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Caracol, São Paulo, N. 14, jul./dez.2017
VÁRIAS PERSPECTIVAS SOBRE O ENSINO E A
APRENDIZAGEM DA TRADUÇÃO NO PAR LINGUÍSTICO
PORTUGUÊS-ESPANHOL (E OUTRAS VÁRIAS)
O dossiê do número 14 da Revista Caracol é dedicado ao ensino e
à aprendizagem da tradução no par linguístico português-espanhol
(PT<>ES).
Ao propô-lo, os organizadores tencionávamos que pudesse traçar um
panorama do que estão pesquisando e praticando na docência professores
que se dedicam à formação de tradutores nessa combinação linguística,
principalmente nas Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil.
Esperávamos também receber contribuições de fora do país, ou mesmo
de outros espaços e modos em que a formação de tradutores acontece,
para além da universidade. Por fim, tínhamos no horizonte que o dossiê
favorecesse uma rede de comunicação entre docentes-pesquisadores que
refletem sobre suas práticas no ensino da tradução entre o português e o
espanhol, em diferentes lugares.
Uma vez concluído o número 14, vemos aquele projeto inicial realizado
a contento. O presente dossiê reúne pesquisadores e professores de
tradução das seguintes IES do Brasil: Universidade de Brasília (UnB),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” de São José do Rio Preto (Unesp-Ibilce),
Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Ouro
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Preto (UFOP). De fora do país, pudemos contar com contribuições da
Universidade de Granada (UGR), Espanha, e da Universidade do Minho
(UMinho), Portugal.
Ao longo dos sete artigos do dossiê, a aproximação ao ensino e à
aprendizagem da tradução PT<>ES recebe dos autores olhares variados:
o leitor terá à mão desde uma proposta de unidade didática impulsionada
por resultados de estudos empírico-experimentais de corte cognitivo até
aspectos pragmáticos com relevância para a formação de tradutores no
par PT<>ES, evidenciados a partir de um estudo de corpus de tradução
literária. Os autores mobilizam instrumentais e abordagens diversificados.
Os gêneros textuais envolvidos nos estudos incluem receitas, e-mails,
textos jornalísticos, literários e audiovisuais. São focalizados diferentes
aspectos da formação de tradutores: desenvolvimento da leitura específica
para tradução, ensino de revisão, tratamento de fraseologia e de referentes
culturais, atenção a interferências sintáticas e pragmáticas na tradução
entre essas línguas próximas.
O primeiro artigo do dossiê, “Abordagem processual e ensino de
tradução: uma proposta de unidade didática para o par espanhol-português
baseada em rastreamento ocular e registro de teclado de mouse”, é de
autoria de Gleiton Malta, professor de tradução português-espanhol no
bacharelado em Tradução da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em
Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O autor apresenta em detalhe a proposta de uma unidade didática (UD)
pilotada no bacharelado em Tradução Espanhol da UnB, em anos iniciais,
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junto a 20 estudantes com nível A1/A2 do Quadro Comum Europeu de
língua espanhola. A UD se originou de pesquisas sobre aspectos cognitivos
do processo de tradução, organizando-se principalmente sobre as fases da
tradução definidas por Jakobsen (2002) a partir do registro de movimentos
de teclado e mouse em tempo real, que é fornecido pelo programa Translog.
Jakobsen distinguiu três fases claramente delimitáveis no processo
tradutório: orientação, redação e revisão. Estudos descritivos de processo
indicaram que a fase de orientação e a fase revisão são negligenciadas por
aprendizes de tradução, levando a inferir que “essas fases precisam ser
trabalhadas na formação do tradutor”, diz Malta. Em pesquisas próprias,
o autor havia notado que, mesmo em casos de tempo de revisão mais
prolongado por parte de aprendizes, os produtos finais apresentavam
“problemas de digitação, ortografia e interpretação, dentre outros, que
deveriam, a princípio, ter sido sanados” na fase de revisão. Assim, a UD se
propõe como uma intervenção didática que focaliza as fases de orientação
e de revisão, organizando-se em etapas representadas pelas três fases do
processo de tradução, com inspiração no trabalho gradual que é proposto
pelo enfoque por tarefas. Além disso, a intervenção didática proposta no
artigo destaca o papel da leitura nas fases, tendo em vista “a leitura para
tradução como algo específico e especializado, segundo Shreve et al. (1993),
um tipo especial de leitura, incluindo suas fases de orientação, redação e
revisão (Jakobsen, 2002)”. Estudos baseados em dados de rastreamento
ocular, explica o autor, sinalizaram a diferença entre o leitor comum e o
leitor-tradutor, com base nas diferentes fixações e movimentações do olhar
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por sujeitos que leem um texto com finalidades diversas da de traduzilo, evidenciando que a leitura para a tradução exige mais das estruturas
cognitivas.
