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137 ISSN 1679-0162 Sete Lagoas, MG Dezembro, 2006 Ramon C. Alvarenga Recomendações de Densidades de Plantio e Taxas de Semeaduras de Culturas Anuais e Forrageiras em Plantio Consorciado Introdução Há décadas, alguns pecuaristas brasileiros utilizam o plantio consorciado de culturas anuais (milho, sorgo, Miguel Marques Gontijo Neto Ramon Costa Alvarenga Israel Alexandre Pereira Filho José Carlos Cruz José Avelino dos Santos Rodrigues a viabilização da recuperação do potencial produtivo de áreas agrícolas, em especialmente áreas de pastagens degradadas. arroz e milheto) e forrageiras perenes como estratégia A degradação de pastagens é um processo dinâmico, para recuperação, renovação ou manutenção da iniciando-se com a queda da produção de forragem, produtividade das áreas de pastagens. Tecnologias evoluindo para o aparecimento de plantas invasoras e desenvolvidas pela Embrapa para essa finalidade, como pragas, alcançando, em alguns casos, situações de o Sistema Barreirão e, mais recentemente, o Sistema degradação do solo e de recursos hídricos. As Santa Fé, são importantes ferramentas para a principais causas da degradação das pastagens são a implantação de Sistemas de Integração Lavoura- falta de reposição de nutrientes ao solo e o manejo Pecuária (SILP) em propriedades rurais voltadas para a animal inadequado (superpastejo). produção agropecuária. As culturas mais utilizadas para o plantio consorciado A Integração Lavoura-Pecuária, considerada como a com forrageiras perenes são milho, sorgo, arroz , mais diversificação, rotação, consorciação e/ou sucessão recentemente, o milheto e o girassol. Neste trabalho, das atividades agrícolas e pecuárias dentro da trataremos mais detalhadamente das densidades de propriedade rural, de forma planejada, constituindo um plantio e taxas de semeaduras das culturas do milho, mesmo sistema, de tal maneira que há benefícios para sorgo e milheto, além das gramíneas e leguminosas ambas, apresenta, como uma das principais vantagens, forrageiras, por se apresentarem mais relacionadas à Eng.-Agr., D.Sc. Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP: 35701-970 Sete Lagoas, MG. (31) 3779 1150; mgontijo@cnpms.embrapa.br; ramon@cnpms.embrapa.br; israel@cnpms.embrapa.br; zecarlos@cnpms.embrapa.br; avelino@cnpms.embrapa.br 2 Recomendações de densidades de plantio e taxas de semeaduras de culturas anuais e forrageiras em plantio consorciado produção pecuária, ou seja, essas culturas possibilitam cultura anual, dos benefícios de se ter uma pastagem a produção complementar de forragem (silagem, feno, bem estabelecida ao final do ciclo da cultura anual e do corte direto ou pastejo) ou grãos, que são utilizados na baixo custo relativo de suas sementes, têm-se formulação de rações concentradas e/ou suplementos. recomendado taxas de semeaduras superiores às Vantagens da consorciação na recuperação/renovação de pastagens Recuperação da produção de forragem da pastagem; • • que podem ser armazenadas para o período de rendimento do milho, uma vez que pequenas variações seca ou pastejadas diretamente; na densidade têm grande influência no rendimento final Viabilidade econômica, beneficiando–se da da lavoura. A densidade de plantio (ou estande) receita oriunda da venda de grãos ou produção inadequada é uma das causas da baixa produtividade extra de forragem para abater os custos de de milho, no Brasil. Diversificar a produção, diminuindo riscos isoladamente; Aumentar a eficiência no uso dos fertilizantes e dos recursos naturais (solo, água e radiação); • Definida como o número de plantas por unidade de área na ocasião da colheita, tem papel importante no inerentes a cada uma das culturas • Densidade de semeadura para milho Produção extra de forragem das culturas anuais insumos e serviços necessários; • recomendadas quando da semeadura solteira. Utilização da pastagem para produção de palhada, viabilizando o plantio direto da cultura subseqüente. Considerações sobre as densidades e taxas de semeadura em plantios consorciados de culturas anuais e forrageiras As recomendações de cultivares, densidade e espaçamento entre linhas para as culturas anuais utilizadas em plantios consorciados são as mesmas do plantio solteiro da cultura do milho e do sorgo para grãos e silagem, entretanto, para os consórcios com milheto e sorgo para pastejo, são recomendadas densidades de semeadura menores, reduzindo a pressão de competição da cultura com a forrageira e garantindo a boa formação da pastagem. Portanto, deve-se escolher cultivares recomendadas para a região. Além disso, no caso do milho, deve-se