CADERNOS UniFOA
ISSN: 1809-9475
e-ISSN: 1982-1816
Edição 30 | Abril de 2016
O fotojornalismo entre profissionais e
amadores: algumas leituras
Photojournalism among professionals and amateurs: a few readings
1
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Luiz Antonio Feliciano luizliu@yahoo.com.br
Aline da Fonseca Pinna
1
Docente do Centro Universitário de Volta Redonda; Faculdades Integradas Teresa D’Ávila.
2
Discente do 8º período do curso de Jornalismo, UniFOA.
Resumo
Abstract
Este artigo trata das contribuições do fotojornalismo
para a sociedade, desde o aparecimento das câmeras
fotográficas até os dias atuais. Fala também do
surgimento das câmeras digitais, a partir dos avanços
tecnológicos e de sua importância na integração da
fotografia na vida cotidiana, com a possibilidade de
capturar imagens instantaneamente, dando liberdade
aos usuários de alterarem a realidade fotografada.
Por fim, o artigo relata a postura do fotojornalista
diante das modificações das câmeras obtidas pela
modernidade tecnológica.
This article deals with the way photojournalism
has contributed to society, from the appearance of
photographic cameras to our days. It also deals with
the appearance of digital cameras and technological
advances, and their importance to integrate
photography in everyday life, with the possibility of
capturing images instantaneously, giving freedom to
the users to change the photographed reality. Finally,
the article deals with the photojournalist’s attitude
in face of the modifications of cameras caused by
technological modernity.
Palavras-chave
Keywords
Fotojornalismo; subjetividades; câmeras digitais;
novas tecnologias; cotidiano.
Photojournalism; subjectivities, digital cameras, new
technologies, everyday life.
Como você deve citar?
FELICIANO, Luiz Antonio; PINNA, Aline da Fonseca. O fotojornalismo entre profissionais e amadores: algumas leituras. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, n. 30, p. 57-67, abr. 2016.
Submetido em: 08/10/2015. Avaliado em: 03/11/2015. Publicado em: 10/04/2016.
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O fotojornalismo entre profissionais e amadores: algumas leituras
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INTRODUÇÃO
Com a importância de passar informações para o público, a fotografia sempre foi usada como
meio de retratar as notícias de um determinado momento. A partir dessa constatação, deu-se o início
do fotojornalismo. Desde então, a fotografia tem assumido um papel essencial em todas as áreas, já
que demonstra a realidade e traz uma evolução de liberdade de expressão. Constantemente, a imagem
vem sendo naturalizada, confundindo-se com a própria realidade vivida.
Com o avanço da tecnologia, sobretudo a digital, o acesso à diversidade de dispositivos produtores
de imagens tem possibilitado uma vivência pautada pela imagem. As imagens fotografadas no dia a dia
têm possibilitado uma integração com a vida. Veem-se imagens a todo o instante, mas estas também são
produzidas na mesma proporção. Com os diversos recursos disponíveis, atualmente, graças ao desenvolvimento tecnológico, há programas que oferecem a possibilidade de alterar os dados obtidos nas fotos.
Essa prática, muito comum aos profissionais de laboratório, passou a fazer parte da vida das pessoas.
Com a fotografia digital inserida no fotojornalismo, percebe-se a influência da tecnologia sobre as
relações sociais. Mesmo que as fotografias nos proporcionem um olhar diante da realidade, elas podem
causar um estranhamento, quando se aplica a manipulação de objetos, cores ou, até mesmo, cenários.
A internet, muito presente no cotidiano, possibilitou o aparecimento de jornais e revistas on-line.
Assim, a empresa fica mais próxima do público e a notícia chega mais rápido do que outros meios de
informação. Isso fez surgir o webjornalismo, com o objetivo de ser um recurso narrativo jornalístico.
Este trabalho teve por finalidade analisar fotografias que estamparam as capas do Jornal O
Globo, durante o mês de maio de 2014, para verificar se os olhares dos fotógrafos amadores são influenciados pelos fotojornalistas e, em contrapartida, são, igualmente, influenciados pelos amadores. A
análise realizada está longe de esgotar a temática proposta. Porém, acredita-se que problematizações
consistentes são apresentadas para propiciar outras discussões em outros tempos e outros lugares.
Contudo, é importante salientar que o jornalismo está presente no cotidiano e busca, nesse mesmo
cotidiano, o seu alimento diário, bem como todas as suas mudanças.