As etapas da UD foram previstas para desenvolvimento em quatro aulas
de 90 minutos. Nelas, alternam-se momentos de trabalho autônomo e
socializado, com o intuito de desenvolver tanto a metarreflexão quanto
competências interpessoais; trabalham-se parâmetros para leitura analítica
sistemática, como identificação da tipologia textual, segmentação em
unidades de tradução (UTs) de acordo com sua funcionalidade; correlação
das UTs com as noções de contexto de situação e contexto de cultura da
linguística sistêmico-funcional de Halliday e Mathiessen (2014); diferentes
registros (formal e informal); estimula-se a discussão objetivando a
capacidade de justificar as escolhas tradutórias; procura-se desenvolver um
alerta para a complexidade envolvida num processo de tradução. Por fim,
são sugeridas formas de avaliação da unidade.
Desse modo, a UD trata de amalgamar, numa aplicação pontual, pesquisas
recentes no âmbito do desenvolvimento da competência tradutória, dos
estudos processuais e da didática da tradução. O Translog, por exemplo, é
introduzido na proposta de UD inclusive como instrumento didático em
sala de aula. Assim, na linha da proposta apresentada por Anthony Pym
(2009) para o uso de estudos processuais em aulas de prática de tradução,
o artigo de Malta sugere uma forma concreta de estabelecer a ponte entre
os estudos descritivos orientados ao processamento cognitivo da tradução
e o ramo aplicado da formação de tradutores, numa relação que ainda
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permanece mais anunciada (dentro dos estudos processuais), do que
efetivamente realizada (no ramo aplicado).
No segundo artigo, Cleci Bevilacqua oferece um panorama da
disciplina de Revisão de Textos Traduzidos Espanhol/Português, no contexto
do bacharelado em Tradução da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, onde atua como docente e pesquisadora. Além do relato das
atividades de revisão nessa disciplina da grade curricular da UFRGS, a
autora apresenta os princípios e parâmetros que norteiam tais atividades.
Seu artigo “Revisão de Textos Traduzidos: uma experiência na formação
de tradutores de português-espanhol” representa uma contribuição para o
tratamento de um aspecto que vem sendo apontado como insuficientemente
atendido na formação de tradutores em geral: o ensino da revisão. Ainda
a respeito da relevância desse artigo, vale destacar que a revisão eficaz
tem-se revelado como um dos principais diferenciais entre profissionais
e novatos em tradução, em diferentes pesquisas do ramo cognitivo dos
Estudos da Tradução. Com o foco na formação e atuação de profissionais
do texto em diferentes áreas, a autora defende a inclusão de disciplinas
de revisão destinadas à preparação de tradutores, considerando o possível
desenvolvimento de habilidades e competências, especificamente na revisão
de textos traduzidos. Bevilacqua destaca as diferenças na revisão de textos
traduzidos, se contrastada à de textos produzidos em língua materna.
Após uma breve explanação acerca do novo projeto pedagógico do Curso
de Bacharelado em Letras - Tradução Português-Espanhol da UFRGS, a
pesquisadora trata de características do perfil de egressos desse curso, isto é,
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do profisssional a ser formado, no sentido de não apenas se configurar como
um tradutor, mas como um verdadeiro profissional do texto também. Para
tanto, são apresentadas no artigo, para além das competências de tradução
em ambas as direções: a produção e revisão de textos em língua materna
e estrangeira; o gerenciamento e elaboração de projetos terminográficos; a
prestação de assessoria linguística; o gerenciamento de projetos de tradução
e de terminologia; e a localização de softwares, entre outras atividades.
Outro aspecto importante enfatizado por Bevilacqua é a identificação e
estabelecimento das fronteiras entre revisão e retradução. São apresentados
no texto princípios e parâmetros aplicados à revisão de textos traduzidos,
que funcionariam metodologicamente como procedimentos, no processo
da revisão textual. Por último, a autora exemplifica a prática de revisão de
textos de diferentes gêneros, enumerando as etapas seguidas, nos diferentes
textos revisados na disciplina.
Os autores do terceiro artigo, “Aplicaciones a la enseñanza de la
traducción del Mínimo paremiológico del portugués”, são a professora
Ana María Díaz Ferreiro e o professor José Antonio Sabio Pinilla (da
Universidade de Granada), dois académicos de referência na (sub)área da
tradução português-espanhol no Estado espanhol.
O conceito de mínimo paremiológico que dá nome ao artigo com que
eles contribuíram para o dossiê diz respeito às unidades fraseológicas (ES
paremias; PT adágios, ditados, provérbios) mais conhecidas e utilizadas
por uma população dada, quer num determinado espaço geográfico, quer
numa comunidade linguística mais alargada. A utilidade na Didática de
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segundas línguas deste tipo de informação – uma forma de conhecimento
que os utentes espontâneos interiorizaram “automaticamente” no processo
de socialização linguística – resulta evidente, já que a sistematização dele
contribui para uma melhor produção de discursos pragmaticamente
aceitáveis pelos aprendizes.
