar a mediação. No atual contexto, com a necessidade de isolamento social, estas atividades presenciais foram suspensas e foi necessário que a equipe do projeto se reinventasse criativamente para continuar propagando ciência para a sociedade. 48 4.2. adaptação das atividades acadêmicas O cenário de pandemia trouxe reflexões e a necessidade de mudanças associadas aos métodos de ensino e de interação com o público, uma vez que ordens de permanência em casa foram emitidas para mitigar a propagação do coronavírus. Dessa forma, a transição para o ensino remoto e a adequação da extensão na atuação e relacionamento com a sociedade foram essenciais. Através das redes sociais como Instagram, Facebook e YouTube, o projeto tem mantido sua relação com a sociedade compartilhando materiais de divulgação científica em formato de publicações (postagens) e vídeos animados sobre o tema central “Anatomia Humana”. Todo este material educativo é desenvolvido pelos extensionistas em conjunto com a coordenadora do projeto, buscando se valer de recursos interativos e lúdicos para captar a atenção do público. Nesse sentido, a extensão tem exercido papel fundamental ao transferir suas atividades para os meios online, mantendo ativo o processo de formação dos universitários, estimulando-os na busca de autonomia e de autoaprendizagem durante esse período tão difícil para todos. 5. resultados 5.1. divulgação científica através das redes sociais instagram e facebook: A busca do projeto por interação com o público fez com que fossem criadas colunas (Figura 1), isto é, tipos de postagens específicas, com nome e layouts próprios, abrangendo temas da área de Anatomia, a fim de proporcionar conhecimento com entretenimento. Logo em maio/2020, o primeiro conteúdo idealizado foi a série “AnimAnato”, composta por 15 vídeos de animação, que estão no IGTV1 e foram criados utilizando o programa Animaker. Para isso, foi necessário o envolvimento de toda equipe em exercitar a criatividade, aprender o uso do software e pôr em prática a capacidade de transformar conteúdo 1 IGTV: significa Instagram TV, página da própria rede social dedicada apenas a vídeos, que variam de 1 a 15 minutos para perfis não verificados e de 1 a 60 minutos para perfis verificados (autenticidade do perfil de figuras públicas, marcas ou entidades notáveis). 49 teórico em conhecimento didático, estético e lúdico. Outro recurso foi a postagem (posts)2 das fotos artísticas da exposição Orgânica (THEBERGE, 2019), através da coluna “Desafio Orgânica”, onde o público era convidado a interagir dizendo qual estrutura do corpo humano estava sendo apresentada na foto. Este material artístico revela as similaridades entre as estruturas anatômicas humanas e vegetais, provocando uma reflexão sobre a relação entre os organismos. A coluna “Anatopédia” são postagens com explicações de termos anatômicos, apresentando estruturas e propriedades dos sistemas do corpo humano como em uma enciclopédia e o “Anatomeme” utiliza-se do humor como recurso didático ao apresentar memes3 adaptados ao tema da Anatomia, trazendo vários aspectos dos sistemas que compõem o corpo humano associados aos dilemas da vida cotidiana, contendo referências de filmes, séries e/ou desenhos que resultam em um conteúdo humorístico e atrativo para o público. Atualmente foram criadas as colunas: “Quem sou? Onde estou?”, relacionando imagens histológicas à sua localização no corpo, e “Etimologia”, que traz as raízes etimológicas dos termos anatômicos, explicando sua origem e o porquê destes termos serem utilizados na nomenclatura anatômica. 2 3 Postagem ou post: publicação de texto, imagem ou vídeo na internet, como em um site, rede social, grupo, blog, entre outros. Meme: termo que significa imitação, na internet é usado como qualquer informação na mídia digital que se espalhe rapidamente, normalmente com caráter cômico ou crítico. 50 Figura 1: Algumas colunas de postagens no Instagram/Facebook. A rede social TikTok ficou bastante conhecida durante a pandemia, e também tem sido usada na gravação de vídeos no modelo das tendências do momento (trends) com temas de anatomia, vida universitária, entre outros, de forma lúdica e teatral. Visando aumentar a interação nas redes sociais, a equipe busca se atualizar, utilizando ferramentas diversas, como, por exemplo, a produção de filtros para o Instagram (Figura 2) utilizando o software SparkAR. Figura 2 - Filtros do Instagram 51 5.2. divulgação científica através do youtube e participação em eventos Com o recurso dos vídeos no Instagram, desejando ampliar sua divulgação e atrair novos públicos, o projeto criou o canal no YouTube, reeditando os vídeos “AnimAnato” em 7 episódios, sendo o primeiro deles publicado em julho/2020, apresentando 111 visualizações. Atualmente o canal contém 15 vídeos com uma média de 70 visualizações cada, e se tornou um meio de disponibilizar a produção dos mediadores do projeto para participação em eventos como Festival do Conhecimento, Darwin Day, entre outros. Como o YouTube é uma plataforma sem exigências para seu acesso, tornou-se um dos principais canais de disseminação de informações utilizado pelos eventos. O vídeo “Darwin Day: o dia que Darwin, a covid-19 e a Anatomia se encontraram”, que fala sobre os principais sistemas do corpo humano afetados pelo SARSCoV-2, com enfoque em Anatomia Comparada, por exemplo, rendeu 135 visualizações e também foi publicado na playlist4 do evento no canal da Extensão-UFRJ. 5.3. atividades síncronas Além da produção de vídeos para atividades assíncronas, depois de quase um ano sem mediações no Museu, os extensionistas puderam interagir novamente de forma síncrona com grupos escolares através da plataforma AVA, participando do evento promovido pelo Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp-UERJ). Com duas turmas do Ensino Fundamental 2, foi utilizado o recurso didático de Contação de Histórias e jogos educativos; com os alunos do Ensino Médio, foi realizada uma mediação similar a visitação no Museu, porém utilizando outros recursos lúdicos, como o quiz elaborado no site Kahoot, uma dinâmica com as fotografias da Exposição Orgânica e oficina de criação de memes. 5.4. repercussão do projeto junto ao público – análise de métricas do instagram Amplamente utilizada pelas faixas etárias de jovens e adultos, o Instagram obteve grande crescimento como meio de conexão entre as 4 Playlist: lista de reprodução de vídeos ou músicas. 52 pessoas. Neste período de pandemia, houve um aumento de interações dos usuários com o conteúdo do Instagram @pordentrodocorpo, que conta com envios diários, permitindo o engajamento dos seus seguidores ou “alcançados'' pelas postagens deste perfil, através de comentários, curtidas, respostas às enquetes e sugestões. A análise destes resultados é feita pelo Instagram Insights, uma ferramenta de análise disponibilizada pela própria plataforma. O insight exibe gráficos dos resultados dos posts e permite o acompanhamento do desempenho e compreensão do que mais agrada aos seguidores e alcançados, sendo possível relacionar o envolvimento deles com o conteúdo através dos comentários, salvamentos, curtidas, compartilhamentos e respostas aos tópicos propostos. O Instagram Insights apresenta informações referentes ao conteúdo como as publicações e stories5 e também sobre o público através de características como gênero e faixa etária (Figura 3), localização ou frequência de uso do Instagram. 5 Stories: ferramenta utilizada nas redes sociais, como Facebook e Instagram, que permite o compartilhamento de fotos ou vídeos com duração máxima de 15 segundos. Usado como conteúdo mais rápido e relacional, pode ser visualizado por um curto período de tempo, pois saem do ar em 24 horas. 53 Figura 3 - Gráficos de gênero e faixa etária dos seguidores do projeto no Instagram Insights. Com essa ferramenta, pode-se adequar o conteúdo à identidade e realidade dos seguidores e conferir se está sendo apreciado ou não pelo público, tornando-se, portanto, um guia para avaliar em qual direção a abordagem do perfil deve seguir. 6. relatos dos extensionistas Os relatos particulares de extensionistas do projeto Ciência para a sociedade são importantes indicadores para a avaliação deste trabalho. Com o início da pandemia, a vida dos alunos foi completamente impactada, trazendo uma série de dificuldades à vida acadêmica, como o cancelamento das atividades presenciais e incerteza inicial de possibilidade de retorno das aulas ou da realização das atividades remotas. Para Reis (2010), essas dificuldades podem estar relacionadas à falta de equipamentos tecnológicos, falta de domínio de plataformas e linguagens digitais e falta de condições de residências mínimas para realização das atividades. Neste contexto, a extensão foi o primeiro contato de retorno à universidade para muitos estudantes. Logo no início de abril de 2020, o projeto retomou suas atividades através de encontros semanais de planejamento com a equipe pela plataforma Google Meet, mantendo o contato com os alunos, como pode-se observar no relato do extensionista Daniel Cunha: 54 Em 2020, a única atividade presencial que realizamos foi a organização do museu para as visitas seguintes, que nunca chegaram a acontecer. Com a declaração da pandemia e interrupção das atividades presenciais em toda a universidade, passei alguns dias sem ter nenhuma atividade, mesmo on-line. Em abril, começamos a nos reunir pelo Google Meet para pensarmos como realizar o projeto de forma online, e então decidimos utilizar as redes sociais, como o Instagram para divulgar nossa criação de conteúdo científico. Apesar de alguns alunos se depararem com dificuldades para realização das atividades de extensão nesse período de quarentena, muitos demonstraram que essa foi uma alternativa para conseguirem lidar melhor com a nova condição imposta pela covid-19 e que, “embora trágica, a pandemia trouxe ensinamentos que serão levados para o resto da vida, tanto acadêmica, quanto particular” (relato de Daniel Cunha²). Além disso, “com reuniões semanais e com as aulas à distância ainda não disponíveis, o projeto desenvolveu um meio de manter os graduandos ainda envolvidos com a faculdade e a mente ocupada” (relato de Luís Calmon³). Estou no projeto pois realmente é muito bom integrar essa equipe. Não necessito mais de horas de extensão para me formar, pois já concluí todas as horas necessárias, porém pretendo continuar no projeto até concluir a graduação. Está sendo muito bom pra mim produzir neste momento difícil. O Museu sempre foi minha válvula de escape do estresse da faculdade e agora está sendo da pandemia. Aprendi muito, seja na vida pessoal ou acadêmica sendo extensionista neste projeto (relato extensionista de Letícia Ribeiro4). Todos os integrantes da equipe do projeto de extensão precisaram se adaptar ao novo contexto social e também às novas demandas trazidas pelo uso das redes sociais e de outros recursos tecnológicos em prol da ação de divulgação científica. Embora sem perspectiva de retorno durante a pandemia, os mediadores do projeto não pararam e se reinventaram, o que proporcionou novos conhecimentos e habilidades, que poderão ser usados tanto na vida acadêmica quanto na questão social de cada um (relato de Luís Calmon³). As atividades presenciais no Museu de Anatomia fizeram parte da experiência da maioria dos alunos que já passaram e ainda atuam neste projeto, e esta vivência contribui para o desempenho dos mesmos nas atividades online, inclusive no evento “Festival do Conhecimento Universidade Viva” realizado pela Pró-Reitoria de Extensão (PR-5) - UFRJ: 55 Ingressei no projeto em 2019-1, no 3º período de Enfermagem e tive a oportunidade de mediar visitas para públicos diversos, desde a creche até graduandos. Com a suspensão das visitas presenciais, nos reinventamos e eu pude colaborar criando vídeos para a série “AnimAnato”, além de dublar os vídeos para a voz feminina. Outrossim, participei criando stories no Instagram e elaborando enquetes para interagir com o público. Também colaborei em publicações nas redes sociais e gravei um vídeo de depoimento para o Festival do Conhecimento (relato de Letícia Ribeiro4). Ingressei no projeto em 2019-2, no 2º período de Odontologia. Participei de atividades presenciais, atendendo público da creche ao Ensino Médio, e da SIAC-UFRJ com público variado e de diversas maneiras, dependendo das questões levantadas pelos visitantes (relato de Daniel Cunha²). Sendo a extensão componente curricular obrigatório, o projeto continuou recebendo novos graduandos em sua equipe e, mediante o processo de validação de extensão virtual pela PR-5, mantém a creditação de carga horária destes alunos. Mesmo sem a experiência presencial no projeto, extensionistas passaram a integrar a equipe, elaborando conteúdos de qualidade, pois o conhecimento obtido na graduação, bem como a criativa e habilidades particulares, permitem a produção de materiais para postagens e de vídeos para o YouTube e eventos. Em 2020.2 ingressei no projeto, pois já conhecia o trabalho realizado no Museu presencialmente e sempre me identifiquei com a ideia de apresentar um pouco do que vemos na universidade para o público. Ainda não pude atuar nas visitas, mas já participei do vídeo para o Darwin Day e em postagens para nossa página no Instagram, com a finalidade de interagir com o público e proporcionar um contato não só com estudantes, mas também com as demais pessoas interessadas no tema de Anatomia (relato de Emmanuel Rodrigues5). 7. considerações finais Projetos de extensão e museus constituem-se como importantes espaços de formação para os graduandos (PINTO e DAHMOUCHE, 2020) e a criatividade tem sido a tônica em todas as atividades desenvolvidas (site da Extensão-UFRJ). Vivendo situações adversas, manter a mente ativa e criativa tem sido importante na manutenção da saúde emocional. 56 As redes sociais são ferramentas de grande alcance em nossa sociedade e o seu uso como apoio à Educação e Divulgação Científica (WERHMULLER e SILVEIRA, 2012) deve ser considerado, sobretudo, porque o isolamento social favoreceu o aumento do consumo de conteúdo na internet. Neste contexto de desacreditação da Ciência com desinformação científica e propagação de fake news6, o compromisso deste projeto de divulgar conteúdo educativo de qualidade se reafirma. referências bibliográficas ALMEIDA, P.; MARTINEZ, A.M. As pesquisas sobre a aprendizagem em museus: uma análise sobre a ótica da subjetividade na perspectiva histórico cultural. Ciência e educação. Bauru: vol. 20, n. 3, 721-737 p., 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Sobre a doença. Disponível em: https://coronavirus. saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-covid Acesso em: abr. 2021. CARVALHO, L.R.; UZIEL, D. Museu de Anatomia UFRJ: hoje uma realidade! SINTAE- Seminário de Integração dos Técnicos Administrativos em Educação, 2018. Disponível em: https://conferencia.ufrj.br/index.php/sintae/sintae2018/ paper/view/2277 Acesso em:nov/2020. FORPROEX. Conceito de extensão, institucionalização e financiamento. Encontro de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras. Brasília: UNB, 1987. Disponível em:https://www.ufmg.br/proex/renex/images/documentos/1987-I-Encontro-Nacional-do-FORPROEX.pdf. Acesso em: agosto/2020. FORPROEX. Política Nacional de Extensão Universitária. Coleção Extensão Universitária; v. 7. Gráfica da UFRGS. Porto Alegre, RS, 2012. MARANDINO, M. Educação em museus: a mediação em foco. São Paulo: Geenf/ FEUSP, 2008. PINTO, S.P.; DAHMOUCHE, M.S. Museus de Ciências-Espaços de Formação para Licenciandos. EAD em Foco, v. 10, n. 2., 2020. REIS, H. Modelos de tutoria no ensino a distância. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, 2010. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/reis-hiliana-modelos-tutoria-no-ensino- -distancia.pdf Acesso em: abr. 2021. RIBEIRO DE CARVALHO, L. Museu de Anatomia “Por Dentro do Corpo”: Trajetória de Conquistas. SINTAE- Seminário de Integração dos Técnicos Administrativos em Educação, 2019. Disponível em: https://conferencias.ufrj.br/index.php/sintae/sintae2019/paper/view/ 2907 Acesso em: nov. 2020. 6 Fake news: notícias falsas, desinformação ou boatos via jornal impresso, televisão, rádio ou on-line, como nas mídias sociais. 57 THEBERGE, J.; CARVALHO, L.R. Orgânica: exposição fotográfica do museu de anatomia. Anais do I Encontro de Arte e Cultura da UFRJ. Fórum de Ciência e Cultura-UFRJ, 2019. WERHMULLER, C.; SILVEIRA, I. Redes sociais como ferramentas de apoio à Educação. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 3, n. 3, p. 594-605, 1 out. 2012. WU, F.; et al. A new coronavirus associated with human respiratory disease in China. Nature, v. 579, n. 7798, 265–269, 2020. 58 06 APRENDER COM O CINEMA: INTERDISCIPLINARIDADE, CIÊNCIAS AMBIENTAIS E EDUCAÇÃO raFael nogUeIra costa coordenador do ProJeto imaginamundos marIa JúlIa BatIsta de araúJo gradUanda em FarmácIa - UFrJ-macaé BrUno vIlela vasconcelos gradUando em cIêncIas BIológIcas - UFrJ-macaé resumo Diante de um quadro inédito em nossa época, uma situação-limite, como diria Paulo Freire, fomos convidados a (re)existir e experimentar práticas educativas no isolamento social. Neste cenário, experimentamos ler o cinema como janela para uma educação criativa. Entretanto, como manter a vida criativa em tempos de pandemia? O cinema libertador, suas interseccionalidades históricas e seus novos olhares decoloniais e interdisciplinares foram o ponto de encontro para a nossa reflexão. O texto reflete sobre uma ciranda dialógica entre autores e leitores, gerando novas possibilidades de imaginar mundos e de construir imagens, bem como metodologias coletivas e transformadoras a partir do cinema e do audiovisual dentro de espaços que permeiam a educação. palavras-chave Imaginamundos; Imaginário; Educação Ambiental; Ciranda; Dialógico. 59 1. introdução As práticas educativas sofreram um abrupto processo de mudança no início do ano de 2020 devido ao surgimento da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Todos os países, inclusive o Brasil, precisaram aderir ao isolamento social em razão do elevado número de casos de contágio. Dessa forma, as instituições educacionais tiveram que suspender as aulas presenciais para diminuir a transmissão do vírus. Essa necessidade de distanciamento social provocou uma reinvenção de atividades por parte das instituições educacionais e, em paralelo, uma apropriação do remoto como modalidade possível. Portas fechadas, janelas e telas abertas. Este capítulo promove uma sistematização da reflexão coletiva de uma ação do Projeto Imaginamundos, vinculada à disciplina Educação, Ambiente e Cinema, oferecida para os cursos de Graduação da UFRJ no Período Letivo Excepcional (PLE). Em forma de uma rede teórica, promovemos reflexões sobre o cinema, por meio de aulas abertas e públicas1. Para as pessoas mais afortunadas, é possível, a partir do consumo de produtos culturais, como leituras, pinturas e cinema, uma ampliação da janela do mundo. Nesse aspecto, o cinema e seus subprodutos podem se tornar aliados na elaboração de propostas de ensino, por meio de canais na internet, inseridos nos processos de formação de professoras(es) e cientistas. Essa ação trouxe debates interdisciplinares convergentes na disciplina, além de promover estratégias criativas de ensino no contexto pandêmico. Nossa intenção é mostrar as potencialidades do cinema como ação de extensão, pelas possibilidades de construção coletiva, horizontal, potente e encantadora. 2. cinema e a construção do imaginário coletivo2 Desde tempos remotos, o ser humano demonstra-se fascinado por imagens. Pelas janelas dos mundos, os grupos sociais foram capazes de 1 2 Para transmissão das aulas abertas foi utilizado o programa de transmissão ao vivo, Stream Yard e, posteriormente, o material foi disponibilizado no canal oficial do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ) no Youtube. A ação contribuiu para divulgação do canal de comunicação da instituição, que até o presente momento conta com 2.000 inscritos. SATO (2011), descreve uma metodologia para desenvolver uma “cartografia do imaginário” e sua contribuição para o “mundo da pesquisa”. 60 criar maneiras de se expressar e de sistematizar o imaginário coletivo. Na época pré-histórica, as imagens serviam para demonstrar as caças, os rituais, o cotidiano e, a partir disso, construir o que chamamos de linguagem visual. Uma maneira nítida de perceber esse apreço pela imagem, como reflexo histórico, é o papel do cinema e do audiovisual na contemporaneidade. O cinema é a arte capaz de capturar movimentos a partir de imagens e sons que, ao formar uma fluida articulação integrada destas capturas, pode promover uma falsa sensação de continuidade. Podemos dizer que é a arte de contar histórias, mas também a arte de enganar. No final do século XIX, os irmãos Lumière experimentaram, em Paris, o cinematógrafo. Para o Prof. Dr. Robson Loureiro (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo), o cinema não surgiu como entretenimento em um primeiro momento, pois a construção do equipamento estava vinculada às principais questões científicas, principalmente questões fisiológicas e do movimento (LOUREIRO, 2020). A partir daí, o equipamento e o cinema passaram a ser adotados como produto de entretenimento e construiu-se uma linguagem própria cultural (LOUREIRO, 2020). Com essa transformação, foram construídos estúdios cinematográficos nos Estados Unidos, como Hollywood, dominante no universo cinematográfico atualmente. Para Loureiro (2020), em sua aula aberta e pública, a indústria cultural é um sistema conglomerado de empresas que produzem mercadorias culturais, como literatura, jornalismo e rádio, assim como o próprio cinema, que representa um universo simbólico de um grupo social. Esta produção se torna uma grande fábrica de memórias e sonhos, criando um imaginário coletivo de percepção da realidade (LOUREIRO, 2020). Por isso, é necessário a “reeducação do olhar” em relação ao cinema, que pode ser realizada por meio de reflexões sobre as produções hegemônicas dos estúdios de Hollywood e por recuperações de experiências que desafiaram esta lógica (LOUREIRO, 2008). Mediante ao que entendemos por apropriação do imaginário, vale ressaltar que esse contexto emerge dentro da lógica produtivista do sistema capitalista de aprimoramento tecnológico e inventivo com o horizonte do progresso desses países hegemônicos, sendo um modelo de controle simbólico e influenciador de uma visão consumista de mundo. O professor Dr. Sérgio Luiz Pereira da Silva (Programa de PósGraduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), em sua aula aberta e pública, retratou a onda conservadora 61 política e buscou compreender como a lógica conservadora tem utilizado referências instrumentais de documentários, fotografias e outras formas de audiovisual, para produzir narrativas que tentam persuadir o imaginário coletivo. Assim, percebe-se que o cinema como indústria cultural pode ser apropriado e produzido com intenções atribuídas à dominação pública e ao controle social. Para Sérgio Luiz Pereira da Silva: [...]a ideologia sempre fez parte da história da sociedade. A trajetória do pensamento conservador e essa ideologia republicana, extremamente radical com fundamentalismo cristão, vêm aos poucos saindo da esfera pública do Estado e ocupando espaços que eram ocupados pela sociedade civil de maneira geral. Ou seja, esse pensamento sai desses dispositivos que são objetivamente políticos, institucionais e partidários e ocupam o mundo do cinema para produzir verdades reificadas, para fazer revisionismo histórico (aula aberta, Prof. Dr. Sérgio Luiz Pereira da Silva, 2020). Para Theodor Adorno, os discursos fascistas possuem alguns aspectos, como a glorificação da ação, demagogos fascistas falam sempre sobre os meios, mas nunca sobre os fins (ADORNO, 2015). Cria-se então, elementos da retórica da sedução, a exemplo do atual presidente da república, chamado pelos seus apoiadores de “Bolsomito”. Ou seja, um ser mitológico que será capaz de combater os males presentes na sociedade brasileira. É possível observar simbologias que apresentam o candidato como combatente, salvador da pátria, líder de uma nação que estaria sem comando, ou seja, um típico herói de Hollywood ou da Disney, produzido no universo cinematográfico hegemônico, como diria Loureiro (2020). Outra questão presente neste debate imagético é a idealização de um “inimigo imaginário”, ou seja, algum vilão que tenta destruir o herói em ação. Dessa maneira, é criado um símbolo como a figura do judeu no período nazista e a figura do “petrala” e “comunista” no Brasil. Esse tipo de pensamento é alimentado por símbolos imagéticos racistas, sexistas, homofóbicos e xenofóbicos que se tornam verdadeiros absurdos inadmissíveis dentro de uma democracia (SILVA, 2020). Assim, percebe-se como que a indústria cultural, utilizada pelo capitalismo e por pensamentos tradicionalistas hegemônicos, pode servir como controladora e modeladora de imaginários coletivos. O cinema passa a ser uma arte em disputa e que, apesar de suas grandes proporções, está fundada em uma história universalizante e produtivista. É necessário romper com essas lógicas. 62 3. novos olhares: decolonialidade e interdisciplinaridade no cinema O cinema pode ser analisado dentro de um modelo hegemônico do homem, branco, europeu, ocidental e colonial, marcado por um imaginário restrito e universal de pensamento. No fluxo contra-hegemônico, crítico, aderido ao sul, pode-se romper com essas estruturas presentes no imaginário colonial do poder, do saber, do ser (BALLESTRIN, 2013) e, também, do ver (BARRIENDOS, 2019) e do imaginar (COSTA et al., 2021). Este tipo de cinema, o estopim da bomba, pode potencializar rupturas, criando outros imaginários. Segundo o Professor Dr. Marco Antonio Teixeira Gonçalves (Professor Titular de Antropologia do Departamento de Antropologia Cultural do IFCS-UFRJ), “o decolonial é uma espécie de insurgência contra o que se chama de sistema mundo capitalista, patriarcal, cristão, moderno, colonial, europeu” (GONÇALVES, 2020). Ou seja, é justamente produzir um tipo de ruptura com a indústria cultural universalizante. As histórias dos povos originários foram, durante muitos anos, silenciadas e não valorizadas. São histórias de resistência, que revelam fugas, lutas e emancipações. Por isso, podem ser consideradas perigosas para as forças hegemônicas. Gonçalves (2020), em sua aula aberta, diz que uma das primeiras críticas escritas feitas ao colonialismo foi produzida pelo indígena andino Felipe Guamán Poma Ayala (LAGORIO, 2007) do território ocupado pelo Peru. Esse indígena, catequizado pelos jesuítas, reflete sobre aquele processo histórico que viveu e, a partir de um livro no final do século XVI, criticou a política imposta pelos espanhóis e o modo como tratavam os indígenas. Gonçalves (2020), nos lembrou em sua aula, que no Brasil, em fevereiro de 1922, surgiu a semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, a qual é um importante referencial para reflexões estéticas e para a crítica de arte do país, onde surgiram muitos escritores e pintores que participaram desse momento, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, entre outros. Nesse ambiente artístico e cultural, foi destacada a necessidade de “redescobrir” o Brasil, repensando-o de modo a desvinculá-lo, esteticamente, das amarras que ainda o prendiam à Europa (AJZENBERG, 2012). Desta forma: 63 Pensar em Macunaíma, o manifesto antropofágico, são ícones da cultura brasileira. Tanto o Oswald de Andrade quanto o Mário de Andrade, vão questionar, tentar construir uma nova forma de pensar o que seria o Brasil, o que seria a brasilidade, sem se olhar com os olhos estrangeiros (aula aberta, Prof. Dr. Marco Antonio Teixeira Gonçalves, 2020). No entanto, o cinema como arte e indústria cultural permanece, em boa parte, sob dominância ocidental, ainda como herança colonial. O professor Robson Loureiro (2020) traz como reflexão o cinema do colonizador, ao mostrar um panorama dos últimos dez anos (2011 a 2020) das maiores bilheterias no Brasil. Ainda que o aspecto colonizador venha dos Estados Unidos e não da Europa em si, o país norte americano segue uma lógica colonial em diversas esferas da sociedade. Percebe-se uma dominação externa, quando se considera a predominância de filmes estadunidenses, em sua maioria da Disney, ocupando as salas de exibição dos principais cinemas no Brasil. Percebe-se uma certa influência da indústria cultural na formação de um imaginário colonial. Diante disso, surge a necessidade da criação de narrativas que possam romper esta lógica pasteurizada, um cinema crítico e libertador, que possa ir em contramão da indústria cultural: É isso que pesquisamos na tese de pós-doutorado do Prof. Rafael Nogueira Costa, quando sistematizamos um cinema capaz de dialogar com o povo, radicalizando o diálogo na própria produção. Trata-se de um cinema com filosofia libertadora, inspirada nas obras de Paulo Freire, que subverte a lógica cinematográfica hegemônica, um cinema em rede e preocupado com a construção da memória coletiva em diversidade, crítica e encantada (aula aberta, Prof. Dr. Robson Loureiro, 2020). Como dito pelo professor Marco Antônio (2020), “o cinema é um mundo” e, assim, pode ser encarado de maneira interdisciplinar. 4. cinema, ciências ambientais e educomunicação A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), principal órgão regulador da pós-graduação no Brasil, apresenta como característica a complexidade da área e as conexões entre o estudo das ciências sociais e do ambiente. Dessa maneira, o professor Maurício Mussi Molisani (Coordenador do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento da UFRJ), 64 retrata a importância desta percepção, tanto em sua construção quanto na sua divulgação: A questão das Ciências Ambientais hoje em dia é um dos grandes desafios que a gente tem no mundo e é importante a gente formar pessoas com essa habilidade, saber sobre meio ambiente e a relação com a sociedade, mas também de divulgar os dados científicos que são gerados nas Ciências Ambientais. Por quê? Porque precisamos ter um processo de esclarecimento, percepção, para poder melhorar o ambiente como um todo e como consequência melhorar a sociedade (aula aberta, Prof. Dr. Maurício Mussi Molisani, 2020). Juntamente com essa afirmação, o Prof. Dr. Maurício ressaltou o potencial do cinema como divulgador e gerador de um pensamento ambiental crítico e aplicado dentro da sociedade. Ou seja, como arte atuante na construção de um imaginário ecológico e social capaz de promover ações práticas e conscientização crítica do momento socioambiental vivente. Logo, construir uma visão de mundo que leve em consideração a complexidade deste permite a compreensão progressiva desta relação complexa e interdisciplinar. A respeito da educomunicação, como veículo potente de educação neste âmbito de complexidades, o professor Claudemir Viana, da USP, disserta sobre a área e suas relações com a área ambiental e a educacional. Segundo o professor, a educomunicação é uma área nova da ciência e vem se consolidando como um novo campo de pesquisa (VIANA, 2020). A educomunicação surgiu a partir de um contexto de ausência de uma comunicação de participação conjunta, ou seja, dialógica e democrática (VIANA, 2020): Logo, comunicação é tornar comum o conhecimento, aquilo que é direito. É trazer o acesso juntamente com a proposta educativa libertadora e interdisciplinar, que dialogue com as ciências sociais e a sociedade em si, ou seja, não é fazer comunicação para a comunidade e sim fazer comunicação com a comunidade (aula aberta, Prof. Dr. Claudemir Viana, 2020). Quando há uma troca de saberes com participação ativa da sociedade, cria-se um amplo espectro de possibilidades para a construção de conhecimento, permitindo que este esteja mais acessível às diversas camadas da sociedade de forma diversificada e democrática. Um cinema participativo, que utilize da proposta de comunicação e construção do conhecimento com a sociedade, trazida pela 65 educomunicação abordada por Viana (2020), permite um cinema não só como arte para o público, passivamente no “assistir”, mas sim, no criar em comum. 5. propostas para fazer cinema na extensão As aulas abertas permitiram uma reflexão sobre a instância política, educativa e plural do cinema. Todas essas características servem de subsídios para a construção de uma ação educativa propositiva, com objetivos criativos e na contramão do modelo massivo e bancário (FREIRE, 2013). Além disso, o cinema se torna uma maneira de divulgação de saberes capazes de desconstruir e reconstruir imaginários universais, ampliando horizontes possíveis. Desta forma, preocupado com a diversidade destes saberes e destes olhares, funcionando como um veículo que estabelece a relação sociedade e a ciência, criando pontes para o saber. Outro aspecto importante do cinema, dentro da proposta de educação, é a construção de um sujeito crítico e atento às marcas da colonialidade, ou seja, que promove a libertação dos olhares. O audiovisual contribui para a formação da sociedade contemporânea, visto que vivemos em torno da imagem. A formação dessas imagens e desse imaginário é um fator crucial para a construção da educação, pois filmes e outros conteúdos audiovisuais têm sido cada vez mais incorporados como dinamizadores de aulas, conforme apontado pelo Prof. Maurício Molisani (2020). Dessa maneira, a utilização do cinema dentro dos ambientes escolares e o tipo que está sendo utilizado, contribui para uma leitura diferente de mundo. O próximo passo do cientista é publicar o seu trabalho em novos formatos. Publicar o artigo em uma revista com fator de impacto alto, isso provavelmente aumenta o número de leitores [...]. Mas, mesmo assim, o artigo científico é restrito aos cientistas (aula aberta, Prof. Dr. Maurício Mussi Molisani, 2020). É necessário que as pesquisas sejam compartilhadas com a população, com uma linguagem menos técnica, de fácil compreensão e objetiva, pois estamos diante de uma guerra, e a linguagem audiovisual é um elemento importante na disputa pelo imaginário. 66 O cinema é capaz de promover uma nova educação do afeto e do sentir. Esse sentir se extrapola além dos símbolos, que remetem à preocupação, à sensibilização, à conscientização e aos territórios, rompendo a lógica da indústria cultural. O sentir permite uma educação própria, singular em sua diversidade e coletiva em sua totalidade, ou seja, se torna permanente e orgânica. “O mundo não é só razão, também é emoção. Não é só realidade, é fantasia. Não é só compromisso com o prático, pragmático, mas também com o sonho utópico de sociedade, de cidadão”, complementa Claudemar Viana (2020) ao abordar o aspecto do afeto na educação. Dessa forma, o cinema se torna o ponto de encontro com todas essas propostas educativas que envolvem emoção, fantasia e construção de sonhos. 6. considerações finais Portanto, mediante o cenário pandêmico em que nos situamos, percebe-se o quão é possível o aprendizado a partir do cinema. Toda história e contexto de origem, pensamento decolonial e a interdisciplinaridade entre ambiente, cinema e educação é extremamente importante para a formação do senso crítico, como também, fundamental na construção dos saberes. Experimentamos uma reflexão capaz de integrar distintos campos do conhecimento, em prol de uma educação criativa e libertadora. Isso converge com o papel das universidades para com a sociedade, mediante ao acesso desta aos conhecimentos produzidos. Além disso, buscamos uma reflexão sobre o cinema e audiovisual na contemporaneidade, que se fez para além do uso e entretenimento. As presentes aulas abertas e públicas, sistematizadas ao longo do texto, mostram exatamente essa relação, deixando bastante evidente as potencialidades da contribuição do audiovisual, mais precisamente do cinema. Os encontros foram inspiradores para a aplicação do conhecimento obtido a partir das redes da universidade, possibilitando aprender novas perspectivas e abordagens que, com certeza, serão fundamentais para a formação crítica dos discentes e dos demais participantes. Assim, por meio dessas interrelações foi, e continua sendo, possível resistir e (re) existir neste contexto de incertezas da vida em sua plenitude. Esperamos que estas aulas possam virar sementes para serem plantadas na busca pela reeducação do olhar (LOUREIRO, 2008). 67 referências bibliográficas ADORNO, T. W. Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. Editora Unesp; 1ª edição. 3 agosto 2015 AJZENBERG, Elza. A semana de arte moderna de 1922. Revista de Cultura e Extensão USP, v. 7, p. 25-29, 2012. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rce/ article/view/46491/50247. BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista brasileira de ciência política, n. 11, p. 89-117, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3xyErf9 BARRIENDOS, Joaquín. A colonialidade do ver: rumo a um novo diálogo visual interepistêmico. Revista Epistemologias do Sul, v. 3, n. 1, p. 38-56, 2019. Acesso: 12 de abril. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3euCMOR COSTA, R. N.; SANCHEZ, C.; LOUREIRO, R.; SILVA, S. L. P. Imaginamundos: Interfaces entre educação ambiental e imagens. 1ª ed. Macaé (RJ): Nupem/UFRJ, 2021. 461p. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2013. LAGORIO, C. A. Textualidade, imagem e mestiçagem na crônica de Guamán Poma Consuelo Alfaro Lagorio. Niterói, n. 22, p. 235-252, 1, 2007. Disponível em: https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33204/19191 LOUREIRO, R. Educação, Cinema e Estética: elementos para uma reeducação do olhar. Revista Educação & Realidade. V. 33, n. 1. 2008. Disponível em: https://bit. ly/3sQoUDO JÚNIOR, A. P., SOBRAL, M. C., FERNANDES, V., SAMPAIO, C. A. C. Desenvolvimento sustentável, interdisciplinaridade e Ciências Ambientais, RBPG, Brasília, v. 10, n. 21, p. 509 - 533, outubro de 2013. Disponível em: https:// bit.ly/3viuKPQ. Acesso em: 10/04/2021. SATO, M. Cartografia do imaginário no mundo da pesquisa. In: ABÍLIO, F. J. P. Educação ambiental para o semiárido. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011. Aula aberta e pública da disciplina Educação, Ambiente e Cinema (MCB015) GONÇALVES, M. A. Cinema e decolonialidade: caminhos para libertação do olhar. Marco Antônio Gonçalves – Professor titular do Departamento de Antropologia IFCS/UFRJ. Canal YouTube: Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ), 2020. Vídeo 68 minutos. Disponível em: https://bit.ly/3nlnArn LOUREIRO, R. O cinema e indústria cultural na excitada sociedade do espetáculo. Robson Loureiro – Docente da Universidade Federal do Espírito Santo/UFES. Canal YouTube: Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ), 2020. Vídeo 98 minutos. Disponível em: https://bit.ly/3vm5TuA 68 MOLISANI, M. O cinema interdisciplinar nas ciências ambientais. Maurício Molisani – Docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro Nupem/UFRJ. Canal YouTube: Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ), 2020. Vídeo 60 minutos. Disponível em: https://bit.ly/3sUdLBV SILVA, S. L. Estética, documentário e ideologia: a nova lógica visual do conservadorismo. Sérgio Luiz Silva – Docente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO. Canal YouTube: Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ), 2020. Vídeo 84 minutos. Disponível em: https://bit.ly/3tUJWm2 VIANA, C. Educomunicação em tempos desafiadores. Prof. Dr. Claudemir Viana (USP) – Coordenador do Curso de Licenciatura em Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP. Canal YouTube: Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem/UFRJ), 2020. Vídeo 86 minutos. Disponível em: https://bit.ly/32RaVTr 69 07 ARTICULAÇÃO ENTRE PROPAGANDA E SAÚDE: A CAMPANHA DE PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA DO COMPASSO sandro tôrres de azevedo coordenador do laBoratórIo compasso – eco-UFrJ lUcIana FreIre mUrgel vIce-coordenadora do laBoratórIo compasso – eco-UFrJ resumo Este é um relato de uma experiência que apresenta o surgimento do Compasso, Laboratório de Comunicação Publicitária Aplicada à Saúde e à Sociedade, no início de 2020. Narra a trajetória do projeto, que desenvolveu todas as suas atividades durante a pandemia de covid-19 por vias remotas, desde a escolha do tema da prevenção da gravidez na adolescência, passando pela crítica das campanhas governamentais, pesquisa referencial, pesquisa de campo, planejamento da campanha, definição de conceito criativo, produção das peças, gestão de mídias e preparação para veiculação em canais próprios e de parceiros. palavras-chave Compasso; Propaganda; Comunicação; Saúde; Prevenção da Gravidez na Adolescência. 71 1. introdução O Compasso é o Laboratório de Comunicação Publicitária Aplicada à Saúde e à Sociedade, projeto de extensão vinculado à Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que visa selecionar, analisar e criticar a propaganda governamental direcionada para a promoção da saúde e do bem-estar coletivos, propor projetos de comunicação alternativos e implementá-los nos mais diversos espaços sociais, além de criar e manter canais de divulgação dos produtos desenvolvidos pelo laboratório. Na temporada 2020/2021, o Compasso se dedicou à temática da prevenção da gravidez na adolescência, promovendo debates entre seus integrantes sobre as campanhas de propaganda empreendidas nos últimos cinco anos pelas diversas instâncias federativas (União, Estados e Municípios). Em seguida, se dedicou a várias pesquisas referenciais e de campo sobre o tema e, na sequência, no planejamento e execução de uma campanha alternativa de comunicação. O produto laboratorial resultante alcança sua veiculação concomitantemente à produção desse relato. Sendo a gravidez precoce um problema de saúde global, e considerando que a incidência no Brasil supera a média mundial, é urgente que a sociedade atente para a importância da sua prevenção, bem como atue pela sua atenuação. Principalmente porque, para além das questões biomédicas envolvidas, trata-se de uma problemática que engloba aspectos sensíveis da saúde pública em função da realidade nacional, com destaque para a promoção da igualdade entre gêneros, avanço em índices de escolaridade e perspectiva de redução da desigualdade socioeconômica. Assim é que esse relato se propõe a narrar o esforço do Compasso para dar conta de diagnosticar os problemas concernentes à propaganda de saúde para prevenção da gravidez na adolescência e propor soluções criativas de comunicação, tendo isso sido articulado pelos integrantes do laboratório exclusivamente por meio de contatos remotos pelas vias digitais ao longo da pandemia de covid-19. 2. compasso: sobre o começo do laboratório Com o projeto aprovado pela Congregação da ECO e credenciado pela Pró-reitoria de Extensão da UFRJ em fevereiro de 2020, o Compasso 72 iniciou suas atividades no mês seguinte, a partir da chamada para inscrição de estudantes extensionistas. Dado que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou em 11 de março o estado de pandemia de covid-19 (UNASUS, 2020), doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que em 14 de março a UFRJ suspendeu provisoriamente as atividades presenciais nas unidades (CONEXÃO UFRJ, 2020 a) e, em 23 de março, por tempo indeterminado (CONEXÃO UFRJ, 2020 b), as entrevistas com alunas e alunos com interesse em participar do Compasso ocorreram em vias digitais, por videoconferências, reunindo, a partir daí, 24 discentes (16 alunas e 8 alunos)1. Assim, em abril de 2020, iniciaram-se as reuniões semanais sempre às 19 horas das quintas-feiras, durando cerca de uma hora e meia, dando fluxo às atividades precípuas do laboratório. Sendo a Saúde uma área de abrangência superlativa, foi necessário um recorte que tornasse o tema manipulável e pudesse estabelecer objetivos factíveis de serem alcançados pelo Compasso. Dessa forma, de início, cada integrante propôs um tema diferente segundo suas diversas referências pessoais, sendo cada um defendido e debatido até que se formasse massa crítica que reduzisse as opções. Assim, ao cabo do primeiro mês de atividade, os integrantes do laboratório democraticamente elegeram a prevenção da gravidez na adolescência como a temática a ser desenvolvida. Para início do projeto os vários membros do Compasso foram divididos em dois grandes grupos de atuação, um voltado para o ‘diagnóstico e planejamento’ da campanha e outro comprometido com a ‘criação e produção’. O primeiro grupo foi subdividido em equipes de pesquisa referencial, pesquisa de campo e planejamento. O segundo em equipes de criação, produção gráfico-visual, produção audiovisual e gestão de conteúdos. Dessa forma, com uma média de três estudantes em cada célula, a divisão de tarefas e a atuação de cada membro foram otimizadas, revelando que a organização repartida possibilitou foco e agilidade para as atividades executadas, sempre ganhando conjunto nas reuniões, dada a frequência regular e participativa de todos. Por cerca de um mês, todas as reuniões serviram para que as campanhas desenvolvidas nos últimos anos pelas Secretarias de Saúde de 1 Discentes participantes: Adriana Sardinha, Ana Carolina Pazó, Antônio Dias, Bernardo Yoneshigue, Eliza Franco, Gabriel Moreira, Gabriel Lobo, Gabrielly Andrade, Geyse Magalhães, Isabella Benevides, Janaina Morelli, Joaquim Lima, Lara Haddad, Laura Pedroso, Maria Adelaide Mansur, Maria Clara Fernandes, Marjuly da Costa, Matheus Freitas, Matheus Premoli, Melissa Correia, Millena Lopes, Natalia Cardoso, Rômulo Rodrigues, Yasmin Alves. 73 vários Estados e Municípios e pelo Ministério da Saúde/Governo Federal fossem dissecadas – nessas oportunidades, os conhecimentos dos campos da Comunicação e da Publicidade e Propaganda, bem como da Antropologia, Sociologia, Linguística e ciências afins foram mobilizados para a crítica das campanhas analisadas. Simultaneamente, a equipe de pesquisa referencial apresentou conteúdos compilados de diversas fontes científicas que abraçam o assunto: Medicina (especialmente Ginecologia e Obstetrícia), Psicologia, Serviço Social, Pedagogia, entre outros campos de conhecimento. Vale a menção: a incontornável interdisciplinaridade do projeto ficou extremamente evidente desde as etapas iniciais do trabalho do Compasso, acompanhando o trabalho do laboratório por todas as fases subsequentes. 3. o problema da gravidez precoce e suas campanhas de prevenção Segundo a OMS, no mundo cerca de 44 adolescentes a cada mil são mães (OPAS BRASIL, 2018). Esse número é ainda maior no Brasil que registra, de acordo com o IBGE, em torno de 59 mães por cada mil adolescentes – apesar do índice de incidência da gravidez precoce se mostrar descendente na última década (EBC, 2021), a taxa decresce em ritmo muito tímido e lento, especialmente ao se considerar que está muito acima da média global. Dessa forma, é comum que haja esforço recorrente de prevenção da gravidez na adolescência empreendido pelo Estado em todas as suas esferas, seja em ações efetivas (como a distribuição de preservativos, políticas de atenção à saúde de adolescentes em postos de saúde etc.), seja através de campanhas de comunicação de saúde – essas últimas integram sistemas de acesso à informação e à participação social – na perspectiva de que a comunicação é parte fundamental dos processos desenvolvidos pelo Estado que visam a saúde pública (ARAÚJO; CARDOSO, 2007) e são instrumentos que potencializam a democracia e o exercício da cidadania em função da garantia da promoção, proteção e recuperação da saúde, preconizada pelo artigo 196 da carta magna (CONSTITUIÇÃO [1988], 2016, p. 118-119). Vale ressaltar que a preocupação em reduzir a gravidez na adolescência é uma demanda urgente diante da agenda contemporânea, pois incide diretamente na promoção da igualdade de gêneros, especialmente sobre 74 índice de escolaridade e desenvolvimento socioeconômico. Conforme relata a argentina Marita Perceval, diretora regional do UNICEF, em relação a muitas jovens e adolescentes: “precisam abandonar a escola por causa da gravidez, que tem um impacto a longo prazo em suas oportunidades de completar sua educação e se juntar à força de trabalho, bem como sua capacidade de participar da vida pública e política” (OPAS BRASIL, 2018). A especialista em questões de gênero e direitos humanos completa: “como resultado, as mães adolescentes estão expostas a situações de maior vulnerabilidade e à repetição de padrões de pobreza e exclusão social” (ibidem). Entretanto, apesar de diversas campanhas de combate à gravidez precoce terem circulado nacional e localmente nos últimos tempos, a pesquisa documental realizada pôde identificar uma série de problemas. Em meio a incontáveis conjecturas, foi possível fazer dois destaques sobre esta fase do projeto: o primeiro está no acinte científico representado pela última campanha empreendida pela parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, na qual, em síntese, toma-se como ênfase argumentativa a ideia de abstenção sexual como método preventivo de gravidezes indesejadas por jovens de 13 a 19 anos – algo completamente superado pelos entendimentos e ações da maioria absoluta dos países do mundo e refutado por diversas associações ligadas à saúde e à sociedade, como, por exemplo, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), que se contrapôs a tal posicionamento em nota oficial2. A campanha ainda conta com peças audiovisuais3 e o seu lançamento foi amplamente noticiado, inclusive registrado no próprio site do Ministério da Saúde4 – no qual se pode conferir uma tentativa de atribuir caráter científico ao argumento que supostamente conectaria o adiamento da atividade sexual de adolescentes à redução de gravidezes precoces (com apresentação ao público e à imprensa também disponibilizados5). Tal perspectiva não só não encontra amparo nas pesquisas contemporâneas das diversas áreas do conhecimento que envolvem a questão, como ainda revela forte tendência ideológico-religiosa se sobrepondo a entendimentos e práticas já comprovadas há muito tempo. 2 3 4 5 Disponível em: https://bityli.com/J5csI, acesso em 16/04/2020. Disponível em: https://youtu.be/z0bnfLO0SRc, acesso em 16/04/2020. Disponível em: https://bityli.com/50rPh, acesso em 16/04/2020. Disponível em: https://bityli.com/NfpSY, acesso em 16/04/2020. 75 Figuras 1 e 2: peças de propaganda da campanha de prevenção da gravidez na adolescência promovida pela parceria entre o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e o Ministério da Saúde / Governo Federal. Disponível em: https://bityli.com/Tw0qA , acesso em 16/04/2020. 76 De certo, no embalo desse alinhamento político-ideológico, outras iniciativas seguiram o padrão, como o caso da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Parauapebas/PA. Figuras 3 e 4: peças da campanha de prevenção da gravidez na adolescência promovida pela Prefeitura de Parauapebas/ PA. Disponível em: https:// bityli.com/dDJBB, acesso em 16/04/2020. O segundo destaque dessa fase se concentra em um claro problema que envolve a questão de gênero atravessando a comunicação de saúde voltada para a prevenção da gravidez na adolescência. Realizando análises amparadas pelo ferramental teórico da Semiótica Discursiva (GREIMAS, 1973) e, a partir dela, da Semiótica Plástica (OLIVEIRA, 2004), da Sociossemiótica (LANDOWSKI, 2014) e da Semiótica das Práticas (FONTANILLE, 2008), foi possível compreender que, entre outros problemas graves de comunicação, diversas peças de propaganda promovidas por instâncias públicas incorriam na responsabilização exclusiva das 77 adolescentes (sexo feminino) pela prevenção e, do mesmo modo, investiam sobre elas a culpa pelas relativas consequências de uma gravidez precoce, como é possível conferir em peças produzidas pelas Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais. 78 Figuras 5, 6 e 7: Peças de campanhas de prevenção da gravidez na adolescência produzidas por secretarias de saúde do Estado de São Paulo e das Prefeituras de Potim/SP e Tapejara/ RS. Disponíveis em: https://bityli.com/vZnc1, https://bityli.com/3VlbF e https://bityli.com/CLxtJ, acessos em 16/04/2020. A circunstância experimentada pela identificação da recorrente culpabilidade do gênero feminino nas peças de comunicação que circularam recentemente pelo país em campanhas de prevenção da gravidez na adolescência levou o Compasso a procurar, no âmbito da academia, estudos que abordassem a temática e, simultaneamente, especialistas que pudessem trazer luz sobre o assunto. 