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UM BREVE PERCURSO HISTÓRICO PELO FOTOJORNALISMO
Com o surgimento da necessidade de informação, houve a relevância de mostrar, através de
imagens, o que acontecia em diversos momentos. Uma maneira de informar a sociedade sobre os fatos
ocorridos se deu através do fotojornalismo. O aparecimento do fotojornalismo, no Brasil, ocorreu ao
final dos anos 40, com Jean Manzon, na revista O Cruzeiro, na qual o fotojornalismo era considerado
um meio de linguagem. Logo foi foi incorporado em outras revistas, como a Manchete. O fotojornalismo
dessa época era realizado com câmeras não digitais.
A possibilidade da produção de câmeras digitais surgiu a partir da década de 70, mas essas câmeras não tiveram destaque porque eram de alto custo e tinham baixa capacidade de armazenagem. Seu
desenvolvimento só se deu a partir de 1983, embora, nesse período, as câmeras só tenham servido como
curiosidade tecnológica. Foi na década de 90 que ocorreu uma grande revolução, pois o desenvolvimento
tecnológico gerou transformações no campo da comunicação, da estética e da informação. A partir do
ano 2000, os avanços na área da informática expandiram o computador e o celular. Ambos passaram
a ser capazes de armazenar e distribuir imagens e vídeos. Além disso, o surgimento da internet, como
meio de transmissão de imagens, imprimiu mais velocidade nas transmissões. Isso exigiu câmeras mais
potentes, principalmente no fotojornalismo, para acompanhar, com mais precisão, a rapidez da notícia.
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A fotografia passou a impressionar a população com suas construções imagéticas nos diversos
campos da sociedade: cultural, econômico, político e social. Essas imagens registravam os diversos
sentidos de interpretação do fotógrafo, sempre com a intenção de mostrar a realidade para contribuir
com a participação das pessoas no cotidiano da informação. Além disso, elas ganharam a tarefa de
serem propulsoras de imaginação e de julgamento.
Para alguns fotógrafos, a imagem digital consegue se separar da fotografia tradicional, pois,
com os enormes avanços, ela trabalha com maior liberdade de expressão. É o mesmo caso do vídeo
que, quando foi inventado, muitos achavam que iria tomar o lugar do cinema. Isso, de fato, não ocorreu, pois o videografismo adquiriu uma linguagem autônoma, com suas especificidades, que o tornou
independente do cinema.
Com a predominância da estética publicitária ou cinematográfica a partir da década de 90, o fotojornalismo sofreu um declínio mundial, deixando de lado o modo jornalístico e tornando-se algo mais
ideológico. Prevaleceram, nesse momento, as imagens com tom de horror, com luzes e sombras explícitas.
Outro ponto a ser considerado é a velocidade na transmissão das imagens. A chegada do digital, considerando sua rapidez de informar, dificultou o impacto e a novidade. A circulação mais veloz
das notícias, através da internet, fez com que as imagens se espalhassem, ao mesmo momento, por
vários sites, redes sociais, blogs. Com isso, o que deveria ter um caráter de ineditismo, passou a ser
visto como algo obsoleto.
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FOTOJORNALISMO E ALGUMAS PROBLEMATIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Com um público ávido pela participação na informação, foi grande e significativa a importância
dada à valorização de ver o fato acontecido. Isso reforça e justifica a importância da entrada da fotografia no jornalismo. A imagem fotográfica é um registro visual produzido e armazenado no mesmo
instante em que o fato acontece, não dispondo de outro momento igual para a produção da imagem.
A fotografia é sempre uma morte anunciada. O cenário, a época e os costumes ficam petrificados na
fração de segundo em que a cena é fotografada. Essa constatação induz a procura e a valorização da
profissão de fotógrafo de imprensa.
O fotojornalista é quem possui a verdadeira técnica fotográfica. É o profissional preparado para
produzir imagens com a máxima qualidade estética e informacional. Porém, com a forte influência
tecnológica e a necessidade de mostrar com rapidez as notícias e as imagens “quentes” (jornalismo
factual), o fato também é transmitido por fotógrafos iniciantes e amadores. Nesse contexto, um fotojornalista que tem o papel de levar a informação da notícia via imagens fotográficas (escreve a notícia
através das fotografias), se depara com o fotógrafo amador que centra sua preocupação somente nas
questões estéticas da imagem, deixando de lado o conteúdo da informação. Mais ainda, uma nova
estética que a condição digital contemporânea tem propiciado.
