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Rastros e imagens sobreviventes na era de Aquarius: corrosão e gentrificação na metrópole de Kléber Mendonça Filho1 Renato Cordeiro Gomes e Tatiana Oliveira Siciliano Resumo Os filmes de Kléber Mendonça Filho, especialmente Aquarius (2016), propiciam uma reflexão sobre as representações da metrópole e suas implicações políticas e éticas. Discute-se o direito à cidade (Lefebvre) a partir do imperativo do progresso – o binômio demolição/construção, o apagamento da memória, combinado aos processos de gentrificação. A resistência a tais processos marca a trama, centrando-se na protagonista, à qual podemos atrelar as categorias “rastro” (Benjamin) e “sobrevivência da Imagem” (Didi-Huberman). A cidade contemporânea é alegorizada nas imagens do câncer e dos cupins, A tarefa do historiador das imagens, por mais modesta que seja – pois as imagens são vestígios de histórias, traços, sintomas –, não se assemelha apenas a uma arqueologia, uma vez que escava o que a representação midiática tende a recobrir, mas também a uma tomada de posição crítica, visando a fazer despertar uma memória na atualidade ou uma atualidade na história. É, com efeito, o que poderíamos chamar o caráter intempestivo de toda análise consequente das imagens. DIDI-HUBERMAN. La condition des images, 2011, p. 101 que remetem à corrosão: a doença do corpo humano e urbano, cujo lócus é a metrópole. Palavras-Chave Imagens duplas: Cinema de Kleber Mendonça Filho. Representação da demolição X construção cidade contemporânea. Fenômeno de gentrificação. “O filme é meu e quem manda nele sou eu”2. Eis a resposta de Kléber Mendonça Filho, por Facebook, quando questionado sobre a ocultação das “Torres Gêmeas” – como são chamados os edifícios Pier Maurício de Nassau e Pier Duarte Coelho – da sequência de fotos que apresenta Renato Cordeiro Gomes | renatocorgomes@gmail.com Doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, Brasil. Professor Associado da PUC-Rio. Recife logo no início de seu filme Aquarius (2016). A alusão às torres estadunidenses, derrubadas Tatiana Oliveira Siciliano | tatianasiciliano@puc-rio.br em 11 de setembro de 2001, não é gratuita. As Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil. Pós-doutora em Sociologia pela UFRJ e professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. imensas edificações recifenses, com 41 andares e 134 metros de altura, podem ser vistas de ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. DOI: https://doi.org/10.30962/ec.v21i1.1438 retorna, em diferença. Essas imagens (a do altas da capital. Tal empreendimento, situado no cartão-postal com os tais edifícios e o fotograma Recife Antigo, foi realizado pela Moura Dubeux exibido no filme sem eles) podem remeter à ideia e protagonizou uma longa batalha judicial, da demolição (denotação e metáfora), por sua vez, de 2005 a 2011, cuja sentença foi favorável conjugada à dialética destruição/construção que à construtora3. A polêmica foi causada pelo configura um traço forte da modernidade e seus desagrado de se ter na paisagem urbana arranha- paradoxos. Um deles centra-se em sua incessante céus tão próximos a um conjunto arquitetônico busca pelo novo, fundando uma ambivalente histórico, tombado pelo IPHAN, às margens de tradição de negação que aciona pares antinômicos um cartão-postal da cidade: o encontro do Rio como antigo/moderno, tradição/ruptura, Capibaribe com o Oceano Atlântico. continuidade/originalidade, atraso/progresso, etc.5. A construção dessas Torres Gêmeas recifenses A construção de arranha-céus na parte antiga do representou uma ruptura com uma antiga tradição Recife encena o sonho de uma cidade “imaginada histórica, em favor do progresso. Imagem dupla como futuro” – com a imagem ascensional que evidencia a marca de tal “ruptura”4 que reduplicada, mimetizando o World Trade Center6, logo se tornará vestígio de história, obsoleta, a arrogância do poder do mundo financeiro decadente, mas que pode ser recuperada enquanto globalizado. Essa mesma imagem é “destruída” intempestiva, uma memória sedimentada que no início de Aquarius quando o diretor a apaga 1 Outra versão deste trabalho foi apresentada no GT Cultura das Mídias do XXVI Encontro Anual da Compós, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo - SP, 06 a 09 de junho de 2017. 2 Cf. sites do JC online e da Folha de São Paulo. Disponíveis em: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/cinema/ noticia/2016/09/04/foto-postada-no-facebook-de-aquarius-sem-as-torres-gemeas-repercute-nas-redes-251602.php e http:// www1.folha.uol.com.br/poder/2016/12/1838023-torres-gemeas-de-recife-foram-alvo-de-protesto-no-filme-aquarius.shtml. Acessado em 15/01/2017. 3 Cf: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/12/1838023-torres-gemeas-de-recife-foram-alvo-de-protesto-no-filmeaquarius.shtml. Acessado em 15/01/2017. 4 Para Octavio Paz, o moderno não pressupõe uma continuidade do passado no tempo presente, mas a sua ruptura. “O que distingue a nossa modernidade da modernidade das outras épocas não é a celebração do novo e surpreendente, embora isso também conte, mas o fato de ser uma ruptura: crítica do passado imediato, interrupção de continuidade” (2013, p.17). 5 Para Compagnon (1996), o pós-moderno por se constituir em uma reação ao moderno, acaba reproduzindo a própria ruptura. Para outros pensadores, a pós-modernidade perdeu os poderes de negação requeridos pela modernidade (ver Paz, 2013; Vattimo, 1996 e Lyotard,1993). 