4. fase de diagnóstico – pesquisa referencial e de campo Assim, a fase de diagnóstico foi essencial para orientar as etapas seguintes, bem como também serviu para aprofundar o envolvimento dos participantes do Compasso com o tema. Isto é, foi pesquisando o assunto que os alunos puderam ter dimensão da gravidade e da extensão da problemática da gravidez na adolescência no Brasil, compreendendo a multidisciplinaridade do tema e também se deparando com o nível de desconhecimento e de falta de acesso à educação sexual do público-alvo da campanha. Entre os meses de maio e setembro de 2020, a equipe de pesquisa referencial se dedicou com afinco a selecionar artigos científicos, dissertações, teses, relatos e notas de pesquisas de diversas áreas do conhecimento, 79 compilando e apresentando as linhas de força recorrentes para todos integrantes do Compasso nas reuniões semanais. Ao mesmo tempo, a equipe de pesquisa de campo se dividiu em contatar e entrevistar diversos especialistas, trazendo ao grupo as sínteses dessas abordagens, e estabelecendo pontes com outros projetos de temáticas tangenciais (da UFRJ e externos a ela). Foi assim que, se o Compasso já era consorciado desde seu início com o LACES – Laboratório de Comunicação e Saúde (PPGICS/ICICT/ FIOCRUZ)– passou a contar com novas parcerias: DIVAS – Diversidade, Ação e Sensibilidade na Publicidade Brasileira, projeto de extensão (ECO/ UFRJ); Mulherio – Tecendo Redes de Resistência e Cuidados, programa de extensão (IP/UFF); e LESex – Liga Acadêmica de Educação Sexual (IBRAG/UERJ). Essas parcerias facultaram diversas reuniões remotas com especialistas de diversos campos do conhecimento, sempre trazendo contribuições para que o Compasso pudesse compreender a problemática da gravidez precoce em todas as suas dimensões. Além disso, outros especialistas puderam realizar conferências para o grupo com a mesma intenção, dentre as quais merecem destaque as reuniões com profissionais da Medicina, Pedagogia, Serviço Social e Jornalismo especializado em Saúde. Também entre os meses junho e julho de 2020, foi realizada uma pesquisa quantitativa estruturada, com coleta de informações por formulário digital compartilhado por mídias sociais virtuais. Essa pesquisa de campo buscou conhecer os adolescentes do Grande Rio, colocando luz no principal público-alvo da campanha (15-19 anos), principalmente no que tange sua familiaridade com o tema, educação e vida sexual. A base analisada contou com 252 entrevistas, com a qual foi possível extrair alguns dados, tais como: 78% dos entrevistados iniciaram a vida sexual com 16 anos ou menos; camisinha masculina, pílula anticoncepcional e pílula do dia seguinte são os métodos mais utilizados por esses jovens; internet e amigos são as maiores “fontes de aprendizado” sobre sexualidade; metade dos entrevistados entende “sexualidade” como um sentimento; e quase 70% não sabiam que o SUS ofertava métodos contraceptivos. A pesquisa teve seus resultados extraídos, tabulados e tratados, resultando em insumos fundamentais para direcionamentos posteriores. A partir disso, pode-se inferir que os adolescentes são um público, em grande parte sexualmente ativo, mas que ainda encontra barreiras em casa e na escola para falar sobre o tema. Com pouco acolhimento de familiares, buscam compreender as questões relacionadas à sexualidade em 80 seus grupos de amigos e na internet. O acesso à informação desordenada, sem curadoria, sem orientação – e muitas vezes em excesso – não gera uma educação sexual de qualidade e promove sensações de solidão, despreparo, ansiedade, falta de diálogo e de liberdade. Esses jovens anseiam por mais diálogo em casa e nas escolas, por orientação em relação à educação sexual, de forma aberta e direta, para que possam ser empoderados e responsabilizados por suas atitudes. 5. fase de planejamento e produção – concepção e execução da campanha Compreendidos os fenômenos e diversas balizas que se organizam em torno da problemática da gravidez precoce, o Compasso arregaçou as mangas. Pôs-se a se dedicar a uma proposta de solução, convertendo as informações reunidas até então em um planejamento estratégico que pudesse orientar uma campanha de prevenção da gravidez na adolescência dotada de excelência criativa e de produção factível. Alternando reuniões paralelas entre os integrantes da equipe de planejamento e entre todos os membros do Compasso, nos meses de agosto e setembro, foi elaborado um briefing contendo principalmente as demarcações de público-alvo, mercado-alvo, tema da campanha, objetivos e limitações (LUPETI, 2000). Em seguida, nos meses de novembro e dezembro, foi finalizado o planejamento de campanha, consolidando as estratégias de comunicação, de criação e de mídia, que orientaram a conceituação da campanha a buscar em ilustrações de personagens adolescentes as representações capazes de gerar identificação e empatia junto ao público-alvo primário, bem como a utilização de canais e perfis em mídias sociais digitais, especialmente para construção de uma narrativa transmedia storytelling (JENKINS, 2009) voltada para construção de interesse, engajamento e distribuição de informação fluida, capaz de envolver os adolescentes a partir de expressões e linguagens que lhes são afins. Nesse ínterim, foi realizada uma pesquisa qualitativa em formato de grupo focal, organizada por alguns membros do Compasso em reunião por videoconferência com onze moças e rapazes, com idades entre 14 e 18 anos. Para além de diversos insights interessantes, observando um catálogo com várias referências, esses entrevistados colaboraram na definição do estilo de traço das ilustrações que posteriormente seriam adotadas 81 pela campanha do Compasso. Tal direcionamento possibilitou a equipe de criação e de produção gráfico-visual elaborar as personas que identificariam as personagens da campanha, além de experimentar os contornos que viriam a lhes dar “vida”. Já nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2021, todos os integrantes do Compasso interagiam para buscar a sintonia fina entre as imagens e personalidades da Nanda, do Rafa, do Edu e da Professora Lia, protagonistas do universo temático construído pela equipe de criação, entre outras figuras coadjuvantes, definindo a semântica e a sintaxe de cada elemento constituinte da narrativa, bem como seus tons de voz, seus estilos de escrita e a natureza de suas dinâmicas interativas. Figuras 9, 10 e 11: Respectivamente, professora Lia, Nanda e Edu, alguns dos personagens protagonistas da campanha de prevenção da gravidez na adolescência do Compasso. Produzido por Yasmin Alves (traço) e Rômulo Rodrigues (cor). Em conjunto, a equipe de gestão de conteúdo selecionava os canais mais adequados para intermediação das personagens e todos juntos articulavam as possibilidades de circuito da narrativa, entrecruzando mídias como Instagram, Twitter, Blog e Spotify, além do site exclusivo da campanha (vinculado ao site do Compasso6), que conflui todos os outros veículos, atuando como um hub de conteúdos acionáveis pelo público primário (adolescentes) e secundário (educadores, agentes de saúde, intermediários culturais e agentes comunitários em geral), inclusive servindo como espaço de aglutinação de informações aprofundadas, que, eventualmente, podem se converter em cartilhas propagáveis em formatos digitais. Conteúdos para o hub, para as postagens nas mídias sociais, para o blog e para o canal de podcast foram confeccionados (redigidos, revisados, 6 Ver: http://compasso.eco.ufrj.br. 82 produzidos, editados e testados) até que, em abril de 2021, um evento virtual concentrou os membros do Compasso e representantes das entidades parceiras do laboratório, já elencadas mais acima, quando foi apresentado o resultado da produção da campanha com o objetivo de colher impressões especializadas sobre o material a ser veiculado e, a partir disso, proceder com eventuais correções necessárias. A repercussão dos parceiros, agora convertidos em críticos colaboradores, foi extremamente positiva, além das expectativas do laboratório, que enfim se sentiu autorizado para levar a veiculação da campanha a cabo. 6. perspectivas para o futuro No momento, todos os canais de comunicação a serem utilizados já estão ativados e o Compasso finaliza um press-kit para distribuição para a imprensa e veículos de mídia tradicionais (impressos, radiofônicos, televisivos e digitais) e alternativos (como canais do YouTube e digital influencers em geral, por exemplo), para deslanchar a estreia da campanha. Ainda, já tem negociação avançada para o seu lançamento por meio dos canais oficiais das Secretarias de Cultura, Educação e Saúde da Prefeitura Municipal de Niterói, interessada em adotar o trabalho executado pelo Compasso como política oficial da Cidade para prevenção da gravidez na adolescência. É assim que o Compasso segue, procurando fazer cumprir a prerrogativa da extensão universitária, comprometido com a entrega à sociedade daquilo que melhor se pesquisa e ensina na Universidade pública, gratuita e de qualidade. referências bibliográficas ARAÚJO, I. S.; CARDOSO, J. M. Comunicação e saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2007. CONEXÃO UFRJ. Coronavírus: A UFRJ suspende aulas por período indeterminado, 23 de março de 2020b. Disponível em: https://bityli.com/A6fOg, acesso em 04/04/2021. CONEXÃO UFRJ. A UFRJ suspende aulas por 15 dias, a partir do dia 16/3, 13 de março de 2020a. Disponível em: https://bityli.com/A6fOg, acesso em 04/04/2021. CONSTITUIÇÃO [1988]. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações 83 determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008. Brasília: Senado Federal, 2016. Disponível em: https://bityli.com/rgRti, acesso em 09/04/2021. EBC. Radioagência Nacional. IBGE mapeia casamento e gravidez na adolescência, 04 de março de 2021. Disponível em: https://bityli.com/zlAO4, acesso em 04/04/2021. FONTANILLE, J. Práticas semióticas: imanência e pertinência, eficiência e otimização. In: DINIZ, M. L. V. P.; PORTELA, J. C. (Orgs.). Semiótica e Mídia. Bauru: UNESP/FAAC, 2008. GREIMAS, A. J. Semântica estrutural: pesquisa de método. São Paulo: Cultrix, 1973. JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009. LANDOWSKI, E. Interações Arriscadas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014. LUPETTI, M. Planejamento de Comunicação. São Paulo: Futura, 2000. OLIVEIRA, A. C. (Org.). Semiótica plástica. São Paulo: Hacker, 2004. OPAS BRASIL. Organização Pan-Americana de Saúde. América Latina e Caribe têm a segunda taxa mais alta de gravidez na adolescência no mundo. 28 de fevereiro de 2018. Disponível em: https://bityli.com/uaUDM, acesso em 04/04/2021. UNASUS. Organização Mundial de Saúde declara pandemia do novo Coronavírus, 11/03/2020. Disponível em: https://bityli.com/fLAkz, acesso em 07/04/2021. 84 08 ATITUDES SUSTENTÁVEIS EM TEMPOS DE PANDEMIA helena câmara lacé Brandão coordenadora do ProJeto atitudes sustentáveis PatrIzIa dI traPano orIentadora e colaBoradora do ProJeto atitudes sustentáveis sonIa s. costa orIentadora e colaBoradora do ProJeto atitudes sustentáveis resumo O projeto proposto Atitudes Sustentáveis é uma ação que abarca diversas atividades de extensão dedicadas à educação e popularização da ciência e da tecnologia que promovem a inserção e a difusão no mercado de produtos e processos de inovação tecnológica, estimulando mudanças no padrão tanto de consumo da população, como de produção de bens e serviços ofertados atualmente. Concebido para ser desenvolvido de forma presencial, dentro do município do Rio de Janeiro, local de realização das ações, foi preciso adaptar seu formato frente ao acontecimento da pandemia do Coronavírus que se instaurou na sociedade no ano de 2020, quando se daria início à realização das atividades. O projeto nasceu, assim, já com esse enfrentamento e esse relato vem mostrar como as ações extensionistas foram conduzidas, apontando os resultados alcançados até o momento, em 12 meses de condução. palavras-chave: Tecnologia; Inovação; Educação; Meio ambiente; Sustentabilidade. 85 1. introdução O projeto de extensão Atitudes Sustentáveis foi concebido nos moldes de um projeto “guarda-chuva” que abarca diversas ações independentes, todas voltadas para as demandas da população, identificadas nos resultados alcançados pelos estudos do grupo de pesquisa LabCA – Laboratório de Criação e Análise de Ambiências da UFRJ–, envolvendo pesquisadores e estudantes que elaboram as atividades, dentro da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (fig. 1). Figura 1 – esquema retratando o conceito de “guarda-chuva” do projeto de extensão As ações que se encontram em andamento estão voltadas para três temas, a saber: a popularização das novas tecnologias de lâmpadas de alto rendimento luminoso, a partir da orientação da escolha correta do equipamento de iluminação; a difusão da relação entre luz e saúde para o conhecimento da população sobre a importância da iluminação para a saúde do usuário nos espaços de trabalho e de lazer.; a democratização dos espaços públicos. A partir dessas temáticas, o projeto Atitudes Sustentáveis estabelece vínculo com o programa articulado Cuidando da Vida: metabolismo natural e metabolismo social, dentro da linha de extensão Inovação Tecnológica, nas áreas temáticas do Meio Ambiente e da Educação. 2. objetivo O objetivo da ação é promover a educação e a popularização da ciência e da tecnologia ligada à sustentabilidade socioambiental através 86 de atividades educativas, de cooperação técnica e de difusão do conhecimento acerca de produtos e processos tecnológicos novos que colaboram com melhorias na relação dos seres humanos entre si e com a natureza. A intenção é que, através de uma abordagem interdisciplinar e interprofissional, as atividades criem uma interação dialógica com a comunidade externa e interna da UFRJ e venham contribuir com a inserção e a difusão no mercado de produtos e processos relacionados com inovação tecnológica. O projeto visa estimular mudanças tanto no padrão de consumo da população, como no padrão de produção de bens e serviços ofertados atualmente e, com isso, transformar a sociedade com a implantação de novos hábitos que tragam melhorias significativas ao meio ambiente, e impactar, de modo positivo, a formação do estudante da UFRJ. 3. metodologia A metodologia do projeto foca na abordagem participativa nas tomadas de decisões, buscando tanto a interdisciplinaridade, como o interprofissionalismo. As ações do projeto são elaboradas e executadas com o envolvimento de toda a equipe executora que agrega profissionais de formação distinta, trabalhando em cooperação nas tomadas de decisões. Os alunos selecionam em qual dos temas apresentados pelo projeto eles querem se envolver. A partir do perfil dos discentes envolvidos, será discutido o formato da atividade, a definição de seu público alvo específico, dentro dos grupos expostos na proposta, sua periodicidade, sua carga horária, seu local de realização dentro do município do Rio de janeiro, seus meios de divulgação, os produtos a serem gerados, o modo de avaliação pelos participantes e a emissão de seus certificados, assim como a possibilidade de apoio e parcerias com outras Instituições, como participação na equipe executora de membros externos à UFRJ. 4. descrição do contexto Dentro do contexto da pandemia que se instaurou na sociedade no ano de 2020, o projeto de extensão Atitudes Sustentáveis teve que ser adaptado para se manter ativo. Aprovado em outubro de 2019, com data de início das atividades marcada para março do ano seguinte, o projeto foi concebido para realizar diversas ações nos moldes de eventos, cursos, 87 workshops, visitas guiadas, exposições, cooperação técnica para levantamento, estudos de viabilidade e propostas que viessem a contribuir com a inserção e a difusão no mercado de produtos e processos relacionados com inovação tecnológica, através de uma interação dialógica com a comunidade externa e interna da UFRJ. Essas ações se iniciariam explorando dois temas: a popularização das novas tecnologias de lâmpadas de alto rendimento luminoso, a partir da orientação da escolha correta do equipamento de iluminação; a democratização dos espaços públicos com trilhas acessíveis no Parque Lage, localizado dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, com o apoio do ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Ambos os temas iam ser desenvolvidos de forma presencial, e esse foi o maior enfrentamento. O público alvo se manteve e a metodologia também, visto que a definição de como explorar os temas já fazia parte do processo participativo de elaboração e execução da ação, porém foi necessário adaptar o formato das atividades, o que demandou alguns procedimentos. 5. procedimentos Os procedimentos adotados para manter ativo o projeto Atitudes Sustentáveis se voltaram para a adaptação do formato das atividades. As atividades previstas para os estudantes que antes eram presenciais, realizadas em locais físicos, passaram a ser atividades remotas, realizadas em ambientes virtuais, podendo ser atividades síncronas e/ou assíncronas. Essa oferta remota das atividades foi desenvolvida pelos alunos para serem abertas em diversas frentes, como lives, vídeo conferências, treinamentos à distância e/ou passeios virtuais. Na intenção de viabilizar essas atividades remotas, o grupo de pesquisa LabCA criou um canal no YouTube, que passou a ser o principal local de realização das ações do projeto, junto com o Ambiente Virtual de Aprendizagem da UFRJ. A mudança no formato de atividades presenciais para atividades remotas não alterou nem o público alvo, nem a metodologia e nem a interação dialógica da proposta que continuou a ser estabelecida na realização de atividades educativas, de cooperação técnica e de difusão do conhecimento voltadas para a comunidade externa e interna da Universidade. A adaptação se mostrou eficaz para a condução do projeto e, dentro desse formato, surgiu mais um tema voltado para a relação entre luz e saúde. 88 As questões relacionadas à saúde do homem, diante do cenário atual de pandemia, e na expectativa de como serão as perspectivas para o futuro da arquitetura num mundo pós covid-19, passaram a ter maior importância. A utilização da iluminação natural e artificial, e o significado da iluminação natural e artificial na qualidade de vida das pessoas, trazendo saúde e bem-estar, tornaram-se fatores relevantes para o projeto, devendo ser agregados de forma mais incisiva a partir de agora. Uma temática que também estava sendo programada para ser explorada de forma presencial, mas que se adaptou ao novo formato. 6. resultados Os resultados obtidos durante o período de março de 2020 a dezembro de 2020 mostram como o projeto Atitudes Sustentáveis enfrentou o contexto da pandemia e se manteve ativo. Dentro desse período, foram realizadas 5 ações distribuídas em três grupos de atividades: 1) elaboração de atividades educativas em plataforma moodle; 2) participação em entrevista, mesa redonda e/ou programas na mídia; 3) produção de audiovisual, filmes e/ou vídeos educativos. As imagens que seguem não só ilustram, mas descrevem essas atividades, registradas no relatório parcial do projeto, elaborada a cada ano (fig. 2; fig. 3; fig. 4; fig. 5) Figura 2 – atividades do grupo 1: dinâmica de perguntas e respostas oferecida como atividade assíncrona no Ambiente Virtual de Aprendizagem da UFRJ, intitulada: iluminação moderna x iluminação contemporânea. 89 Figura 3 – atividades do grupo 2: entrevista concedida ao programa jornalístico Conversa Pública da Rede Boas Novas de Televisão sobre Conforto lumínico nos ambientes internos nas suas atividades. Figura 4 – atividades do grupo 2 e 3 realizadas dentro do canal do YouTube do Labca: mesa redonda no formato de “live” intitulado: Ferramentas de simulação de iluminação natural e artificial para um projeto eficiente; mesa redonda no formato de “live” intitulado: Sustentabilidade e habitação: projetos de extensão que promovem inovação a partir das mudanças de hábitos nas moradias; vídeo voltado para educação e popularização da ciência e da tecnologia, intitulado: Você sabe escolher uma lâmpada? 90 Figura 5 – atividades do grupo 3 realizadas dentro do canal do YouTube do Labca: vídeo voltado para educação e popularização da ciência e da tecnologia, intitulado: Você sabe escolher uma lâmpada? 7. considerações finais Os membros da equipe executora dos resultados apontados seguem na relação abaixo. • Membros internos (UFRJ) Helena Câmara Lace Brandão - Coordenador, Orientador Maria Elisa Feghali - Colaborador Patrizia Di Trapano - Colaborador, Palestrante Aline Calazans – Palestrante • Membros externos (UFRJ) Sonia Schlegel Costa – Colaborador, Orientador Marília Ramalho Fontenelle – Palestrante Letícia Zambrano – Palestrante • Estudantes Extensionistas Bruna Duarte Nascimento De Oliveira Daniel Aroucha Pinto De Souza Julia Lamoglia Simas Pinna Luiz Paulo Barbosa Da Costa Luisa Villela Manzi Mariana Da Silva Ramalho 91 referências bibliográficas Conforto lumínico nos ambientes internos [entrevista concedida ao programa jornalístico Conversa Pública – Rede Boas Novas de Televisão]. 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v= UJKKyUhaA-U&feature=youtu.be>. Ferramentas de simulação de iluminação natural e artificial para um projeto eficiente [mesa redonda, voltada para educação e popularização da ciência e da tecnologia, no formato de live]. 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/ watch?v=TgBkvJ2iuNw>. IWBI. International WELL Building Institute WELL Building Standard V2. 2021a. Disponível em: https://v2.wellcertified.com/v/en/overview Acesso em: 10 abril. 2021. Iluminação moderna x iluminação contemporânea. Plataforma ava@ufrj [dinâmica de perguntas e respostas]. 2020. Disponível em <http://ambientevirtual.nce. ufrj.br/course/view.php?id=1881> Iluminação sustentável beneficia a natureza e protege a saúde das pessoas. 2020. (Programa de rádio ou TV/Entrevista). Disponível em: https:// capitalmundialdaarquitetura.rio/rio-capital-mundial-da-arquitetura/ iluminacao-sustentavel-beneficia-a-natureza-e-protege-a-saude-das-pessoas/ Luz e Saúde: a importância da iluminação nos ambientes hospitalares. 2020. [mesa redonda, voltada para educação e popularização da ciência e da tecnologia, no formato de live]. Disponível em: https://youtu.be/DUFvqZH4PJo Luz e Sustentabilidade: um olhar para o futuro. 2020. [mesa redonda, voltada para educação e popularização da ciência e da tecnologia, no formato de live]. Disponível em: https://youtu.be/veHY9yjFqh4?list=PLTKwa2HE6CDRFzFHWd5ppJrJYI-iDCmSg Sustentabilidade e habitação: projetos de extensão que promovem inovação a partir das mudanças de hábitos nas moradias [mesa redonda, voltada para educação e popularização da ciência e da tecnologia, no formato de live]. 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Y8Q6ZGhEWyo Você sabe escolher uma lâmpada? [vídeo voltado para educação e popularização da ciência e da tecnologia]. 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/ watch?v=HOUQaz20AlU>. 92 09 CONEXÕES, CONVERSAS E AFETOS: NOTAS SOBRE UM EVENTO DE EXTENSÃO INTERCULTURAL danIella assemany coordenadora do ProJeto conexões em conversa: pontes que unem brasil e portugal lUcas Barroso gradUando em hIstórIa - UFrJ marIane BarBosa gradUanda em PedagogIa - UFrJ resumo O presente trabalho apresenta, por meio de reflexões suscitadas em torno da virtualização da educação, um relato de experiência do Conexões em Conversa: pontes que unem Brasil e Portugal, um projeto de extensão do Colégio de Aplicação (CAp) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que visa uma aproximação de ideias e de projetos entre povos de culturas lusófonas, e que busca o enriquecimento mútuo. Nesse breve texto, o objetivo primordial será apresentar o contexto de idealização e criação da ação de extensão, além dos procedimentos e das motivações que levaram à construção e à consolidação desse importante trabalho transdisciplinar, culminando na organização de rodas de conversa on-line sobre temas educacionais voltadas tanto para discentes e docentes quanto para a comunidade externa ao meio acadêmico. palavras-chave Educação Transdisciplinar; Live; Brasil; Portugal. 93 1. introdução Conexões em Conversa é um evento on-line que consiste em divulgar cientificamente temáticas relevantes da atualidade que se relacionam com a educação, em seus diversos contextos, linhas de pesquisa e didáticas. Sob a forma de rodas de conversas, com o intuito de propiciar um debate interessante à comunidade em geral, o evento conta com profissionais qualificados que promovem uma discussão reflexiva sobre um determinado tema, transversal à sua área de interesse e/ou estudo, em forma de lives na internet. Englobando temáticas análogas à educação de forma ampla, os debates pautados conectam-se em subáreas que vão desde o ensino da Matemática até as mais diversas esferas do campo das Ciências Humanas e Sociais. As rodas de conversa são transmitidas de forma síncrona pelo canal do evento no YouTube, contando com intervenções pontuais por meio de comentários, perguntas e sugestões do público participante, e que são apresentados no chat ao vivo. O evento Conexões em Conversa foi criado em abril de 2020 pela Profª. Drª. Daniella Assemany (UFRJ/Brasil) e pela Profª. MSc. Maria João Tinoco (Escola Secundária Garcia de Orta/Portugal), como um espaço de diálogo entre profissionais, pesquisadores, estudantes e comunidade de culturas lusófonas, contribuindo para o aprendizado de experiências entre sociedades de arcabouços culturais distintos. A motivação para a criação destas lives se deu pelo contexto de virtualização da educação, decorrente da implementação do isolamento físico, oriundo da pandemia do novo coronavírus. Desafiadas pelo cenário vivenciado, as professoras Daniella e Maria João promoveram três lives em dois meses, e o alcance do público brasileiro e português foi maior do que o esperado. Nesse sentido, a professora Daniella (UFRJ) tornou o evento uma ação de extensão oficial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), devidamente cadastrada no Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA). Sendo assim, a partir de setembro de 2020, o evento de extensão passou a ser chamado de Conexões em Conversa: pontes que unem Brasil e Portugal. A parceria externa ganhou maior alcance e o evento possui hoje mais cinco colaboradoras, que atuam na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (Porto, Portugal). Essa parceria se consolidou por meio da criação do projeto de pesquisa “Conexões, Inovações e (trans)Formações na Educação”, inscrito no Centro de Investigação de Paula Frassinetti, na linha “Formação de Professores e Desenvolvimento Humano”, em que o 94 evento entrou como objeto de pesquisa do referido projeto. Nessas circunstâncias, além das fundadoras, o evento ganhou novas coordenadoras: Drª. Daniela Gonçalves (ESEPF/Portugal), Drª. Isabel Cláudia Nogueira (ESEPF/Portugal), Drª. Isilda Monteiro (ESEPF/Portugal), Drª. Maria Cristina da Silva (ESEPF/Portugal) e MSc. Margarida da Quinta e Costa (ESEPF/Portugal). Atualmente, o evento também conta com a colaboração de quatro estudantes extensionistas, todos alunos da UFRJ, que são: Fiama Santiago (licencianda em Ciências Biológicas), Lucas Barroso (bacharelando em História), Mariane Barbosa (licencianda em Pedagogia) e Natalia Souza (licencianda em Letras: Português- Italiano). O período de organização das rodas de conversa tem dois momentos igualmente importantes: i) a estruturação do roteiro, em que os convidados se reúnem com os organizadores (coordenadoras e estudantes extensionistas) para delinear os tópicos que serão abordados na roda de conversa; ii) a transmissão das lives pelo canal do YouTube1 sobre o assunto escolhido em i), contando com a participação de convidados renomados e com a mediação de duas coordenadoras do evento. Em relação ao primeiro momento, são realizados encontros virtuais com os participantes do evento – coordenadoras, mediadores, convidados e extensionistas –, a fim de estruturar o roteiro a ser seguido na próxima roda de conversa junto aos convidados, definindo a temática a ser abordada e as perguntas disparadoras para o debate. Além disso, os alunos extensionistas ficam com o compromisso relativo à produção artística do evento e à sua divulgação. Nesse sentido, há a criação de artes voltadas ao desenvolvimento de um engajamento orgânico positivo para as mídias do evento, em que são elaborados flyers digitais, cartazes de apresentação e posts que serão publicados nas redes sociais, com a finalidade de transmitir para o público as datas de realização das lives, os convidados que estarão presentes e, principalmente, a temática a ser discutida e disseminada de forma interativa com todos ali presentes. No âmbito das rodas virtuais de conversa, são convidados de dois a quatro especialistas para debaterem acerca de uma temática combinada a priori, e que conta com a participação dos telespectadores, que são as pessoas interessadas no evento e que assistem ao vivo pelo canal do YouTube. Ao assistir e interagir com as rodas de conversa propostas, o público estará, 1 O canal do YouTube do evento de extensão denomina-se Conexões em Conversa e pode ser encontrado em: <https://www.youtube.com/c/ Conexõesemconversa>. 95 também, participando das discussões, das reflexões, das análises e das investigações apresentadas nos âmbitos educacionais, culturais e sociais. Por conta disso, as lives não se restringem somente aos convidados que constituem o debate, mas contam com o chat síncrono que permite que os participantes possam emitir opiniões, críticas, sugestões e propor perguntas. O grande diferencial dessa ação de extensão é o seu objetivo de esforçar-se para mitigar as consequências negativas do isolamento físico no universo educacional, além de modernizar os debates presentes no ensino brasileiro e diminuir “a distância que existe entre o recurso virtual e os processos de ensino e de aprendizagem” (RESENDE; DOS SANTOS, 2019, p. 1). Atitudes que abarcam o envolvimento do público aumentam as possibilidades de as discussões tratarem das questões sobre as complexidades e as diversidades que envolvem tópicos da realidade social na área da educação. Isso suscita reflexões e gera transformações na sociedade. Dessa forma, a partir do fomento da reflexão crítica e do diálogo sobre a educação, as intervenções sociais poderão ser gradualmente possibilitadas no campo educacional, posto que a ampla partilha de saberes necessariamente contribui para uma sociedade mais justa e igualitária. No que tange às ações de pesquisa, o evento fundamenta-se na grande área da Educação, contando com as pesquisas e as práticas dos profissionais e investigadores da área que foram e serão apresentadas nos debates propostos. Dessa forma, tais pesquisas ganham, durante as rodas de conversa, um espaço único de comunicação, reflexão e de divulgação científica. Além disso, o incentivo às futuras pesquisas nas diversas subáreas das Ciências da Educação também é um dos objetivos da ação, uma vez que temas atuais relevantes são abordados a partir das conexões suscitadas nas discussões síncronas. Nesse presente relato, temos como objetivo descrever o funcionamento e o alcance do evento de extensão Conexões em Conversa: pontes que unem Brasil e Portugal, dinamizado em rodas de conversa entre profissionais da educação, por meio digital e gratuito, disponibilizado em plataforma on-line de armazenamento de conteúdo audiovisual. 2. o evento conexões em conversa O evento de extensão faz uso das principais redes sociais da atualidade, tendo o Facebook e o Instagram como forma de divulgação de 96 conhecimentos para o público em geral, e utiliza seu canal do YouTube, denominado Conexões em Conversa, como plataforma de transmissão das rodas de conversa produzidas. Em relação aos encontros virtuais síncronos, em consonância com as importantes contribuições dos convidados especialistas, o público coparticipa de forma singular e transversal. Essa interação acontece de forma livre e aberta no chat, tanto em sua urgência quanto em sua atualidade, e é partilhada visual e oralmente na roda de conversa para que os convidados possam tratar sobre o tema. Estruturado em cinco rodas de conversa até o momento da escrita do presente relato, esse evento científico trata de temáticas relacionadas à Educação, abordando subáreas diversas, como a pós-pandemia do novo coronavírus e o fomento à pesquisa no meio acadêmico, por exemplo. Dentre os objetivos propostos, o desenvolvimento de parcerias entre povos e a consequente busca por meios inovadores da implementação dessa união norteiam essa ação de extensão, uma vez que se pretende um possível alinhamento educacional de ideias, principalmente entre sociedades lusófonas. Partindo desse princípio, o que move a escolha dos profissionais e/ou pesquisadores convidados para as sessões síncronas é, inicialmente, as subáreas da educação que desenvolvem as especificidades de seus trabalhos docentes e/ou pesquisas acadêmicas. Realizada em 15 de maio de 2020, a primeira roda de conversa propôs uma reflexão sobre os contributos positivos e negativos da virtualização decorrente da pandemia da covid-19 para as práticas sociais e educativas de portugueses e brasileiros. Ela contou com a mediação da Profª. Drª. Daniella Assemany (UFRJ/Brasil) e da Profª. MSc. Maria João Tinoco (Escola Secundária Garcia de Orta/Portugal), e dos seguintes convidados, professor Alexandre Magalhães, doutor em Saúde Pública (Universidade do Porto), e Paula Pereira, mestre em Matemática e professora de matemática da Escola Secundária Garcia de Orta/Portugal. Iniciando com a apresentação do professor Dr. Alexandre Magalhães, a primeira transmissão síncrona tratou de começar explicando o surgimento do novo coronavírus em Wuhan, província de Hubei (China), bem como também se incumbiu de apresentar as suas especificidades e os dados atualizados para aquele dia de maio de 2020, mostrando os quantitativos de mortes e de casos de pessoas infectadas, em números relativos, em termos mundiais, continentais e regionais. Contribuindo para a ampliação do diálogo, a professora MSc. Paula Pereira encaminhou o debate para o campo educacional, propondo continuidades e mudanças 97 para a educação do futuro. Nesse último tópico, em conjunto com a participação do público e das mediadoras do debate, a docente convidada destacou que essas descontinuidades imediatas no pós-pandemia precisam partir dos preceitos éticos das ações de insubordinação criativa (D’AMBROSIO; LOPES, 2014). Dessa forma, pensando em aproveitamentos benéficos para o porvir, como resultado das reflexões suscitadas nesse debate, a urgência do nosso tempo é a formação de uma escola totalmente nova nos horizontes de brasileiros e portugueses. Continuando a abordagem sobre a consequência da pandemia do novo coronavírus na educação, a segunda roda de conversa, realizada em 29 de maio de 2020, adicionou a questão do direito à criatividade na discussão. Tendo novamente a mediação das professoras coordenadoras, esse momento de debate contou agora com novos convidados: Adelino Teixeira, pós-graduado em Estudos Econômicos e Sociais (Universidade do Minho) e Direito (Universidade Lusíada); e Pedro Carvalho, formador de Matemática Criativa e Dança Criativa. Na condição de mediadora da live, a professora Maria João afirma que “a criatividade também é uma questão de sobrevivência da adaptação” (EDUCAÇÃO, 2020) e provoca os convidados a refletirem criticamente sobre a educação criativa, considerada uma atividade de construção (MAKIEWICZ, 2004). Avançando no debate, o professor e bailarino Pedro Carvalho, partindo dos preceitos de Orey (2010), destacou o papel do docente nesse processo singular e cheio de ações insubordinadas criativas, posto que o convidado expõe a sua crença que o modo como se estabelece a ação criativa determina a sua aplicabilidade e consequente efetividade. Por fim, com as falas do professor Adelino Teixeira aliadas às intervenções pontuais das mediadoras, constata-se que a criatividade parte da instigação da curiosidade nos alunos. Por conta disso, como síntese dos conteúdos suscitados na roda de conversa, uma questão provocadora foi posta pela professora Drª Daniella Assemany para pensar o contexto educacional no período pós-pandêmico: o modelo atual de ensino é criativo? Os convidados iniciaram um debate reflexivo e o público, que acompanhava sincronamente pelo YouTube e se posicionava pelo chat, colaborou com intervenções importantes para o debate. Nesse sentido, as opiniões orientavam-se para a ideia de que o modelo atual de ensino tem empecilhos que anulam (ou podem anular) a criatividade dos alunos. Um dos exemplos apresentados pelos convidados foi a presença de um mecanicismo voltado exacerbadamente ao conteúdo de apostilas, 98 o que impede a possibilidade de se pensar em temáticas transversais aos tópicos programáticos abordados em salas de aula. Já na terceira roda de conversa, seguindo a linha das discussões anteriores, foram propostas reflexões sobre o caráter transformador da educação. Nesse sentido, para esse debate, realizado em 01 de julho de 2020, foram escolhidos profissionais especializados e que exercem papéis de cunho representativo, formativo, social e científico no meio educacional. Fora a mediação das duas professoras coordenadoras, as convidadas foram a Profª. Daniela Gonçalves, doutora em Teoria e História da Educação pela Universidade de Vigo; a Profª. Eva Cunha, mestranda em Educação Especial, com aprofundamento na intervenção educativa precoce; a Profª. Graça Reis, doutora e mestre em Educação pelo ProPED/UERJ; e a Profª. Vivien Santa Maria, psicóloga clínica formada pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pensando em alternativas viáveis e políticas públicas para a educação atual, por meio das contribuições das professoras mediadoras e convidadas, o terceiro debate iniciou caracterizando o processo educacional a partir de uma ótica emancipatória. Além disso, de forma sintética, foram propostas ações práticas para se educar jovens durante e, principalmente, após a pandemia do novo coronavírus. Para tal, pensar a nova realidade a partir de experiências – no sentido de Larrosa (2002) – e projetos bem-sucedidos é o primeiro passo para essa importante mudança. O papel do professor novamente retoma o posto de destaque no evento e a professora Eva Cunha defende a sua posição ao afirmar que “o grande papel do educador é promover crianças criativas e curiosas” (OUTRA, 2020). O mote impulsionador dessa roda de conversa e que cativou a todos os participantes foi a concepção de pensar a educação necessariamente como uma forma de transformação social. Na quarta roda de conversa, o tema central foi a iniciação científica, em seus aspectos relacionados à educação, sociedade e divulgação. Tendo mediação da Profª. Drª. Daniella Assemany (UFRJ/Brasil) e da Profª. Drª. Daniela Gonçalves (ESEPF/Portugal), o debate síncrono aconteceu no dia 16 de dezembro de 2020. Foram convidados três profissionais de diferentes áreas, mas que conversam entre si. São eles: a Drª. Fátima Zago, educadora matemática do Instituto Federal Catarinense (IFC/Brasil); o Prof. João Paiva, doutor em Química (Universidade do Porto/Portugal) e coordenador do núcleo de “Educação, Comunicação de Ciência e Sociedade” do Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP); 99 e o Prof. Luís Menezes, doutor em Física (Universitat Regensburg/ Alemanha) e membro do Conselho Estadual de Educação em São Paulo. Estruturado a partir de perguntas reflexivas, o quarto debate síncrono transcorreu no sentido de democratizar conhecimentos e saberes sobre o caráter humanista presente na educação científica, que precisa estar presente no cotidiano dos jovens, uma vez que provoca autoria, autonomia e criatividade. Iniciando com as colocações do professor Dr. Luiz Menezes, a roda de conversa partiu de considerações freirianas para dar início ao debate, afirmando que a educação precisa ter sentido para o educando. A partir desse momento, uma discussão acerca dos métodos mecanicista/competitivo e criativo/colaborativo, bem como das avaliações, tomou um lugar privilegiado na transmissão, partindo das falas dos outros professores convidados. Além disso, uma discussão a respeito da democratização do acesso à formação do conhecimento foi travada no debate. Relacionando a temática da educação científica com a divulgação social, a Profª. Drª. Fátima Zago afirmou a incompatibilidade da tecnocracia com os preceitos democráticos, reafirmando a urgência de uma educação pública abrangente e popular. Assim, por meio de outras ideias semelhantes apresentadas pela professora Fátima e pelo professor Dr. João Paiva, foram instigadas reflexões sobre o papel atual do docente nessa nova organização social e educacional, decorrente, principalmente, das experiências do isolamento físico e da virtualização. Por fim, na quinta roda de conversa, foram propostas discussões sobre as atuais e possíveis futuras contribuições da pandemia do novo coronavírus para as práticas sociais e culturais, tanto de portugueses quanto de brasileiros. Contando com a mediação da Profª. Drª. Daniella Assemany (UFRJ/Brasil) e da Profª. MSc. Margarida da Quinta e Costa (ESEPF/Portugal), os integrantes convidados foram o Frei Fernando Ventura, teólogo, biblista e professor de Ciências Religiosas; a Profª. Maria da Conceição Passeggi, doutora em Linguística e mestre em Letras Modernas pela Université Paul Valéry (França); e o Prof. Ruben Fernandes, doutor em Metodologias e Aplicações em Ciências da Vida pela Faculdade de Biologia da Universidade de Vigo. No início da discussão, um primeiro questionamento sobre as percepções pessoais do início da pandemia foi feito aos convidados. A partir dessa questão, reflexões sobre o momento atual e o futuro foram a tônica do debate, que abarcou múltiplas áreas sociais, como os impactos na sociabilidade e, evidentemente, na educação. Visando pensar em 100 alternativas para a realidade conturbada, a roda de conversa se estruturou a partir da necessidade social de se buscar o sorriso e evitar a solidão decorrente dos isolamentos. Iniciada por um movimento chamado #Sorrid, o Frei Fernando Ventura se destaca como o idealizador dessa campanha contra a solidão e, por isso, ilustra a galeria de convidados desse debate. A partir de uma reflexão sobre possibilidades para a posteridade, os convidados apresentaram propostas de mudanças sustentadas na experiência narrada pelo sacerdote capuchinho. Segundo o teólogo, evitar ações egoístas deveria ser o principal empreendimento dos cidadãos, a partir das iniciativas de cada indivíduo. Nesse sentido, a professora Drª. Maria da Conceição Passeggi, ao afirmar que “as microiniciativas só são possíveis pela consciência do eu” (DA #covid, 2020), reforça esse pensamento e, junto com o professor Dr. Ruben Fernandes, introduz a questão educacional na roda de conversa a partir da construção de um debate sobre a docência e o seu papel vital de pensar a coletividade. Sobre essa última temática, partindo da eterna busca pelo conhecimento e consequentemente pela consciência, as mediadoras do debate reforçaram a urgência da reflexão acontecer no presente, para que assim importantes mudanças sociais finalmente aconteçam em um futuro próximo. A partir da análise detalhada de cada roda de conversa, é possível destacar os resultados positivos do evento em seus aspectos inovadores. Além das discussões que servem para ampliar o arcabouço prático dos participantes e do público, a facilitação do acesso aos debates acadêmicos tem sido o principal fruto dessa ação de extensão. Ademais, outros resultados positivos merecem o devido destaque. Em adição à dimensão internacional possibilitada pelas redes sociais e pela parceria instaurada entre as coordenadoras de instituições brasileiras e portuguesas, o projeto atualmente é um evento de extensão oficializado e cadastrado pelo Colégio de Aplicação (CAp) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA), demonstrando a magnitude da ação em seus aspectos tanto simbólicos quanto diplomáticos. Além disso, recentemente, a possibilidade de fornecer certificações oficiais de participação nas rodas de conversa para ouvintes brasileiros e portugueses tem sido mais um diferencial do evento, uma vez que tem permitido a comprovação de horas complementares por parte do público participante, o que expande a importância acadêmica do evento. 101 No que tange ao estímulo de ações de pesquisa, o evento é uma referência nos contextos científicos de Brasil e Portugal. Enquanto constituinte da eterna busca sistemática por respostas de problemas propostos (GIL, 2007, p. 17), o Conexões em Conversa está vinculado ao projeto de investigação denominado “Conexões, Inovações e (trans)Formação na Educação” da linha de pesquisa “Formação de Professores e Desenvolvimento Humano” (FPDH), estando inscrito no Centro de Investigação da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti (Porto, Portugal) e também sendo estudado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Insubordinação Criativa (GEPIC) – grupo cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e liderado pela Profª. Drª. Daniella Assemany. 3. Considerações finais Fundamentado a partir da notória visibilidade do mundo virtual, principalmente em virtude do isolamento físico, o evento alcançou resultados positivos em sua manifestação, com engajamentos expressivos nas mídias digitais, atingindo um marco de mais de três mil acessos nas redes sociais do Conexões em Conversa. Em contextualização com os fatos mencionados no presente relato, a finalidade do evento em divulgar cientificamente as temáticas relevantes da atualidade educacional propicia as intervenções pontuais do público participante, uma vez que os comentários se disseminam de forma singular e transversal com os debates intelectuais, cooperando com a ampliação da democratização de conhecimentos e saberes. A disponibilização das rodas de conversa por meio digital e gratuito possibilitou mitigar alguns dos efeitos danosos decorrentes da pandemia do novo coronavírus no âmbito educacional, visto que o compartilhamento de conhecimentos contribui para a idealização de uma sociedade menos desigual e mais justa. As temáticas abordadas são de extrema relevância em nosso atual cenário, tendo em vista a magnitude dos debates e reflexões do nosso tempo presente e as mudanças sociais e educacionais que acontecem por intermédio delas. Por fim, nos debates das rodas de conversa, integra-se a concepção de pensar a educação como uma das principais vias de transformação social. O modelo mecanicista atual de ensino, de certo modo, impõe 102 obstáculos que aniquilam a formação e o desenvolvimento da criatividade dos estudantes, e é papel do docente promover a curiosidade acanhada pelos processos educacionais (ALENCAR et al., 2018). Para isso, concebemos as ações de insubordinação criativa dos professores (D´AMBROSIO; LOPES, 2015) para despertar e estimular o pensamento criativo e autônomo de seus alunos. O evento traz consigo pontes simbólicas entre brasileiros e portugueses, construídas a partir de debates universais sobre educação, voltados para o corpo educacional e, principalmente, para a comunidade que o cerca. Esperamos, com isso, despertar uma ótica reflexiva para que professores, investigadores e gestores possam usufruir de forma propositiva em suas práticas profissionais. referências bibliográficas ALENCAR, E.; FLEITH, D.; BORGES, C.; BORUCHOVITCH, E. Criatividade em Sala de Aula: Fatores Inibidores e Facilitadores Segundo Coordenadores Pedagógicos. Psico-USF, vol. 23, nº 3, p. 555-566, 2018. DA #covid à #Sorrid: as (novas) perguntas e as (novas) aprendizagens. Conexões em Conversa, YouTube, 05 mar. 2020. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=bbpCdgn8OpA>. Acesso em: 23 abr. 2021. D’AMBROSIO, B. S.; LOPES, C. E. Insubordinação Criativa: um convite à reinvenção do educador matemático. Bolema, Rio Claro, vol. 29, n. 51, p. 1-17, 2015. EDUCAÇÃO Pós-Pandemia II: Direito à Criatividade?. Conexões em Conversa, YouTube, 29 mai. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZDEVmOnZvEQ>. Acesso em: 23 abr. 2021. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LARROSA, J. B. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 19, p. 20-28, 2002. MAKIEWICZ, M. The role of photography in developing mathematical creativity in students at elementary and practical levels. In: 10th International Congress on Mathematical Education. Copenhagen: University of Szczecin, 2004. OREY, D. C. Manifestations of mathematical inventiveness in at-risk (Immigrant) high school students performing arithmetical calculations. In: BROSNAN, P.; ERCHICK, D. B.; FLEVARES, L. (Ed.). Annual Meeting of The North American Chapter of The International Group for The Psychology of Mathematics Education, 32., 2010, Ohio. Proceedings [...] Ohio, EUA: PME, v. 4, 2010. p. 327-333 103 OUTRA Educação é Possível? Pontes que unem Brasil e Portugal. Conexões em Conversa, YouTube, 01 jul. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=74zq2ig7C-w>. Acesso em: 23 abr. 2021 RESENDE, B.; DOS SANTOS, M. G. Virtualização e educação: Desafios além da realidade. Redin-Revista Educacional Interdisciplinar, v. 8, n. 1, 2019. 104 10 CONHECIMENTO EM AÇÃO NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS: PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO DE CONTEÚDOS PARA A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA gUstavo henrIqUe de araúJo FreIre coordenador do ProJeto divulgação científica no ciberespaço hUgo sUzart PInto gradUando em BIBlIoteconomIa e gestão de UnIdades de InFormação - UFrJ raFael garcIa assUnção gradUando em comUnIcação socIal: ProdUção edItorIal - UFrJ raImUnda Fernanda dos santos docente no dePartamento de BIBlIoteconomIa - UFrJ resumo Relata as atividades concernentes ao gerenciamento das redes sociais digitais da Revista Conhecimento em Ação por discentes e docentes no projeto de extensão Divulgação Científica no Ciberespaço. Tem como objetivo apresentar como tem sido realizada a gestão das redes sociais digitais da Revista Conhecimento em Ação. Utiliza como metodologia as pesquisas bibliográfica e documental com abordagem qualitativa. Observa a contribuição da adoção do gerenciador de redes sociais Etus na gestão estratégica das redes sociais digitais. Demonstra a adaptação visual dos ensaios no blog da Revista Conhecimento em Ação para o público geral. Elucida a produção de vídeos de divulgação dos artigos para as redes sociais digitais da Revista Conhecimento em Ação. Conclui-se que os relatos apresentados contribuem para o campo da Ciência da Informação, bem como para a formação dos discentes integrantes do projeto. palavras-chave Redes Sociais Digitais; Divulgação Científica; Comunicação Científica; Ciberespaço. 105 1. introdução A sociedade, desde os primeiros agrupamentos humanos, necessita do compartilhamento de informações para o seu desenvolvimento, especialmente a sociedade contemporânea. Não só isso, mas também é essencial a organização dessas informações, de maneira que os receptores tenham contato com elas em uma linguagem compreensível, através de meios acessíveis e, por quê não, com espaço para também contribuir com suas próprias experiências. Dessa forma, compreendemos que pensar sobre e lidar com informação anda lado a lado com os esforços em relação à comunicação. Sendo assim, quando tratamos do compartilhamento de informações, precisamos estar atentos às demandas comunicacionais dessa atuação, principalmente em dois aspectos: entregar a informação ao receptor-alvo e fazê-lo sem que haja ruído. A título de ilustração, podemos nos debruçar sobre o clássico modelo de comunicação e informação criado e publicado por Claude Shannon em 1948, no qual compreendemos que ruídos disruptivos, mesmo que aconteçam, devem ser evitados a todo custo para que a mensagem seja transmitida com clareza do emissor ao destinatário. O que Shannon não levou em consideração à época, e que seria crucial diante das novas aplicações da Web, é a participação ativa do receptor como um parceiro de comunicação, o qual deve ser ouvido e ao qual devemos adaptar a linguagem se desejarmos uma comunicação bem-sucedida. Além disso, definitivamente Shannon não vislumbrou o “ciberespaço” que conhecemos no século XXI, intensamente carregado de informações globais e incessantes: as redes sociais digitais. O desafio de uma comunicação bem-feita nas redes sociais digitais é grande, há muita competição por atenção nos palcos do Facebook, Instagram e Twitter. Nesse contexto, a boa gestão da informação nesses ambientes é uma tarefa imprescindível. Por isso, o layout das páginas e a estética do conteúdo apresentado devem ser levados em consideração, assim como a linguagem a ser utilizada, o bom conhecimento da plataforma e do público a ser atingido. Quando olhamos para a atuação em divulgação científica, percebemos a tarefa de tornar acessível e compreensível para um vasto público o que antes fora compartilhado entre pares, através da comunicação científica em artigos e periódicos. Diante do exposto, este relato de experiência tem como objetivo apresentar como tem sido realizada a gestão das redes sociais da Revista 106 Conhecimento em Ação (RCA) (blog, Facebook e Instagram) e as ações de informação desenvolvidas voltadas para a divulgação científica. Para tanto, foram utilizadas as pesquisas bibliográfica e documental com abordagem qualitativa. A RCA é um periódico científico eletrônico de periodicidade semestral que atua desde 2015 em prol da comunicação científica, publicando artigos relacionados à Ciência da Informação e à Biblioteconomia. Sob o título de Divulgação Científica no Ciberespaço, criou-se um projeto de extensão universitária orientando o trabalho realizado no periódico, antes voltado apenas para os pares, para a contribuição com informações científicas compartilhadas para toda a sociedade, através das redes sociais digitais. Dessa maneira, estudantes e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição da qual a RCA faz parte, atuam com o objetivo de fazer com que a divulgação científica seja estabelecida de forma eficaz e levando em conta o contexto social atual, altamente influenciado pelo desenvolvimento das aplicações da Web. Nesse sentido, o projeto em questão encontra-se articulado com a filosofia da extensão universitária, a qual consiste em desenvolver ações para além dos muros da universidade.1 2. metodologia do projeto de extensão A metodologia utilizada para alcançar os objetivos do projeto de extensão é a da pesquisa-ação, que apresenta os meios para uma intervenção empírica em uma dada situação. Tal escolha se justifica no contexto de um projeto de extensão pelo desenvolvimento e implantação de ações que podem modificar uma determinada realidade, qual seja, o compartilhamento de informações científicas para toda a sociedade possibilitando a apropriação do conhecimento por pessoas que não estão na academia. A proposta apresenta o ciberespaço como um campo de práticas informacionais para discentes e docentes, e o campo da pesquisa são as redes sociais da RCA, periódico científico do curso de Biblioteconomia e Gestão e Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. As redes sociais, campo empírico do projeto, são o Blog, o 1 O projeto traz como objetivo geral “analisar as ações de informação que podem ser desenvolvidas, através das redes sociais, para divulgação científica para a sociedade” e como objetivos específicos: gerenciar as informações produzidas no processo de ensino e pesquisa nas redes sociais e entre as redes sociais; interagir com os usuários; acompanhar e atualizar a postagem de notícias. 