Como resultado dos avanços da tecnologia, surgiu, no meio jornalístico, uma crescente utilização
dos recursos de montagem. Antigamente, existia essa prática, mas não com tanta influência como na
atualidade. O photoshop acendeu as luzes do laboratório fotográfico. Trocou-se a magia da luz vermelha, estereótipo de fotografia convencional, pela frieza das luzes fluorescentes, aclamada pela sua
claridade. Com a manipulação das imagens, surgiu também o problema da ética, comum ao universo
da comunicação. Nesse sentido, o que a fotografia tem ocultado da realidade? Com o objetivo de tornar
a imagem mais atraente aos leitores, abre-se mão do conteúdo em favor da forma, que tem se tornado uma das preocupações dos profissionais de imprensa e de todos que utilizam a fotografia como
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O fotojornalismo entre profissionais e amadores: algumas leituras
material de trabalho ou pesquisa: o excesso de manipulação da imagem pelas agências de notícias,
pois as imagens digitais podem ser facilmente arranjadas, rearranjadas e deletadas, diferentemente
dos negativos convencionais.
Quando dizemos que a fotografia não mente, podemos estar equivocados. A fotografia sempre
foi vista como um passar a realidade para as pessoas e, até hoje, ela, ainda, mantém as mesmas características. É a força da analogia que o signo fotográfico carrega. Para Barthes (1980), seu caráter
análogo, sua semelhança com o referente, caracteriza um dos noemas da fotografia: o “isso foi”. No
entanto, a possibilidade de modificar a expressão das pessoas fotografadas, rejuvenescendo-as ou
envelhecendo-as, põe em xeque essas convicções. Pode-se transformar um dia ensolarado em uma
noite nebulosa ou, para ser mais ousado, pode-se suprimir ou acrescentar elementos e personagens
na imagem. Isso reforça o que diz Fontcuberta (1997, p. 15): “Toda fotografíaes una ficción que se
presenta como, verdadeira”.
A facilidade de acesso às imagens interfere na sua visibilidade, trazendo o poder da edição.
Cortes, brilho, contraste, saturação de cores, alteração da resolução, tamanho, retoques, deformações,
enquadramento, correção de foco, entre outros, se tornam comuns no processo de edição. Dessa
forma, com as enormes variantes de mudanças, acaba-se por alterar a forma original da fotografia.
Essas montagens são produzidas em softwares de edição, como, por exemplos, o Photoshop, Digital
Darkroom, Photostyler e outros. Uma fotografia contendo algumas dessas mudanças faz com que os
leitores sejam desrespeitados e, além disso, interfere, extremamente, na credibilidade do fotógrafo e da
memória fotográfica. Essas características são tidas como uma distinção entre a fotografia analógica
e a digital, presente atualmente. Para Batista (2002, p. 36),
esta é a principal diferença da fotografia, digamos, convencional para a fotografia digital. A natureza da imagem
formada por pixels permite que ela seja duplicada sem qualquer alteração ou perda de qualidade, assim como
ser modificada em cada um dos seus milhões de pixels. Os programas são capazes de fazer alterações sutis,
pixel por pixel, e também mudanças gerais rápidas.
O fotógrafo americano Lewis Hime (apud OLIVEIRA, 2010, p. 02) afirma que “embora as fotografias
não possam mentir, os mentirosos podem fotografar”. Essa colocação demonstra que há mentirosos
por trás das câmeras. Porém, temos que lembrar que nem todos manipulam e editam suas fotografias
e que há, sim, verdadeiros profissionais querendo retratar a realidade sem prejudicar a linha editorial
dos veículos de comunicação.
A utilização da manipulação nas fotografias, muitas vezes, é quase impossível de ser vista.
Retoques, modificações, redução ou aumento de contraste, reenquadramento, semi-máscaras, ocultação
ou inclusão de elementos nas imagens são práticas que se tornaram comuns no cotidiano das pessoas e das empresas. Outro ponto a ser discutido é que o tratamento da imagem pode permitir, ainda, a
combinação de uma fotografia com outra ou, até mesmo, com várias. Esse processo incorpora diversas
novas tarefas, além de incluir as de modificação dos elementos construtivos da imagem, deixando de
ser somente a escolha da foto, o recorte do quadro e sua inserção numa publicação. No Brasil, são
frequentes as descobertas de casos de manipulação de imagem e a maioria dessas alterações foi feita
em jornais (OLIVEIRA, 2010: p. 07).
