61:
✺
O TRABALHO DE CAMPO NA
GEOGRAFIA: CARACTERÍSTICAS
FUNDAMENTAIS E UM CONVITE À
ESCUTA
◼
RENATO COIMBRA FRIAS*
Resumo: O presente artigo cumpre um duplo objetivo. O primeiro é discutir as especificidades do trabalho de campo
na Geografia. Para tal fim, apresenta-se um panorama histórico e uma revisão bibliográfica sobre o papel do trabalho
de campo na disciplina, buscando definir quais são as suas características fundamentais. O segundo objetivo é
apresentar ferramentas de análise, noções e práticas de pesquisa que permitam aos geógrafos realizar trabalhos de
campo focados no estudo dos sons do mundo. Para isso, discute-se o papel central que a visão possui na produção e
na comunicação do conhecimento geográfico, de modo a demonstrar, em seguida, as possibilidades que se abrem
quando consideramos também a nossa escuta. Por último, é apresentado um conjunto selecionado de noções,
conceitos e práticas de campo que podem auxiliar no planejamento de uma investigação empírica dedicada ao som e
à espacialidade.
Palavras-Chave: Trabalho de campo; paisagem sonora; métodos fonográficos; caminhadas sonoras.
Nota inicial sobre a área de estudos da
Geografia. Dessa forma, afirmamos juntos
Geografia _________________________
com Serpa (2006:9), que “uma reflexão
O trabalho de campo não é um
procedimento metodológico exclusivo da
sobre a importância do trabalho de campo
nesta disciplina requer a compreensão de
sua
especificidade
frente
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às
outras
62:
disciplinas”. Nesse sentido, para que
geográfica é aquele que se interroga sobre
possamos discutir o trabalho de campo na
a ordem espacial dos fenômenos estudados.
Geografia, cabe aqui apontar o que há de
Basta lembrar que a arquitetura, a
especifico no conhecimento geográfico
história e a economia também podem
frente às outras formas de conhecimento.
tomar o espaço como objeto de estudo e o
Para o mesmo autor,
que determina a especificidade de cada uma
dessas áreas do pensamento são as questões
Poucos estariam dispostos a contestar
por elas levantadas. Todas elas, juntas com
o papel central do ‘espaço’ enquanto
a Geografia, podem dividir o mesmo objeto
conceito na produção do conhecimento
de pesquisa. No entanto, como afirma
geográfico. Isso é, com certeza, a
Gomes (2009:27), uma análise geográfica
especificidade maior da Geografia, sua
razão de ser perante as outras ciências.
Os estudos da dimensão espacial da
sociedade e da dimensão social do
espaço colocam a Geografia diante da
se delineia quando a nossa questão central
está preocupada a ordem espacial dos
fenômenos estudados. Ou seja, haverá
sempre uma geografia quando a dispersão
árdua tarefa de operacionalização do
espacial construir a questão central do
conceito de “espaço” em sua dimensão
nosso problema. Ou ainda, a Geografia
empírica (Serpa, 2006:10).
existe em qualquer fenômeno em que haja
uma ordem de dispersão espacial.
Gomes
em
Essa perspectiva sobre a área de
complemento, afirma que o terreno da
estudos da Geografia nos interessa aqui
ciência geográfica não se define pela posse
pois permite que discutamos a importância
de um objeto específico, nesse caso, “o
do trabalho de campo na disciplina sem que
espaço”. O que delimita a área de interesses
precisemos nos ater às especificidades
da Geografia, para o autor, é muito mais
epistemológicas
um modo de pensar e indagar o mundo do
subcampos da Geografia Física e da
que a tomada de uma parcela específica
Geografia Humana. O que nos interessa é o
desse mundo como objeto de estudo. É, nas
que elas possuem em comum: o interesse
suas palavras, muito mais o tipo de questão
pela dimensão espacial dos fenômenos que
que é dirigida a um fenômeno do que o
estudam. Estejam os geógrafos dedicados
fenômeno em si que vai definir o teor
ao estudo dos processos erosivos em uma
geográfico ou não de uma pesquisa. E o tipo
bacia hidrográfica ou à difusão de um tipo
de
de comércio em uma cidade média, as duas
questão
(2009:26-27),
construído
pela
ciência
e
metodológicas
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dos
63:
perguntas
esses
Nesse contexto, os trabalhos de campo
sempre duas:
possuíam forte caráter exploratório, com o
fundamentais
pesquisadores
vão
ser
para
“onde?” e “por que aqui?”.
objetivo de levantar as características
geológicas,
Feito
esse
esclarecimento,
podemos, agora, passar à discussão sobre o
papel do trabalho de campo na Geografia.
climáticas
e
hidrológicas,
realizar levantamentos cartográficos e a
coleta de amostrar da fauna e da flora.
Em um segundo momento, já na
as
primeira metade do século XX, o contexto
diferentes formas como esse procedimento
é de consolidação da Geografia enquanto
metodológico foi encarado ao longo da
disciplina universitária. Zusman explica
história do pensamento geográfico.
que os pesquisadores da área buscavam
Comecemos,
portanto,
revisando
desenvolver suas investigações e construir
O trabalho de campo na Geografia:
as suas representações do mundo a partir
breve panorama histórico____________
de conceitos tomados como centrais na
Geografia: paisagem e região. O empirismo
Zusman (2011) nos oferece um
ganha força na disciplina e, assim sendo, o
interessante panorama sobre como a
trabalho de campo aparece como estratégia
Geografia encarou o trabalho de campo ao
metodológica importante na Geografia,
longo das transformações teóricas pelas
diferenciando-a das outras áreas do saber e
quais passou a ciência nos últimos séculos.
legitimando-a cientificamente. O campo,
A autora apresenta quatro maneiras de
nesse contexto, passa a ser entendido como
conceber o trabalho de campo, cada uma
um equivalente do laboratório das ciências
delas atrelada um momento histórico e a
exatas, na medida que permitia o estudo
uma forma especifica de concepção teórica
dos processos que interessavam à disciplina
sobre a Geografia.
e a avaliação de hipóteses pelos geógrafos
A primeira forma de conceber o
trabalho de campo estaria associada às
atividades
de
exploração
territorial
(Zusman, 2011:20).
No entanto, como já dissemos, o
trabalho
de
campo
nunca
foi
um
realizadas na virada do século XIX para o
procedimento metodológico exclusivo da
XX, quando a Geografia se consolidava
Geografia. Então, neste momento, o que
como um conjunto de conhecimentos úteis
diferenciava
aos objetivos dos Estados nacionais e dos
geográfico
Impérios europeus (Zusman, 2011:18).
realizados pelos etnógrafos, por exemplo?
o
dos
trabalho
de
campo
trabalhos
de
campo
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64:
Zusman
(apoiada
em
Price,
2001)
pesquisador
envolver-se
com
as
argumenta que estes últimos se dedicavam
problemáticas sociais das comunidades por
à
ele estudadas.
coleta
de
pertencentes
enquanto
os
relatos
aos
dos
indivíduos
grupos
estudados,
geógrafos
continuavam
No
marco
dessas
posturas
reticentes em considerar relevante a
interpretativas,
interação com as populações locais e a
entendida como uma ciência social
valorizar a contribuição dos seus saberes
que buscava, entre outros objetivos,
no processo de produção do conhecimento
(Zusman, 2011:20). Para aqueles que
entendiam a Geografia como a ciência da
paisagem, o trabalho de campo consistia em
a Geografia
era
analisar as causas estruturais da
pobreza e das desigualdades sociais.