6 Em Power inferno, Baudrillard (2003) reflete sobre o acontecimento maior mundial, que foi “o desabamento das torres”, “que eram o emblema [da] potência” americana (p.14), por isso “ao atacá-las, os terroristas atingiram o centro nevrálgico do sistema” (p.13). As duas torres, conforme o autor, significavam o protótipo do sistema globalizado e sua força estava na duplicação, “se houvesse apenas uma, o monopólio não estaria perfeitamente encarnado. Somente a duplicação do signo acaba realmente com o que ele designa” (p.13). Sobre essa questão ver também Gomes (2004). Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. diversos pontos da cidade, por serem as mais ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | digitalmente; apagar, aí, pode significar um gesto como se vê no filme homônimo do mexicano de resistência e ruptura, por fornecer outro Alejandro Iñárritu (2006). As cidades brasileiras – que no projeto um estado de coisas, considerando que, como republicano aspiravam a ser Paris, a capital expressa Didi-Huberman, “numa imagem, não se do século XIX – foram cedendo em favor da pergunta somente que história ela documenta e de imagem norte-americana7, incorporando ao qual história é contemporânea, mas também qual nosso imaginário urbano a representação do memória ela sedimenta, de qual reprimido ela é o skyline. Uma urbe deseja “imitar” Nova York para retorno” (2011b, 95). poder oferecer ao “espectador”, “aos ordinários da cidade”, aos consumidores do estilo de vida Por outro lado, esse jogo de aparição e urbano, a ficção e a ilusão totalizadora, de “um apagamento, espécie de esconde-esconde universo que se ergue no ar”. A matriz desse acionado pela tecla de delete do computador, faz “discurso utópico” – como denota o próprio a imagem evocar uma cidade que aspira ao céu e apelido – “torres gêmeas” – da Moura Dubeux se mostra sempre em construção, à semelhança era a visão do 110º andar do World Trade Center, de Tecla, cidade descrita a Kublai Khan por antes de 2001, como premonitoriamente explora Marco Polo (CALVINO, 2008). E mais: remete, Certeau (2008). Projetos urbanos concebidos ainda, à Babel bíblica, imagem que frequenta o como “espetáculos da modernidade”8, exibidos imaginário ocidental, no urbanismo, nas artes como mercadorias nos guias de viagem, city tours plásticas, na literatura, no audiovisual, nas e cartões postais9, comercializam a “experiência” redes sociais, transformando-se em imagem (mais precisamente a vivência, Erlebnis, na midiática, recorrente (GOMES, 2008). Parece nomenclatura de Benjamin) ao explorar a que o mundo tornou-se uma Babel globalizada, própria sensação do “choque”10 visual provocado 7 Sobre essa questão ver Siciliano, 2016. 8 Jaeho Kan (2009) utiliza a obra de Benjamin, principalmente As Passagens, para discutir a indústria do entretenimento (Lojas de Departamento, panoramas, cinema, Exposições Universais, etc.) associada à tecnologia que desponta no final do século XIX. 9 As torres aparecem como ponto turístico no TripAdvisor. a href=”https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLinkg304560-d2359530-i54374430-Recife_Antigo-Recife_State_of_Pernambuco.html#54374430”><img alt=”” src=”https:// media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/03/3d/b0/1e/recife-antigo.jpg”/></a><br/>. Acesso 15 jan 20177. 10 Bem Singer (2004) – a partir de Simmel, Kracauer e Benjamin – sublinha como a experiência moderna nas grandes cidades foi “concebida como um bombardeio de estímulos”, choques e sobressaltos “causado[s] [por] um aumento radical na estimulação nervosa e no risco corporal” (p.96). Uma modernidade que se forjou por “hiperestímulos” oferecidos pelos novos meios de comunicação de massa e novidades na encenação do “espetáculo” moderno. Lembre-se que “espetáculo” é a festa pública. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. apagamento digital é, de fato, um sintoma de ID 1438 projeto de cidade. O jogo demolição/construção/ www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | pelo contraste dos espigões modernos com as converte-se em pânico e medo generalizado dos construções antigas, análogas às fotomontagens “espectros perigosos”. Os pobres passam a ser de Paul Citroën, aluno da Bauhaus11. percebidos como potenciais criminosos, ameaças com seus adornos e objetos, representa o “espaço entretanto, lado a lado com o imperativo de fetichista” no qual se imaginam protegidos “demolir”, cuja consequência, dentre outras, das ameaças indiscerníveis da vida moderna é apagar memórias. O imaginário dos bairros (BENJAMIN, 2007; MATOS, 2006). Quando até “revitalizados” acaba por expulsar seus antigos o santuário-lar burguês percebe-se ameaçado, habitantes para outros locais, devido à elevação “as metrópoles tendem a estado-policial em do custo de vida, processo conhecido como que a força se privatiza como foi privatizado o gentrificação12. A verticalização favorece a patrimônio público (...)” (MATOS, 2006, p.264) e segregação e o isolamento dos habitantes, acabando os serviços de segurança privados surgem como por potencializar o medo e o fechamento dos novos uma opção mercadológica. moradores em muros protegidos por serviços de segurança e câmeras de última geração dos olhos e Embora Clara, a protagonista de Aquarius, ainda do contato com as “classes perigosas”. tenha a capacidade de resistência, a narrativa, que configura um processo de gentrificação, revela que Olgária Matos (2006 p. 264) adverte que a “nada mais escapa às leis de mercado; a reificação insegurança apresenta uma origem dupla: o medo se torna universal na passagem da economia de de um perigo concreto e um temor incondicional mercado para a sociedade de mercado, todas as inerente à condição humana. Contra uma chuva dimensões da vida são determinadas pelo fator torrencial, é possível abrigar-se em local protegido; econômico, o espaço público, a vida privada e já no caso de um perigo existencial, a incerteza a intimidade” (MATTOS, 2010, p.151). Assim, 11 Ver fotomontagem Metropolis(1923). Disponível em: https://www.moma.org/interactives/objectphoto/objects/83984.html. Acessado em 02/11/2017. 