DOI: 10.4025/jphyseduc.v30i1.3042
Artigo Original
CONHECIMENTOS DECLARADOS POR TREINADORES DE BOCHA
PARALÍMPICA PARA A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL
KNOWLEDGE DECLARED BY PARALYMPIC BOCCIA COACHES FOR PROFESSIONAL
INTERVENTION
1
1
1
1
Daiane Cardoso da Silva , Vinicius Zeilmann Brasil , Juarez Vieira do Nascimento , Filipy Kuhn , Ana
1
2
Flávia Backes e Valmor Ramos
1
2
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil.
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar os conhecimentos de treinadores de Bocha Paralímpica de Santa Catarina para sua
intervenção profissional. Foram adotados procedimentos de pesquisa qualitativa, a partir de estudos de caso múltiplos, com
quatro treinadores com reconhecida competência na formação de atletas de bocha. A coleta foi realizada através de entrevista
semiestruturada e a análise dos dados por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados evidenciaram que os treinadores
valorizaram um conjunto de conhecimentos para sua intervenção, destacando os conhecimentos profissionais sobre as características
dos atletas, os medicamentos e a funcionalidade dos equipamentos. Além dos conhecimentos interpessoais para estabelecer relações
com staffs, auxiliares, pais dos atletas e demais atores do contexto esportivo, os conhecimentos intrapessoais para assumir os papéis
de amigo, psicólogo e familiar dos atletas, foram também indicados como conhecimentos importantes para a sua intervenção
profissional. Conclui-se que a valorização desse conjunto de conhecimentos pelos treinadores de Bocha Paralímpica está
evidentemente relacionada ao elevado grau de deficiência dos atletas.
Palavras-chave: Educação Física e Esporte. Intervenção Profissional. Treinador Esportivo. Bocha Paralímpica.
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze Paralympic Boccia coaches’ knowledge. A multiple case study was conducted with four
coaches from Santa Catarina state of recognized competence in Boccia coaching. Data were obtained by a semistructured
interview, and the analyzed using Content Analysis technique. The findings showed that coaches valued a set of knowledge
for their coaching, highlighted a professional knowledge about the athletes’ characteristics, theirs medicines and, equipment’s
functionality for each athlete. These coaches mentioned an interpersonal knowledge to establish relationships with staffs,
auxiliaries, athletes’ parents and other professional in the sport context. Furthmore, was also indicated by the coaches an
intrapersonal knowledge to assume roles as a friend, psychologist and, athletes’ family. The evidences addressed that
knowledge domains valued by the Paralympic Boccia coaches is linked to athletes’ high level disability.
Keywords: Physical Education and Sport. Professional Intervention. Sports Coach. Paralympic Boccia.
Introdução
Conceitualmente, a intervenção do treinador esportivo tem sido compreendida como
um sistema social complexo1 que envolve uma atividade interacional dinâmica, com
engajamento profundo, do treinador e do atleta2. No caso do treinador de paradesporto, há
uma demanda adicional típica que inclui a compreensão sobre a deficiência dos atletas e
questões de acessibilidade3-5 e a capacidade comunicativa do treinador para estabelecer
vínculos de confiança e criar um ambiente de treinamento favorável ao desenvolvimento
esportivo e pessoal dos atletas6-8.
A prática da Bocha Paralímpica se destaca pelo elevado grau de comprometimento
motor e/ou múltiplas dimensões dos atletas (paralisia cerebral e deficiências severas)9,10,
distribuídos em quatro classes (BC1 à BC4), de acordo com o nível de sua deficiência
comprovado em avaliação funcional11. A obtenção de resultados expressivos nos últimos
anos, com destaque para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, tem
impulsionado a intervenção profissional nessa modalidade em todo o território brasileiro. Nos
diferentes cenários esportivos (educacional/inclusivo e competitivo), a atuação do treinador de
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bocha paralímpica já apresenta relevância social, devido à demanda de qualidade dessa
atividade profissional para o desenvolvimento esportivo de pessoas com deficiência8,12.