Porém, a utilidade do mínimo paremiológico vai muito além do campo
da Didática de L2 (da Applied Linguistics no sentido mais estrito que
essa etiqueta recebia na tradição anglo-saxônica). Assim, neste artigo
os autores debruçam-se sobre uma outra aplicação óbvia deste tipo de
análise na abordagem dos problemas recorrentes da tradução de qualquer
par de línguas: a procura de “correspondências” no nível fraseológico.
No caso das línguas especialmente próximas – como é, com certeza, o
caso de português e espanhol – este tipo de dificuldades não raro envolve
autênticas “armadilhas” práticas que os estudantes devem aprender a
(re)conhecer logo no início da sua formação. Para isso, Díaz Ferreiro e
Sabio Pinilla assumem explicitamente as fases do processo de tradução de
unidades fraseológicas sugeridas por Gloria Corpas Pastor (2003), bem
como o modelo composto de competência tradutória do projeto European
Master’s in Translation (EMT) da Direção Geral de Tradução da Comissão
Europeia (2009)1.
Os autores partem dos trabalhos em curso para elaborar um corpus base
para o mínimo paremiológico del portugués, que deverá ser publicado na série
1
Lembramos aos leitores que o EMT foi um intento de modelar um padrão comum para os
diferentes programas de mestrado em Tradução na União Europeia.
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“Mínimo Paremiológico” da Biblioteca fraseológica y paremiológica do Centro
Virtual Cervantes. O corpus inclui as variantes diatópicas correspondentes
ao português europeu, brasileiro e dos PALOP (Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa). No modelo de ficha com que eles trabalham aparecem
campos específicos para registrar as correspondências e sinônimos com a
língua espanhola. A aplicabilidade destas informações para a formação de
tradutores, que parece mais do que evidente, é ilustrada pelos autores no
artigo com propostas didáticas em que se utilizam como exemplo textos
originais e traduções de autores portugueses e brasileiros (como Jorge
Amado ou José Saramago), bem como tradutores de reconhecido prestígio
(como o saudoso professor Basilio Losada, Prêmio Nacional de Tradução
na Espanha). É, enfim, um artigo cheio de sugestões de que os formadores
de tradutores no par PT<>ES poderão tirar grande proveito, para além
de uma promissora apresentação de um projeto cujos resultados haverão
de ser extremamente úteis para estudantes e pesquisadores das diferentes
disciplinas linguísticas nessa mesma combinação.
No quarto artigo, “Interferência e naturalidade no par portuguêsespanhol: línguas próximas, contraste e ensino”, Bruna Macedo de Oliveira,
atualmente professora na Universidade Federal da Integração LatinoAmericana (Unila), apresenta e desenvolve resultados de seu mestrado,
realizado na Universidade de São Paulo. Na pesquisa combinaram-se o
instrumental da Linguística de Corpus – corpora comparáveis em português
e espanhol – com corpus de aprendizes de tradução obtido com o programa
Translog, que, como vimos, registra em tempo real movimentos de teclado
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e mouse para estudos empíricos de processo tradutório. Cruzam-se, assim,
dados de processo e produto, para discutir interferência e naturalidade
no desenvolvimento da competência tradutória no par PT<>ES e suas
implicações para o ensino-aprendizagem da tradução nessa combinação
linguística, a partir do exame do tratamento de construções subordinadas
temporais e finais na tradução do gênero textual receitas.
Partindo da consideração da possível existência de um tipo especial de
interferência nas traduções – da língua estrangeira sobre a língua materna,
que Presas (2000) atribuiu a um “efeito hipnótico” do texto-fonte –, Oliveira
trabalhou sobre a observação inicial de que as estruturas do espanhol
como língua estrangeira não só poderiam definir escolhas de estruturas
em português, como também inibir a escolha de outras estruturas tão
possíveis quanto naturais, e para desenvolvê-la entendeu a necessidade de
corroborar a frequência das construções, por meio da coleta e posterior
indagação de um corpus de receitas em língua portuguesa, utilizado como
corpus de comparação. Além da utilização desse corpus, a autora relata a
aplicação de duas tarefas de produção textual em língua portuguesa, uma
livre e outra dirigida, junto a um grupo de estudantes voluntários do Curso
de Letras em espanhol e português, da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da USP. Dentre as conclusões apontadas, Oliveira
destaca a importância do foco constrastivo no funcionamento de ambas as
línguas, como auxílio para os estudantes na aprendizagem, na consolidação
e no aperfeiçoamento de conhecimentos, tanto sobre a segunda língua
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como sobre a própria língua materna, dada a relevância em considerar a
proximidade e distância entre as línguas portuguesa e espanhola.