optar por cultivares que apresentem alta inserção de espigas (facilidade de colheita) e tolerância à acidez e ao alumínio do solo. No caso do sorgo e milheto, utilizar cultivares mais tolerantes à acidez do solo. Para as gramíneas forrageiras, em função da competição com a A densidade de plantio ideal é função da cultivar e da disponibilidade hídrica e de nutrientes. Para os híbridos triplos e simples, é freqüente a densidade de 50 a 60 mil plantas por ha (Tabelas 1 e 2), havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha. Apenas 25 cultivares são recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil plantas por hectare. A maioria das empresas já está recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e da época de plantio. Além disso, já existem empresas recomendando a densidade em função do espaçamento, o que representa uma evolução. Normalmente, são recomendadas maiores densidades associadas a espaçamentos reduzidos. Algumas empresas especificam apenas o plantio de verão ou safra normal e a safrinha. Um maior número de empresas, entretanto, fornece maiores informações, separando o plantio cedo, normal, tardio e safrinha. Outro aspecto importante no plantio do milho safrinha é o ajuste na densidade de plantio. Como regra geral, a densidade é menor do que a recomendada para a safra normal, principalmente devido à menor disponibilidade hídrica que ocorre nesse sistema de plantio. Densidades de semeadura para sorgo O cultivo do sorgo de duplo propósito e para silagem, que apresenta boa tolerância a déficit hídrico, é alternativa interessante para a produção de forragem a ser ensilada em regiões sujeitas a veranicos e/ou Recomendações de densidades de plantio e taxas de semeaduras de culturas anuais e forrageiras em plantio consorciado Tabela 1. Densidade de plantio e quantidade de sementes de milho para o estabelecimento do consórcio entre culturas anuais e forrageiras. Tabela 2. Número aproximado de sementes por 10 metros de sulco, para diferentes densidades de semeadura e espaçamento entre linhas, considerando uma perda no estabelecimento de 20%. produzida em solos de áreas sob pastagens da plantadeira, além dessa informação, o produtor deve degradadas recentemente corrigidas, onde, em função procurar saber se o fabricante da semente indica um do pouco tempo de aplicação e/ou disponibilidade disco pré-perfurado que se adapte à sua semente e ao hídrica, não ocorreu a completa reação do calcário. equipamento de que o produtor dispõe. Caso contrário, A utilização do sorgo pastejo em plantio consorciado, o produtor deve seguir as instruções do fabricante da na recuperação/renovação de pastagens, tem-se máquina, que normalmente indica o número de furos e mostrado bastante atrativa para o pecuarista, uma vez seu diâmetro, para semear sorgo. O produtor deve-se que, em função do rápido estabelecimento e acúmulo basear, também, nas indicações de densidade e de forragem de boa qualidade da cultura do sorgo, população de plantas (Tabela 3) recomendadas para a possibilita o retorno dos animais à área recuperada cultivar que vai ser plantada e que devem ser fornecidas mais rapidamente (entre 35 e 45 dias após o plantio). pelo produtor de semente. A profundidade de plantio Após dois a quatro ciclos de pastejo, o sorgo encerra recomendada é de 3 a 5 cm. seu ciclo e a forrageira perene passa a predominar na pastagem. Densidades de semeadura para milheto Uma boa semente fiscalizada de sorgo, no Brasil, deve Da mesma forma que o sorgo pastejo, o milheto é uma ter, no mínimo, 75% de poder germinativo (padrão excelente alternativa para a recuperação/renovação de federal). No entanto, as mais conceituadas marcas já pastagens degradadas, produzindo uma grande distribuem sementes de sorgo com padrão mínimo de quantidade de forragem em curto período de tempo, 80%. Portanto, para uma boa regulagem do possibilitando o retorno dos animais mais rapidamente equipamento de plantio, o produtor deve procurar saber à área, destacando-se por sua grande tolerância a qual o padrão de qualidade da semente que está deficit hídrico e por ser uma boa alternativa de cultura adquirindo e exigir o boletim de análise do fabricante ou anual para a “entrada” em áreas de pastagens que distribuidor. Para iniciar o procedimento de regulagem apresentem alto grau de degradação do solo. 3 4 Recomendações de densidades de plantio e taxas de semeaduras de culturas anuais e forrageiras em plantio consorciado Tabela 3. Espaçamento entre linhas, número de sementes por metro, consumo de sementes e densidades de plantas dos diferentes tipos de sorgo, para o estabelecimento do consórcio entre culturas