107 Facebook e o Instagram associados à revista. Assim, revela-se como uma abordagem inovadora para gestão da informação em ambiente virtual no contexto da Extensão. Isso implica novos olhares em relação a variados elementos que fazem parte do processo de Extensão, tais como público-alvo, espaço e tempo. As tecnologias digitais de informação e comunicação permeiam todas as atividades sociais, especialmente aquelas voltadas para geração, gestão e comunicação da informação. Na denominada sociedade em rede surgem novos espaços para trocas informacionais, já que a interação, o contato mais direto com a sociedade/usuários, a participação direta e a possibilidade de construção de conhecimento coletivo são marcas identitárias da sociedade atual. Nesse contexto, com a emergência do ciberespaço, as redes sociais se constituem em importantes espaços infocomunicacionais, e podem contribuir com as revistas científicas, constituindo-se uma importante rede de canais para divulgação científica. 2.1 a gestão das redes sociais digitais da rca O trabalho de gerenciamento das redes sociais digitais da RCA é um processo constante, visto que não é recomendado a inatividade por longos períodos, o que prejudicaria o alcance das suas publicações. É um processo que envolve tanto os professores coordenadores do projeto ― que dão direcionamento ao trabalho a ser feito, colaborando também com ideias e monitorando o conteúdo elaborado de forma a não fugir do contexto temático da revista ―, quanto os alunos extensionistas, que se dividem em acompanhar o andamento da produção do material; editar os vídeos recebidos pelos autores para divulgação dos artigos; elaborar imagens de divulgação dos artigos; monitorar notícias que venham a ser interessantes para serem compartilhadas; responder aos comentários e mensagens privadas recebidas. 3. resultados práticos e obtidos Existe um processo de retroalimentação a partir das reuniões de equipe, durante as quais se realizam balanços do trabalho feito até então e, também, onde surgem ideias de postagens e estratégias para atingir novos públicos. Essas reuniões são relevantes e produtivas, pois são 108 espaços propensos ao compartilhamento de ideias, onde ocorrem trocas entre extensionistas antigos e recém-chegados, além dos coordenadores. As trocas que ocorrem nessas reuniões contribuem para a elucidação dos processos que caberão aos extensionistas recém-chegados, assim como também permitem que os novos colaboradores contribuam com sugestões que possam aperfeiçoar a produção. Durante o ano de 2020, foram realizadas reuniões, como as descritas anteriormente, a fim de alinhar os trabalhos em relação ao projeto. Sendo assim, algumas alterações a serem realizadas nas redes sociais digitais da RCA foram identificadas e novas ideias surgiram e foram implementadas. 3.1 adoção do gerenciador etus A fim de otimizar e tornar mais prático o trabalho de produção de conteúdo para as redes sociais da RCA, no início do segundo semestre do ano de 2020, a equipe do projeto de extensão se debruçou sobre a escolha de um gerenciador que permitisse realizar as seguintes tarefas: programar as postagens, eliminando a necessidade de se postar manualmente cada publicação; gerar relatórios, permitindo que a equipe acompanhasse o desempenho das publicações, auxiliando no planejamento estratégico das postagens e também o acesso de todos da equipe à ferramenta. Para dar suporte a escolha, tomaram-se como requisitos os atributos de Nielsen (1993), quais sejam: facilidade de aprendizagem (learnability), que diz respeito à capacidade de um usuário realizar uma tarefa satisfatoriamente mesmo sem experiência prévia; eficiência de uso (Efficiency), que trata da produtividade do sistema, que se deve mostrar eficiente; facilidade de memorização (memorability), que se refere à característica que um sistema deve ter em relação à fácil memorização de suas telas, fazendo com que o usuário consiga utilizá-lo sem erros mesmo depois de um longo intervalo; baixa taxa de erros (errors), que dispõe sobre o sistema apresentar a menor taxa possível de erros, fornecendo também soluções rápidas mesmo para usuários inexperientes; e satisfação subjetiva (satisfaction), que está atrelado à agradabilidade em relação à interação com o sistema por parte do usuário. Após pesquisar e analisar as soluções disponíveis na internet, a plataforma escolhida a ser utilizada foi o gerenciador de redes sociais Etus2. 2 Disponível em: https://etus.com.br. Acesso em: 28 abr. 2021 109 Analisando suas funcionalidades de acordo com os atributos supracitados obtivemos como resultado: a. Facilidade de aprendizagem: a plataforma apresenta uma interface amigável e intuitiva, suas ferramentas são de fácil localização, o que proporcionou fácil ambientação da equipe ao sistema; b. Eficiência de uso: obtivemos sucesso em todas as operações realizadas na fase de testes; c. Facilidade de memorização: por apresentar ícones junto a textos em sua interface, vide figura 1, o gerenciador facilita a memorização, auxiliando a memorização mesmo após um longo intervalo; d. Baixa taxa de erros: o sistema não apresentou erros em nossa fase de testes, como dito anteriormente, além disso, oferece chat com o suporte em horário comercial, também ilustrado na figura 1; e. Satisfação subjetiva: foi observada durante a experiência com a plataforma a satisfação da equipe, que se identificou com a interface e soube realizar as tarefas de forma intuitiva e satisfatória no gerenciador. Figura 1 - Interface da página inicial e janela de chat do suporte do gerenciador Etus Fonte: https://front.etus.com.br/dashboard Nessa perspectiva, é possível perceber que a ferramenta de relatórios do gerenciador se mostra bastante útil ao uso da equipe, fornecendo dados bem ilustrados acerca do alcance, do engajamento e dos melhores 110 dias e horários, o que tem auxiliado acompanhar o que foi publicado e no planejamento estratégico das próximas postagens. A forma como os dados são apresentados é de fácil assimilação em uma interface amigável, conforme pode ser constatado nas figuras 2 e 3. Figuras 2 e 3 - Interface de relatórios do gerenciador Etus. Fonte: https://front.etus. com.br/report Buscando elucidar a contribuição da ferramenta, trazemos dados do relatório obtido no período de divulgação do último número da revista 111 no Instagram (03/02/2021 a 22/04/2021), a partir dos quais percebemos a diferença no engajamento dos seguidores em cada rede social digital. O engajamento diz respeito a interação do seguidor com o conteúdo publicado. Nesse sentido, a rede que apresenta maior média de engajamento nas postagens em relação às outras é o Instagram. No relatório obtido, compreendendo o período supracitado, nossas 21 publicações na rede apresentaram 950 interações, resultando em uma média de 45,24 interações por postagem mostrando, até o momento, tratar-se do ambiente em que conseguimos atingir mais pessoas na divulgação de nossos artigos. 3.2 atualização de ensaios no blog da rca O blog da Revista Conhecimento em Ação possui as seções de conteúdos notícias; entrevistas; ensaios e estante virtual (onde são disponibilizados livros digitais, com acesso livre, relacionados à área da informação). Na seção ensaios, encontram-se textos em PDF para livre leitura dos usuários. Os leitores podem nessa seção ter contato com ensaios escritos por diversos autores, professores e pesquisadores da área da informação, em linguagem acessível, mesmo a pessoas de outras áreas de estudo. Objetivando-se atingir um público mais diversificado e produzir uma leitura mais agradável e fluida, os ensaios já existentes no blog foram re-diagramados, absorvendo a identidade visual da revista. Os textos previamente postados apresentavam a padronização de artigos acadêmicos, valiosos para a organização dos elementos em textos de comunicação científica; no entanto, julgou-se propício reorganizar seus elementos visuais para uma divulgação científica mais eficaz: o conteúdo produzido, tornando-se mais inteligível para o público geral. A figura 4 mostra o modelo visual anterior e a figura 5 o padrão atual. Figura 4 - Padrão visual original dos ensaios. Fonte: Arquivo RCA, ensaio de Ana Senna 112 Figura 5 - Padrão visual dos ensaios atualizado. Fonte: http://conhecimentoemacao. blog.br/ensaios (ensaio de Marianna Zattar) 3.3 produção de vídeos Sempre mantendo o foco de atingir uma divulgação científica mais eficiente, a equipe da Revista Conhecimento em Ação se esforçou para engajar o público de todas as suas redes sociais digitais de diferentes maneiras. Sabendo da crescente atenção aos conteúdos audiovisuais, que podem ser acessados de qualquer lugar, através dos smartphones, e que atingem mais pessoas de acordo com os algoritmos das redes sociais, julgou-se oportuno inserir o conteúdo dos artigos nas redes sociais através de outros formatos. Os autores de cada artigo publicado na edição de dezembro de 2020 do periódico Conhecimento em Ação foram contactados para que produzissem vídeos curtos apresentando oralmente a síntese do conteúdo de 113 seu texto. As orientações foram encaminhadas por e-mail a esses autores, para que pudessem produzir um vídeo claro e de fácil compreensão do público geral. Posteriormente, os vídeos enviados foram editados para serem apresentados de maneira mais dinâmica, com ilustrações e imagens referentes aos artigos abordados, além de notícias que corroborassem o argumento dos autores. Assim, os vídeos foram publicados na página de Instagram da RCA, entrando no ciberespaço para atingir novos públicos, através da hashtag “Meu Artigo na RCA”. A figura 6 mostra o resultado visual final de um dos vídeos e sua legenda. Figura 6 - Visual de um dos vídeos publicados pela RCA. Fonte: https://www.instagram.com/p/CLg8Czxj1d2/ 4. considerações finais A utilização da pesquisa-ação como metodologia do projeto de extensão, por apresentar meios de intervenção empírica, faz com que as experiências obtidas no projeto contribuam para os estudos de gestão e comunicação da informação. Além disso, podemos dividir as contribuições do projeto através de três ações, quais sejam: ações de aprendizagem em que os discentes aprendem a utilizar ferramentas tecnológicas voltadas para a gestão, organização e comunicação da informação no ciberespaço; ações que possibilitam a geração de novos conhecimentos no campo da Ciência 114 da Informação, na medida em que as redes sociais digitais se constituem em um novo e relevante espaço para geração e comunicação da informação; e, por fim, as ações de intervenção no campo da pesquisa e que possibilitam mudanças na sociedade, na medida em que compartilham informações que antes eram comunicadas para usuários específicos da academia. Essa comunicação para um público mais amplo, o que se denomina divulgação científica, é fundamental para a democratização do conhecimento científico e está em sintonia com a responsabilidade social da Ciência da Informação, qual seja, levar a informação para todos que necessitam. referências bibliográficas ETUS SOCIAL NETWORK BRASIL. Etus: gerenciamento de redes sociais. Ribeirão Preto: Etus Social Network, [2021]. Disponível em: https://etus.com.br/. Acesso em: 26 abr. 2021. MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. 6ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003. NIELSEN, Jakob. Usability Engineering. San Francisco: Morgan Kaufmann, 1993. REVISTA CONHECIMENTO EM AÇÃO. Capa. [Página principal], 2021. ISSN: 2525-7935. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/rca/index. Acesso em: 26 abr. 2021. REVISTA CONHECIMENTO EM AÇÃO. #MeuArtigoNaRCA: o aspecto informacional no levantamento de cenários… Rio de Janeiro, 20 fev. 2021. Instagram: @revistaconhecimentoemacao. Disponível em: https://www.instagram.com/p/ CLg8Czxj1d2/. Acesso em: 26 abr. 2021. ZATTAR, Marianna. Os bibliotecários (as) e as fake news. Blog Conhecimento em Ação. Rio de Janeiro, [2020]. Disponível em: http://conhecimentoemacao.blog. br/UserFiles/documentos/Doc_Os%20Bibliotec%C3%A1rios%20(as)%20e%20 as%20Fake%20News.pdf. Acesso em: 26 abr. 2021. 115 11 CONSTRUINDO UMA CASA DE FARINHA COM ASSENTADOS DA REFORMA AGRÁRIA: TECNOLOGIA SOCIAL E EDUCAÇÃO POPULAR EM TEMPOS PANDÊMICOS maUrícIo agUIlar nePomUceno de olIveIra coordenador do ProJeto lits macaé camIla rolIm larIcchIa vIce coordenadora do ProJeto lits macaé rUte ramos da sIlva costa docente em nUtrIção - UFrJ-macaé marcel marqUes BIangolIno gradUando em engenharIa mecânIca - UFrJ-macaé resumo O Laboratório Interdisciplinar de Tecnologia Social de Macaé (LITS) é um projeto de extensão do Campus UFRJ-Macaé que se articula ao ensino e à pesquisa. É composto por docentes e estudantes de Nutrição e Engenharias. Criado em 2018, no contexto da disciplina extensionista eletiva “Aprendizagem por projetos (APP)”, tem por referenciais teóricos e metodológicos a educação popular e a tecnologia social. A Casa de Farinha (CF), adaptada às demandas do assentamento Osvaldo de Oliveira (Macaé), é uma tecnologia social desenvolvida pelo LITS/Macaé. Em 2020, realizamos a extensão remota com os(as) assentados, dando sequência aos projetos da CF. A experiência possibilitou o desenvolvimento de competências, habilidades, afetos nos(as) participantes e a compreensão do papel técnico, social e cultural da universidade pública. palavras-chave Tecnologia social; Educação Popular; Reforma Agrária Popular; Direito Humano à Alimentação Adequada; Extensão Remota. 117 1. a tecnologia social na encruzilhada do ensino, pesquisa e extensão popular O Laboratório Interdisciplinar de Tecnologia Social de Macaé (LITS/ Macaé) é um projeto de extensão da UFRJ Campus Macaé que se encontra, na encruzilhada, com o ensino e a pesquisa (RUFINO, 2019). O LITS/ Macaé, composto por docentes e estudantes dos cursos de graduação em nutrição e em engenharias (mecânica, produção e civil), foi criado em 2018 no contexto da disciplina extensionista eletiva “Aprendizagem por Projetos (APP)”, cujos referenciais teóricos e metodológicos são a educação popular e a tecnologia social. O objetivo principal do Laboratório é desenvolver sistemas/processos tecnológicos junto com o público da ação, levando em consideração as especificidades de cada realidade e contribuindo com a transformação social, ambiental e política do território. A aproximação inicial entre os(as) universitários(as) e a comunidade aconteceu através da Jornada Universitária pela Reforma Agrária (JURA), realizada na Cidade Universitária de Macaé, em 2018. Durante uma roda de conversa intitulada “Como as tecnologias podem apoiar a agricultura familiar?”, os(as) assentados(as) do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, localizado em Córrego do Ouro, no município de Macaé, expuseram a necessidade de máquinas adequadas à agricultura camponesa. A exposição soou como uma convocação e, ao final da roda de conversa, professores(as) e assentados(as) discutiram a proposta de direcionar a disciplina “Aprendizagem por Projetos” às demandas do PDS Osvaldo de Oliveira. Uma das ideias da disciplina era ser um espaço para pensar coletivamente o projeto de de máquinas e sistemas de gestão que pudessem contribuir com a produção de alimentos no meio rural. No semestre seguinte, no âmbito da disciplina de APP, professores(as) e estudantes foram ao PDS conhecer a realidade e escutar os relatos dos(as) assentados(as) sobre os problemas de produção enfrentados. Após um dia de debate e 3 encontros/aulas, escolheu-se coletivamente projetar uma casa de farinha, com o objetivo de evitar o desperdício do aipim. Naquele momento, a escassez de infraestrutura adequada ao armazenamento e o beneficiamento deste alimento causava angústia entre os(as) agricultores(as), visto que o aipim in natura é perecível e a velocidade do escoamento desse alimento não era o suficiente diante do volume produzido no PDS. 118 Na disciplina de APP, os(as) estudantes puderam projetar e construir coletivamente uma trituradora movida com o pedalar de uma bicicleta, uma prensa e um forno, que são tecnologias usadas no beneficiamento do aipim. Com os limites do período letivo e a necessidade de continuidade das ações, elaboramos a proposta de extensão na modalidade “projeto”, que originou o LITS/Macaé, atendendo as Diretrizes da Extensão Universitária, conforme propõe a Política Nacional de Extensão Universitária, a saber: a interação dialógica; a interprofissionalidade e interdisciplinaridade; a transformação social; a formação de estudantes e a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (FORPROEX, 2012). O projeto de extensão LITS/Macaé passou a abrigar uma equipe interna de estudantes que conduz, de forma autônoma e em diálogo com os(as) assentados(as), projetos tecnológicos de interesse da comunidade. E, semestralmente, abrimos vagas na disciplina APP para que discentes, de variados cursos, se aproximem das experiências em processo e contribuam com os projetos em desenvolvimento. A disciplina APP possibilita oxigenar as ideias, impulsionando as ações da extensão, como também apresenta aos(às) estudantes externos(as) ao LITS/Macaé outros caminhos para pensar e fazer ciência. As máquinas desenvolvidas no âmbito do LITS/Macaé atendem ao conceito de Tecnologia Social, que pressupõe utilizar um quadro de referência amplo, muito além daqueles convencionalmente realizados pelas escolas de engenharia. Para isso, a participação do maior número de usuários e pesquisas sobre sistemas equivalentes são necessárias na concepção da Tecnologia Social, como discutido por Ivan da Costa Marques em Lianza e Addor (2011) e por Dagnino (2004). Portanto, a metodologia de trabalho deste projeto é participativa, a qual a população dos territórios abrangidos e a equipe acadêmica se envolvem nas decisões e na concepção da tecnologia. Além disso, utilizamos a metodologia de Pesquisa-Ação, conforme discutida por Michel Thiollent (2010). Nessa metodologia, o método participativo pressupõe, entre outros aspectos, que a demanda surja da comunidade a ser favorecida e seja desenvolvida em conjunto. Assim, em alguns momentos, os atores se confundem com os pesquisadores e os pesquisadores com os atores. As ações do projeto são realizadas em diálogo com a UFRJ-Macaé e a população dos territórios abrangidos pelo projeto. No ano de 2018, conseguimos financiamento para desenvolver o projeto por meio dos editais nº 36/2018 de Tecnologia Social do CNPq e o 119 nº 10/2018 da FAPERJ, órgãos de fomento à pesquisa científica. Assim, foi possível materializar as propostas elaboradas em parceria com o PDS Osvaldo de Oliveira no final de 2019, finalizando um primeiro ciclo das atividades ao projetar, fabricar e avaliar os protótipos dos equipamentos (triturador, prensa e forno movidos pela força humana). A opção pela força humana, nesse primeiro momento, se deu mediante a falta de energia elétrica no local da casa de farinha no assentamento. 2. o desenvolvimento de uma casa de farinha no assentamento: as potências e os desafios da extensão remota Em 2020, os(as) moradores(as) do PDS sentiram a necessidade de aumentar a produtividade a partir da automatização do triturador e do forno, utilizando um sistema fotovoltaico de energia para alimentar a casa de farinha. Além disso, houve a demanda de adequação do espaço às normas sanitárias de produção de alimentos para tornar possível a comercialização junto ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). No entanto, em decorrência da pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2 denominada de covid-19, foi necessário reorganizar a dinâmica de encontros, priorizando as reuniões remotas. No Período Letivo Especial (PLE), abrimos vagas para a disciplina APP, que foi coordenada por 2 docentes do curso de nutrição, 2 docentes dos cursos de engenharia (produção e mecânica) e 3 extensionistas. Inscreveram-se 25 estudantes, sendo 15 do curso de Nutrição (Campus UFRJ-Macaé), 8 dos cursos de Engenharia (Campus UFRJ-Macaé), 1 do curso de Biologia (Campus UFRJ-Fundão) e 1 do curso de Engenharia Ambiental (Campus UFRJ-Fundão). Realizamos um total de 12 encontros remotos, com duração média de 1 hora e 30 minutos, sendo o primeiro designado a apresentação da disciplina e dos participantes, os 3 seguintes dedicados ao aprofundamento teórico dos temas: tecnologia social, educação popular, agroecologia, direito humano à alimentação adequada e o histórico de luta e constituição do PDS Osvaldo de Oliveira. Os demais encontros foram dedicados à elaboração e avaliação do andamento dos projetos com os(as) assentados(as) da reforma agrária. O assentamento esteve presente nas aulas on-line de planejamento e em uma discussão teórica, representado por 3 moradores(as). 120 Para pesquisar e operacionalizar as ações, a equipe de estudantes se dividiu nos seguintes grupos temáticos: a. Estrutura da casa de farinha/normas estruturais - consistiu na observância das normas sanitárias estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, adaptadas às especificidades de agroindústrias comunitárias quanto à estrutura física e aos equipamentos (LIMA, VILLAS-BÔAS, 2018). Consideramos os seguintes quesitos: revestimento das paredes, forro do teto, disposição das janelas, localização das pias para a lavagem das mãos e equipamentos, proteção das lâmpadas e ralos, disposição dos banheiros/vestiário e copa, disposição dos ambientes de produção em conformidade com um fluxo da produção e a segurança sanitária. Além da representação gráfica da casa de farinha (Figura 1a), elaboramos um orçamento com base em 3 referências para dialogar com o grupo de assentados(as) e eleger aqueles adequados à realidade do local. Um acontecimento interessante durante o debate do assunto com a comunidade foi a nossa utilização do termo “área suja”, nos referindo à área de recebimento da mandioca in natura, e “área limpa” para a área de processamento após lavar e descascar a raiz. Reproduzimos tal como estava nas normas sanitárias. Nesse momento, um dos assentados solicitou que modificássemos o termo, pois não consideravam a terra como algo sujo. Como sugerido por ele, substituímos pelos termos “área primária” e “secundária”. b. Rotulagem e embalagem dos alimentos - tratou de pesquisa sobre embalagens sustentáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico, e seguras no aspecto alimentar e nutricional. Esse grupo participou, inclusive, de uma aula de uma turma de Design Industrial da UFRJ/Fundão para discutir a proposta. Além disso, verificou-se quais os critérios para a elaboração do rótulo da farinha de mandioca, de modo que a mesma pudesse ser considerada elegível na seleção por chamada pública, pelo município e para compra institucional. O desenho dos rótulos considerou os nomes e a logomarca da farinha do PDS (Figura 1b). No fim, elaborou-se uma pesquisa de preços para os diversos tipos de embalagens e dialogamos sobre o tema com os(as) assentados(as). c. Automação do forno - Inicialmente, os(as) estudantes buscaram as diferenças entre os modelos de forno de torrar mandioca automáticos disponíveis no mercado e os construídos para outras casas de 121 farinha. Após apresentar para o grupo de assentados(as) as diferentes opções de construção, foi escolhido um que melhor se adequaria à realidade do PDS. O primeiro desenho computacional do forno foi gerado para facilitar a discussão. Um estudo direcionado para o dimensionamento do motor foi realizado por alunos da disciplina de “Elementos de Máquina II” do curso de Engenharia Mecânica. Baseado nesse estudo, o grupo apresentou um orçamento preliminar do forno para o grupo de assentados(as) (Figura 1c). d. Tratamento das águas e saneamento - Esse grupo se dividiu em 3 frentes: tratamento do esgoto, bombeamento de água do poço para uma caixa d ‘água e tratamento com cloro dessa água. Todas as frentes realizaram apresentações para o grupo de assentados(as) sobre as diversas soluções tecnológicas e seus orçamentos de custo para cada uma dessas etapas. A primeira frente dimensionou um sistema de tratamento ecológico de esgoto utilizando um círculo de bananeiras para evapotranspiração das águas cinzas da casa de farinha. A frente de bombeamento de água do poço selecionou e dimensionou uma bomba d’água para a casa de farinha. Essa atividade foi feita por alunas do curso de Nutrição, com auxílio de uma extensionista de Engenharia Mecânica, demonstrando um caráter interdisciplinar que engrandece a formação dos(as) estudantes envolvidos(as). e. Projeto de energia solar e chuveiro da casa de farinha - Esse grupo foi responsável por iniciar o projeto fotovoltaico para captação de energia que será utilizada nos maquinários e iluminação da casa de farinha. O dimensionamento do chuveiro solar foi realizado em conjunto com alunos da disciplina “Projetos de Sistemas Térmicos” da Engenharia Mecânica. a) 122 b) c) Figura 1 - a) Projeto da estrutura da casa de farinha; b) Proposta de rótulo para a farinha; c) Projeto do forno automatizado. Além dos encontros remotos semanais, os grupos de trabalho se reuniam paralelamente para desenvolverem as atividades sob suas responsabilidades e prepararem apresentação para discussão nas reuniões ampliadas. Os extensionistas do LITS/Macaé acompanharam cada um dos grupos de trabalho, orientando e oferecendo suporte teórico e metodológico. Sobre a experiência de extensão remota, as potências destacadas pelos(as) estudantes foram: 1) a interdisciplinaridade, que os(as) desafiou a trabalharem conjuntamente em temas distintos do proposto no 123 currículo obrigatório e em parceria com representantes de outras áreas do conhecimento; 2) A participação dos(as) assentados(as) nos debates apesar da complexidade do diálogo mediado pelo computador ou celular, estes possibilitaram mais encontros com os(as) assentados(as) do que na versão presencial; 3) a autonomia dos(as) estudantes no desenvolvimento dos projetos; 4) a centralidade no diálogo; 5) a participação de alunos(as) de outros Campi. Os principais desafios foram a inexperiência de condução de uma disciplina extensionista no formato remoto; dificuldades de acesso à internet pelos(as) estudantes e assentados(as) do PDS Osvaldo de Oliveira; o tempo de aula, que algumas vezes estendeu para além do combinado ou insuficiente para acolher a apresentação do trabalho de todos os grupos; o formato remoto torna a comunicação mais lenta, demandando mais tempo para se chegar a uma compreensão comum, além de mais cansativo; a avaliação da formação dos(as) estudantes também é mais desafiadora, posto que é mais difícil observar a interação deles(as) com o assunto, sobretudo, pela impossibilidade de visualizar as linguagens corporais. 3. considerações finais A totalidade do processo de extensão – trabalhado conjuntamente com o ensino e a pesquisa – possibilitou transformações por meio das ações realizadas nos grupos temáticos e das discussões teóricas sobre a não neutralidade da ciência, a produção agroecológica de alimentos e a história da formação do PDS. Como a vivência dessa extensão remota impactou a formação dos estudantes? Quantos desses estudantes já haviam refletido sobre reforma agrária? Quantos já haviam conversado com um(a) assentado(a)? Quantos conheciam suas condições de vida? E a história da ocupação de uma terra improdutiva? Quantos já haviam refletido sobre a importância de unir o saber popular e o acadêmico para transformar uma realidade? Sobre a suposta neutralidade da ciência? Quantos já haviam se deparado com a possibilidade de usar o espaço da universidade para transformar a realidade? Quais já haviam pensado na alimentação como um ato político e nos desafios de produzir esses alimentos? E qual o papel da universidade e do estado para fomentar o consumo de alimentos de verdade? Todas essas questões não foram apresentadas em um espaço acadêmico distante, sem conexão com a realidade 124 do(a) estudante. Elas estavam vinculadas à relação que tem a vivência do assentamento na produção de alimentos agroecológicos e o desenvolvimento de conhecimentos sobre tecnologia e nutrição. Os objetivos dos grupos temáticos eram complexos e interdisciplinares: adequar um espaço físico às normas sanitárias, discutir uma embalagem, projetar um forno automatizado, projetar o tratamento de águas e projetar um sistema fotovoltaico. Cada estudante pode escolher e dirigir o seu projeto de forma não independente do grupo e do diálogo com o PDS. Quão importante é oferecer um espaço-tempo de autonomia e confiança aos(às) estudantes. Porém, diante dessa realidade também complexa, há o desafio de avaliar qual o ganho que cada um obteve. A experiência remota relatada neste texto certamente desenvolveu competências, habilidades, princípios éticos, capacidade de compreender a realidade com olhar técnico, afetivo, social e cultural em cada estudante, os quais não conseguiremos abarcar plenamente em um relato de experiência. Contudo, no final da experiência extensionista remota, os(as) estudantes manifestaram o desejo de ver a transformação da realidade, estando presentes na casa de farinha já construída e se sentindo parte do processo de desenvolvimento territorial no assentamento da reforma agrária popular. referências bibliográficas DAGNINO, R.; BRANDÃO, F.; NOVAES, H.(2004) Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: LASSANCE JR, A. E. et al. Tecnologia Social uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de janeiro: Fundação Banco do Brasil.. Recuperado de http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/18_ref_capes/arquivos/ arquivo_110.pdf LIMA, Sandra Aparecida Kitakawa; VILLAS-BÔAS Jerônimo. Guia de elaboração de projetos de agroindústrias comunitárias.– Brasília-DF; Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), 2ª edição, 2018. MARQUES, I. C. (2005) Prefácio: Engenharia Brasileiras e a recepção de fatos e artefatos. In: Lianza. S. e Addor. F. Tecnologia e Desenvolvimento Social e Solidário. Recuperado em http://nides.ufrj.br/images/Imagens/programas/SOLTEC/ TecDesSocSol.pdf THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. RUFINO, L. Pedagogia das encruzilhadas. Editora: Mórula, 1a ed. 2019. 125 12 DIREITOS HUMANOS, SAÚDE MENTAL E RACISMO: DIÁLOGOS A PARTIR DO PENSAMENTO DE FRANTZ FANON rachel goUveIa Passos coordenadora do ProJeto de extensão direitos humanos, saúde mental e racismo – diálogos a partir do pensamento de frantz fanon PatrIcIa carlos magno coordenadora do ProJeto de extensão direitos humanos, saúde mental e racismo – diálogos a partir do pensamento de frantz fanon arthUr coUtInho doUtorando no PPg em servIço socIal - UFrJ gIselle moraes mestranda no PPg em servIço socIal - UFrJ malú rIBeIro vale mestranda no PPg em servIço socIal - UFrJ gIUlIa de castro loPes de araUJo gradUanda em servIço socIal - UFrJ resumo O presente trabalho sistematiza a experiência do curso de extensão Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo – diálogos a partir do pensamento de Frantz Fanon, uma iniciativa de extensão universitária antirracista de promoção à educação pública, gratuita e de qualidade para todos. O texto objetiva abordar aspectos relativos à organização, divulgação e a realização do curso no contexto da pandemia de covid-19. Nesse sentido, pretende analisar o impacto do curso ofertado de forma remota, a promoção da democratização do conhecimento e sua repercussão internacional. palavras-chave Extensão; Ensino; Antirracismo; Frantz Fanon. 127 1. introdução Idealizado pela professora doutora Rachel Gouveia e pela defensora pública Patrícia Magno, o curso de extensão Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo: diálogos a partir do pensamento de Frantz Fanon materializa a parceria público x público pela promoção de uma educação antirracista, democrática, pública, gratuita e de qualidade. Cabe a educação, fenômeno imbricado entre vida, arte e conhecimento, a produção de respostas responsáveis que reinventem os seres e consequentemente o mundo. O fundamento primeiro da educação é a ética, elemento esse que nos leva a questionar sobre como as nossas existências respondem aos outros que nos interpelam. Assim, emerge a questão: Qual o movimento que escolhemos fazer para nos lançarmos enquanto um ato de responsabilidade comprometido com a vida em sua diversidade e imanência? (RUFINO, 2018, p. 76). Inicialmente pensado para um público de 60 pessoas, o curso aconteceria de forma presencial na sede da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro - DPRJ, situada no centro da cidade do município do Rio de Janeiro. Porém, devido às medidas de isolamento adotadas no início do ano de 2020 para enfrentamento da pandemia de covid-19, o curso sofreu uma reestruturação, sendo adaptado para a modalidade virtual. Dessa maneira, o presente relato tem por objetivo sistematizar a experiência do curso de extensão como uma extensão universitária voltada ao enfrentamento da desigualdade estrutural e promoção da igualdade racial, enquanto dever do Estado Brasileiro no marco das normativas internacionais de direitos humanos. 2. objetivos O projeto de extensão fomentou o debate acerca das expressões do racismo e seus impactos no controle social de corpos negros (no que tange aos reflexos da psiquiatria e na construção do paradigma etiológico de criminoso) e na saúde mental da população negra, a partir do pensamento de Frantz Fanon. O objetivo do curso foi possibilitar a ampliação do debate acerca dos direitos humanos e da luta antirracista junto aos atores do sistema de justiça, estudantes, trabalhadores, usuários, familiares e militantes inseridos 128 no campo interdisciplinar do encontro entre direito, saúde e saúde mental, assim como demais interessados. A demanda pela ampliação do debate vem sendo agenda constante no cenário internacional e nacional, impulsionada pelas denúncias de racismo, machismo, violência, assassinato, dentre outras formas de genocídio, que envolvem a população atendida pela política de saúde mental e pela Defensoria Pública, além do aumento do consumo de psicotrópicos relacionados ao sofrimento produzido pelas desigualdades e opressões. Objetivo Geral: • Fomentar o debate acerca das expressões do racismo e seus impactos na saúde mental da população negra a partir do pensamento de Frantz Fanon, na perspectiva da educação popular. Objetivos Específicos: • Fomentar o debate acerca do racismo estrutural e seus impactos na saúde mental da população negra; • Viabilizar o estudo do pensamento de Frantz Fanon e sua interface com a saúde mental da população negra; • Promover uma aproximação do tema aos profissionais, coletivos e movimentos sociais da área da saúde mental; • Contribuir com a estratégia da educação popular através da extensão universitária. 3. metodologia As aulas ocorreram de maneira expositiva, sendo transmitidas através do canal do Youtube da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Foram ofertadas 100 vagas para alunos da extensão, os quais foram acompanhados via grupo de WhatsApp e receberam certificação ao final do curso que foi condicionada a 70% de presença nas aulas e entrega do trabalho final, e 10 vagas reservadas à DPRJ. Sob carga horária total de 40 horas, o curso foi realizado durante 7 encontros, às terças-feiras nos meses de agosto e setembro de 2020. Os conteúdos ministrados envolveram: a) Apresentar vida, obra e o percurso revolucionário do intelectual Frantz Fanon; b) Apresentar o debate da saúde mental, o adoecimento da população negra e sua relação com a violência de Estado; c) Apresentar as múltiplas expressões do racismo estrutural no processo de determinação social da saúde da população negra; 129 d) Problematizar acerca do processo de subjetivação e da produção do sofrimento ocasionado pelo racismo; e) Apresentar as bases do racismo científico e seus desdobramentos para a psiquiatria, o direito e o perfil do preso brasileiro; f) Apontar as permanências do paradigma etiológico incorporado na criminologia brasileira por influência de Nina Rodrigues no atual contexto e a refuncionalização do racismo criminológico no cenário brasileiro; e, por fim, e) Problematizar, a partir da concepção de “não ser”, as políticas públicas que afirmam o controle dos corpos e subjetividades e o extermínio da população negra. Para elaboração do relato de experiência, foi feita uma avaliação da implementação do curso, dos dados dos alunos, tanto selecionados quanto os ouvintes, e uma análise dos resultados alcançados. 4. a experiência de uma extensão universitária antirracista Inicialmente pensado para acontecer de maneira presencial, o curso teve as inscrições abertas em janeiro de 2020 com o objetivo de selecionar 50 alunos para a realização do curso, dentro da oferta das 60 vagas, contando que 10 eram reservadas à DPRJ. Durante o período de inscrição, de janeiro a março de 2020, foram registradas 6.292 solicitações de inscrição com pessoas de todo o Brasil para o curso que seria de forma presencial no Rio de Janeiro. O curso passou, então, por sua primeira reorganização. As vagas presenciais foram ampliadas para 100 e destinadas a moradores do estado do Rio de Janeiro. As aulas seriam gravadas e depois disponibilizadas para duas turmas virtuais de 400 alunos, pensadas para em uma delas contemplar todos os inscritos de outros estados e, na outra, ampliar o acesso às aulas. Ainda que a proposta não desse conta de contemplar todas as pessoas interessadas, o acesso foi ampliado de 60 para 900 pessoas. A reorganização no formato do curso aconteceu após a seleção dos 100 alunos participantes e pouco antes do início dele, que seria no mês de março de 2020. Foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial da Saúde em 30 de janeiro de 2020, em decorrência da Infecção Humana pelo novo coronavírus (covid-19). A pandemia surpreendeu a todos com medidas de isolamento social e, nesse sentido, o curso foi redimensionado para ser 130 ministrado integralmente de forma remota com aulas abertas a todo o público interessado e transmitidas pelo canal da DPRJ no YouTube. Com o objetivo de minimizar as barreiras de acesso que se colocam às pessoas com deficiência auditiva, adotou-se tradução simultânea em libras. Mantivemos a turma de 100 pessoas já selecionada para o curso de extensão presencial e, para a certificação desses alunos, foi posta a obrigatoriedade de participar das aulas e entregar um trabalho final. Entretanto, durante todas as aulas foram oferecidos certificados de ouvintes para todos aqueles que assistissem a aula disponibilizada no canal em até 24 horas. Tal mudança permitiu que o acesso ao curso se ampliasse de maneira significativa, promovendo a democratização, até certo ponto diante das barreiras impostas àqueles que não possuem acesso aos equipamentos e à internet, e resultando em um grande número de acessos. As sete aulas contaram com milhares de visualizações simultâneas durante a transmissão ao vivo, e hoje as aulas somam mais de 100 mil visualizações no YouTube e no Facebook. Durante as aulas, através do formulário para certificação dos ouvintes, foram registradas audiências de todos os estados brasileiros e outros 16 países do mundo. A grande repercussão do curso se materializou logo no primeiro momento das inscrições, quando a proposta ainda era o curso presencial. Mas a quantidade de acessos às aulas na plataforma e o número de certificados emitidos para os ouvintes das aulas durante a transmissão ao vivo (16.754 certificados) também apontam para a confirmação desse interesse. Destaca-se como um ponto positivo da atividade remota a possibilidade de maior democratização do curso. Este fenômeno demonstra a carência desse debate, que despertou interesse de pessoas de todo o Brasil. Com o início das aulas, o interesse pelo tema também foi perceptível em outros países como Angola, África do Sul, Cabo Verde, França, Chile, Irã, Espanha, Portugal, Argentina, Estados Unidos, Bélgica, Uruguai, República Tcheca, Reino Unido e Colômbia. O formato digital, portanto, ampliou e democratizou o acesso ao conteúdo das aulas. Nesse momento, faz-se necessário destacar o nosso compromisso ético-político com a educação universal, pública, presencial e de qualidade, e que esse tópico não trata da defesa da educação à distância, que na maioria das vezes se traduz no ensino remoto precarizado. Contudo, precisamos analisar os aspectos da realidade concreta, sem perder de vista seu movimento dialético. 131 Em uma análise da totalidade, se faz necessário considerar o outro lado da mudança para o formato digital, uma vez que é sabido que a população negra e indígena, pobre, moradora das periferias não faz parte do universo majoritário de pessoas que têm acesso à internet e equipamentos de informática e que em muitos casos, quando ocorre, se dá de forma parcial e precária. A seleção para a turma de extensão do curso ocorreu a partir dos formulários preenchidos inicialmente quando a proposta ainda era um curso presencial, e seguiu os critérios de selecionar preferencialmente moradores do Rio de Janeiro: pessoas trans, não-binárias e mulheres, negras e indígenas, militantes de movimentos sociais e, por último, foi utilizado o critério de selecionar os que residiam em favelas, bairros periféricos e áreas de risco. Após a reorganização para que o curso acontecesse de maneira virtual, alguns alunos relataram a impossibilidade de participar por motivos de falta de acesso a eletroeletrônicos e internet e a não compatibilidade com o horário das aulas e seus horários de trabalho, uma vez que inicialmente o curso foi planejado para acontecer aos sábados e depois passou a acontecer nas terças-feiras à noite. Das 100 pessoas selecionadas que confirmaram interesse em participar da turma, 76 cumpriram a exigência de 70% de presença nas aulas, e apenas 49 receberam o certificado que estava condicionado à entrega de um trabalho final. Foram adotadas pela equipe organizadora medidas de aproximação com os alunos a fim de manter a permanência no curso. Esse contato era feito por e-mail e grupo de WhatsApp. Em relação ao público externo, foram criadas redes sociais para divulgar informações sobre o curso, o material indicado, dentre outras notícias. As redes sociais contabilizaram mais de 3 mil seguidores e se constituíram como uma boa ferramenta de interação e divulgação das aulas e referências utilizadas pelos professores. Ao percentual de menos de 50% de concluintes, não conseguimos atribuir uma análise do perfil dessas pessoas que justificasse esse número. Não podemos, contudo, desconsiderar o contexto em que estamos vivendo, onde as diversas problemáticas sociais e psicológicas atravessam com maior intensidade a vida das pessoas. Alguns alunos justificaram a não entrega do trabalho final pela falta de tempo, sobrecarga em outros trabalhos e, também, por motivos pessoais de problemas psicológicos agravados durante o período de isolamento social. Seria necessária uma investigação qualitativa mais profunda, com entrevistas e estabelecimento 132 de critérios de pesquisa para nos aproximarmos de uma explicação do fenômeno, que continua a nos provocar questionamentos. Por fim, também como produtos importantes do curso, destaca-se a disponibilidade na íntegra de todas as aulas através da playlist1 disponível no canal da DPRJ no YouTube e o livro Direitos Humanos, Saúde Mental e Racismo – diálogos à luz do pensamento de Frantz Fanon2, que condensa artigos referentes a todas as aulas escritos pelos professores que construíram, junto com a comissão organizadora e os alunos, essas 7 semanas de profunda troca, acolhimento e ensino. 5. considerações finais O curso de extensão teve um alcance além do esperado desde o primeiro momento de divulgação e cumpriu o papel da extensão de romper os muros da universidade, compartilhando com a sociedade todo o trabalho de pesquisa e ensino produzidos, e representou a conquista do que é proposto e do que se espera de uma universidade pública. Esta iniciativa reafirma a importância do debate das pautas que envolvem a população negra a partir de autores, sobretudo negros, que constroem narrativas e epistemologias que fundamentam e orientam nossa luta à descolonização e demolição do racismo estrutural e do patriarcado. Não posso deixar de escrever um último parágrafo para lembrar que a língua, por mais poética que possa ser, tem também uma dimensão política de criar, fixar e perpetuar relações de poder e de violência, pois cada palavra que usamos define o lugar de uma identidade. (Grada Kilomba) Com uma experiência rica e transformadora, apesar dos retrocessos e ataques da política de desmonte da educação pública, a universidade vem cumprindo seu papel, ensinando e devolvendo à sociedade, que deve sempre ser lida como o ponto de partida e o ponto de chegada do conhecimento. 1 2 Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PL9VhQ0CLKxoosezOVYtpyacYfZzYyOJJe acesso em: 30/04/2021 Disponível em: https://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/dc324a5ca46949149aa02ba14bcb7fb7.pdf acesso em 30/04/2021 133 referências bibliográficas ALMEIDA, Sílvio Luiz De. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018. FAUSTINO, D. M. Por que Fanon? Por que agora? Frantz Fanon e os fanonismos no Brasil. São Carlos: UFSCar, 2015. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. KILOMBA, G. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019 RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Periferia, [S. l.], v. 10, n. 1, p. 71–88, 2018. DOI: 10.12957/periferia.2018.31504. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/periferia/article/view/31504. 134 13 ENCONTROS ON-LINE: ESTUDOS SURDOS Fernanda grazIelle aParecIda soares coordenadora do ProJeto encontros on-line: estudos surdos João PaUlo FerreIra da sIlva gradUando em lIcencIatUra em letras-lIBras - UFrJ) danIel monteIro PereIra tradUtor-IntérPrete (lIBras <> PortUgUês) no ProJeto encontros on-line: estudos surdos valerIa Fernandes nUnes docente no dePartamento de letras-lIBras - UFrJ resumo Em meio a esse momento pandêmico causado pela covid-19, foi criado o projeto de extensão Encontros On-line - Estudos Surdos. Neste relato, por meio de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa, são apresentadas as Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs e os processos de tradução e de interpretação de Libras <>Português realizados no projeto. São relatados os seguintes resultados observados: trabalhos científicos apresentados em congressos nacionais; produção de espaços on-line para divulgação, execução e armazenamento de dados; e palestras sobre educação de surdos, estudos linguísticos da Libras, Literatura Surda e Tradução-Interpretação de Libras <>Língua Portuguesa. Assim, o projeto proporcionou espaços de aprendizagem para o público interno e externo à UFRJ para pessoas interessadas na Cultura Surda. palavras-chave Estudos Surdos; Tecnologias; Libras; Palestras On-line. 135 1. introdução A extensão universitária cujos objetivos são, dentre eles, a capacitação discente por meio da pesquisa e da divulgação do conhecimento para além dos muros da universidade também teve de se adaptar à realidade imposta pela pandemia causada pelo vírus, conhecido como covid-19 Diante disso, estudos sobre a cultura, educação e literatura surdas, que eram realizados em espaços presenciais acadêmicos, como cursos, palestras, congressos e outros, foram se modificando para manter suas atividades ativas, como uma adaptação da espécie humana frente à nova realidade. Em meio a esse momento pandêmico, foi criado o projeto de extensão Encontros On-line - Estudos Surdos. Neste relato, por meio de uma pesquisa bibliográfica e qualitativa, descrevemos as Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs e os procedimentos para a tradução e de interpretação de Libras <>Língua Portuguesa que foram empregados para a realização do projeto. Apresentamos os resultados observados destacando três aspectos: produção científica apresentadas em congressos nacionais; criação de espaços virtuais para a produção do projeto ; e lives produzidas com temáticas relacionadas aos estudos surdos, principalmente sobre educação de surdos, estudos linguísticos da Libras, Literatura Surda e TraduçãoInterpretação de Libras <>Língua Portuguesa. 2. objetivos Nesta seção, devido à extensão deste estudo, delimitamos os objetivos deste projeto e descrevemos a seguir as principais metas: (i) promover espaços para o aprendizado de pesquisas sobre estudos surdos para o público interno e externo à universidade; (ii) pesquisar e capacitar sobre processos de tradução-interpretação (Libras <> português), desenvolvendo estratégias para a práticas desses processos em ambientes digitais; (iii) contribuir com a formação discente no âmbito da pesquisa e da extensão universitária. Em relação ao primeiro objetivo, o projeto tem realizado palestras que proporcionam um espaço virtual para a formação de discentes com a divulgação e o aprendizado da Libras e da Cultura Surda, e também com o desenvolvimento da prática para discentes dos cursos de bacharelado 136 em Letras-Libras que visam trabalhar como Tradutores e Intérpretes de Libras<> Língua Portuguesa – TILSP. O segundo objetivo tem sido desenvolvido por meio de grupos de pesquisa e oferta de capacitação no âmbito do projeto sobre temas relacionados à tradução-interpretação (Libras <> português). O último objetivo está relacionado à formação acadêmica. Participam do projeto alunos discentes dos cursos de Letras-Libras, licenciatura ou bacharelado. 3. metodologias A luz dos estudos de Cláudio e Simões (2010), descrevemos as escolhas metodológicas para a produção deste relato de extensão. Em relação à abordagem, este estudo é caracterizado como uma pesquisa qualitativa. Em relação aos procedimentos, este estudo é uma pesquisa bibliográfica realizada por meio do levantamento de referências teóricas em livros, sites, artigos científicos e documentos elaborados no projeto. A coleta de dados foi realizada por meio do estudo das produções em vídeos das palestras on-line, que estão disponibilizados no canal do YouTube do projeto (https://www.youtube.com/channel/ UC674miXRi93-OsxdGrQWjYg). 4. descrição do contexto e procedimentos Nesta seção, descrevemos sobre a importância da extensão universitária na formação profissional e sobre as TICs utilizadas e as estratégias de tradução e interpretação empregadas no projeto de extensão da UFRJ intitulado Encontros On-line - Estudos Surdos. Os cursos de graduação bacharelado em Letras-Libras possibilitam a habilitação para a tradução e interpretação em Libras, oferecendo “disciplinas que contemplam as competências e habilidades em relação às línguas envolvidas, as competências e habilidades técnicas e o domínio de conhecimentos específicos em relação à tradução e interpretação” (BRASIL, 2004, p. 87). Além das disciplinas, é possível desenvolver atividades de pesquisa e de extensão universitária. Compreendemos que “Paralelamente ao trabalho da pesquisa, vejo a extensão como a outra grande área em que se pode produzir o conhecimento. Ela é a perspectiva 137 através da qual o estudante entra em contato com o mundo que o cerca e é através dessa realidade que ele pode complementar o seu aprendizado” (GOULART, 2004, p. 71). A extensão na formação dos TILSP vem sendo disseminada por vias remotas, por meio de eventos entre surdos e TILSP on-line, uma forma diferente de capacitação diante do contexto pandêmico no mundo, uma fatalidade que trouxe mudanças para o campo de disseminação do conhecimento. Em meio à pandemia, sob a coordenação das professoras Fernanda de Castro, Valéria Nunes e de discentes da graduação dos cursos de LetrasLibras (oito surdos e cinco ouvintes), o projeto de extensão “Encontros On-line: estudos surdos”, foi criado visando à promoção de interações em Libras ao vivo pela internet (lives), a fim de possibilitar um espaço de aprendizagem sobre temas relacionados à Cultura Surda. O projeto disponibilizou, em 2020, oito palestras gratuitas e abertas ao público em geral, com duração de aproximadamente uma hora e meia cada uma, com temática sobre tradução e interpretação, estudos linguísticos, educacionais e literários. A respeito das estratégias de tradução e de interpretação, seguem os principais protocolos adotados: estudo de normas para o uso da Libras em ambientes acadêmicos e em produções audiovisuais; envio com antecedência de material das palestras para estudo dos tradutores e intérpretes; pesquisa de sinais específicos; diálogo entre palestrante e intérprete antes de cada palestra, a fim de proporcionar o aprendizado e a especificação do uso de alguns sinais; prática de técnica de versão voz em português, tendo em vista que os discentes apresentadores e os palestrantes utilizaram Libras; e revezamento de dois a três intérpretes em cada palestra. Em relação às Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs (GUAREZI; MATOS, 2012) presentes na execução do projeto, foram utilizados recursos para a produção de conteúdo, para comunicação e para armazenamento e divulgação. Para a produção de conteúdos, destacamos as seguintes ferramentas: Adobe Photoshop para edição de imagens; Adobe Premiere Rush para edição de vídeos; estúdio virtual StreamYard para transmissão ao vivo (live); webcam e microfones para gravação de áudio e de vídeo da equipe e de palestrantes; e Microsoft Power Point e Adobe Acrobat para produção dos slides nos formatos “ppt” e “pdf ”, respectivamente. Para a comunicação com o público interno e externo ao projeto, utilizamos os seguintes meios: aplicativo Zoom para reuniões 138 por videoconferência com a equipe executora; grupo de contato no WhatsApp; rede social Instagram (@surdoson-line) para interação com o público e divulgação de fotos e de vídeos em Libras sobre projeto; e Gmail como correio eletrônico para contato e envio de certificados (surdoson-line20@gmail.com). Para o armazenamento, divulgação/comunicação, os seguintes recursos foram empregados: Google Drive para armazenamento de dados; Google Forms para formulários de inscrição nas palestras e coleta de dados como pesquisa; plataforma on-line de criação e edição de site Wix.com para divulgar programação das palestras, dados da equipe e armazenar material dos palestrantes e link dos vídeos para o público em geral (https://surdoson-line20.wixsite.com/estudos); canal no YouTube “Surdos On-line” para exibição, armazenamento dos vídeos e interações on-line pelo chat (https:// www.youtube.com/channel/UC674miXRi93-OsxdGrQWjYg/); portal on-line da UFRJ para inscrição interna dos discentes da UFRJ (portal.ufrj. br/Portal/ acesso?cid=348450); divulgação no site do Departamento de Letras-Libras da UFRJ (www.libras.letras.ufrj.br) e intranet da UFRJ para registro e tramitações internas deste projeto de extensão. 