Os conhecimentos do treinador esportivo têm sido analisados a partir da intervenção
de treinadores experts, sob a perspectiva conceitual dos Models of Coach13, que apresenta
influências do paradigma investigativo do “pensamento e ação de professores” o qual
contribuiu para o estabelecimento de um conjunto de conhecimentos de base para o ensino da
Educação Física14 e também relevantes implicações no estudo do conhecimento do
treinador15-17. No contexto brasileiro, investigações com treinadores de diferentes
modalidades18-22 têm evidenciado a valorização de conhecimentos específicos do esporte
(técnica-tática), didático-pedagógicos, além de auxiliar na comunicação com os atletas. No
paradesporto, embora se verifique escassa investigação sobre os conhecimentos de
intervenção nessa área, alguns estudos4,5,12,23,24 ressaltam a necessidade de o treinador criar
um ambiente esportivo acessível e receptivo aos atletas, assim como estabelecer relações com
eles, seus pais e outros profissionais envolvidos.
A proposta Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise16 indica três
áreas do conhecimento, a saber: profissional, interpessoal e intrapessoal, que dão base à
eficácia do treinador esportivo. Desta forma, enquanto o conhecimento profissional contempla
os conhecimentos específicos do esporte, dos atletas, das ciências do esporte, da teoria e
metodologia do treino, acompanhados de um conhecimento didático/procedimental, o
interpessoal abrange conhecimentos para o treinador estabelecer relações sociais e o
intrapessoal os conhecimentos do treinador sobre seus valores, filosofias e papéis, e também,
para a reflexão acerca de sua própria prática. Além de auxiliar na definição de conhecimentos
e competências indicados no Quadro de Referência Internacional para a Formação de
Treinadores (versão 1.2), do International Council for Coaching Excellence (ICCE), a
proposta tem potencial em orientar as práticas pedagógicas nos cursos de bacharelado em
Educação Física no contexto brasileiro25.
Embora haja evidências que contribuam para o estabelecimento de uma estrutura
conceitual sobre os conhecimentos do treinador esportivo, inclusive no país17, verifica-se uma
lacuna referente à constatação das semelhanças e especificidades dos conhecimentos do
treinador de paradesporto4,26-28, em particular, do treinador de bocha paralímpica. Assim
sendo, este estudo analisa os conhecimentos de treinadores de Bocha Paralímpica de Santa
Catarina para sua intervenção profissional.
Métodos
Participantes
Adotou-se abordagem de pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e descritivo29,
com procedimentos de estudo de casos múltiplos30. Por meio de consulta à classificação geral
das equipes de Bocha Paralímpica nos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina
(PARAJASC), identificaram-se os cinco treinadores das equipes melhores classificadas nessa
competição, no período de 2010 a 2015, os quais foram consultados sobre os seguintes
critérios de inclusão: a) estar atuando como treinador de Bocha Paralímpica; b) estar
participando de competições oficiais no estado de Santa Catarina; c) ter experiência como
treinador de Bocha Paralímpica; d) apresentar disponibilidade e motivação para participar do
estudo. Destes, quatro foram selecionados (Tabela 1).
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Conhecimentos declarados por treinadores de bocha paralímpica para a intervenção profissional
Tabela 1. Características dos treinadores de Bocha Paralímpica
Treinadores
T1
T2
T3
T4
Idade
55
46
41
36
EA
11
31
7
ETB
11
4
4
8
Formação Acadêmica
Especialização em Educação Física
Especialização em Educação Física
Graduação em Educação Física*
Especialização em Educação Física
Legenda: EA = Anos de Experiência como Atleta em outras modalidades esportivas; ETB = Anos de Experiência como
Treinador de Bocha; * = Graduação em Educação Física em andamento
Fonte: Os autores
Procedimentos
Para a obtenção dos dados, foram utilizados um roteiro estruturado com questões para
caracterização dos treinadores (Tabela 1) e também, um roteiro de entrevista semiestruturada
abrangendo perguntas sobre os conhecimentos dos treinadores de Bocha Paralímpica cujas
questões norteadoras compreenderam: “Quais os conhecimentos você julga necessário para
atuar como treinador de Bocha Paralímpica?”, “Você poderia indicar os papéis que você
acredita exercer como treinador de Bocha Paralímpica?”; “Quais os conhecimentos sobre a
Bocha Paralímpica você julga relevantes para sua intervenção? ”; “Quais os conhecimentos
são importantes para o seu dia a dia de trabalho e para o convívio com outras pessoas neste
contexto?”. Ambos os roteiros utilizados foram elaborados com base em estudo com
treinadores de basquetebol31 e na proposta do Integrative Definition of Coaching Effectiveness
and Expertise16.