A edição de uma fotografia pode ser feita pelo fotógrafo ou, então, pelo editor de fotografia, que
vai selecionar certas imagens para compor as páginas do veículo de comunicação. Após esse processo, muitas fotografias são apagadas por falta de espaço, uma prática evitada pelo próprio fotógrafo.
Os arquivos que não são armazenados podem ser prejudiciais, pois causam um sério risco de perda
de dados de um determinado acontecimento, além, ainda, de apagar imagens que podem ser mais
importantes que outras. Nessa perspectiva, o arquivamento das imagens tem se tornado um grande
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problema. Com as perdas de algumas imagens, poderá haver dificuldade, pois elas podem ser muito
importantes em outro momento. As fotografias que podem,hoje, não ter valor, podem ter uma enorme
relevância no futuro. Segundo Batista (2002, p. 43),
o problema do arquivamento é complexo. No processo convencional o fotógrafo chega à redação com o filme,
o filme é revelado, uma ou algumas fotos são escolhidas e o filme inteiro é arquivado. Já com a câmera digital,
o fotógrafo chega com o material magnético cheio de sinais produzidos por descargas elétricas – que poderão
virar fotos - descarrega as que ele considera melhores, editando apenas algumas e removendo as demais (que
são deletadas, na linguagem da informática). Essa edição feita imediatamente após a produção das imagens
deve-se ao problema que as editoras estão encontrando para o arquivamento de imagens digitais. Esses arquivos que formam as imagens são muito grandes e se todas as imagens obtidas forem guardadas, uma enorme
quantidade de megabytes precisarão ser salvos em diferentes mídias, gerando um trabalho grande para os
departamentos de pesquisa e arquivamento.
Outo problema enfrentado é a busca de mais rapidez na visualidade de uma imagem. Isso surge,
paradoxalmente, como uma solução e uma vantagem para a imprensa. Com o aparecimento da internet
no meio da comunicação, houve a necessidade de agilidade nas transmissões para o público e, assim,
um maior interesse a todos. Quase todos os jornais e revistas possuem suas versões on-line, em que
as notícias são atualizadas a cada nova informação e, dessa maneira, esse tipo de mídia é abastecido
com matérias, 24 horas por dia. Isso mostra que não existe o famoso “fechamento” de um jornal ou
edição, pois o surgimento de diversas informações novas, a qualquer momento, obrigam os sites a
serem, sempre, o mais rápido possível. O fechamento se dá após o momento em que chega uma novidade, seja ela uma informação ou uma fotografia. A velocidade e a instantaneidade da informação
têm reforçado outro aspecto muito presente na vida dos fotógrafos: o ineditismo. É grande, mesmo
com a correria do dia a dia, a busca por imagens que nenhum outro profissional tenha. Nessa ânsia por
fotografias inéditas, os profissionais de imprensa se esquecem, muitas vezes, de passar a informação
para as pessoas. Dá-se mais valor à forma do que ao conteúdo. De certa maneira, inverte-se a ótica
de importâncias. Aquilo em que o jornalismo sempre se pautou, a informação, cede lugar a espetacularização que a imagem pode principiar.
4
WEBJORNALISMO NA CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA DA NOTÍCIA
Como mencionado anteriormente, junto a todas as transformações que a tecnologia digital possibilitou aos meios de comunicação, apareceu, também, a web. Nela foi empregada a fotografia como
forma de um recurso narrativo jornalístico. Inicialmente, não se pode afirmar que há grandes diferenças
entre a imagem fotográfica exposta na webe a utilizada no jornalismo impresso (FELZ, 2008). Porém,
se de fato a imagem jornalística aparecer juntamente com uma legenda ou um pequeno texto escrito,
então, é lei, no fotojornalismo, que a fotografia produzida seja legível e clara. Uma diferença pode ser
o suporte técnico das fotografias, já que no jornalismo on-line, as imagens se aproximam daquelas da
televisão e no jornalismo impresso, o leitor tem as imagens no papel, ou seja, em suas mãos. Na web,
o público pode perder um pouco da emoção que se deseja transmitir. Porém, a imagem não vai perder
a sua função legitimadora.