5. resultados observados Nesta seção apresentamos os resultados observados destacando três aspectos: produção científica; criação de espaços virtuais para a produção do projeto; e lives produzidas com temáticas relacionadas aos estudos surdos. Acerca das diversas produções científicas desenvolvidas por membros da equipe do projeto, destacamos a participação de pesquisas sobre esta atividade de extensão em dois congressos. No II Congresso Nacional de Ensino-Aprendizagem de Línguas, Linguística e Literaturas – CONAEL, realizado em 2020, pelo Instituto Federal de São Paulo, Campos Avaré, foi apresentada a pesquisa “Artes e Literatura no ensino da Libras”, com publicação de artigo em canais do evento. A pesquisa foi desenvolvida pelo discente João Silva em parceria com as coordenadoras do projeto. No I Congresso Nordestino de Linguística Aplicada – CONELA, em 2020, organizado por instituições de Ensino Superior do nordeste brasileiro, com o apoio da Associação Brasileira de Linguística – ABRALIN, foi apresentada a pesquisa “Ensino-aprendizagem da Libras em tempos de pandemia”, que aguarda publicação de artigo nos canais do evento. A pesquisa foi desenvolvida pelo tradutor-intérprete Daniel Monteiro em parceria com as coordenadoras do projeto. 139 Em relação aos espaços virtuais, o projeto foi realizado totalmente de forma on-line, como: criação de um sinal em Libras para representar o encontro; divisão dos grupos para a execução das atividades; capacitação da equipe para o trabalho com o StreamYard; equipe de apoio para o encontro ao vivo e elaboração de artigos para divulgação e registro do projeto. Foram criados canais para divulgação, pesquisa, registro e encontros on-line pela equipe organizadora: a. Site: surdoson-line20.wixsite.com/estudos b. Instagram: https://www.instagram.com/surdoson-line/ c. YouTube: https://www.youtube.com/c/SurdosOn-line/videos A respeito dos estudos surdos, durante os dois meses, de julho e agosto de 2020, foram realizadas palestras com diferentes temáticas sobre a Cultura Surda. Coube às professoras coordenadoras a apresentação oficial do evento com as palavras de abertura seguidas das Lives, que foram divididas em quatro blocos de palestras, conforme a tabela abaixo. Blocos Palestras 1. “As Relações de Poder dos Professores Surdos na I. Educação de Surdos Educação de Superior” - Palestrante: Flaviane Reis. 2. “Libras e a Inclusão do Aluno Surdo no Cotidiano Escolar” - Palestrante: Thaís White. 1. “Os Fatores Externos e Internos da Mudança II. Linguística na Libras Linguística na Libras” - Palestrante: Heloíse Gripp. 2. “Os mecanismos de Coesão Gramatical e Coesão Lexical em Libras” - Palestrante: Charley Soares. 1. “A Construção de Glossários em Libras na Área da Saúde: Inclusão ou Acessibilidade?” - Palestrante: III. Tradução e Interpretação Gildete Amorim. 2. “Refletindo sobre o Lugar que um Intérprete de Libras e Língua Portuguesa ocupa nos espaços que pretendem promover o acesso às pessoas Surdas” Palestrante: Jhonatas Narciso. 1. “Machado de Assis em Libras: Cultura Brasileira” - IV. Literatura Surda Palestrante: Daniel Almeida. 2. “Diálogos: A Literatura com o Resistência e Identidade Surda” - Palestrante: Bruno Abrahão. Tabela 1 – Conteúdos Abordados no Projeto: “Encontros On-Line: Estudos Surdos”. 140 Podemos destacar as contribuições na temática de Educação de Surdos com a palestra sobre “As Relações de Poder dos Professores Surdos na Educação de Superior” da palestrante Flaviane Reis sobre a valorização do profissional Surdo no ensino superior e a quantidade de Surdos acadêmicos formados em cursos de pós-graduação (stricto sensu) no Brasil (MONTEIRO, 2017). Discussões sobre os profissionais que atuam na Educação Especial no Atendimento Educacional Especializado (AEE) com alunos surdos (DAMÁZIO e ALVES, 2010) e os diferentes papéis dos profissionais na escola (Professor x Intérprete x Instrutor de Libras) foram pontos pertinentes na Live sobre “Libras e a Inclusão do Aluno Surdo no Cotidiano Escolar” com a palestrante Thaís White. Nas temáticas com a abordagem sobre estudos linguísticos sobre a Libras, a contribuição da palestrante Heloíse Gripp sobre “Os Fatores Externos e Internos da Mudança Linguística na Libras” destacou a análise de diferentes tipos de linguísticas da Língua Brasileira de Sinais (DINIZ, 2010). Já na palestra “Os mecanismos de Coesão Gramatical e Coesão Lexical em Língua Brasileira de Sinais - Libras” com o palestrante Charley Soares, foi possível relembrar as contribuições de Halliday e Hasan (1976) sobre a contribuição da existência de duas grandes modalidades de coesão: gramatical e lexical. Sobre os assuntos relacionados à Tradução e Interpretação, a palestrante Gildete Amorim contribuiu sobre “A Construção de Glossários em Libras na Área da Saúde: Inclusão ou Acessibilidade?” ao abordar o reconhecimento da Libras pela Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5626/2005. A palestrante informou a criação de Glossários em Libras oriundo de três projetos: Projeto de Extensão Libras em Saúde; Projeto de Pesquisa – Saúde da Mulher e Projeto de Doutorado Biossegurança pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências e Biotecnologia da Universidade Federal Fluminense/UFF. Já o palestrante Jhonatas Narciso contribuiu com a temática: “Refletindo sobre o Lugar que um Intérprete de Libras e Língua Portuguesa ocupa nos espaços que pretendem promover o acesso às pessoas Surdas”. Nessa palestra, foram debatidos os aspectos legais da Lei Brasileira de Inclusão – Lei nº 13.146/2015 como forma de garantir a acessibilidade aos surdos e a Lei nº 12.319/2010 que regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Libras. No último bloco de palestras, foram apresentadas pesquisas sobre Literatura Surda. Na live “Machado de Assis em Libras: Cultura Brasileira”, o palestrante Daniel Almeida compartilhou sobre o conto “Missa do 141 Galo” como um desafio da dificuldade em traduzir o estilo machadiano em Libras. Já o palestrante Bruno Abrahão com a apresentação “Diálogos: A Literatura com a Resistência e Identidade Surda” trouxe reflexões sobre a arte da performance como produção artística híbrida na literatura entre a escrita e o corpo (RAMOS e ABRAHÃO, 2018). 6. considerações finais Durante a pandemia, constatamos que a extensão universitária, por meio do projeto “Encontros On-line – estudos surdos”, possibilitou, através de espaços virtuais, o ensino e o aprendizado de temas relacionados aos estudos surdos. Foi possível desenvolver conhecimento também sobre Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs e estratégias para a tradução e interpretação de Libras<>Língua Portuguesa. Com o avanço tecnológico, recursos digitais estão sendo mais frequentes na rotina de tradutores e intérpretes de Libras<>Língua Portuguesa – TILSP, logo, durante a formação desses profissionais, mais espaços de formação que usem esses recursos são necessários. Como a Libras é uma língua visual e espacial, a internet vem sendo disseminadora dessa língua e vem oportunizando aprendizado e trabalho para membros da comunidade surda. A tecnologia proporcionou, inclusive, a possibilidade de mais ferramentas para acessibilidade e formas de inclusão, sejam de caráter social, educacional e econômico. referências bibliográficas BRASIL. Língua Brasileira de Sinais. Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm> Acesso em 18 de mar. 2021. BRASIL. Decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm> Acesso em 18 de mar. 2021. BRASIL. Lei nº 12.319 de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm> Acesso em 18 de mar. 2021. 142 BRASIL. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC; SEESP, p. 94, 2004. DAMÁZIO, M. F. M.; ALVES, C. B. Atendimento educacional especializado do aluno com surdez. São Paulo: Moderna, 2010. DINIZ, Heloise Gripp. A história da Língua de Sinais Brasileira (Libras): um estudo descritivo de mudanças fonológicas e lexicais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Florianópolis, 2010. GUAREZI, Rita de Cássia Menegaz; MATOS, Márcia Maria de. Educação a distância sem segredos. Curitiba: InterSaberes, 2012. GOULART, Audemaro Taranto. A importância da pesquisa e da extensão na formação do estudante universitário e no desenvolvimento de sua visão crítica. Horizonte: Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 60-73, 1º sem. 2004. HALLIDAY, M.A.K.; HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1976. HENRIQUES, Claudio Cezar e SIMÕES, Darcilia (orgs.) A Redação de Trabalhos Acadêmicos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. MONTEIRO, Myrna Salerno. Mestres e doutores surdos: um estudo sobre a crescente formação especializada de pessoas surdas no Brasil. Rio de Janeiro: Revista Espaço, p. 173-189, 2017. RAMOS, Danielle Cristina Mendes Pereira; ABRAHÃO, Bruno. Literatura surda e contemporaneidade: contribuições para o estudo da Visual Vernacular. Pensares em Revista, nº. 12, 2018. 143 14 EXTENSÃO NA QUARENTENA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO PARTICIPAÇÃO SOCIOCULTURAL DA POPULAÇÃO IDOSA claUdIa reInoso araUJo de carvalho coordenadora do ProJeto participação sociocultural da população idosa marcUs vInícIUs samPaIo Peres gradUando em edUcação FísIca - UFrJ karIna alves nUnes de olIveIra gradUanda em teraPIa ocUPacIonal - UFrJ amanda cardoso mendonça gradUanda em teraPIa ocUPacIonal - UFrJ resumo O objetivo deste capítulo foi relatar a experiência com o projeto de extensão Participação Sociocultural da População Idosa que, em função do período de restrição social imposto pela pandemia da covid-19, passou a acontecer de maneira remota. As principais ações inerentes ao projeto, nesse contexto, foram aqui retratadas: a elaboração de conteúdo audiovisual, a realização de um Seminário On-line, que contou com convidados de diferentes instituições brasileiras do âmbito cultural e a elaboração, submissão e publicação de artigo científico em um importante periódico da área de Gerontologia. A partir da experiência dos estudantes extensionistas, essas ações foram analisadas enquanto recurso de aprendizagem, possibilidade de aproximação intergeracional e como meio de difusão do conhecimento. palavras-chave Extensão Universitária; Idoso; Envelhecimento; Covid-19; Formação Profissional. 145 1. introdução O projeto de extensão Participação Sociocultural da População Idosa, iniciado no segundo semestre de 2018, foi construído em consonância com as atuais políticas públicas dirigidas à população idosa, e tem por objetivo discutir a relação que as pessoas idosas estabelecem com a cultura. Em contexto anterior ao ano de 2020, o projeto acontecia em diferentes cenários de prática, por meio de rodas de conversa, oficinas e atividades grupais realizadas com diferentes coletivos de pessoas idosas, onde eram abordadas as dificuldades no acesso aos equipamentos culturais e a decorrente frequência diminuída aos mesmos por parte da população idosa em geral, especialmente os mais vulneráveis socialmente. Entre os temas discutidos, alguma ênfase era sempre colocada no impacto da legislação específica acerca do envelhecimento e os aspectos culturais, no sentido de estimular os participantes no que se refere à inserção nos mecanismos de controle social, bem como promover a conscientização cidadã, trazendo constantemente à tona assuntos relacionados aos direitos sociais e às políticas públicas, de maneira transversal à temática do projeto. No Brasil, as políticas públicas mais abrangentes acerca do envelhecimento, sendo elas: a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) e o Estatuto do Idoso, fazem referência a importância do acesso à cultura para essa população, por outro lado, as atuais políticas públicas de cultura no Brasil são fortemente perpassadas pela ideia de Diversidade Cultural. Essa diversidade se manifesta em nossa sociedade não apenas em relação às diferentes etnias e povos que nos constituem, como, também, pode ser entendida nos diversos extratos sociais e etários. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, vigente em nosso país desde 2006, trouxe em seu texto a ideia de que o cidadão idoso não é mais visto como passivo, mas sim como agente das ações a eles direcionadas, numa abordagem baseada em direitos, que valoriza os aspectos da vida em comunidade, identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida. No que se refere ao item 3.1. “Promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável” (BRASIL, 2006, p.7), esta preconiza, entre outros aspectos, que facilitar a participação das pessoas idosas em equipamentos sociais deve ser um esforço intersetorial. O Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 no Brasil, reúne, em peça jurídica única, legislação abrangente versando sobre garantias a esta população nos diferentes setores, entre eles: saúde, transporte, habitação, educação e cultura. 146 Fortemente norteadas pelas políticas públicas, as ações do projeto de extensão, no contexto anterior à pandemia, eram realizadas em centros de convivência, coletivos de idosos ou outros grupos constituídos a partir de outros projetos parceiros de extensão e pesquisa, tendo sempre a temática cultural como “pano de fundo” para as atividades. Dessa forma, a proposta incluía a organização de eventos em temas relacionados à “Cultura” e oficinas com a população alvo do estudo para a discussão das experiências realizadas (isso se manteve, mesmo no contexto da pandemia, conforme abordaremos adiante no texto). Em função do período de restrição social imposto pela pandemia da covid-19, as ações do projeto passaram a acontecer de maneira remota, o que implicou em sua reorganização, gerando novos aprendizados e possibilidades, o que discutimos centralmente neste relato de experiência. 2. objetivo O objetivo deste relato de experiência foi analisar as práticas e transformações do projeto de extensão Participação Sociocultural da População Idosa em função do período de restrição social imposto pela pandemia de covid 19, tendo em vista o aprendizado de novas habilidades, imprevistas e improváveis fora desse contexto. Foi preciso identificar as possibilidades, realizar adequações e investir na aproximação virtual com as pessoas idosas, sem perder de vista as características e especificidades do projeto. 3. considerações metodológicas O relato de experiência refere-se a uma construção teórico-prática que se propõe ao refinamento de saberes sobre a experiência em si a partir do olhar do sujeito-pesquisador em um determinado contexto cultural e histórico. De acordo com Daltro e Faria (2019), neste tipo de estudo, valoriza-se a explicitação descritiva, interpretativa e compreensiva de fenômenos, circunscritos em um determinado tempo histórico. Tratou-se, aqui, de uma análise qualitativa das práticas recentes do já referido projeto de extensão, realizada a partir do ponto de vista da equipe do projeto, apoiada em leituras do campo da educação, da saúde pública e da gerontologia. 147 A partir da experiência dos autores extensionistas, as atividades audiovisuais, o artigo publicado e o seminário realizado foram analisados enquanto recurso de aprendizagem, como possibilidade de aproximação intergeracional e como meio de difusão do conhecimento. 4. descrição do contexto Em virtude de seu público-alvo, o projeto foi um dos primeiros a ter suas atividades presenciais suspensas. Antes mesmo da interrupção das atividades acadêmicas por parte da Universidade, a equipe já se questionava sobre os agrupamentos de idosos, evitando essa condição e já discutindo sua pertinência frente ao cenário que se anunciava. Atividades previamente discutidas, elaboradas e preparadas tiveram que ser adiadas, gerando frustração e incerteza entre os extensionistas, profissionais de instituições parceiras e pessoas idosas envolvidas. Entre a interrupção voluntária das atividades de campo, a suspensão das atividades acadêmicas por parte da Universidade e a retomada das atividades sob a forma remota, instalou-se um período de planejamento, reflexão e supervisão. Algumas dúvidas emanaram em virtude do novo cenário, por exemplo: “Como contribuiríamos com o momento atual?” e “Como articular a nossa proposta com a nova realidade?”. O uso das ferramentas virtuais foi o meio encontrado para a continuidade do projeto, executando, como passo inicial, a construção de sua página on-line no Facebook. O propósito inicial da página foi fornecer conteúdo sobre atividades indicadas para idosos durante o período de restrição social, compartilhar notícias e matérias sobre envelhecimento, dicas de filmes, séries e músicas, além de adaptações de atividades de estimulação cognitiva de forma a torná-las mais interessantes para as pessoas idosas. Considerando o contexto atípico imposto pela pandemia, foi preciso ter cuidado na elaboração das atividades para não haver proposições simplistas que se limitavam à adaptação alienada e descontextualizada das atividades. Sobre isso, conforme Bregalda et al. (2020), é preciso ter sensibilidade social para entender que a reclusão ao ambiente doméstico, nesse caso, é vivida com dor e não prazer, devido a consciência do sofrimento pelos mortos e suas famílias e pelas pessoas que não possuem condições mínimas de viver esse tempo com dignidade. Esse foi o pressuposto norteador de todas as proposições indicadas na página. 148 Além da página do Facebook, foram criados perfis do projeto em outras plataformas de redes sociais, como forma de gerar mais conteúdo e ter outros canais de divulgação das ações do projeto. Foram escolhidos, pelos extensionistas, os aplicativos Instagram e YouTube. 5. procedimentos: as ações do projeto Trataremos, aqui, de analisar as três principais atividades inerentes ao projeto no contexto do período de restrição social: a elaboração de conteúdos audiovisuais para a divulgação nas redes sociais do projeto e em eventos científicos; a elaboração, submissão e publicação de artigo em importante periódico científico da área de Gerontologia (CARVALHO et al, 2020); e a realização da primeira edição do evento de extensão “Seminário on-line Envelhecimento e Cultura”. Uma das primeiras atividades do projeto, dentro do contexto de pandemia, foi a gravação de vídeos com atividades que pudessem ser realizadas pelas pessoas idosas em casa. Elegeu-se, inicialmente, a produção de um vídeo com orientações acerca da importância das atividades físicas e, em um segundo momento, a elaboração de um vídeo sobre estimulação cognitiva, articulando temas inerentes às vivências culturais. Nos dois casos, foram propostas adaptações específicas nessas atividades para serem realizadas pelas pessoas idosas. Destaca-se que os vídeos tiveram a participação dos avós dos extensionistas que participaram das gravações. Diversos benefícios são apontados pela literatura sobre os efeitos da produção de vídeos na aprendizagem. Entre eles: estímulo ao desenvolvimento do pensamento crítico, da expressão e comunicação; incentivo ao aprendizado de forma interdisciplinar; e integração de diferentes capacidades e inteligências (SILVA, SCORTEGAGNA, BERTOLETTI DE MARCHI, 2020). O processo de produção dos vídeos, para ser disponibilizado na página do projeto em rede social, seguiu três etapas: Preparação do roteiro contendo o tema escolhido em reunião pelos extensionistas, a proposta e a abordagem; a gravação do vídeo propriamente dita, que incluiu repetições de cenas, gravações do mesmo roteiro pelos três extensionistas para posterior escolha mais adequada e, finalmente, a postagem e divulgação do material na página. 149 A escrita do roteiro necessitou de embasamento teórico por parte dos extensionistas, que eram supervisionados semanalmente de forma remota e por meio das plataformas virtuais. Esse momento de supervisão foi visto por eles como um momento de troca de percepções, dúvidas e inquietudes, que se configuraram em uma experiência de duplo ganho: esse embasamento teórico e as trocas de percepções fizeram com que os extensionistas adquirissem novos saberes e habilidades, além de garantirem uma melhor formação que poderá ser convertida e uma prática futura mais eficaz. O momento da gravação dos conteúdos, propriamente dito, foi realizado de forma individual pelos extensionistas, com os recursos audiovisuais dos mesmos, devido às circunstâncias do momento atual. O erro que, em geral, é considerado um aspecto negativo, passou a ser construtivo para a aprendizagem. A partir dele, os extensionistas puderam fazer reflexões a respeito e investigar o motivo de ter acontecido, o que foi, por eles, valorizado como acontecimento significativo e como estratégia fundamental para uma proposta de aprendizagem (MARCELINO, E.; MARCELINO, A. B. B., 2018). A gravação e regravação das cenas utilizadas nos vídeos, quando apresentadas nas reuniões remotas, geraram a discussão sobre os erros e acertos, promovendo a participação ativa dos extensionistas. O momento da edição foi motivo de muita interação dos extensionistas. Percebido algumas vezes como uma tarefa cansativa, pela necessidade de algumas alterações, a edição foi um processo visto como gratificante, por perceberem que tinham construído um conteúdo significativo para as páginas do projeto, além de adquirirem novas habilidades com relação aos aplicativos de edição e de produção de vídeos, habilidades essas que, em período sem a pandemia e a restrição social, dificilmente seriam aprendidas. A pesquisa por novas técnicas de edição e programas de computador que auxiliassem na criação de material virtual acessível para as pessoas idosas também foi um aspecto importante. Devido ao público-alvo do projeto e levando em consideração as questões relacionadas à acessibilidade, todas as produções audiovisuais produzidas tiveram legenda. Foram utilizadas cores de maior contraste e fontes de tamanho adequado à leitura, além de serem gravadas em locais com boas condições de luminosidade. O momento de produção de vídeos para as páginas, como os de atividades físicas e atividades cognitivas, foram vistos pelos extensionistas não só como um momento de aprendizagem, mas também como um momento 150 de estreitamento de laços com os avós, já que, por vezes, participaram das filmagens realizando as atividades propostas e servindo de “modelos”, no sentido de demonstrar a forma de realização dessas atividades. Nepomuceno et al. (2018) relatam que, entre as implicações significativamente positivas na relação intergeracional, está a ampliação das bagagens histórico-sócio-culturais, que perpassam não apenas a experiência, o conhecimento histórico de si, da família e do grupo social ao qual se está inserido, como também novos conceitos, valores e costumes, além da vivência tecnológica e da experiência de envelhecer, que pode ser encarada de muitas formas. Outro aspecto que cabe ressaltar ainda em relação aos vídeos foi que um deles, o de estimulação cognitiva, foi indicado como material didático na disciplina Terapia Ocupacional em Gerontologia, fazendo parte do conteúdo da mesma desde o Período Letivo Especial - PLE, promovendo, dessa forma, a integração das ações de extensão com as atividades de ensino. Em maio de 2020, a revista Kairós Gerontologia lançou uma chamada pública para um número temático sobre a pandemia de covid-19. A vontade de contribuir com o momento nos motivou a participar. A notícia de que a análise da nossa experiência transformadora com o projeto poderia ser utilizada na escrita de um artigo foi recebida com entusiasmo. Além de contribuir com a produção de mais um conteúdo para o projeto, esse momento foi visto como uma porta de entrada para o meio acadêmico. A perspectiva da escrita científica foi também uma aproximação dos extensionistas com a forma prática da pesquisa no universo acadêmico, incentivando o desenvolvimento de habilidades como: busca em base de dados, seleção de descritores da saúde, os diferentes desenhos metodológicos, análises de dados, estruturação e planejamento do texto, trabalho em grupo, entre outros. O próprio processo de submissão, a formatação e a atenção às regras do periódico, a espera pelo aceite, a leitura dos pareceres e a satisfação de ver o artigo publicado foi, sem dúvida, uma experiência muito enriquecedora na formação, aproximando e integrando a extensão no eixo da pesquisa. O artigo intitulado “Projeto de extensão: Participação Sociocultural da População Idosa da Universidade Federal do Rio de Janeiro e suas contribuições em tempos de covid-19” foi publicado em novembro de 2020, na Revista Kairós-Gerontologia, em edição especial sobre covid-19 (Número Temático Especial 28). A edição contou com 36 artigos que se debruçaram sobre as inovações, os cuidados e as perspectivas tanto dos pesquisadores quanto das pessoas idosas em relação à pandemia de covid-19. 151 Outra ação relevante do projeto foi o Seminário On-line realizado em novembro de 2020. Ao longo do referido ano, nas reuniões remotas do projeto, discutia-se a ideia de realizar um seminário on-line com o tema “População Idosa e Cultura”. Durante alguns meses, a ideia foi se consolidando e começaram-se os preparativos para a sua realização. Houve a necessidade da criação de banners virtuais em site voltado à criação de design, além da ornamentação e entrega de convites virtuais para os palestrantes e, consequentemente, a divulgação do seminário pelas páginas do projeto. O seminário contou com a parceria de estudantes-extensionistas e professores vinculados ao Instituto Federal do Rio de Janeiro, instituição que sempre foi parceira no projeto. O evento intitulado “Seminário On-line Envelhecimento e Cultura: da Formação à Ação”, realizado nos dias 05 e 06 de novembro de 2020, contou com a participação de 6 palestrantes de diferentes instituições, entre elas, a Pinacoteca, a USP, o IBMEC e o Projeto Livro Criativo. O evento transmitido via YouTube contou com 316 acessos no primeiro dia e 145 no segundo. O seminário foi visto como uma outra forma de adquirir habilidades em relação à produção de conteúdo virtual (elaboração de banners, certificados e convites para o seminário), além de controlarem e organizarem o evento por plataforma de streaming, algo novo para muitos deles. Por último, relataram uma troca muito rica com os palestrantes e os estudantes da instituição parceira, algo avaliado como de fundamental importância para as suas respectivas formações acadêmicas. Em especial, houve uma maior relação com uma das palestrantes por toda a sua bagagem cultural e por ser a única palestrante idosa do seminário, Dona Neuza, uma idosa nonagenária e coordenadora do projeto “Resgate de Memória Autobiográfica” da USP. Após o evento, os extensionistas mantiveram contato com ela e, a partir desse relacionamento, foram produzidos outros conteúdos para as páginas nas redes sociais com a rica participação da mesma. 6. resultados observados A partir desses relatos, ficou evidente a quantidade de conhecimento e experiências que os extensionistas adquiriram durante esse período de isolamento social. O período da pandemia, apesar de lamentável, 152 propiciou novos aprendizados no âmbito da extensão, através da criação de conteúdos audiovisuais para as páginas do projeto e por toda a experiência já relatada. Destaca-se também o maior e melhor relacionamento com os avós. Ademais, a experiência de organização do seminário on-line, a escrita acadêmica e a publicação do artigo foram algo muito relevante, e os aprendizados adquiridos ficarão sempre marcados tanto na vida pessoal quanto profissional de cada um de nós. Como perspectiva futura, o projeto tem o desafio de colocar as pessoas idosas nas nossas redes de forma mais interativa. Nesse sentido, estamos programando implementar também um perfil no aplicativo de mídia social TikTok para a elaboração de desafios através de vídeos com temáticas de dança e músicas antigas e da atualidade, além da criação de enquetes relacionadas à filmes, novelas e programas de entretenimento para serem respondidas pelas pessoas idosas e por seus netos e, a partir dessas respostas, iniciarmos uma discussão acerca dos temas abordados. Apostamos que será outra iniciativa de sucesso, como tem sido todas as nossas ações. referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n.º 2.528, de 19 de out de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Diário Oficial da União, 19 out de 2006. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2006/prt2528_19_10_2006.html. Acesso em: 26 abr. 2021 BREGALDA, Marília Meyer; CORREIA, Ricardo Lopes; AMADO, Cláudia Fell; OKUMA, Kátia Maki. Ações da terapia ocupacional frente ao coronavírus: reflexões sobre o que a terapia ocupacional não deve fazer em tempos de pandemia. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, [s. l.], v. 4, ed. 3, p. 269-271, 2020. DOI https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto34445. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ribto/article/view/34445. Acesso em: 26 abr. 2021. CARVALHO, Claudia Reinoso Araujo de; OLIVEIRA, Karina Alves Nunes de; PERES, Marcus Vinicius Sampaio; ARAUJO, Mylena Barbosa de. Projeto de extensão Participação Sociocultural da População Idosa da Universidade Federal do Rio de Janeiro e suas contribuições em tempos de covid-19. Revista Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 23, ed. edição especial 28, p. 185-202, 2020 b. DOI https://doi.org/10.23925/2176-901X.2020v23i0p185-202. 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Acesso em: 26 abr. 2021. 154 15 O TELEATENDIMENTO E O INSTAGRAM “@DISKCOVID19” COMO FERRAMENTAS DE DIÁLOGO COM A POPULAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES EXTENSIONISTAS alessandra anIceto FerreIra de FIgUeIrêdo · coordenadora do ProJeto de extensão o uso do teleatendimento pela população do município de macaé-rj como ferramenta para o enfrentamento da covid-19 · docente em medIcIna - UFrJ-macaé · gradUando em medIcIna - UFrJ-macaé BrUna do nascImento vIlela · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé renata de carlI roJão · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé Iza rodrIgUes mello · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé taís carolIne dos santos sIlva · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé Joelma matIas teIxeIra · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé stella alves BenJamIn · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé nathanIelle sIlva de andrade · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé JUlIana sIlva e sIlva · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé PerI BUcken goBBI · gradUando em medIcIna - UFrJ-macaé marIa lUIza sIlva do nascImento · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé raFael nUnes sUzUkI · gradUando em medIcIna - UFrJ-macaé ramon werner herInger gUtIerrez · gradUando em medIcIna - UFrJ-macaé ana karolIna de castro PaIva · gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé renato camPos de PInho · gradUando em medIcIna - UFrJ-macaé Fernanda PereIra de PaUla FreItas lUcas PInto de amorIm resumo O novo cenário instaurado pela covid-19 criou a necessidade de estabelecer novos tipos de relações, que foram possíveis através do uso de Tecnologias de Informação e Comunicação. Diante disso, foi criada uma central de Teleatendimento informativo e o perfil no Instagram @diskcovid-19, por meio de um projeto de extensão da UFRJ-Macaé, para promover o diálogo com a população durante a pandemia, sendo essa a experiência relatada. A pluralidade dos envolvidos e a qualidade das relações estabelecidas amenizaram as inseguranças e reduziram a angústia causada pelo distanciamento físico. Além da aquisição de conhecimento técnico pelos extensionistas e da pulverização de informações científicas com uma linguagem acessível a todos, o projeto fomentou o interesse pela pesquisa e produção científica, reafirmando a importância da ciência e da universidade pública na sociedade. palavras-chave Epidemia por Novo Coronavírus 2019; Disseminação de Informação; Acesso à Informação. 155 1. introdução e objetivos O ano de 2020 começou praticamente como qualquer outro. Mesmo o vírus já indicando seus efeitos devastadores em outros países, ainda tínhamos esperança de que o Brasil não seria atingido. No entanto, a suspensão das aulas em todos os campi da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)1, por prazo indeterminado, tornou impossível a continuidade da desatenção sobre o alcance e a gravidade da pandemia, e promoveu, além de diversos receios particulares, reflexões importantes sobre o nosso papel na sociedade. Sabemos que a pandemia da covid-19, declarada oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, exigiu que todos se adaptassem ao “novo normal”, termo cunhado pelo economista egípcio-americano Mohamed A. El-Erian (2009). Caracterizar este período pandêmico a partir dessa expressão nos remete ao seu significado: situações em que nos deparamos com diferentes realidades, vivências e experiências após um grande evento (nesse caso, a pandemia do novo coronavírus) que causa ruptura com a estrutura de vida em sociedade que conhecíamos antes. Tal mudança é tão impactante na rotina dos indivíduos que chega a ser difícil pensar que, depois que as adversidades forem contornadas, a vida voltará a ser como era antes. Situações como essa podem, até mesmo, influenciar uma nova organização social, no sentido de que os indivíduos busquem e criem meios diversificados de viver nessa nova realidade através de mudanças nas relações entre as pessoas, na prática de atividades cotidianas e nos meios em que elas ocorrem, ou seja, na adequação à nova dinâmica de vida (MOREIRA, 2020). Certamente, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)2 foram protagonistas durante a pandemia, pois através delas foi possível pensar e estruturar o trabalho remoto (popularmente chamado de home 1 2 A partir de 16 de março de 2020, foram suspensas as aulas presenciais da educação básica, graduação e pós-graduação em todos os campi da UFRJ (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2020). As tecnologias de informação e comunicação (TICs) compreendem o conjunto de elementos, desenvolvidos pela humanidade no processo e na necessidade de tornar sua comunicação mais efetiva e simplificada, que permitem a produção, o acesso e a propagação de informações, além da comunicação entre as pessoas. Com a evolução tecnológica, surgiram novas tecnologias, que se propagaram pelo mundo como formas de difusão de conhecimento e facilitam essa comunicação, independentemente de distâncias geográficas (RODRIGUES et al., 2014). 156 office) e as aulas remotas, adotadas pela maioria das escolas e universidades, como exemplo a UFRJ. Além disso, tecnologias que já existiam potencializaram suas funcionalidades e estiveram presentes no cotidiano das pessoas, sendo as chamadas de vídeo as mais utilizadas. Naturalmente, nosso projeto de extensão do Teleatendimento só foi possível devido a essas ferramentas (Google Meet, WhatsApp, Instagram, entre outros) que possibilitaram o contato dos estudantes com os professores, assim como dos estudantes com os usuários do nosso canal. Ainda que estivéssemos amparados por todos esses aparatos tecnológicos, a nova realidade instaurada atingiu diretamente os estudantes universitários, especialmente os de cursos da área da saúde, visto que a prática médica, de enfermagem, fisioterapia, nutrição, psicologia, dentre outras formações na área, requerem contato e estabelecimento de vínculos para o desenvolvimento de conhecimentos técnicos e de habilidades pessoais, como a escuta atenta e empática, para garantir uma formação de excelência. Segundo Emerson Elias Merhy (2004), o cuidado é um acontecimento e não um ato. Para tal, Merhy aborda a importância da interação entre profissional de saúde e paciente, a qual chama de "Interseção Partilhada”, e conclui que o trabalho em saúde traz consigo todas as técnicas, conhecimentos e premissas para a melhoria da qualidade de vida do paciente, que não é exclusivamente um objeto de ação do profissional, mas também um agente que partilha, através dessa interação, as suas experiências, seus conhecimentos e suas necessidades em saúde. Portanto, as interações profissional-paciente são responsáveis por afetos mútuos, desenvolvimento da confiança, habilidades de troca e comunicação. Por isso, são essenciais no processo de formação. Diante da constatação da necessidade do estabelecimento dessas conexões e na contramão da restrição às práticas de formação na área da saúde, surgiu a proposta do serviço de Teleatendimento, ofertado por meio do projeto de extensão universitária O Uso do Teleatendimento pela População do Município de Macaé-RJ como Ferramenta para o Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ-Macaé, e cujos objetivos eram voltados para promoção de um contato mais íntimo entre os estudantes e a população, bem como o fornecimento de informações científicas confiáveis em um momento de descrença generalizada, através da participação ativa no combate à desinformação. 157 2. metodologia, descrição do contexto e procedimentos Visando a qualificação teórica e prática dos discentes para realização do Teleatendimento, e a uniformidade do repasse das informações para a população, professores/tutores que compunham a equipe do projeto realizaram uma capacitação com os estudantes, baseada em duas etapas iniciais: a realização de cursos da plataforma Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) e a participação na semana de treinamento virtual. Os cursos mandatórios para a seleção e atuação dos estudantes no projeto foram: “Orientações Gerais ao Paciente com covid-19 na Atenção Primária à Saúde" e “Doenças Ocasionadas por Vírus Respiratórios Emergentes, Incluindo covid-19” (UNA-SUS, 2020), fornecidos pelo Ministério da Saúde através da plataforma UNA-SUS. Tais cursos abordaram temáticas como a identificação de sintomas; dúvidas sobre serviços de saúde; orientações básicas sobre prevenção de contaminação pelo novo coronavírus; formas de contágio; o que é um vírus; prevenção de complicações; dentre outras. Após a realização dos dois cursos solicitados, além da entrega de uma carta motivacional, 33 estudantes3 dos cursos de medicina e enfermagem foram selecionados para compor o projeto. Na semana de treinamento virtual, que durou de 22 e 26 de junho de 2020, professores e acadêmicos debateram seis casos hipotéticos por meio da plataforma Google Meet. Esses casos envolviam temáticas distintas, incluindo: modos de transmissão, etiqueta respiratória, como desinfetar objetos e alimentos, cuidados pessoais e como lidar com casos suspeitos de covid-19 em isolamento doméstico. Dessa forma, houve uma maior preocupação em manter as informações sobre medicamentos atualizadas e em conformidade com a comunidade científica. Além disso, um tema que recebeu atenção especial foi o de bem-estar psíquico na quarentena, devido ao aumento expressivo do número de casos de ansiedade e depressão relacionados à pandemia. Posteriormente, foram tecidos comentários sobre os casos analisados e os aspectos éticos envolvidos, sendo questionadas as limitações do atendimento telefônico — nosso projeto não consistia em telemedicina 3 Inicialmente, o projeto contava com 33 estudantes. No entanto, com o decorrer do projeto, 3 estudantes se desligaram de suas atividades, assim o mesmo passou a ser composto por 30 estudantes. 158 ou consultas clínicas, mas um canal de informações e acolhimento —, além da retirada de dúvidas remanescentes e, assim, em conjunto, eram uniformizadas as condutas informativas ou de referenciamento para alguma unidade de saúde, caso fosse necessário. Depois disso, os estudantes foram divididos em subgrupos com o objetivo de testar os aparelhos, solucionar possíveis falhas técnicas e aprender o modo de operação dos aplicativos (OpenVPN e Zoiper - versões gratuitas), responsáveis pelo direcionamento das ligações da central para os celulares dos que estavam de plantão naquele determinado turno da semana. Ademais, foi necessária uma bibliografia de referência a ser utilizada, para além dos cursos da plataforma UNA-SUS e da semana de treinamento virtual, que foi viabilizada através da leitura e debate de textos e artigos científicos atualizados regularmente nas reuniões semanais com os professores/tutores, que durava em média uma hora. Esta leitura serviu como ferramenta para atualização constante dos participantes do projeto, uma vez que era necessário acompanhar em tempo real o compartilhamento de novas informações sobre o novo coronavírus. Após o período de capacitação, foi iniciado o Teleatendimento em 06 de julho de 2020, sendo esse realizado de segunda à sexta-feira em dois turnos: das 9:00 às 13:00 horas e das 13:00 às 17:00 horas, com revezamento de grupos entre três e quatros estudantes por turno, tendo a supervisão dos professores/tutores durante o turno de atendimento. Inicialmente, o Teleatendimento era voltado para a população de Macaé-RJ4, que podia ligar para o número (22) 2141-4048 e, por meio dessa central telefônica, os estudantes faziam o atendimento. 3. resultados observados Nas primeiras semanas, percebemos que o projeto obteve um pequeno número de ligações, o que nos preocupou. Certamente, as poucas chamadas foram um indício de uma divulgação insuficiente. Diante disso, criamos uma página para o projeto no Instagram: @diskcovd19, cujo 4 O município de Macaé-RJ está situado a 180 quilômetros a nordeste da cidade do Rio de Janeiro, com uma população aproximada de 256.672 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020). Voltamos o atendimento, especificamente, para este público em razão de ser o local onde os acadêmicos estudavam e professores lecionavam, no Campus Macaé-RJ. 159 alcance permitiu que mais pessoas compartilhassem conhecimento científico de forma mais simples e direta nas redes sociais. A partir disso, passamos a receber ligações não somente de Macaé-RJ (como era almejado no início do projeto), mas de todos os lugares do país. Contudo, para que isso fosse possível, a divisão de grupos para produção de conteúdo no Instagram se deu da seguinte forma: os discentes participantes foram divididos em 11 subgrupos, dentre esses, 10 eram compostos por 3 ou 4 estudantes, os quais eram responsáveis pelas pesquisas e roteirização das postagens; e 1 grupo era composto por 7 estudantes dos diferentes subgrupos menores, para a criação da arte e sua respectiva publicação na página. Cada um desses subgrupos menores era supervisionado por professores/tutores, que ficavam à nossa disposição para reuniões semanais e retirada de dúvidas ao longo do plantão de Teleatendimento. Depois de formulado esse esquema de organização, diariamente era realizada uma postagem, de segunda a sexta-feira, por exemplo: um dos grupos que fazia o Teleatendimento na segunda-feira tinha seu tema publicado neste dia da semana. Como haviam dois subgrupos por dia da semana (turnos manhã e tarde), eles se revezavam nas postagens, isto é, havia uma janela de tempo de 2 semanas para cada subgrupo escolher e pesquisar sobre o tema, e o grupo das publicações montaria a arte. Em suma, nosso projeto foi pautado no Teleatendimento à população em geral, através das chamadas telefônicas; no preenchimento de relatórios das dúvidas das respectivas ligações e na produção de conteúdo informativo para as redes sociais5. 4. a experiência como atendentes do teleatendimento Como futuros profissionais de saúde, era frustrante observar o país em uma situação caótica e imprevisível e não poder agir de alguma forma em seu benefício, uma vez que as atividades presenciais da graduação foram formalmente suspensas, assim como outros tantos projetos de extensão e de iniciação científica. Apesar disso, para o nosso alívio, esse sentimento não perdurou muito tempo: o nosso projeto de extensão nasceu! 5 O Teleatendimento foi encerrado em 06/11/2020, mas as atividades no @diskcovid19 continuaram até 20/12/2020, quando foram encerradas as postagens nesta rede social. Todavia, todos os materiais produzidos no Instagram do projeto ainda continuam disponíveis para acesso 160 Dentre os vários fatores positivos das experiências promovidas pelo projeto, podemos destacar a ampliação do contato com professores e estudantes de outros períodos e cursos (Medicina, Psicologia, Enfermagem e Farmácia), muitos dos quais ainda não tínhamos contato, mesmo quando frequentávamos presencialmente a instituição. A pluralidade de saberes, experiências e pontos de vista, reunidos em prol de um mesmo propósito — a promoção da saúde —, elucidou a importância que há em estabelecer relações horizontais e harmoniosas, que devem ser nutridas durante a atuação profissional. Esses novos laços se tornaram um importantíssimo passo para a redução do sentimento de solidão que veio agregado ao distanciamento físico. O envolvimento neste projeto, passando pelos processos de seleção e capacitação até a atuação propriamente dita, foi uma luz que ajudou a espantar a penumbra de angústias que vivenciávamos. Retomar o foco direcionou nossos esforços aos nossos verdadeiros propósitos como estudantes da área da saúde, tornando-nos participantes ativos no processo de enfrentamento do SARS-CoV-2. Assim, a esperança por dias melhores foi finalmente recobrada, refletindo diretamente na melhoria da saúde mental, disposição e força de vontade. Mesmo que estivéssemos satisfeitos e animados com a proposta do projeto, atender as primeiras ligações foi um grande desafio, tendo em vista a insegurança e o nervosismo que sentíamos inicialmente. Apesar de toda a preparação, possuíamos um certo receio, uma vez que a maioria de nós nunca havia feito algo parecido antes. A partir disso, encontramos a necessidade de sair de nossas zonas de conforto e conquistar novas experiências, a fim de melhorar cada vez mais para realizar o melhor atendimento possível. Durante a nossa formação para o projeto, observamos que para o nosso atendimento ser efetivo, precisávamos ir além do protocolo de apenas transmitir as orientações teóricas que aprendemos. Era necessário adaptar a teoria à vida e ao contexto social de cada indivíduo, transformando informações complexas, com linguagem acadêmica e científica, em informações de fácil acesso e compreensão, sendo este exercício um desafio para nós, inclusive, na nossa página @diskcovid19. Contudo, isso contribuiu muito para nossa formação como discentes da área da saúde, pois essas habilidades são necessárias para que os profissionais consigam estabelecer uma boa comunicação com os pacientes e seus familiares. Com toda certeza, o auxílio do professor/tutor e de todos os componentes do subgrupo para elaboração do material, se fez muito importante para que conseguíssemos superar essas dificuldades. 161 Além disso, mesmo com todo conhecimento e informação que vêm sendo produzidos acerca do vírus SARS-CoV-2, ainda existem diversas questões sem respostas, que precisam ser esclarecidas, e inúmeras lacunas a serem preenchidas pela ciência. Tal cenário recheado de incertezas também nos gerava uma certa frustração, visto que, muitas vezes, não tínhamos uma resposta definitiva para dar à população. Mesmo com todo o nervosismo, em pouco tempo, conforme as ligações ocorriam, esse medo inicial foi sendo substituído pela confiança, juntamente com total cautela e cuidado, posto que carregávamos uma enorme responsabilidade com as informações passadas por nós. Em relação aos atendimentos, recebemos uma diversa gama de questões, como exemplo: qual seria a melhor forma de isolar pacientes com covid-19; dúvidas de quando procurar atendimento médico; a existência ou não de medicamentos profiláticos; andamento de vacinas e desenvolvimento de soro contra o coronavírus; dúvidas sobre a higienização em casa; principais formas de contágio; eficácia e tipos de máscaras; tipos de testes para diagnóstico da doença; e cuidados com animais de estimação durante a pandemia. Além disso, percebemos também que muitos usuários precisavam apenas de acolhimento. Podemos destacar o exemplo do usuário Carlos (nome fictício), que ligava semanalmente para o projeto e nunca fornecia todos os dados solicitados no início das ligações. As ligações com Carlos eram longas e, na maioria das vezes, após as dúvidas terem sido sanadas, o usuário estendia as dúvidas iniciais a outras questões. Com isso, percebemos que Carlos não tinha apenas dúvidas relacionadas à covid-19 e à pandemia de forma geral, mas sim, a necessidade de ser acolhido e ouvido em meio a este cenário de isolamento social e solidão. Por isso, além de aprender a lidar melhor com questões que fogem de nosso controle, como a sensação de impotência durante o isolamento, participar do projeto contribuiu para o desenvolvimento da escuta: algo tão importante não só na nossa formação como profissionais de saúde, mas também como pessoas mais empáticas. Adicionalmente, o projeto nos permitiu enfrentar a inércia advinda da paralisação do período letivo, uma vez que nossa semana era banhada por debates com os professores e colegas, produção de material para o @diskcovid19 e relatórios, além do próprio Teleatendimento. Igualmente, o projeto fomentou em nós, estudantes, o interesse pela pesquisa científica e entendimento das normas e particularidades de escrever artigos, textos e participar de seminários. 162 Concluímos, então, que vivenciar a singularidade de uma pandemia na condição simultânea de cidadão e estudante de saúde foi fundamental para nosso crescimento. 5. considerações finais Acreditamos que o projeto foi uma ferramenta essencial para reafirmação da importância da ciência e valorização da universidade pública perante a sociedade. Prova disso, foram os inúmeros depoimentos que recebemos, muitas vezes ao final dos atendimentos, como a fala de um usuário: “Obrigado! Eu vejo notícias na internet, no jornal, mas não consigo confiar muito. Quando vi que a central era da UFRJ, me senti seguro em relação aos esclarecimentos”. Ainda, a vertente do projeto no Instagram, por meio do @diskcovid19, possibilitou a ampliação da disseminação de informações úteis e confiáveis sobre a pandemia da covid-19. Tal ferramenta permitiu um maior esclarecimento da população usuária do nosso serviço, além de promover um processo de educação contínua, ao permitir o acesso aos conteúdos educativos de saúde disponibilizados no nosso perfil virtual nas redes sociais, mesmo após o encerramento do Teleatendimento. Por isso, nosso projeto de extensão não ficou restrito aos atendimentos da central, fomos capazes de enfrentar uma crescente onda de desinformação, que foi — e continua sendo — amplamente fomentada por variados meios de comunicação, inclusive de fontes governamentais. Por fim, podemos destacar que, concomitante ao desenvolvimento profissional, houve um crescimento de ordem pessoal dos estudantes. Avistamos, em nós, sentimentos de humildade, ao reconhecermos a importância de expressar o desconhecimento, quando não sabíamos alguma resposta; a empatia, ao compreendermos a situação de cada indivíduo e ajudá-lo de acordo com sua realidade; e a resiliência, ao acreditarmos no trabalho e mantermos a esperança, mesmo com parte da população negligenciando as medidas de prevenção e os riscos à saúde. Vivenciar a singularidade de uma pandemia na condição simultânea de cidadão e estudante de saúde foi fundamental para nosso crescimento. Dessa maneira, somos gratos por esses meses de atuação, aprendizado e crescimento que, indubitavelmente, levaremos com muito carinho em nossas memórias, em nosso trabalho e em nossas vidas. 163 referências bibliográficas EL-ERIAN, Mohamed A. PERSPECTIVES: The New Normal 2.0. The Journal of Portfolio Management. July 2020, jpm.2020.1.164; DOI: 10.3905/jpm.2020.1.164. 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Acesso em: 06 jun. 2020.. 164 16 O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NO ENSINO-APRENDIZAGEM SOBRE O CORPO HUMANO BeatrIz zago lUPePsa gradUanda em enFermagem - UFrJ macaé FaBrícIo lUna samPaIo sIlva gaBrIel lessa anthero letícIa novena Botelho da sIlva renata BarBosa da sIlva FlávIa Borges mUry elane da sIlva rIBeIro cIntIa monteIro de Barros InstItUto de BIodIversIdade e sUstentaBIlIdade nUPem – UFrJ resumo Redes sociais são facilitadores de conexões sociais entre pessoas, grupos ou organizações que compartilham dos mesmos valores ou interesses, promovendo interações entre eles. Esse conceito foi ampliado com a internet e a criação das mídias sociais, como Instagram, Facebook, Twitter, entre outras redes. De posse disso, o uso das mídias sociais apresentou criatividade e inovação para continuar os projetos e disseminar o conhecimento integrando à comunidade acadêmica com os alunos e professores do ensino fundamental e médio. Com o contexto vivenciado supracitado, é possível dizer que a equipe do projeto Corpo Humano em Ação se mostrou resiliente na situação a qual foi submetida. Sabe-se que os projetos extensionistas são, em geral, baseados no contato e na troca de conhecimentos, sendo necessário o envolvimento presencial com os participantes, ainda mais quando se trata de estudar a forma, estrutura e função do corpo humano, cujos conceitos e conteúdos se dão por atividades práticas com peças anatômicas, pois é nítido a diferença entre a imagem virtual e a real. No entanto, no momento da pandemia, as redes sociais são ferramentas úteis do projeto, possibilitando ampliação dos conhecimentos sobre o corpo humano e englobando as curiosidades que tornam a linguagem mais tênue e atrativa para o público-alvo, disseminando assim as informações. Dessa forma, é capaz de facilitar o ensino-aprendizagem sobre a forma e função do corpo humano. palavras-chave Facebook; Instagram; Troca de saberes; Anatomia; Fisiologia. 