De Portugal, o dossiê recebeu sua quinta contribuição, de autoria da
professora da Universidade do Minho, María Dolores Lerma Sanchis.
Seu artigo, “Legendagem e transferência intercultural: investigação e
prática docente”, examina a tradução de referentes culturais num corpus
de legendas em português para filmes espanhóis. A noção de competência
cultural ou extralinguística recebe destaque neste esse estudo, que ressalta
seu peso no trabalho de tradução. Além disso, os referentes culturais são
observados na Tradução Audiovisual (TAV), uma modalidade que vem
consquistando espaço crescente tanto na pesquisa quanto nos currículos
de tradução, em consonância com a forte presença das tecnologias de
informação e comunicação no cotidiano da sociedade atual, como ressalta
a autora. Ainda no que se refere às tecnologias de informação, a autora
lembra, com relação ao par PT<>ES, que essas duas línguas estão entre as
cinco mais usadas na internet, como apontara Oscar Diaz Fouces (2012).
Para a pesquisa relatada no artigo, Lerma Sanchis valeu-se de um corpus
de legendas para o português de Portugal de sete filmes do cineasta espanhol
Pedro Almodóvar, que têm homogeneidade de gênero (entre o melodrama
e a comédia), propondo-se identificar as técnicas de tradução que foram as
preferidas para os elementos culturais (EC). Optou por valer-se de legendas
profissionais de DVD para os filmes, todos eles obras que estrearam em
salas de cinema potuguesas, e aplica a teoria das normas de Toury (1995),
focalizando particularmente as normas linguístico-textuais. Os EC são
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definidos no artigo como aqueles elementos linguisticamente opacos, cuja
interpretação não se deduz diretamente de seu significado de dicionário,
demandando, para compreensão, um conjunto de conhecimentos
compartilhados pelos membros de uma comunidade específica, que por
sua vez não coincide necessariamente com a totalidade da comunidade
que compartilha uma mesma língua. Os EC podem pertencer a diferentes
campos, e a autora identificou 18: nomes próprios, espaços públicos ou
edifícios sociais, produções ou formas artísticas, alimentação, âmbito
taurino, presença de outras línguas, músicas, instituições, educação,
festividades, história, meios de comunicação social, habitação, rituais
sociais, moda, elementos da natureza, marcas comerciais e âmbito político.
Numa tradução, podem causar dificuldades não apenas de compreensão,
como de transferência, “seja por não existirem no outro sistema de
língua-cultura, seja por adquirirem conotações diferentes no sistema-alvo”.
No que se refere às técnicas, Lerma Sanchis distingue seis categorias
correspondentes às soluções verificadas no corpus, “organizadas num
continuum que vai de acordo com a maior aproximação à cultura de
origem ou à de chegada”. Após a definição de cada técnica, a autora
examina exemplos de ocorrências no corpus, refletindo sobre as razões
de sua utilização em cada caso. Num total de 483 ocorrências de EC,
vinculadas aos 18 campos, os resultados de análise mostraram tendências
bastante uniformes, com dominância da técnica de repetição, revelando
com isso um pendor pela extrangeirização e pela aproximação do receptor
à cultura-fonte, com conservação do referente cultural. Como hipótese
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explicativa, evoca-se a presença da imagem como fator que favorece o
uso da técnica de repetição, assim como a presença simultânea da língua
original na legendagem: ambas contribuiriam para recuperar o papel do
EC, minimizando o risco de que o receptor perca informação.
Ao sugerir aplicações didáticas da pesquisa, a autora ressalta a
importância da chamada competência intercultural – ou extralinguística –
dentro das competências do tradutor profissional, discute o peso atribuído
à competência intercultural por diferentes atores no campo da tradução
(docentes, tradutores, empregadores), em documentos referentes ao ensino
de línguas estrangeiras e no campo dos Estudos da Tradução. Investigações
do tipo apresentado no artigo podem funcionar como apoio documental
para consulta de estudantes, diz a autora. Para um trabalho em sala de
aula, ela sugere uma dinâmica de trabalho colaborativo na legendação de
um fragmento de filme com alta densidade de EC, que se organizaria em
etapas, finalizadas pelo cotejo das propostas dos aprendizes com legendas
feitas por profissionais e até mesmo a apresentação em aula de dados
quantitativos resultantes de pesquisas como a do artigo, como forma de
enriquecer o aprendizado com estudos descritivos.
As professoras da Unesp de São José do Rio Preto Angélica Karim Garcia
Simão e Érika Nogueira de Andrade Stupiello são as autoras do sexto artigo,
“Repensando a (in)visibilidade do tradutor de webnotícias: propostas para
o contexto de formação acadêmica em tradução”. Convém lembrar, antes
de mais, que elas são coautoras de um volume recente, o Curso de Tradução
Jornalística. Inglês e espanhol (2017), portanto este trabalho se inscreve numa
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área de pesquisa pessoal mais ampla, em que as diversas manifestações da
comunicação social e a didática da tradução se encontram.
