Angolan History and Contemporary Arts

O dossier sobre arte angolana contemporânea (2006-2016) que aqui apresento foi preparado para a revista África 21 (Junho, 2016). Os assinantes podem consultar o site:

http://www.africa21online.com/

O texto é uma resenha geral do estado actual da arte contemporânea angolana e nele se comentam quais são são os artistas plásticos mais importantes e que estratégias criativas utilizam. O autor aponta quais são algumas das tendências actuais da arte angolana contemporânea e qual é a maneira que se inscrevem nos circuitos africanos e internacionais da arte.

O texto serviu de base a conferência proferida no passado dia 6 de Maio/2016, a raíz da exposição "The Commutting: os da Banda", comissariada por Benjamin Sabby, no Espaço Espelho de Água, em Lisboa (Portugal).

RESUMO: Estudarei a posição específica de transição ocupada pelo movimento associativo Liga Nacional Africana ao longo nos anos 30 do século XX. Duas variantes a ter em conta: a questão identitária e a estratégia político-social dos 'filhos da terra'. Um território peculiar em estudo: os textos poéticos e críticos publicados no Boletim da Liga Nacional Africana nessas duas décadas. Uma equação relacionando as variantes com o território poético: conotação da forma nova (modernista) por conteúdos (de referência negra) que vinham de trás mas não com a mesma acuidade; a acuidade é o ponto que interliga as variantes e os poemas onde a forma busca assegurar uma sugestão estética.

Resumo: Este trabalho constitui um estudo do álbum Angola 74 de Bonga para analisar as relações sobre Bomga e sua música. Bonga observou o cotidiano em Kipiri, onde nasceu, e a experiência do dia a dia nos musseques de Luanda e o impacto da música na região. Suas "raízes" e sua fonte (Pereira, 2018; Eduardo, 2012). Mas a música "Ghinawa" de Angola 74, em sons e história, sugere rotas e não raízes. Ao escutar atentamente, traço uma trajetória urbana transatlântica para o trabalho de Bonga. Palavras-chave: raízes, rotas, Bonga e música angolana Abstract: This paper listens to one piece of music from Bonga´s Angola 74 album to undo assumptions about the musician and his music. Bonga notes the impact of life in Kipiri, where he was born, and quotidian experience in Luanda's musseques on himself and his music. These are his "roots" and his source (Pereira, 2018; Eduardo, 2012). But the music "Ghinawa" from Angola 74, in it sounds and history, suggests routes not roots. Listening closely to it, I chart a transAtlantic , urban trajectory for Bonga's work.

Angolanos e portugueses têm suas histórias entrecruzadas há pelo menos cinco séculos. Durante esse período, esses povos estiveram envolvidos em diferentes projetos de sociedades engendrados por grupos que disputavam poderes e legitimidades de exercê-los. Esses conflitos podem ser analisados em registros e suportes de linguagens nos quais há
possibilidades de se ver questões relacionadas aos pertencimentos a determinadas filiações políticas e/ou a projetos de identidades, em que múltiplas temporalidades são experimentadas, como os tempos coloniais, anticoloniais e das independências. O universo das pertenças – suas negociações, apropriações, ressignificações – pode revelar uma
dinâmica que permite analisar as experiências sociais dos angolanos e portugueses por meio das configurações e articulações visuais. Imagens em Angola, imagens da memória: cinemas, marcas e descobertas (tempos das lutas anticoloniais, tempos das independências) é uma
pesquisa com a qual busco identificar problematizando lugares do visível e do invisível em diferentes momentos das histórias das relações entre os angolanos e portugueses, ao interpretar formas com as quais dimensões dos poderes, olhares, memórias, narrativas, pertenças são articuladas nos dramas das disputas sociais. Nesse ínterim, interessam sobremaneira as possibilidades de reflexão abertas pelos diversos sentidos que constituem as condições discursivas nas quais os movimentos das ideias são traduzidos, isto é, as marcas das enunciações e daqueles que enunciam. As narrativas fílmicas elaboradas pelos portugueses, angolanos e estrangeiros se configuram como fontes aqui eleitas para analisar essas performances enunciativas dessas relações de poder e estratégias de legitimidade e hegemonia, que têm nas subjetividades em geral e nas subjetividades das imagens um campo de reflexão específico. Do que falam as imagens coloniais e pós-coloniais entre marcas e possibilidades de descobertas na memória?

Este texto tem como tema a exposição: Daqui pra frente: arte contemporânea em Angola, de curadoria de Michelle Sales, apresentada na Caixa Cultural – RJ no início de 2017. Objetivou-se o desenvolvimento de um comentário que aborde os trabalhos dos artistas em conjunto com as questões propostas, tais como: as condições pós-coloniais, diaspóricas, relações raciais e a produção artística entre o local e o global.