As entrevistas foram realizadas pelo mesmo pesquisador, individualmente, com cada
treinador em local e horário determinados conforme a disponibilidade de cada um deles.
Durante as entrevistas, quando necessário, o pesquisador solicitou detalhes e realizou novos
questionamentos, a partir das declarações dos treinadores. As informações foram captadas por
meio de gravador digital Panasonic RR-US550 e armazenadas em microcomputador
institucional e pessoal do pesquisador. As entrevistas tiveram a duração aproximada de 1 hora
e 36 minutos. Os áudios foram transcritos literalmente, com o auxílio do editor de texto
Microsoft Office Word e do programa Express Scribe Transcription.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de
uma Universidade Pública (Parecer de nº. 2.339.580/2017). Os treinadores foram informados
sobre os objetivos e os procedimentos da investigação, tendo assinado voluntariamente os
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a gravação e a divulgação das
informações. Para preservar o anonimato dos treinadores, utilizou-se a combinação de letras e
números (T1, T2, T3 e T4) para identificá-los no texto.
Análise dos dados
A técnica da Análise de Conteúdo32 foi empregada no exame dos dados com o auxílio
do programa QSR Nvivo (versão 11.0.). Na primeira etapa, organizaram-se as informações
relativas às transcrições das entrevistas. Na segunda, as transcrições brutas foram codificadas
em representações de conteúdo, mediante a identificação das unidades de significado que
representavam as categorias de conhecimento previamente definidas (profissional,
interpessoal e intrapessoal)16. Ainda nessa etapa, um conjunto de dados codificados fez
emergir subcategorias específicas em cada categoria de conhecimento. Na terceira, verificouse a frequência das unidades de significado.
Para assegurar a garantia científica dos dados33, adotaram-se os seguintes
procedimentos: checagem pelos participantes, que compreendeu a análise das transcrições das
entrevistas pelos próprios treinadores para verificação se as descrições do investigador
estavam de acordo com as descrições do pesquisador, em que todos confirmaram a exatidão
dos dados. A checagem interpesquisador, realizada por investigadores com experiência no
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tema e em pesquisa qualitativa, que compararam suas interpretações a respeito dos dados, não
havendo discordância entre as análises. E ainda, a checagem intrapesquisador que consistiu na
análise de cada pesquisador sobre suas próprias descrições e interpretações dos dados.
Resultados
Os conhecimentos mencionados pelos treinadores de Bocha Paralímpica são
apresentados na Figura 1 por meio de um Mapa Conceitual34, elaborado com o auxílio da
ferramenta digital CmapTools35.
Figura 1. Mapa conceitual dos conhecimentos dos treinadores de Bocha Paralímpica
Fonte: Os autores
No centro do mapa está o conceito geral “Conhecimentos dos treinadores de Bocha
Paralímpica”, em seguida, encontram-se as áreas de conhecimentos segundo a proposta de
Côté e Gilbert (2009), e na extremidade do mapa estão as subcategorias emergentes
(frequência), advindas das declarações dos treinadores.
Conhecimento profissional
No que diz respeito aos conhecimentos sobre os atletas, os treinadores mencionaram
os aspectos sociais e psicológicos (T1, T3 e T4), as implicações da deficiência no
comportamento do atleta (T1, T2 e T3) e as condições físicas e capacidades funcionais (T1 e
T2). O treinador T1 relatou que conhecer as características da vida do atleta é muito
importante para compreender sua motivação e desempenho, pois:
[...] o principal é conhecer como eles se motivam, de como levantar a moral deles...
às vezes, o cara joga bem, mas está com um problema familiar, não tem namorada...
eu tenho que saber o que está acontecendo para entender a situação do jogo e
conseguir ajudar ele.
Para T4 é relevante entender como seu atleta reage a determinadas circunstâncias do
treino, de modo que é preciso “[...] compreender suas limitações e ter bastante cuidado de
como ele reage diante de críticas ou sugestões... isso vai determinar até que ponto esse atleta
vai avançar ou não... se ele é resistente às sugestões, ele não se abre para a modalidade [...]”.
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Com relação às situações e competições, T1 mencionou que precisa “[...] saber por que ele
ganhou ou perdeu... essa questão psicológica de como eles funcionam para superar os seus
limites, de aceitação, frustação [...]”.