165 1. introdução Desde que foi estabelecida a pandemia no ano de 2020 pelo SARSCoV-2 (novo Coronavírus), acontecimento que ficará marcado na história do século, o mundo entrou em estado de emergência sanitária com restrições de funcionamento das instituições (NEGRI et al., 2020). Os Coronavírus (CoVs) são um grupo de vírus altamente diversos, causadores de doenças respiratórias, entéricas, hepáticas e neurológicas de gravidade variável em uma ampla gama de espécies animais, incluindo humanos (ZUMLA, 2016). Além disso, com sua rápida disseminação, a saúde pública está enfrentando diversas situações, como a sobrecarga dos sistemas de saúde e testagem limitada da população (LI et al., 2020; REQUIA et al.,2020). Um agravante encontra-se na falta de vacinação em massa de uso emergencial. Sendo assim, diversos estados não apresentam equipamentos em quantidades necessárias para a prestação de amparo médico a casos graves da doença. Em escala mundial, para garantir a sobrevivência de pacientes, a demanda por estes equipamentos é muito elevada e o número de óbitos encontra-se cada vez mais crescente, bem como a existência de novas cepas contagiosas, principalmente, no Brasil. Os hospitais universitários brasileiros, centros de formação e qualificação profissional, tal como de produção de conhecimento, têm significativo papel no enfrentamento dessa epidemia (MEDEIROS, 2020), assim como na produção de vacinas como o Instituto Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por ser altamente contagioso, a vida em sociedade sofreu modificações drásticas de convívio, sendo estritamente necessário o isolamento social como forma de frear o contágio que é, por enquanto, a melhor forma de prevenção. Consequentemente, a população precisou se adaptar a um novo estilo de vida tecnológico, utilizando-se de ferramentas para dar prosseguimento a troca de conhecimento de forma remota. Nesse contexto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi compelida a rever seus planos acadêmicos em relação ao ensino, pesquisa e extensão, se adequando para não comprometer a qualidade da instituição, que completou cem anos de história em 2020. Em Macaé, restrições como barreiras sanitárias e lockdown foram implementadas em março de 2020 pela prefeitura, com limitação de deslocamento para professores e alunos da UFRJ/ Macaé. Entretanto, o ensino remoto é direcionado apenas às atividades teóricas, pois as atividades práticas continuam suspensas, não havendo possibilidade de continuar por conta do grande contato intrínseco das 166 atividades que se tem nos laboratórios entre alunos, professores e funcionários. Medidas sanitárias de biossegurança foram colocadas como protocolo de restrição às aglomerações nas dependências da UFRJ e, com esse panorama das atividades presenciais suspensas, estratégias foram elaboradas com objetivos de utilizarem as mídias digitais como ferramentas de mediação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem (GOEDERT; ARNDT., 2020), em continuidade às atividades já desenvolvidas. Em um quadro de dúvidas e incertezas, a ação extensionista precisou se flexibilizar e utilizar-se de ferramentas de interação, como as redes sociais, para integrar o público acadêmico e a comunidade na troca de conhecimentos. Perguntas foram surgindo e, através de experiências externas de divulgação científica, permitiram que os alunos as utilizassem, sendo estas uma grande forma de transmissão das ações do projeto. Servidores, alunos e docentes precisaram reformular atividades de maneira remota, através de suas residências, em conteúdos digitais e com acesso à informação pelos dados digitais com maior alcance e de fácil acesso. Segundo Quaresma (2017), os recursos tecnológicos provocam uma preocupação em relação à educação, por conta de como será o manuseio desses meios, sendo realizadas reuniões e planejamentos para melhor entendimento de utilização. Porém, as mídias digitais têm tendência de se tornarem mais complexas e ampliarem mudanças para promover a quebra de paradigmas da sociedade, assim, se tornam grandes aliadas na interação com a comunidade e se fazem mais presentes nas atividades como uma ferramenta de auxílio à extensão universitária. Os canais digitais demonstram ser espaços abertos para a visibilidade dos projetos, possuindo amplo alcance de todas as categorias sociais, sendo esta conhecida por suas atribuições de retorno à sociedade, por seus serviços de ensino e pesquisa. Dessa forma, a utilização desses recursos durante a pandemia pode auxiliar na expansão das ações extensionistas, na integração e no aprendizado de alunos que estão dando continuidade às atividades pedagógicas por meio do ensino remoto, a partir de conteúdos dinâmicos que despertem a curiosidade dos mesmos 2. objetivos Proporcionar aos alunos do Ensino Fundamental e Médio acesso a um material digital de qualidade que auxilie no aprendizado sobre o 167 corpo humano, através de demonstrações e correlações realizadas a partir de questionamentos relacionados aos assuntos teóricos evidenciados em conteúdos correlatos. 3. descrição do contexto e procedimentos As atividades digitais propostas são voltadas a alunos e professores do Ensino Fundamental e Médio. Destacam-se a seguir algumas das atividades, separadas em atividades digitais desenvolvidas no período de março de 2020 até julho de 2020. Foram analisadas por meio de quantificações de pessoas que assistiram, curtiram e se inscreveram nos canais do YouTube, Instagram e Facebook, comparando-se as mídias sociais e os conteúdos abordados para a análise sobre o maior interesse do público-alvo. O projeto, antes das restrições sanitárias, possuía caráter presencial de visitação ao laboratório anatômico da universidade. Visitas guiadas por monitores graduandos de cursos da área da saúde se revezavam em sistemas comumente relacionados a doenças e curiosidades levantadas pelos visitantes, sendo uma atividade dinâmica e participativa no diálogo entre monitores e visitantes. Escolas do ensino fundamental e médio fazem parte do público-alvo, recebendo em algumas ocasiões projetos de pré-vestibular social. No entanto, fomentada pelas regras de distanciamento e isolamento social de instâncias de saúde pública de esferas governamentais para combater o espalhamento da covid-19, o digital parece se transformar no principal lugar de relações interativas na atual situação de pandemia. Dessa forma, buscamos adaptar o projeto para alcançarmos o maior público possível, sem perder a qualidade do mesmo e buscar auxiliar no processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos ministrados em sala de aula. 3.1 Postagens nas mídias sociais: Facebook e Instagram Diante do exposto até o momento, os discentes monitores e docentes do projeto Corpo Humano em Ação se adequaram às plataformas, elaborando um material didático e adequado aos estudos na área de ensino sobre o corpo humano para crianças e jovens, utilizando-se de material referencial de qualidade. A execução de conteúdos educativos através das redes sociais foram se tornando mais frequentes, como a postagem: 168 “Semana dos Sistemas”, cujo objetivo foi mostrar através de linguagem didática as diversas curiosidades que compõem estruturas anatômicas, bem como, suas funcionalidades por meio de imagens e pequenos textos. Os sistemas do corpo humano apresentados foram: cardiovascular, locomotor, respiratório, digestório e nervoso. O endereço de divulgação no Instagram e no Facebook são, respectivamente: @corpoufrj e www.facebook.com/corpohumano.ufrj. A seguir, estão as descrições de atividades realizadas durante a semana dos sistemas no Instagram e Facebook: postagens sobre os sistemas do corpo humano, em que, cada sistema foi dividido em semanas, e cada semana correspondia a três dias: I. Sistema Cardiovascular - Dia 01: Tamanho e localização, dia 02: Vasos e estímulo, dia 03: Curiosidades; II. Sistema Digestório - Dia 01: Os órgãos que compõem o sistema digestório, dia 02: Para auxiliar na digestão, contamos ainda com as glândulas anexas; dia 03: Curiosidades; III. Sistema Locomotor - Dia 1: Principais funções, dia 02: Curiosidades, dia 03: Diferença entre homens e mulheres; IV. Sistema Respiratório - Dia 01: Função e Componentes, dia 02: Trocas Gasosas, dia 03: Curiosidades; V. Sistema Nervoso - Dia 01: Divisão, dia 02: Sistema Nervoso Central, dia 03: Sistema Nervoso Periférico; VI. Atividade ao vivo pelo canal de Extensão da UFRJ-Macaé no YouTube apresentando o projeto e expondo os sistemas locomotor, cardiovascular, respiratório, digestório e nervoso. 3.2 Vídeos nas mídias: YouTube Além disso, também foram realizados eventos ao vivo pelo canal do YouTube da extensão universitária durante o Festival do Conhecimento, promovido pela UFRJ, sendo a palestra nomeada como Corpo Humano em Ação: Praticar para Melhor Compreendê-lo. Foram abordados assuntos como: Curiosidades do sistema digestório apresentado pela aluna de nutrição Renata Barbosa, informações anatômicas do sistema cardiovascular pela aluna de Enfermagem Beatriz Zago e correlação da aplicação de conhecimentos anatômicos na perícia criminal, ressaltando o conhecimento do sistema ósseo pelo aluno de Ciências Biológicas Gabriel Lessa. Disponível no link a seguir: (https://www.youtube.com/ watch?v=Ab_VbfxNzc0&t=6007s). 169 Em outubro de 2020, também no canal do YouTube extensão universitária da UFRJ, na apresentação acerca de “Curiosidades sobre o Corpo Humano” apresentados por alunos de ciências biológicas foram abordados temas como: Curiosidades sobre o sistema digestório, com descrição de algumas funções dos órgãos componentes, bem como a anatomia comparativa deste sistema entre o Homo sapiens e outras espécies, pela aluna Letícia Novena. A anatomia da visão e variações na funcionalidade entre as espécies apresentadas pelo aluno Gabriel Lessa. Curiosidades sobre a pele, apresentando suas características, funções, comparativos com outras espécies e origem embrionária, pelo aluno Fabrício Luna estão disponíveis no link a seguir: (https://www.youtube.com/watch?v=ss4R0A-RXMw). 4. resultados 4.1. comparação entre as postagens Facebook e Instagram As mídias sociais são canais on-line que conectam pessoas em todo o mundo ao permitirem a comunicação, relacionamento e compartilhamento de conteúdo entre os usuários. A extensão universitária ocorre pela difusão dos saberes à sociedade bem como pela interação entre os agentes (Barz et al., 2020). Figura 1 – Relação comparativa do engajamento entre as duas redes sociais. 1) Seguidores: Número alcançado de pessoas que seguem as páginas; 2) Contas Avançadas: O número de pessoas que viram qualquer uma das publicações pelo menos uma vez; 3) Reação S. L. - Reação (likes) que obteve na semana do Sistema Locomotor; 170 4) Reação S. C. - Reação (likes) que obteve na semana do Sistema Cardiovascular; 5) Reação S. D. - Reação (likes) que obteve na semana do Sistema Digestório; 6) Reação S. R. - Reação (likes) que obteve na semana do Sistema Respiratório; 7) Reação S. N. - Reação (likes) que obteve na semana do Sistema Nervoso. De posse do exposto acima, as publicações nas redes sociais Facebook e Instagram foram comparadas para melhor compreensão do impacto sobre o público-alvo. Apesar de ambas as redes sociais possuírem os mesmos conteúdos de publicações, notou-se que o Instagram gerou mais engajamento pelo número de curtidas de publicações. Analisamos o total de reações (likes) de cada semana dos sistemas do corpo humano (Figura 1). O número de seguidores do Instagram foi maior quando comparado ao do Facebook, entretanto, as contas alcançadas no Facebook foram maiores em relação ao Instagram. Comparando as publicações sobre os sistemas, o sistema digestório no Instagram e o sistema locomotor no Facebook foram as publicações que obtiveram maior reação do público-alvo no Instagram e Facebook, respectivamente, indicando maior procura por estes assuntos. 4.2. atividades ao vivo através de vídeos A utilização da live não é exatamente uma novidade e, de acordo com o Annual Internet Report da Cisco, a previsão é de que a transmissão de conteúdo ao vivo – o chamado live streaming – crescerá cerca de 15 vezes no período entre 2018 e 2021, mostrando que, mais que uma simples tendência, a tecnologia está em plena fase de crescimento e de consolidação cultural e social (RAPOSO; TERRA, 2020). No contexto da pandemia de coronavírus, o projeto contou com participação ao vivo no Festival do Conhecimento, apresentando alternativas de atuação do projeto e, até o presente momento, foram realizadas duas atividades ao vivo pelo Canal do YouTube Extensão UFRJ (https:// www.youtube.com/channel/UCvMAg03W-Z34vAvrmeHEivg). Estas atividades foram na forma de Painel Temático - Corpo Humano em Ação: Praticar para Melhor Compreendê-lo com 210 visualizações e 28 reações positivas (curtidas) e Curiosidades sobre o Corpo Humano com 207 visualizações e 38 reações positivas (curtidas). Portanto, as redes sociais fornecem suporte de divulgação do projeto que amplia conhecimentos em anatomia e difunde as curiosidades inerentes ao tema (Figura 2). Estas últimas postagens acarretaram uma enorme visibilidade e um grande retorno do compartilhamento e difusão de saberes pela comunidade e meio científico. 171 Figura 2 - Relação comparativa das duas atividades ao vivo realizadas pela plataforma YouTube no Canal de Extensão UFRJ/Macaé: Painel temático e Curiosidades Corpo Humano. 1) visualizações e 2) curtidas. As atividades citadas foram desenvolvidas a partir de curiosidades levantadas nas visitas presenciais no laboratório anatômico. Com essas informações, os monitores montaram apresentações em slides correlacionando os sistemas abordados no projeto à doenças e curiosidades. Pode-se perceber que o número total de visualizações e curtidas, em ambas as formas, apresentam pequenas diferenças na quantidade de pessoas atingidas (Figura 3). Figura 3 – A; B; C. Participação no Festival do Conhecimento UFRJ, Curiosidades Sobre o Corpo Humano e exposição do projeto nos canais de extensão da UFRJ. 172 5. discussão A universidade tem como função produzir o saber e viabilizar a formação do acadêmico, visando sua transformação pessoal e social, para isso, as ações extensionistas, junto às de pesquisa e ensino, são aliadas na formação e interação do conhecimento com a sociedade (Reis 1996, p. 41). Sendo assim, a sociedade é o ‘lócus’ coparticipante na formação do profissional e na geração do conhecimento da sociedade. O avanço tecnológico vem transformando os modos de produção e também o fazer pedagógico dos professores. O espaço da cibercultura que a internet apresenta traz um novo pensar por meio das facilidades que os meios de comunicação computacionais carregam (Kochhann et al., 2018). Dessa forma, é possível observar que as mídias digitais e a tecnologia se mostram aliadas essenciais na ampliação do ensino durante o tempo de pandemia pelo novo CoronaVírus. A aproximação com o público acadêmico e a comunidade se manteve ativa, o estímulo à criatividade e a troca de saberes evoluíram de forma a aproximar a Universidade da comunidade, mesmo com o distanciamento. De acordo com os dados obtidos, é evidenciado que a utilização das mídias sociais do projeto obtiveram um bom engajamento, alcançando uma margem de 377 e 218 seguidores no Instagram e Facebook, respectivamente. O número de likes, em cada “Semana dos sistemas” se mostrou satisfatório. Na semana do sistema cardiovascular, obteve-se um total de 68 likes; já na semana do sistema locomotor, o número de likes foi 61; na semana do sistema respiratório, obteve-se 50 likes; já na semana do sistema nervoso, foram um total de 71 likes; e por fim, a semana do sistema digestório obteve um total de 73 likes. O Instagram foi a rede que mais conquistou curtidas, não apresentando uma grande variação entre as postagens. Foi possível observar que a semana do Sistema Digestório (S. D.) atingiu o maior número de reações, com 71 likes. Em contrapartida, no Facebook a quantidade de likes obtidos foi inferior, onde a semana do Sistema Locomotor (S. L.), que mais deteve reações na rede, atingiu apenas 19 likes. Apesar do Facebook ser a rede mais utilizada do mundo, seu público se concentra dos mais jovens aos mais velhos, a variação observada pode ter ocorrido, visto que o Instagram é uma rede em ascensão e está conquistando cada vez mais o público jovem (FORBES, 2019; ROSA, 2018). As atividades realizadas ao vivo pelo YouTube, Painel Temático e Curiosidades sobre o Corpo Humano, mostraram-se exitosas com uma 173 variação insignificante a nível de visualizações e da quantidade de curtidas entre ambas. Os dados computados através do artigo foram a partir de um espaço curto de tempo, pois o projeto inicia seu maior engajamento nas redes por consequência do ensino remoto. Apesar desse curto período, é notado um retorno favorável com o uso dessas mídias como foco no ensino-aprendizagem. O projeto vem trazendo para o debate essas questões, pensando as atuais necessidades da educação, demonstrando as potencialidades e desafios, em prol de uma formação de qualidade. 6. considerações finais Considerando as discussões mencionadas acima, futuras análises são essenciais para dar continuidade em tais comparações e novas formas de interação entre as redes sociais e os visualizadores dos conteúdos produzidos, além de relacionar uma amplitude maior de amostragem para aprofundar mais os estudos direcionados ao público alvo ao qual o projeto está incidindo. A evolução tecnológica acarreta uma acessibilidade à informação e saber integrá-la como uma aliada traz elevada troca de saberes entre a Universidade e a comunidade, conceito este, fundamental do que é extensão universitária. referências bibliográficas BARZ, et al. A Extensão Universitária través aas Mídias Sociais. 12º SIEPE, 2020. FORBES. O Facebook está se tornando reduto dos mais velhos? 2019. Disponível em: https://www.forbes.com.br/colunas/2019/03/o-facebook-esta-se-tornando-uma-rede-para-o-publico-mais-velho/. Acesso: 8 fev. 2021. GOEDERT, L.; ARNDT, K. B. F. Mediação Pedagógica e Educação Mediada por Tecnologias Digitais em Tempos de Pandemia. Revista do programa de pós-graduação em educação - UNESC. 2020. HULER, S.KOCHHANN, A. et al., As Mídias Como Ferramentas Pedagógicas: uma experiência em um projeto de extensão. III Colóquio Estadual de Pesquisa Multidisciplinar e I Congresso Nacional de Pesquisa Multidisciplinar, 2018. 174 LI, R. et al. Substantial Undocumented Infection Facilitates the Rapid Dissemination of Novel Coronavirus (SARS-CoV-2). Science, v. 368, n. 6490, p. 489–493, 2020. MEDEIROS, E. A. S. Desafios para o enfrentamento da Pandemia Covid-19 em Hospitais Universitários. Revista Paulista de Pediatria. vol. 38. 22.abr.2020. NEGRI, F. De; ZUCOLOTO, G.; MIRANDA, P., KOELLER, P. Ciência e Tecnologia Frente à Pandemia. IPEA. Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade. 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/artigos/artigos/182-corona. Acesso em: 8 fev. 2021. QUARESMA, B. D. O uso da tecnologia como auxílio na educação de jovens e adultos. UFCG - Universidade Federal de Campina Grande. Centro de Formação de Professores. Monografia – 47f. Cajazeiras, 2017. RAPOSO, J. F., TERRA, C. F. Como o conteúdo ao vivo se tornou estratégia de sobrevivência, relacionamento e influência na pandemia. 2020. Disponível em: https://www.proxxima.com.br/home/proxxima/how-to/2020/05/15/como-oconteudo-ao-vivo-se-tornou-estrategia-de-sobrevivencia-relacionamento-einfluencia-na-pandemia.html. Acesso: 8 fev. 2021. REIS, Renato Hilário dos. Histórico, Tipologias e Proposições sobre a Extensão Universitária no Brasil. Cadernos UnB. Extensão: A universidade construindo saber e cidadania. Brasília, 1996. In: http://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/ article/download/6094/5042. REQUIA, W. J. et al. Risk of the Brazilian Health Care System Over 5572 Municipalities to Exceed Health Care Capacity Due to the 2019 Novel Coronavirus (Covid-19). Science of the Total Environment, v. 730, 2020. ROSA, N. Pesquisa revela que Instagram é uma rede social mais engajada que o Facebook. 2018. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/pesquisa-revela-que-Instagram-e-uma-rede-social-mais-engajada-que-o-facebook-129223/. Acesso em: 8 fev. 2021. ZUMLA, A. et al. Coronaviruses-Drug Discovery and Therapeutic Options. Nature Reviews Drug Discovery, v. 15, n. 5, p. 327–347, 2016. 175 17 OLIMPÍADA BRASILEIRA DE NEUROCIÊNCIAS: DESAFIOS E EXPERIÊNCIAS NO PROCESSO DE VIRTUALIZAÇÃO alIny carvalho coordenadora do ProJeto olimpíadas brasileiras de neurociências João vítor galo esteves coordenador do ProJeto olimpíadas brasileiras de neurociências anna lUíza de lUcena lemos gradUanda em medIcIna - UFrJ hUgo marIns gradUando em comUnIcação socIal - UFrJ gláUcIo aranha docente do InstItUto nUtes de edUcação em cIêncIas e saúde - UFrJ coordenador do ProJeto olimpíadas brasileiras de neurociências alFred sholl-Franco docente do InstItUto de BIoFísIca carlos chagas FIlho - UFrJ coordenador do ProJeto olimpíadas brasileiras de neurociências resumo A Olimpíada Brasileira de Neurociências (OBN) é uma competição para estudantes de ensino médio realizada no Brasil, desde 2013. A competição é estruturada em três etapas: local, nacional e internacional. Em 2020, quinze comitês locais e uma seleção on-line para cidades e regiões do país ainda sem comitês, selecionaram os participantes para a etapa nacional. Devido à pandemia de covid-19, houve uma adaptação para uma plataforma on-line, denominada Portal do Candidato, que permitiu inscrições na competição, acesso aos materiais de estudo e realização das provas locais e da prova nacional com a segurança necessária. Com o desenvolvimento de novos meios de comunicação e a divulgação da competição, através das redes sociais, obtivemos um aumento da representatividade nacional na competição e no número de competidores, a despeito dos desafios encontrados com o isolamento social palavras-chave Olimpíadas de Conhecimento; Competições Científicas; Neurociências e Ensino. 177 1. introdução As olimpíadas científicas são competições de conhecimento tradicionalmente destinadas a estudantes do ensino básico, sendo ferramentas úteis para incentivar o conhecimento de áreas básicas e ampliar os horizontes dos alunos. Além disso, promovem o espírito competitivo (QUADROS et al., 2013; DOWIE e NICHOLSON, 2011; QUADROS et al., 2010; ROBINSON, 2003; GROTE, 1995; MANN, 1984) e o desenvolvimento pessoal através do estímulo à criatividade, persistência e motivação (MCNERNEY, CHANG e SPITZER, 2009). As atividades extracurriculares, como as olimpíadas do conhecimento, são uma forma de estimular o pensamento científico (HULER, 1991; OLSON, 1985) e podem, ainda, impactar na escolha futura da profissão ao viabilizar o contato dos alunos com novos conteúdos e perspectivas. A importância das competições científicas ganha destaque, como agentes da educação não formal, tendo o objetivo de melhor preparar os participantes para a vida e a sociedade (PLANCHARD, 1975; LIB NEO, 1992). Vale ressaltar também que, como defendido por Freire (2002), a educação não formal visa colaborar com o processo formal de ensino tradicional no desenvolvimento das capacidades individuais, o que por consequência, impacta positivamente a sociedade. As olimpíadas de conhecimento contribuem para a divulgação científica ao aproximarem a população e, especialmente, os jovens do ambiente universitário, das sociedades acadêmicas e da produção científica. Assim, elas também realizam o papel de promoção da interface entre a acadêmica e o ambiente escolar, promovendo a produção de materiais e a realização de ações de divulgação científica para a população, como cursos, workshops, entre outros (ARANHA, CHICHIERCHIO e SHOLLFRANCO, 2015). Com esse objetivo, surgiram, durante a década do cérebro, as olimpíadas de neurociências (1990-1999) que visavam um maior diálogo acadêmico com a sociedade. A década do cérebro foi instituída em 1990, nos Estados Unidos, após uma demanda de maiores investimentos na pesquisa em neurociências básicas e aplicadas (ARANHA et al., 2015; MATTEI, 2014). Tal movimento foi uma resposta ao rápido e significativo progresso das outras áreas da ciência, que ocorreu na segunda metade do século XX em decorrência da carência de aprofundamento do conhecimento neurocientífico. Esta necessidade estava ligada, sobretudo, aos efeitos e consequências de doenças relacionadas ao sistema nervoso, progressivamente mais prevalentes e 178 gerando exorbitantes gastos e preocupações para a sociedade. Ao mesmo tempo, surgiu a necessidade de conscientizar a população sobre os benefícios que poderiam ser extraídos do investimento em neurociências, através da criação de diversas ações como a “Divulgação Anual da Década do Cérebro”, realizada pela Society for Neuroscience, e a “Semana do Cérebro”, ambas apoiadas pela Dana Alliance (JONES e MENDELL, 1999) Neste contexto, em 1998, foi criada a primeira olimpíada de neurociências, nos EUA, voltada para alunos da educação básica, mais especificamente para o ensino médio (high school). Inicialmente, tinha como abrangência territorial apenas 12 estados americanos. Hoje, contempla todos eles. Esta iniciativa foi promovida pelo Dr. Norbert Myslinski, da Universidade de Maryland (EUA), sendo rapidamente disseminada para outros países. Há mais de uma década, a competição tem impacto mundial, abrangendo comitês nacionais presentes nos cinco continentes, com a denominação International Brain Bee (IBB). Internacionalmente, a competição é organizada em três níveis: competições locais (com mais de 150 comitês locais, representando cidades, regiões ou estados), nacionais (que centralizam os comitês locais em mais de 30 países cadastrados) e internacionais que reúnem os competidores indicados pelos comitês nacionais. No total, temos um número estimado em mais de 30 mil estudantes que participam das competições anualmente. No Brasil, as competições de neurociências foram iniciadas em 2013, a partir da iniciativa do Dr. Alfred Sholl-Franco com a instituição de um comitê nacional que possui a responsabilidade de organizar a competição no país. O comitê da OBN se localiza no Núcleo de Divulgação Científica e Ensino de Neurociências (NuDCEN), nas dependências do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o apoio desta instituição de ensino superior e da organização não governamental (ONG) Organização Ciências e Cognição (OCC). A competição no Brasil possui etapas locais realizadas através de Comitês Locais credenciados por instituições de ensino superior, pesquisa e hospitais ou através da Olimpíada Local Descentralizada (OLDN) na qual se credenciam escolas e alunos independentes (Figura 1). A OBN e as olimpíadas de neurociências locais abrangem todas as macrorregiões do Brasil, atingindo anualmente cerca de 4 mil alunos em suas atividades, que não se limitam à competição, mas também compreendem a realização de: (i) cursos de férias para os estudantes e professores do ensino básico, (ii) cursos de formação continuada para professores, 179 (iii) produção de material didático e instrucional, bem como (iv) ações de divulgação e conscientização pública sobre neurociências para a sociedade. Contudo, a pandemia da covid-19, no início de 2020, instaurou novos desafios, sobretudo devido ao dramático impacto do cenário pandêmico no ambiente escolar. A necessidade do isolamento social, a paralisação das aulas e a desigualdade de acesso aos dispositivos eletrônicos e à internet provocou a necessidade de reestruturação da competição em suas diversas facetas, desde a realização on-line das provas locais e nacionais, até novos meios de aproximação da OBN junto aos interessados nesta competição. Figura 1 - Estrutura organizacional das Olimpíadas de Neurociências no Brasil. 2. objetivos Este relato objetiva descrever o processo de reinvenção da estrutura organizacional da OBN para o ambiente virtual mantendo os compromissos 180 da competição, assim como descrever os resultados alcançados ao longo dessa experiência, tanto na realização das competições quanto na produção de materiais e ações de divulgação científica vinculadas. 3. metodologias e procedimentos Reconhecendo as disparidades de realidades em relação ao ensino e ao acesso à tecnologia no país, o processo de criar uma versão virtual da OBN foi realizado através de pesquisa qualitativa sobre estratégias de virtualização. Para tanto, utilizou-se como base um levantamento das melhores práticas (benchmarking), a fim de buscar estratégias e experiências de iniciativas que já utilizavam ou passaram a utilizar o ambiente virtual como única ferramenta para o ensino on-line. Dentre as fontes destacaram-se outras competições de conhecimento, vestibulares e portais de divulgação científica. Foi desenvolvido um tripé que envolveu: (1) a criação de uma plataforma on-line, baseada no modelo de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), (2) a produção de materiais de ensino e divulgação científica, tanto para facilitar o estudo pelos alunos quanto para difusão entre o público em geral e (3) a realização de conferências em livestream e videochamadas com os competidores, comitês locais e escolas. 4. descrição do contexto e procedimentos 4.1. portal do candidato A plataforma desenvolvida, denominada Portal do Candidato (PC), tornou-se o alicerce das competições locais e da nacional, sendo um espaço multiuso para realização das inscrições, estudo individual dos alunos, treinamentos, canal de comunicação e para a própria realização das provas de forma remota (Figura 2a-e). O PC foi construído através do modelo AVA e para tal foi utilizado o sistema Moodle, que é uma plataforma de código aberto que permite segurança dos dados, flexibilidade e adaptação às necessidades do projeto, sendo intuitiva e permitindo fácil acesso tanto para os alunos e professores quanto para os diversos coordenadores das fases locais, realizadas em várias regiões do Brasil. Nossa plataforma hospedou as inscrições de fases locais e da fase nacional, desde o início do isolamento social promovido 181 pela pandemia de covid-19, permitindo a segurança e privacidade das informações dos alunos cadastrados na competição, das informações confidenciais das competições e dos dados armazenados relativos aos resultados da competição. Outrossim, o PC permitiu concentrar as diferentes competições locais a despeito de manter a privacidade e autonomia de cada uma delas. O aluno deveria escolher por qual local participaria (e.g. participante que reside no Rio de Janeiro (RJ) se inscreveria no Comitê Local do Rio de Janeiro e Grande Rio) e teria automaticamente acesso às informações, canais de comunicação, materiais e prova de seleção exclusivas do Comitê do Rio de Janeiro. Em todo esse processo, 1.056 usuários foram contemplados com pelo menos cinco módulos de conteúdos preparatórios e lúdicos, podendo aplicar os seus conhecimentos nas onze competições locais em todo o Brasil. Os 38 selecionados foram direcionados para a competição nacional, a qual também foi hospedada no PC. Figura 2 - Atividades on-line da Olimpíada Brasileira de Neurociências. 2a, Exemplo de Comitês Locais presentes no Portal do Candidato; 2b, Material de divulgação científica publicado no Instagram (@brazilianbrainbee); 2c, Foto da imagem inicial do vídeo de conteúdo de neurociências para YouTube (youtube.com/cienciasecognicao); 2d, Foto do encontro da primeira etapa da competição nacional, em 2020; 2e, Impressão de tela do conteúdo disponível em módulos no Portal do Candidato. 182 Desta forma, o PC permitiu a execução das provas com um maior controle em relação ao compartilhamento de respostas, isto pois, as mesmas puderam ser configuradas de modo a garantir: controle de hora para abertura e fechamento da prova e controle de tempo total; aleatorização das questões e da ordem das alternativas das respostas de cada questão apresentada aos candidatos; avaliação em aba separada no navegador e restrição de retorno à questão anterior à medida que a prova era realizada. Após o término da competição, também era possível escolher se os alunos teriam acesso às questões, às pontuações e aos comentários, possibilitando diversas abordagens. Além disso, o certificado de participação era gerado automaticamente pelo sistema para os alunos que haviam realizado a competição. O PC é uma plataforma robusta em ferramentas para ensino, permitindo que fossem criados verdadeiros cursos de imersão em neurociências, proporcionando uma experiência ampliada, ou seja, não restrita apenas à competição em si. Através da plataforma foi possível: abrir fóruns de discussão, anexar arquivos de documentos (em formato pdf), vídeos do YouTube, vídeos compartilhados em nuvem, marcar encontros síncronos, realizar simulados, realizar jogos com conteúdo (e.g. jogo da memória), dentre diversos outros recursos. 4.2. produção de materiais e divulgação de conferências e vídeo-chamadas A produção de materiais didáticos e a divulgação de conteúdos acadêmico-científicos se deu através da elaboração de um curso base de 4 módulos (neurociências básicas, morfologia do sistema nervoso, neurofisiologia e neurociências clínicas), o qual é composto por uma seleção de materiais e referências selecionadas da literatura, produzidas pelo grupo, disponíveis em sites, blogs, YouTube, além de indicações de filmes, séries e livros (Figura 2e). Houve, ainda, a reinserção do projeto nas redes sociais (Facebook e Instagram) e a produção de novos materiais. Tais iniciativas foram essenciais para a capacitação dos alunos e a disseminação da competição – apesar da paralisação do ano letivo –, assim como para despertar a curiosidade de jovens e professores, agentes capazes de difundir a iniciativa. A alimentação do perfil da OBN no Facebook (https://www.facebook. com/OlimpiadaBrasileiradeNeurociencias) e a criação de um novo perfil no Instagram (https://www.instagram.com/brazilianbrainbee/) foi um passo essencial em direção à divulgação entre os jovens para a adoção da virtualização das Olimpíadas de Neurociências em todo o Brasil. Ao todo, foram realizadas 47 publicações (dentre conteúdo, divulgação de aulas e 183 resultados de provas; Figura 2b-c), diversas interações nos “Stories” e a produção de vídeos para o YouTube, que ao todo atingiram um público estimado superior a 5 mil pessoas. Ademais, a fim de facilitar a explicação de regras, divulgação de informações e resultados e assessorar comitês locais, professores e alunos, foram realizadas diversas transmissões ao vivo via YouTube e videoconferências através da plataforma Google Meet ao longo do ano de 2020 (Figura 2d). Tais ações permitiram a manutenção dos Comitês Locais (Tabela 1), o credenciamento de 15 células descentralizadas (Tabela 2) e o alcance de mais de 300 candidatos independentes de todas as regiões do Brasil. Tabela 1. Comitês locais que participaram da competição em 2020 Comitê Instituição Responsável Belém do Pará (PA) Universidade Federal do Pará - UFPA Grandes Dourados (MS) Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD Rio de Janeiro e Grande Rio (RJ) Universidade Federal Fluminense - UFF Ribeirão Preto (SP) Universidade de São Paulo - USP São Paulo (SP) Hospital Israelita Albert Einstein Muriaé (MG) Fundação Cristiano Varella Joinville (SC) Grupo Educacional CENSUPEG Porto Alegre (RS) Universidade Federal do Rio Grande do Sul Santa Maria (RS) Universidade Federal de Santa Maria Tabela 2. Células locais credenciadas que participaram da competição em 2020 Comitê Instituição Responsável Estado Curso e Colégio Leffler Prof. Salvador BA Centro Educacional Renovação Sá Itaguaí RJ COTUCA - Unicamp Campinas SP Colégio Progresso Campineiro Campinas SP Colégio Notre Dame Campinas Campinas SP São Bernardo do Colégio Petrópolis Campo Colégio Poliedro Campinas Campinas 184 SP SP Tabela 2. Células locais credenciadas que participaram da competição em 2020 (continuação) Comitê Instituição Responsável Estado Colégio Cristo Rei Marília SP Universidade de Brasília Brasília DF Colégio Núcleo Recife PE Nova Lima MG Brasília DF Bela Vista PE Campinas SP Vinhedo SP Fundação Torino / Instituto Italo Bicultural Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga (CEMEIT) Centro Educacional Ethos Anglo Parque Industrial (Instituto de Educação Parque Industrial) Colégio Progresso Bilíngue Vinhedo 5. considerações finais Apesar da abrupta urgência de adaptação gerada pela pandemia do SARS-CoV-2 e do cenário de incertezas vivenciado em 2020, essencialmente marcado pela desestabilização do ambiente escolar, a OBN mantém seus objetivos primários de realizar as diversas etapas da competição e manter-se atuante para além das determinações de uma olimpíada de conhecimento. Nesse contexto, a iniciativa foi capaz de promover a divulgação em neurociências, agrupando e fomentando ações como cursos de férias, treinamento de alunos, interface universidade-escola, elaboração de videocasts, blogs e diversos materiais de difusão e divulgação, além de aproximar professores e alunos do ensino básico ao ambiente acadêmico, democratizando o ensino e despertando vocações. 6. agradecimentos Os autores agradecem aos apoios financeiros que do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq); Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e (MCTIC); Organização Ciências e Cognição (OCC); 185 a OBN recebe e Tecnológico Comunicações Pró-reitora de Extensão (PR-5), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e do Grupo Educacional CENSUPEG. referências bibliográficas ARANHA, G.; CHICHIERCHIO, M.; SHOLL-FRANCO, A. A divulgação científica como instrumento de desmitificação e conscientização pública sobre neurociências. In: EKUNI, R.; ZEGGIO, L.; BUENO, O.F.A. (Org.) 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Ambientes colaborativos e competitivos: o caso das olimpíadas científicas. Revista de Educação Pública (UFMT), v. 22, n. 48, p. 149-163, 2013 ROBINSON, S. Coaching a high school science olympiad team. Academic Exchange, v. Summer, p. 272-277, 2003. 187 18 PRODUÇÃO DE SENTIDOS NA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE PROGRAMETES PARA MÍDIAS SONORAS: O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, AS(OS) ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE, A PANDEMIA DE COVID-19 · mestranda em saúde coletIva – UerJ · doUtora em saúde coletIva – UerJ lUan lImoeIro sIlva hermogenes do amaral · estUdante de FIsIoteraPIa – UFrJ ana BeatrIz de olIveIra raBello dUarte · estUdante de PsIcologIa – UFrJ lUcas eUgênIo da sIlva · estUdante de medIcIna – UnIFaa – valença dorInda dora aPoma ntIamoah · estUdante de enFermagem – UFrJ wendy araúJo PereIra · estUdante de FIsIoteraPIa – UFrJ larIssa França de olIveIra · estUdante de saúde coletIva – UFrJ clara JUdIthe de JesUs nascImento · estUdante de FIsIoteraPIa – UFrJ gaBrIela Jade nascImento FIgUeIredo · estUdante de edUcação FísIca – UFrJ vIctor sIlva loPes · estUdante de medIcIna – UFrJ ana carolIne machado cordeIro · estUdante de PsIcologIa – UFrJ nayara Falcão de agUIar olIveIra · estUdante de PsIcologIa – UFrJ thaynara vIeIra da costa · estUdante de FIsIoteraPIa – UFrJ edUardo matheUs zUqUetto da sIlva · estUdante de FIsIoteraPIa – UFrJ lara edUarda sIlva do amaral · estUdante de PsIcologIa – UFrJ nIlcéIa nascImento de FIgUeIredo valérIa FerreIra romano resumo Este trabalho tem o objetivo de contar sobre como, em tempos de pandemia de covid-19, uma proposta da extensão universitária do Laboratório de Estudos em Atenção Primária da UFRJ mobilizou estudantes de graduação da área da saúde para elaborar roteiros e produzir locuções de episódios sobre o Sistema Único de Saúde para a Rádio UFRJ. Como um relato de experiências e afetações dos estudantes, este texto circula pela comunicação para mídias sonoras; pela intersubjetividade, base da psicossociologia e pela pedagogia da experiência. Conclui que a produção de sentidos de um grupo identificado por objetivos em comum revela a dimensão cultural, simbólica e imaginária do aprender e do fazer coletivos. palavras-chave Subjetividade; Comunicação em Mídias Sonoras; Sistema Único de Saúde; Processo Ensino-aprendizagem; Estudantes da Area da Saúde. 189 1. eu só queria uma vida de estudante universitário Ainda nem era noite, mas a sensação imposta por uma noite mal dorida tomava os olhos, os poros, os assentos do corpo sem consentimento. A construção se levanta, fundamentada nos escombros de quem outro dia sonhou em estudar numa universidade pública e que agora fora deslocado do mal-estar bendito, em ter que acordar antes do que se desejava; correr de um lado para outro; improvisar tempo para viver a universidade em seu mais amplo sentido. A arquitetura sem cor, sem a pressão do transporte público, sem o convívio do bandejão, transpõe o sentido da euforia do início de um novo semestre para a impessoalidade das salas virtuais. Gostos sem gosto, dias sem brilho e um convite para extensão. Era tudo novo, tão novo, que, de tanta novidade, até se cansavam os dias. E por que não aproveitar para achar, nos murais virtuais da universidade, um novo projeto? Sim um novo, do novo, de novo… (Ela, Estudante A). 2. um pouco da ex-história Com o advento da internet, tanto a tecnologia quanto a linguagem radiofônica foram sendo imersas em previsões pessimistas quando a linguagem radiofônica, datada desde os primeiros instantes da modernidade, serviu como ferramenta estratégica, tanto para difusão de ideologias dos segmentos sociais dominantes, como para o desenvolvimento de padrões culturais, comportamentais e de consumo material e simbólico (MAGNONI, 2013 p.1), a favor do mercado e do consumismo. O que não sabíamos era que o mundo viraria, em pouco tempo, de cabeça para baixo e que teríamos um deslocamento temporal, que tanto nos remeteria ao passado, quanto nos faria parte de um futuro ainda por construir. Uma pandemia que nos colocou diante de novos modos de existir fez do meio digital, que antes se fazia muito presente, ganhar um tom de maior imponência. Ou seria eloquência? Em uma entrevista para o Correio Braziliense, de 01/02/2021, (Barbirato, 2021), alguns produtores de conteúdo digital relatam um grande crescimento de conteúdos narrados durante o período de distanciamento social imposto pela pandemia de covid-19. Os borrões da virtualidade chegaram ao tempo concreto, sem que tivéssemos a possibilidade de optar por isso. Se para Le Breton (2001) o 190 ciberespaço configurava uma tribuna onde era possível apresentar opiniões e desejos sem que o corpo precisasse se representar, Thompson e Varella (2001), através da teoria do enativismo1, descrita em um artigo publicado no mesmo ano, afirmam que o sujeito e o mundo estão acoplados. Sendo assim, seria essa tribuna algum tipo de corpo visível do acoplamento entre desejo, tempo, espaço, representação e sistemas? Para a psicossociologia, que estuda os grupos, as instituições e as comunidades, o inconsciente opera na construção de sentidos onde a cultura, o simbólico e o imaginário mobilizam identificações e idealizações entre os membros de um grupo social. Até ontem, podíamos escolher usar ou não certas tecnologias. Hoje, mediados pela des-proposição de um estado sindêmico2, resta-nos que as redes suportem uma vida que não pode ou deve parar. Nesse sentido, o sujeito do mundo mora no próprio acoplamento, ensimesmando aproximações desviantes que lhe possam garantir um corpo presentificadamente virtual. Em 2007, Herschmann, disse em um artigo que fazia alusão à apropriação de novas tecnologias por atores sociais, que os podscasting, uma incorporação cultural advinda das indústrias da música e do rádio, não eram só parte de uma forma de interação sensorial-experimental nova. Um fenômeno que fazia serem ouvidas músicas de artistas completamente desconhecidos gerava, também, uma nova forma de interação social. O autor aponta a relação nominal inadequada: O nome podcasting nos parece absolutamente inadequado, por remeter diretamente ao mais popular aparelho tocador de MP3, o iPod, da Apple, sinal de status, de distinção social num mundo de acesso profundamente desigual às novas tecnologias da informação e da comunicação. Pesquisas mostram que, pelo menos até o momento, a febre do podcasting tem pouco a ver com a portabilidade. Levantamento da Bridge Data mostra que 88% dos internautas que assinam podcasts carregam seus tocadores de MP3 com os 1 2 Esses autores propõem uma questão da consciência a partir de três modos permanentes e entrelaçados de atividade corporal: (1) autorregulação; (2) acoplamento sensório-motor; (3) interação intersubjetiva. Sindemia - noção concebida pelo antropólogo médico americano Merril Singer pela primeira vez na década de 1990, na qual interações biológicas e sociais entre condições e estados, bem como desigualdades econômicas, deixam de limitar os danos causados pelos vírus por uma solução puramente biomédica, passando a ser uma possível abordagem mais ampla capaz de orientar integradamente uma sociedade que hoje precisa de esperança (SINGER, 2003, p.874). 191 arquivos recebidos. Relatório da Universidade de Washington, referente a experiência educacional conduzida no período letivo de 2005/2006, aponta números muito próximos: a mobilidade não era importante para 87% dos alunos que fizeram download de arquivos das aulas (KISCHINHEVSKY, 2008, p. 103). Se na época ele indicava a “febre do podcasting” como um fenômeno ainda novo e a ser avaliado, apontando como necessidade de estudos adicionais para demarcar a extensão do que chamou de campo de cultura, comunicação e entretenimento, hoje é o que se desenha diante de nossos olhos como sujeito possível de mediar, tanto para o aprendizado como para o ensino. A teoria de habitus de Bourdieu (2014), propõe o corpo como um lócus privilegiado do sujeito social, que compõe um espaço elástico, entre indivíduo/subjetividade e sociedade/objetividade. Esse meio circulante, portanto, não identifica quem é o estruturante, ou o estruturado, já que indivíduo e sociedade se constituem em tempo biográfico indivisível, sendo impossível sedimentar o que é concreto dessa realidade. Dentro da hexis corporal, que seria uma matriz incorporada para além do uso da linguagem, podemos pensar a arte da linguagem como parte nativa desse sujeito social. Para a psicossociologia, que é embebida pela psicanálise, a linguagem compõe o simbólico, que, por sua vez, espelha o sentido de que, sendo nós seres de fala, somos afetados pela dimensão da palavra, afetados pelo discurso. Somos, portanto, atravessados pela palavra e é o efeito do discurso sobre nós que nos constitui enquanto sujeitos (BarusMichel, 2005), (Azevedo, 2013). Apostamos na circularidade, onde estamos ou somos os sujeitos dos novos modos da linguagem, e seguimos a postos ao chamado virtual da Rádio UFRJ, para construir o que chamamos de um “programete”, um podcasting com duração de 5 minutos, para ir ao ar semanalmente. Tínhamos que aprender a aprender, já que nos situamos entre educadores e estudantes da área de saúde em diversos períodos da graduação. Nesse sentido, a tríade do ensino público universitário, da pesquisa e do ensino e a extensão misturaram-se como um corpo que dança para equalizar tanto a necessidade quanto a oportunidade de cultivar uma forma de produzir conteúdos para além de um aprendizado disciplinar. Utilizamos uma pedagogia da experiência, uma pedagogia profana (Larrosa, 2016), como caminhos de um fazer, de um aprender, de um ensinar através da ação, ou antes da transgressão (Hooks, 2017), ou, melhor ainda, da liberdade e da 192 autonomia (Freire, 2000). Nosso objetivo era o de falar sobre o Sistema Único de Saúde – SUS, trazendo temas informacionais ou reflexivos sobre a saúde, na sua dimensão mais ampliada. Nasce o “SUStentando a vida”, um programete de rádio, fruto de um Projeto de Extensão do Laboratório de Estudos em Atenção Primária, que já re-existe desde 2014 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, agregando estudantes da área da saúde que se compreendem como sujeitos, em que a subjetividade e a corporeidade operam em sinergia não-fragmentada. Construímos episódios organizados como diálogos ou como conversas entre três pessoas, numa linguagem coloquial, intimista, aproximativa. A decisão sobre quem irá realizar as locuções acontece na hora da leitura de um episódio, previamente escrito por qualquer membro do grupo. Quem sentir-se. convocado pela leitura, durante as reuniões semanais, é que se anuncia para a locução, reforçando a dimensão da identificação e idealização do grupo e dos sujeitos (Barus-Michel, et al, 2005), que, assim, têm a liberdade de criar, propor, refazer e repensar a produção que irá ao ar, segundo seus desejos. Simplificadamente, podemos, assim, compreender que a intersubjetividade, e, portanto, o inconsciente, operam no simbólico, na linguagem, nos significantes de todos os envolvidos em um grupo objetivado para a construção de um trabalho comum (Lévy, André, et al., 1994), (Azevedo, C.S., 2013). Os temas escolhidos para a construção e locução dos episódios refletem, portanto, a preocupação com os acontecimentos do mundo, com a cultura,, com a representação social deste mundo, onde a existência e as prioridades eleitas pelo grupo geram discursos sobre a saúde, o SUS e a Atenção Primária à Saúde no entrecruzamento com o direito à vida. Assim, como ilustração, reproduzimos aqui os temas construídos até o momento pelo grupo, lembrando que são episódios do SUStentando a vida já colocados no ar: “Não acredite no Kit covid”; “Com que máscara que eu vou”; “População em situação de rua”; “Aglomeração!”; “Homem trans e transfobia”; “covid e o isolamento respiratório domiciliar”; “Por que devo manter medidas de prevenção mesmo depois de vacinado contra a covid-19?”; “covid-19 e a descontaminação de alimentos e produtos que chegam da rua”; “covid: máscara para quê?”; “Os sintomas da covid19”; ”Vacina contra a covid-19”; ”Eu e meu corpo como ele é...”; “Agentes Comunitárias de Saúde”; “covid na favela”; “Racismo”; “Violência Obstétrica”; “Lei Maria da Penha; Medicalização da vida”; “Cultura do estupro”; “Fake news e saúde”; “Financiamento do SUS”; “Como está 193 sua alimentação?”; “Homem também precisa cuidar da saúde”; “Saúde da Família”; “Saúde do Homem”; “Saúde da Mulher”; “O SUS como um direito de todos nós”. 