12 A socióloga britânica Ruth Glass foi a primeira a conceituar gentrificação, em 1964, a partir de pesquisa sobre os movimentos imobiliários e “melhorias materiais” ocorridos em algumas regiões centrais e por vezes, históricas londrinas, antes avaliadas como deterioradas. Tais movimentos provocam a elitização daquela localidade e substituição da população de origem por moradores mais abastados e capazes de arcar com o aumento do custo de vida. Cf. Bataller, 2012 e Harvey, 2013. Neil Smith rediscute o conceito a partir de uma perspectiva contemporânea, baseada no processo de reurbanização de Nova York. Para Smith, a “regeneração urbana” não pode ser mais compreendida, como na primeira fase estudada por Glass, na chave da “anomalia local”, mas entendida como parte das transformações econômicas, políticas e sociais urbanas, indissociáveis das atividades de consumo e de lazer. O desenvolvimento imobiliário, incluindo sua dimensão especulativa, tornou-se vetor fundamental à economia urbana, coadunando-se com os ventos neoliberais. Por outro lado, crescem os grupos que resistem ao fenômeno, ocasionando uma tensão (e repressão) entre as diversas instituições públicas e privadas contra esses protestos (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006). Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. O fascínio do projeto de “construir” caminha, ID 1438 ao patrimônio e à vida. O interior do lar burguês, serviço da fortaleza de civilização que invadiu, status quo do progresso faz com que todas as com marginalização e agressividade, os espaços coisas percam seu caráter intrínseco, enquanto urbanísticos do passado” (ARGULLOL, 1994, 58). a ambiguidade substitui a autenticidade” Simulacro da construção novaiorquina, as torres (BENJAMIN, apud MATTOS, 2010, p.151). da Moura Dubeux, apagadas no filme, encenam a cidade “selva” e “turbilhão – na qual “a barbárie Os arquitetos e engenheiros – no filme, acossa e ameaça transbordar a cada instante” personificados pelos funcionários da (ARGULLOL, 1994, p. 65). As duas construções construtora Bonfim, e na cidade de Recife pela altíssimas impõem-se aos pequenos edifícios, construtora Moura Dubeux13 – ao verticalizarem isolam as elites em torres de marfim climatizadas hiperbolicamente a cidade, acabam por produzir e de frente para o mar, destroem a tentativa uma “micrópolis”, “subcidade” “isolada” e de integrar e promover o “direito à cidade”14, “claustrofóbica”, onde “a arquitetura e a arte, sob corrompendo uma camada média que segue o o amparo hegemônico da tecnologia, põem-se ao fluxo e vende o “velho” para adquirir o “novo”. Figura 1: Foto panorâmica de Recife com as “torres gêmeas” 13 Responsável pelas torres gêmeas do Recife e por polêmicas, como a do condomínio de casas Joana Dhália, no Pina, cujas unidades a referida construtora tentou adquirir de seus moradores para erguer quatros prédios de 40 andares em seu lugar. Cf. O Berro, outubro/2011. Disponível para download em: http://www.unicap.br/oberro/jornais/2011-2%20-%20 Patrim%F4nio%20do%20Recife.pdf. Acessado em 14 de janeiro de 2017. 14 Lefebvre considera o “direito à cidade” o principal direito do homem, por indicar “a necessidade objetiva de acesso aos bens de civilização que são fruto do saber científico, técnico e que necessariamente chegam ao plano da vida imediata, como são os serviços de saúde, de educação e os bens culturais em geral, também riqueza da sociedade” (SEABRA, 2014, 14). A partir dos conceitos de Lefebvre, David Harvey (2013) ressalta que um modelo de cidade não pode ser dissociado dos vínculos sociais, dos estilos de vida, da relação com a natureza, do acesso à tecnologia, dos recursos urbanos e dos valores estéticos e éticos que se desejam. Uma de suas premissas é que, para mudar as relações sociais e o sistema econômico, precisa-se adotar o “direito à cidade” como “slogan e ideal político”. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. “a fantasmagoria ligada à avaliação crítica do ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | O catalão Argullol (1994) ensina que o cinema ser qualquer metrópole, com a intensificação antecipa a história da cidade moderna. Nesse de estímulos sonoros e visuais, seus riscos que diapasão, o objetivo deste nosso texto é, a partir geraram em seus habitantes um embotamento da obra de Kléber Mendonça Filho, especialmente sensível – o “caráter blasé” – que não deixa de Aquarius (2016), refletir sobre as representações ser um mecanismo de proteção contra a crise da grande cidade contemporânea. Que perguntas nervosa provocada pelo caos urbano (Cf. SIMMEL, e que respostas as películas apresentam sobre o 2005[1903]) – a “nevrose”, como nomeava, modo de viver nas metrópoles? O que é universal recorrentemente, João do Rio, em suas crônicas, e o que é local? Quais agentes, instituições e reportagens e narrativas ficcionais. ações impedem o “direito à cidade” por seus heterogêneos habitantes? Percebe-se, ao longo da película, que o diretor não naturaliza o discurso da “cidade única”, ao não Os dilemas ocidentais – tidos como universais glamourizar as relações entre a cultura urbana e – da cidade moderna, germe da urbe o capital, que, como consequência, expulsam os contemporânea, estão enunciados já na abertura mais pobres das áreas revitalizadas (ARANTES, de Aquarius. Ao som da canção “Hoje”, de 2000; VAINER, 2002). Desenha mapas afetivos Taiguara (1968), aparecem fotografias em preto e descreve sinais de localização. As pistas para e branco da orla de uma cidade ao longo de identificar as cores locais e descobrir-se que diferentes décadas. Os prédios substituem as cidade é essa vão sendo dadas pela orla, pelo casas e, paulatinamente, tornam-se