A imagem fotográfica, na passagem para o século XX, foi contestada em relação à tradição pictórica, sendo percebida ora como uma representação mecânica e documental da realidade, ora como uma nova linguagem artística. Nesse meio tempo, a...
moreA imagem fotográfica, na passagem para o século XX, foi contestada em relação à tradição pictórica, sendo percebida ora como uma representação mecânica e documental da realidade, ora como uma nova linguagem artística. Nesse meio tempo, a sociedade industrial abria-se para a fotografia instantânea, produzida em grande escala. Em Curitiba, naquele contexto, Arthur Wischral foi reconhecido como fotógrafo da vida cotidiana da cidade, produzindo imagens jornalísticas para diversos periódicos e registros oficiais para o Estado. Mas apesar do caráter documental de sua produção fotográfica, é aparente, em muitos de seus registros, uma preocupação com a questão da linguagem, enquanto recurso narrativo da fotografia, elemento pouco abordado em estudos sobre este fotógrafo. Desta forma, Wischral por vezes se utilizava duma roupagem trágica, e por outras de uma faceta cômica, numa representação "teatralizada" de determinados temas, parecendo estar ciente do caráter irreal da fotografia. Deste modo, esta análise emprega os conceitos teóricos de Giorgio Agamben sobre o Gesto, Juramento e Perjúrio, assim como sua teoria sobre a Tragédia e a Comédia, e parte do método de Boris Kossoy, ao apontar a necessidade de se decifrar a realidade interior da fotografia. Tal investigação objetiva então identificar nas fotografias de Wischral elementos sutilmente representados com viés cômico ou trágico como uma questão de linguagem, problematizando de que forma Arthur Wischral se apropriava disso para produzir suas narrativas fotográficas.