Leandro Bessa
Doutor em Comunicação e Sociedade pela Universidade de Brasília (UnB), com estágio doutorado (Doutorado-Sanduíche) na Université Paris IV - Lettres Sorbonne. Mestre em Comunicação pela mesma instituição, especialista em Processos e Produtos Criativos, pela Universidade Federal de Goiás, e em Filosofia da Arte, pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás com chancela da Universidade Estadual de Goiás, e bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela Faculdade Cambury (GO). Pesquisador vinculado ao diretório de pesquisa do CNPq nos grupos de estudo e pesquisa: Linguagem, Poesia e Comunicação (UCB), e Comunicação e Produção literária (FAC-PPGCOM/UnB). Atualmente é professor dos cursos de Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB) e professor do Mestrado Profissional em Inovação em Comunicação e Economia Criativa (UCB). É consultor de comunicação e gestão de marcas pela MADE Design for Business e já atou como produtor cultural junto ao SESC-Goiás e em companhias de teatro. Sua investigação transita entre os fenômenos da sensibilidades e afetos, do imaginário e do feminino através da personagem Diadorim na obra Grande sertão: veredas de João Guimarães Rosa. Além das imagens do corpo e do poético, bem como suas relações com a filosofia, a arte e a comunicação. Pesquisa a história cultural do feminino a partir de obras de arte, literatura artefatos e imagens da mídia.
Supervisors: Gustavo de Castro and Michel Riaudel
Supervisors: Gustavo de Castro and Michel Riaudel
less
Uploads
Papers by Leandro Bessa
This article proposes a reading of Diadorim – Boy, dressed as a jagunço, who presents himself throughout his reported life as a brave warrior, but who reveals himself, while dead, in a woman’s body – as an elusive image of the Devil to Pay in the Backlands (1956), novel by João Guimarães. Our objective is to investigate the notions of moving imago and apparition as a creative formula that allowed the aesthetic elaboration of the character by the author. A gesture that contributes to the reminiscence of the character both in the work (in the fictional context) and in time (in culture, in reinterpretations and artistic transcreations such as comics, cinema, theater, etc.). The notion of moving imago accompanies the methodological procedure of the image charged with strength and life of its own, thought of in a theoretical current that understands the image as movement: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) and Didi -Huberman (1998; 2013; 2015). With this reading, we verified that controversial issues of our time are interconnected with themes from the novel, thus updating the work and expanding its circuit of meanings in a constant movement of change and preservation.
PALAVRAS-CHAVE: Crowdfunding; Economia Criativa; Pajubá; Linn da Quebrada; Queer.
PALAVRAS-CHAVE: Diadorim; Estética; Grande Sertão: Veredas; Queer.
This article proposes a reading of Diadorim – Boy, dressed as a jagunço, who presents himself throughout his reported life as a brave warrior, but who reveals himself, while dead, in a woman’s body – as an elusive image of the Devil to Pay in the Backlands (1956), novel by João Guimarães. Our objective is to investigate the notions of moving imago and apparition as a creative formula that allowed the aesthetic elaboration of the character by the author. A gesture that contributes to the reminiscence of the character both in the work (in the fictional context) and in time (in culture, in reinterpretations and artistic transcreations such as comics, cinema, theater, etc.). The notion of moving imago accompanies the methodological procedure of the image charged with strength and life of its own, thought of in a theoretical current that understands the image as movement: Walter Benjamin (2009; 2012), Hans Belting (2011) and Didi -Huberman (1998; 2013; 2015). With this reading, we verified that controversial issues of our time are interconnected with themes from the novel, thus updating the work and expanding its circuit of meanings in a constant movement of change and preservation.
PALAVRAS-CHAVE: Crowdfunding; Economia Criativa; Pajubá; Linn da Quebrada; Queer.