Essa concepção da geografia levou a
outorgar
um
protagonismo
às
sociedades locais do trabalho de
uma atividade, primeiramente, visual: ler as
campo, até então raramente levadas
formas visíveis, fotografá-las e classificá-
em
las, a partir da sua comparação com as
relevantes
formas que constituíam outras paisagens.
interação do especialista com os
Ainda que em alguns casos o interesse
setores populares nos seus locais de
estivesse voltado para formas passadas, o
trabalho ou residência se apresentava
campo permitiria “obter gradualmente uma
como a forma mais adequada para a
imagem da paisagem cultural do passado
oculto por trás da paisagem do presente”
(Sauer, 1940 apud Zusman, 2011:20).
consideração
na
vozes
investigação.
A
abordagem daquelas temáticas, na
medida que outorgava à disciplina
uma
relevância
potencializava
Zusman (2011:21) argumenta que
como
a
social
sua
e
capacidade
transformadora (Zusman, 2011:21).
essa concepção começa a se modificar a
partir da década de 1970, com a ascensão
Essa nova concepção vai levar
da Geografia crítica, dando origem a uma
autores como Yves Lacoste (2006 [1977])
nova perspectiva sobre o estatuto do
a levantar questionamentos a respeito da
trabalho de campo na disciplina. Nesse
responsabilidade do pesquisador e às
novo momento, a Geografia passa a ser
relações que deveriam estabelecer-se entre
entendida
social
o intelectual e a população que é seu centro
comprometida com a transformação da
de interesse científico. É normal que o
sociedade. Nesse sentido, o trabalho de
pesquisador se desinteresse da sorte da
campo
população que ele estudou? É normal que
como
pressupõe
uma
a
ciência
necessidade
do
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65:
esta
permaneça
das
aproximação com o método etnográfico. A
pesquisas das quais foi objeto? Essas são
primeira foi o maior peso dado à
algumas das questões que ilustram quais
perspectiva dos informantes frente a dos
passam
dos
estudiosos, o que poderia permitir que as
geógrafos ao pensarem os seus trabalhos de
pesquisas em campo oferecessem uma
campo no contexto da Geografia crítica.
perspectiva
a
ser
na
as
ignorância
preocupações
mais
heterogênea
dos
Para Zusman, a quarta maneira de
processos espaciais analisados. A outra
conceber o trabalho de campo na Geografia
mudança, seria um interesse maior dos
se consolida a partir da década de 1990,
geógrafos em refletir sobre a posição do
com a aproximação dos geógrafos dos
investigador
estudos etnográficos e a consequente
condicionantes sociais e políticos, e as
redefinição das relações entre a academia e
relações de poder que se estabelecem entre
o campo. Segundo a autora, é a partir desse
o
marco que começa a se compreender que o
(Zusman, 2011:23).
em
investigador
campo,
e
seus
seus
informantes
trabalho de campo não pode ser reduzido
ao momento em que o investigador entra
O trabalho de campo na Geografia:
em
características fundamentais _________
contato
com
os
lugares
comunidades que compõem o
e
as
corpo
empírico da investigação. Ou seja, sob este
Após esse breve e esclarecedor
ponto de vista, o trabalho de campo se faz
panorama
apresentado
por
presente desde o inicio da formulação da
podemos
discutir
características
investigação. A interpretação teórica define
fundamentais do trabalho de campo na
o tipo de atividades e perguntas que serão
Geografia. Nas palavras da própria autora,
as
Zusman,
realizados no trabalho de campo, ainda que
estas possam acabar entrando em tensão,
As investigações atuais na Geografia
ser desafiadas ou enriquecidas pelas
geralmente combinam a observação
informações obtidas no próprio campo e
(visual) do campo com a observação
delas derivem uma nova perspectiva
participante,
teórica (Escolar, 1998 apud Zusman,
a
mapeamento
realização
de
entrevistas semiestruturadas ou de
2011:21).
Ainda segundo Zusman, outras
duas mudanças ocorreram nos trabalhos de
campo
participativo,
o
em
Geografia
a
partir
da
histórias de vida. A observação pura é
considerada, geralmente, uma etapa
exploratória do reconhecimento do
terreno. Esse momento costuma ser
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útil
para
avaliar
a
validez
da
permitiria superar essa divisão. Por outro
investigação que deseja se realizar e
lado, a indicação que o trabalho de campo
das perguntas que a orientam, ou para
permitira a superação dessa dicotomia,
reformulá-las. Porém, a interações com
denota que há, nesta prática, algo que é
os informantes é o que abre a
possibilidade de descrever a vida social
e espacial e é o que permite incorporar
a
perspectiva
de
membros
comum aos dois subcampos e, portanto,
fundamental ao pensamento geográfico.
Driver (2000) reconhece que em
da
meio à heterogeneidade de significados
comunidade (Zusman, 2011:25).
ligados à ideia de “campo” na Geografia, é
Zusman defende, portanto, que as
possível identificar sempre a referência a
diferentes formas de se conceber o trabalho
três elementos que costumam aparecer
de campo não só coexistem hoje como
intimamente entrelaçados: a prática, a
muitas vezes apresentam-se de forma
representação e a espacialidade. Apesar de
amalgamada. No entanto, o que há de
tal
comum nessas diferentes formas, o que nos
desenvolvida pelo autor, acreditamos que
permite dizer que, nos exemplos citados
ela aponte um caminho interessante para
pela autora, temos trabalhos de campo
identificarmos o lugar do trabalho de
geográfico?
campo na Geografia hoje.
constatação
não
ser
longamente
Tanto Alentejano e Rocha Leão
Primeiramente, quando pensamos
(2006) quanto Serpa (2006) enxergam o
em trabalho de campo em Geografia,
trabalho de campo na Geografia como uma
pensamos, usualmente, em “atividades
ferramenta importante na superação da
práticas”. Isso não significa um empirismo
“dicotomia
das
puro, já que a concepção e a escolha das
“dicotomias e ambiguidades características
atividades a serem realizadas em campo
da geografia”, respectivamente.
pressupõem
sociedade-natureza”
e
uma
reflexão
teórica-
primeiros
metodológica por parte do pesquisador.
parágrafos deste texto expusemos como
Também não significa dizer que é possível
tais
aquela
separar completamente, no curso da
ligada à divisão entre Geografia Física e
pesquisa, teoria e prática. No entanto, seja
Geografia Humana, é decorrente da
com o objetivo de realizar uma exploração
concepção teórica que se tem da disciplina
inicial, coletar dados primários ou para a
e não seria um procedimento metodológico
realização de experimentos, a ida a campo
como o trabalho de campo que nos
é tomada por todos nós como uma etapa da
No
entanto,
dicotomias,
nos
especialmente
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pesquisa
que
extrapola
a
simples
Afulamata
Diasporis,
uma
planta
construção teórica do objeto de pesquisa. O
comum da floresta, é encontrada na
trabalho de campo é o momento onde
savana, mas apenas à sombra de outras
vamos realizar as atividades prática,
que conseguem sobreviver ali, ela tem
empíricas, necessárias para testarmos
nossas hipóteses iniciais a partir da coleta
de dados e da observação com as realidades
geográficas que nos interessam.
envolve
a
mas uma amostra que se comportará
como uma testemunha silenciosa de
sua assertiva. Na braçada que ela acaba
de colher, podemos identificar dais
Segundamente, a ida a campo
sempre
de preservar, não a população inteira,
de
economia, urna indução, um atalho, um
representações. Latour demonstrou isso de
funil onde Edileusa toma uma única
maneira brilhante, expondo todas as
folha de grama como representante de
mediações necessárias para que a coleta de
milhares de folhas de grama; de outro,
dados
se
a preservação de um espécime que mais
textos,
tarde atuará como fiador quando ela
empíricos
transformasse
em
construção
traços de referência: de um lado, uma
em
campo
gráficos,
diagramas, mapas e outras formas de se
representar
a
realidade
em
estudo.