3. resultados observados Em seguida, como resultados observados, descrevemos, pela voz das(os) estudantes, alguns de seus relatos de experiências e afetações sobre suas participações no SUStentando a vida: Ele, estudante B: “Por nossa extensão ter um perfil multi e interdisciplinar, tenho a oportunidade de me aprofundar em temas que eu sequer teria contato na graduação de fisioterapia ou que são abordados de forma muito superficial. Como nosso foco está na divulgação e defesa do SUS como um direito e nos trabalhos desenvolvidos na APS, a variedade dos temas dos nossos episódios é quase que ilimitada. Muitos dos episódios me mobilizaram profundamente e me permitiram, em um movimento catártico, me entender melhor quanto sujeito e quanto estudante da saúde. Seja falando sobre os perigos dos produtos ultraprocessados na nossa alimentação ou dos perigos da medicalização da vida em detrimento da adoção de hábitos de vida saudáveis, sendo eu uma pessoa vegetariana e bailarino fazem com que eu me implique ainda mais nas produções dos episódios. Por termos uma agenda bem flexível e a escolha dos temas de cada episódio seguir a lógica do desejo e das afetações da vida, nosso programa anda no mesmo ritmo dos desdobramentos da saúde brasileira. Muitas produções são reações espontâneas das vivências do momento... Podemos dizer que vivemos na contemporaneidade das coisas, o que me auxilia a elaborar a realidade do cenário da saúde brasileira na medida em que ele se transforma.” Ela, estudante C: “Bem, acho que esse poema é uma boa representação do que tem sido a experiência dessa extensão para mim. Estender e resistir torna-se tão difícil no contexto em que estamos vivendo, mas vi em meio de inúmeras salas virtuais em uma caixa preta a qual nós convencionamos chamar de celular, um lugar de afetos, de encontros, de produzir, compartilhar saberes e vivências. Me lembro da vez que produzi um episódio sobre o corpo real e aqueles cinco minutos significaram muita trégua de anos contra um dado padrão de magreza, mas não é só sobre 194 as experiências pessoais que me mudaram, mas também as coletivas a uma outra relação entre professores e alunos a qual todos estão verdadeiramente interessados e preocupados no bem-estar pessoal e coletivo dos integrantes, é, com certeza, um espaço de afetos onde nos mudamos a visão que os ouvintes têm do SUS, enquanto nós mudamos nossa visão sobre os diversos temas estudados e escritos.” Ela, estudante D: “Nessa extensão me foi possibilitada a experiência dupla: de ensino - aprendizagem e protagonista - coadjuvante. Aprender e ensinar eaprendendo. Protagonizar inicialmente, através da narração de uma informação na rádio e, ao término de cada programete, me transformar em coadjuvante, transferindo ao ouvinte o protagonismo. Poder desfrutar dos ganhos oriundos de dois papéis: estudante e locutora, literalmente narrando, um processo prazeroso de aprendizagem e pesquisa, reflexionando a realidade, suas problemáticas, tensões, desigualdades e belezas. Tendo como ponto de partida e fio norteador o SUS, a Atenção Primária à Saúde e os princípios fundamentais de equidade, universalidade e integralidade que nos permitem falar, conscientizar e refletir acerca de temas múltiplos, como violência contra mulher, saúde do homem, racismo, medicalização da vida, pandemia de covid-19, fake news e tantos outros temas, e perceber que tudo está diretamente conectado. Falar, ouvir, aprender, informar... sempre nessa relação bilateral. Sempre em processo.” Ele, estudante E: “O SUS é uma dádiva da saúde brasileira, ele acolhe aqueles que precisam de assistência e que, se não fosse por ele, viveriam sem saúde básica e, dessa forma, o Brasil seria um país doente, não apenas devido aos dados estatísticos em que veríamos um aumento substancial do número de mortes, mas também porque um país que não oferece acesso ao cuidado para seus habitantes estaria com sua constituição destruída e precisando de assistência. Ou seja, quem não oferece cuidado, precisa de cuidado. Conseguimos observar, dessa forma, que o SUS é importante e necessário, por isso devemos defendê-lo, e é exatamente aí que está a importância do LEAP, um projeto de extensão que visa unir estudantes da área da Saúde para que juntos possam contribuir para a conscientização da sociedade sobre temas pertinentes à saúde pública e coletiva. O LEAP leva informação precisa para leigos e também leva temas para a reflexão com um programa de rádio semanal e descontraído. Dessa forma, nós, alunos e professores que constituem o LEAP, buscamos informar mais 195 pessoas ao nosso redor sobre saúde pública e sobre a sociedade em si, para que assim possamos cumprir nosso papel de cidadãos de cuidar do SUS e defender nosso lema que é: sustentá-lo!” Ela, estudante F: “A minha experiência com o projeto de extensão tem sido muito importante, principalmente pelo fato do meu curso abordar bastante sobre a Atenção Primária à Saúde. Sou grata por ter encontrado o projeto e estar expandindo o meu conhecimento sobre o assunto, conhecendo novos paradigmas e perspectivas sobre a pauta, ainda mais neste momento em que estamos vivendo que é a pandemia de covid-19.” Ela, estudante G: “Poderíamos pensar que a pandemia seria um fator que atrapalha a extensão, mas, na verdade, ela nos fez resistir na busca de vias remotas e amplia a produção. Participar da elaboração de episódios do LEAP tem sido uma experiência ímpar, pois é enriquecedor para nossa formação acadêmica e social todas as semanas explorar temas que muita das vezes nos tiram da zona de conforto, ampliando nossa visão, a fim de produzir conteúdos que levem as pessoas a importância do Sistema Único de Saúde e respeito às diferentes vertentes que ele abrange. Além de, nesse momento de pandemia, conseguir levar informação sobre a covid-19 e sobre a importância do autocuidado e com os próximos. Falando em cuidado, é uma questão muito presente no grupo da extensão, onde temos uma experiência para além da geração de conteúdo, onde os envolvidos verdadeiramente se importam com o bem estar um dos outros, sendo um espaço também de acolhimento”. Ela, estudante H: “Essa extensão foi imprescindível para mim, pois eu sei que, antigamente, não conseguia me expressar muito bem, porém, agora eu consigo. Além disso, tenho mais conhecimentos na área de saúde e também sobre o ambiente. Espero ter mais conhecimentos ainda nessa extensão”. Ela, estudante I: “Se pudesse definir em uma palavra esse projeto de extensão, eu o definiria como ‘relevante’. Ao contrário de grande parte da nossa formação que, às vezes, faz parecer que estamos acumulando conhecimento para passar nas provas e, apenas depois de 4 anos após pegar o diploma, a vida começou, esse projeto de extensão me deu a oportunidade de fazer algo por alguém no meio desse processo que é a graduação, participar da escrita desses textos que gravamos para ir ao ar na rádio me fez refletir e aprender sobre muitos temas que teriam passado desapercebidos 196 por mim. No processo de construção de cada episódio que vai ao ar, discutimos e nos aprofundamos nos assuntos dos textos, além de fazer os ajustes, tentando sempre uma linguagem mais abrangente, não muito técnica e ao mesmo tempo embasada em fatos e pesquisas, nós tentamos manter o equilíbrio para passar uma informação de uma maneira acessível mas não incompleta, o que não se mostrou ser fácil. Evitamos gírias, afinal, esse texto é não só para todos os lugares do Brasil, mas também para diferentes gerações, além de não podermos falar de uma maneira tão formal, afinal, ninguém falaria daquela maneira engessada na vida real. Durante esse processo, fazemos o exercício de imaginarmos diferentes realidades que as nossas, conversamos com outras opiniões, pontos de vistas, culturas, entendimentos e olhares. Tive a minha primeira experiência de gravar um texto para uma rádio, venci a vergonha, falei de uma maneira que não imaginava que poderia, me esforcei para passar as emoções do que lia para a voz, além de ter aprendido técnicas que melhoram a dicção e aquecem a voz para aquele momento. A cada gravação espero os cachorros pararem de latir, os vizinhos desligarem a música, o momento de silêncio perfeito ou o melhor que se pode conseguir morando na cidade. E, como disse no começo, a palavra que para mim define esse projeto é ‘relevância’: relevância na vida de muitas pessoas nesse momento de crise, ajudando a conter esse vírus entre muitos outros assuntos e divulgando informação confiável; relevância na minha vida, com novos conhecimentos, mais clareza em muitos assuntos e relevância na sociedade, talvez o ser humano não comece muito do que poderia começar porque sente que é pequeno demais, sempre se comparando à imensidão de problemas que o cercam. Não tenho a fantasia de estar causando um grande impacto, mas tenho a certeza de não estar alheia, nem inerte a tudo que está acontecendo, e isso, no meio de uma pandemia onde parecemos tão impotentes, faz toda a diferença, não só no entorno, mas também no coração.” 4. considerações finais O desafio de construir uma comunicação para mídias sonoras, com estudantes da área da saúde, na produção de episódios semanais para uma rádio universitária impõe um esforço para além dos desafios técnicos e tecnológicos que são enfrentados com o recurso de uma edição de som de qualidade e uma proposta flexível de apoio da equipe da Rádio UFRJ. 197 Partindo de uma pedagogia da experiência, voltada para o ensinar e o aprender através do fazer com autonomia e liberdade, fomos construindo os episódios do SUStentando a vida, em concomitância à construção de um sentido de pertencimento, de vínculo, de amorosidade e de solidariedade entre nós: estudantes e professoras. Talvez o sentido de identificação e idealização, necessários à intersubjetividade, no modo de operar do inconsciente, tenha levado-nos a lidar com os temas de escolha dos episódios como defesa da finitude, desesperança e sofrimento impostos pela covid-19. Pactuamos ressignificar sentidos na luta pela valorização da vida, na luta contra objetividades e verdades absolutas num mundo incerto e cada dia mais fechado em si mesmo. Aprendemos que entre as frestas do cultural, do simbólico e do imaginário, a produção do cuidado pode circular. referências bibliográficas AZEVEDO, Creusa da Silva (Org.). Subjetividade e cuidado em saúde: abordagens da psicossociologia. Rio de Janeiro, ed. FIOCRUZ, 2013. BARBIRATO, Paula. Podcasts e audiolivros consolidam mercado do áudio como alternativa de entretenimento durante a pandemia https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/02/4903872-pandemia-redefiniu-o-crescimento-do-consumo-de-podcasts-e-audiolivros.html Acesso em: 26 abril 2021. 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Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/s1364-6613(00)01750-2. 199 19 PROJETO CONHECENDO O CENABIO - CIÊNCIA, ARTE & EDUCAÇÃO EM PARCERIA COM A ESCOLA INKIRI: EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS FEITOS EM CASA EM TEMPOS PANDÊMICOS danIelle FerreIra sIlva Ferraz IsalIra PeroBa rezende ramos conhecendo o cenabio · gradUanda em FIsIoteraPIa - UFrJ · coordenadora do ProJeto de extensão - ciência arte & educação e dIretora de extensão do cenaBIo · gradUando em cIêncIas BIológIcas - UFrJ · gradUanda em FIsIoteraPIa - UFrJ IsaBela dUarte PaIva · gradUanda em FIsIoteraPIa - UFrJ camIla vIctórIa soUsa olIveIra · doUtora em mIcroBIologIa - UFrJ renata travassos · doUtora em BIoFísIca - UFrJ danIel meIra dos anJos · técnIco em FarmácIa do cenaBIo - UFrJ adalBerto vIeyra · dIretor geral do cenaBIo - UFrJ ronald santos sIlva ana BeatrIz vaz de araúJo resumo Diante da pandemia de covid-19, medidas preventivas foram adotadas pela população, incluindo o isolamento social, ocasionando, com isso, a suspensão das aulas presenciais. Nesse contexto, houve um destaque para o uso de metodologias de educação alternativas e complementares, em especial a educação não-formal. Sendo assim, o presente relato evidencia o papel desta modalidade de ensino por meio de ações extensionistas promovidas pelo Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio/UFRJ) em parceria com a Escola Inkiri. Foram realizadas oficinas pedagógicas, a partir da execução de experimentos científicos divertidos, utilizando materiais acessíveis e de baixo custo. Tais atividades foram desenvolvidas como instrumentos de divulgação científica, com intuito de impulsionar a popularização da ciência, despertando ainda o interesse científico no público infanto-juvenil. palavras-chave Oficina Pedagógica; Oficina Virtual; Experimento Científico On-line; Educação Não-formal; Experimentos para Crianças. 201 1. introdução A divulgação científica (DC) tem por objetivo garantir a democratização do conhecimento científico, visando a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões, contribuindo na formação de uma cultura científica que forme cidadãos ativos. Para Caldas (2010, p.39): “O conhecimento científico é parte integrante da cidadania plena e do processo de inclusão social, uma vez que possibilita ao indivíduo ter acesso às informações mínimas imprescindíveis a uma cidadania ativa e transformadora”. Dessa forma, é relevante que a sociedade tenha consciência da influência da ciência nas diversas situações cotidianas e nos vários campos do saber. Nesse contexto, é fundamental que os facilitadores da DC estejam engajados com a educação em pelo menos um de seus aspectos, a saber: i) educação formal, que é compreendida como aquela que acontece em um local definido, com conteúdos determinados, sendo garantida pela Constituição Federal de 1988 (LIMA et al, 2019); ii) educação informal, sendo aquela que não é intencional e nem organizada, sendo os conhecimentos adquiridos carregados de valores e de culturas próprias pelo processo de socialização através da comunidade e da família, portanto, ocorrendo no ambiente extraescolar (LIMA et al, 2019); e, iii) educação não-formal, que é a atividade de cunho intencional, é organizada e sistematizada como a educação formal, porém é desenvolvida em diversos espaços educativos alternativos à escola, como demonstrado por Vieira, Bianconi e Dias (2005) no seguinte fragmento: “Assim, a educação não-formal pode ser definida como a que proporciona a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal em espaços como museus, centros de ciências, ou qualquer outro em que as atividades sejam desenvolvidas de forma bem direcionada, com um objetivo definido“. (VIEIRA; BIANCONI; DIAS, 2005, p.21) E nas palavras da professora Maria da Glória Gohn (2020): “Essa concepção de educação não formal articula-se ao campo da educação cidadã – a qual, no contexto escolar, pressupõe a democratização da gestão e do acesso à escola, assim como a democratização do conhecimento. Nos processos não formais, a educação volta-se para a formação de cidadãos (as) livres, emancipados, portadores de um leque diversificado de direitos, assim como de deveres para com o(s) outro(s)”. (GOHN, 2020, p.12) 202 Logo, a modalidade de educação não-formal tem como característica a flexibilidade. Dessa forma, este modelo complementar de educação é essencial para que o processo educativo convencional deixe de perpetuar as desigualdades sociais e assuma o seu papel político-pedagógico. Sendo assim, os projetos de extensão ofertados pela universidade aos diversos setores da sociedade são uma considerável ferramenta potencializadora no processo de inclusão social, contribuindo na transformação de vida dos cidadãos. Nesse sentido, a universidade tem tentado fazer seu papel de levar informação científica de qualidade para fora dos seus muros e, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), isso ocorre por meio dos projetos de extensão desenvolvidos por seus servidores e estudantes. Ainda nesse contexto, o Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio/UFRJ), que é um centro multiusuário multidisciplinar com infraestrutura e parque de equipamentos único na América Latina, se preocupa em acolher os mais diversos tipos de investigações acerca do desenvolvimento humano e social, promovendo a transdisciplinaridade através de ações de extensão, estendendo as fronteiras da ciência. Assim, é visada a contribuição para que o indivíduo possa desenvolver habilidades de forma leve, divertida e significativa, para que se possa lidar com as tamanhas mudanças sociais que estão sendo demandadas. No atual cenário pandêmico da covid-19, a rápida disseminação do vírus SARS-CoV-2 pelo mundo obrigou a tomada de ações imediatas, fazendo com que o ensino tivesse que ser reajustado aos sistemas emergenciais de aprendizagem a distância através dos meios de comunicação remotos, mesmo sabendo ser impossível substituir o ensino presencial em todos os seus aspectos. Desta forma, as atividades dos projetos de extensão do Cenabio tiveram que ser adaptadas, o que gerou um grande desafio a ser enfrentado: reformular as oficinas pedagógicas (OPs) presenciais, já bem estabelecidas, ao modelo remoto. O que ocasionou a necessidade de novas ideias e perspectivas para a realização das OPs e para a reelaboração dos materiais didáticos utilizados para levar informação de qualidade para o público infanto-juvenil. A metodologia das OPs com as quais trabalhamos visa transmitir conhecimento de forma dinâmica e divertida, aguçando o pensamento reflexivo e crítico. Elas permitem a troca recíproca de experiências entre os educadores e os educandos. (MONTEIRO et al, 2019). Uma definição clara e objetiva acerca da finalidade desta ação pedagógica é dada por 203 Paviani e Fontana (2009, p.79) no seguinte trecho: “O professor ou coordenador da oficina não ensina o que sabe, mas vai oportunizar o que os participantes necessitam saber, sendo, portanto, uma abordagem centrada no aprendiz e na aprendizagem e não no professor.” Sendo assim, o Cenabio, se baseando numa abordagem não-formal de educação, buscou promover um debate sobre o papel da ciência com integrantes de instituições de ensino, a exemplo dos educandos da Escola Inkiri que, por se tratar de uma comunidade de aprendizagem, têm como propósito uma educação fundamentada em uma aprendizagem dialógica. Logo, se baseia na construção do conhecimento coletivo, onde todos têm algo a ensinar e onde as decisões são tomadas em conjunto, entre educandos, educadores, pais e direção. Nesse sentido, a parceria entre o Cenabio e a escola surgiu como maneira de continuar levando conhecimento para fora dos muros da universidade por meio de informação científica de qualidade, com bases teóricas confiáveis de forma lúdica e divertida. Possibilitando, assim, a realização das OPs como promoção de espaços extras de aprendizado que permitissem o diálogo e a participação de todos os envolvidos. Desse modo, as OPs foram concretizadas virtualmente através de experimentos científicos, de forma que os educandos pudessem realizá-los na cozinha da própria escola, em casa ou em qualquer outro ambiente que desejassem, uma vez que os mesmos eram simples de serem executados com materiais acessíveis e de baixo custo. Portanto, apesar das dificuldades e intercorrências do momento contemporâneo, a parceria já existente com a escola Inkiri se manteve ativa. 2. parceria cenabio e instituto inkiri O Instituto Inkiri, situado na Ecovila de Piracanga (Maraú-BA) é uma organização comunitária sem fins lucrativos que tem como objetivo colocar em prática sonhos coletivos, gerando impacto socioambiental. A Escola Inkiri, pertencente ao instituto, que em 2016 foi reconhecida pelo Ministério da Educação como referência e inovação em educação básica no Brasil, busca respeitar o desenvolvimento único de cada criança dentro do coletivo. Buscamos alimentar esta parceria por entender que a missão do Instituto Inkiri está alinhada com a linha pedagógica e extensionista do CENABIO. 204 Portanto, espaços não-formais de educação como as OPs “Ciência na cozinha – Cenabio e Inkiri” e “Ciência na Cozinha: Cores – Cenabio e Inkiri” são de suma importância, especialmente durante este período remoto de isolamento social, pois, além de aprofundar o vínculo entre a universidade e a comunidade, também promovem espaços de divulgação científica e estimulam a criatividade, argumentação e pensamento crítico, despertando o interesse pela ciência na população infanto-juvenil mediante práticas lúdicas e despretensiosas. Portanto, essa modalidade de educação, através das ações extensionistas, auxilia na construção de cidadãos críticos e conscientes, contribuindo para a popularização da ciência e a transformação social. 3. as oficinas pedagógicas “ciência na cozinha cenabio e inkiri” e “ciência na cozinha: cores - cenabio e inkiri” Foram realizadas OPs virtuais nas quais alguns experimentos científicos foram executados com a finalidade de explicar conceitos e teorias científicas aplicados ao cotidiano de forma simples e divertida. Foram realizados cerca de 10 experimentos com materiais diversos, vamos detalhar somente alguns a seguir. Vale ressaltar que, durante todo o processo, a cada experimento, os educandos foram questionados e incitados a pensar sobre o que e por que algo poderia acontecer antes do resultado final ser evidenciado. Ou seja, eles foram estimulados a desenvolver o pensamento crítico mediante àquela situação, associando a base teórica com a prática, levantando todos os porquês, com objetivo de exercitar a capacidade de fazer avaliações e julgamentos. Somente após essas discussões sobre quais alterações no sistema experimental poderiam ocorrer que o fenômeno físico-químico em questão era mencionado e debatido. 3.1 tinta invisível O primeiro deles foi denominado de “Tinta invisível” e utilizou como materiais: pincel, água, bicarbonato de sódio e suco de uva. Nesse experimento, os educandos foram instruídos a escrever uma mensagem numa folha de papel branca molhando um pincel em um recipiente contendo uma solução saturada de bicarbonato de sódio em água, que seria a tinta 205 invisível. Após alguns minutos para a secagem da folha, foi observado que a mensagem desaparece. Após isso, eles foram orientados a molhar o pincel no recipiente contendo o suco de uva concentrado e passarem sobre a folha de papel com a mensagem escondida (Figura 1A-B). A partir dos questionamentos dos educandos, o mediador pôde expor o conceito de reações ácido-base e orientar os mesmos para que percebessem que houve uma reação deste tipo no papel, gerada por uma substância natural encontrada no suco de uva, denominada antocianina. Por atuar como um indicador ácido-básico, a antocianina possui a habilidade de alterar a cor quando em contato com soluções ácidas ou alcalinas (GUIMARAES, ALVES e ANTONIOSI FILHO, 2012). Neste caso, o suco de uva (ácido) ao reagir com uma substância de caráter mais básico, como o bicarbonato de sódio, é neutralizado, provocando a mudança na cor do papel e revelando a mensagem oculta. 3.2 descascando o ovo com vinagre O experimento, que foi denominado “Descascando o Ovo com Vinagre”, teve como objetivo observar o processo de difusão, um fenômeno que se resume na passagem das moléculas do soluto, do lugar de maior para o de menor concentração, que se dá através de uma membrana semipermeável com o objetivo de estabelecer um equilíbrio (CONTE, 2002). Foram utilizados: água, vinagre branco, ovos do mesmo tamanho e recipientes de vidro. Em um recipiente, foi colocado o vinagre branco, no outro foi colocada água e no último não foi colocado nada. Após um ovo ser colocado em cada um dos recipientes, foram feitas perguntas para aguçar a criticidade das crianças. i) Há formação imediata de bolhas? Se sim, qual seria a razão?; ii) Os ovos possuirão o mesmo tamanho ao final do experimento? A partir daí começaram as discussões com os educandos sobre o que estava acontecendo. Foi explicado que a casca do ovo é formada por carbonato de cálcio (CaCO3), que possui caráter básico, e o vinagre é composto por uma solução aquosa de ácido acético (H3C-COOH) e todo carbonato reage na presença de ácidos, gerando gás carbônico (CO2); por isso observa-se a formação de bolhas ao redor da casca do ovo (ATKINS e JONES, 2006). Ao final de três dias, o ovo imerso no vinagre ficou sem a casca, uma vez que a mesma foi consumida na reação com o ácido acético. Sendo assim, o ovo ficou envolvido apenas por uma membrana e apenas o ovo que estava submerso no recipiente com vinagre aumentou 206 de tamanho. Isso ocorreu devido à difusão, na qual as moléculas de água do vinagre passam pelos poros da membrana semipermeável ao redor do ovo; assim, a água sai do meio menos concentrado (vinagre) para o mais concentrado (interior do ovo), aumentando seu tamanho inicial. Já o ovo imerso apenas na água continuou com a casca e com o mesmo tamanho que o ovo contido no recipiente “controle”, o que não continha nem água nem vinagre. (Figura 1C-E). 3.3 tensão superficial da água Outro experimento realizado foi “tensão superficial da água”, tendo por objetivo demonstrar a coesão das moléculas que ficam na superfície de um pequeno volume de água, formando uma película invisível que impede que o pequeno volume se espalhe livremente. Para isso foram utilizados: um prato de cor clara contendo um pouco de água, canela em pó e sabão líquido ou detergente. Foi solicitado que os educandos espalhassem a canela sobre a água no prato e, então, um dos participantes deveria encostar a ponta do dedo indicador na superfície da água e todos deveriam observar o que aconteceria. Na sequência o participante passaria um pouco do sabão líquido na ponta do dedo e repetiria o movimento, observando novamente o ocorrido. Neste procedimento, pode-se observar que, ao colocar o dedo seco sobre a canela, ela não é repelida, porém, ao colocar o dedo com sabão, ocorre a repulsão da canela, como é possível observar na figura 1F-H. Isso ocorre devido à capacidade que os tensoativos (sabões e detergentes) possuem para diminuir a tensão superficial da água. Também foi discutido sobre as moléculas serem unidades formadoras das substâncias químicas, que essas interagem entre si e que, na água, essa interação é mais forte na superfície, pois as moléculas que estão no interior do líquido são atraídas em todas as direções pelas moléculas vizinhas, enquanto as que estão na superfície sofrem apenas atrações laterais e internas, resultando em uma força vetorial que faz a interface da água com o ar se comportar como uma película elástica (HUSMANN e ORTH, 2015). Correlacionou esse a outros fenômenos da natureza, como as gotas de orvalho sobre as plantas, os insetos que caminham sobre as águas e a remoção da sujeira e microrganismos quando lavamos as mãos com água e sabão. 207 3.4 as cores não se misturam O experimento “as cores que não se misturam” teve por objetivo demonstrar as correntes de convecção na água. Foram utilizados quatro copos de plástico transparente, água quente, água fria e corantes alimentícios azul e vermelho. Em dois copos foram colocados água quente e corante vermelho e, nos outros dois copos, água fria e corante azul (Figura 1I). Em seguida, um pequeno pedaço de plástico foi colocado sobre o copo com corante azul, este foi vertido sobre um copo contendo água e corante vermelho e, então, foi solicitado que se observasse o que acontecia. Em seguida, foi realizado o mesmo procedimento, porém, o segundo copo com corante vermelho foi colocado sobre o segundo copo com corante azul. O mediador incitou os estudantes a darem suas explicações sobre o ocorrido e, em seguida, esclareceu que os fluidos, neste caso a água, variam a densidade em função da variação da temperatura de maneira inversa, ou seja, quanto maior for a temperatura menor será a densidade e vice-versa (OLIVEIRA, 2018). Logo quando colocamos a água com corante azul sobre a água com corante vermelho, elas se misturam, pois a água com corante azul está fria e possui densidade maior do que a água quente e tende a descer, provocando a mistura dos líquidos (Figura 1J). Porém, quando se coloca a água com corante vermelho sobre a água com corante azul, elas não se misturam, porque a água com corante vermelho está quente e possui menor densidade, permanecendo separada na parte superior (Figura 1K). Este fenômeno pode ser observado quando refrigeramos um ambiente com ar condicionado, sendo que o ar frio tende a descer e o ar quente a subir, por isso recomenda-se que os aparelhos de ar-condicionado sejam instalados mais próximos ao teto do que do piso. Observação: este experimento foi realizado pelo mediador para evitar acidentes durante a manipulação da água quente. 3.5 capilaridade da água e cores secundárias Neste experimento, o objetivo é observar dois fenômenos: a capilaridade da água e a mistura das cores primárias, gerando uma secundária. O sistema é montado com três copos: dois contendo água, um deles com corante azul e o outro com corante verde; o terceiro copo, é posto entre os dois primeiros e é deixado sem líquido. Uma folha de papel toalha é arranjada de maneira a estar em contato com o líquido dos dois copos, 208 sendo criada uma depressão no papel em direção ao terceiro copo vazio. Como as fibras de celulose do papel, a água e os corantes são substâncias polares, os líquidos irão se distribuir pelo papel toalha, se encontrar e se misturar na região do terceiro copo. Por causa da gravidade, a mistura irá se depositar no terceiro copo, na região da depressão, e adquirir uma coloração verde, devido à mistura dos corantes azul e amarelo (Figura 1L). Figura 1 - (A-B). Tinta invisível. Papel após escrita com a tinta invisível - bicarbonato de sódio (A) e após a revelação com o suco de uva (B). (C-E). Descascando o ovo com vinagre. Copo 1 - ovo sem nada; Copo 2 – ovo na água; Copo 3 – Ovo no vinagre. 5min (C) e 72h (D) após os ovos serem colocados nos copos. (E) Diferença de tamanho entre os ovos dos copos 3 (imerso no vinagre) e 2 (imerso na água), respectivamente, 209 72h após o início do experimento. (F-H) Testando a tensão superficial em prato com canela polvilhada na superfície da água (F). Após a introdução de um dedo seco, não foi capaz de romper a tensão superficial (G). Já com dedo com sabão a tensão superficial foi rompida e a canela foi repelida. (H). (I-K) Experimento As cores não se misturam mostrando a água fria (azul) e a água quente (vermelho) separadas (I). Quando a água gelada está por cima da água quente, como a água gelada é mais densa, tende a descer e misturar as cores (J). Quando a água quente está por cima da água gelada, como a água quente é menos densa, elas não se misturam (K). (L) Experimento Capilaridade da água e Cores Secundária mostrando os copos ligados por um papel toalha, se movimentando por capilaridade e formando novas cores. 4. relato das experiências Educadora responsável - Marina Negri: “Nos tempos em que ainda fazia parte da universidade e comecei a fazer estágios no mundo da educação, pude observar com muito desconforto o abismo que há entre o conhecimento acadêmico científico e o mundo de fora, o dia a dia das escolas. Muito do que é produzido e experienciado dentro das universidades acaba ficando encerrado em si mesmo, nos pequenos campos acadêmicos e congressos entre pares. Por isso, valorizo muito iniciativas e projetos que buscam romper essas barreiras. Foi muito gostoso poder ver essa ponte entre universidade e mundo acontecendo através das oficinas do Cenabio. Foi um prazer ver as crianças animadas, tendo acesso a um mundo que desconheciam, conhecendo pessoas que fazem parte da universidade, se inspirando e podendo brincar e aprender através do lúdico, se divertindo, além de começar a refletir sobre ciência contextualizando com vivências e materiais da vida diária. Também foi interessante ver como os integrantes do Cenabio eram afetados por essa interação, podendo também conhecer um novo mundo e novas linguagens com as crianças, que são ótimos mestres para ensinar sobre o que pulsa de curiosidade dentro delas”. 5. considerações finais Todos os integrantes da equipe de extensão do Cenabio que participaram das ações descritas, relataram que sentiram-se prestigiados por fazerem parte desta considerável missão de divulgar a ciência para além 210 dos muros da Universidade, particularmente no momento atual de isolamento social gerado pela pandemia de covid-19. Foi realmente um intercâmbio de experiências entre os extensionistas e os educandos da Escola Inkiri. Além do mais, o planejamento para a elaboração das oficinas, os encontros semanais para discussão “do que” e “como” certo tema poderia ser abordado e as discussões abertas sobre as novas ideias enalteceram a importância do trabalho em equipe, da produção colaborativa e da superação dos obstáculos oriundos do ensino remoto, sendo de grande aprendizado pessoal e profissional para todos os envolvidos neste projeto. Como visto no feedback da escola, o aprendizado e a troca foram mútuos e intensos, atiçando a curiosidade dos educandos mais ainda e estimulando a construção do conhecimento por meio de experimentos simples feitos na cozinha da escola de forma colaborativa e lúdica. Desse modo, acredita-se que todos deixaram um pouco de conhecimento e aprenderam um pouco mais. Como dito por José de Alencar: “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.”, de acordo com a equipe, essa frase resume bem a perseverança e determinação que todos tiveram durante esse período tão atípico onde cada vez é mais necessário unir forças pela educação. referências bibliográficas CALDAS, Graça. Divulgação científica e relações de poder. Informação & Informação, v. 15, n. 1esp, p. 31-42, 2010. doi: http://dx.doi.org/10.5433/ 1981-8920.2010v15n1espp31. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index. php/informacao/article/view/5583. Acesso em: 08 abr. 2021. CONTE, Camille M. Transporte através das membranas biológicas. Brasília, 2002. 28 p. Tese (Licenciatura em Ciências Biológicas) - Faculdade de Ciências da Saúde, Centro Universitário de Brasília. DA GLÓRIA GOHN, Maria. Educação não formal: Direitos e aprendizagens dos cidadãos (ãs) em tempos do coronavírus. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 7, p. 9-20, 2020. 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Acesso em: 08 abr. 2021. 212 20 “QUEM TEM MEDO DO CORONAVÍRUS?”: LUDICIDADE E ESPERANÇA EM TEMPOS PANDÊMICOS melIssa rIBeIro teIxeIra · coordenadora do ProJeto de extensão rede, territó- rio e atenção psicossocial de crianças e adolescentes: estratégias para a promoção da saúde mental · gradUanda em PsIcologIa - UFrJ · gradUanda em teraPIa ocUPacIonal - UFrJ Fernanda moreIra vaz oUrIqUe de avIla · Pós-gradUanda em atenção PsIcossocIal na InFâncIa e adolescêncIa - UFrJ lUIsa BIasolI de mello rezende · gradUanda em PsIcologIa - UFrJ gaBrIela BrIto soUto maIor · gradUanda em teraPIa ocUPacIonal - UFrJ helena Frohmüller strattner · Pós-gradUanda em atenção PsIcossocIal na InFâncIa e adolescêncIa - UFrJ PatrIcIa alcantara de olIveIra · gradUanda em desIgn IndUstrIal - UFrJ amanda olIveIra FerreIra · mestre em atenção PsIcossocIal - UFrJ BarBara vasconcelos maIa Forte Isadora sUassUna coUto rIBeIro resumo Com as medidas de distanciamento social impostas a fim de frear a velocidade de transmissão do novo coronavírus, o Projeto de Extensão Universitária Estratégias para a promoção da saúde mental precisou adaptar suas atividades desenvolvidas presencialmente para a modalidade remota. O presente trabalho visa apresentar as ações realizadas pela equipe diante deste cenário de mudança abrupta do cotidiano. Tendo em vista a ludicidade como estratégia promotora de saúde mental infantojuvenil, a adaptação do Projeto se deu a partir da criação de materiais lúdicos e Rodas de Conversa virtuais. A elaboração das atividades descritas ao longo deste trabalho possibilitaram a ampliação de uma rede de apoio mútuo entre a equipe, tornando-se fundamental para a produção das ações e para enfrentamento da atual conjuntura sanitária. palavras-chave Promoção da Saúde Mental; Crianças e Adolescentes; Pandemia; Ludicidade; Atenção Psicossocial. 213 1. introdução A promoção da saúde mental é um processo de fortalecimento de pessoas e comunidades para que possam viver de forma saudável (OMS, 2005; BRASIL, 2013). Ações promotoras de saúde mental visam favorecer o sentimento de pertencimento e reconhecimento social, cultural e comunitário. No caso de crianças e adolescentes, isso se baseia na construção de espaços lúdicos e de convivência que lhes permitam encontrar soluções para os impasses, criar estratégias para lidar com as dificuldades e valorizar a diversidade, além de desenvolver o respeito, a solidariedade e a socialização. Inserida no Projeto “Rede, Território e Atenção Psicossocial para Crianças e Adolescentes: compartilhamento e colaboração intersetorial” – proposto pelo Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas de Saúde Mental (NUPPSAM/ IPUB/ UFRJ) em parceria com o Departamento de Terapia Ocupacional (FM/ UFRJ) e com a Rede Pública de Saúde, assistência social, educação e organizações não governamentais (ONGs) –, a ação de Extensão Universitária Estratégias para a promoção da saúde mental realiza, desde 2017, atividades nos territórios das Clínicas da Família Santa Marta, Pavão-Pavãozinho-Cantagalo e no Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. A linha de ação comum traçada entre os setores que compõem a rede pública ampliada de saúde mental, sem descaracterizar seus respectivos mandatos, é fundamento essencial para responder a diferentes demandas relacionadas à saúde mental de crianças e adolescentes. A intersetorialidade – podendo ser definida como “práticas contextualizadas, sendo apoiada por diferentes atores sociais e relativa a problemas reais e, portanto, somente por meio destes pode ser empreendida” (TANO; MAKAMURA. 2019, p. 3) – favorece a corresponsabilização pelo cuidado e garantia dos direitos na prática cotidiana. O Projeto busca construir ações regulares de promoção da saúde mental infantojuvenil em consonância com as necessidades de cada território, a partir da implementação de espaços de ludicidade, convivência e criação para crianças e adolescentes. A equipe do projeto é formada por estudantes dos cursos de graduação de Psicologia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além do curso de especialização em Atenção Psicossocial na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da mesma universidade (IPUB/UFRJ). 214 No período anterior à pandemia, o Projeto desenvolveu práticas continuadas nos territórios citados, por meio de atividades durante o recreio escolar. Tais atividades visavam promover um espaço de convivência, possibilitando que os estudantes construíssem – por meio de atividades lúdicas – formas de ampliar experiências de pertencimento sociocomunitário, nas quais compartilhavam suas dificuldades e reconheciam modos de enfrentá-las. O presente trabalho trata-se de um relato de experiência e tem como objetivo descrever as ações realizadas pela equipe do Projeto diante do cenário de mudança abrupta do cotidiano no ano de 2020. Para tal, serão utilizados registros dos cadernos de campo das Extensionistas e Especializandas, atas de reuniões da equipe e relatórios do Projeto. 1.1 adaptação do projeto para a mobilidade remota Em março de 2020, a OMS decretou a situação de pandemia decorrente da covid-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, o novo coronavírus (OPAS, 2020). No mesmo mês, o governo do Estado do Rio de Janeiro instituiu o fechamento de diversos serviços e atividades consideradas não essenciais, além de outras medidas de contenção da transmissão do vírus1. O modo de trabalho como conhecíamos e estávamos acostumadas não era mais possível, e foi preciso pensarmos juntas – coordenadoras e alunas – como iríamos trabalhar a partir de então. Nossas ações, antes essencialmente presenciais, possíveis por meio do encontro com as crianças dentro do espaço das creches e escolas, precisaram ser adaptadas à modalidade remota devido à necessidade de distanciamento social e ao fechamento dessas instituições como formas de controlar a transmissão do novo coronavírus. Assim, com a reestruturação de nossas ações, passamos a realizar encontros semanais virtuais com a equipe do Projeto para o planejamento e a supervisão das atividades, e encontros quinzenais virtuais para estudos e discussões de leituras relacionadas à promoção da saúde mental, visando à formação das extensionistas. A partir da compreensão da ludicidade como estratégia para o cuidado e para a promoção da saúde mental infantojuvenil, começamos a 1 Decreto Nº 46.973, de 16 de março 2020 (DOERJ 17/03/2020) - reconhece a situação de emergência na saúde pública do estado do Rio de Janeiro em razão do contágio e adota medidas de enfrentamento da propagação decorrente do novo coronavírus (covid-19), e dá outras providências. 215 elaborar materiais lúdicos virtuais para serem compartilhados com as crianças e adolescentes do território. Dentre esses materiais produzidos inicialmente, podemos destacar os cartazes de brincadeiras simples e acessíveis (Figura 1), possíveis de serem realizadas em casa, e o livreto educativo “Quem tem Medo do Coronavírus?”, elaborado com o intuito de informar as crianças de maneira leve e lúdica sobre o coronavírus, a pandemia de covid-19 e os cuidados necessários, como o uso de máscaras e a higienização das mãos. A princípio, esses materiais eram compartilhados apenas pelas professoras das escolas e creches parceiras, por meio de canais virtuais como grupos de WhatsApp e Facebook. Em um segundo momento, o projeto passou a ter uma conta no Instagram2, na qual esses e outros materiais produzidos começaram a ser disponibilizados. A partir do Instagram, é possível acessar também publicações informativas sobre assuntos relacionados à atenção psicossocial, com ênfase na promoção de saúde mental de crianças e adolescentes, além do livro digital “Brincadeiras em Tempos de Pandemia”, organizado como um apanhado de todas as brincadeiras publicadas, com o objetivo de ampliar a sua divulgação e facilitar o seu acesso por todos. A utilização do Instagram como ferramenta de divulgação das ações do Projeto e dos conteúdos produzidos nos permitiu alcançar um maior número de pessoas. Além dos professores, estudantes e demais interessados pelo campo da atenção psicossocial, nossas publicações podem ser facilmente acessadas também pela população em geral. Um dos nossos objetivos foi conseguir acessar principalmente os moradores do território do Projeto, que não necessariamente possuem um conhecimento prévio formal acerca dos serviços e dos conceitos acadêmicos relacionados ao campo. A construção do diálogo entre o senso comum e o saber científico torna-se fundamental para a construção e compartilhamento das informações, sobretudo para a valorização de narrativas que não são oriundas da universidade. Germano (2011) afirma que o processo de comunicação do saber supõe a diferença entre os atores envolvidos, diferença esta que não deve ser reconhecida meramente como uma assimetria ou um deficiência a ser suprimida (GERMANO, 2011, p.15). Levando em consideração a pandemia de covid-19 e suas consequências no cotidiano, o projeto começou a promover Rodas de Conversas 2 O instagram do projeto pode ser acessado através do link: https://www.instagram.com/promocaodesaudemental/ 216 virtuais como mais uma estratégia remota para o período de isolamento social. As Rodas de Conversas constituíram-se como encontros virtuais com os estudantes, visando à manutenção dos vínculos afetivos e à criação de um espaço lúdico, de maneira a auxiliar na promoção da saúde mental das crianças do território. 2. ludicidade como estratégia de cuidado 2.1. compartilhamento virtual das brincadeiras O Projeto buscou produzir materiais lúdicos a serem compartilhados com o público-alvo, como forma de transformar nossas atividades em um formato on-line, sem comprometer o cuidado com as crianças e os adolescentes. Segundo Meirelles (2015), o brincar é espontâneo para a criança, sendo um elemento essencial da infância, pois, ao brincar, ela expressa seus sentimentos e desejos, conecta-se com sua família e comunidade e, ainda, desenvolve imaginação e criatividade. Logo, incentivar a brincadeira é auxiliar no processo de desenvolvimento, contribuindo para sua saúde. Dessa maneira, nosso objetivo consistiu em promover a saúde mental de crianças e adolescentes, tendo em vista a mudança abrupta do cotidiano decorrente do isolamento social, proporcionando o incentivo ao brincar. Para isso, fizemos o levantamento de atividades lúdicas para crianças e adolescentes, para posterior compartilhamento do passo a passo de brincadeiras adequadas para esse momento, fáceis de serem feitas e que exigem nenhum ou pouco material, preferencialmente sendo este reciclável e de fácil aquisição. As brincadeiras encontradas, que porventura demandavam materiais de maior custo para sua confecção, difíceis de serem adquiridos, ou que ainda apresentavam vocabulário complexo, passavam por um processo de adaptação para uma linguagem acessível e substituição dos materiais por objetos de mais fácil aquisição ou de uso cotidiano. Após esse mapeamento, houve a produção de cartazes virtuais e audiodescrição3 desses conteúdos, para torná-los acessíveis às pessoas que 3 Segundo Mayer e Pinto (2017), a audiodescrição se configura como uma forma de mediação entre videntes e não videntes, através do objetivo de auxiliar pessoas com deficiência visual a terem um acesso ampliado às informações visuais fornecidas. No conteúdo audiodescrito são abordadas as descrições mais significantes contidas nas obras, como: cenários, ícones, mudanças de panorama, expressões e características físicas. 217 não podem ou não conseguem ler. A audiodescrição foi uma importante estratégia para as ações do Projeto, levando em consideração as possíveis dificuldades das crianças e seus familiares em acompanhar os materiais compartilhados. Nossa proposta foi compartilhar semanalmente um novo cartaz de brincadeira e um vídeo com audiodescrição de todos os elementos contidos no cartaz em questão. Este material seguia um mesmo formato e esquemas gráficos semelhantes, para que trouxessem uma identidade visual que remetesse ao Projeto, como forma de manutenção do vínculo. Esses vídeos foram compartilhados nos grupos de WhatsApp e também adicionados ao canal do YouTube do Projeto, em playlists separadas pelas categorias “brincadeiras para crianças pequenas” e “brincadeiras para crianças maiores”. Posteriormente, foram compartilhados também em nosso perfil do Instagram. A partir da proposta da elaboração de cartazes, foi necessário o uso do software Photoshop. Essa decisão, de início, foi um desafio, pois a equipe possuía pouquíssima ou nenhuma experiência com o programa, além de não estar familiarizada com os recursos que ele oferecia. Num momento posterior, a equipe se organizou em grupos de trabalho, maximizando a participação de cada integrante nas atividades (algumas extensionistas ficaram responsáveis pelo levantamento e adaptação dos cartazes, enquanto as demais ficaram responsáveis pela sua elaboração, utilizando o software. Nesse período, alguns vídeos instrutivos foram gravados com o intuito de serem pequenos tutoriais, permitindo que houvesse uma troca de informações e de aprendizado dos recursos do Photoshop. Além disso, como uma estratégia de potencializar essa construção, algumas reuniões contaram com a participação de estudantes de outras áreas, como design gráfico, que agregaram significativamente em várias vertentes do projeto, permitindo que as produções se tornassem cada vez mais ricas e consistentes. A partir dessa necessidade, atualmente o projeto conta também com a participação de uma aluna extensionista do curso de Design. Para a confecção do livro digital intitulado “Brincadeiras em Tempos de Pandemia”, optamos por um material interativo, de forma que a acessibilidade por meio da audiodescrição fosse garantida. Ao lado do título de cada brincadeira, encontra-se um ícone que remete a um alto-falante, que redireciona a criança para nosso canal do YouTube, onde se encontra a leitura do passo a passo da brincadeira escolhida. 218 Nessa perspectiva, o desenvolvimento dos materiais lúdicos surgiu reafirmando o intuito de encorajar o brincar como uma estratégia potente para auxiliar crianças e adultos a enfrentarem as mudanças do cotidiano. 2.2. rodas de conversa virtuais As mudanças que a interrupção abrupta do cotidiano produziram podem incidir no aumento de sofrimento e/ou de agravos à saúde mental (NEUMANN et al, 2021), exigindo o desenvolvimento de estratégias de apoio e a organização de um conjunto de ações para mitigação dos efeitos negativos da pandemia. Nesse sentido, a equipe do Projeto propôs uma ação, com base no Programa Saúde na Escola, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que, no segundo semestre de 2020, convocou profissionais da saúde a construir junto às escolas atividades virtuais de promoção de saúde4. Em parceria com uma das escolas que já estávamos vinculadas e com a Clínica da Família referenciada ao território onde a escola está inserida, propomos realizar rodas de conversas virtuais, mediadas por profissionais da saúde mental, com o objetivo de criar um espaço onde os alunos do 5° ano do Ensino Fundamental I poderiam compartilhar suas experiências durante o período de isolamento social e afastamento escolar. Entre novembro e dezembro de 2020, realizamos encontros quinzenais com duração de uma hora. As rodas de conversa aconteceram através da plataforma Google Meet e contaram com a presença de parte da equipe do Projeto, a professora do 5° ano e a psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do território. Tivemos, em média, a participação de 9 alunos nas rodas de conversa e, apesar de representar menos de 15% do total de alunos do 5° ano, surpreendeu positivamente a equipe da escola. Vale ressaltar que, para participar do encontro virtual, era preciso a disponibilidade de um aparelho celular ou computador com acesso à internet, o que verificamos não ser a realidade da maioria dos alunos dessa escola. No entanto, mesmo alcançando poucas crianças, acreditamos que os encontros tenham sido um momento de respiro em meio ao caos, possibilitando um espaço para “matar as saudades” dos colegas e professora e brincar junto, ainda que de forma virtual. 4 Portaria nº 564, de 08 de julho de 2020 (DOU 30/07/2020) - inclui na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS, o procedimento da Atenção Primária no âmbito do Programa Saúde na Escola (PSE) “Prevenção à covid-19 nas Escolas”. 219 Escolhemos realizar a ação com turmas do 5° ano por ser um período de transição entre Ensino Fundamental I para o II e representar o encerramento concomitante ao início de um novo ciclo escolar, experiência que carrega suas particularidades, expectativas, dificuldades e entusiasmos. Esse trabalho favoreceu o compartilhamento das dificuldades encontradas pelas crianças nesse momento conturbado, bem como a troca de estratégias para o enfrentamento dos problemas. 3. o que aprendemos em nossa experiência Por consequência das medidas de distanciamento social, a continuidade dos encontros remotos como a forma mais viável de comunicação foi importante na construção do vínculo entre a equipe do projeto que, em maioria, ainda não se conhecia ou não havia trabalhado em parceria. Conforme as reuniões ocorriam, começaram a ser mais comuns as trocas mais sensíveis sobre como cada membro estava se sentindo e lidando com as grandes incertezas sobre esse momento que nunca fora vivenciado, e como tudo isso refletia em toda a equipe. Essas trocas propiciaram a construção de uma rede de apoio mútuo que se tornou cada vez mais forte e essencial para que o grupo desenvolvesse ainda mais o seu propósito de promover a saúde mental durante esse momento tão complicado. As iniciativas para a elaboração de um planejamento cuidadoso das atividades que precisavam ser desenvolvidas e da reinvenção de todo o cronograma foram essenciais para dar sentido ao cotidiano. A presença de atividades foi fundamental para um sentimento de pertencimento e de menor passividade dentro do nosso grupo, pois elas surgiram como uma estratégia de enfrentamento à ansiedade decorrente da quebra da rotina no contexto pandêmico. Além disso, essas iniciativas também auxiliaram imensamente a equipe a seguir de uma forma coerente, criativa, com bastante diálogo e força para desenvolver novos planos. É importante salientar que cada encontro foi extremamente singular. Toda a arquitetura do projeto e o afeto da equipe permitiu que o grupo conseguisse se reinventar a cada momento, considerando assim todos os risos, as palavras de apoio, a apresentação dos animais de estimação, por meio do compartilhamento de cada universo singular. Ao longo de 2020, pudemos perceber não só a importância do brincar e da ludicidade para a saúde mental de crianças e adolescentes, mas também 220 a sua importância para a nossa saúde mental. As reuniões de equipe e os momentos de produção das brincadeiras nos permitiram espaços de sentido, acolhimento e imaginação, e, por isso, foram extremamente importantes, principalmente durante os tempos de pandemia que estamos vivendo. O projeto permite a construção de suas ações de maneira coletiva e interdisciplinar, além de proporcionar a vivência e o entendimento de como se dá na prática a dimensão intersetorial do cuidado e a dinâmica entre as instituições e seus profissionais. Assim, pudemos entrar em contato com diferentes saberes, profissionais e perspectivas, e aprender um pouco da prática das ações de cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes no âmbito da saúde pública. A horizontalidade do cuidado que a ação busca promover e a consequente quebra da hierarquia do saber acadêmico versus saber popular nos impulsiona a uma escuta atenta e não reducionista ao público-alvo de nossas ações e um fazer sensível aos diversos atravessamentos que estão para além do que a teoria alcança, e apenas as trocas diárias e vínculos construídos permitem perceber. Além disso, todas as ações realizadas permitem a compreensão de como os saberes se tornam ainda mais potentes quando há uma transversalidade entre eles. E, juntamente com as experiências vivenciadas, eles se cruzam e fomentam novas reflexões acerca do que é constantemente estudado somente em teoria, possibilitando um constante enriquecimento durante a trajetória acadêmica. referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Caminhos para uma política de saúde mental infantojuvenil. Brasília: MS; 2005. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 176 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34). GERMANO, M. Uma nova ciência para um novo senso comum. Campina Grande: Eduepb, 2011. MAYER, Flávia; PINTO, Julio (Org.). Perspectivas contemporâneas em Audiodescrição. 1. ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2017. MEIRELLES, R. (org.). Território do brincar: diálogo com escolas. São Paulo: Instituto Alana, 2015. (Coleção Território do Brincar). 221 NEUMANN, A. L., KALFELS, F. M., SCHMALZ, F., et al. Impacto da pandemia por covid-19 sobre a saúde mental de crianças e adolescentes: uma revisão integrativa. Pandemias: Impactos na sociedade, v. 6 , p. 56-66, 2020. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). OMS afirma que covid19 é agora caracterizada como pandemia. [Internet] 11 março 2020. [Acesso em 28.04.2020]. 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Brincadeiras em Tempos de Pandemia. 2020. Disponível em: <https://drive.google.com/ file/d/1ZPftrr8LNZItoVurkV0556GUmgCQljoV/view> 222 anexo Figura 1 - Um dos cartazes de brincadeira 223 21 SAÚDE DA MULHER: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO DURANTE A PANDEMIA gIUlIa reIs loPes gradUanda em PsIcologIa - UFrJ kIara rodrIgUes herInger gradUanda em enFermagem e oBstetrícIa - UFrJ-macaé carla crIstIna da sIlva sant’ana gradUanda em enFermagem e oBstetrícIa - UFrJ-macaé lara PInheIro loPes gradUanda em medIcIna - UFrJ-macaé helene nara henrIqUes Blanc docente em PatologIa geral - UFrJ-macaé mIlena BatIsta carneIro docente em PatologIa geral - UFrJ-macaé taís FontoUra de almeIda docente e coordenadora do grUPo germInar resumo Na pandemia, as atividades de extensão se reinventaram para continuar constituindo uma ponte entre universidade e comunidade. O projeto de extensão Vivências e apoio aos primeiros 1000 dias de vida realizado pelo Germinar objetiva dialogar sobre a saúde da mulher, principalmente sobre temas relacionados à reprodução e ao nascimento. Para manter-se ativo, o projeto trouxe diversas programações em suas redes sociais. O objetivo deste relato é discutir sobre a importância destas atividades durante a pandemia. Os debates foram mediados por profissionais da saúde que levaram à comunidade, de maneira democrática, conhecimentos técnicos importantes sobre os temas abordados. Concluímos que o Germinar pode dialogar e alcançar um público maior e mais diverso, tendo cumprido seu papel social durante esse período desafiador. palavras-chave Reprodução; Direito à Informação; Nascimento; Maternidade. 