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  • Doutor em Comunicação e Sociedade pela Universidade de Brasília (UnB), com estágio doutorado (Doutorado-Sanduíche) na... moreedit
  • Gustavo de Castro , Michel Riaudel edit
Este artigo propõe uma leitura de Diadorim – Menino, vestido de jagunço, que se apresenta em toda a sua vida relatada como um bravo guerreiro, mas que se revela, enquanto morto, em um corpo de mulher – como uma imagem inapreensível do... more
Este artigo propõe uma leitura de Diadorim – Menino, vestido de jagunço, que se apresenta em toda a sua vida relatada como um bravo guerreiro, mas que se revela, enquanto morto, em um corpo de mulher – como uma imagem inapreensível do Grande sertão: veredas (1956), romance de João Guimarães. Nosso objetivo é investigar as noções de imago movente e aparição como fórmula criativa que permitiu a elaboração estética da personagem pelo autor. Gesto que contribui para a reminiscência da personagem tanto na obra (no quadro ficcional) quanto no tempo (na cultura, nas releituras e transcriações artísticas como HQs, cinema, teatro etc.). A noção de imago movente acompanha o procedimento metodológico da imagem carregada de força e vida própria, pensada numa corrente teórica que compreende a imagem enquanto movimento: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) e Didi-Huberman (1998; 2013; 2015). Verificamos com essa leitura, que questões polêmicas do nosso tempo se interconectam com temáticas do romance, atualizando, assim, a obra e ampliando o seu circuito de sentidos em um constante movimento de mudança e preservação.

This article proposes a reading of Diadorim – Boy, dressed as a jagunço, who presents himself throughout his reported life as a brave warrior, but who reveals himself, while dead, in a woman’s body – as an elusive image of the Devil to Pay in the Backlands (1956), novel by João Guimarães. Our objective is to investigate the notions of moving imago and apparition as a creative formula that allowed the aesthetic elaboration of the character by the author. A gesture that contributes to the reminiscence of the character both in the work (in the fictional context) and in time (in culture, in reinterpretations and artistic transcreations such as comics, cinema, theater, etc.). The notion of moving imago accompanies the methodological procedure of the image charged with strength and life of its own, thought of in a theoretical current that understands the image as movement: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) and Didi -Huberman (1998; 2013; 2015). With this reading, we verified that controversial issues of our time are interconnected with themes from the novel, thus updating the work and expanding its circuit of meanings in a constant movement of change and preservation.
Resumo O romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, é uma história de medo e atração, assombro e fascínio. Na travessia do rio São Francisco, Riobaldo, o narradorprotagonista, passa por um ato de transformação de caráter... more
Resumo O romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, é uma história de medo e atração, assombro e fascínio. Na travessia do rio São Francisco, Riobaldo, o narradorprotagonista, passa por um ato de transformação de caráter iniciático (Bolle, 2005). Discutiremos a personagem Diadorim enquanto o médium dessa travessia por meio de uma abordagem transgênero: Menino, vestido de boiadeiro, com imensos olhos verdes. Mediante uma postura aproximativa, identificamos em Diadorim a figura do encantamento e da repulsa, sentimentos distintos que conduzem Riobaldo ao confrontamento de sua própria sexualidade que é, por sinal, marcada pelo "regime da diferença sexual" (Preciado, 2020). A noção de imagem dialética (Benjamin, 2009) é o prisma pelo qual investigamos o embate entre as faces bela e terrível de Diadorim e que nos permitiu identificar, com a noção de travessia, elementos para uma leitura baseada num paradigma trans. Palavras-Chave: Diadorim. Transgênero. Grande sertão: veredas. Imagem dialética.