Destacamos aqui um trecho onde ele
própria ficar em dúvida ou, por
diversos
motivos,
seus
colegas
duvidarem de suas afirmações (Latour,
1999 [2001]:48).
descreve a coleta de amostras vegetais por
uma botânica em um campo na Amazônia,
ilustrando a relação entre a atividade
prática e a construção de representações:
Por último, retomemos a questão da
espacialidade,
destacada
nos
nossos
parágrafos iniciais. Como dissemos, o
trabalho de campo não é um procedimento
Cada planta que ela remove representa
milhares da mesma espécie, presentes
na floresta, na savana e na zona
limítrofe entre ambas. Edileusa [a
metodológico exclusivo dos geógrafos.
Etnógrafos, ecólogos, pedólogos, geólogos
e tantos outros pesquisadores realizam essa
botânica] não está colhendo um
atividade como etapa importante do
ramalhete, está reunindo as provas que
desenvolvimento dos seus estudos. A
quer preservar como referência (aqui,
espacialidade é, no entanto, o elemento
em outra acepção da palavra). Deve ser
fundamental que vai diferenciar o trabalho
capaz de encontrar o que escreve em
de campo do geógrafo frente aos outros.
seus cadernos e recorrer a eles no
Isso não significa que o mapeamento e
futuro. A fim de poder dizer que a
outras formas de organizar o mundo
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68:
Junto com Gomes e Ribeiro (2013),
espacialmente não sejam importantes para
pensamento.
gostaríamos de apontar que o raciocínio
Obviamente são. Mas é a espacialidade dos
geográfico sempre esteve associado a um
fenômenos e a pressuposição que a análise
imprescindível
dessa espacialidade pode revelar aspectos
atendendo, desde seus primórdios, a um
importantes sobre eles que motiva o
verdadeiro imperativo gráfico.
geógrafo a ir a campo. A coleta de dados na
necessária associação surge mesmo na
geografia é orientada pela busca por uma
denominação da disciplina: Geo + grafia,
compreensão da organização espacial dos
contendo, assim, em seu próprio corpo, a
seus objetos de estudos.
concepção de informações que estão
as
outras
áreas
do
Nesse sentido, podemos afirmar
aparelhamento
visual,
Essa
gravadas, inscritas.
Para
que, independente do tipo de pesquisa que
ilustrar
podemos
natural ou social, o trabalho de campo
classificação e interpretação da paisagem
assume a função de etapa metodológica
configura um dos campos de estudo mais
onde um conjunto de atividades práticas
tradicionais na Geografia que, desde os
vai
seus
a
construção
de
uma
primórdios,
que
afirmação,
se realiza na geografia, seja ela de caráter
permitir
lembrar
essa
está
a
descrição,
ancorado
nos
representação do fenômeno estudado no
aspectos visíveis do mundo. De Sauer
qual esteja destacada a sua dimensão
(1998 [1925]) a Cosgrove (1985), pouca
espacial. De forma simples e direta, este
atenção foi dada aos aspectos não-visuais
nos parece ser o aspecto fundamental que
da paisagem e dos lugares. O que é descrito
diferencia o
e compreendido nessas pesquisas é, em
trabalho de campo na
grande parte, aquilo que é visto.
Geografia frente aos outros.
Há, ainda, um quarto aspecto,
Esse
imperativo
visual
da
que
Geografia é revelado também na forma
gostaríamos de tratar aqui: o peso dado
como comunicamos o conteúdo produzido
pelos geógrafos nas suas abordagens e,
pela disciplina: mapas, desenhos, gravuras,
consequentemente,
pinturas,
ignorado
por
Driver
nos
(2000),
trabalhos
de
campo, aos aspectos visuais do mundo.
fotografias,
diagramas,
fluxogramas e esquemas corroboram a
ideia de que a informação geográfica foi,
A Geografia e os aspectos visuais do
desde os seus primórdios, informação
mundo ____________________________
gráfica.
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69:
Não por acaso, autores de linhas de
pensamento
distintas,
como
Gregory
Ou
seja,
na
Geografia,
(1994), Smith (2000), Rose (2003) e
tradicionalmente, métodos e instrumentos
Cosgrove
o
de trabalho são escolhidos com o propósito
conhecimento geográfico como sendo “uma
de potencializar a nossa capacidade de “ver
forma especial de visualização”, como
o mundo”, de observá-lo e descrevê-lo a
afirmou o geógrafo britânico Halford
partir dos seus atributos visuais, sejam eles
Mackinder muitos anos antes, em 1904
as feições de um relevo ou a morfologia de
(apud RYAN, 1994). No Brasil, autores
uma cidade.
(1985)
reconheceram
como Gomes (2013) e Novaes (2011),
Neste contexto, gostaríamos de
produziram relevantes trabalhos sobre o
argumentar a favor de uma Geografia
tema.
interessada nos aspectos não-visuais dos
Esse “ocularcentrismo”, ou seja,
espaços estudados, mais especificamente,
esse enfoque centrado unicamente no que é
atenta às possibilidades que se abrem ao
visível, reflete-se também na forma como
adotarmos um referencial teórico, uma
conduzimos os nossos trabalhos de campo.
abordagem e um conjunto de métodos
voltados para o que se ouve e não apenas
Como nos relata Schwartz (1996),
para o que se vê. Cabe, então, explicar quais
Humboldt levava sempre um "time de
são os fatores que justificariam o interesse
ilustradores" (p.19) para seus trabalhos
dos geógrafos pelos sons do mundo.
de campo e fazia uso frequente das
imagens em seus relatos. Como
membro da Academia de Ciências,
Um convite à escuta ________________
Humboldt inclusive visitou, em 1838, o
estúdio de um dos grandes inventores
Boa parte dos sons que ouvimos no
da fotografia, Louis Jacques Mandé
nosso dia-a-dia, como os roncos de
Daguerre, pois estava intensamente
motores, o estalo de um galho ou os ruídos
interessado no processo de fixação de
ferroviários,
imagens através da “câmara obscura”.
determinadas atividades mecânicas. A
Alguns anos mais tarde, a câmera
outra parte é composta por emissões
fotográfica se tornaria uma ferramenta
sonoras destinadas à comunicação, como as
“indispensável” para a realização de
buzinas
trabalhos de campo pelo geógrafo
(SCHWARTZ, 1996 apud NOVAES,
2011).
dos
são
apenas
carros
e
resíduos
anúncios
ambulantes.
Juntas,
formam
composição
sonora,
cacofônica
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de
de
uma
e
70:
involuntária, presente na maioria das
cognitivo, o universal com o singular de
grandes cidades, que é percebida, em maior
uma maneira muito equilibrada. Através da
ou menor grau, por qualquer um dos seus
visão nós observamos um mundo diante de
citadinos.
nós, presumimos um distanciamento entre
Na perspectiva de Thibaud (2011),
quem vê e o que é visto (WYLIE, 2007). Já
a composição formada pelos sons de um
o som não está “aqui” ou “ali”, ele é
ambiente são a expressão pública de uma
omnidirecional.
forma específica de vida, de uma maneira
que permanece “colada” ao objeto, o som
particular
Pessoas
tem a capacidade de se separar de sua fonte
caminhando pelas ruas e conversando umas
e difunde-se em muitas direções. Estamos
com as outras, carros circulando, a
rodeados de sons que se propagam ao redor
construção de um novo edifício, enfim, há
e vêm de todos os lugares ao mesmo tempo.
uma série de atividades e práticas sociais
Através da audição, o mundo não se
que são audíveis e nos dão acesso ao que
apresenta à nossa frente, mas ao nosso
acontece em um determinado lugar. Além
redor.
de
convivência.
