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galena spiritus

catalogo exposição Parque Lage

spiritus intus, totamque infusa per artus mens agitat molem et magno se corpore miscet 1 A Eneida, canto VI-Virgilio Seguindo a rota traçada por Burrows 2 quando disse "observem as janelas de suas almas" viajamos um pouco no tempo alcançando a virada do século 18 para o 19 quando grandes expectativas convergiam para o mundo invisível, universo onde a ponte do eletromagnetismo, acreditavam, tornaria possível a comunicação com o mundo dos espíritos. Franz Mesmer, Oliver Lodge, Thomas Edison, Thomas Watson entre outros, mergulhavam nos sinais invisíveis em seus estudos sobre eletricidade relacionado aos sons e mensagens captados em seções espíritas, dando corpo a uma física transcendental onde fantasmas elétricos vertidos em impulsos nervosos passam a conectar psicografia, desmaterialização de corpos, vozes do além, conexões carregadas (inocentemente ou não) nas sombras ocultas. Até que Henrich Heinz utilizando um transmissor de ondas de rádio, comprova em 1886 a existência das ondas eletromagnéticas, entendidas como ondas de som propagadas através de um meio desconhecido, o éter. Efeitos dinâmicos, ondas eletrodinâmicas, vibrações elétricas, ondas elétricas e finalmente, ondas de potência elétrica ou luminiferous ether , nomes sugeridos por Hertz. Paramos aqui, para estabelecermos este ponto: o nascimento da comunicação sem fios via ondas eletromagnéticas, gênese de um modelo de radiofonia que, ao exercitar os sentidos, mantém-se como exercício de linguagem ativando "olhos interiores, como a iluminar as válvulas da mente para enxergar de forma diferente" 3 Poder escutar a cor, poder olhar o som. Be not afear'd, the isle is full of noises disse Shakeaspeare através de Caliban. Porque ali, impregnados por ondas eletromagnéticas, viajamos 1 Tudo o que existe no universo está penetrado do mesmo princípio: a alma, que anima a matéria, que se mistura com este grande corpo" 2 Arthur Burrows-"The story of broadcasting ". London: Cassell, 1924. 3 Gillian Reynolds-entrevista concedida ao produtor radiofônico Seán Street

galena spiritus Lilian Zaremba spiritus intus, totamque infusa per artus mens agitat molem et magno se corpore miscet1 A Eneida, canto VI - Virgilio Seguindo a rota traçada por Burrows2 quando disse “observem as janelas de suas almas” viajamos um pouco no tempo alcançando a virada do século 18 para o 19 quando grandes expectativas convergiam para o mundo invisível, universo onde a ponte do eletromagnetismo, acreditavam, tornaria possível a comunicação com o mundo dos espíritos. Franz Mesmer, Oliver Lodge, Thomas Edison, Thomas Watson entre outros, mergulhavam nos sinais invisíveis em seus estudos sobre eletricidade relacionado aos sons e mensagens captados em seções espíritas, dando corpo a uma física transcendental onde fantasmas elétricos vertidos em impulsos nervosos passam a conectar psicografia, desmaterialização de corpos, vozes do além, conexões carregadas (inocentemente ou não) nas sombras ocultas. Até que Henrich Heinz utilizando um transmissor de ondas de rádio, comprova em 1886 a existência das ondas eletromagnéticas, entendidas como ondas de som propagadas através de um meio desconhecido, o éter. Efeitos dinâmicos, ondas eletrodinâmicas, vibrações elétricas, ondas elétricas e finalmente, ondas de potência elétrica ou luminiferous ether , nomes sugeridos por Hertz. Paramos aqui, para estabelecermos este ponto: o nascimento da comunicação sem fios via ondas eletromagnéticas, gênese de um modelo de radiofonia que, ao exercitar os sentidos, mantém-se como exercício de linguagem ativando “olhos interiores, como a iluminar as válvulas da mente para enxergar de forma diferente”3 Poder escutar a cor, poder olhar o som. Be not afear’d, the isle is full of noises disse Shakeaspeare através de Caliban. Porque ali, impregnados por ondas eletromagnéticas, viajamos 1 Tudo o que existe no universo está penetrado do mesmo princípio: a alma, que anima a matéria, que se mistura com este grande corpo” 2 Arthur Burrows – “The story of broadcasting “. London: Cassell, 1924. 3 Gillian Reynolds – entrevista concedida ao produtor radiofônico Seán Street 1 através do espaço em velocidade uniforme. Somos ondas transmissoras e receptoras, nossa frequência será modulada pelo exercício radiofônico e seus ciclos por segundo. As mais baixas frequências das ondas de rádio serão ouvidas, como aquelas, emitidas por uma pedra, a galena que agora carregamos.4 Um aparato simples, sem amplificadores de sinal, sem corrente elétrica, onde será possível sintonizar as palavras que uma pedra tem a dizer... galena codex As palavras sempre estiveram no ar: nas frases da retórica, textos sagrados, versos da poesia, mandamentos ditados por Deus a Moisés... nos hiatos do silencio. Quando a palavra se transforma em esquecimento dela Sócrates sugere distância em troca de aproximar-se da linguagem falada, “em que a palavra está segura de encontrar viva, na presença daquele que a pronuncia”... qual seria esta presença? A voz do falante sem corpo encontra ressonância na escuta de outro, ali extraindo a carne necessária à sua visibilidade... mas como escutar o vento? “retrocedendo até a borda da pedra onde terminam os olhos emprestados”, respondeu Huidobro. Retroceder ao imaginar outro limite ajustando a pedra e seu poder eletromagnético. Ressoando alguma boca que fala e neste circuito do tempo, ativar a memória e suas elaborações. Ali, aquela língua falante intacta no varal dos sonhos, sintoniza as conversas da pedra... e porque os homens carregam pedras? Homens carregam pedras como histórias, dia e noite, sono e sonho – os verdadeiros dispositivos móveis – deslocando deste lugar sem horizonte àquele outro onde apenas se pode escolher o tempo presente. e neste instante, seus sonhos voltem a ser sonhados. 4 A pedra de galena é um sal de chumbo, formando cristais que são condutores de eletricidade. No século XX foi utilizado em um aparelho receptor de sinais por ondas de rádio. Um sistema muito simples utilizando um cristal de galena, uma bobina, um capacitador, antena, fone de ouvido e um “bigode de gato” – na verdade, um pequeno pedaço de arame com o qual se busca na pedra o sinal a ser escutado. 2