A xilogravura do artista plástico brasileiro Arlindo Daibert (1952-1993), Diadorim II, é o meio pelo qual se investiga a noção de engrama e Pathosformel segundo Aby Warburg (1866-1929). Imagem motivada pelo romance de João Guimarães Rosa... more
A xilogravura do artista plástico brasileiro Arlindo Daibert (1952-1993), Diadorim II, é o meio pelo qual se investiga a noção de engrama e Pathosformel segundo Aby Warburg (1866-1929). Imagem motivada pelo romance de João Guimarães Rosa (1908-1969), Grande sertão: veredas (1956), em que se debatem forças dinâmicas contrastantes – lógica e magia, razão e desrazão, aparição e ocultamento –, semelhante ao fluxo narrativo rosiano. Deste modo, com os procedimentos metodológicos de Warburg (aproximativo, analógico, pelas reminiscências e filológico), explorou-se o caráter de transmissão presentes na imagem e na dimensão do páthos na personagem Diadorim, o que permitiu encontrar a sua dimensão cosmológica.
O presente artigo discute elementos do imaginário e cultura brasileira os quais potencializam uma narrativa mítica em dois símbolos nacionais, o Macunaíma, de Mário de Andrade, e a imagem do Cristo Redentor. Sob a perspectiva da teoria do... more
O presente artigo discute elementos do imaginário e cultura brasileira os quais potencializam uma narrativa mítica em dois símbolos nacionais, o Macunaíma, de Mário de Andrade, e a imagem do Cristo Redentor. Sob a perspectiva da teoria do imaginário, estudaremos o aspecto mitogênico nas duas obras. A partir das aparições desses símbolos na cultura, na política e na mídia, constataram-se associações idealizadas com a estátua, e de estigma, com o personagem literário. 
O presente artigo discute elementos do imaginário e cultura brasileira os quais potencializam uma narrativa mítica em dois símbolos nacionais, o Macunaíma, de Mário de Andrade, e a imagem do Cristo Redentor. Sob a perspectiva da teoria do... more
O presente artigo discute elementos do imaginário e cultura brasileira os quais potencializam uma narrativa mítica em dois símbolos nacionais, o Macunaíma, de Mário de Andrade, e a imagem do Cristo Redentor. Sob a perspectiva da teoria do imaginário, estudamos o aspecto mitogênico nas duas obras. A partir das aparições desses símbolos na cultura, na política e na mídia, constataram-se associações idealizadas com a estátua, e de estigma, com o personagem literário.
A xilogravura do artista plástico brasileiro Arlindo Daibert (1952-1993), Diadorim II, é o meio pelo qual se investiga a noção de engrama e Pathosformel segundo Aby Warburg (1866-1929). Imagem motivada pelo romance de João Guimarães Rosa... more
A xilogravura do artista plástico brasileiro Arlindo Daibert (1952-1993), Diadorim II, é o meio pelo qual se investiga a noção de engrama e Pathosformel segundo Aby Warburg (1866-1929). Imagem motivada pelo romance de João Guimarães Rosa (1908-1969), Grande sertão: veredas (1956), em que se debatem forças dinâmicas contrastantes – lógica e magia, razão e desrazão, aparição e ocultamento –, semelhante ao fluxo narrativo rosiano. Deste modo, com os procedimentos metodológicos de Warburg (aproximativo, analógico, pelas reminiscências e filológico), explorou-se o caráter de transmissão presentes na imagem e na dimensão do páthos na personagem Diadorim, o que permitiu encontrar a sua dimensão cosmológica.
No presente artigo pretendemos refletir sobre os desafios da relação entre maternidade e carreira. Partindo de relatos de experiência, analisamos narrativas de mulheres publicadas na rede social LinkedIn, e que abordam histórias de mães... more
No presente artigo pretendemos refletir sobre os desafios da relação entre maternidade e carreira. Partindo de relatos de experiência, analisamos narrativas de mulheres publicadas na rede social LinkedIn, e que abordam histórias de mães promovidas e contratadas durante a gestação, em contraponto à experiência de demissão no retorno da licença-maternidade. Observou-se que esse ato de falar abertamente em um espaço corporativo sobre as dores e alegrias da maternidade é um fenômeno que acompanha as narrativas de si no espaço digital. Como aporte teórico-metodológico utilizamos os estudos do imaginário e a perspectiva rizomática de Deleuze e Guattari para identificar reforços, fissuras e/ou transgressões aos imaginários de gênero que atualizam imagens excludentes da maternidade.