Os conhecimentos acerca das implicações da deficiência no comportamento do atleta,
segundo T2, compreendem “[...] conhecer o tipo da deficiência que ele tem, a característica
histórica e pessoal dele [...]”. Esse entendimento parece influenciar na relação de T2 com os
atletas, porque “[...] no momento que tu conheceste a deficiência, a característica histórica
dele, tens uma conversa com ele, ele trouxe um diagnóstico, o restante vai vir, aí tu vais
começar a agregar outras coisas”. De modo semelhante, T3 relatou que “[...] saber se ele é
muito apressado, se em casa ele é comunicativo, extrovertido, ou se ele não gosta de
brincadeira... isso faz eu tomar cuidado com o que eu falo com ele, para não perder ele”.
Quanto aos aspectos físicos e funcionais dos atletas, a perspectiva de T1 é de que:
“[...] saber a funcionalidade e a questão física do atleta é fundamental para saber até que ponto
você pode exigir dele um determinado movimento”. Na prática desse treinador, isso implica
em questionar “[...] se o atleta domina a cadeira? Se ele tem amplitude legal para pegar uma
bola? Equilíbrio? Se cai o tempo todo? Se tem sustentação?”. No caso de T2, esses
conhecimentos são relevantes na escolha dos equipamentos para a prática, uma vez que:
[...] os equipamentos na Bocha são muito específicos. É diferente quando tu compras
uma bola de futebol que é a mesma bola para todos... se você comprar uma bola que
não é adequada para um BC3 ou BC4, você não vai tirar o melhor rendimento do teu
atleta. Então, você tem que saber como ele vai funcionar para o teu atleta.
Dentre os objetivos estabelecidos para seus atletas, os treinadores investigados
priorizam o desempenho esportivo (T1, T3 e T4), os valores humanos (T3 e T4) e o
reconhecimento social dos atletas (T1 e T3). A ênfase no desempenho esportivo é
estabelecida em vista do nível das competições e dos resultados que estabelecem para seus
atletas, como comentou T3:
[...] são as competições em sequência, o regional sul da sequência para o brasileiro,
brasileiro individual, brasileiro de pares e equipes. Então, a gente tem que traçar um
objetivo... eles têm que ficar entre os três ou quatro primeiros conforme está no
regulamento na questão de competição.
Os objetivos de desempenho necessitam estar de acordo com a classificação funcional
de cada atleta, como mencionou T4, ao dizer que “[...] o objetivo para um BC1 é diferente do
BC4... todos eles têm objetivos, de acordo com a competição ou a meta para o ano”. T1
relatou também que deseja que seu “[...] atleta seja campeão do circuito, mas tem que ser uma
coisa natural”.
A ênfase no desenvolvimento de valores humanos está vinculada à vida social dos
atletas, pois, conforme ressaltou T4, “[...] o objetivo é de formação do cidadão... eu não
consigo ser simplesmente só uma treinadora, não tem como ser assim aqui, tem que ter um
lado humano”. Já a disciplina, a responsabilidade e o respeito são alguns dos objetivos
estabelecidos por T3 para seus atletas de iniciação à Bocha: “[...] em relação aos pequeninhos
é de forma mais lúdica... eu posso cobrar é que eles tenham o mesmo compromisso de chegar
no horário dos treinos, terem responsabilidade com os materiais, que eles sigam as instruções
que eu passo”.
A busca de reconhecimento social dos atletas, para T1, é fazer com que “[...] a família
acredite no filho deficiente, ver que ele é capaz de trazer uma medalha, um troféu... assim ele
passa a ser reconhecido”. Além disso, T3 procura oportunizar aos seus atletas “[...] a
socialização e a interação com outras pessoas e com outras deficiências” para “[...] tirar eles
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de dentro de casa, da ociosidade, de ficarem fechados em uma sala, num quarto, e vir para
fora, mostrar que aquele cidadão que está sentado numa cadeira de rodas tem vida”.
Quanto à medicação dos atletas, os treinadores mencionaram os conhecimentos sobre
os tipos de medicamento e seus efeitos (T1, T2, T3 e T4) e o dopping esportivo (T1, T2 e T3).