“Repensando a (in)visibilidade” parte de constatar um fato evidente: as
novas tecnologias fizeram com que os fluxos de comunicação circulem por
novos meios para chegar até utentes que possuem um perfil muito diferente
do tradicional (uns e outros, meios e utentes). Os processos de elaboração
das notícias envolvem agora processos de (re)escrita continuada, como
as autoras apontam, que são consequência de uma pressão constante dos
meios digitais, forçados a lidar com a urgência da transmissão imediata de
informações. Essa pressão também tem a ver, claro, com a necessidade de
atingir utentes de diferentes espaços culturais a partir de fontes que, não
raro, são estritamente monolíngues. O espaço profissional da mediação
linguística ganha aqui uma dimensão nova, em que o conceito tradicional
de fidelidade apenas faz sentido em termos de autêntica (re)apresentação, ou
então de reacondicionamento da notícia para novos públicos, como lembram
Simão e Stupiello, a partir da perspetiva sugerida por Bielsa e Bassnett
(2009). Portanto, esse seria o elemento fulcral que deve ser desenvolvido no
processo que tem de conduzir ao desenvolvimento da chamada competência
tradutória, nos termos das definições sugeridas pela professora Amparo
Hurtado e pelo grupo Pacte da Universidade Autônoma de Barcelona, em
diversos trabalhos nos últimos anos, e que já é mainstream no campo.
A partir desses elementos, bem como de uma aplicação da categoria
de estratégias de tradução (também a partir do modelo desenvolvido por
Hurtado, filtrada por Guerrero 2006), Simão e Stupiello lançam alguns
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alicerces para argumentar uma didática da tradução jornalística ES>PT.
Utilizam para isso diversos exemplos de fontes bem reconhecidas (a
Agencia Efe ou o jornal El País), que analisam assumindo a tipologia de
intervenções mais comuns na tradução de notícias de Bielsa e Bassnett, que
tem a ver essencialmente com mudanças, adição, eliminação ou resumo das
informações. Todas estas práticas irão ajudar a configurar o novo quadro que
terá de agir como pano de fundo para que o (novo) leitor consiga processar
adequadamente as informações que os textos jornalísticos contêm.
Com certeza, o caminho que este trabalho abre para o par ES<>PT poderá
ser transitado no futuro com muito proveito, mesmo com “temperos”
adicionais, como a análise crítica – portanto em termos ideológicos – dos
materiais textuais a partir das fontes. No caso do El País e da Agencia
Efe eles são muito evidentes, aliás. A metáfora dos gatekeepers, largamente
reconhecida nos estudos sobre a Comunicação e que já tem alguma
vitalidade nos Estudos de Tradução, poderia ser um interessante ponto
de partida. As sugestões didáticas que o artigo pode inspirar ultrapassam,
portanto, a simples dimensão textual-estrutural, no sentido mais comum.
O sétimo artigo do dossiê, “Las decisiones del traductor y la expresión
de foco en dos traducciones al español de un cuento brasileño”, é de autoria
de Paulo Antonio Pinheiro Correa, professor de Língua Espanhola na
Universidade Federal Fluminense (UFF), com doutorado pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pós-doutorado na Complutense de
Madri. O autor se vale de um estudo de caso de tradução literária para
realizar uma análise comparada da realização da função pragmatica
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“foco” em relação à ordem dos constituintes sintáticos na oração em duas
traduções do mesmo conto.
A ordem das palavras na oração foi tradicionalmente considerada
questão de estilo e, por isso, em boa medida, acabou sendo deixada de
lado na análise gramatical, é o que começa apontando o artigo. Com a
noção de função pragmática ou informativa, introduzida por Mathesius
(1929), precursor da Escola de Praga, e seu desenvolvimento subsequente
por outros autores, os estudos contemporâneos têm tornado claro que
a ordem dos constituintes é influenciada pela pragmática, apresentando
regularidades discursivas vinculadas a parâmetros como os de informação
dada vs. informação nova. Contemporaneamente, a relação que há entre
a ordem de palavras e questões informativas vem sendo descrita, também
para a língua espanhola, em relação ao conceito de “foco informativo”,
um termo inicialmente proposto por Halliday (1976). No quadro da
Gramática Funcional Holandesa, base teórica principal do artigo, Dik
(1997) entende “informação focal” como a informação relativamente
mais importante ou relevante numa determinada situação comunicativa,
aquela que é considerada pelo falante como essencial para ser integrada
na informação pragmática do ouvinte. Na língua espanhola, apresentar
uma informação como focal é determinante para sua posição após o verbo
na sintaxe, mas também há outros fatores que tornam a questão mais
complexa. A interface entre sintaxe, pragmática e semântica na expressão
de foco é observada, no artigo de Pinheiro Correa, num corpus composto
por duas traduções para o espanhol de um mesmo conto brasileiro. Assim,
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Caracol, São Paulo, N. 14, jul./dez. 2017
apresentação
o autor se vale de um estudo de caso de tradução literária para realizar uma
análise comparada da realização da função pragmática “foco” em relação à
ordem dos constituintes sintáticos na oração.