Diferentemente da cor,
disso, a largura das ruas, a altura dos
Alguém poderia argumentar que
prédios, o tipo de revestimento das
cheiros e aromas também permitem essa
construções, a presença ou ausência de
experiência imersiva que o som nos
arborização e outros aspectos ligados à
fornece. No entanto, a nossa audição,
morfologia
a
diferentemente do que acontece com o
sonoridade resultante das ações típicas de
nosso olfato, é suficientemente acurada
um espaço urbano, gerando reverberações
para qualificar propriamente e distinguir
e influindo sobre o alcance espacial de um
precisamente um ambiente de outro.
determinado som, por exemplo. Dessa
Comparando-se a gravação realizada em
forma, também podem ser analisados por
uma área de comércio popular do Rio de
uma metodologia que privilegie o som no
Janeiro/Brasil (https://bit.ly/368e54p) e
estudo desses lugares.
outra em uma estação de metrô em
local
Enquanto
também
a
Santiago/Chile (https://bit.ly/2NIS0Dp),
implementar uma distância entre quem
podemos notar como as ações e a
percebe e o que é percebido, e enquanto o
morfologia local afetam o que se ouve e
olfato
distinguem bem esses dois lugares. O
tende
a
a
visão
afetam
produzir
tende
fenômenos
excessivamente difusos e voláteis, a
mesmo
audição pode agregar o afetivo com o
privilegiássemos cheiros e aromas.
não
seria
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possível
caso
71:
Soma-se a esses argumentos o fato
de possuirmos, hoje, técnicas disponíveis e
Paisagem
sonora
e
métodos
fonográficos _______________________
acessíveis para o registro e posterior
análise
do
som.
gravar,
Além de alguns trabalhos isolados,
documentar e descrever a dinâmica de um
como o artigo sobre as “paisagens
determinado ambiente através de registros
olfativas”
sonoros, que podem ser utilizados para
Geografia, os autores que buscaram
projetar e desenvolver uma etnografia
romper
sensorial do mundo urbano. O mesmo não
dedicaram-se às relações entre som e
acontece com os estímulos olfativos, o que
espacialidade
impõe
WISSMANN, 2014; MALANSKI 2017,
uma
Podemos
série
de
impedimentos
metodológicos à pesquisa.
de
com
Porteous
esse
(1990),
na
“ocularcentrismo”,
(TORRES,
2010;
FRIAS 2018; entre outros). Estes são, em
Em suma, quando “ouvimos um
sua maioria, tributários das reflexões
lugar”, ouvimos uma organização social
apresentadas pelo compositor, escritor e
específica do som e também a forma como
educador canadense Raymond Murray
as pessoas interagem e se relacionam umas
Schafer. Em seu livro “A afinação do
com as outras. O som é tanto a expressão
mundo” (SCHAFER, 2011), o autor nos
quanto o meio de diferentes modos de
apresentou o conceito de paisagem sonora
interação e organização da vida social
(soundscape) e uma série de outras noções
(THIBAUD, 2011). Em termos sonoros,
(como objeto sonoro, evento sonoro, sons
faz diferença perceber com que frequência
fundamentais, marcos sonoros e sinais sonoros)
os motoristas acionam as suas buzinas, qual
que compunham o instrumental teórico-
marca e tipo de carros eles dirigem, qual
metodológico do seu projeto acústico1.
estação de rádio podem ser ouvidas pelas
Podendo ser entendida também como um
suas janelas abertas e quais mercadorias
ambiente
são
corresponde a
anunciadas
Através
dos
moradores
de
pelos
seus
uma
comerciantes.
estilos-de-vida,
cidade
sonoro,
a
paisagem
sonora
os
também
“(...) qualquer porção do ambiente
produzem uma espécie de atmosfera
sonoro vista como um campo de
(BOHME apud THIBAUD, 2011) ou,
estudos. O termo pode referir-se a
como colocou Schafer (2011), uma paisagem
ambientes reais ou a construções
sonora.
abstratas, como composições musicais
e montagens de fitas, em particular
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72:
quando
consideradas
como
um
ambiente” (SCHAFER, 2011, p. 366).
poder e política (Gallagher, 2011); em
pesquisas documentais e entrevistas sobre
o papel do som e da música no espaço de
Em um trabalho de campo dedicado
trabalho, na cidade, no campo e na vida
às relações entre sons e espacialidade, nos
cotidiana
deparamos com o desafio de levantar dados
DeNora, 2000; Garrioch, 2003; Jones,
que permitam uma análise geográfica a
2005; Matless, 2005); na arqueologia
partir da dimensão sonora do espaço. Para
acústica (Smith, 2004); e, por fim, em
tal feito, muitos autores vêm utilizando os
etnografias focadas no papel da música
chamados
como mediadora da memória (Anderson,
métodos
fonográficos
de
pesquisa, ou seja, instrumentos de pesquisa
(Bull, 2000;
Corbin, 1998;
2004).
eu permitam a escuta in loco, gravação de
Uma característica comum a todos
áudio e sua posterior edição, reprodução e
esses trabalhos citados é o grande peso
audição (GALLAGHER e PRIOR, 2014).
dado à voz humana frente aos outros
Como
aponta
Lorimer
(2007),
elementos sonoros que, caso fossem
gravações de áudio em trabalhos de campo
considerados,
têm sido utilizadas para registrar os sons
abordagens do material coletado.
de animais selvagens, como o canto dos
possibilitariam
outras
Como explicam Gallagher e Prior
pássaros e determinadas dinâmicas de caça,
(2014),
migração e reprodução que não poderiam
fonográficos têm exercido um papel
ser registradas com a presença humana
importante na coleta de dados qualitativos
(KRAUSE, 2013).
na Geografia, através da gravação de
Métodos fonográficos também já
foram
utilizados
antropologia
e
em
tradicionalmente,
métodos
relatos orais para subsequente transcrição
trabalhos
de
em texto. Tais método são, geralmente,
etnomusicologia:
no
tomados
como
formas
de
“escutar”,
registro práticas e performances musicais e
permitindo que a “voz” dos respondentes
sonoras (ANDERSON et al, 2005); análise
seja “ouvida”. No entanto, esse processo de
da relação entre letras de música e
transcrever em texto dados fonográficos é
construção de identidade em diferentes
geralmente vista de forma naturalizada,
escalas geográficas (LEHR, 1983); coleta
pouco problematizada, e tem sido assunto
de depoimentos sobre o papel do som e da
de pouca reflexão.
música na formação de identidades locais
(BOLAND, 2010); em pesquisas sobre
O
como música e som se relacionam com
privilegiar o conteúdo verbalizado em
pressuposto de que
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se
deve
73:
relação aos demais aspectos sonoros
Geografia,
contidos
orientações
na
entrevista
gravação
é
de
uma
particularmente
apresentando
básicas
a
algumas
respeito
do
planejamento e condução do campo.