This contribution aims at elaborating on the ties between creativity, intended as the ability to create new meanings through literature, and politics, in the Angolan literary sphere of the 1960s. The dispute between Mensagem of Casa dos Estudantes do Império and Notícias do Imbondeiro went way beyond literary debate. Though centred primarily on current literary production and dissemination, both publications engaged in a heated debate on activism and anti-colonial struggle. Contradictions became thereof apparent. At the time, what was at stake was, in fact, a struggle on the part of a cultural elite on how to combine theoretical thought grounded in Africa, artistic creation (notably through the multiple representations of African imaginary), whilst setting an agenda for the boundaries of activism. The arguments of Carlos Ervedosa and Leonel Cosme, representing the two editorial projects and their contrasting positions, as much as the ones of Alfredo Margarido-who anonymously wrote essays on the Boletim of C.E.I.-, constitute in this paper a point of departure for the understanding of the cultural background of the Angolan and Portuguese 60s, their contradictions and ambivalences.

The 10th of November 1975 was unforgettable. In the morning, still very early, the Portuguese flag was flown for the last time on the mast of
the imposing fortress which dominates the bay of Luanda; watching it, the
population was heading to their jobs. Little by little, the Portuguese city
that we had left last time we had been there, a month earlier, had turned
into a completely African metropolis, with the mass exodus of the white
population and the affluence to the paved area of the black population.

A autora do livro " Njinga de Angola: A Guerreira de África " (Harvard University Press, 2017), onde reúne as investigações realizadas ao longo de vários anos em Angola, com a colaboração de organismos do Ministério da Cultura, entre eles, o Aquivo Histórico, está em Lisboa para um ciclo de eventos sobre as pesquisas realizadas em Angola em torno da Rainha Njinga. Na foto, o Adido Cultural com a Professora Linda Heywood, o Professor John Thornton à direita, ladeados pelos funcionários dos Serviços Culturais. Acompanhada pelo marido e também historiador Professor John Thornton, visitou a Biblioteca da Embaixada e trocou impressões sobre o papel preponderante de descendentes angolanos na sociedade norte-americana. Elogiou a Biblioteca, por conter um grande número de títulos direcionados a Angola e África e documentos que abordam a cultura angolana nas suas diferentes áreas. Por sua vez, o Adido Cultural, Dr. Luandino Carvalho, referiu ser uma honra ter recebido uma investigadora americana que aborda a História de Angola. Considerou que " a obra vem enriquecer mais o conhecimento que temos sobre esta figura histórica que foi a Rainha Njinga a Mbande. Estão contemplados documentos e dados que permitirão perceber a sua dimensão histórica muitas vezes minimizada pelos historiadores europeus " .

Linking approaches of media studies, memory studies and postcolonial (legal) theory, I outline an approach to critically address the (memory) discourse about the documentary film "My Heart of Darkness" (Sweden 2011) against the background of current debates in the field of Transitional Justice and in view of the reconciliation paradigm in context of post-conflict Angola. Drawing on Cultural Studies approaches to film analysis, I argue that due to the polyphony of the documentary film, "My Heart of Darkness" becomes an ambivalent cultural text that allows very different readings according to the different contexts of its reception in the United States, South Africa, Sweden, Germany and Angola itself. The aim of this case study is thus to trace the international trajectory of the various screenings of the film and to explore the potential of a critical analysis of the documentary film and its adaptation in different contexts. Furthermore, I wish to outline an approach which allows to explore My Heart of Darkness as a socio-cultural phenomenon, a “remembrance film” (Erll and Wodianka 2008) which triggers diverse memories and contested narratives depending on the dominant discursive frameworks.

In my exploration of the discourses accompanying screenings of the documentary "My Heart of Darkness" I show that here we are faced with a paradigmatic and paradox situation that speaks of (post)colonialism: Arguably, both the film and the discourses accompanying its screening in Angola adopt a Western stance in promoting the reconciliation paradigm. Nevertheless, as my explorative analysis in this paper demonstrates, the controversial (memory) discourse also provides moments for postcolonial critique and resistance among a local Angolan audience. It speaks both of Western domination of the reconciliation paradigm and an elite driven top-down-memory politics as well as of local narratives from below and a popular counter-memory.
Against this background, I will present the findings of my exploration of the various interpretations evolving around My Heart of Darkness along three readings of the film in its different contexts of re-ception that are, however, in themselves ambivalent and contested interpretations: a) My Heart of Darkness as “a universal film about veterans” that portrays the veterans suffering from post-traumatic-stress-disorder and seeking for forgiveness, social rehabilitation and recognition; b) as a model for national reconciliation in Angola that also raises critique of town-down-memory-politics; c) as a critique of the elites exploitation of its people who were pressured into this war and left on their own in its aftermath.