O corpus utilizado no estudo é composto de duas traduções para o espanhol
do conto “O balão fantasma”, do escritor brasileiro Rubem Fonseca, uma
publicada no México e a outra publicada no Chile, sendo que a chilena
se apresenta como uma edição “revisada e adaptada” da mexicana, para
publicação no Chile. As traduções do corpus foram alinhadas e etiquetadas
a partir do instrumental da Linguística de Corpus, e permitiram observar
discrepâncias, tanto entre as duas traduções para diferentes variedades
do espanhol americano, quanto em cotejo com o seu texto original em
português brasileiro. As discrepâncias entre as duas traduções tornam-se
ainda mais reveladoras na medida que representam decisões especialmente
refletidas do tradutor chileno sobre quais intervenções seriam necessárias
na tradução mexicana para adaptá-la para os leitores do Chile. A análise
vai mostrando, a partir das decisões divergentes por parte dos diferentes
tradutores, como a interação entre sintaxe e pragmática na a expressão
de foco é permeada por determinações complexas, para além da posição
pós-verbal da informação focal, envolvendo também as realizações diferentes
que a expressão de foco pode ter de acordo com variedades do espanhol ou
com recursos do texto literário, em que pode haver configurações próprias
do gênero destinadas a oferecer ao leitor “um conhecimento da consciência
do narrador”, conforme descrito por Soto e Castro (2007), para o espanhol
chileno. No cotejo com o conto em português brasileiro, a análise evidencia
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as diferenças no funcionamento da interface sintaxe-pragmática entre o
português e o espanhol.
As implicações e aplicações dos fenômenos observados no artigo para a
formação em tradução PT<>ES são assim explicitadas pelo autor: “podem
mostrar ao tradutor brasileiro em formação a enorme quantidade de
pressões discursivas envolvidas na tradução de funções pragmáticas”.
Para fechar o dossiê do número 14, convidamos José Luiz Vila Real
Gonçalves, da Universidade Federal de Outro Preto, a fazer uma resenha
crítica do livro Researching Translation Competence by PACTE Group,
organizado pela pesquisadora líder do grupo Pacte, Amparo Hurtado, e
que foi publicado em 2017 numa das principais coleções especializadas
em Estudos da Tradução, a Benjamins Translation Library. As pesquisas
empírico-experimentais sobre a competência tradutória que vêm sendo
realizadas há exatas duas décadas pelo Pacte, na Universidade Autônoma
de Barcelona, já se tornaram uma das principais referências no cenário
mundial. O autor da resenha tem se dedicado aos estudos empíricoexperimentais sobre a competência do tradutor e seu desenvolvimento, ao
longo dos últimos anos, muitas vezes em diálogo com o grupo Pacte. Assim,
pôde oferecer ao leitor do dossiê, mais do que uma resenha: um artigo
que examina a obra resenhada em debate com ela, tanto da perspectiva
de pesquisas próprias e do grupo em que trabalha, no Brasil, quanto
localizando as investigações do Pacte no contexto internacional dos estudos
tradutológicos de corte cognitivo, com os quais tem ampla familiaridade.
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Caracol, São Paulo, N. 14, jul./dez. 2017
apresentação
Para o número 14 da Caracol tivemos a satisfação de contar também
com cinco artigos e três resenhas na seção “vária”. As contribuições dessa
seção abrangem estudos tradutológicos, históricos, linguísticos, literários e
culturais que, por uma feliz coincidência, em muitos casos mantêm diálogo
entre si ou com os próprios artigos do dossiê.
A primeira contribuição faz uma transição entre o dossiê e a vária, posto
que também se insere no campo dos Estudos da Tradução: “Tradução
audiovisual: estratégias pragmáticas e conversacionais americanas e
europeias na legendagem das formas de tratamento nominais”. As
coautoras são professoras-pesquisadoras de três diferentes IES brasileiras:
Leticia Rebollo-Couto (UFRJ), Luisa Perissé Nunes da Silva (UERJ) e
Carolina Gomes da Silva (UFPB). No estudo, elas abordam as fórmulas
e formas nominais de tratamento na legendagem da animação Inisde Out
para duas variedades do português e duas variedades do espanhol. A análise
combina perspectivas pragmáticas, sociolinguísticas e conversacionais.