problemático para geógrafos, uma vez
que isso tende a silenciar algumas
especificidades geográficas contidas no
som: sotaques regionais, a acústica,
Sinais sonoros, sons fundamentais e
marcas sonoras _____________________
ambiência e ressonâncias dos espaços
Para Schafer (2011, p.25-26), “o
em que as entrevistas são realizadas,
entre
outros
(GALLAGHER
e
analista da paisagem sonora precisa fazer,
em primeiro lugar, é descobrir os seus
PRIOR, 2014:04).
aspectos significativos, aqueles sons que
Buscando ampliar as possibilidades
são
importantes
por
causa
da
quantidade
sua
de investigação das relações entre sons e
individualidade,
ou
espacialidade na Geografia, gostaríamos de
preponderância”. Ou seja, nossos trabalhos
apresentar, aqui, um conjunto de noções e
de campo, quando voltados para questões
práticas de campo que, apesar de estarem
ligadas ao som, devem considerar duas
longe de esgotar o referencial e as
questões iniciais: o que queremos ouvir em
possibilidades existentes, podem servir
campo e como descrever e classificar aquilo
como um ponto de partida para aqueles
que é ouvido?
O mesmo Murray Schafer propõe
interessados neste campo de estudos.
Inicialmente, debateremos como as
três noções para a análise da paisagem
noções de sinal sonoro, som fundamental e
sonora que nos serão úteis neste estudo:
marca sonora, cunhadas por Schafer (2011),
sinais sonoros, sons fundamentais e marcas
podem nos orientar na análise dos sons
sonoras.
encontrados em um trabalho de campo. Em
Os
sinais
sonoros
são
sons
seguida, discutiremos como as noções de
destacados,
ponto de vista, composição e exposição,
Trata-se de “qualquer som para qual
advindas das artes visuais, oferecem
atenção é particularmente direcionada”
inspiração também para pensarmos a
(SCHAFER, 2011, p. 368). Uma forma de
dimensão
que
compreender essa noção é através da
visitamos. Por último, debateremos a
comparação com a nossa percepção visual.
utilização das caminhadas de escuta e
Quando
observação no trabalho de campo de
conseguimos, geralmente e sem muito
sonora
dos
espaços
ouvidos
olhamos
conscientemente.
para
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uma
pintura,
74:
esforço, distinguir a “figura”, que é o foco
apenas os aspectos como o volume e a
da nossa atenção, do “fundo”, aquilo que é
altura do som. Como o trecho acima ilustra,
considerado contexto, cenário. Ou seja,
um som pode se destacar frente a outros
conseguimos distinguir uma determinada
que nós ouvimos por conta de uma
forma que se destaca do restante da
experiência subjetiva. O tema de uma
composição em tela. O mesmo acontece
música ou um determinado tom de voz
com a nossa percepção auditiva. Alguns
pode nos remeter a uma memória pessoal,
sons se destacam e atraem a nossa atenção.
por exemplo. Eles se destacam do “fundo”
Esse destaque, no entanto, não está
pelo significado que atribuímos a eles,
necessariamente relacionado aos aspectos
sendo percebidos por nós como “figuras”.
físicos do som.
Aqui, não trataremos desse aspecto. Nos
interessam
os
sinais
cujos
sonoros
Não há nada a fazer com a dimensão
significados
física do som, pois já mostrei de que
socialmente. Aqueles sons que organizam e
modo mesmo os sons muito fortes,
orientam
como os da Revolução Industrial,
determinado lugar, por exemplo. Como,
permaneceram
completamente
indiscerníveis até que sua importância
social começou a ser questionada. Por
outro lado, mesmo os sons mais
são
a
compartilhados
espacialidade
de
um
então, identificá-los?
Primeiramente, a identificação dos
sinais sonoros de um determinado lugar
delicados serão notados como figuras
envolve uma análise que encare o som
quando são novidade, ou quando
como um evento, ou seja, como algo que
percebidos por forasteiros. Assim, Lara
acontece em um espaço-tempo específico,
nota o ruído das luzes elétricas em
em uma determinada situação, o que vai
Moscou tão logo Pasternak a faz
influir
mudar-se do interior para lá (Doutor
atribuídos. O conjunto de sons mecânicos
Jivago), ou eu noto o rangido das
de um trem que se aproxima poderia ser
pesadas cadeiras de metal no chão de
ladrilhos dos cafés de Paris cada vez
que visito essa cidade como turista”
(SCHAFER, 2011, P. 215).
sobre
os
significados
a
ele
mais um indistinguível entre tantos outros
sons
urbanos,
mas,
ele
acaba
se
configurando como sinal sonoro para quem
está habituado ao ambiente da estação e o
Nesse sentido, a identificação dos
sinais sonoros de um lugar não pode ser
realizada levando-se em consideração
identifica como anúncio da chegada do
veículo. É neste contexto específico que
esses sons assumem um determinado
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75:
significado. A compreensão do papel que o
“sons ouvidos continuamente por uma
som exerce naquela ordem espacial passa,
determinada sociedade ou uma com uma
portanto,
constância suficiente para formar um fundo
pela
consideração
de
um
contexto.
contra o qual os outros sons são
Em segundo lugar, é preciso
percebidos” (SCHAFER, 2011, p. 368).
considerar que apesar dos sinais sonoros
Para Schafer (2011, p. 26), “os sons
poderem ser “organizados dentro de
fundamentais não precisam ser ouvidos
códigos bastante elaborados, que permitem
conscientemente; eles são entreouvidos,
mensagens de considerável complexidade a
mas não podem ser examinados, já que se
serem transmitidas àqueles que podem
tornam hábitos auditivos, a despeito deles
interpretá-las” (SCHAFER, 2011, p. 27) e
mesmos”. No entanto, sua preponderância
apesar de muitas das nossas atividades
e perenidade podem acabar gerando uma
cotidianas dependerem da correta leitura
espécie de sentido de lugar (TUAN, 2013).
dos códigos atrelados a esses sinais, nem
sempre temos consciência dos significados
“Os
que atribuímos aos sons que percebemos no
paisagem são os sons criados por sua
dia-a-dia. Esse ponto coloca em dúvida a
geografia
eficiência do uso de entrevistas na nossa
planícies, pássaros, insetos e animais.
investigação, pois, na medida que as
associações entre som e significado, por
não serem tão claras para todos nós, podem
acabar
não
sendo
verbalizadas
nas
sons
fundamentais
e
clima:
de
água,
uma
vento,
Muitos desses sons podem encerrar um
significado arquetípico, isto é, podem
ter-se imprimido tão profundamente
nas pessoas que os ouvem que a vida
sem eles seria sentida como um claro
respostas dos entrevistados. Desse modo,
empobrecimento” (SCHAFER, 2011,
consideramos que a identificação dos sons
p. 26).
fundamentais envolve não só uma escuta
atenta da paisagem sonora, mas também a
análise
dos
comportamentos
a
ela
associados.