The novel "The Devil to Pay in the Backlands"" by João Guimarães Rosa, tells a story of fear and attraction, wonderment and fascination. During the crossing of the São Francisco river, Riobaldo, the protagonist-reciter, experiences an act... more
The novel "The Devil to Pay in the Backlands"" by João Guimarães Rosa, tells a story of fear and attraction, wonderment and fascination. During the crossing of the São Francisco river, Riobaldo, the protagonist-reciter, experiences an act of transformation of an iniciatic fashion (BOLLE, 2005). We will discuss the character Diadorim as a medium of such a crossing through a transgender perspective: a boy, dressed as a herdsman, with imense green eyes. By the means of an approximative stance, we identify in Diadorim the figure of enchantment and repulse, distinctive feelings that lead Riobaldo to challenge his own sexuality, which, for instance, is marked by the "regime of sexual difference" (PRECIADO, 2020). The notion of a dialectical image (BENJAMIN, 2009) is the prism through which we investigate the clash between the beautiful and terrible faces of Diadorim, and which allows us to identify, upon the notion of crossing, the elements for a reading based on a trans paradigm.
Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de... more
Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de Diadorim. Essa discussão ratifica a perspectiva de Silviano Santiago (2017) ao afirmar que o Grande sertão foi domesticado pelo pensamento conservador tanto acadêmico quanto jornalístico. Com uma metodologia de pesquisa bibliográfica e de arquivo de jornais, o artigo conclui que o não enfrentamento destas questões produz empobrecimento crítico.
Cette communication est basée sur les recherches que je mène dans le cadre de mon doctorat à l'Université de Brasília (UnB), et qui s'inscrivent dans l'axe de recherche Images et esthétiques contemporaines de la Faculté de Communication.... more
Cette communication est basée sur les recherches que je mène dans le cadre de mon doctorat à l'Université de Brasília (UnB), et qui s'inscrivent dans l'axe de recherche Images et esthétiques contemporaines de la Faculté de Communication. En France, il s'agit d'un stage doctoral à l'UFR d'études Ibériques et latino-américaines sous la direction de Michel Riaudel. Ma exposition doive suivri trois axes : A-Présenter Diadorim et le roman " Grande sertão : veredas" ; B-Je Démontrerai les typologies d'analyses ; C-Présenter les possibilités de lecture queer.
Este artigo tem como objetivo problematizar a expressão “O Diadorim do Grande sertão sou eu”, dita por João Guimarães Rosa (1908-1967) a Afonso Arinos e registrada por Josué Montello, assim como busca circunscrever o problema biográfico... more
Este artigo tem como objetivo problematizar a expressão “O Diadorim do Grande sertão sou eu”, dita por João Guimarães Rosa (1908-1967) a Afonso Arinos e registrada por Josué Montello, assim como busca circunscrever o problema biográfico do autor mineiro. O texto fundamenta-se na discussão de “crítica biográfica” (SOUZA, 2020) para fazer a leitura do campo biográfico e da personagem Diadorim. A conclusão aponta para a possibilidade de relacionar fato e ficção à pesquisa e à grande carência de estudos biográficos sobre o autor mineiro.
Como o arquétipo da mulher selvagem sobrevive e ressurge dentro de construções estereotipadas do feminino na cultura pop contemporânea, especialmente, na música e nos videoclipes? Para tratar desse arquétipo, partimos da figura brasileira... more
Como o arquétipo da mulher selvagem sobrevive e ressurge dentro de construções estereotipadas do feminino na cultura pop contemporânea, especialmente, na música e nos videoclipes? Para tratar desse arquétipo, partimos da figura brasileira da pombagira, símbolo de uma força feminina livre, selvagem, sensual e sexual<strong>.</strong> De acordo com a teoria de Warburg (2012), símbolos fortes ressurgem na arte devido ao caráter recorrente do pathos, que ele denomina <em>pathosformel</em>. Mostraremos, com o estudo de três figuras do feminino do star system mediático como um feminino livre, embora tenha sido devastado por séculos de falocentrismo, está ressurgindo e se manifestando na cultura pop.
Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de... more
Este artigo tem como objetivo discutir a ausência dos temas de gênero e da abjeção em Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa (1908-1967), por parte da crítica jornalística brasileira, com destaque especial à figura de Diadorim. Essa discussão ratifica a perspectiva de Silviano Santiago (2017) ao afirmar que o Grande sertão foi domesticado pelo pensamento conservador tanto acadêmico quanto jornalístico. Com uma metodologia de pesquisa bibliográfica e de arquivo de jornais, o artigo conclui que o não enfrentamento destas questões produz empobrecimento crítico. Palavras-chave: Jornalismo. Literatura. Diadorim. Gênero. Guimarães Rosa.
Este artigo baseia-se em uma pesquisa aplicada de caráter descritivo, cujo objetivo é documentar o processo de desenvolvimento do jogo Trivster. Criado para Apple TV dentro do projeto de capacitação de estudantes do BEPiD (Brazilian... more
Este artigo baseia-se em uma pesquisa aplicada de caráter descritivo, cujo objetivo é documentar o processo de desenvolvimento do jogo Trivster. Criado para Apple TV dentro do projeto de capacitação de estudantes do BEPiD (Brazilian Education Program for iOS Development) da Universidade Católica de Brasília (UCB), o Trivster é um jogo de perguntas e respostas que utiliza os sensores do smartphone para uma experiência no formato multiplayer. Neste artigo, se discute o potencial educativo dos jogos e as metodologias e frameworks exploradas no processo de concepção de games: Challenge-Based Learning, Scrum, UX e Design Thinking. Don Norman (2018), Travis Lowdermilk (2013), Jeff Sutherland (2014) e Lúcia Santaella (2018) são alguns autores que sustentam a base teórica do artigo. Ao final, a postura reflexiva adotada no processo de criação do game permitiu a elaboração de algumas questões relativas à contribuição dos jogos para a educação.
RESUMO O presente trabalho explora o crowdfunding como um modelo de financiamento coletivo para uma nova modalidade de produção artística: colaborativa, de caráter democrático e dentro de um cenário de convergência tecnológica.... more
RESUMO O presente trabalho explora o crowdfunding como um modelo de financiamento coletivo para uma nova modalidade de produção artística: colaborativa, de caráter democrático e dentro de um cenário de convergência tecnológica. Trabalhamos com uma metodologia exploratória e, posteriormente, abordamos o caso da produção do álbum Pajubá da artista carioca Linn da Quebrada. As noções de economia criativa, cultura da convergência e performance queer são trabalhados a partir dos seguintes autores: Valiati, Jenkins, Howe, Adorno e Louro. A abordagem selecionada é de se aprofundar na forma como os produtos culturais podem ser consumidos, em especial com o acréscimo do crowdfunding como modelo que torna acessível a produção de novas manifestações artísticas e culturais.

PALAVRAS-CHAVE: Crowdfunding; Economia Criativa; Pajubá; Linn da Quebrada; Queer.
RESUMO: A pesquisa Imagens e Imaginários de Diadorim situa-se em face do enigma e problematizações provocadas pela figura mítica e simbólica de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. É uma pesquisa de caráter bibliográfico com acesso a... more
RESUMO: A pesquisa Imagens e Imaginários de Diadorim situa-se em face do enigma e problematizações provocadas pela figura mítica e simbólica de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. É uma pesquisa de caráter bibliográfico com acesso a fontes primárias, no acervo de Guimarães Rosa no IEB, e de fonte secundária, com intuito de levantar o estado da arte referente às pesquisas sobre o tema. Na compilação foi possível identificar uma quinta tipologia de estudo, ausente nas abordagens delineadas pelo professor e pesquisador Willi Bolle (2004), que seria a temática do desejo homoerótico, ligada à teoria queer e os estudos transgênero.

PALAVRAS-CHAVE: Diadorim; Estética; Grande Sertão: Veredas; Queer.
Propomos aqui, uma reflexão sobre a abjeção e o imaginário da puta, destacando fatos históricos que contribuíram e reforçaram para imagem negativa que temos, alastrada na sociedade, tanto do feminino quanto da puta.