O treinador T1 justificou a importância de conhecer os tipos de medicamento e, sobretudo, os
efeitos de sua ingestão ou não, esclarecendo que “[...] o atleta que toma anticonvulsivo,
antidepressivo, diurético, todo o seu organismo está trabalhando em função disso”. Para T3,
dominar conhecimentos sobre os medicamentos e questões clínicas do atleta é uma forma de
prevenção, porque “[...] em viagem com os atletas, eu preciso saber quem toma medicamento
de uso contínuo... para que ele não venha ter alguma crise convulsiva [...]”.
Ao comentar sobre o dopping esportivo, T1 esclareceu que isso não é uma demanda
exigida pelas entidades nacionais da Bocha Paralímpica e que eles não têm “[...] essa lógica
do dopping”. No entanto, T4 relatou que esta é uma exigência nas competições de nível
internacional, pois, nomeadamente, “[...] no Parapan juvenil tinha um atleta BC4 que tomava
mais de nove comprimidos e o principal deles estava no dopping... aí foi toda aquela questão
de mudar ou não a medicação, de verificar com o médico se vai mudar ou não”.
Com relação aos equipamentos para a prática de Bocha Paralímpica, os treinadores
mencionaram os conhecimentos sobre a funcionalidade dos equipamentos (T1, T2, T3 e T4),
a confecção dos equipamentos (T3) e o ambiente de jogo (T2). No que concerne à
funcionalidade, T2 mencionou que a utilidade de cada equipamento depende da condição
motora do atleta:
[...] se o atleta não tem uma alavanca legal, uma empunhadura legal, para poder
soltar a bola, ele vai usar que tipo de capacete? Com uma ponteira só? Rígida ou a
flexível? O que é mais fácil para ele? Só uma pontinha que vai bater na bola? Então,
o equipamento tem que ser funcionar bem para o atleta.
Um aspecto ressaltado por T1 é que determinadas características dos equipamentos
podem facilitar o desempenho dos atletas, pois quando “[...] você adequa para cada um, talvez
a espessura do equipamento tenha que ser maior porque a pegada dele é diferente”, enquanto
que, para o outro, “tem que ser menor porque ele não aguenta peso na cabeça [...]”. T2
acrescentou que se “[...] tiver equipamentos adequados, com certeza o atleta pode ser bom, se
não vai chegar num ponto que ele vai estabilizar, porque tem alguma coisa que inibe, está
desgastante para ele”. Em situações de competição, enquanto T4 mencionou que “[...] saber se
os equipamentos estão bem adequados ao atleta é importante para definir as estratégias
utilizadas para cada jogo, para cada jogador [...]”, T3 destacou a importância de se utilizar
equipamentos que atendam às regras das competições, porque “[...] se chegar na competição e
o atleta tiver que trocar de kit... aí não é o kit que ele treinou, ele vai ser prejudicado”.
Ao abordar os conhecimentos necessários para a construção de equipamentos, T3
relatou que “[...] é importante porque, uma cidade humilde onde eu tenho poucas condições
financeiras para comprar o material, a gente tem que ir improvisando, mas para que ele tenha
uma funcionalidade técnica [...]”. Além disso, conhecer as características e as circunstâncias
que permeiam o ambiente de jogo foi mencionado por T2, ao argumentar que: “[...] quando
você pega um dia que está muito quente ou frio com chuva, a bola é diferenciada, a textura
vai mudar... o chão, as quadras de madeira, as quadras de cimento, também influenciam”.
No que concerne aos conhecimentos teóricos, T1 destaca que “[...] a Bocha não é uma
modalidade diferente das outras, [pois] os princípios do treinamento são os mesmos, você tem
que ver questões de valências físicas, periodicidade do treinamento [...]”. Para ele, há alguns
fundamentos de iniciação esportiva que são úteis à sua prática, já que “[...] não tem um livro
que fale sobre Bocha Paralímpica, mas eu vejo os fundamentos... o voleibol tem os exercícios
de iniciação, eu uso isso e crio exercícios de iniciação da Bocha”. Esse mesmo treinador
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comentou também que é preciso “[...] ter conhecimento de matemática, de física, saber como
usar isso na hora de preparar um equipamento”. Já no caso de T2, “[...] saber sobre
biomecânica é fundamental para saber o que eu posso aprofundar e explorar... um pouco mais
de força, de amplitude”. Nestas circunstâncias, “explorar”, segundo T2, significa “[...] se ele
trabalhar com o cotovelo mais semiflexionado vai ganhar mais força, se ele abrir mais ele vai
ganhar menos, então, é todo um trabalho das alavancas [...]”.