mais altos. sotaque, pelas placas que alertam para o perigo Os carros invadem o espaço público, cada vez do ataque de tubarões, marca da Praia de Boa mais saturado. A cidade é Recife, mas poderia Viagem. Escreve uma cidade com fissuras, Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. ID 1438 Figura 2: “Torres gêmeas” aparecem removidas no filme Aquarius, na foto panorâmica a partir da ponte estaiada da Via Mangue vender seu apartamento, em um prédio pequeno, com múltiplos pertencimentos, mas sem que tal no qual só ela restou como moradora, para que fragmentação produza ausências de ancoragem a construtora que comprara as demais unidades (VELHO, 2013). Aborda o presente a partir de possa erguer um moderno espigão residencial. rastros do passado, dimensionados na “presença Reivindicar o direito à cidade também é resistir do agora”. Tempos que deixam marcas no corpo e às transformações e ao apagamento das revelam, em forma de imagens, recordações (pela lembranças. Cultivar histórias que se localizam etimologia, volta ao coração e recupera os afetos), em pontos específicos do mapa urbano é deixar as experiências dos personagens que as viveram. rastros, uma presença que aponta para um Memórias distorcidas, que se amalgamam sem que tempo já ausente (SEDLMAYER e GINZBURG, as imagens possam ser facilmente discernidas, e 2012), mas que ecoa no presente. cujos fragmentos são sempre recombinados, como um canteiro de obras. Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo Meu desespero, a vida num momento (...) (TAIGUARA, 1968) Kléber Mendonça Filho, à semelhança do trapeiro baudelairiano (BENJAMIN, 1994) reconstrói, a partir de rastros e fragmentos, a história de uma personagem, seus afetos, seus amores, suas perdas, tudo isso entrelaçado à orla de Recife. “Assim seus vestígios [Spur] estão presentes de muitas maneiras nas coisas narradas, seja na A sequência de fotos – combinada à canção de qualidade de quem as viveu, seja na qualidade de Taiguara – anuncia a estratégia narrativa do filme: quem as relata” (OTTE, 2012,71). Clara pertence fala de marcas do tempo e de rastros. Memórias a uma elite cultural e econômica. No entanto, tecidas com os fios coletivos, repertórios seu principal capital é a experiência e as marcas retirados de um patrimônio compartilhado, mas (inclusive da superação de um câncer) em seu subjetivamente desenhados em cada trajetória. corpo. Tal experiência é narrada não pela ótica Memórias sobre as experiências em uma cidade, de um vencedor, mas de um bricoleur que junta lugares de encontro, evocações de saudades, fragmentos de livros, músicas, álbuns de retratos. marcas de vidas que vão sendo apagadas em Sua casa, à semelhança de um colecionador, é nome do “progresso”. Essa é a luta travada decorada com livros, discos de vinil, quadros, pela protagonista Clara, de 65 anos, jornalista e cultura pop lado a lado do artesanato popular, escritora de classe média alta. em um estilo despojado e cheio de significado pessoal, contrapondo-se à estética ordenada, Clara é a representação de uma geração e da impessoal, sem magia e clean dos condomínios cidade de Recife, que resiste às pressões para de luxo que se pretendem erguer naquele espaço, Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. tensões, conflitos entre indivíduos complexos ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | na qual nada se gruda, por ser desprovida de menos para seus vizinhos, que já abandonaram o aura (BENJAMIN, 1994). lugar. Contudo, apesar do contraste com os vazios de Clara e seus rastros inundam o ambiente e e dramatiza os rastros (que são imagens) afirmam a vontade individualista e burguesa de sempre ameaçados de serem apagados ou de deixar rastro (BENJAMIN, 1994). não serem mais reconhecidos como signo de algo que assinala (GAGNEBIN, 2012). Neste sentido, a personagem Clara é um rastro ameaçado de desaparecer, na sua história de vida, pelo câncer e na sua luta contra um câncer social e metafórico, representado pelos O estatuto paradoxal do rastro remete à questão da manutenção e do apagamento do passado, isto é, a vontade de deixar marcas [estratégia da personagem Clara], até monumentos de uma existência humana fugidia [do apartamento], de um lado, e às estratégias de conservação ou de aniquilamento do passado, do outro. (GAGNEBIN, 2012, 27) cupins, por sua vez, símbolo da construtora. O câncer e os cupins alegorizam a dialética do tempo e do espaço, realizando, nas imagens O prédio Aquarius e o apartamento de Clara cinematográficas, o princípio da corrosão, são centrais, configurando-se em personagens. ao mesmo tempo em que são também ecos Ambos se contrapõem ao conflito estruturante midiáticos dos processos de gentrificação. do filme: o projeto da construtora Bonfim. Se o apartamento de Clara carrega marcas e Memórias involuntárias e afetivas, que, na vestígios, configurando-se em um local que personagem Clara (a memória das sensações), pode ser chamado de lar, o projeto da Bonfim são acionadas pelo cheiro do mar, pela textura da é um imóvel frio, impessoal e sem marcas. A areia, pelo choque da água fria quando mergulha. resistência é permitir-se cultivar subjetivamente Imagens e cores de um lugar cuja paisagem do pela cultura objetiva, ou seja, refinar-se pelos entorno se transformou, mas que ainda imprimem livros, pela música, pelo uso “apropriado de uma percepção de permanência. O apartamento de objetos formados”, em “um processo que ocorre Clara conta a sua história a partir dos objetos que numa adaptação única e num entrelaçamento o compõem: a rede, os discos de vinil, os livros, teleológico entre sujeito e objeto”, que leva à a cômoda usada como aparador (herança de “totalidade interior” (SIMMEL, 2013[1903]). família), os objetos. É o ponto de convergência da É o que Clara faz de sua história. Mas sua sociabilidade familiar, do repouso, das memórias – resistência também é denunciar as práticas rastros submetidos à corrosão. O local imprime a exteriores que não servem ao cultivo de si, que, cartografia afetiva de Clara, mas não deixa legado. em nome do progresso, apaga as lembranças e as Importa para ela, não para seus filhos e muito experiências de seus habitantes. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. A narrativa recolhe os restos de um tempo ID 1438 das demais unidades do prédio antigo, a presença A fisionomia urbana e o espírito dos citadinos de pó... O som da rua, do cotidiano, invade são moldados pelo pendular movimento da a cena contando a história de gente comum, “destruição/construção”. Clara “busca o que vivendo situações ordinárias que, no entanto, ainda resta de idílico, de cidade compartilhada, evidenciam questões candentes da cidade de maneiras de viver a cidade que resiste à fúria moderna: o sentimento de medo permanente que expansionista” (GOMES, 1994,94-95), uma vez promove novos negócios como segurança privada que a atrofia da experiência, perda da memória, (equipe que chega oferecendo seus serviços converte-se em ruína da sociabilidade. aos moradores em um bairro de classe média), ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | Os discursos sobre Recife no indiferença protetora (caráter blasé simmeliano), cinema de Kléber Mendonça Filho as aspirações de consumo (a televisão maior que chega a uma casa provocando reação agressiva O Recife de Kléber Mendonça Filho, sem deixar da vizinha), a solidão (da dona de casa), a de ser identificado pela cor local, carrega todas fragilidade das relações (dificuldade do jovem as tensões relacionadas ao urbano universal, no casal de começar e manter uma relação afetiva). qual o capital financeiro predomina. O curta Recife São transformações que acontecem no modo de Frio (2009), uma ficção científica que se constrói viver dos habitantes de qualquer grande cidade: a como um documentário jornalístico da televisão gênese do homo economicus e do homo urbanus, argentina, mostra os efeitos de um meteorito que como nos ensina Simmel (2005[1903]) cai sobre a cidade tropical, transformando-a em uma metrópole gelada. As mudanças climáticas Ao mesmo tempo, o filme mostra a decadência que potencializam as estratégias de dominação e não perde a arrogância de uma forma senhorial de distinção das elites (o quarto de empregada de pensar, bem característica do Brasil e com pequeno e quente, que, com a nova temperatura, o colorido de Recife, demonstrada por alguns torna-se o local disputado), a lógica comercial personagens. Entre eles, está o Sr. Francisco, dono dos que vivem do turismo praiano, as táticas de de apartamentos em vários prédios, que tem um sobrevivência dos artesãos e ambulantes, que se engenho que está de “fogo morto” (não produz adaptam e fazem até piadas com as mudanças, e o mais) e que “manda” no bairro. Há também o jogo da especulação imobiliária. neto dele, que apesar de ter outro modo de se apresentar e de tratar as pessoas, trabalha para Em O som ao redor (2013), um dos principais o avô e obedece à lógica do compadrio e das protagonistas é o som, que irrompe a cena como alianças. Há o outro neto, viciado – um problema ruído, como cacofonia urbana: o vendedor, o das metrópoles – que rouba aparelhos de som de carro, o cachorro que late sem parar, o aspirador carros, mas, mesmo assim, continua sustentado Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. a sensação de desproteção acompanhada pela passada a apresentação inicial, com imagens de combatidos pela segurança de aluguel, numa Recife a partir de sua orla, a protagonista Clara demonstração de que, no Brasil, a lei não é igual é o eixo da narrativa. A câmera a segue em todas para todos. Tal enredo evidencia a sobrevivência as cenas, e a história é contada sob a perspectiva da figura do senhor de engenho no mundo urbano, de sua trajetória, em um pingue-pongue entre a sobrevivência do Brasil arcaico. passado e presente. O som ao redor faz uma fotografia da A primeira parte, intitulada “o cabelo de Clara”, transformação e da convivência de formas de localiza a época por legenda (1980), e a cidade a viver modernas e arcaicas, mas já evidencia a partir da imagem da placa de um carro em uma dissolução dos laços da comunitas, na passagem praia, no qual estão o irmão, a namorada do irmão para societas. O declínio e o desinteresse pelo (futura cunhada), duas crianças e Clara. O close espaço público e pelo coletivo (SENNETT, 2014) da câmera na placa identificando a cidade (Recife), são mostrados em diversas situações, na própria plano geral no edifício azul (cenário do filme), com privatização da segurança e no isolamento várias casas e prédios baixos ao redor, e o mar dos prédios e das pessoas que neles habitam, em frente, situam a ação na Praia de Boa Viagem. pela vigilância ostensiva acompanhada da Eis os dois elementos principais do filme: Clara indiferença ao outro. O tom da transformação e sua relação com o seu apartamento, herança já é enunciado no início do filme, assim como de família, onde seus filhos cresceram, local que Aquarius, o diretor “abre com fotos antigas guarda as memórias que a fazem se lembrar de retratando paisagens das plantações de cana quem ela é. É nessa cena que uma Clara, de cabelos de açúcar em Pernambuco, funcionando quase curtíssimos, por volta de 30 anos, casada e mãe, é como uma epígrafe cinematográfica inspirada homenageada pelo marido por ter vencido o câncer. por Casa Grande e Senzala, tudo isso ao som- A homenagem se estende à Tia Lúcia, que completa canção Cadavres en Série, de Serge Gainsbourg” 70 anos, louvada por seu pioneirismo em questões (PRYSTHON, 