A partir das ideias suscitadas pelo filósofo Dani-Robert Dufour que propõe a necessidade de uma “pornologia” pesquisamos o imaginário do consumo da pornografia e da putaria. No presente artigo tratamos a indústria do gozo; as imagens... more
A partir das ideias suscitadas pelo filósofo Dani-Robert Dufour que propõe a necessidade de uma “pornologia” pesquisamos o imaginário do consumo da pornografia e da putaria. No presente artigo tratamos a indústria do gozo; as imagens constituídas sobre esse imaginário e produtos midiáticos como as pin-ups do fim da década de 1920, o cinema de Érika Lust, o site gpguia.net e a presente inserção das mulheres co mo consumidoras de pornografia. Verificamos as condições de possibilidade para uma “filosofia puta.”
O presente artigo mostra como o arquétipo da mulher selvagem sobrevive e ressurge dentro de construções estereotipadas do feminino na cultura pop contemporânea, especialmente, na música e nos videoclipes. Para tratar desse arquétipo,... more
O presente artigo mostra como o arquétipo da mulher selvagem sobrevive e ressurge dentro de construções estereotipadas do feminino na cultura pop contemporânea, especialmente, na música e nos videoclipes. Para tratar desse arquétipo, partimos da figura brasileira da pombagira, símbolo de uma força feminina livre, selvagem, sensual e sexual. De acordo com a teoria de Warburg (2012), símbolos fortes ressurgem na arte devido ao caráter recorrente do pathos, que ele denomina pathosformel. Mostraremos, com o estudo de três figuras do feminino do star system mediático – a norte-americana Lady Gaga, a brasileira Valesca Popozuda e o búlgaro Azis – como um feminino livre, embora tenha sido devastado por séculos de falocentrismo, está ressurgindo e se manifestando na cultura pop.
Research Interests:
A publicidade, atividade essencialmente visual, possui relação direta com as transformações sociais, econômicas e tecnológicas ocorridas desde meados do século XIX, e que avançam até os nossos dias. Resultado de um forte movimento... more
A publicidade, atividade essencialmente visual, possui relação
direta com as transformações sociais, econômicas e tecnológicas
ocorridas desde meados do século XIX, e que avançam até os
nossos dias. Resultado de um forte movimento econômico de
industrialização e modernização, a publicidade, do modo como
a conhecemos, emerge juntamente com as chamadas “máquinas de ver”,2 e acompanhou as revoluções industriais, o êxodo e a formação
das grandes metrópoles pulsantes. É exatamente daí que a
publicidade, como fenômeno da vida moderna, ganha seu ar de
voyeurismo. Prática explorada no protocinema e nas casas de rendez-
vous, famosas na moderna Paris do poeta Charles Baudelaire.
Na nossa perspectiva, o que sempre esteve em jogo, nesse espetáculo
de exposição e audiência, é uma estreita relação entre
mercadoria e atividade sexual. Este é o percurso que pretendemos
explorar, o vínculo entre a pornografia e o consumo. Para tal, recorreremos
ao imaginário e às imagens que circundam a noção de
pornografia (porné = consumo + grafia = escrita). As imagens que
serão apresentadas nos permitem evidenciar uma lógica ultraliberal,
em que o consumo da pornografia, omitido pelo discurso
moralizante, mas provido pela indústria do sexo, expõe um modo
de se produzir discursos e narrativas mediante as noções do desejo
e da avidez. O imaginário, também, nos permite perscrutar a
síntese nocional do jogo/relação entre o sexo e o consumo; o amor
ávido e a economia do gozo e do excesso. Eros e Capital.
Durante dois anos, o grupo de pesquisa LINGUAGEM, POESIA E COMUNICAÇÃO, vinculado ao Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília, formado pelo núcleo permanente dos quatro pesquisadores que ora assumem a organização deste... more
Durante dois anos, o grupo de pesquisa LINGUAGEM, POESIA E COMUNICAÇÃO, vinculado ao Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília, formado pelo núcleo permanente dos quatro pesquisadores que ora assumem a organização deste livro, se reuniu quinzenalmente para conversar e refletir a partir da ideia proposta inicialmente por Florence Dravet de “apreender o modo de comunicação do feminino no âmbito da tradição afrobrasileira e seu reflexo no imaginário popular do Brasil”. O ponto de partida das reflexões foi a figura da POMBAGIRA como fenômeno e experiência.