225 1. introdução Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a covid-19 como uma pandemia. Essa doença é decorrente da infecção pelo vírus SARS-CoV-2, sendo seus sintomas variados: desde um resfriado a uma Síndrome Respiratória Aguda Grave-SRAG (OMS, 2020). Por conta da gravidade da nova enfermidade, aliada a sua elevada transmissibilidade, no dia 13 de março de 2020, a Universidade Federal do Rio de Janeiro suspendeu suas atividades presenciais por tempo indeterminado (UFRJ, 2020). O isolamento social, medida primordial para conter a transmissão do SARS-CoV-2, corroborou morbidades psicológicas no tecido social (HENRIQUES; DIAS 2020); somam-se ainda sentimentos de medo, de angústia e de incertezas perante a contaminação e o desenvolvimento da doença. Consequências socioeconômicas e políticas também estiveram presentes, impactando de forma mais severa grupos vulneráveis (MOUTINHO, 2021). Ao mesmo tempo em que o corpo social, inclusive a comunidade acadêmica, isolou-se em suas residências na tentativa de se proteger e conter o avanço da covid-19, a demanda da população por informações e por orientações confiáveis cresceu perante o contexto vigente de crise sanitária, no qual diversos setores da sociedade foram acometidos (MARQUES, 2020). Destaca-se entre essas demandas emergentes a questão da saúde materno-infantil, devido aos empecilhos da coexistência entre a pandemia e a gestação/puerpério (CARDOSO et al., 2021). Nesse sentido, dúvidas da população acerca da amamentação e do parto no contexto pandêmico foram frequentes. A partir desse cenário desconhecido, os projetos de extensão da UFRJ buscaram formas alternativas de dar continuidade às suas ações. A tecnologia e os meios digitais surgem como aliados para garantir os encontros entre os docentes e os discentes, além de portal de comunicação para todos. Mas, como pensar a extensão universitária na atualidade frente à crise sanitária do novo coronavírus? Entende-se atividades extensionistas como um processo que, pautado no princípio da indissociabilidade e atuando de maneira interdisciplinar, científica, educativa, cultural e política, viabiliza trocas transformadoras entre a sociedade e a universidade (FORPROEX, 2012). Segundo FORPROEX (2012), é objetivo da extensão partir para a solução dos grandes problemas sociais do país. Portanto, faz-se necessário uma 226 mobilização para dar continuidade aos projetos, aos cursos e às pesquisas da UFRJ, mesmo que de maneira remota. O presente trabalho trata-se de um relato sobre as experiências do projeto de extensão realizado pelo Germinar (Grupo de Estudos em Reprodução e Nascimento) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Campus Macaé, durante o contexto pandêmico, cujo objetivo é descrever como se desenvolveram as atividades adaptadas via plataformas digitais frente aos desafios do momento. Perante o cenário mundial, o Germinar se reorganizou e se reinventou a fim de manter o pilar extensionista de transformação da sociedade, inclusive, e principalmente, no período atual que é repleto de incertezas. Durante o distanciamento social e o enfrentamento da pandemia, o grupo visou garantir, de forma remota, a comunicação com o público, o entendimento de suas demandas e o compartilhamento de informações pautadas na ciência sobre temas como saúde da mulher e, em especial, reprodução e nascimento, articulando-os, prioritariamente, com a crise de saúde pública da covid-19. Dessa forma, com muito afinco, criatividade e resistência, o projeto pode continuar a interação sociedade-comunidade e garantir esta troca de saberes tão necessária. 2. objetivos O objetivo principal do projeto de extensão Vivências e apoio aos primeiros 1000 dias de vida realizado pelo Germinar - Grupo de Estudos em Reprodução e Nascimento - é levar ao nosso público-alvo informações atualizadas e de qualidade a respeito da realidade obstétrica brasileira, da medicalização, da assistência ao parto, da amamentação, do empoderamento feminino e materno e de muitos outros tópicos que envolvem a saúde da mulher. 3. metodologia No período anterior à pandemia de covid-19, todas as atividades do projeto de extensão ocorriam de maneira presencial, exceto a divulgação semanal de conhecimento científico através de plataformas e de mídias digitais. Nosso público-alvo era composto, principalmente, por 227 acadêmicos e por profissionais da saúde, além de gestantes, de puérperas e de suas redes de apoio. Diante da instalação do distanciamento social, a fim de manter o diálogo com o nosso público e as atividades do projeto em andamento, intensificamos as ações de divulgação científica em nossas redes sociais (Facebook e Instagram - @germinar.ufrj) - com temas relacionados principalmente à covid-19, que eram e são a demanda principal da comunidade neste momento de pandemia. Mantivemos a discussão prévia entre docentes e discentes para escolha de tópicos que estão dentro do universo da saúde da mulher, principalmente com relação à gestação, ao parto e ao puerpério e que sejam relevantes para a sociedade. Em seguida, formulamos textos com linguagem acessível e clara que visam informar ao público sobre os assuntos previamente elegidos e estimular a interação da comunidade com a universidade. A divulgação desse material ocorre semanalmente, às segundas-feiras e às sextas-feiras. Além disso, passamos a realizar atividades on-line e ao vivo. Estas são mediadas por uma discente ou uma docente e têm duração de, aproximadamente, 60 minutos. Para isso, o planejamento das lives consiste em convidar um profissional da saúde especialista no tema a ser abordado no encontro, para que ele possa levar informações atualizadas e de qualidade ao nosso público, além de tirar dúvidas que os seguidores deixam na “caixinha de perguntas” que disponibilizamos nos stories do Instagram diariamente, nos sete dias antecedentes às lives. Depois do convite ser aceito pelo profissional, realizamos a criação da arte de divulgação do evento. Ela é postada em nossas redes sociais e, mediante pesquisa pela discentes, é criada uma lista de perguntas consideradas indispensáveis acerca do tema, que é utilizada como roteiro do encontro. Além de divulgar o evento em nossas redes, também usufruímos dos veículos oficiais de comunicação da UFRJ. Quando permitido pelo convidado, a live é posteriormente disponibilizada para o público através do canal do projeto na plataforma YouTube ou no Instagram através de uma ferramenta chamada IGTV (Instagram TV). Ademais, foram realizados, de forma similar às lives, três eventos fechados pela plataforma Google Meet, com duração média de 120 minutos, que contaram também com a presença de especialistas. Seguindo a mesma metodologia, era feita escolha prévia do tema, convite ao profissional da área, criação da arte e divulgação do evento. Em seguida, os participantes realizaram a inscrição com antecedência e receberam um 228 link para participar da sala no horário agendado. No final da reunião, o público podia tirar dúvidas diretamente com os profissionais convidados. Internamente, o Germinar realiza encontros quinzenais via plataforma Google Meet para discussão de textos acadêmicos e para alinhamento das ações. Os artigos debatidos são escolhidos pelas docentes com 15 a 30 dias de antecedência, lidos por todas as discentes e debatidos à luz das evidências científicas. O grupo, dessa forma, se mantém atualizado e capacita-se para debater, junto à comunidade, temas relacionados ao ciclo gravídico-puerperal. A partir do mês de agosto do ano de 2020, o grupo deu início a uma série de vídeos chamada “De mãe para mãe”. Através de relatos gravados à distância e disponibilizados mensalmente nas redes sociais do projeto (Facebook, Instagram e YouTube), docentes que compõem o Germinar e docentes convidadas abordam suas experiências e seus aprendizados na maternidade, compartilhando suas histórias e, a partir delas, exploram mais profundamente questões comuns da maternagem. 4. resultados observados Durante o isolamento social e o enfrentamento da pandemia, a internet mostrou- se uma aliada para realização de atividades de extensão universitária, permitindo a continuidade do diálogo entre a comunidade e a universidade. O modo de se fazer extensão universitária precisou ser repensado. Os diferentes modos de atuação precisaram se adequar ao novo cenário, para que a extensão continuasse a existir (GUTIERREZ, COELHO e BARSCHAK, 2020). A crescente procura por informações sobre saúde durante a pandemia, assim como a necessidade de isolamento social, refletiu-se no aumento do número de páginas criadas em plataformas digitais e voltadas para esse assunto. O projeto “Apoiando e educando famílias de pessoas com deficiência”, da Universidade Federal Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), narra que a rede social WhatsApp foi utilizada para manter o contato com o público-alvo. O diálogo, que mesmo com auxílio de meios digitais se tornou mais desafiador, foi, entretanto, capaz de ter um grande impacto na vida da comunidade (ALBUQUERQUE et al, 2020). Já os extensionistas do projeto de extensão “Cuidando da Farmácia Caseira”, também da UFCSPA, relataram aumento de 244% no número 229 de seguidores no Instagram e crescimento de 343 curtidas na página do Facebook. O alcance, que contabiliza o número de interações e de visualizações dos conteúdos publicados, foi de 38.125 no Facebook, e de 20.640 no Instagram (SOUZA et al., 2020). O Germinar também notou aumento no número de seguidores nas plataformas virtuais, em especial no Instagram (+29,3 % entre julho de 2020 e agosto de 2020) e no Facebook (+41,75% entre agosto de 2020 e abril de 2021). Em 22 de julho de 2020, @germinar. ufrj no Instagram completou 1000 seguidores e no Facebook, o @germinar.ufrj completou 400 seguidores em 30 de julho de 2020. Entretanto, o engajamento e o retorno do público através de comentários e dúvidas, por exemplo, não foram tão expressivos. Em 20 de abril de 2021, as páginas do nosso projeto se encontravam com 1293 seguidores no Instagram, 567 no Facebook e 18 inscritos no YouTube. O alcance ao nosso público, que é composto majoritariamente por mulheres (91.6%) com faixa etária entre 18 e 44 anos (93,2%), foi ampliado devido à utilização de mídias sociais. Sem a barreira física do espaço, e através da promoção e realização de eventos on-line, conseguimos alcançar pessoas de diferentes regiões do país. Em relação às ações de divulgação científica nas redes sociais (@ germinar.ufrj no Instagram e Facebook), das 279 publicações, 150 geraram interação direta com o público (comentários, curtidas e compartilhamento). Entretanto, esse retorno da comunidade não se deu de maneira homogênea, variando de 10 a 142 ações de interatividade de acordo com o tema. Os tópicos que geraram maior engajamento do público foram: “Autoexame das mamas”, “Comemoração do Dia Nacional da Parteira Tradicional”, “Parto humanizado: mitos e verdades”, “Amamentação em Tandem”, “Riscos da cirurgia cesárea eletiva” e “Câncer de mama e aleitamento materno”. No período de 15 de abril de 2020 a 20 de abril de 2021, foram realizadas dez lives no Instagram. Devido à demanda da comunidade por orientações e por informações baseadas em evidências científicas referentes à covid-19, as cinco lives realizadas entre abril e julho do ano de 2020 foram voltadas para tópicos diretamente relacionados à pandemia. Estavam dentro dos principais temas abordados: o pré-natal, o parto e a amamentação em tempos de covid-19; parto domiciliar e hospitalar durante a pandemia e saúde mental materna durante o isolamento social. Entre o período de agosto de 2020 e abril de 2021, tópicos não associados diretamente ao momento pandêmico foram abordados, como “Semana Mundial de 230 Aleitamento Materno’’, por exemplo. A participação nos eventos promovidos novamente não se deu de forma homogênea, tendo variado entre 20 e 84 ouvintes, dependendo do encontro. Os temas que tiveram mais adesão pelo público foram: “Diagnóstico e prevenção do câncer de mama” e “Parto domiciliar em tempos de covid-19”. Após serem disponibilizadas nas plataformas IGTV e YouTube, as lives alcançaram a média de 129 e 21 visualizações por vídeo, respectivamente. Os eventos fechados, que ocorreram através da plataforma Google Meet mediante inscrição prévia, contaram com a participação de, em média, 25 participantes. Os temas abordados foram: “Semana mundial de aleitamento materno: amamentação - um direito do planeta”, “Maternidade e sustentabilidade - o papel da amamentação na construção de uma sociedade mais sustentável” e “Leite humano em pó: é possível? - Trabalho vencedor do prêmio Péter Murányi 2020”. Notamos que em eventos fechados o público se sente mais confortável para interagir com o profissional convidado, fazendo perguntas sobre o tema proposto, levantando debates e trazendo experiências pessoais para a discussão. Através das reuniões internas do grupo, o corpo discente do projeto amplia seu conhecimento sobre assuntos relacionados ao ciclo gravídico-puerperal, preparando-se para interagir com a comunidade nas ações promovidas pelo projeto e para a atuação profissional futura. Os artigos selecionados para debate são sempre materiais recentes, voltados para o movimento de humanização do parto, que trazem evidências científicas ao embasar práticas que respeitem a fisiologia da gestação, do parto e da amamentação, assim como o protagonismo da mulher que vivencia esses processos. Dentro da série de vídeos intitulada “De mãe para mãe”, foram gravados seis relatos como os temas: “Amamentação: um relato sobre hiperlactação”, “Saúde mental materna e puerpério: baby blues”, “Amamentação e nódulos mamários”, “Amamentação em tandem”, “Amamentação e alergia à proteína do leite de vaca (APLV)” e “Privação de sono e autocuidado”. Os vídeos têm uma média de 143 visualizações no IGTV, 28 visualizações no canal do YouTube e 61 visualizações no Facebook. A média no Instagram é de 18 curtidas por vídeo (versus quatro curtidas no YouTube e cinco no Facebook) e quatro compartilhamentos, mostrando, através desses índices, que o engajamento da comunidade com as informações compartilhadas no projeto se dá principalmente através dessa rede social. Há, em média, dois comentários por vídeos compartilhados no IGTV, 231 enquanto que os vídeos postados no Facebook não obtiveram esse tipo de engajamento. Apenas dois vídeos compartilhados na plataforma YouTube receberam comentários (um comentário cada). 5. considerações finais Frente às demandas sociais acerca do ciclo gravídico-puerperal em tempos de crise sanitária da covid-19, além de outras questões relacionadas com a saúde da mulher que são presentes na atualidade, foi de extrema importância manter as atividades de extensão do Vivências e apoio aos primeiros 1000 dias de vida ativas por via remota, dando continuidade ao diálogo com a comunidade. A utilização de plataformas digitais permitiu ao grupo dar seguimento às suas ações de divulgação científica durante a pandemia, respeitando o isolamento social. Foi possível manter o contato com a comunidade, ainda que de forma indireta, identificar suas demandas e divulgar as informações baseadas em evidências científicas. Ademais, o uso de mídias virtuais rompeu as barreiras do espaço e permitiu ao projeto aumentar seu alcance. Durante a pandemia, o grupo Germinar pode dialogar com especialistas de diferentes lugares do globo, assim como alcançar um público maior e mais diverso. Ao pensar nos projetos de extensão na interface pandêmica, entende-se, portanto, que suas atividades são urgentes e notórias. Nesse sentido, o grupo Germinar acredita ter cumprido seu papel social durante esse período desafiador. referências bibliográficas ALBUQUERQUE, Victória Machado et al. É possível promover apoio social e educacional por meio virtual? Extensão universitária da UFCSPA: mídias sociais e Covid-19. Ed. da UFCSPA. Porto Alegre, p.115-119. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Sobre a doença - O que é covid-19. Coronavírus (covid-19). 2020. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-covid. Acesso em: 03 Mar. 2021. CARDOSO, Pollyanna Costa et al. A saúde materno-infantil no contexto da pandemia de covid-19: evidências, recomendações e desafios. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, v. 21, supl. 1, p. 213-220, fev. 2021. Disponível em http://www.scielo. 232 br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519=38292021000100213-&lng=pt&nrmiso. Acesso em: 19 abr. 2021. FERNANDES, Marcelo Costa et al . Universidade e a extensão universitária: a visão dos moradores das comunidades circunvizinhas. Educ. rev, Belo Horizonte, v. 28, n. 4, p. 169-194, Dec. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982012000400007. Acesso em: 04 Mar. 2021. FIOCRUZ. Boletim do Observatório Covid-19. 2. Mar. 2021. Disponível em: https:// portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/boletim_extraordinario_2021-marco-03.pdf. Acesso em: 04 Mar. 2021. FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS (FORPROEX). Política Nacional de Extensão Universitária. Manaus, 2012. Disponível em: https://xn--extenso-2wa.ufrj. br/images/LEGISLACAO/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Extens%C3%A3oUniversit%C3%A1ria-e-book.pdf. Acesso em: 03 Mar. 2021. GUTIERREZ, Lucila Ludmila Paula; COELHO, Débora Fernandes; BARSCHAK, Alethéa. covid-19 e uma nova era: reflexões sobre o uso das mídias sociais na extensão universitária. Extensão universitária da UFCSPA: mídias sociais e Covid-19. Ed. da UFCSPA. Porto Alegre, p.21-33. 2020. HENRIQUES, Ana; DIAS, Isabel. As duas faces do isolamento dos idosos em tempo de pandemia: quem “achata a curva” da solidão?. In:TAVARES, Margarida; SILVA, Cláudio (Org.). Da emergência de um novo vírus humano à disseminação global de uma nova doença –Doença por coronavírus 2019 (Covid- 19). Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, 2020. Disponível em: https://ispup.up.pt/ news/internal-news/da-emergencia-de-um-novo-virus-humano-a-disseminacao-global-de-uma-nova-doenca/896.html/?lang=pt. Acesso em: 04 Mar. 2021. MARQUES, Georgiana Eurides de Carvalho Marques. A Extensão Universitária no Cenário Atual da Pandemia do covid-19. Revista Práticas em Extensão. São Luís, v. 04, nº 01, 42-43, 2020. Disponível em: https://www.uema.br/2020/07/ artigo-a-extensao-universitaria-no-cenario-atual-da-pandemia-do-covid-19/. Acesso em: 04 Mar. 2021. MOUTINHO, Flavio Fernando Batista. Extensão Universitária: uma luz na escuridão da pandemia de covid-19. Revista de Ext. da UNIFIMES. v. 1, n. 1, p.63-72, jan.–jun. 2021. Disponível em:http://www.unifimes.edu.br/ojs/index.php/intermedius/article/view/921/878. Acesso em: 04 Mar. 2021. SOUZA, Alice Cristina Bastos et al. Cuidando da farmácia caseira por meios digitais de comunicação. Extensão universitária da UFCSPA: mídias sociais e Covid-19. Ed. da UFCSPA. Porto Alegre, p.59-65. 2020. TEIXEIRA, Carmen Fontes de Souza et al. A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de covid-19. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, 233 v. 25, n.9, p. 3465-3474, Sept. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232020000903465&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 04 Mar. 2021. UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Assessoria de Imprensa do Gabinete da Reitora. UFRJ suspende aulas por 15 dias, a partir do dia 16/3. Conexão UFRJ. Março - 2020. Disponível em: https://conexao.ufrj.br/2020/03/13/ ufrj-suspende-aulas-por-15-dias-a-partir-do-dia-16-3/. Acesso em: 03 Mar. 2021. 234 22 TECNOLOGIAS DIGITAIS, FORMAÇÃO E A RELAÇÃO COM A SOCIEDADE NA PANDEMIA POR COVID-19: VISIBILIDADE E RECONHECIMENTO PÚBLICO DAS PESSOAS COM ALBINISMO nereIda Palko coordenadora do ProJeto as pessoas com albinismo e o direito à saúde: visibilidade e reconhecimento público - a enfermagem no contexto interdisciplinar da construção da carta de demandas do controle social lIlIan kImUra co-coordenadora do ProJeto as pessoas com albinismo e o direito à saúde: visibilidade e reconhecimento público - a enfermagem no contexto interdisciplinar da construção da carta de demandas do controle social resumo O ambiente digital há anos vem transformando a forma como nos comunicamos e se tornou um aliado vital para a manutenção das atividades universitárias diante da crise sanitária que se estabeleceu com a pandemia de covid-19. Rever processos frente a impossibilidade de ações presenciais demandou adaptabilidade, permitindo a continuidade da conexão entre a Universidade e a sociedade por meio das ferramentas do ciberespaço. Nesse cenário, o projeto de extensão, com foco nas pessoas com albinismo e a produção da vida, trouxe para o espaço virtual ações exitosas - um seminário e a criação de perfis em redes sociais - que ampliaram conexões almejadas e impulsionaram a ações efetivas e indissociáveis entre a formação e a visibilidade e reconhecimento público de um grupo populacional negligenciado em diferentes esferas sociais. palavras-chave Pessoas com Albinismo; Visibilidade Social; Ferramentas Digitais; Reconhecimento Público; Direito à Saúde. 235 1. introdução O adjetivo “desafiador” descreve apenas em parte os desafios e efeitos advindos da pandemia por covid-19, marcadamente estabelecida no Brasil em 2020, com indícios claros de que irá se arrastar pelo ano de 2021, trazendo à tona o sentido do reinventar-se. Em decorrência das medidas sanitárias necessárias, que preconizam o distanciamento social como forma de mitigar o contágio pelo novo coronavírus (WHO, 2020), migrar todas as ações possíveis para o ambiente virtual se tornou um caminho viável para dar continuidade à produção acadêmica e às ações de extensão universitária, embora isso fosse demandar adaptação, flexibilidade e a aceitação do sacrifício dos relacionamentos e processos de trabalho presenciais. É inegável que o advento da pandemia deixou ainda mais evidente a importância das tecnologias digitais, tais como a internet e as redes sociais. Assim, o isolamento social potencializou o uso do ciberespaço como forma de manter rotinas de trabalho e os contatos sociais, transpondo cada vez mais o campo de entretenimento dos seus usuários e passando a ser um dos meios de interação mais utilizados na busca de conhecimento e troca de saberes (ROESLER, 2012). A partir das experiências pessoais e profissionais envolvendo pessoas com albinismo, uma condição de natureza genética - que tem como principal característica a falha na produção da melanina, acarretando maior suscetibilidade a queimaduras solares e câncer de pele, bem como acometimentos visuais, incluindo a deficiência visual, em 2013 -, foi criado o Projeto de Extensão As pessoas com albinismo e o direito à saúde: visibilidade e reconhecimento público - A enfermagem no contexto interdisciplinar da construção da carta de demandas do controle social. No cenário em tela, o projeto de extensão integra docentes, discentes e servidores técnico-administrativos da UFRJ e de outras instituições de ensino do Brasil, e também, participantes de movimentos sociais da Comunidade de Pessoas com Albinismo (CPA), tendo sido estruturado a partir da lógica dos encontros e da produção da existência em processos relacionais presenciais, deparou-se com a necessidade de ser desenvolvido, no ambiente virtual, uma nova forma de comunicação e de se fazer presente para a sociedade. As ações desse projeto de extensão tem como norte o fato de que, no Brasil e em diversas localidades no mundo, não existem indicadores nem políticas sociais consolidadas para a CPA, o que contribui para a 236 vulnerabilidade social, invisibilidade e não reconhecimento público das demandas e necessidades desse grupo populacional (SANTOS et al., 2017). 2. objetivo O objetivo do referido Projeto de Extensão nesse período foi, a partir do uso das tecnologias digitais no ambiente virtual, desenvolver ações de produção, sistematização e disseminação de informação e conhecimento para a visibilidade e reconhecimento público das pessoas com albinismo, trazendo contribuições para o campo da visibilidade social. 3. descrição do contexto A experiência aqui relatada, após o primeiro momento de pausa para os ajustes gerais à continuidade do desenvolvimento formalmente estabelecido das ações extensionistas, ocorreram entre abril e dezembro de 2020. Durante o período de março até outubro de 2020, quatro discentes compuseram o projeto, e entre novembro e dezembro, 6 discentes ingressaram no grupo de trabalho, todos graduandos na Escola de Enfermagem Anna Nery, da UFRJ. As reuniões da equipe geral iniciaram em abril de 2020, ocorrendo de forma remota, com periodicidade quinzenal. Estrategicamente, o foco das reuniões foi o delineamento de ações do projeto que pudessem ser estruturadas no ambiente digital e executadas remotamente. Os encontros virtuais, além de serem destinados ao planejamento coletivo das ações, também promoveram um espaço de discussões e troca de saberes acerca do albinismo, temática ainda pouco abordada nos cursos de graduação na área da saúde, e demanda apresentada como um dos motivadores da busca dos discentes pelo projeto de extensão. À medida que os discentes se familiarizaram com o processo de trabalho e formação, foram elencadas conjuntamente quais seriam as propostas de trabalho desenvolvidas durante o período, para o cumprimento pleno da carga horária destinada às atividades desenvolvidas no projeto. De acordo com as possibilidades desenhadas no contexto da pandemia, duas propostas despontaram como viáveis e executáveis por meio do uso das tecnologias digitais: a organização de um evento on-line em comemoração ao dia internacional da pessoa com albinismo, promulgado 237 em 2013 pela Organização das Nações Unidas (ONU), potencializando a visibilidade das pessoas com Albinismo, e a criação de um perfil e uma página nas redes sociais virtuais. 4. procedimentos e resultados observados A partir dos processos desenvolvidos nos encontros quinzenais da equipe geral, por meio de plataforma virtual, foram estabelecidas as linhas das ações do projeto para o período inédito e de adaptação, com uso das tecnologias, que a pandemia por covid-19 trouxe ao trabalho. Conforme previamente exposto, as ações são descritas a seguir: 4.1 organização de evento: i seminário visibilidade e protagonismo das pessoas com albinismo no brasil Em virtude da comemoração do Dia Mundial da Conscientização sobre o Albinismo, em 13 de junho, a proposta foi a criação de um evento totalmente on-line, no qual pudessem ser discutidas algumas questões fundamentais para a visibilidade e o reconhecimento público das pessoas com albinismo no Brasil. A equipe organizadora foi composta pelos quatro discentes extensionistas e a coordenadora, juntamente a membros da comunidade de pessoas com Albinismo. Durante o mês de maio foi elaborada a programação do evento e feito o convite para os palestrantes. O material de divulgação foi preparado pelos discentes extensionistas (Apêndice A) e foi compartilhado alguns dias antes do evento em grupos de aplicativo de mensagens e redes sociais pessoais. O evento, intitulado “I Seminário Visibilidade e Protagonismo das Pessoas com Albinismo no Brasil”, foi subdividido em duas mesas de debate transmitidas pelo YouTube. A primeira mesa, ocorrida na parte da manhã do dia 13 de junho, teve como tema “Caminhos e perspectivas através dos movimentos sociais de pessoas com albinismo”. Essa mesa contou com representantes de organizações da sociedade civil, formalizadas ou em processo de consolidação, que trouxeram para o debate suas próprias vivências enquanto pessoas com albinismo dentro de um contexto de invisibilidade social. A segunda mesa, intitulada “Albinismo e produção do conhecimento”, ocorreu no período da tarde do mesmo dia e contou com palestrantes da 238 CPA com formação em Letras, Antropologia, e Psicologia, que trouxeram à tona discussões sobre o quanto o conhecimento sobre o albinismo - acadêmico ou não - está acessível de fato, e o quanto a publicização desses saberes é democrática e acessível o suficiente para a compreensão da sociedade. A realização do evento contou com o uso de plataformas de acesso público e gratuito, teve transmissão ao vivo pelo canal do YouTube “Nereida Palko UFRJ - Albinismo”. Os vídeos resultantes das duas mesas foram depositados posteriormente no canal, que pode ser acessado pelo link <https://www.youtube.com/channel/UCPjoVMyMGFgATf0DJR0d1dg>. A moderação de ambas as mesas foi feita por um dos discentes extensionistas integrantes do projeto. Foram 59 inscrições a partir do caminho de endereço eletrônico (link) do formulário disposto no campo de mensagens do canal do YouTube (chat), durante a transmissão das apresentações ao vivo (lives). Os inscritos residiam em diferentes localidades do Brasil, das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, e até mesmo no continente africano, em Luanda, Angola (Apêndice B). Essa abrangência geográfica mostrou o potencial e a capilaridade de um evento realizado no formato on-line. A maioria dos inscritos (33/59; 55,9%) tinha entre 18 e 30 anos de idade , enquanto 44,1% (26/59) correspondiam às faixas etárias iguais ou superiores a 30 anos (Apêndice C). A audiência foi composta principalmente por estudantes, mas houve participação de profissionais de áreas diversas (Apêndice D). 4.2 criação de perfil no Instagram e página no Facebook No decorrer das reuniões remotas, outro produto foi delineado paralela e continuadamente - a construção de um perfil do projeto nas redes sociais, fornecendo a disseminação e capilarização de informações e conhecimentos sobre a temática para a sociedade, atingindo públicos diversos, localidade, etário e de gênero. O principal objetivo dessa proposta foi criar um canal de compartilhamento de informações por meio da divulgação de conteúdos relativos ao albinismo, em linguagem acessível para o público não acadêmico, uma vez que a escassez de informações confiáveis para esse público se mostrou uma demanda real. O grupo de quatro discentes extensionistas, juntamente com a coordenadora, delimitaram os conteúdos a serem contemplados: indicações de artigos, livros e documentários, informações sobre a condição, e fatos 239 divulgados na mídia em geral (reportagens em portais de notícias, por exemplo) sobre a temática do albinismo. Durante os meses de julho a agosto foi feito o levantamento dos primeiros conteúdos a serem publicados. A plataforma inicialmente escolhida foi o Instagram, por sua crescente popularidade no Brasil e pela relativa facilidade de manejo. Para a produção das peças gráficas (artes) para as postagens foi utilizado o aplicativo Canva, uma ferramenta on-line gratuita, ideal para quem não tem experiência profissional como designer. O mês de setembro foi dedicado à preparação do material para as postagens iniciais (textos e artes) a partir dos conteúdos selecionados. Desse momento em diante, o projeto passou a contar com a participação da colaboradora/fundadora de um projeto coparceiro (Projeto Amor à Pele). Foi criado o perfil no Instagram (https://www.Instagram.com/albinismoextensaoufrj/) e definido o cronograma de publicação para duas postagens semanais, às terças e quintas-feiras. A primeira postagem ocorreu no dia primeiro de outubro, com uma breve apresentação do projeto (Apêndice E). Desde então, essas publicações têm ocorrido com a regularidade predefinida. Após avaliação dos potenciais benefícios oferecidos pela plataforma Facebook, como as ferramentas intrínsecas de publicação que possibilitam a programação antecipada das postagens e o gerenciamento simultâneo de diferentes redes sociais, optou-se também pela construção de uma página neste site (https://www.facebook.com/albinismo.extensao.ufrj/). Além disso, essa é uma das redes sociais mais utilizadas pelos brasileiros, juntamente com o Instagram, de acordo com o relatório Social Media Trends 2019, produzido pela empresa de marketing de conteúdo Rock Content, o que justifica a sua utilização. A partir de dezembro, as postagens, que antes ocorriam apenas no perfil do Instagram, passaram a ser publicadas também na página do Facebook. 5. considerações finais É inegável que a necessidade do distanciamento social tornou gritante a importância do ambiente virtual e das tecnologias digitais de comunicação para manter a conexão da Universidade com a sociedade. Mas, ao mesmo tempo em que se mostrou o caminho viável para a continuidade de muitas práticas universitárias, a realização remota de qualquer atividade exigiu grande resiliência, criatividade, adaptabilidade e 240 organização, especialmente daqueles que estavam diretamente envolvidos com o planejamento das ações. Destaca-se o aprendizado na organização do seminário em modalidade on-line, que foi uma experiência ímpar para o grupo. O evento se tornou, para todos os participantes, uma oportunidade de reflexão sobre as múltiplas dimensões da pessoa com albinismo para além de sua condição genética, perpassando sim pelos cuidados físicos impostos pela falta de melanina, mas ampliando para a contextualização do indivíduo como cidadão, parte de uma sociedade para a qual o grupo de PA ainda não tem o lugar de direito garantido. As ricas discussões advindas das mesas de debates deixaram evidente que ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito ao reconhecimento público das pessoas com albinismo. A construção do perfil no Instagram e a página no Facebook representou outro aprendizado para o grupo. Ao realizar postagens em perfis pessoais, para a maioria dos usuários em geral não há uma preocupação conceitual por trás do conteúdo compartilhado, uma vez que se trata principalmente de entretenimento. Mas as redes sociais não se limitam mais aos relacionamentos pessoais, e cada vez mais têm se tornado uma fonte de informação e um canal de pesquisas (SANTANA e OLIVEIRA, 2018). Isto posto, o planejamento e preparo dos conteúdos compartilhados nas redes sociais do projeto foram feitos com muito zelo. Cada postagem envolveu uma análise crítica do conteúdo e a redação cuidadosa do texto para que fosse sintético o suficiente, adequado quanto à linguagem para o público em geral, mas que mantivesse a qualidade e a confiabilidade da informação. Ambas as ações tiveram êxito na perspectiva da dialogicidade entre os diferentes atores sociais que integram o Projeto de Extensão, tanto a comunidade acadêmica representada pelos discentes, docentes, pesquisadores, colaboradores, membros dos movimentos sociais de e para as pessoas com albinismo. Embora não sejam exclusivas, dado que o ano atipicamente confinador impulsionou uma série de mobilizações virtuais, há de se considerar o protagonismo e ineditismo das iniciativas do projeto, principalmente se tratando da temática do albinismo. No mais, os obstáculos enfrentados, da inexperiência com plataformas digitais para fins educativos à peculiar ausência de informações acerca de um grupo populacional invisível - as pessoas com albinismo -, tornaram-se exercícios de investigação científica para o corpo acadêmico do projeto. Dessas buscas, resultaram em produções que conversam diretamente com o tripé que move a Universidade - ensino, pesquisa e extensão -, reforçando a sua indissociabilidade. 241 referências bibliográficas CANVA. Design para todos (versão em português). Disponível em: https://www. canva.com/. Acesso em: 19 fev. 2021. ROESLER, R. Web 2.0, interações sociais e construção do conhecimento. In: VII SIMPED – Simpósio Pedagógico e Pesquisas em Educação - 2012. Resende: Associação Educacional Dom Bosco (AEDB). Disponível em: https://www.aedb. br/wp-content/uploads/2015/04/45817495.pdf. Acesso em 17 fev. 2021. SANTANA, R. P.; OLIVEIRA, D. A. B. A influência das redes sociais na sociedade contemporânea. In: Conexão Fametro 2018. Fortaleza: Fametro. Disponível em: https:// doity.com.br/anais/conexaofametro2018/trabalho/71314. Acesso em: 22 fev. 2021. SANTOS, N. L. P. et al. O cuidado à saúde de pessoas com albinismo: uma dimensão da produção da vida na diferença. Physis, Rio de Janeiro, v. 27, n. 2, p. 319-333, jun. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312017000200319&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 22 fev. 2021. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Coronavirus disease 2019 (covid-19): situation report, 67. Geneva: WHO, 2020. 12p. Disponível em: https://apps.who. int/iris/handle/10665/331613. Acesso em 24 fev. 2021. 242 apêndices Apêndice A - Arte finalizada para a divulgação do I Seminário Visibilidade e Protagonismo das Pessoas com Albinismo no Brasil, produzida no aplicativo Canva. 243 Apêndice B - Distribuição geográfica dos inscritos no evento a partir de informações coletadas pelo formulário de inscrição. Apêndice C - Distribuição por faixa etária dos inscritos no evento a partir de informações coletadas pelo formulário de inscrição. 244 Ocupação/Profissão N Estudante 29 Professor 9 Enfermeiro(a) 6 Assistente social 4 Pedagoga 2 Outros Assistente de logística 1 Analista jurídico 1 Técnico judiciário 1 Bióloga 1 Auxiliar administrativo 1 Cantor de rua 1 Técnico de enfermagem 1 Psicóloga 1 Servidora pública 1 Apêndice D - Tabela mostrando o perfil profissional dos inscritos a partir de informações coletadas no formulário de inscrições. 245 Apêndice E - Artes finalizadas da primeira postagem no Instagram, produzida no aplicativo Canva. 246 23 UMA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA ANTIMANICOMIAL, ANTIRRACISTA E FEMINISTA: UM BREVE RELATO EM TEMPOS PANDÊMICOS melIssa de olIveIra PereIra coordenadora do ProJeto luta antimanicomial e feminismos rachel goUveIa Passos coordenadora do ProJeto luta antimanicomial e feminismos PrIscIla Fernandes da sIlva colaBoradora do ProJeto luta antimanicomial e feminismos amanda regIna Fontes do lago gradUanda em servIço socIal - UFrJ JessIca taIane da sIlva gradUanda em servIço socIal - UFrJ nathalIa gonçalves de sá dUqUe estrada meyer gradUanda em PsIcologIa - UFrJ PrIscIla marqUes nIza de olIveIra gradUanda em servIço socIal - UFrJ resumo Esta escrita trata-se de um relato das vivências das integrantes do Projeto de Pesquisa e Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos durante a pandemia de covid-19, tendo por objetivo a expansão para além dos muros da universidade do debate sobre luta antimanicomial e interseccionalidade, pensando as relações de gênero, raça e classe, dentre outros marcadores sociais e seus impactos na saúde mental de mulheres. Utiliza-se, como metodologia, a horizontalidade da estratégia de educação popular, aprofundando essa discussão e propondo interlocuções dentro e fora do ambiente acadêmico. Com isso, as experiências, que serão aqui apresentadas, estão pautadas na aproximação de um debate invisibilizado, o qual demonstra-se necessário e que em meio ao cenário de distanciamento social, ocasionado pela pandemia de covid-19, torna-se lugar de trocas e afetos potencializadores. palavras-chave Extensão Universitária; Relatos de Experiência; Interseccionalidade; Pandemia da covid-19. 247 1. o projeto Fruto de trocas, afetos, acúmulos teóricos, vivências e resistência, os parágrafos a seguir se dedicarão a abordar a experiência de uma formação interseccional no âmago do Projeto de Pesquisa e Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos, bem como suas contribuições para uma atuação profissional que concilie teoria e prática, de modo a potencializar uma transformação social pela práxis. Um trecho retirado do ensaio Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e políticas emancipatórias, de Patrícia Hill Collins, ressalta a importância de interseccionalizar a construção de saberes e ações ao dizer que: Como forma de investigação crítica e práxis, o contorno da interseccionalidade na academia reflete o contexto de uma tradução imperfeita. Assim, a interseccionalidade proporciona lentes sugestivas para examinar o que poderia se perder na tradução, em situações de ideias deslocadas entre diferentes comunidades de interpretação, com diferentes níveis de poder. A interseccionalidade conecta dois lados de produção de conhecimento, a saber, a produção intelectual de indivíduos com menos poder, que estão fora do ensino superior, da mídia de instituições similares de produção de conhecimento, e o conhecimento que emana primariamente de instituições cujo propósito é criar saber legitimado. (...) A eficácia das ideias centrais de interseccionalidade, em situações díspares politicamente, levanta questões importantes sobre a relevância do conhecimento para a luta por liberdade e iniciativas de justiça social. (COLLINS, 2017, p.7) O projeto em questão, construído por mulheres em suas pluralidades, possui como objetivo fomentar o debate acerca da luta antimanicomial e a interface com as relações de gênero, raça e classe, utilizando-se da educação popular como metodologia, aproximando do debate e da construção de narrativas e pensamentos as/os trabalhadores, coletivos e militantes de movimentos sociais inseridos no campo da saúde mental, além do corpo docente e discente da universidade e a sociedade em geral. Este, ao estabelecer a inter-relação da Universidade com outros setores da sociedade como, por exemplo, o NEMLA/RJ1, ultrapassa os muros institucionais e viabiliza a democratização e popularização do conhecimento. A partir desse estreitamento de laços e das inquietações militantes e acadêmicas, que surgem das pesquisa das coordenadoras Melissa de Oliveira e Rachel Gouveia, resultam-se, dentre outras ações, os cursos de 1 Núcleo Estadual do Movimento da Luta Antimanicomial do Rio de Janeiro. 248 extensão e o lançamento de uma coletânea de livros a fim de materializar não só os saberes adquiridos e compartilhados no processo de formação dos cursos, como os diálogos, as angústias, os desafios e as experiências que, por sua vez, é o que também se pretende neste breve relato. Em Luta Antimanicomial e Feminismos: Formação e Militâncias, o último livro publicado, dos três que compõem a coletânea, as autoras vão chamar atenção para a importância de que a interseccionalidade se apresente não apenas como teoria, mas a partir de outras práticas pedagógicas e de visibilização das mesmas (2020). Nesse sentido, a terceira edição do curso de extensão, realizada presencialmente na cidade de Ribeirão Preto, em 2019, tinha como público-alvo mulheres, usuárias da saúde mental, ativistas, militantes e trabalhadoras da saúde mental e da atenção básica. Ao considerar a realidade de vida na qual estariam inseridas, buscou-se oferecer condições objetivas para assegurar o acesso ao curso e, por conseguinte, possibilitar a participação desse público. Tais critérios de seleção reforçariam o compromisso das autoras para com suas vertentes políticas e teóricas: A seleção, então, deu-se garantindo a prioridade na presença exclusiva de mulheres e pessoas trans e/ou não binárias, a partir do que 80% das vagas foram destinadas a pessoas racializadas. Entre o total de selecionadas, 30% das vagas foram destinadas a profissionais da rede de saúde mental, sendo 15% para profissionais de nível superior e 15% para profissionais de nível técnico. Entre as demais vagas, 25% foram destinadas para militantes (com prioridade de 15% para mulheres de movimentos sociais antimanicomiais), 30% para usuárias e familiares, 5% para acadêmicas, 5% para estudantes e 5 % para ‘’outras’’ pessoas que se interessam pelo debate através de caminhos diversos. (PEREIRA et al., 2020, p.35) Para o ano de 2020, pretendia-se a realização de mais turmas do curso em outras cidades brasileiras. Todavia, frente ao cenário de pandemia de covid-19, a edição Juliana Pacheco2 do curso de extensão Luta Antimanicomial e Feminismos: Discussões de gênero, raça e classe para a Reforma Psiquiátrica brasileira, se deu em caráter remoto. O curso foi coordenado pelas professoras doutoras Rachel Gouveia Passos e Melissa de Oliveira Pereira e contou com a participação de professoras psicólogas, líderes comunitárias, além das extensionistas deste 2 O nome da edição homenageia a psicóloga Juliana Pacheco, referência na atuação e militância da luta antimanicomial no Distrito Federal, que foi a óbito em junho de 2020. 249 Projeto como monitoras e parcerias diversas para sua moderação e viabilização. O público-alvo foram psicólogas, psicólogos e integrantes de movimentos sociais do Distrito Federal e também componentes das comissões do Conselho Nacional de Direitos Humanos - CNDH. Esta edição do curso aconteceu em outubro de 2020, quando já estávamos há quase 8 meses vivenciando a pandemia do novo Coronavírus e, inevitavelmente, uma parcela da sociedade, assim como as participantes desse curso e as profissionais envolvidas, estavam exaustas pela sobreposição de cargas de trabalho ocasionada pela condição de serem mulheres (maioria entre participantes), enfrentando duplas ou mais jornadas de trabalho. Nesse sentido, um dos maiores desafios deste curso foi garantir que o acesso ao conteúdo das aulas e as informações mais burocráticas alcançassem as participantes sem qualquer prejuízo. Entretanto, também notamos muita sensibilidade com os temas e muitas palavras de carinho e agradecimento pelas trocas e exposições, além de conseguirmos alcançar públicos de diferentes estados devido a disponibilização do evento no YouTube, o que não seria alcançável no modo presencial. Em adição ao curso de extensão, o Projeto ganhou uma significativa visibilidade nas redes sociais, mais especificamente no Instagram, por meio de produções e divulgações contínuas de conteúdos formativos sobre saúde mental, feminismos e interseccionalidades. Também há disponível materiais para estudo, como livros, artigos e recomendações audiovisuais em uma pasta do Google Drive. O reconhecimento do projeto, através das mídias sociais, deu-se não só por conta do interesse de todas as integrantes da extensão nos temas abordados e por um propósito de expandir, compartilhar conhecimento e adquirir outros, mas também pela relação que foi criada de cumplicidade e confiança entre todas. Cada escrita, cada texto, cada leitura e discussão que circula atualmente tem um pouco de cada discente, um pouco das assistentes sociais, um pouco da psicóloga, um pouco do acúmulo pessoal e profissional de cada uma. Fomos, inevitavelmente, atravessadas pela pandemia e influenciadas pelo cansaço, pelo trabalho, pelo isolamento forçado – quem pode, pelas exigências sociais sobre o que é ser mulher, pesquisadoras, profissionais, estudantes, filhas, companheiras, netas, sobrinhas, enteadas, madrastas, entre tantas atribuições que nos atravessaram/atravessam e nos fizeram/ fazem sentir tantas coisas, de tantas formas. Embora muitas vezes estivéssemos exaustas, desanimadas, frustradas e/ou inseguras em relação ao 250 contexto social, as reuniões que tivemos em conjunto, ao longo do ano, nos deram o gás necessário para prosseguirmos firmes e esperançosas. Está sendo um período complexo, em diferentes intensidades, para diferentes pessoas e que ocasionou a exposição das vulnerabilidades sociais ao mundo e não só mais para as pessoas que as vivenciam na pele ou na atuação profissional. Nossos medos, angústias e solidões foram desafiadas, evidenciadas e postas em cheque. Se não tivéssemos umas às outras para respirarmos juntas, para passarmos pelo processo de luto de constantes perdas somado à distância uma da outra, seria ainda mais adoecedor do que por si só é. Para todas nós, assim como nos ensinou bell hooks3 (2017), a teoria funciona como um processo de cura. Figura 1- “Outros jeitos de usar a boca” Fonte: KAUR, Rupi. (2014, p.191) 3 Seu nome escrito em letra minúscula é proposital, a autora prefere que seja dessa forma para dar destaque ao conteúdo de sua escrita e não a sua pessoa. 251 2. considerações finais Em síntese, tomar a interseccionalidade como mecanismo de análise societária perpassa, necessariamente, por compreender que as relações de gênero, raça e classe encontram-se interligadas e, portanto, não podem ser hierarquizadas, subalternizadas ou invisibilizadas. Assim, as experiências adquiridas até esse estágio do processo de formação por este projeto de extensão, cuja veia interseccional é pulsante, ora pelas discussões teóricas em encontros quinzenais, ora pela aproximação com outros setores da sociedade, ora pelo momento de trocas afetuosas, proporcionaram um olhar criterioso acerca das articulações dos marcadores sociais, oriundos do modo de produção capitalista, como forma de dominação, opressão, produção e reprodução de desigualdades. Tal olhar possibilita a instrumentalização para um exercício profissional que busque a liberdade, a emancipação e a justiça social. referências bibliográficas COLLINS, PH. Se perdeu na tradução? Feminismo negro, interseccionalidade e política emancipatória. Dossiê, jan/jun. 2017, v.5, n.1. HOOKS, B. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. 2. ed. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2017. KAUR, R. Outros Jeitos de Usar a Boca. Tradução: Ana Guadalupe. 1.ed. São Paulo: Planeta, 2017. PEREIRA, MO.; PASSOS, RG (orgs). Luta Antimanicomial e Feminismos: discussões de gênero, raça e classe para a Reforma Psiquiátrica brasileira. Rio de Janeiro: Autografia, 2017. SILVA, LCR, ALMEIDA MGG, SILVA PF. Discussões de gênero, raça e classe para além dos muros da universidade: um breve relato sobre o primeiro Curso de Extensão Luta Antimanicomial e Feminismos, no Rio de Janeiro. In: Luta Antimanicomial e Feminismos: Formação e Militâncias. Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2020. p.29-41. 252 24 UMA IMAGEM, UMA MENSAGEM… EXPRESSÕES DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO CONTEXTO DA COVID-19 neIde emy kUrokawa e sIlva coordenadora do ProJeto uma imagem, uma mensagem... expressões de profissionais de saúde no contexto da covid-19 césar aUgUsto Paro vIce-coordenador do ProJeto uma imagem, uma mensagem... expressões de profissionais de saúde no contexto da covid-19 resumo A partir das perspectivas da pedagogia crítico-problematizadora e das narrativas em saúde, buscou-se promover por meio do projeto de extensão Uma imagem, uma mensagem... expressões de profissionais de saúde no contexto da covid-19 a expressão e elaboração dos sentimentos decorrentes dos contextos social, pessoal e profissional gerados pela pandemia, de modo que se possa contribuir para mitigar o sofrimento dos trabalhadores da saúde. Este manuscrito busca descrever o referido projeto, contando a sua trajetória e os seus principais resultados. Olhar para o vivido aqui pode nos ajudar a compreender tanto os desafios experienciados pelos trabalhadores quanto as reconstruções possíveis de si e das práticas de saúde. palavras-chave Narrativas; covid-19; Cuidado; Extensão; Saúde Coletiva. “Vivemos à beira do abismo. Esse presságio foi a premissa de muitos trabalhos realizados pela antropologia médica e estudos críticos da saúde global nas duas últimas décadas. A desigualdade, a violência, a precariedade e a incerteza ameaçando vidas e as sociedades, muitas delas beirando o esgotamento. (...) Os tempos do presságio ficaram para trás. Hoje, a minha fala se faz em meio aos desdobramentos da tragédia. Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública (BIEHL, 2020, s/p). 253 1. introdução Diante da magnitude e rapidez da pandemia da covid-19, os trabalhadores da saúde mal puderam se apropriar das poucas informações sobre a doença e já precisaram assumir a linha de frente do cuidado às pessoas afetadas. Além disso, estes vêm lidando com a escassez de equipamentos para esse cuidado e para a biossegurança, bem como com a necessidade/obrigatoriedade de ampliarem os turnos de trabalho e com o convívio cotidiano com o adoecimento e a morte, incluindo de colegas de trabalho. Ao lado das manifestações públicas de reconhecimento pelo seu trabalho, estes trabalhadores — diante das vulnerabilidades pessoais e do sistema para desenvolverem suas atividades — experienciam temores, angústias, revoltas, mas também apresentaram ideias e propostas. Transitando entre uma e outra situação, estima-se a riqueza das experiências vivenciadas por esses profissionais neste triste e histórico momento. Em meio a muitas denúncias, certamente há muitos anúncios de criatividade, de solidariedade, de profissionalismo, de humanismo… Segundo Paulo Freire (2016), o binômio denúncia-anúncio, tratado a partir da sua relação dialética, compreende o exercício de “leitura do mundo”, em que, ao ensaiar criticamente o que está ou vem sendo o ser humano neste mundo, possibilitaria a emersão dos sonhos para a escrita de outras possibilidades ontológicas, de outros mundos possíveis. As narrativas aqui figuram como possibilidade de exercitar tais leituras, afinal, o seu caráter mediador propicia dar significado à experiência, pois mediatiza o “interior” e o “exterior” ao “eu” na relação ser-no-mundo. As relações narrativamente estabelecidas entre interpretação, experiência e ação ao longo do processo saúde-doença-cuidado podem contribuir na reflexão sobre as relações entre estrutura e ação social, bem como entre contextos específicos de interação social e contextos societários mais amplos. Por isto, a narrativa tem sido considerada como uma forma universal de construção, mediação e representação do real, participando do processo de elaboração da experiência social e colocando em causa a natureza da cultura e da condição humana (CASTELLANOS, 2014). Com esse pano de fundo e entendendo a importância da expressão das experiências dos trabalhadores da saúde, tanto pelos seus efeitos individuais quanto coletivos, buscou-se promover, por meio do projeto de extensão, a expressão e elaboração dos sentimentos decorrentes dos contextos 254 social, pessoal e profissional gerados pela pandemia do covid-19, de modo que se possa contribuir para mitigar o sofrimento destes trabalhadores. 2. objetivos Considerando que o cuidadoso percurso metodológico do projeto foi um dos importantes responsáveis pelo sucesso do processo, este relato de experiência pretende descrever o projeto de extensão Uma imagem, uma mensagem... expressões de profissionais de saúde no contexto da covid-19, contando a sua trajetória e os seus principais resultados. 