Se,
Falamos,
então,
de
sons
e
composições sonoras que, ao mesmo tempo
que não capturam nosso foco de atenção,
na
metáfora
que
são preponderantes e perenes em um
utilizamos anteriormente, os sinais sonoros
determinador lugar, ao ponto de se
correspondem
sons
tornarem uma marca da identidade dos
fundamentais corresponderiam ao que a
mesmos. A consideração dessa categoria
chamamos de “fundo”. Falamos aqui dos
pode nos permitir levantar questões como:
à
“figura”,
visual
os
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76:
quais sons ou conjuntos de sons encerram
Gomes (2013), para abordar as
um “significado arquetípico” na área
relações existentes entre espacialidade e
analisada? Quais sons estão “imprimidos
visibilidade, fez uso de três expressões
tão profundamente” nos frequentadores
frequentemente utilizadas nos discursos
desse espaço a modo de conformarem um
sobre as artes: ponto de vista, composição e
sentido de lugar? Como veremos, em
exposição. Tal uso se justifica pelo fato
campo,
sons
dessas três noções, afirma o autor,
fundamentais da área de estudo a partir da
possuírem um fundamento posicional e,
escuta in loco e da gravação do som
portanto, espacial, geográfico. Apesar de
ambiente, buscando registrar quais sãos
apresentar preocupações distintas das
mais preponderantes e os mais perenes no
nossas e, seguindo a tradição geográfica,
local.
estar concentrado principalmente naquilo
podemos
identificar
os
A última noção proposta por
que é visível, a discussão levantada por
Schafer (2011, p. 27) é a de marca sonora. O
Gomes aponta o caminho para os conceitos
termo em inglês, soundmark, é uma variação
que podem orientar a construção de um
de landmark, e refere-se a “um som da
trabalho de campo preocupado com as
comunidade que seja único ou que possua
relações entre sons e espacialidade.
determinadas qualidades que o tornem
Na concepção do autor, ponto de
especialmente significativo ou notado pelo
vista, para além do sentido metafórico,
povo daquele lugar”. O badalar do sino de
refere-se aos lugares que oferecem uma
uma igreja em um bairro residencial e o
visão panorâmica, de onde se pode observar
canto de torcidas organizadas em áreas
uma paisagem, por exemplo. “Ponto” nesse
próximas a estádios de futebol são
caso indica um lugar determinado, uma
exemplos. Para a identificação das marcas
posição da qual podemos ver algo que não
sonoras, segue-se o mesmo expediente
veríamos se estivéssemos situados em
utilizado
fundamentais,
outra posição qualquer. A expressão
realizando-se os procedimentos de escuta e
estabelece, portanto, uma relação direta
gravação dos sons que, pelo seu caráter
entre o observador e aquilo que está sendo
endêmico e simbólico, configurem-se como
observado. O ponto de vista é, portanto, um
verdadeiras marcas sonoras.
dispositivo espacial (posicional) que nos
para
os
sons
permite ver certas coisas (GOMES, 2013,
Ponto
de
audição,
composição
e
p. 19).
exposição _________________________
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77:
Gostaríamos de propor aqui uma
análise. Em segundo lugar, a consideração
noção análoga a de ponto de vista: o ponto
da relação entre “onde estamos” e “o que
de audição. O argumento fundamental é que
ouvimos” é importante também para
aquilo que ouvimos é, assim como aquilo
compreendermos como a posição e as
que vemos, resultado também de um jogo
trajetórias desempenhadas pelas pessoas
de posições, composto por quem ouve e o
também são moduladas pelo que elas
que é ouvido.
ouvem.
Buscamos, diariamente, de forma
A composição, por sua vez, seria um
intuitiva ou deliberada, nos posicionar de
conjunto estruturado de formas, cores e
forma a ouvir ou não ouvir determinados
coisas. Gomes (2013) a define como sendo
tipos de fontes sonoras. Ao assumirmos
o resultado de uma combinação que produz
uma posição, não estamos construindo
algo novo, formado pela junção estruturada
apenas um campo de observação, mas
de
também um campo de audição. Dessa
perspectiva, a paisagem pode ser entendida,
forma, tornamos outras parcelas desse
também, como uma composição. Formas de
campo periféricas e emudecemos outra
relevo, diferentes tipos de cobertura
imensa parcela. Caminhando da entrada
vegetal, ocupação das terras, entre muitos
para o interior de uma praça, por exemplo,
outros elementos, se associam de maneira
podemos passar, em poucos metros, de um
original e configuram uma paisagem. E,
ambiente marcado pelo som cacofônico de
argumenta
ambulantes, transeuntes e automóveis para
fundamental da paisagem, entendida como
um outro onde predominam os cantos dos
uma composição, é o jogo de posições. A
passarinhos e o farfalhar das folhas das
forma de dispersão desses dados que,
árvores.
integrados, dão origem a um novo
diversos
elementos.
Gomes,
um
Sob
essa
aspecto
A noção de ponto de audição é
elemento corresponde à sua espacialidade.
importante na nossa discussão por dois
Essa espacialidade, ou esse “padrão de
motivos principais. Primeiramente, pois,
dispersão”, é a marca de uma composição.
nos trabalhos de campo, é necessária a
Há uma ordem espacial que é a chave da
escolha de pontos estratégicos para a
composição (GOMES, 2013, p. 21-22).
análise da paisagem sonora local. Ou seja, o
O mesmo termo, composição, pode se
geógrafo enfrenta a tarefa de selecionar
referir também a um conjunto estruturado
pontos de audição que o permita a escuta e o
de sons e silêncios que, combinados,
registro dos sons importantes para a sua
produzem algo novo. Isso parece óbvio
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78:
música,
tipos de som são evitados – por serem
resultado do trabalho de um compositor.
muito incômodos, por exemplo – outros
Mas podemos falar, também, do som
costumam
ambiente, da paisagem sonora, como uma
valorizados.
quando
pensamos
composição,
como
em
o
uma
resultado
da
A
ganhar
exposição
identificação
e
e
são
análise
das
combinação de “elementos que se associam
complexas
de maneira original”. E a forma como
significações que estabelecem o que deve
percebemos essa composição também é, por
ou não ser visto e, o que mais nos interessa
sua vez, modulada por um jogo de posições
aqui, ouvido em um determinado lugar,
entre o ouvinte e as fontes sonoras. A partir
pode nos auxiliar na compreensão mais
de parâmetros como timbre, volume e
aprofundada da dimensão sonora com que
altura, somos capazes não só identificar as
nos deparamos em um trabalho de campo.
escalas
de
valores
e
fontes sonoras que ouvimos, mas também
as suas posições em relação à nossa. A
Caminhadas de escuta e observação ___
consideração de uma paisagem sonora como
uma composição, ou seja, como o resultado
As caminhadas sonoras (do inglês
ou,
como
preferimos,
de um jogo de posições entre quem ouve e
soundwalks)
quem é ouvido, é fundamental para análise
caminhadas de escuta e observação2 são uma
da relação entre som e espacialidade na
prática desenvolvida no âmbito do World
pesquisa geográfica.
Soundscape Project (WSP), grupo de
A última noção apresentada por
pesquisa formado por Murray Schafer e
Gomes é a de exposição, a qual também é
colegas da Simon Fraser Universisty, no
definida pela situação espacial e diz respeito
final da década de 1960, com enfoque na
a uma “posição de exterioridade”. Segundo
ecologia acústica.
o autor, há uma delimitação que estabelece
Hidelgard
Westerkamp
(2001)
o que deve ser visto e o que não deve, e isso
definiu a caminhada sonora como sendo
é
classificação
uma excursão cujo propósito principal seja
relacionada ao espaço, é uma questão de
escutar o ambiente. Na proposta original
posição. O que é exposto ganha visibilidade
apresentada pela autora, perguntas como
e tem compromisso fundamental com a
“quais sons eu ouço?” e “quantas fontes
ideia de que deve ser visto, olhado,
sonoras
observado, apreciado e, complementamos
orientariam a nossa escuta durante a
aqui, ouvido. Assim como determinados
caminhada. Ou seja, a atividade surgiu
o
resultado
de uma
diferentes
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eu
identifico?”