2017, p.10). profissionais e sexuais. Apesar de dar voz a vários personagens, como Ainda na primeira parte, acompanha-se a Clodoaldo (líder dos vigilantes), João, Francisco, passagem do tempo. Clara é apresentada de Bia (dona de casa que se enfurece com o latido do cabelos longuíssimos, aos 65 anos. A paisagem cachorro da vizinha), O som ao redor não constrói urbana de Boa Viagem já não mantém a mesma a narrativa a partir da visão de um deles, pois fisionomia dos anos 1980. O edifício Aquarius, a tem a interação cotidiana, o silêncio e o ruído das moradia de Clara, parece destoar dos altos prédios ruas como condutores da trama. Já em Aquarius, construídos ao redor, tanto no tamanho como na Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. pela família, que impede que seus delitos sejam ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | de todas as formas, inclusive pela imposição sem porteiro ou vizinhos. Mas o mar que Clara do medo, a vender o seu apartamento em nome ora olha pela janela, ora nele mergulha, enfatiza do progresso. Todos os demais proprietários o sentido da permanência, da continuidade. A já venderam e também a pressionam. Clara praia, no entanto, já não é mais a mesma: o medo reivindica o direito de não ceder, mesmo com dos tubarões e dos afogamentos, a vigilância a “generosa” oferta financeira da construtora. do salva-vidas, o lazer comunitário destacado Resiste a diversas coações, desde orgias no na atividade de gargalhada coletiva da qual os apartamento de cima, até ameaças veladas moradores participam na areia. O clima amistoso é e diretas. Afinal, se ela ainda mora lá e se as quebrado com a vinda de meninos negros e pobres. paredes estão firmes, o edifício existe, não é A tensão aparece no rosto dos participantes e é um fantasma, nem uma ruína (ou será que posteriormente dissolvida pela fala do instrutor: o espectral e os destroços – físicos, éticos e “Tem lugar para todo mundo, vamos manter o políticos já estão ali? The time is out of joint respeito”. É uma passagem que assinala bem a (SHAKESPEARE, Hamlet, Act 1, scene 5). tensa convivência, nos espaços públicos, entre classes sociais distintas. A desigualdade é, A resistência às sabotagens da construtora simultaneamente, uma vergonha e uma ameaça. acontece na parte três, e final, intitulada “o câncer de Clara”. A metáfora da cidade doente A parte dois do filme chama-se “O amor de Clara”. é recorrente. Valores são lentamente corroídos É quando os afetos e desafetos da personagem são sem que se sejam claramente objetivados, como apresentados, os afetos, as relações familiares e as paredes de uma edificação contaminada por os amigos, mesmo que nem sempre seus filhos, cupins ou um corpo tomado aos poucos pelo especialmente sua filha, a compreendam como câncer. Quase não se notam seu começo e seu gostaria. A reivindicação ao cultivo da memória avanço, só se percebe o mal quando a estrutura e ao desejo de colecionar objetos sentimentais desaba ou o corpo já está todo tomado, levando – como livros, discos e retratos – fazendo-os à morte do sujeito. No filme, é a lógica do capital viver dentro de si e renascendo através deles que promove a naturalização do imaginário de (BENJAMIN, 1987) não pode ser entendida por progresso, que “devora a cultura”, em vez de uma visão mercantil – em que, quando gosta, é “vincular” o “patrimônio cultural” à própria “vintage”, e quando não quer mais, classifica como “experiência” de quem vive (BENJAMIN, 1994). velho, no sentido de obsoleto. Clara, contudo, segue a lógica progressista tropical, que, quando se faz necessária, não hesita Como desafeto, a construtora Bonfim antagoniza em se valer do privilégio patrimonialista (“quem o grande embate da trama. Clara é pressionada não é Cavalcanti, é cavalgado”) para descobrir “os Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. simplicidade. Também parece bem menos povoado, ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | cupins” que podem corroer as paredes do próprio se agitam, atuam (DIDI-HUBERMAN, 2013). Os sistema e interferir em seus interesses. rastros agregam os nós temporais em que cada lugares e de tempos diferentes, assegurando que ressignificam o jogo destruição/construção, essa as imagens também sofrem de reminiscências polaridade que molda o modernismo do século (DIDI-HUBERMAN, 2011b). Fundida às imagens XX, que se associa a estilhaçamento, trituração dos cupins e do câncer, quando também amalgama da vida/desenvolvimento, renovação (BERMAN, a personagem Clara e o prédio Aquarius, ambos 1986). Tal pragmatismo moderno estende-se pelo sobreviventes, a doença de Clara, que mutila século XXI, no qual o sonho utópico da cidade o seu corpo, remete à ameaça de mutilação ideal caiu por terra, levando as intervenções de seu apartamento, extensão dela própria. O urbanas do estado e das corporações a atrelarem apartamento (e o prédio Aquarius) também tais valores à gentrificação, que vai se agudizando sobrevive(m), mas alegoriza a doença social nas megalópoles contemporâneas. De acordo da cidade: o câncer urbano, a prepotência da com Argan, a demolição é a “enlutada alegoria da construtora (o poder do dinheiro). radical incompatibilidade do que resta da cidade com a vida de metrópole” (1992, p.7). Os cupins podem ser associados à peça A torre de Babel, de Fernando Arrabal, que dramatiza a Esta premissa marca a era de Aquarius, o filme decadência da duquesa de Latídia, cujo castelo é que busca preservar a dimensão da capital da leiloado pela Justiça, mas ela se recusa a entregá- cinematografia de Kleber Mendonça Filho, ao lo aos proprietários americanos que construirão colocar em relevo os rastros que resistem à fúria em seu terreno um hotel e um supermercado. Para urbanística contemporânea. Esses rastros (Spur) defender