As empresas jornalísticas repararam que o poder da internet era imprescindível. Dessa maneira,
elas se tornaram o primeiro setor industrial a apadrinhar tal acontecimento. Em cerca de cinco anos,
podia-se notar que todos os jornais tinham a presença da web, pois ela permitiu um novo modo de se
fazer jornalismo. Com o seu surgimento, a web mostrou que era necessário que os jornalistas fizessem
uma especialização para trabalhar com esse novo meio. Segundo Batista (2002, p. 40),
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diante dessa predominância da eletrônica e da informática nas práticas das redações pode-se perceber uma nova
valorização das equipes de arte em geral. A própria denominação das funções mudou e o antigo diagramador
virou designer ou diretor de arte. E o papel profissional exercido se modificou e, devido às novas habilidades
requeridas para o manuseio do aparato tecnológico exigiu mudanças na sua preparação e formação, que agora
deve capacitá-lo para o uso de softwares sofisticados de tratamento de imagens e diagramação de páginas.
Quando são colocadas as matérias para o meio de comunicação, o que é mais privilegiado é o
texto. Ele deve ser leve e de fácil entendimento para a web. No momento em que é transportada a matéria
do impresso para o on-line, as imagens jornalísticas são tidas como segundo plano. Os jornais não
estão mais tão satisfeitos com somente o material impresso. Dessa forma, as empresas jornalísticas
estão, cada vez mais, aderindo ao conteúdo para a rede, mesmo que de forma precária e limitada. Em
reportagens mais relevantes, a fotografia é utilizada com a função de ilustrar a notícia.
Vale registrar também que nem todo público da web possui uma conexão de alta qualidade e
velocidade e/ou máquinas de última linha. Assim, o oferecimento de imagens com resoluções baixas
é a maneira mais viável para possibilitar a sua visualização, dado a limitação dos equipamentos tecnológicos, da maioria dos usuários. Pensando nesse grande público, os jornais on-line preferem fornecer imagens de baixa qualidade (porém organizadas), para que as pessoas possam visualizar esse
material de forma mais rápida e completa. Atualmente, alguns jornais de terceira geração já possuem
máquinas mais modernas que oferecem uma estrutura mais veloz e de ótima qualidade. Isso, associado
aos melhoramentos que a internet tem recebido, tem propiciado maior facilidade no recebimento dos
conteúdos jornalísticos on-line, sejam eles textos ou imagens. Para um webjornal obter um bom prestígio, a fotografia aparece em destaque, com tamanho maior, na primeira página. Outra forma usada
é a sequência de imagens para relatar os fatos, o encaixe de sons e de comentários dos internautas
e da empresa jornalística. Isso contribui para manter um bom relacionamento entre ambas as partes.
O crescimento do fotojornalismo tem como fundamento uma enorme movimentação da estética
e da tecnologia. O aparecimento da web fez com que uma briga por espaço se tornasse frequente com
novas formas de produzir e fornecer as notícias.
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PROFISSIONAL E AMADOR: OLHARES HÍBRIDOS
As fotografias produzidas cotidianamente têm permitido uma integração maior com a vida contemporânea. Veem-se imagens a todo o instante, pois elas são tiradas a qualquer momento. Diversos
são os propósitos para tal ação. Às vezes, para guardar determinada cena, outras para fixar alguma
lembrança. Mesmo que fotografias nos proporcionem um olhar diante da realidade, elas podem causar
um estranhamento, quando se aplica a manipulação de objetos, cores ou, até mesmo, cenários. Nos
jornais impressos a fotografia é um meio de atrair o leitor. Isso pode ser uma estratégia para que o
público “consuma” diariamente esse veículo.
Há jornais impressos que utilizam o recurso da manipulação, como, por exemplo, o clareamento
da imagem, o escurecimento, entre outros recursos. A modificação da fotografia é muito usada nos
meios de comunicação. Com a fotografia digital inserida no fotojornalismo, percebe-se a influência da
tecnologia sobre as relações sociais.
Várias empresas de notícias têm se aproveitado da generosa produção fotográfica amadora para
estampar imagens em seus sites de notícias. De certa maneira, o olhar amador sobre sua cotidianidade
tem se tornado notícia e, mais ainda, notícia vendável. Esses “fotojornalistas amadores” estão tendo um
espaço na mídia, pois também captam imagens “únicas”, ou seja, também conseguem tirar fotografias
que emocionam ou, mesmo, que “chocam” as pessoas.
