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X Seminário ALAIC 2019 Diálogos desde el sur: comunicación + comunidad + alternatividad 24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________________________ Reportagem como transgressão: os dez anos de textos assinados por Eliane Brum como repórter especial da Revista Época1 Magali Moser2 Universidade Federal de Santa Catarina Resumo Esta pesquisa tem como objeto de estudo as marcas ou elementos de uma contra hegemonia (WILLIAMS, 1979) nas práticas jornalísticas adotadas por uma das repórteres mais premiadas do Brasil, Eliane Brum. Sua atuação como repórter se torna referencial no âmbito das práticas e da academia, mas pode ser considerada contra hegemônica, apesar de estar ligada a organizações midiáticas historicamente de liderança? Ao confrontar concepções e dinâmicas estabelecidas, sua reportagem seria uma transgressão? A partir de uma abordagem sobre o método jornalístico (SPONHOLZ, 2009) e a reportagem como metodologia do jornalismo (OSORIO VARGAS, 2017), identificamos características alternativas às práticas dominantes do campo no seu fazer jornalístico, suas narrativas e reflexões sobre o exercício profissional (BRUM, 2012). A análise tem como fundamento uma seleção com base na consulta de 508 edições3 da Revista Época, da Editora Abril, durante os dez anos que atou como repórter especial do periódico. A consulta resultou num banco de dados inédito formado por 109 textos assinados por ela de 2000 a 2009. Os procedimentos metodológicos se amparam principalmente na busca por marcas discursivas que apontem seu processo de produção da reportagem. Pela projeção atingida por Brum, há quem possa dizer que desperta uma “visão encantada” do jornalismo. A escolha por analisar o trabalho de uma repórter consagrada se dá sabendo dos possíveis questionamentos nesta direção. Brum representa, de fato, uma realidade de condição de trabalho e, portanto, de prática profissional, muito destoante da vivida pela maioria dos jornalistas em atuação no Brasil 4 . Entretanto, o alcance desta condição diferenciada e privilegiada em redações se reverbera em suas práticas, configuradas em rico objeto de pesquisa. Ademais, os resultados mostram que também faz críticas às práticas jornalísticas dominantes, sem deixar de fazer jornalismo: assim, complexifica a atividade à medida que questiona métodos de apuração, noções de imparcialidade, fontes e outros fundamentos 1 Trabalho apresentado no GI 4 - Práticas hegemônicas, cultura e alternativas na América Latina do X Seminário ALAIC 2019, de 24 e 25 de outubro de 2019, na Universidade Federal Fluminense, Niterói-RJ. 2 Doutoranda do PPGJOR/UFSC e bolsista FAPESC. Mestra pelo mesmo programa e especialista em Estudos Literários (FURB). Email: magali.moser@gmail.com 3 De 2000 a 2009, o total de revistas é de 521 edições. No entanto, não localizamos 13 exemplares deste período, compreendendo um total de 508 edições consultadas e analisadas. 4 Não se trata apenas do reconhecimento nacional, mas da estrutura que dispõe e o próprio prestígio. Talvez, por isso mesmo, suas práticas se constituam em necessários objetos de pesquisa para o campo jornalístico, pensando no que especificamente as diferencia das demais. X Seminário ALAIC 2019 Diálogos desde el sur: comunicación + comunidad + alternatividad 24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________________________ consolidados na profissão, sugerindo novos caminhos e “ações de resistência no jornalismo” (MAROCCO, 2016). Ingressante no jornal Zero Hora, da Rede Brasil Sul (RBS) em Porto Alegre, onde atuou por 11 anos, Brum tornou-se nacionalmente conhecida como repórter especial de Época. Algumas das reportagens publicadas por ela na revista estão reunidas no livro O Olho da Rua (2013). Costuma compartilhar com o público seu processo de trabalho, dilemas profissionais e saberes jornalísticos adquiridos na experiência como repórter. Para ela, fazer jornalismo é “produzir documentos sobre a história contemporânea” (BRUM, 2012, p. 72). Analisar sua produção e tensionar suas práticas para além das reportagens selecionadas e publicadas em livro torna-se fundamental na compreensão não apenas de sua trajetória, mas, sobretudo da própria potencialidade da reportagem como narrativa de transgressão. Palavras-chave Reportagem; contra hegemonia; Eliane Brum; metodologia do jornalismo; Revista Época. Referências bibliográficas BRUM, Eliane. Eu sou uma escutadeira. Entrevistada por: Ângela Zamin, Beatriz Marocco e Júlia Capovilla. In: MAROCCO, Beatriz. O jornalista e a prática: entrevistas. São Leopoldo: UNISINOS, 2012. p. 71 – 92 ___. Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São Paulo: Leya, 2014. ___. O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real. São Paulo: Globo, 2013. ___. A menina quebrada: e outras colunas de Eliane Brum. Porto Alegre: Arquipélago, 2013. ___. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2008. ___. Coluna Prestes: o avesso da lenda. Porto Alegre: Artes e Oficios, 1994. ___. Gotas da infância. Ijui: FIDENE, 1978. MAROCCO, Beatriz. Ações de resistência no jornalismo: “livro de repórter”. Florianópolis: Insular, 2016. OSORIO VARGAS, Raúl Hernandes. El reportaje como metodología del periodismo. Una polifonía de saberes. Medellín: Editorial Universidad de Antioquia, 2017. SPONHOLZ, Liriam. Jornalismo, conhecimento e objetividade: além do espelho e das construções. Florianópolis: Insular, 2009. WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. Revistas: ___. Pai padrastro. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 80-85, 05 de ago. De 2002. ___. O filho do perseguido. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 78-81, 10 de nov. De 2003. ___. Marcados pelo sangue. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 60-65, 18 de abr. De 2005. ___. Isso é um crime. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 112-115, 12 de jun. De 2006. ___. Os novos antropófagos. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, 17 de set. De 2007. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR79089-6014,00.html ___. Beijo tua boquinha gulosa. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 143-145, 08 de set. De 2008 X Seminário ALAIC 2019 Diálogos desde el sur: comunicación + comunidad + alternatividad 24 e 25 de outubro de 2019 - Universidade Federal Fluminense (UFF) _____________________________________________________________ ___. No meio do caminho tinha uma casa. In: Revista Época, Rio de Janeiro, Editora Globo, p. 8890, 22 de jun. De 2009.