3. descrição do contexto e procedimentos metodológicos O referido projeto de extensão foi uma iniciativa desenvolvida por integrantes do Laboratório Interdisciplinar de Direitos Humanos (LIDHS) do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) desde março de 2020, do qual se somaram, ao longo do tempo, discentes e docente de outras unidades da universidade, bem como colaboradores da comunidade externa. Os 15 extensionistas envolvidos formaram uma equipe de trabalho interdisciplinar, abrangendo as áreas de artes cênicas, biotecnologia, design, fisioterapia, medicina, psicologia e saúde coletiva. A metodologia de execução foi composta de etapas construídas colaborativamente em reuniões sistemáticas entre os membros da equipe, que apostava na horizontalização dos espaços de planejamento para ensejar o protagonismo de todos os envolvidos, principalmente dos graduandos, na análise das estratégias planejadas, execução, tomada de decisões e avaliação do vivido (Figura 1). A divulgação do projeto para a comunidade ocorreu inicialmente pelo contato direto por telefone, e-mail e/ou redes sociais com os trabalhadores de saúde conhecidos de algum dos extensionistas, em que se apresentava a proposta e era feito o convite para envio de contribuições. Após a publicação das primeiras contribuições, o grupo começa então a expandir a sua divulgação nacionalmente, utilizando-se das próprias redes sociais do projeto, bem como circulação do material por listas de e-mails e sites institucionais. Para aumentar a visibilização ao público da saúde, a 255 equipe fez levantamento e envio do material do projeto para secretarias de saúde, conselhos de saúde, coletivos formados por profissionais da área e outros projetos de extensão desenvolvidos com narrativas. O material de quem desejava compartilhar as suas expressões era recebido por e-mail institucional. Ao longo do processo, a partir da demanda do público interessado em participar, também iniciou-se o recebimento de contribuições pelas redes sociais, que foram devidamente registradas no e-mail do projeto para que fosse possível o monitoramento da recepção, tratamento e postagem do material. No apoio desta tarefa, criou-se um banco de dados específico em que a equipe executora inseriu as informações das imagens/mensagens, de identificação dos trabalhadores e de qual fase do processamento o material se encontrava. Figura 1 - Etapas metodológicas do projeto de extensão. Fonte: desenvolvido pelos autores (2021). 256 As contribuições recebiam dois tipos de tratamento. Os textos passavam por revisão ortográfica, normalização para a estrutura da postagem (mensagem, nome do autor ou pseudônimo escolhido, profissão, localidade, data da escrita e escolha de tags para a circulação pelas redes) e, em caso de ultrapassar o limite de espaço previsto pelas redes sociais, retorno aos autores solicitando as adequações. Já as imagens, eram editadas para adequar ao padrão gráfico do projeto, tendo em vista o enquadramento necessário das redes sociais (Figura 2). Após o desenvolvimento destas etapas, o material retornava aos autores para receber a sua anuência final sobre as alterações realizadas, e, somente então, eram postadas em meio virtual. Figura 2 - Exemplo de postagem nos padrões gráficos estabelecidos pela equipe. Fonte: desenvolvido pelos autores (2020). 257 Por meio das redes sociais Facebook e Instagram1, foram criadas páginas para divulgar as imagens com mensagens de profissionais de saúde, mediadas pela equipe do projeto. Estas páginas foram lançadas em maio de 2020, com a publicação das primeiras narrativas que foram captadas na etapa inicial de divulgação, e foram encerradas em janeiro de 2021, com a publicação de vídeo-devolutiva produzidos pelos extensionistas com uma síntese das narrativas compartilhadas. Parte da equipe se responsabilizava pelo engajamento do público que interagia conosco nestas páginas, dando retorno às respostas que recebemos no ambiente virtual e também criando postagens específicas para propiciar o aumento do diálogo com os visitantes. Para a formação da equipe executora e para qualificar a competência analítica de seus membros, as reuniões periódicas contaram com discussão do arcabouço teórico-metodológico sobre educação popular e narrativas na saúde e discussões de temas específicos, a partir do que emergia de questões ou situações-problemas no decorrer da execução. O grupo também desenvolveu pesquisas para buscar compreender como as expressões dos trabalhadores da saúde eram apresentados pela mídia e em outras atividades de ensino, pesquisa e/ou extensão promovidas pela UFRJ, de modo a cotejar o que estávamos produzindo no projeto com outras iniciativas existentes. 4. resultados observados O projeto recebeu 47 contribuições de trabalhadores que atuavam, no setor público ou privado, em unidades básicas de saúde, hospitais, centro de atenção psicossocial, serviço de tratamento fora do domicílio, unidades de vigilância em saúde, nível central de gestão e ações de cuidado a partir das práticas integrativas e complementares em saúde. Tratam-se de agentes comunitários de saúde, assistentes sociais, dentistas, doula, educador popular em saúde, facilitador de yoga/meditação, gestores, enfermeiras, farmacêuticos, faturista hospitalar, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médicos (incluindo estagiária de medicina), nutricionistas, psicólogos, sanitaristas e técnica em saúde bucal que atuavam em 22 cidades distribuídas em nove unidades de federação do país (BA, DF, MG, MT, PE, RJ, RN, RS e SP). 1 Disponível em: <https://www.facebook.com/Uma-imagem-umamensagem-101774781530156> e <https://www.instagram.com/1imagem1mensagem/>. Acesso em 18 de abr. de 2021. 258 As imagens escolhidas para ilustrar as narrativas escritas foram majoritariamente do próprio profissional de saúde, seja de seus rostos, seja de sua atuação em seus postos de trabalho. No entanto, também foram escolhidas fotos dos locais e equipamento de trabalho, bem como de flores, céus, arco-íris e desenhos. As mensagens postadas variaram de textos curtos de 14 palavras até escritos mais longos com 367 palavras, que não poderiam ser maiores dada a própria limitação de espaço nas redes sociais. Por isso, a crônica de Nilceia Figueiredo “Dia de Nascer” foi audiogravada, sendo a única mensagem/imagem postada no formato de vídeo. Estes escritos vieram nas formas de prosas e de versos, seja para contar, seja para refletir. Ao passo que alguns dos escritos buscavam, por meio de uma linguagem poética, enredar acontecimentos que passavam por suas existências enquanto esta pandemia não passa, outros descreviam sobre as diversas reconstruções que se fizeram necessárias para conjugar, em ato, o verbo cuidar, incluindo aqui o cuidado de quem já se contaminou, de quem ainda não contraiu o vírus ou, até mesmo, do autocuidado, afinal, profissional de saúde também é gente de carne, osso, sangue e alma. Além das postagens das contribuições, o projeto também buscou dialogar com a comunidade por meio da organização e/ou participação em eventos de divulgação científica. Durante o Festival do Conhecimento da UFRJ, em julho de 2020, convidou-se os trabalhadores que submeteram suas postagens para uma roda de conversa2 com a equipe do projeto de extensão, onde pudemos explorar com mais densidade os contextos que estes trabalhadores estavam inseridos, bem como sobre a intencionalidade em querer compartilhar aquela narrativa com o projeto. No Darwin Day promovido pela UFRJ em abril de 2021, participamos com o vídeo “De Darwin aos ‘heróis da linha de frente’ na pandemia de covid-19: narrativas de pessoas, narrativas sobre a humanidade”3, em que, evocando as ideias de identidade e memória, problematizamos os sentidos de herói dados aos trabalhadores e a construção da identidade de guerra, o que pode acarretar também numa pesada carga de “dever”, potencialmente geradora de sofrimento e adoecimento. 2 3 A roda de conversa “Imagens e narrativas da pandemia: uma conversa com trabalhadores de saúde” está disponível em: <https://youtu.be/3k206W9AlOU>. Acesso em: 18 de abr. de 2020.https://youtu.be/XLkbUoq6VKM Disponível em: <https://youtu.be/XLkbUoq6VKM>. Acesso em: 18 de abr. de 2020. 259 Também fomos convidados para participar da Semana de Saúde do Estudante da UFRJ - II Mostra de Práticas de Promoção e Prevenção em Saúde. Devido ao público deste evento ser primordialmente os discentes da universidade, adaptamos a metodologia utilizada no projeto para poder refletir sobre como tem sido a passagem dos estudantes pelo contexto pandêmico por meio da oficina “Linhas de Frente: um diálogo entre estudantes envolvidos no enfrentamento ao covid-19”. Nela, construímos uma narrativa coletiva projetiva de um personagem fictício de um típico estudante da UFRJ para podermos refletir sobre as ações de ensino, pesquisa e extensão que estes sujeitos estavam inseridos. Dentre diversos outros eventos que participamos, vale aqui fazer referência a um último, que também compôs a programação do Festival do Conhecimento da UFRJ. No painel temático “O papel da extensão universitária e do sanitarista no contexto da pandemia do coronavírus”, pudemos apresentar a importância da valorização das experiências no favorecimento de uma formação para o cuidado. Ao lado de outras ações pensadas a partir das múltiplas dimensões da saúde coletiva no enfrentamento da covid-19, as narrativas figuram como estratégia imprescindível de reflexão e de ação. 5. considerações finais Por meio das atividades realizadas, o projeto conseguiu criar espaços para o compartilhamento das experiências dos trabalhadores neste momento pandêmico sem precedentes nas últimas décadas. A produção, circulação e consumo destas narrativas textuais e imagéticas dentre os autores, extensionistas e público das nossas redes sociais têm favorecido “momentos de pausa” para a miragem das experiências. Este movimento carrega em si um grande potencial para compreender tanto os desafios vividos pelos trabalhadores da linha de frente quanto as reconstruções possíveis de si e das práticas de saúde. As pausas e os respiros imprimiram nas narrativas muito além de uma mera descrição do mundo como ele é, mas as próprias perguntas e ensaios de projeto de respostas sobre o que este mundo está sendo e o que pode vir a ser. Por ora, paramos por aqui. No entanto, entendemos que esta história não acaba aqui. A pausa é para florescer respiros. A pausa é para florescer as 260 perguntas. A pausa é para qualificarmos nossas resistências. Por isso, para finalizar este relato, trazemos aqui o poema “Um momento de pausa…” e a sua imagem correspondente que compuseram o acervo do projeto: “Na Natureza sempre é assim, As folhas caem, Quem não entende Acha que a vida se foi Muitas semanas a fio A frio A seco Todos os dias eu olho mais Olho mais perto, maior Observo Enamoro e acredito E já vejo brotos Vida dentro Encontro comigo mesmo Mais algumas semanas Nova transformação Presente para um dia cansado Uma energia concentrada Começa a explodir em flor Vida fora Encontro com o outro Ciclos milenares Natureza Quando mesmo me afastei disso? Esqueci? Agora relembrei Agora sei de novo Minha alegria renasce E respiro com calma Já não me falta ar”. Vanessa, Médica Nefrologista. São Paulo, 25 de maio de 2020. 261 Figura 1 - Etapas metodológicas do projeto de extensão. Fonte: desenvolvido pelos autores (2021). 262 referências bibliográficas BIEHL, João. Webinário Saúde Global e covid-19: por que chegamos aqui? Como vamos sair? Disponível em: <https://youtu.be/R5LDAQOaNAw>. Acesso em: 18 de abr. de 2020. CASTELLANOS, Marcelo Eduardo Pfeiffer. A narrativa nas pesquisas qualitativas em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 4, p. 1065-1076, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232014194.12052013>. Acesso em: 18 de abr. de 2020. FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016. 263 25 VIVA TRADIÇÃO VIVA – NOSSOS SABERES VÊM DE LONGE: UM SEMINÁRIO MANDINGUEIRO QUE LHE CHAMA AO PÉ DO BERIMBAU BrUno rodolFo martIns coordenador da ação de extensão viva tradição viva: nossos saberes vêm de longe resumo Nossa roda veio contribuir para os estudos sobre capoeira para praticantes e com seus praticantes, inspirada em uma educação popular baseada nas tradições culturais populares negras diaspóricas, destacadamente na capoeira. Veio apoiar simbolicamente a comunidade da capoeira, externa à UFRJ, em sua maioria negra e periférica, que continua sendo atingida fortemente pela pandemia. Visou potencializar o encontro e o compartilhamento de saberes, tudo que tem sido impedido a essas pessoas devido ao isolamento e outras ações combativas à circulação do vírus. Por tudo isso e por estar sediado na EEFD, o evento atravessou uma encruzilhada entre a capoeira, o racismo e os temas em torno de uma formação docente crítica e reflexiva, e quiçá engajada na reeducação das relações étnico-raciais. palavras-chave Capoeira; Tradição; Racismo; Formação de Professores; Saberes Marginais. 265 1. introdução1 - nossos saberes vêm de longe… O evento que trata esse texto teve como eixo principal a capoeira, o racismo e a formação de professores, organizado coletivamente e ofertado pelo Departamento de Lutas da Escola de Educação Física e Desportos EEFD da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, com parcerias do Museu Vivo do São Bento de Duque de Caxias, do Museu Afro-digital da UERJ, da Rádio Capoeira, da Universidade da Capoeira, da Revista Íbamò, do Acervo Cultural de Capoeira Arthur Emídio de Oliveira, do Capoeira Nômade Acervo Digital, da Editora da UFBA, do IFRJ (PROEX e COEX/CDuC), do coletivo “Professores contra o Escola Sem Partido”, do Portal Capoeira, e do Grupo de Capoeira Só Angola. Esse evento foi um sonho realizado, um sonho compartilhado que virou realidade, de ver a capoeira sendo tratada pela academia com o alto valor que possui e lhe é próprio, com a participação de grande valor de pessoas capoeiristas acadêmicas, de pessoas acadêmicas interessadas na capoeira, e principalmente, de mestras, mestres e capoeiristas que dedicam suas vidas a esse nosso movimento social. Destaca-se ainda o compartilhamento de saberes entre a comunidade da capoeira – os saberes da capoeira, e a universidade – saberes acadêmicos; em especial, por pessoas que praticam e pesquisam, compondo um campo de fronteira entre esses saberes. Foi uma chamada para que capoeiristas se atentem a questões ainda marginalizadas no mundo da capoeira, como também foi uma chamada para a academia, que já relegou muito a capoeira como tema subalterno ou a uma disciplina pejorativamente menor2. Em 2008, a Capoeira foi registrada pelo IPHAN como parte do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, e seu registro foi feito através de dois bens imateriais: o Ofício 1 2 Partes desse texto foram extraídas e adaptadas de outros escritos por mim sobre o evento, expostos na página oficial do evento, como também de falas feitas na abertura e no encerramento do mesmo. Nesse sentido, nos aproximamos também do que Nilma Lino Gomes (2017, p.28) chama de “conhecimento válido”, em que é preciso levar em consideração o contexto em que é produzido, tanto em termos das diferenças culturais e políticas. No caso da capoeira, um conhecimento não-acadêmico e muitas vezes estudado de forma acadêmica, mas perdendo nesse processo a relação com suas origens epistemológicas, sejam raciais, sociais, de gênero, entre outras bases que passam a ser relegadas a segundo plano, quando não simplesmente ignoradas. 266 dos Mestres de Capoeira e a Roda de Capoeira.3 Desde então, houve um aumento de estudos acadêmicos em torno dela4. Também é fruto da pandemia, que intensificou a comunicação virtual, e que de certa forma, favoreceu o encontro de pessoas de lugares tão distantes para debater capoeira, por conta da força do isolamento e do impedimento de poder viajar. Uma pandemia que escancarou mais ainda as desigualdades de nossa sociedade. Conforme o relatório “Quem Paga a Conta?”, a trajetória do vírus é uma fotografia das profundas desigualdades do país, demonstrando o racismo estrutural, onde 75% dos mais pobres são pessoas negras, e não surpreende que os números mostrem que as pessoas negras e pobres correspondam ao perfil de vítima mais comum, representando 6 de cada 10 mortes (OXFAM-BRASIL, 2020, p.5). O relatório ainda aponta que bilionários da América Latina e do Caribe aumentaram a fortuna em US$48,2 bilhões durante a pandemia, enquanto a maioria da população perdeu emprego e renda. O Conselho Nacional de Saúde destaca como paciente em situação de vulnerabilidade: população negra, populações tradicionais (quilombos e terreiros), população em situação de rua, população ribeirinha, população cigana, do campo, das águas e das florestas (CNS, 2020). A população negra tem 60% mais chance de morrer de covid-19 do que a branca (ONU, 2020). O Boletim Socioepidemiológico do covid-19 nas Favelas demonstra que o baixo número de casos e óbitos registrados nos bairros com “alta e altíssima concentração de favelas” se contrapõem às taxas de letalidade nessas regiões, quase o dobro em relação aos bairros que não têm favelas. Demonstra também que a letalidade é maior nos homens do 3 4 Os bens imateriais são categorizados pelo IPHAN em 4 Livros de Registro: dos Saberes; de Celebrações; das Formas de Expressão; e dos Lugares. No caso, o ofício de mestre no de Saberes, e a roda no de Formas de Expressão. Entre alguns possíveis motivos, Gabriel Cid e Marcelo Costa, destacam o seguinte (2020, p.6): “Podemos entender que a implementação da Lei 10.639/03 que torna obrigatória a história e a cultura afro-brasileira no currículo oficial de ensino, impacta na produção destas pesquisas. Outra questão seria a ampliação da rede de universidades públicas e acesso às universidades privadas, com os Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e Programa Universidade para Todos (Prouni). Um terceiro fator seria o incremento das políticas culturais, durante a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (2003-2008). Neste momento a capoeira foi favorecida, inclusive com recursos exclusivos nos editais Capoeira Viva (2005, 2006 e 2007). O processo de patrimonialização pode ser visto como um resultado deste interesse”. 267 que mulheres, assim como o maior percentual de óbitos na população negra se dá nos territórios periféricos (FIOCRUZ, 2020). Soares (2020), analisando dados do SUS, relata que “a doença matou mais pobres e pardos, mais homens que mulheres e mais jovens do que em outros países onde o sistema de saúde entrou em colapso. E apesar do perfil padrão corresponder ao homem negro e pobre, deve-se destacar que a violência contra as mulheres aumentou, em especial a do tipo patriarcal” (muitas vezes chamada de doméstica e familiar, que é o tipo que mais as atinge, assim como às crianças)5. Como estão vivendo mestres e mestras de capoeira que compõem a população negra? Como a capoeira está resistindo à pandemia, sem a existência de suas rodas, de seus treinos e de seus encontros? Nossa gente da capoeira foi atingida severamente, seja com a impossibilidade de realizar esses encontros, que são espaços e momentos fundamentais para a perpetuação das tradições, seja nas muitas vezes que foi morta, pela falta de socorro na pandemia. Algumas pessoas da própria capoeira, porém privilegiadas, menosprezaram e vulgarizaram a morte dessa gente antiga de capoeira, que por conta do projeto político governamental racista, machista e classista, intensificado pela pandemia, se viu impedida de realizar a nossa capoeira. Por conta disso, esse evento se tornou uma homenagem póstuma a toda essa gente antiga de capoeira. E para continuarmos fortalecidos por nossa ancestralidade, e lembrando que nossos saberes vieram e continuam vindo de longe, nossa logo6 tem fundamento. Não trouxemos o berimbau como símbolo, mas a cabaça. Na capoeira, sua importância é destacada tanto como componente do berimbau, amplificando seu som, como também compõe o caxixi. Mas para além dessa objetividade relacionada a instrumentos usados hoje na capoeira, a cabaça representa o ventre, em diversas tradições de matriz africana, em especial, as que foram mantidas aqui no Brasil pelos terreiros. E é com o sentido de ampliar a nossa voz, de gerar vida e com a certeza de que capoeira é mãe, que a cabaça vem ser o pano de fundo de toda nossa escrita e de todo nosso trabalho. 5 6 Conferir, por exemplo, o estudo do Senado “Boletim Mulheres e seus Temas Emergentes: Violência doméstica em tempos de covid-19” (https://www12. senado.leg.br/institucional/omv/pdfs/violencia-domestica-em-tempos-de-covid-19), como também o monitoramento quadrimestral da série de reportagens “Um vírus e duas guerras” (https://ponte.org/mulheres-enfrentam-em-casa-a-violencia-domestica-e-a-pandemia-da-covid-19). Em anexo. 268 Junto a ela, o símbolo que usamos é um adinkra, escrito dos povos Akan, da África Ocidental, na região do Sael (entre o Saara e o Golfo de Guiné). Destaca, como diz Anani Dzidzienyo, “o universo filosófico e estético Asante que se tornou patrimônio de todo o país de Gana” e que depois viajou ao outro lado do rio chamado Atlântico. Ele comenta ainda que “a sabedoria, como os ganeses costumam dizer, não é uma mercadoria para ficar trancada no estojo” (NASCIMENTO; GÁ, 2009, p.10) É na decisa do saber e de sua difusão que foi escolhido o adinkra A ONNIM NO SUA A, OHU ou “Quem não sabe pode saber aprendendo”, símbolo do conhecimento, da aprendizagem permanente e da busca contínua do saber (NASCIMENTO; GÁ, 2009, p.180) Levando em consideração tudo isso, um evento virtual com esses eixos temáticos teria que ser pensado de um jeito a fortalecer a capoeira e sua gente praticante, especialmente no sentido espiritual. Mais do que nunca, precisamos nos reunir, guarnicê e resistir. Mais do que nunca, o genocídio, o epistemicídio e o semiocídio andam em sincronia, atingindo violentamente contra as pessoas guardiães de nossas tradições ancestrais. 2. objetivos – “matar o branco dentro de você” Entre os diversos objetivos estabelecidos, tivemos: debater temas atuais em torno da capoeira; fortalecer a comunidade da capoeira com um evento virtual de qualidade; fomentar o encontro de praticantes, mesmo que por via virtual; contribuir para uma formação docente que busca desenvolver trabalhos com temas da capoeira; tematizar o racismo e uma reeducação das relações étnico-raciais através da capoeira. Enquanto possíveis impactos, pretendeu-se primeiramente, contribuir para uma formação crítica de capoeiristas, praticantes que estão sendo impedidos de praticar sua arte devido à pandemia. Esperou-se, assim, fortalecer a capoeira e praticantes que estão tendo sua arte afetada. Tem uma preocupação de impactar positivamente a visibilidade de mestres e mestras em situações afetadas pela pandemia. Por outro lado, pensando nas questões raciais e educacionais, contribuiria também para uma formação de professores crítica e reflexiva, inicial e continuada, que consiga tematizar a capoeira em suas aulas de modo antirracista, especialmente. 269 3. metodologias – “solta a mandinga aê, solta a mandinga...” O evento aconteceu entre 1 e 18 março de 2021, com quatorze mesas virtuais, acontecendo de segunda a sexta, entre 19h e 21h30, com a intenção de facilitar o acesso e o aproveitamento das pessoas interessadas em participar ao vivo dos debates. Entre os temas, tivemos: na Mesa de abertura: um pouco da história do evento e da capoeira na EEFD-UFRJ; na Mesa 1: Capoeira, pandemia e racismo7; na Mesa 2: Capoeira e formação de professores8; na Mesa 3: Capoeira na escola9; na Mesa 4: descolonização e tradições negras na escola10; na Mesa 5: branqueamento e Capoeira “gospel”11; na Mesa 6: Capoeira e patrimônio cultural12; na Mesa 7: Capoeira, corpo e racismo13; na Mesa 8: espiritualidade e ancestralidade na Capoeira14; na Mesa 9: organizações de mulheres na Capoeira15; na Mesa 10: masculinidades diversas na Capoeira16; na Mesa 11: movimentos trabalhistas e Capoeira17; na Mesa 12: genealogias da Capoeira do Rio de Janeiro18; na Mesa 13: Capoeira na diversidade19; e na Mesa 14: pesquisa e pessoas pesquisadoras de Capoeira20. As mesas foram salvas em oito plataformas digitais21, que retransmitiram ao vivo as mesas no YouTube e no Facebook. Tivemos tradutores 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Mesa 1.: http://www.youtube.com/watch?v=5Qz_GHNhPiE Mesa 2: http://www.youtube.com/watch?v=nimwvB70Es0 Mesa 3: http://www.youtube.com/watch?v=Ee_Lv8xCM9A Mesa 4: http://www.youtube.com/watch?v=VSVASkwRpUg Mesa 5: http://www.youtube.com/watch?v=jxylM0a913M Mesa 6.: http://www.youtube.com/watch?v=Kdy8NAe6CUE Mesa 7: http://www.youtube.com/watch?v=tqlV6QZRdyw Mesa 8: http://www.youtube.com/watch?v=GQNd_Butwaw Mesa 9: http://www.youtube.com/watch?v=KbAqHRKlgmA Mesa 10: http://www.youtube.com/watch?v=ihFPRlXpV8o Mesa 11: http://www.youtube.com/watch?v=EOy9UE648qo Mesa 12: http://www.youtube.com/watch?v=O-VnEFz6oug Mesa 13: http://www.youtube.com/watch?v=ZAMQqp0IrJ0 Mesa 14: http://www.youtube.com/watch?v=IM39oYd4SwE São elas os canais do youtube: Viva Tradição Viva; EEFD-UFRJ; IFRJ; Rádio Capoeira; Capoeira Nômade Acervo Digital; e os canais do facebook: Viva Tradição Viva; Rádio Capoeira; Museu Afrodigital da UERJ. Todos foram linkados na página oficial do evento: https://vivatradicaoviva.wixsite.com/ inicial/canais 270 intérpretes de Libras para todas as mesas, facilitando o acesso para pessoas com deficiência auditiva, e tivemos em todas elas a audiodescrição de participantes – para facilitar às pessoas com deficiência visual22. Tivemos parcerias com a EdUFBA e com a Rádio Capoeira na distribuição de brindes através de sorteios com perguntas durante as mesas, entre as pessoas participantes que preencheram a inscrição do evento. Fizemos uma “vaquinha virtual” para recolher de forma transparente alguma verba a ser distribuída entre as pessoas participantes, especialmente a mestres e mestras que estão em situação vulnerável devido à pandemia. Felizmente, poucas pessoas solicitaram o que lhe cabia, e a maioria recusou sua cota. Os debates tiveram uma pequena apresentação da mediação, seguido da exposição de cada participante da mesa em torno de 15 a 20 minutos, com o tempo restante disponível para a interação com o público, com perguntas, respostas e reflexões diversas. Uma página23 foi construída para a divulgação, inscrições e outras informações referentes ao seminário, que teve também sua versão no Facebook24, para ampliar o alcance. Nelas, foram expostos também detalhes sobre as mesas, a biografia de todo mundo que participou do evento e uma sessão especial de indicação de estudo com materiais encaminhados pelo pessoal convidado. 4. descrição do contexto e procedimentos – “capoeira é preta, kalunga...” Essa ação emergiu dentro do Departamento de Lutas da EEFD, local onde a Capoeira está acolhida enquanto disciplina. A mesma está presente desde a década de 1970, passando pela “desportiva”, “eletiva” e até como uma disciplina “obrigatória” para a formação docente de Educação Física. Foram professores titulares dessa disciplina os mestres Oscaranha 22 Sobre essa questão, não tínhamos certeza da cobertura com tradução em Libras: o IFRJ tinha disponibilizado apenas duas pessoas que se voluntariaram, mas que ficariam sobrecarregadas, e só tinham 5 dias disponíveis. A Divisão de Acessibilidade-DIRAC, da UFRJ, não tinha dado retorno até as vésperas do início do seminário, mas foi assim que tivemos a repentina confirmação da cobertura para todos os dias, totalizando um rodízio de 19 pessoas tradutoras intérpretes de Libras. 23 Cf.: https://vivatradicaoviva.wixsite.com/inicial 24 Cf.: https://www.facebook.com/vivatradviva 271 (em memória) e Baiano Anzol (já aposentado). Mestre Nilo continua de frente, ocupando atualmente a chefia do Departamento. Mestre Oscaranha criou e manteve durante seu trabalho o Acervo Cultural de Capoeira Arthur Emídio de Oliveira que, ao longo de sua existência, além de ser um acervo sobre capoeira, promoveu diversas ações de extensão, entre cursos e ciclos de palestras, eventos e rodas, mobilizando toda a EEFD e a UFRJ, mas também a comunidade da capoeira carioca e fluminense. A capoeira também participou de projetos de extensão como o UFRJMar, que mantinha uma oficina de capoeira aberta por onde o projeto passava, sob a coordenação do mestre Baiano Anzol. A chamada “capoeira desportiva” se manteve durante muitos anos em diversos horários, aberta à comunidade. Além disso, diversas pessoas foram monitoras, voluntárias ou bolsistas, e outras se aproximaram da temática em suas pesquisas de monografia e TCCs. Sendo assim, montamos um evento digno de tantos outros já realizados pelo Acervo, pensado de forma presencial, mas agora atualizado no formato virtual. Segue o exemplo de eventos importantes acontecidos nesse mesmo formato, provocado pela pandemia, com o tema Capoeira, como as mesas do FORPOP, do Congresso Virtual da UFBA, como o Roda de Debates, em parceria de UFPI e UNILAB, ou como o Outra Roda é Possível, do Grupo de Estudos e Intervenção Feminista na Capoeira Marias Felipas. Com algum destaque, o evento pretendeu efetivar um “tratamento digno da questão racial” diante da “lentidão da política educacional brasileira em responder adequadamente a essa demanda histórica” do Movimento Negro (GOMES, 2017, p.49). Não só pelo recorte temático, mas também pela presença negra das mesas e pela tentativa de imprimir uma cadência típica de uma ginga mandingada da Capoeira, tanto na metodologia de trabalho da organização, como na construção, na concepção e na dinâmica do evento. Esse encontro reuniu para o debate pessoas pesquisadoras acadêmicas ou não, de diversas áreas de conhecimento, com destaque para pessoas pesquisadoras capoeiristas, e capoeiristas pesquisadoras, além da presença de mestres e mestras de capoeira. Além do notório saber que mestres e mestras possuem, teríamos o encontro de docentes de diversas áreas e níveis de ensino, como também de profissionais de história, antropologia, sociologia, linguagens artísticas, saúde, de estudos do corpo e do movimento, de gênero, do patrimônio, do racismo, das tecnologias 272 digitais, da pandemia, das tradições, de acessibilidade e inclusão, da conjuntura política e educacional. Foram 27 pessoas do sexo feminino e 32 do sexo masculino. Pela autodeclaração, tivemos uma maioria de 41 pessoas negras, 31 praticantes de alguma religião de matriz africana, e a maioria de 40 capoeiristas, do total de 59 participantes. 5. resultados observados – “vem jogar mais eu...” Quanto ao movimento interno da Universidade, como já mencionado, a reflexão crítica de temas em torno da capoeira, assim como a escuta da diversidade de mestres, mestras e pessoas estudiosas afins, foi um dos objetivos principais, e que pretendia mobilizar estudantes em cursos de formação de professores da EEFD, como também de toda Universidade. Outro aspecto de destaque foi a participação de estudantes extensionistas na concepção, produção, divulgação, acolhimento, viabilização dos fóruns virtuais, e em outras demandas da organização. Assim, essa ação cumpriu um papel radicalizado contra o racismo e outras opressões, valorizando e respeitando diferenças, lidando com conflitos, confrontos e desigualdades. Uma proposta de formação de professores focada na diversidade precisa mais que discutir as lutas sociais: precisa inserir-se nelas (GOMES; SILVA, 2006, p.20). Tivemos nosso seminário divulgado no Portal de Eventos da UFRJ25, o que se desdobrou em uma breve notícia na Rádio UFRJ26, e uma matéria sobre capoeira enquanto patrimônio cultural baseada em entrevistas com participantes do evento e da organização, publicada no Conexão UFRJ27. Tivemos, por baixo, uma média de 300 visualizações por dia, espalhadas pelos 8 canais que retransmitiram os debates. Através das inscrições, soubemos que alguns estados brasileiros foram atingidos, como Espírito Santo, Paraná, Sergipe, Rio Grande do Sul, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins, Santa Catarina, Bahia, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte, Goiás, Pará e Brasília-DF. Assim como outros países: Países Baixos, México, Equador, Canadá, Espanha, Portugal, EUA, Itália, 25 Cf.: https://eventos.ufrj.br/evento/viva-tradicao-viva-nossos-saberes-vem-de-longe 26 Cf.: https://www.spreaker.com/user/radioufrj/ conexao-ufrj-boletim-produzido-pela-coor_15 27 Cf.: https://conexao.ufrj.br/2021/03/23/capoeira-resistencia-imaterial 273 Reino Unido, Martinica, Alemanha e França. Mas o alcance com certeza foi maior do que o número de inscrições feitas. Por toda essa potência, além de ter tido a tradução em Libras, sabemos que esse foi só o começo dos estudos a partir desse evento28. Quanto às inscrições, nós as usamos para ter uma ideia de como pode ter sido nosso público durante esses 14 dias. Tivemos 191 inscrições até o fechamento das mesmas, sendo que destas, 133 (70%) eram capoeiristas. De pessoas autodeclaradas brancas foram 50 (26,1%), e de pessoas negras (pretas e pardas) foram 121 (63,2% no total, 32,4% pretas e 30,8% pardas), e algumas outras responderam com expressões como negro, negra de pele clara, preto, pardo, indígena e afroindígena. Saber disso foi importante, pois tivemos uma maioria convidada negra, mas também uma maioria negra no público que se inscreveu e participou. No quesito sexo, tivemos uma ligeira maioria masculina – 84 pessoas, frente a 64 do sexo feminino e 2 não binárias, entre 150 respostas. Já em orientação sexual, a heteronormatividade se confirmou com uma maioria de 152 pessoas hetero (80%) das 190 respostas. Isso pode confirmar, mais uma vez, que a população LGBTQI+ ainda tem dificuldade de ocupar os espaços da capoeira devido às relações de opressão, sexistas e machistas presentes, persistentes e reproduzidas pela mesma. Entre esse público minoritário, tivemos 13 respostas para bi, 7 para homo, 3 para pansexual e 16 prefiram não responder. Outro dado relevante é a questão da religião, doutrina espiritual ou similar. Das 191 respostas, 62 disseram não ter nenhuma, 31 afirmaram o Catolicismo, 20 não responderam, 20 de Umbanda. 20 de Candomblé, 11 protestantes, 10 espíritas e o pouco restante respondeu com uma variedade (evangélico, da Jurema, da Ayahuasca, agnóstico, várias, entre outras). A maioria respondeu ter chegado ao ensino superior, o que pode sugerir que as condições materiais de vida e de inclusão digital dessas pessoas, durante a pandemia, favoreceram essa participação “virtual”. Entre elas, 47 têm superior incompleto e 36 completo, mas é preciso considerar também que quem chegou ao nível de pós-graduação também passou pela graduação. Assim, temos 21 com curso de especialização completo e 8 incompleto, 19 com mestrado incompleto e 23 completo, 17 com doutorado completo e 14 incompleto. Tivemos ainda 9 pessoas com 28 Cf.: a minoria das inscrições sinalizou que tinha alguma deficiência: visual (2) e múltipla (1). 5 pessoas não responderam e a maioria de 183 acusou que não tinha deficiência. 274 ensino médio completo e 3 incompleto, e 1 pessoa com ensino fundamental incompleto. Diante disso, algumas reflexões podem ser feitas sobre o acesso, a permanência e o sucesso acadêmico de praticantes de capoeira, ou o engajamento nos estudos, ou mesmo a elitização em torno da pesquisa acadêmica sobre capoeira, ou mesmo uma reflexão sobre as desigualdades de acesso às tecnologias de informação e comunicação. 6. considerações finais – “façamos o levante!” A Capoeira, enquanto um movimento social, movimento de origem negra, mas praticada hoje por diversos povos espalhados pelo mundo, tem sua potência educadora, no sentido que Nilma Gomes disserta sobre o “Movimento Negro Educador”. Ela pode ser entendida como um “projeto” capaz de produzir “subjetividades rebeldes e inconformistas”, que questionariam àquelas de tom conformista que ainda imperam nos meios acadêmicos, seja dentro das universidades, como também da escolas básicas (GOMES, 2017, p.62). Mais ainda: produzir e reforçar o que já é tratado tradicionalmente dentro da capoeira quando se faz menção a essa postura “rebelde” e “inconformista”. Assim, se espera que esse Viva tenha contribuído para a construção do que Adriana Albert29 comentou ser uma nova tradição na capoeira, uma tradição que seja coerente com suas raízes rebeldes, que lute contra as opressões, que lute pela vida... E que essa “ânsia de liberdade”, como nos diz mestre Pastinha, possa cessar. E que toda criança negra, herdeira da capoeira, como diz Nêgo Bispo30, possa ter acesso a ela! Dentro e fora das escolas, já que a rede pública no país representa mais de 80% das escolas31, e que majoritariamente a população negra do país é atendida por ela. Façamos o levante, como diz mestre Renato Trivela32! 29 Fala realizada na Mesa 10, mas muito comum dela. 30 Fala realizada na Mesa 4. 31 Conforme o censo escolar 2020, em reportagem de Heloisa Cristaldo (2021), da Agência Brasil, 81,9% das escolas no país são da rede pública (muncipais, estaduais e federal). 32 Fala realizada na Mesa 1, mas muito comum dele. 275 referências bibliográficas CID, Gabriel da Silva Vidal; COSTA, Marcelo Cardoso da. A capoeira como objeto de pesquisa: espaços formais e educação. Resumo expandido apresentado no GT Capoeira e Educação das Relações Étnico-Raciais: Possibilidades e Desafios em Diferentes Contextos In: Seminário Regional de Ensino e Relações Étnico-Raciais Ancestralidade e Resistência dos Povos Afro-Indígenas. 2020. CNS/MS. 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Por exemplo, há registros de mais de 220 aves, visitantes e moradores, que circulam no campus da Ilha da Cidade Universitária, no Rio de Janeiro. Já no Observatório do Valongo (OV), uma das Unidades do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), localizado no centro da cidade, esse número chega a 40. O projeto VOOS pretende apresentar, representar e instigar as pessoas a conhecerem o ambiente que as cerca através de material especialmente produzido para essa finalidade. palavras-chave Aves; Biodiversidade; Ecologia. 279 introdução Antes mesmo do LaRC se tornar real, o VOOS já andava pelos corredores do CCMN. Um grupo de estudantes da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ desenvolveu, como parte de uma disciplina, um trabalho sobre espécies da Mata Atlântica existentes nos jardins do CCMN, sob a orientação da Professora Luciana Maia Coutinho (EBA/UFRJ) e o apoio da Professora Cássia Curan Turci, decana do CCMN, e Mônica Oliveira, superintendente do CCMN/UFRJ. Como parte das comemorações dos 100 anos da UFRJ, celebrado em 2020, foi desenvolvido um trabalho multidisciplinar de identificação botânica da flora comum encontrada nos jardins e pátios internos da Decania do CCMN e do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB). O trabalho de pesquisa, realizado a partir da ideia central de gerar um panorama iconográfico, representativo dessa flora, serviu de mote para o evento “A Flora Desvelada na UFRJ”, que contou com o lançamento de um calendário comemorativo de 2020, além de exposição itinerante no IPUBUFRJ, palestras acerca dos temas sobre ilustração, cor e botânica, oficinas temáticas e apresentação em congresso internacional. O projeto tornou possível aproximar, por um ponto de vista comum, visitantes, servidores, estudantes e funcionários terceirizados, reativando o local como espaço de cultura, arte, educação ambiental, promoção da saúde, fruição e como um respiro, estimulando uma integração mais abrangente entre o ensino, a pesquisa e os projetos de extensão. Os estudantes do projeto “A Flora Desvelada” continuaram, por um bom tempo produzindo, ilustrações botânicas. Nesse período, a professora Silvia Lorenz Martins (OV/UFRJ), coordenadora de integração acadêmica de extensão do CCMN, disponibilizou para os estudantes fotos de aves, várias delas tiradas no Observatório do Valongo, ao longo de muitos anos. As alunas passaram a reproduzir ilustrações das aves em número suficiente para realizar outra exposição nas imediações do CCMN. Desse trabalho embrionário veio a ideia de se estreitar a colaboração com o Centro de Letras e Artes (CLA) e dedicar um espaço a essa interação entre ciência e arte. Assim nasceu o Laboratório de Representação Científica- LaRC. O LaRC foi criado oficialmente em uma reunião do conselho de coordenação do CCMN em março de 2020, durante a pandemia. E o projeto VOOS que, como dissemos, já andava por ali, começou a tomar corpo, a se materializar. As fotos feitas no Observatório do Valongo foram as primeiras a 280 serem reproduzidas em ilustrações por alunos de diferentes cursos, orientados pela professora Graça Lima (EBA/UFRJ). A ideia inicial era elaborar um guia de Aves do Observatório do Valongo e atrair para nossos campi pessoas que normalmente não os visitariam. O VOOS cresceu. O servidor técnico-administrativo da UFRJ, Alfredo Heleno de Oliveira, já havia contribuído com a elaboração de uma agenda, intitulada “As aves da Ilha da Cidade Universitária”, para o Instituto de Química (IQ/UFRJ) em 2009. Ele registra há muitos anos as aves presentes na Ilha da Cidade Universitária e se juntou a nós, disponibilizando as suas fotos para reprodução. As aves estão entre os animais mais apreciados, seja pela beleza do colorido das plumagens, pela rapidez e elegância do voo seja pelo canto harmonioso. O Brasil é o segundo país no mundo em número de espécies de aves registradas. De acordo com o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), são encontradas em nosso país aproximadamente 1825 espécies, quase 20% da biodiversidade de aves do mundo. Parte desse montante corresponde às aves que utilizam também o espaço urbano para sua sobrevivência, além de seus habitats naturais. A observação de aves é usada com grande sucesso na educação ambiental. Popular em muitos países, essa atividade começou a ganhar inúmeros adeptos no Brasil há apenas algumas décadas. Além de ser uma prática que desperta interesse de muitos, proporciona extremo bem-estar aos seus praticantes, contribuindo para a melhoria nos níveis de concentração, atenção, orientação, diminuição da ansiedade, além de contribuir para a integração do homem com a natureza. Em ambientes urbanos, a presença das aves se torna ainda mais marcante. Segundo a plataforma WikiAves (https://www.wikiaves.com.br/), a cidade do Rio de Janeiro registra 430 espécies observadas regularmente (dados de abril de 2021) e no jardim Botânico do Rio de Janeiro estão catalogadas 192 espécies. O parque do Ibirapuera, em São Paulo, abriga cerca de 149 espécies. Por outro lado, na ilha da Cidade Universitária já foram observadas e registradas 220 espécies, enquanto no Observatório do Valongo há cerca de 40 espécies, entre aves moradoras da ilha e migratórias. Isso revela o grande potencial da biodiversidade de nossa universidade e a importância na conservação do mesmo. (https://drive.google.com/drive/ folders/18Y1claA4WEp7odgggcXIQurzQTZnZvg4?usp=sharing). 281 2. dos objetivos No projeto VOOS pretendemos promover uma aproximação real entre o público leigo e a UFRJ a partir da apresentação, representação e divulgação da fauna e da flora nativas de diferentes campi da UFRJ, utilizando criações científicas-lúdicas-artísticas, acionando linguagens variadas (textos, desenhos, pinturas, fotografias, xilogravuras, animações, objetos etc.). Todo material produzido está sendo publicado e publicitado em diferentes plataformas (produtos, impressos, vídeos, sites, mídias sociais etc.). A divulgação e propagação dessas informações tem o objetivo de despertar no público em geral — frequentadores habituais ou visitantes eventuais — o interesse em se aproximar dessa diversidade de espécies que coabitam essas regiões. Ao mesmo tempo, intentamos despertar a curiosidade científica e a atenção artística dessas pessoas sobre esses habitats e seus habitantes, divulgando e valorizando as produções artístico científicas dos aglomerados vivos que atravessam a UFRJ (entes e ciências de todas as naturezas e origens). Buscamos contribuir para o encurtamento das distâncias entre arte e ciência, assim como para as produções que se inserem nas fronteiras desses campos de conhecimento, pois acreditamos na indissociabilidade desses saberes e/ou na sobreposição de seus limites. Objetivamente, pensamos em atrair para nossos campi um público que normalmente não frequentaria esse espaço. Com isso, podemos promover uma maior divulgação de outras atividades da universidade, tais como pesquisas desenvolvidas nos diversos laboratórios do CCMN, por exemplo. 3. metodologia O projeto VOOS conta com a participação de 25 estudantes de graduação de diferentes cursos. Alunos de design, paisagismo, pintura, biologia, biofísica, astronomia. Os professores participantes, até o momento, são: Anael Alves, de Desenho Industrial (EBA), Ary Moraes, Departamento de Artes da Forma (EBA), Cássia Curan Turci (coordenadora do projeto, IQ), Jeanine Geammal, Desenho Industrial (EBA), Graça Lima, Departamento de Artes da Forma (EBA) e Silvia Lorenz Martins (Observatório do Valongo). No entanto, esse é um projeto que acolhe todos que estejam interessados em colaborar ou participar de alguma maneira. Um dos resultados que pretendemos obter são os guias de campo. Guias 282 com dados relativos às aves observadas nos diferentes campi da UFRJ, e iniciaremos com o Observatório do Valongo. Além disso, outras linhas de desenvolvimento do projeto foram criadas. Assim, para melhor organizar e distribuir as orientações, criamos uma planilha com atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes e seus orientadores (a seguir). Em uma das linhas de desenvolvimento do projeto está a criação de ilustrações. Tais ilustrações são feitas utilizando fotografias como base (Figura 1) e contam com a orientação da Profa. Graça Lima. As técnicas utilizadas na elaboração das ilustrações podem variar de extensionista a extensionista e são: aquarela, lápis de cor, grafite e colorização digital e, por vezes, mais de uma técnica é empregada. Além das ilustrações, os alunos também realizam pesquisa referente a cada ave estudada, tais como seus hábitos de alimentação, além de reproduzirem partes da ave a fim de representar sua anatomia. No entanto, apesar das dificuldades encontradas no processo de ensino remoto por conta do períoda da pandemia, os resultados são belíssimos e alguns deles podem ser vistos em (https://drive.google. com/drive/folders/1LvXorM5BR-EFa72LUT6e9Stq7PAXCyX7?usp=sharing). Além das ilustrações, registros fotográficos e registros sonoros das aves têm sido feitos por extensionistas. Alguns deles podem ser vistos em (https://drive.google.com/drive/folders/1P1C4mYRziPSRq_ S7uOoMDHe4rikI1NA7?usp=sharing). Todos esses resultados vêm sendo postados em nossa conta do Instagram (@larc.ufrj). 283 Figura 1 - Guaracava-de-barriga-amarela (Elaenia flavogaster). Foto: Silvia Lorenz Martins; ilustração: Suellen Martins Paralelamente ao desenvolvimento dessas atividades, recebemos em nossa sala virtual, ao longo dos meses, a presença de diferentes saberes. Os assuntos abordados se relacionam, direta ou indiretamente, com o projeto em si. Iniciamos com o Prof. Ary Moraes (EBA-UFRJ) falando sobre o desenvolvimento de infográficos; seguimos com a presença de Kacau Oliveira (@kacau.oliveira), fotógrafa e observadora de aves; Profa. Vânia Alves, do laboratório de bioacústica (IB-UFRJ) apresentando seu trabalho sobre Atobás; Alfredo Heleno falando sobre as Aves do Fundão; Wagner Zuri (@wagnerzuri), ilustrador, apresentando seu trabalho no campo da Ilustração de aves; Profa. Cláudia Rezende (IQ-UFRJ), Tinturas Naturais; Irmãos Mello (@irmaosmello_rio), observadores de aves e autores de dois guias de aves, falando sobre “O Som das Aves”; Profa. Ana Galvão, do laboratório de bioacústica (IB-UFRJ) “Anatomia das aves”; Avistar Brasil (@avistar), canal de divulgação sobre aves, apresentado por Guto Carvalho, falando sobre “A Paleta de cores das aves”; Prof. Antônio Carlos de Freitas (UERJ), @biocenas, coordenador do Laboratório de Fotografia Científica; Prof. Elidiomar Ribeiro da Silva (UNIRIO), editor da revista “A Bruxa” sobre zoologia cultural, apresentando a palestra “As aves da noite no imaginário do folclore Brasileiro”. Todas as conversas foram gravadas e serão disponibilizadas em nosso canal do YouTube, em breve. 284 4. resultados e considerações finais O projeto VOOS é um projeto de beleza imensa, muito atrativo, e vem sendo construído com seriedade e carinho. Em um momento em que nos encontramos presos em nosso isolamento social, poder voar com esse projeto é muito motivador, como pode ser visto pelos depoimentos dos estudantes, e será ainda mais, quando voltarmos à vida presencial. Há previsão de muitas atividades, tais como registro das aves (imagens e sons) in loco, com caminhadas programadas, oficinas direcionadas à estudantes, e também visitas coordenadas nos diferentes museus e laboratórios do CCMN, entre outras atividades. Abaixo seguem os depoimentos de alguns estudantes que participam do projeto. Os depoimentos estão na íntegra, tal como passados pelos extensionistas. “Fazer parte do projeto VOOS é muito gratificante. Ser uma bióloga, apaixonada por aves, por fotografá-las e ainda participar de um projeto importante de divulgação científica como esse é incrível. Tenho certeza que o projeto vai crescer cada dia mais para que a gente consiga transmitir conhecimento sobre aves, esses seres tão importantes que tanto amamos!” Luisa Melo, graduanda de Biologia “O projeto me surgiu como oportunidade de aprender sobre um tema que gosto muito: o desenho, principalmente aquele que tem a natureza como alvo. Porém, essa chance não veio só, conseguimos ter conosco vários profissionais de outras áreas que adicionaram uma vasta gama de conhecimento. Nem as dificuldades encontradas por estarmos a distância nos fez esmorecer, o VOOS resgatou a velha curiosidade de saber além do óbvio e isso levamos pra sempre.” Flávia Fontes, graduanda de Desenho Industrial – Projeto de Produto “Ingressei no LaRC bem no início de sua existência, o maior atrativo para mim foi, sem sombra de dúvida, a possibilidade de ilustrar a natureza e ajudar a comunidade acadêmica com isso. Desde que comecei a participar do projeto de extensão VOOS, venho aproveitando muito, por diversos motivos, dentre eles os temas e palestras on-line que vêm sendo ministradas há bastante tempo, e a atenção dos professores participando do projeto.” Thiago Taubman Costa, graduando de Desenho Industrial – Projeto de Produto “A minha experiência no LaRC foi incrível. Fui convidada para o projeto em 2020 na época do isolamento social, e foi gratificante voltar a ter contato com a universidade e fazer parte de um projeto tão interessante quanto o VOOS. Através dele, tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre as aves 285 brasileiras e perceber o quanto é rica a nossa biodiversidade, me levando a reflexão sobre esses animais e a sua representação como símbolos de liberdade, em um momento onde a nossa própria liberdade individual foi limitada.” Flávia Medeiros, graduanda de Composição de Interiores “Esse ano tive muitas perspectivas de ter rapidamente a vacina do Covid-19 e uma baixa nas mortes, porém não trouxe tantas tranquilidades como foi esperado. Quando entrei para o projeto VOOS ano passado, consegui focar em outros assuntos que não fossem as estatísticas de morte que ocorriam no país e no mundo, e esse ano aconteceu a mesma coisa, as pesquisas que fazíamos sobre os pássaros, desenhos e aulas com diferentes pessoas especializadas trouxeram um alívio para mim, principalmente nesses períodos da faculdade onde tudo foi mais corrido e teria que compensar os meses perdidos sem aulas. Portanto, posso afirmar, sem dúvidas, que aprender sobre as aves e fazer o que eu mais amo, que é expressar a minha arte, foi muito importante para que eu não desanimasse nesse longo período remoto.” Suzani Rodrigues Martins, graduanda de Licenciatura em Artes Plásticas “O VOOS é um projeto que participo mais por puro prazer do que por qualquer outro motivo, pois nunca imaginei que existia um projeto que fosse tão a minha cara. Curso Biologia e tenho especial interesse pela ornitologia (aves). Além de amar desenhar desde pequeno e, dentro da faculdade, descobrir que posso usar a ilustração para fins científicos, foi uma surpresa incrível. Então estar em um projeto onde eu possa juntar tudo que eu mais amo em uma só atividade é perfeito: ilustrar catálogos de identificação das aves do campus da minha própria faculdade e do observatório do Valongo. Além da oportunidade assistir as palestras incríveis de pesquisadores e artistas que são convidados pelo projeto para conversar com os extensionistas.” Luís Gustavo Barretto Rodrigues, Licenciatura em Ciências Biológicas “O Laboratório de Representação Científica (LaRC) apareceu para mim, em meio à pandemia, quando uma ex-professora, que já também havia sido coordenadora de extensão, me convidou para cuidar das redes sociais do grupo. A partir disso, fui conhecendo o primeiro projeto do Laboratório: o projeto VOOS, que visa unir diferentes áreas do conhecimento para representar e apresentar para um público plural, inicialmente, aves que se encontram em locais que, de alguma forma, estão ligados à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sobretudo, o que houve de incrível foi o fato de tal professora não saber que sou formada em Técnico em Meio Ambiente; algo que eu tinha me dissociado na forma mais ativa depois que saí do Ensino Médio - momento em que fiz o curso técnico integrado. Então, o projeto acabou surgindo como algo que me impulsionou a olhar para trás; não para trás, para dentro. De casa, consegui, nesse contexto, 286 mudar algumas realidades pessoais e, talvez, incitar um novo olhar para a natureza em quem foi atingido pelas mídias digitais do Laboratório. Assim, essa extensão me fez ver que o contato com algum propósito ambiental, para além das pequenas coisas que faziam parte do meu cotidiano, era necessário para um bem estar que eu nem sabia que me faltava.” Mylena Larrubia, graduanda de Astronomia “Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso.” Manoel de Barros – o apanhador de desperdícios 287 Este livro foi composto nas tipografias Minion Pro, Metropolis e Nunito para distribuição digital em formato PDF. Foi produzido com o suporte de dezenas de extensionistas graduandos da UFRJ. Novembro de 2022