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A Figura 1 mostra a situação da cidade de Duque de Caxias diante da empresa da Petrobrás. O
jornal é de uma quinta-feira, 01 de maio de 2014. Não há muita informação a fundo, pois o destaque está
voltado para a imagem, tanto que ela está em grandes proporções no espaço da capa. Esta fotografia de
paisagem é um exemplo de fotos vistas diariamente, pois é característica, nos fotógrafos amadores, a
busca por imagens que retratem paisagens naturais ou urbanas. A reprodução dessas características faz
com que o jornal se aproxime mais do público, consequentemente, a fotografia se aproxima, igualmente, da
visualidade amadora. A zona mais escura traz certa tridimensionalidade e certa profundidade à imagem.
Traz, ainda, uma obscuridade, uma incapacidade enxergar, como metáfora da própria situação da Estatal.
Figura 1 - Nuvens negras
Fonte: Fotógrafo Custódio Coimbra – Jornal O Globo – 01 de maio de 2014
A Figura 2 é como a primeira foto analisada. Porém, não veio com título na parte superior, somente
com um pequeno texto informando ao leitor do que se trata. A fotografia saiu na capa do O Globo numa
terça-feira, 06 de maio de 2014. Como a imagem tem um grande impacto, mais uma vez veio ocupando
um espaço maior. Possui um ar distante com tons cinzentos e frios, dando certa profundidade e tridimensionalidade à imagem. Além disso, há uma sensação de movimento perante aos pedestres passando
pela calçada ao fundo. O leitor somente irá entender do que se trata a imagem, quando ler a legenda,
entretanto, tendo como referência a data e os assuntos tratados já terão uma noção do que se trata. A
cena é muito comum na capital do Rio de janeiro, pois mostra a convivência entre militares e civis no
mesmo espaço: a cotidianidade e assunto que se desdobra nas produções visuais contemporâneas.
Figura 2 - Está chegando a hora
Fonte: Fotógrafo Marcelo Piu – Jornal O Globo – 06 de maio de 2014
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A publicação da Figura 3 foi feita na capa do jornal do dia 11 de maio de 2014 (domingo). A
imagem é baseada em algumas composições fotográficas, como a luz e sombra. A utilização desses
elementos causa um efeito proposital, possibilitando ver a imagem de outra maneira. O tamanho e a
visibilidade da sombra é uma parte importante na imagem, de modo que crie uma composição simétrica.
Assim, podemos analisar que, ao enquadrar a imagem, a própria luz e sombra tornam-se o centro
da atenção. A cena principal, os trabalhadores, se converte numa escuridão, causada pela silhueta.
Um quase não querer mostrar ou, tão somente, um não pode (não deve) ser mostrado. Ou, ainda, a
invisibilidade de certos setores da sociedade. Ao fundo, nota-se uma cidade edificada, focada e iluminada, sem vestígios de reformas ou de outras interferências.
Figura 3 - Sem barreira
FONTE: Fotógrafo Custódio Coimbra – Jornal O Globo – 11 de maio de 2014
Esta fotografia (Figura 4) está na vertical, única nessa posição em relação às outras. A imagem foi
publicada em 23 de maio de 2014 (sexta-feira). Ela transmite uma sensação de movimento por causa
da circulação dos veículos na rua. A composição fotográfica e o enquadramento presentes apresentam
uma integração entre todos os elementos encontrados. Um olhar comum sobre uma cena do cotidiano
urbano, quase um protótipo dos olhares amadores.
A familiaridade com a cena ou a fidelidade com a pauta fotográfica castra o fotógrafo de qualquer
possibilidade criativa. Muitas vezes, é mais cômodo oferecer algo simples, passível de uma identificação instantânea, do que causar um impacto reflexo-interativo no leitor. De certa maneira, a obviedade
de grande parte do fotojornalismo, escorada na necessidade da informação, impossibilita inovações
criativas na linguagem fotográfica.