Conhecimento interpessoal
Quanto aos conhecimentos para estabelecer relações interpessoais, os treinadores
mencionaram as relações com profissionais e entidades fora do contexto de treino (T1, T2, T3
e T4), profissionais envolvidos no treino (T1, T2 e T3) e os pais dos atletas (T2 e T4). O
treinador T2 comentou a necessidade de estabelecer relações com profissionais de outras
áreas para acompanhar os atletas em atividades fora do ambiente de treino, porque “[...] eles
têm a natação, fisioterapia, psicologia, que eles fazem fora [...]”, o que também foi relatado
por T3, quando menciona “[...] as parcerias com a universidade na parte de fisioterapia e a
parte de equoterapia [...]”. Esse tipo de relação auxilia na intervenção do próprio treinador e
na dos outros profissionais envolvidos, conforme mencionou T4:
[...] eu tento fazer um trabalho em equipe... uma fisio direcionada, não adianta fazer
só um clínico, porque nem eles gostam...aí eu converso com a psicóloga, eu levo
para ela o que eu sei, para que elas saibam o que está acontecendo, que me ajudem e
que depois eu possa tratar direto com os atletas [...].
Há a necessidade de dominar conhecimentos para interagir e se comunicar com outros
profissionais, especialmente para T1 na construção dos equipamentos, porque “[...] tu
encontras um serralheiro, mas de repente ele não tem a capacidade criativa de fazer um
equipamento, de te dar uma ideia, de discutir contigo como é que funciona [...]”.
Sobre as relações profissionais em situações de treinamento e competição, T3 destacou
as interações “[...] com os próprios staffs dos BC3 e BC1 e os estagiários que vêm no horário
da manhã... a relação com eles é boa, é uma troca também [...]”. T2 mencionou a importância
de conversar com os auxiliares durante os treinamentos, porque, “[...] quando as coisas não
estão indo certo a gente conversa, discute... como foi hoje? Como foi de manhã? Então, a
gente tem essa troca [...]”. Um aspecto positivo das relações com os auxiliares é estabelecer
maior coerência nas orientações fornecidas aos atletas, conforme T1 comentou:
[...] uma coisa que é legal no treino é que tu vais ali e fala uma coisa para o atleta e
no outro dia você não está lá e um outro colega fala a mesma coisa...isso mostra para
o atleta que nós observamos aquilo. Então, quando eles veem que outra pessoa
também veio dar o mesmo toque, aí a consciência é maior, o valor da informação é
maior.
Alguns treinadores investigados também mencionaram as relações com os pais nas
sessões de treino, principalmente pela falta de autonomia dos atletas (T2) e pela necessidade
de buscar maior consenso com os pais sobre a implicação das orientações fornecidas nas
decisões dos próprios atletas (T4). Desta forma, enquanto T2 relatou que quando “[...] os pais
chegam, eu já digo para pegarem todo equipamento, fazer um aquecimento... eles já
direcionam cada atleta no seu box [...]”, T4 comentou que “[...] eu mostro para os pais que
temos que caminhar juntos para a gente se ajudar...senão, eu falo uma coisa no treino, e chega
em casa, o pai manda fazer outra, aí o atleta vai fazer o que o pai falou”.
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Conhecimento intrapessoal
Os treinadores relataram assumir frequentemente os papéis de amigo (T1, T2, T3 e
T4), de psicólogo (T1, T2, T3 e T4) e de familiar (T1, T3 e T4). O papel de amigo emerge dos
relacionamentos estabelecidos com seus atletas em situações para além do contexto de
treinamento da Bocha, conforme destacou T2, ao dizer que “[...] além da função de treinador,
você tem que ser esse outro lado, porque a gente vê a dificuldade que eles têm, as suas
limitações”. Já T1 comentou que se percebe como amigo de seus atletas quando “[...] eu tenho
que escutar o cara, porque levou um fora de alguém, levou um ponta pé no facebook”. Para
T4, esse papel se concretiza na relação de confiança com seus atletas, influenciando em sua
motivação e engajamento nos treinamentos, porque “[...] primeiro tu tem que conquistar eles,
ser amiga deles, muitas vezes eles querem parar... aí eu converso sobre o que que está
acontecendo”.