PALAVRAS-CHAVE: Diadorim; Estética; Grande Sertão: Veredas; Queer.
direta com as transformações sociais, econômicas e tecnológicas
ocorridas desde meados do século XIX, e que avançam até os
nossos dias. Resultado de um forte movimento econômico de
industrialização e modernização, a publicidade, do modo como
a conhecemos, emerge juntamente com as chamadas “máquinas de ver”,2 e acompanhou as revoluções industriais, o êxodo e a formação
das grandes metrópoles pulsantes. É exatamente daí que a
publicidade, como fenômeno da vida moderna, ganha seu ar de
voyeurismo. Prática explorada no protocinema e nas casas de rendez-
vous, famosas na moderna Paris do poeta Charles Baudelaire.
Na nossa perspectiva, o que sempre esteve em jogo, nesse espetáculo
de exposição e audiência, é uma estreita relação entre
mercadoria e atividade sexual. Este é o percurso que pretendemos
explorar, o vínculo entre a pornografia e o consumo. Para tal, recorreremos
ao imaginário e às imagens que circundam a noção de
pornografia (porné = consumo + grafia = escrita). As imagens que
serão apresentadas nos permitem evidenciar uma lógica ultraliberal,
em que o consumo da pornografia, omitido pelo discurso
moralizante, mas provido pela indústria do sexo, expõe um modo
de se produzir discursos e narrativas mediante as noções do desejo
e da avidez. O imaginário, também, nos permite perscrutar a
síntese nocional do jogo/relação entre o sexo e o consumo; o amor
ávido e a economia do gozo e do excesso. Eros e Capital.
No Brasil, há pouca literatura sobre as pombagiras; no entanto, uma pesquisa de campo inicial junto a pessoas não adeptas revelou que a figura é muito presente no imaginário coletivo. Geralmente, a menção à pombagira suscita reações de espanto nas pessoas, que podem se expressar através do riso e do deboche ou ao contrário de respostas monossilábicas ou do silêncio incomodado. O nome é imediatamente associado à imagem de uma prostituta, uma mulher de vida livre, sedutora e perigosa. Enquanto alguns temem a pombagira, a chamam de perigosa, influente, maldosa, capaz de feitiços e amarrações, outros se sentem fascinados pelo seu poder de sedução, pelo seu conhecimento de feitiçaria que lhe permite obter qualquer coisa em matéria de amor e relacionamentos.
O primeiro ponto importante revelado por essa pesquisa inicial pareceu-nos ser o fato de que, nos terreiros de Umbanda onde pesquisamos, tanto homens como mulheres incorporam a pombagira, o que significava que sua força estava além da diferenciação de gêneros. Ao falarmos da pombagira, estávamos, portanto, falando do feminino e não das mulheres. Um feminino percebido como um tipo de força emotiva e intuitiva, instintiva e vinculada ao selvagem.
O segundo ponto importante é que percebemos que a pombagira não é uma figura isolada que circula no mundo profano e sim a manifestação de um tipo de força considerada sagrada, parte de um sistema de relações coordenadas entre o transcendente e o social. Se isolamos a pombagira do seu sistema, ela se transforma em estereótipo social: a prostituta, a histérica, a bruxa. Se a mantemos em seu sistema, ela se faz portadora de todas as forças do feminino que nascem das origens com Nanã, a autogerada, que se manifestam nas belezas de Iansã e Oxum, no amor espiritual de Iemanjá, na força de transformação de Iewá, etc.
Quando a figura sai de seu sistema cosmogônico complexo, ela passa a circular pelo mundo profano e se transforma num estereótipo. Buscamos então entender por que a figura adquire formas especificamente negativas do ponto de vista cultural e social.
Para isso, foi de suma importância atentar para o fato de que a vivência da pombagira pelos adeptos de Umbanda se dá através da incorporação e diz respeito aos aspectos emocionais da vida dos homens e das mulheres do terreiro: seus sentimentos, suas relações amorosas, sua sexualidade, sua expressividade corporal e verbal. Alguns homens não gostam da incorporação da pombagira porque ela os remete a seu lado feminino que tendem a negar. Já outros relatam que amam ter a oportunidade de exteriorizar seu lado feminino, sorrir, falar, gargalhar e gesticular como mulher. De fato, a pombagira gargalha, canta, xinga, usa vocabulário xulo, às vezes vulgar, quebra todas as barreiras, os tabus, expressa aquilo que não se ousa expressar, dança e gira para tirar o corpo da imobilidade, incita ao movimento e à ação. Nesse sentido, ela pode ser considerada como um tipo dionisíaco do feminino. Gosta de zombar, debochar, rir de tudo aquilo que as civilidades impõem como limitação aos homens e às mulheres. Sendo assim, seu campo preferido de atuação é o dos relacionamentos amorosos e, mais especialmente, o da sexualidade dos homens e das mulheres.