No Brasil, há pouca literatura sobre as pombagiras; no entanto, uma pesquisa de campo inicial junto a pessoas não adeptas revelou que a figura é muito presente no imaginário coletivo. Geralmente, a menção à pombagira suscita reações de espanto nas pessoas, que podem se expressar através do riso e do deboche ou ao contrário de respostas monossilábicas ou do silêncio incomodado. O nome é imediatamente associado à imagem de uma prostituta, uma mulher de vida livre, sedutora e perigosa. Enquanto alguns temem a pombagira, a chamam de perigosa, influente, maldosa, capaz de feitiços e amarrações, outros se sentem fascinados pelo seu poder de sedução, pelo seu conhecimento de feitiçaria que lhe permite obter qualquer coisa em matéria de amor e relacionamentos.

O primeiro ponto importante revelado por essa pesquisa inicial pareceu-nos ser o fato de que, nos terreiros de Umbanda onde pesquisamos, tanto homens como mulheres incorporam a pombagira, o que significava que sua força estava além da diferenciação de gêneros. Ao falarmos da pombagira, estávamos, portanto, falando do feminino e não das mulheres. Um feminino percebido como um tipo de força emotiva e intuitiva, instintiva e vinculada ao selvagem.

O segundo ponto importante é que percebemos que a pombagira não é uma figura isolada que circula no mundo profano e sim a manifestação de um tipo de força considerada sagrada, parte de um sistema de relações coordenadas entre o transcendente e o social. Se isolamos a pombagira do seu sistema, ela se transforma em estereótipo social: a prostituta, a histérica, a bruxa. Se a mantemos em seu sistema, ela se faz portadora de todas as forças do feminino que nascem das origens com Nanã, a autogerada, que se manifestam nas belezas de Iansã e Oxum, no amor espiritual de Iemanjá, na força de transformação de Iewá, etc.

Quando a figura sai de seu sistema cosmogônico complexo, ela passa a circular pelo mundo profano e se transforma num estereótipo. Buscamos então entender por que a figura adquire formas especificamente negativas do ponto de vista cultural e social.
Para isso, foi de suma importância atentar para o fato de que a vivência da pombagira pelos adeptos de Umbanda se dá através da incorporação e diz respeito aos aspectos emocionais da vida dos homens e das mulheres do terreiro: seus sentimentos, suas relações amorosas, sua sexualidade, sua expressividade corporal e verbal. Alguns homens não gostam da incorporação da pombagira porque ela os remete a seu lado feminino que tendem a negar. Já outros relatam que amam ter a oportunidade de exteriorizar seu lado feminino, sorrir, falar, gargalhar e gesticular como mulher. De fato, a pombagira gargalha, canta, xinga, usa vocabulário xulo, às vezes vulgar, quebra todas as barreiras, os tabus, expressa aquilo que não se ousa expressar, dança e gira para tirar o corpo da imobilidade, incita ao movimento e à ação. Nesse sentido, ela pode ser considerada como um tipo dionisíaco do feminino. Gosta de zombar, debochar, rir de tudo aquilo que as civilidades impõem como limitação aos homens e às mulheres. Sendo assim, seu campo preferido de atuação é o dos relacionamentos amorosos e, mais especialmente, o da sexualidade dos homens e das mulheres.

A pombagira atua, portanto, nas regiões da vida social onde residem dois grandes tabus: o amor e a sexualidade. O que é um tabu senão algo que se oculta? Talvez seja possível afirmar que os clichês simplificadores que fazem da pombagira uma figura negativa associada à prostituta, à mulher histérica e à bruxa perigosa são as máscaras sob as quais o feminino ama ocultar-se para melhor preservar o seu poder criativo, intuitivo, amoroso. Se ela gosta de rir e de jogar, faz pouco caso das civilidades e prefere a liberdade, se ela é movimento e ação, não surpreende que a pombagira jogue e ria com aquilo que mais desestabiliza o homem: sua sexualidade; com aquilo que talvez seja o maior desafio ao mesmo tempo espiritual e material do homem: o amor.