79:
associada a uma função didática, com o
escolhida em uma área urbana, ela mesmo,
propósito de educar a nossa escuta e
utilizando um par de microfones binaurais3,
permitir uma percepção mais consciente do
registrou os sons encontrados ao longo do
ambiente sonoro ao nosso redor ou, nas
percurso. As faixas de áudio resultantes das
palavras
(2001),
gravações foram transformadas em duas
“redescobrir e reativar a nossa capacidade
imagens bidimensionais, uma para o ouvido
de escuta”.
esquerdo e outra para o direito, que
de
Westerkamp
Apesar de aparecer, inicialmente,
indicavam as variações de parâmetros
como prática pedagógica, esse método vem
como frequência e intensidade do som
sendo
registrado ao longo do percurso que a
adaptado
e
utilizado
por
pesquisadores com diferentes enfoques
autora realizou na cidade de Barcelona.
investigativos.
Os exemplos demonstram que as
Na Geografia, temos exemplos
caminhadas sonoras podem, além de servir a
variados da utilização desse método. Butler
diferentes objetivos de pesquisa, assumir
(2006, 2007) elaborou passeios sonoros
diferentes formatos no trabalho de campo.
com gravações contendo a história oral de
Primeiramente, trata-se de um
duas rotas ao longo do rio Tâmisa, em
método que pode ser aplicado diretamente
Londres, o que demonstra o potencial que
pelo pesquisador, que, em campo realiza
esta prática possui na discussão sobre
suas
história urbana e memória local.
registrando em áudio as composições
trajetórias
escutando
e/ou
Já Adams et al. (2006) conduziram
sonoras encontradas na área de estudo.
caminhadas sonoras com 34 pessoas na
Pode, também, ser realizado em grupo
cidade de Londres, durante o verão e o
para,
inverno. Na atividade, os participantes
convergências e divergências na percepção
escolheram
uma
uma
das pessoas sobre uma determinada
caminhada
de
eram
paisagem sonora.
entrevistados
rota
dez
a
e,
após
minutos,
respeito
das
suas
experiências.
por
exemplo,
identificar
as
Em segundo lugar, as caminhadas
sonoras podem ser realizadas com o
Outro exemplo é o trabalho de
objetivo a estimular a escuta in loco da
Catherine Sémidor (2006). A autora utiliza
paisagem sonora. Nesse caso, é importante
o método de uma forma diferente dos
que o pesquisador possua algum tipo de
estudos apresentados: ao invés de conduzir
ficha de observação e uma clareza dos seus
participantes ao longo de uma rota
objetivos em campo, de modo a orientar a
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80:
sua escuta e filtrar o que interessa ou não à
coleta dos dados necessários em campo.
sua investigação. Tais caminhadas podem
Tais
também servir para o registro em áudio dos
incluídos nas rotas que traçamos em nossas
sons escutados em campo, para posterior
caminhadas, servindo como pontos de
análise. Em ambos os casos, a utilização de
parada onde realizamos uma descrição mais
cadernetas
detalhada da paisagem sonora com que nos
de
campo
e
máquinas
fotográficas podem auxiliar na posterior
reconstrução dos cenários nos quais
aqueles sons foram emitidos.
pontos
podem,
inclusive,
estar
deparamos, por exemplo.
Por
último,
parece
oportuno
apresentar algumas orientações de ordem
Um terceiro aspecto a ser levado em
técnica no que diz à adoção de métodos
consideração é a trajetória que realizamos
fonográficos. Michael Gallagher, geógrafo
nas nossas caminhadas em um trabalho de
e um dos maiores especialistas no tema,
campo. Definir essa trajetória significa
reúne, em seu site pessoal, uma espécie de
fazer uma seleção do que vai ser ouvido e
“guia para principiantes” destinado aos
registrado (ou o que vai estar em exposição,
pesquisadores entusiasmados em realizar
como colocamos antes) e o que vai ser
gravações em seus trabalhos de campo4.
ignorado
pelos
nossos
ouvidos
e
Muitas
das
recomendações
gravadores. Assim como a definição de um
apresentadas por Gallagher giram em
roteiro define também o que se vê e o que
torno do manuseio e configurações dos
pode se descobrir sobre um lugar, o
aparelhos de gravação, tais como: sempre
desenho das nossas
são
gravar em modo estéreo e em alta
fundamentais na determinação dos dados
qualidade; utilizar fones de ouvido para
que
modo,
monitorar a gravação enquanto ela é
dependendo dos nossos objetivos em um
realizada; e nunca ativar os controles
trabalho de campo, podemos considerar a
automáticos de volume presentes em
possibilidade de não definir uma trajetória
alguns aparelhos.
vamos
coletar.
caminhadas
Desse
previamente, deixando que os sons ouvidos
Outras recomendações estão mais
in loco orientem as direções que as nossas
relacionadas à forma com o campo é
caminhadas vão tomar.
concebido e planejado. Destacamos, abaixo,
Nesse mesmo sentido, é importante
considerar as vantagens de se escolher
aquelas
que
parecem
pertinentes
à
discussão em curso neste artigo.
previamente um conjunto de pontos de
1) Pense por que você deseja fazer
audição que podem também nos auxiliar na
gravações de campo. Ter alguma noção,
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81:
ainda que vago, do que você deseja fazer
quando a dispersão espacial constituir a
ajudará nas decisões sobre tecnologia,
questão central do nosso problema.
técnica, ética etc.
Por consequência, é a espacialidade
2) Comece com um gravador de
o principal aspecto que vai diferenciar o
pequeno, acessível e fácil de
trabalho de campo dos geógrafos frente aos
transportar. É mais fácil adquirir o hábito
outros. Vamos a campo para responder
de gravar se o seu gravador for pequeno o
questões a respeito da ordem espacial dos
suficiente
de
fenômenos que estudamos. Seja através da
preferência no bolso. Se o orçamento
coleta de amostras de solo ou de entrevistas
disponível for pequeno, considere utilizar
e da elaboração de croquis, visitamos
um equipamento de segunda mão.
nossas áreas de estudo para obter dados
áudio
para
carregar
você,
3) Pratique. Faça suas gravações,
que nos permitam elaborar modelos,
aprimore sua técnica, experimente. Mais
gráficos, mapas e outras representações do
importante do que possuir um bom
objeto de estudo nos quais a sua
equipamento, é encontrar formas criativas
espacialidade
e engenhosas de se registrar com qualidade
fundamental para a sua compreensão.
o que se deseja.
Em
figure
resumo,
um
aspecto
retomando
os
4) Escute. Esqueça a gravação por
apontamentos de Driver (2000), vamos a
um tempo, encontre um espaço em que
campo para realizar um conjunto de
esteja interessado e ouça. A gravação em
práticas que nos permitam compreender,
campo é, sob muitos aspectos, uma arte de
analisar
atenção
estudado,
e
paciência,
semelhante
à
observação de pássaros. Depois de ouvir
representar
sempre
a
o
partir
fenômeno
de
uma
perspectiva espacial.