Aqui vale lembrar que Leticia Rebollo-Couto é organizadora de uma
coletânea de estudos sobre formas de tratamento em português e em
espanhol (Rebollo-Couto; Lopes, 2011). O artigo também discute o ideal
de “língua neutra” que se instala em estreita relação com produtos de
massa, em função de conveniências fundamentalmente mercadológicas, e
como as legendas de Inside Out desestabilizam a visão de que possa existir
tal variedade “neutra” em uma língua.
A questão da língua neutra em relação com o pan-hispanismo entra
em cena também no artigo seguinte, “O Espaço Disciplinar do Espanhol
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(EDE) no Brasil”, de autoria de Edilson da Silva Cruz, professor e diretor
de Escola da Rede Municipal de Educação de São Paulo, e Denise Trento
Rebello de Souza, professora da Faculdade de Educação da USP. Neste
artigo, o “Espaço Disciplinar do Espanhol” é definido pelos autores
como a esfera de produção de conhecimentos sobre a língua espanhola
em âmbito acadêmico e universitário. O EDE no Brasil é enfocado de
uma perspectiva histórica, tendo em vista o conceito de campo de Pierre
Bourdieu (1983). Percorre-se esse espaço disciplinar no Brasil desde sua
formação, considerando o lugar da língua espanhola em suas relações com
a universidade, a escola, a legislação educacional, e chegando até suas mais
recentes complexificações, por eventos-chave como o desenvolvimento
de linhas de pesquisa voltadas ao funcionamento linguístico, a presença
da política linguística pan-hispânica no Brasil, a aprovação da Lei
11.161/2005, a crise da universidade e a reforma do ensino.
O terceiro artigo da vária, “Contribuições da semântica argumentativa
para o delineamento da expressão da anterioridade em espanhol”, insere-se
nos estudos linguísticos e é de autoria de Leandro Silveira de Araújo,
professor na Universidade Federal de Uberlância (UFU), doutor pela Unesp
de Araraquara, com doutorado-sanduíche na Universidade Autônoma de
Madri. O artigo busca subsídios na semântica argumentativa para lançar luzes
sobre o funcionamento do pretérito perfecto simple e do perfecto compuesto
na língua espanhola. Valendo-se do conceito de Operador Argumentativo
(Ducrot, 1989), o autor desenvolve a hipótese de que a seleção de uma ou
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outra dessas formas de pretérito de indicativo do espanhol pode definir-se
pela direção argumentativa construída em um enunciado.
No artigo “Horacio Quiroga no Brasil: os ‘efeitos da língua’”, Wilson
Alves Bezerra, professor-pesquisador da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),
recupera e analisa cartas inéditas trocadas entre Quiroga e Monteiro
Lobato. Vemos como Monteiro Lobato foi o principal interlocutor literário
de Horácio Quiroga no país, além de ter sido quem introduziu a obra do
escritor uruguaio no Brasil. No exame da correspondência entre os dois
escritores, situada no contexto da época da Semana de Arte Moderna de
São Paulo, considera-se a tensão que havia entre a estética vanguardista
e a realista, no debate intelectual daquele momento histórico. Os efeitos
do uso do “portunhol” por Quiroga, em suas cartas a Lobato, servem de
indício para questionar a crítica literária que leu e valorizou a obra de
Quiroga a partir de um duvidoso enquadramento estrito desse escritor
uruguaio no ideário da estética realista.
A chave de ouro que encerra a vária é o estudo de corte cultural de
autoria de Alfredo Cordiviola, da Universidade Federal de Pernambuco
(UFEPE), sobre as “Formas da memória nos queros andinos”. O autor
faz uma interessante leitura das modificações, ao longo dos séculos, nas
formas decorativas dos queros – vasos cerimoniais fabricados desde épocas
pré-incaicas na região dos Andes –, elucidando diferentes modos como tais
formas foram sendo usadas para evocar os passados andinos.
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Das três resenhas da vária, está ao início também aquela relacionada
aos Estudos da Tradução, por seu diálogo mais direto com a temática
do dossiê: “A dublagem como modalidade de tradução em um mundo
globalizado”. Isabella Calafate de Barros e Júlia Chebie Puertas, ambas
mestrandas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentam
o livro Traducción y doblaje: palabras, voces e imágenes, de Rosa Agost,
obra publicada em 1999. Depois de quase duas décadas de sua primeira
publicação, o livro de Agost já não é encontrado para aquisição a não
ser em sebos, mas continua aparecendo como uma das principais e mais
completas referências para o estudo da dublagem. Como mostram as
autoras da resenha, além de proporcionar uma ótima introdução ao campo
mais geral da Tradução Audiovisual (TAV), o livro discute algumas de
suas peculiaridades na Espanha, em comparação com outros países, como
é o caso da preferência pela dublagem sobre a legendagem, em possível
correlação com a maior facilidade que a dublagem teria apresentado para
censura, na época da ditadura franquista.
