Resumo: No Monologion, publicado em 1077, temos a primeira demonstração anselmiana da existência de Deus. Esta é desenvolvida nos capítulos I-IV. Santo Anselmo constitui então um conjunto de provas a partir de três caminhos diferentes: a)...
moreResumo: No Monologion, publicado em 1077, temos a primeira demonstração anselmiana da existência de Deus. Esta é desenvolvida nos capítulos I-IV. Santo Anselmo constitui então um conjunto de provas a partir de três caminhos diferentes: a) a perfeição verificada nos diferentes seres, b) a perfeição que eles, em graus diversos, possuem em comum e que é o ser; c) os graus de perfeição que as coisas possuem. Elas correspondem as chamadas provas anselmianas cosmológicas ou a posteriori da existência de Deus, pois Santo Anselmo procura então demonstrar que se partindo do mundo (efeitos) pode se chegar a Deus (causa). Palavras-chave: Santo Anselmo, Monologion, Demonstração da existência de Deus. Santo Anselmo e a Disputa entre Dialéticos e Antidialéticos no Século XI É preciso situar historicamente a personagem filosófica de Santo Anselmo, para que possamos compreender o sentido de sua obra e, inclusive, entender sua proposta de demonstração da existência de Deus. Isto, naturalmente, implica em compreendê-lo a partir das preocupações filosóficas de seu tempo. Muito especialmente devemos entender o seu posicionamento na querela dita entre os dialéticos e os antidialéticos. Foi durante os dez anos de seu priorado em Bec (1063-1073) que Anselmo desenvolveu sua atividade filosófica mais intensa, compondo suas obras principais, incluso o Monologion. Santo Anselmo tomou então atitude na questão das relações entre a razão e a fé e, assim, imiscuiu-se na querela dita entre os dialéticos e antidialéticos. Com efeito, como estudam Philoteus Boehner e Etienne Gilson (1991, pp. 249 e 250), o duelo entre dialéticos e antidialéticos marca uma escolástica ainda insipiente, caracteriza-se por uma disputa transformada num "mero brinquedo", porém perigoso. Perigo, aliás, de proporções tanto mais alarmantes quanto mais lhes faltava uma distinção clara entre fé e razão e uma noção nítida de suas relações mútuas. Tal fato explica a existência simultânea de, por um lado, um racionalismo rígido e, por outro, um fideísmo simplista. Tal dialética, assim constituída, revelou-se totalmente estéril. A reação, que não fez-se esperar, como era natural, caiu no extremo oposto, condenando radicalmente toda a Dialética. Desta maneira, por algum tempo, dialéticos e antidialéticos defrontaram-se numa luta improfícua, de fato até que Santo Anselmo primeiro, e depois Abelardo, viessem a obter sínteses mais ou menos satisfatórias.