A pombagira atua, portanto, nas regiões da vida social onde residem dois grandes tabus: o amor e a sexualidade. O que é um tabu senão algo que se oculta? Talvez seja possível afirmar que os clichês simplificadores que fazem da pombagira uma figura negativa associada à prostituta, à mulher histérica e à bruxa perigosa são as máscaras sob as quais o feminino ama ocultar-se para melhor preservar o seu poder criativo, intuitivo, amoroso. Se ela gosta de rir e de jogar, faz pouco caso das civilidades e prefere a liberdade, se ela é movimento e ação, não surpreende que a pombagira jogue e ria com aquilo que mais desestabiliza o homem: sua sexualidade; com aquilo que talvez seja o maior desafio ao mesmo tempo espiritual e material do homem: o amor.
Partindo dessas considerações, desenvolvemos então nossas discussões e, além dos livros que foram básicos como “O feminino e o sagrado” de Christine Clément e Júlia Kristeva, e “Mudança de horizonte” de Dietmar Kamper, convidamos para contribuir conosco, pesquisadores brasileiros de outros grupos de pesquisa em Comunicação: Gustavo de Castro, do grupo Com-versações vinculado ao PPGCOM da Universidade de Brasília, Liv Sovik, do PPGCOM da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o pesquisador francês Georges Bertin, do CNAM de Angers, cuja pesquisa sobre a bruxaria e o imaginário em torno da figura da bruxa na Europa foi esclarecedora. Com eles, discutimos se o conhecimento de uma tradição com seus elementos antropológicos e o conhecimento de práticas sociais em comunidades específicas, unidos ao conhecimento de sensibilidades individuais que vivenciam experiências próprias de comunicação transcendental e social pode servir, de alguma forma, para que a ciência da comunicação avance. Juntos, debatemos nossas metodologias e abordagens questionando se o tipo de objeto que construímos poderia constituir um olhar para a realidade, e, no nosso caso, para a pesquisa sobre o imaginário que auxiliasse novos olhares, com novos instrumentos e possibilidades teóricas. Acreditamos aqui que a pista epistemológica poética é importante para a ampliação do campo e o desdobramento de suas possibilidades.
Ao término da pesquisa em torno da figura da Pombagira, como forma de pensar o feminino enquanto categoria-fenômeno da comunicação, na arte, na cultura e na mídia, acreditamos que demos voz ao sensível, ao imaginário e ao inconsciente como formas de aproximação teórica para o campo da Comunicação e que estamos reafirmando a importância do desenvolvimento do estranhamento - caracterizado pela exploração da ambiguidade do que parece familiar e dado - como forma de compreensão de fenômenos comunicacionais que flexibiliza o rigor cientificista de metodologias mais reconhecidas (a análise de discurso, a semiótica, as análise de conteúdo, entre outras). O resgate do estranhamento como aproximação metodológica tem, portanto, um valor idiossincrático em um espaço que cede cada vez mais às demandas de um determinado tipo de cientificismo – rigoroso, duro e exato - bem como pela colonização do campo acadêmico por uma certa discursividade do empreendedorismo e das organizações, que busca gerenciar as diferenças a seu favor e desvalorizar a urgência própria às humanidades e às ciências sociais em torno das noções de fenômeno e experiência no campo da comunicação. Com isso, queremos dizer que, se não estamos inovando, estamos, certamente, resistindo à excessiva pragmatização do campo.
PALAVRAS-CHAVE: putaria; imagem; imaginário; corpo; comunicação; Warburg