Em “À moda de Cuba”, Wellington Augusto Silva, professor do Colégio
Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
resenha uma tradução para o português de um dos primeiros romances do
escritor cubano Leonardo Padura, Pasado perfecto (1991): a tradução que
foi lançada em novembro de 2016 pela editora Boitempo. Essa tradução,
Passado perfeito, foi realizada por Paulina Wacht e Ari Roitman. Na resenha,
Silva relembra a boa recepção no Brasil de O homem que amava os cachorros,
tradução de romance de Padura, também publicada pela Boitempo, que
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conquistou uma “popularidade surpreendente para uma obra de ficção de
600 páginas”. Na esteira dessa popularidade, a editora trouxe as traduções
dos quatro primeiros romances de Padura (1991-1998), a tetralogia
“Estações Havana”, uma coleção de boas histórias policiais protagonizadas
pelo detetive habanero Mario Conde, e da qual Passado perfeito faz parte. O
gênero policial, aponta Silva, “encontrou terras férteis em todo o continente
americano”, compondo “um conhecido veio latino-americano influenciado
por essa forma literária”, de que fizeram parte grandes escritores como Bioy
Casares, Ricardo Piglia, Roberto Bolaño e, entre os brasileiros, “um extenso
séquito formado pelo consagrado Rubem Fonseca”. A esse veio integra-se o
Passado perfeito de Padura, no cenário de Havana e à moda de Cuba.
Encerrando as resenhas da vária (e o número 14 da Caracol), Ivan
Martucci Forneron, pós-doutorando na Universidade de São Paulo
(USP), apresenta o livro de Julia Miranda, Frenética armonía. Vanguardias
poéticas latinoamericanas en la Guerra Civil Española, publicado pela casa
editorial argentina Beatriz Viterbo, em 2016. Há, na resenha, uma reflexão
sobre fissuras, lacunas, fios rotos e desencapados na história oficial em
torno da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da ditadura franquista
(1939-1975), uma história escrita como farsa e “mediada pelo terror e o
silêncio”. Para Forneron, o livro de Julia Miranda oferece mais uma peça
das muitas faltantes na recomposição do mosaico dessa história deformada
e silenciada, ao mostrar como poetas latino-americanos se inscrevem numa
vanguarda poética que produziu um imaginário social orientado pela
guerra. Nesse sentido, a vanguarda na poética latino-americana assumiu
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particularidades, na situação cultural da guerra da Espanha. O livro
resenhado focaliza a produção poética de seis escritores – Pablo Neruda
(Chile), Raúl González Tuñon (Argentina), Vicente Huidobro (Chile),
Cayetano Córdova Iturburu (Argentina), Juan L. Ortiz (Argentina) e
César Vallejo (Peru) – que “assumiram e viveram a guerra como própria,
o que os caracteriza como poetas de dupla nacionalidade”, ou imersos
em doble territorialidad, nas palavras de Julia Miranda. O título do livro
faz referencia ao “Himno a los soldados de la república” (1939) de César
Vallejo, que diz, nos versos 63-66 da 4a estrofe: “Proletario que mueres
de universo, ¡en qué frenética armonía | acabará tu grandeza, tu miseria,
tu vorágine impelente, | tu violencia metódica, tu caos teórico y práctico,
tu gana | dantesca, españolísima, de amar, aunque sea a traición, a tu
enemigo!” No livro, o estudo de poemas como o de Vallejo permite ler, na
palavra “vanguarda”, também um sentido militar de arte de avançar, uma
“vanguarda como (r)evolução”, que desenhou para a arte do século XX
novos imaginários de intervenção social direta.
Os organizadores da Caracol 14 agradecem por todas as submissões
enviadas, não apenas para o dossiê, mas também as que permitiram compor
a rica vária deste número. No dossiê, graças à boa resposta às chamadas e
à proposta temática, vemos reunidos pesquisadores dedicados atualmente
ao ensino da tradução entre o português e o espanhol e preocupados em
refletir sobre a prática de formação de tradutores PT<>ES, em diferentes
instituições de dentro e de fora do Brasil. Nossos sinceros agradecimentos
também aos que colaboraram com pareceres para as submissões do
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número e aos colegas da Área de Espanhol da Universidade de São Paulo,
que prestaram apoio na edição dos textos selecionados. Pelo suporte
fundamental, agradecemos especialmente à editora-chefe da Caracol,
Margareth Santos, e ao trabalho de Fernanda do Nascimento Simões
Lopes e Giuliana Matiuzzi Seerig na monitoria da revista.
Ariel Novodvorski (Universidade Federal de Uberlândia)
Heloísa Pezza Cintrão (Universidade de São Paulo)
Oscar Diaz Fouces (Universidade de Vigo)
Organizadores
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