Vamos a campo, também, para “ver”
algo interessante, pense na melhor forma
de gravá-lo.
e
o que estamos estudando. Seja de forma
exploratória e pouco estruturada, seja
Conclusões ________________________
utilizando fichas de observação, máquinas
fotográficas e outros equipamentos e
Como afirmamos anteriormente,
estratégias de visualização do mundo.
uma análise geográfica se delineia quando
“Ver”,
aqui,
é
a nossa questão central está preocupada a
abordagem empírica, mas é, também, uma
ordem espacial dos fenômenos estudados.
referência ao peso que damos aos métodos
uma
Ou seja, haverá sempre uma geografia
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metáfora
para
82:
visuais de produção e comunicação do
“necessário conceber a paisagem sonora como uma
conhecimento na Geografia.
vasta
Diante deste quadro, o presente
artigo
procurou
demonstrar
que
composição
musical
que
ressoa
incessantemente à nossa volta e perguntar de que
modo sua orquestração e sua forma podem ser
os
aperfeiçoadas para produzir riqueza e diversidade
geógrafos podem incorporar métodos
de efeitos que não sejam, todavia, destrutivos para a
fonográficos ao seu repertório, romper com
saúde ou o bem-estar humano (SCHAFER, 2011, p.
o “ocularcentrismo” vigorante na disciplina
366)”. Ou seja, sua motivação inicial era o
e, ainda assim, manter-se alinhados ao que
desenvolvimento de um campo de estudos que teria
uma finalidade prática, a saber, a melhoria da
se pode esperar de um trabalho de campo
qualidade do ambiente sonoro que moldamos
na Geografia.
cotidianamente.
Isso, pois, conceitos como o de
paisagem sonora e noções como o de ponto
de
audição,
composição
e
exposição
2
O termo soundwalks vem sendo para o portugês
como caminhadas sonoras (MALANSKI, 2017;
HOLANDA e BARTHOLO 2017) e cobre uma
gama muito diversificada de práticas pedagógicas,
revelam relações intrínsecas entre som e
científicas e artísticas (NAKAHODO, 2014). Em
espacialidade.
outra
O
arcabouço
teórico
ocasião
(FRIAS, 2018),
utilizamos
a
oferecido por Murray Schafer e os
expressão caminhadas de escuta e observação e
diferentes tipos de práticas, exemplificadas
acreditamos que, assim, estamos sendo, o mesmo,
mais preciso quanto aos propósitos do método.
aqui pelas
caminhadas de escuta
e
observação,
podem
a
permite registrar os sons na forma como os
compreender tais relações e a realizar
percebemos em um ambiente, preservando aspectos
novas descobertas sobre os nossos objetos
que nos permitem perceber a distância e o
de estudo.
posicionamento preciso das fontes sonoras, por
nos
auxiliar
3
A gravação de áudio binaural é uma técnica que
exemplo. Isso é possível quando gravamos o som
ambiente com um par de microfones instalados na
NOTAS ________________________________
posição dos nossos ouvidos. Assim, quando
utilizamos fones-de-ouvido para escutar a faixa de
*
Mestre em Geografia pelo PPGG-UFRJ,
doutorando do PPGG-UFRJ, membro do Grupo de
Pesquisa
Território
e
Cidadania.
natocoimbra@gmail.com
1
era
a
fundação
auditiva muito semelhante àquela do ambiente
original.
4
O objetivo inicial de Schafer ao iniciar seus estudos
acústicos,
áudio gerada na gravação, temos uma experiência
de
uma
nova
interdisciplina com o objetivo de “descobrir
princípios pelos quais a qualidade estética do
Disponível
em
http://michaelgallagher.co.uk/how-to/startingout-with-field-recording.
16/01/20208
Articulação
Transgêneros.
ambiente acústico, ou paisagem sonora, pode ser
melhorado”. Para isso, ressaltava o autor, seria
ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 45, P.61-86, JAN./JUN. DE 2019
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ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 45, P.61-86, JAN./JUN. DE 2019
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/
85:
FIELDWORK IN GEOGRAPHY: FUNDAMENTAL ASPECTS AND AN INVITATION TO LISTENING
ABSTRACT: THIS ARTICLE ATTENDS A DUAL PURPOSE. FIRST IS TO DISCUSS THE SPECIFICITIES OF FIELDWORK IN
GEOGRAPHY. TO THIS END, A HISTORICAL OVERVIEW AND A BIBLIOGRAPHIC REVIEW ON THE ROLE OF FIELDWORK IN
THE DISCIPLINE ARE PRESENTED, SEEKING TO DEFINE WHAT ARE ITS FUNDAMENTAL CHARACTERISTICS. THE SECOND
OBJECTIVE IS TO PRESENT ANALYSIS TOOLS, CONCEPTS AND RESEARCH PRACTICES THAT ALLOW GEOGRAPHERS TO CARRY
OUT FIELDWORK FOCUSED ON THE STUDY OF THE WORLD'S SOUNDS. IN THIS DIRECTION, WE DISCUSS THE CENTRAL
ROLE THAT THE VISION HAS IN THE PRODUCTION AND COMMUNICATION OF GEOGRAPHICAL KNOWLEDGE, IN ORDER TO
DEMONSTRATE, THEN, THE POSSIBILITIES THAT OPEN UP WHEN WE ALSO CONSIDER OUR LISTENING. FINALLY, WE
PRESENT A SELECTED SET OF NOTIONS, CONCEPTS AND FIELD PRACTICES THAT CAN ASSIST IN PLANNING AN EMPIRICAL
INVESTIGATION DEDICATED TO SOUND AND SPATIALITY.
KEYWORDS: FIELDWORK; SOUNDSCAPE; PHONOGRAPHIC METHODS; SOUNDWALK.
EL TRABAJO DE CAMPO EN GEOGRAFÍA: CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTALES Y UNA
INVITACIÓN A LA ESCUCHA
RESUMEN: ESTE ARTÍCULO TIENE UN DOBLE PROPÓSITO. EL PRIMERO ES DISCUTIR LOS DETALLES DEL TRABAJO DE
CAMPO EN GEOGRAFÍA. CON ESTE FIN, SE PRESENTA UN RESUMEN HISTÓRICO Y UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA SOBRE
EL PAPEL DEL TRABAJO DE CAMPO EN LA DISCIPLINA, BUSCANDO DEFINIR CUÁLES SON SUS CARACTERÍSTICAS
FUNDAMENTALES. EL SEGUNDO OBJETIVO ES PRESENTAR HERRAMIENTAS DE ANÁLISIS, NOCIONES Y PRÁCTICAS DE
INVESTIGACIÓN QUE PERMITAN A LOS GEÓGRAFOS LLEVAR A CABO UN TRABAJO DE CAMPO CENTRADO EN EL ESTUDIO
DE LOS SONIDOS DEL MUNDO. PARA ESTO, DISCUTIMOS EL PAPEL CENTRAL QUE TIENE LA VISIÓN EN LA PRODUCCIÓN
Y COMUNICACIÓN DEL CONOCIMIENTO GEOGRÁFICO, PARA DEMOSTRAR, A CONTINUACIÓN, LAS POSIBILIDADES QUE SE
ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 45, P.61-86, JAN./JUN. DE 2019
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/
86:
ABREN CUANDO TAMBIÉN CONSIDERAMOS NUESTRA ESCUCHA. FINALMENTE, SE PRESENTA UN CONJUNTO SELECCIONADO
DE NOCIONES, CONCEPTOS Y PRÁCTICAS DE CAMPO QUE PUEDEN AYUDAR A PLANIFICAR UNA INVESTIGACIÓN EMPÍRICA
DEDICADA AL SONIDO Y LA ESPACIALIDAD.
PALABRAS-CLAVE: TRABAJO DE CAMPO; PAISAJE SONORO; MÉTODOS FONOGRÁFICOS; PASEO SONORO.
ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 45, P.61-86, JAN./JUN. DE 2019
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/