Sobre o papel de psicólogo, T3 mencionou que “[...] eu sou um psicólogo para os
próprios pais e mães que chegam com dificuldades de casa e eu procuro auxiliar”. De modo
similar, T1 relatou que “[...] eu tenho que ser bastante psicólogo, porque trabalho com
famílias, não só com o atleta... quando é com BC3 e BC1 têm ainda os auxiliares ou os
assistentes”. T4, por sua vez, ressaltou que “[...] nós temos que passar por psicólogos, porque
para mim é terrível quando eles perdem e você fica sem entender onde falhou, porque falhou e
o que faltou”.
Quanto ao papel de membro familiar, T1 comentou a necessidade emergente de
auxiliar seus atletas em tarefas cotidianas:
[...] o Gustavo é um menino que quando a gente leva para competições tem que dar
banho, fazer a higienização dele. Então, eu assumo o papel da família. Isso acontece
na Bocha em específico, o nosso público é muito específico, muito carente em
termos de condições motoras. Então, eu tenho que apoiar e ajudar de qualquer
forma.
A preocupação de assumir esse papel está associada ao comprometimento pessoal de
T3 ao seu contexto de intervenção, porque acredita que “[...] aqui é a extensão da minha
família, a mesma responsabilidade que eu tenho para manter organizada a minha família e
procurar dar uma estrutura [...]”. No caso de T4, ver-se como familiar concretiza-se em
situações que “[...] o atleta já chega brabo... eu tenho que investigar o que está acontecendo...
perguntar, conversar, aí eu vou agir como uma mãezona, chamando a atenção mesmo [...]”.
Discussão
As evidências destacaram os conhecimentos profissionais acerca das características
dos atletas, dos medicamentos e da funcionalidade dos equipamentos utilizados. Destacaramse também os conhecimentos interpessoais para estabelecer relações com profissionais e
entidades ligadas à sua intervenção e os conhecimentos intrapessoais para exercer os papéis
de amigo, psicólogo e familiar dos atletas. A similaridade desses achados com os de
treinadores de modalidades convencionais se dá na valorização dos conhecimentos para
auxiliar os atletas no alcance de objetivos, desenvolver habilidades esportivas, motivar e
fornecer instrução efetiva15,18,22,36. Os conhecimentos sobre a deficiência e a medicação dos
atletas, bem como para estabelecer vínculos de confiança em um contexto de intervenção
multidisciplinar, compreendem algumas das demandas adicionais mencionadas pelos
treinadores de Bocha, igualmente verificadas em estudos com treinadores de outras
modalidades paradesportivas3-5,12,23,24.
Os conhecimentos profissionais sobre as características pessoais, a trajetória de vida e
os tipos de medicação utilizados pelos atletas possibilitam aos treinadores uma compreensão
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detalhada para lidar e se relacionar com eles, e para entender suas reações no desempenho
esportivo e ao receber instruções de treinamento. De fato, o tipo de deficiência e as
características, necessidades e preferências de cada atleta são determinantes na abordagem
adotada pelos treinadores4,12. No caso de alguns treinadores de paradesporto, a ausência de
experiência prévia com indivíduos portadores de deficiência pode justificar a importância
atribuída a esses conhecimentos5.
O desempenho esportivo, o reconhecimento social e o desenvolvimento de valores
humanos são metas enfatizadas pelos treinadores investigados, as quais podem ser facilitadas
a partir da compreensão das especificidades e funcionalidades dos equipamentos utilizados.
Treinadores de natação paralímpica4 e de outras modalidades paradesportivas23 destacam os
objetivos em função do potencial esportivo dos atletas, da criação de um ambiente de
treinamento receptivo e da priorização da autonomia dos atletas.
A capacidade para a adequação dos objetivos de treinamento é fundamental aos
treinadores paradesportivos para o desenvolvimento de aspectos psicossociais4,5,12,23, tais
como os mencionados pelos treinadores de Bocha (motivação, disciplina, comprometimento e
superação), que geram, além disso, implicações nas percepções de boa saúde, controle da dor
e na manutenção da funcionalidade corporal dos atletas12,23. Destaca-se ainda que princípios
gerais de treinamento e iniciação esportiva, assim como de biomecânica, física e matemática,
auxiliam alguns dos treinadores de Bocha a compreender o desempenho esportivo dos
atletas15,22,37 e como eles aprendem de modo efetivo18, e também, a construir equipamentos
adequados à deficiência de cada um deles.