seu território, a nobre cega reúne um que indicam um momento reminiscente como exército de bêbados e mendigos, e, à maneira de essencialmente anacrônico (intempestivo) é um Dom Quixote, acredita que sua tropa é formada presente em que as sobrevivências (Nachleben)15 de heróis e poetas. Enquanto a ação se desenrola, 15 Seria bastante rentável rastrear o conceito de Nachleben (sobrevivência), a partir, por exemplo, dos textos de Didi-Huberman sobre Aby Warburg, ou na deriva dele. Entretanto, não há espaço, neste ensaio sobre o cinema de Kleber Mendonça Filho, para essa tarefa, remontando à origem do conceito e estendendo para outros pensadores que o retomam. Esse estudo sobre as teorias de Warburg se deve, sobretudo, ao colossal trabalho de Didi-Huberman, que pode nos oferecer rastros do conceito de Nachleben. Tal conceito, no entanto, não pode ser pensado sem outros termos da obra do autor do Atlas Mnemosyne, a exemplo de a “ciência sem nome”, o tempo e a história, o anacronismo, a imaginação, a palavra e a imagem, a sobrevivência da Antiguidade, as fórmulas de pathos (Pathosformel), o objeto de contemplação como algo vivo, motivo de tensão, o sofrimento como forma de conhecimento e de saber etc. Como diz Didi-Huberman: “trabalhar com Warburg é que nele nada é seguro, pois não conseguiu comentar seu Atlas nem escrever um livro sequer, não conseguiu dar uma ideia clara e pública de sua teoria”. Ver DIDI-HUBERMAN, 2011a; CARTA, 2011 e REINALDO, 2015. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. O contraste e a tensão encenados na película ID 1438 imagem leva a pensar como uma montagem de www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | Sobrevive, contudo, a capacidade humana de ARGULLOL, Rafael. “A cidade turbilhão”. In: Revista do Patrimônio. Número 23, 1994. resistir e de sonhar. Os cupins são, portanto, BAUDRILLARD, Jean. Power Inferno. Porto Alegre: a metástase que, silenciosamente, corrói a Sulina, 2003. integridade sadia do corpo humano e urbano. BATTALLER, Maria Alba Sargatal. “O estudo da Ou como no poema “O espelho partido” de João gentrificação”. In: Revista Continentes (UFRRJ), ano Cabral de Melo Neto (1988, 309): 1, número 1, 2012. ID 1438 ouve-se o ruído dos cupins destruindo o castelo. A morte pôs ponto final (...) escolhidas. Volume II. São Paulo: Brasiliense, 1987. Como câncer não como quisto. ______. Magia e Técnica. Arte e Política. Obras Como câncer: signo da vida Que multiplica e é destrutiva, escolhidas. Volume I. São Paulo: Brasiliense, 1994. ______. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Câncer que leva outro mais dentro, 2007. 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Notas sobre a estratégia discursiva do planejamento Rastros y imagenes sobrevivientes in the Aquarius age: corrosion en Acuarius era: corrosión y and gentrification in Kléber gentrificación en la metropolis Mendonça Filho metropolis de Kléber Mendonça Filho Abstract Resumen The films made by Kléber Mendonça Filho, especially Las películas de Kléber Mendonça Filho, Aquarius (2016), provide a reflection about the especialmente Aquarius (2016), proponem una contemporary metropolis representations and its reflexión sobre las representaciones de las political and ethical. The problematic of the right to metrópoles y sus implicaciones políticas y éticas. the city (Lefebvre) is discussed from the imperative El derecho a la ciudad (Lefebvre) del punto de of progress - relationship between demolition / vista de lo imperativo del progreso - la demolición construction, erasure of memory, combined with the y construción, lo borramiento de la memoria, junto gentrification processes. The protagonist resistance con los procesos de gentrificación. La resistencia action may be associated with the categories “trace” de la acción de la protagonista marca la trama, (Benjamin) and “survival of the Image”(Didi- que podemos relacionar a las categorías “rastro” Huberman). The contemporary city is allegorized in (Benjamin) y la “sobrevivencia de la imagen” an idea of corrosion: images of cancer and termites. (Didi-Huberman). La ciudad contemporanea The disease of the human body and of the urban es alegorizada en las imágenes de cáncer y de body, whose locus is the metropolis. las termitas, que remetem a la corrosión: una Keywords enfermedad del cuerpo humano y urbano, propia de Kleber Mendonça Filho films. Representation of the la grand ciudad. contemporary city. Phenomena of gentrification. Palabras-clave Películas de Kleber Mendonça Filho. Representación de la ciudad contemporanea. Fenómenos de gentrificación. Recebido em: Aceito em: 02 de novembro de 2017 19 de março de 2018 Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. Trace and survival images ID 1438 www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | CONSELHO EDITORIAL Ada Cristina Machado Silveira, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Alda Cristina Silva da Costa, Universidade Federal do Pará, Brasil Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia, Universidade Estadual de Campinas, Brasil Ana Regina Barros Rego Leal, Universidade Federal do Piauí, Brasil Ana Carolina Rocha Pessôa Temer, Universidade Federal de Goiás, Brasil André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil Angela Cristina Salgueiro Marques, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Antonio Carlos Hohlfeldt, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Arthur Ituassu, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Bruno Campanella, Universidade Federal Fluminense, Brasil Cláudio Novaes Pinto Coelho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil Cárlida Emerim, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Carlos Eduardo Franciscato, Universidade Federal de