Se tradicionalmente a História foi estudada como um repositório de exemplos sobre a grandiosidade de uma população, ou como uma linha de evolução cuja função era, sobretudo, a de explicar a formação de estruturas e do comportamento...
moreSe tradicionalmente a História foi estudada como um repositório de exemplos sobre a grandiosidade de uma população, ou como uma linha de evolução cuja função era, sobretudo, a de explicar a formação de estruturas e do comportamento presente, os estudos sobre o gênero e a sexualidade têm logrado demonstrar as diferenças entre os períodos históricos com a finalidade política de fazer ressaltar a possibilidade de transformação nos nossos modos de percepção sobre o sexo e sobre o papel do masculino, do feminino e mesmo de outras expressões e identidades na configuração do mundo. Nesse sentido, neste artigo, propomos trazer, mesmo que de modo sintetizado, o debate que vem ocorrendo entre os estudiosos da sexualidade antiga, por acreditar na importância destes estudos tanto para a historiografia clássica, que por anos foi interpretada como falocêntrica, preocupada com as conquistas e governanças de Roma; dessa forma, apresentaremos um estudo focado em uma divindade importante para o debate: Priapo. Deus simbolizado pelo falo, dono de um discurso sexual que inspirou a construção de um modelo penetrativo, para o qual a penetração pelo falo seria motivo de degradação na Antiguidade. Deste modo, por meio de análises da Priapeia latina e da cultura material de Pompeia, pretendemos argumentar que as representações da sexualidade dessa divindade não se encontram apenas relacionada a uma separação de gênero e a um esquema de poder que coloca o falo e o masculino como superiores em uma relação sexual. Proporemos uma função fertilizadora dessa divindade, que pode indicar um olhar para o sexo menos atento a configurações de poder e mais relacionado com a fluidez da vida e com a potência do sexo.