anuais e forrageiras. Tabela 4. Densidade de semeadura e consumo de sementes de milheto em função da finalidade de plantio, para o estabelecimento do consórcio entre culturas anuais e forrageiras. * Normalmente as sementes disponíveis no mercado apresentam VC = 60% A densidade de semeadura do milheto varia de acordo A porcentagem do Valor Cultural (%VC) é uma síntese com a finalidade a que se destina a cultura (Tabela 4). A dos principais parâmetros de qualidade de um lote de profundidade recomendada para a semeadura do sementes. Os resultados dos testes de pureza e de milheto é de 2 a 4 cm. germinação (ou do tetrazólio) permitem o cálculo do VC Taxas de semeadura de forrageira perenes da amostra de sementes, o qual é feito pela fórmula: % VC = (% pureza X % germinação ou % sementes viáveis)/100. O uso de sementes de má qualidade é causa freqüente Assim, a divisão de um determinado número índice de fracasso na formação de áreas de pastagens. Em recomendado (Pontos de VC na Tabela 5), que varia de sistemas de integração lavoura-pecuária, a boa acordo com a espécie, tamanho da semente etc., pelo formação da pastagem é fundamental para garantir uma valor cultural (%VC) do lote de sementes que se boa produção de forragem e uma boa cobertura do solo pretende semear, permite calcular a quantidade mínima no momento da dessecação. Assim, além de uma boa de sementes (taxa de semeadura) daquele determinado distribuição das sementes, as taxas de semeaduras lote necessário para um bom estabelecimento da recomendadas devem garantir um bom estande. Da pastagem. mesma forma, não se deve também “confiar” no banco Exemplo: de sementes da forrageira existente na área da pastagem para uma boa formação, após o plantio da cultura anual, ou seja, deve-se realizar nova semeadura da forrageira. Plantio em sulco de Brachiaria brizantha cv. Xaraés, com recomendação de 350 PVC/ha. % VC da semente encontrada no mercado = 32%. Taxa de Semeadura (kg/ha) = 350/32 = 10,9 kg/ha. Recomendações de densidades de plantio e taxas de semeaduras de culturas anuais e forrageiras em plantio consorciado Tabela 5. Recomendações, em pontos de valor cultural (PVC/ha), das principais forrageiras perenes utilizadas no estabelecimento do consórcio entre culturas anuais e forrageiras. 1 plantio no sulco na profundidade recomendada plantio no sulco misturado ao adubo em plantio simultâneo com a cultura anual. 2 O cálculo da % V.C. pode ser também de grande auxílio adensamentos superficial e subsuperficial são na escolha do lote de menor custo. A divisão do custo/ determinantes na escolha das operações de kg de sementes pela % VC do lote resulta no custo de mecanização e de insumos a serem utilizados. Além cada 1% de VC. Assim, por exemplo, supondo um Lote dos aspectos do solo, a presença de plantas invasoras A, com 40% VC à venda por R$ 5,00/kg e um Lote B, e de cupins de montículo também podem tornar com 20% VC à venda por R$ 3,50/kg, a melhor compra necessário o revolvimento do solo para melhorar a seria o Lote A, apesar do seu maior custo/kg, pois cada qualidade da semeadura. 1% VC do Lote A custaria R$ 0,125, enquanto que, no caso do Lote B, o custo seria R$ 0,175 por ponto de VC, ou seja, 40% mais caro. Considerações sobre o plantio consorciado de culturas anuais e forrageiras Existem diversas alternativas tecnológicas que poderão ser utilizadas para a implantação do consórcio; Caso ocorram problemas no estabelecimento inicial da cultura do milho e seja verificado aumento na pressão de competição por parte da forrageira, deve-se realizar a aplicação de uma subdose em pós-emergência. Geralmente, tem-se aplicado 20% da dose cheia de nicosulfuron. Essa aplicação pode ser realizada juntamente com o herbicida pós-emergente utilizado para o controle das plantas daninhas de folhas largas. entretanto, a escolha das cultivares e a necessidade e Quando o espaçamento entre linhas da cultura anual a época de aplicação de insumos e realização das (geralmente milho ou sorgo) for superior a 50 cm, é operações de mecanização dependem dos objetivos do necessário estabelecer uma ou duas linhas adicionais produtor e do grau de degradação da pastagem/solo. da forrageira perene nas entrelinhas, para melhor Assim, o diagnóstico detalhado da área em questão é formação da pastagem. Existem, no mercado, fator fundamental para o sucesso do consórcio. semeadoras que executam o plantio da cultura anual e Questões como a definição da necessidade de da forrageira perene simultaneamente, distribuindo as corretivos, da necessidade ou não de incorporação e se sementes da forrageira perene na própria linha da o preparo do solo será