Sergipe, Brasil Danilo Rothberg, Universidade Estadual Paulista, Brasil Denise Tavares da Silva, Universidade Federal Fluminense, Brasil Diógenes Lycarião, Universidade Federal do Ceará, Brasil Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil Eliza Bachega Casadei, Escola Superior de Propaganda e Marketing – SP, Brasil Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Erly Vieira Júnior, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Francisco de Assis, FIAM-FAAM Centro Universitário, Brasil Francisco Elinaldo Teixeira, Universidade Estadual de Campinas, Brasil Francisco Gilson R. Pôrto Jr., Universidade Federal do Tocantins, Brasil Frederico de Mello Brandão Tavares, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Gabriela Reinaldo, Universidade Federal do Ceará, Brasil Gilson Vieira Monteiro, Universidade Federal do Amazonas, Brasil Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Itania Maria Mota Gomes, Universidade Federal da Bahia, Brasil Jiani Adriana Bonin, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil Josette Maria Monzani, Universidade Federal de São Carlos, Brasil Juçara Gorski Brittes, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. A identificação das edições, a partir de 2008, passa a ser volume anual com três números. Indexada por Latindex | www.latindex.unam.mx Juliana Freire Gutmann, Universidade Federal da Bahia, Brasil Laura Loguercio Cánepa, Universidade Anhembi Morumbi, Brasil Leonel Azevedo de Aguiar, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Letícia Cantarela Matheus, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Luciana Coutinho Souza, Universidade de Sorocaba, Brasil Maria Ataide Malcher, Universidade Federal do Pará, Brasil Maria Elisabete Antonioli, Escola Superior de Propaganda e Marketing – SP, Brasil Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil Marialva Carlos Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Marcel Vieira Barreto Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Marcia Tondato, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Marli Santos, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil Márcio Souza Gonçalves, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Mauricio Mario Monteiro, Universidade Anhembi Morumbi, Brasil Mayka Castellano, Universidade Federal Fluminense, Brasil Mozahir Salomão Bruck, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil Nísia Martins Rosario, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Paolo Demuru, Universidade Paulista, Brasil Paula Melani Rocha, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil Priscila Ferreira Perazzo, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil Rafael Cardoso Sampaio, Universidade Federal do Paraná, Brasil Rafael Tassi Teixeira, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Regiane Lucas Garcês, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Regiane Regina Ribeiro, Universidade Federal do Paraná, Brasil Renata Pitombo Cidreira, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Brasil Renato Essenfelder, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Roberto Elísio dos Santos, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil Rodolfo Rorato Londero, Universidade Estadual de Londrina, Brasil Roseli Figaro, Universidade de São Paulo, Brasil Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil Sofia Cavalcanti Zanforlin, Universidade Católica de Brasília, Brasil Sônia Caldas Pessoa, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Tatiana Oliveira Siciliano, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Thaïs de Mendonça Jorge, Universidade de Brasília, Brasil Valquiria Michela John, Universidade Federal do Paraná, Brasil CONSELHO CIENTÍFICO COMPÓS | www.compos.org.br Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil | Eduardo Antônio de Jesus, Universidade Federal de Minhas Gerais, Brasil | Eduardo Morettin, Universidade de São Paulo, Brasil | Irene de Araújo Machado, Universidade de São Paulo, Brasil | Miriam de Souza Rossini, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação COMISSÃO EDITORIAL Igor Pinto Sacramento, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil | Kelly Cristina de Souza Prudencio, Universidade Federal do Paraná, Brasil | Osmar Gonçalves dos Reis Filho, Universidade Federal do Ceará, Brasil | Rafael Grohmann, Faculdade Cásper Líbero, Brasil | Thaiane Moreira de Oliveira, Universidade Federal Fluminense, Brasil (editores associados) CONSULTORES AD HOC Presidente Marco Roxo Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFF marcos-roxo@uol.com.br Vice-Presidente Isaltina Gomes Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFPE Afonso de Albuquerque, Universidade Federal Fluminense, Brasil | Cláudia Lago, Universidade de São Paulo, Brasil | Cesar Baio Santos, Universidade Federal do Ceará, Brasil | Eduardo Pellanda, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil | Francisco Rüdiger, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil | Karina Woitowicz, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil | Luis Mauro Sa Martino, Faculdade Cásper Líbero, Brasil | Norval Baitello Jr, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil | Pedro Guimarães, Universidade de Campinas, Brasil isaltina@gmail.com EQUIPE TÉCNICA castro.gisela@gmail.com ASSISTENTES EDITORIAIS Márcio Zanetti Negrini e Melina Santos | REVISãO DE TEXTOS Fátima Áli | EDITORAÇãO ELETRÔNICA Roka Estúdio Secretária-Geral Gisela Castro Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo – ESPM CONTATO | revistaecompos@gmail.com ID 1438 A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos em instituições do Brasil e do exterior. E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.21, n.1, jan./abr. 2018. Expediente