Partindo dessas considerações, desenvolvemos então nossas discussões e, além dos livros que foram básicos como “O feminino e o sagrado” de Christine Clément e Júlia Kristeva, e “Mudança de horizonte” de Dietmar Kamper, convidamos para contribuir conosco, pesquisadores brasileiros de outros grupos de pesquisa em Comunicação: Gustavo de Castro, do grupo Com-versações vinculado ao PPGCOM da Universidade de Brasília, Liv Sovik, do PPGCOM da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o pesquisador francês Georges Bertin, do CNAM de Angers, cuja pesquisa sobre a bruxaria e o imaginário em torno da figura da bruxa na Europa foi esclarecedora. Com eles, discutimos se o conhecimento de uma tradição com seus elementos antropológicos e o conhecimento de práticas sociais em comunidades específicas, unidos ao conhecimento de sensibilidades individuais que vivenciam experiências próprias de comunicação transcendental e social pode servir, de alguma forma, para que a ciência da comunicação avance. Juntos, debatemos nossas metodologias e abordagens questionando se o tipo de objeto que construímos poderia constituir um olhar para a realidade, e, no nosso caso, para a pesquisa sobre o imaginário que auxiliasse novos olhares, com novos instrumentos e possibilidades teóricas. Acreditamos aqui que a pista epistemológica poética é importante para a ampliação do campo e o desdobramento de suas possibilidades.

Ao término da pesquisa em torno da figura da Pombagira, como forma de pensar o feminino enquanto categoria-fenômeno da comunicação, na arte, na cultura e na mídia, acreditamos que demos voz ao sensível, ao imaginário e ao inconsciente como formas de aproximação teórica para o campo da Comunicação e que estamos reafirmando a importância do desenvolvimento do estranhamento - caracterizado pela exploração da ambiguidade do que parece familiar e dado - como forma de compreensão de fenômenos comunicacionais que flexibiliza o rigor cientificista de metodologias mais reconhecidas (a análise de discurso, a semiótica, as análise de conteúdo, entre outras). O resgate do estranhamento como aproximação metodológica tem, portanto, um valor idiossincrático em um espaço que cede cada vez mais às demandas de um determinado tipo de cientificismo – rigoroso, duro e exato - bem como pela colonização do campo acadêmico por uma certa discursividade do empreendedorismo e das organizações, que busca gerenciar as diferenças a seu favor e desvalorizar a urgência própria às humanidades e às ciências sociais em torno das noções de fenômeno e experiência no campo da comunicação. Com isso, queremos dizer que, se não estamos inovando, estamos, certamente, resistindo à excessiva pragmatização do campo.
A dissertação delineia o imaginário da putaria através de imagens da história da arte: pinturas, esculturas e artefatos; e imagens midiáticas: fotografias, cartazes e filmes. Tais imagens são designadas como imagens fantasmas, por... more
A dissertação delineia o imaginário da putaria através de imagens da história da arte: pinturas, esculturas e artefatos; e imagens midiáticas: fotografias, cartazes e filmes. Tais imagens são designadas como imagens fantasmas, por tratarem de um momento histórico diferente do nosso embora sobreviventes ao tempo. Nesse sentido, tem-se como objetivo traçar uma narrativa dos vestígios imaginários da putaria por meio de uma genealogia da forma e uma etimologia cultural da puta. Procedimento adotado pelo historiador da arte Aby Warburg, o qual nos fornece as ferramentas de análise e interpretação da imagem: analógico, comparativo, por aproximação e filológico. Ideia agitada de Warburg nomeada por ele de Pathosformel, ou fórmulas expressivas do páthos. Procuramos compreender também, por esse viés, as relações entre corpo e mito, sagrado e sexual, feitiço e sedução, interdito e transgressão, gozo e consumo, razão e sensibilidade. Assim, as imagens analisadas, predominantemente femininas e portadoras de uma sexualidade livre que nos auxiliaram encontrar, por meio de uma potência criativa e poética, uma estética puta que potencialmente nos permite propor uma filosofia puta que problematize as resistências, os não ditos, o rejeitado e a abjeção.

PALAVRAS-CHAVE: putaria; imagem; imaginário; corpo; comunicação; Warburg