o convencional ou existe cultura e implantando mais uma ou duas linhas na condições para a realização, já no primeiro momento, entrelinha da cultura. Quando o produtor não tiver do plantio direto deverão ser respondidas por meio de acesso a esses equipamentos, pode-se realizar o informações obtidas no diagnóstico. Nesse diagnóstico, plantio da forrageira perene a lanço ou com plantadeira a avaliação do perfil químico e físico do solo, tais como: apropriada para o plantio de sementes pequenas acidez superficial e subsuperficial; disponibilização de (espaçamento entre linhas entre 17 e 30 cm) e realizar, nutrientes; teor de matéria orgânica; compactação e/ou na sequência, o plantio da cultura anual com a semeadora tradicional para grãos. 5 6 Recomendações de densidades de plantio e taxas de semeaduras de culturas anuais e forrageiras em plantio consorciado Na recuperação/renovação de pastagens utilizando Durante as etapas de conversão da propriedade rural sorgo para pastejo ou milheto como cultura anual, é para SILP, o proprietário deverá qualificar-se, pois o recomendado, após o primeiro ciclo de pastejo (40-45 gerenciamento torna-se mais complexo. Assistência dias após o plantio), realizar a aplicação a lanço de 30 técnica especializada pode contribuir positivamente kg/ha de nitrogênio, para acelerar o estabelecimento da para o diagnóstico, planejamento e gestão da forrageira perene e aumentar o perfilhamento e acúmulo propriedade. de forragem da forrageira anual. As maiores dificuldades para adoção de SILP por parte Áreas de pastagens podem apresentar condições do pecuarista é o seu parque de máquinas geralmente naturais apropriadas para a reprodução e sobrevivência limitado. Por sua vez, o agricultor demandará de insetos que podem comprometer o desenvolvimento investimentos consideráveis em cercas, aguadas e das culturas anuais e da forrageira, principalmente a animais. Em razão disso, acordos de parcerias e cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta) formigas, arrendamentos de terra podem ser uma saída para além das pragas costumeiras do milho e do sorgo. O aqueles que não dispõem de capital para fazer esses tratamento preventivo das sementes de milho, sorgo e investimentos ou não estão dispostos a utilizar as milheto é fundamental para manutenção do estande e linhas convencionais ou especiais de crédito, como o rendimentos desejados.Os inseticidas mais indicados, PROLAPEC/BNDES, implementadas pelo governo de ação sistêmica, são aqueles que têm como base o federal. carbofuran, carbosulfan e o thiocarb. Para as sementes das forrageiras perenes e, como tratamento complementar às sementes das culturas anuais, devem ser utilizados, nas doses recomendadas pelo fabricante, inseticidas à base de fipronil. Considerações Finais Sistemas de integração lavoura-pecuária (SILP), compostos por tecnologias sustentáveis e competitivas foram e ainda estão sendo desenvolvidos e/ou ajustados às diferentes condições edafoclimáticas do país, o que tem possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com redução de custos, geração e distribuição de renda, maior oferta de empregos no campo e Literatura Consultada KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H. Uso da integração lavourapecuária na recuperação de pastagens degradadas. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. (Ed.). Integração lavoura-pecuária. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. p. 183-223. PEREIRA FILHO, I. A.; RODRIGUES, J. A. S.; KARAN, D.; COELHO, A. M.; ALVARENGA, R. C.; CRUZ, J. C.; CABEZAS, W. L. Manejo da cultura do milheto. In: NETTO, D. A. M.; DURÃES, F. O. M. (Ed.). Milheto: Tecnologias de produção e agronegócio. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2005. p. 61-92. diminuição da pressão por abertura de novas áreas para QUALIDADE da semente de forrageira: fator de exploração agrícola. segurança na formação da pastagem. Gado de Corte Divulga, Campo Grande, n. 12, ago. 1995. Comunicado Técnico, 137 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Milho e Sorgo Endereço: Rod. MG 424 Km 45 Caixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas, MG Fone: (31) 3779 1000 Fax: (31) 3779 1088 E-mail: sac@cnpms.embrapa.br 1a edição 1a impressão (2006): 200 exemplares Comitê de publicações Presidente : Antônio Álvaro Corsetti Purcino Secretária-Executiva: Cláudia Teixeira Guimarães Membros: Camilo de Lélis Teixeira de Andrade, Carlos Roberto Casela, Flávia França Teixeira, José Hamilton Ramalho, Jurandir Vieira Magalhães Expediente Revisão de texto: Dilermando Lúcio de Oliveira Editoração eletrônica: Dilermando Lúcio de Oliveira