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Figura 4 - No lado oposto
FONTE: Domingos Peixoto – Jornal O Globo – 23 de maio de 2014
A publicação da Figura 5 aconteceu em um domingo (25 de maio de 2014). A ligação da imagem
com o título “Viciados em craque” traz um duplo sentido. Somente quando o leitor lê o pequeno texto,
abaixo da fotografia, consegue entender o verdadeiro sentido que essa junção quer mostrar aos leitores. Verifica-se que, novamente, o fotógrafo utiliza a luz e a sombra como elemento de composição
da imagem. Essa escolha favorece a duplicidade da mensagem sugerida pela junção entre o texto e a
imagem. Os efeitos de conotação da imagem, discutidos por Roland Barthes (1961), se aplicam, ganhando característica de um fotojornalismo atuante e integrado, com linguagem informativa e discursiva.
Com essa sensação de duplo entendimento, as sombras trazem à tona o sentido de ocultar o
ilícito. Na imagem, uma associação com a droga “crack”, as figurinhas dos craques da Copa viram uma
mania, quase semelhante a um vício. Esconder detalhes importantes na imagem facilita a utilização
das conotações visuais, como proposto por Barthes (1961), pois faz com que o sentido conotativo
se sobressaia ao sentido denotativo. Essa percepção se dá quando a fotografia trabalha os códigos
pertencentes ao universo cultural do leitor. Por esse viés, a imagem 05 consegue duplicar os caminhos
de leitura.
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Figura 5 - Viciados em craque
Fonte: Figura 5 – Fábio Seixo – Jornal O Globo – 25 de maio de 2014
Do ponto de vista amador, é uma fotografia que carrega vestígios da cotidianidade, por ter um
ângulo alto extremo, muito característico de fotografias de moradores de apartamentos. É muito comum a produção de imagens das cenas cotidianas que acontecem nas ruas ao entorno dos edifícios.
Diversas fotografias veiculadas na internet apresentam essas características. O fotógrafo amador se
vale de suas leituras visuais para construir o olhar que ele lança sobre a realidade que quer registrar.
As imagens analisadas trazem um pouco dessas interferências e desses condicionamentos. Não esgotamos todas as tentativas para subsidiar o trabalho, mas acreditamos que acendemos o estopim
para outras discussões.
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CONCLUSÃO
A tecnologia tem possibilitado uma maior produção fotográfica em todos os setores e camadas
sociais. A internet, por sua vez, facilita a veiculação de conteúdos amadores e profissionais, sejam
eles informativos, opinativos ou artísticos. Concomitante a esses avanços, o webjornalismo surge
com o propósito de agilizar a veiculação de informações jornalísticas. Nesse contexto, a abertura para
a inserção de fotografias amadoras, nesses espaços on-line, possibilita a criação de “fotojornalistas
amadores”. O olhar descompromissado sobre o cotidiano ganha novas abordagens. Com isso, os reflexos do fotojornalismo estarão presentes nas fotografias amadoras, que passam a olhar o cotidiano
como “conteudistas” (caçadores de conteúdos).
Da mesma maneira, o fotojornalismo começa a ganhar um pouco da cara dos olhares amadores.
Os enquadramentos e os ângulos tomados trazem à tona a interferência de ambos, profissional e amador,
em suas produções. O olhar amador e o olhar profissional se constroem mutuamente. Com o avanço
das tecnologias da produção e circulação da imagem, isso se intensifica. Os olhares se multiplicam e
se esbarram pelas redes on-line, em um duplo movimento. Os profissionais têm acesso aos conteúdos
amadores e os amadores se embebedam visualmente com as produções fotográficas dos fotógrafos
profissionais. Um movimento constantemente reforçado pela própria dinâmica social contemporânea.
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Acreditamos, dessa maneira, na contribuição da fotografia amadora para a construção de uma
nova “estética visual”, nos parâmetros propostos por André Parente (2007). Uma estética construída
a partir de outros referentes. Uma referência que brota das experiências vivenciadas na cotidianidade
e que se amálgama com outros referenciais que pairam no universo on-line. As imagens do Jornal O
Globo escolhidas para a análise trazem um pouco dessa hibridização, que consistem na experiência
estética da fotografia nos dias atuais. Isso aponta para a necessidade do profissional de jornalismo
ficar cada vez mais atento para as mudanças que a vivência em sociedade configura. Não observar
essas transformações é “perder o bonde da história”. De toda maneira, as problematizações, por ora
levantadas, reforçam a tese de que o fotojornalismo se encontra diariamente entre as pessoas, sendo
elas profissionais ou amadores.
REFERÊNCIAS
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