Com relação aos conhecimentos interpessoais, a condição de deficiência dos atletas
exige dos treinadores a capacidade de estabelecer uma rede de trabalho com outros
profissionais, tanto para atender às necessidades do atleta quanto para auxiliar na intervenção
de cada profissional envolvido. Nesse contexto multidisciplinar de intervenção, o treinador
paradesportivo, ao estabelecer relações de confiança com outros profissionais (terapeuta
ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo e nutricionista), assume o papel de mediador das
relações desses profissionais com o atleta e com os pais4. De fato, isso favorece o
desenvolvimento integral dos atletas, permitindo ao treinador uma compreensão abrangente
acerca deles e da família23.
No ambiente de treinamento, as relações dos treinadores de Bocha com os staffs,
estagiários e demais auxiliares proporcionam maior efetividade nas instruções fornecidas aos
atletas e no redirecionamento das estratégias de treinamento, conforme verificado em estudos
anteriores4,23. A falta de autonomia dos atletas para se comunicar, deslocar e estabelecer
relações sociais exige dos treinadores de Bocha uma relação mais direta com os pais dos
atletas. Apesar de apontarem determinada interferência nas instruções fornecidas aos atletas,
reconhecem a confiança e auxílio deles no dia a dia dos treinamentos, tal como apontam
outros estudos6,24, o que permite ao treinador capturar a especificidade das necessidades dos
atletas. De fato, os atletas, seus pais e demais profissionais envolvidos compreendem
importantes fontes de conhecimento aos treinadores no intuito de auxiliar seus atletas a
alcançarem autonomia de vida e sucesso no esporte4.
Quanto aos conhecimentos intrapessoais, os resultados destacaram que o convívio
próximo dos treinadores com os atletas em situações de treinamento e viagens para
competições, bem como o envolvimento em aspectos pessoais dos atletas, fortalecem os laços
de amizade. Estudos indicam que o suporte social do treinador contribui para que os atletas
atinjam um forte senso de identificação com a modalidade que praticam26, níveis mais
elevados de motivação intrínseca e uma maior satisfação com seu próprio desempenho
esportivo38. Particularmente, a confiança, o respeito, a afinidade, as expectativas, os valores e
os objetivos compartilhados, mencionados pelos treinadores de Bocha, dando sentido ao papel
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de amigo assumido por eles, foram igualmente verificados no convívio de treinadores
paradesportivos de rúgbi com seus atletas23.
O papel de psicólogo, na percepção de alguns treinadores, parece emergir da
complexidade do contexto de intervenção, envolvendo os atletas, os pais e os auxiliares. O
uso de medicamentos, a falta de acessibilidade e as dificuldades de interagir com outros
indivíduos compreendem desafios adicionais à rotina dos atletas paralímpicos23, podendo
resultar na tensão psicológica e emocional de todos os indivíduos envolvidos no processo de
treino38. O elevado comprometimento com a intervenção – auxílio que se estende, inclusive, a
situações de higiene pessoal, deslocamento e alimentação −, desperta em alguns treinadores
de Bocha a identificação familiar com os atletas. Por certo, o envolvimento do treinador em
situações para além do ambiente de treino5, em viagens para competições e em atividades
sociais com os atletas, é uma particularidade da intervenção profissional no paradesporto23.
O elevado grau de deficiência dos atletas de Bocha parece justificar a ausência de
menção pelos treinadores de conhecimentos específicos sobre a bocha e pedagógicos para
ensinar essa modalidade, e por outro lado, a centralidade de conhecimentos sobre os atletas.
De fato, o grau elevado de deficiência do atleta exige do treinador uma intervenção mais
individualizada4,5. Os conhecimentos para relacionar-se com os atletas não foram
mencionados pelos treinadores investigados, embora tenham priorizado a proximidade, a
confiança e a familiaridade com os mesmos.
Apesar de o conhecimento profissional representar um corpo de conhecimentos típicos
do treinador esportivo, a qualidade de sua intervenção se fundamenta também em sua
capacidade de introspecção e revisão dos papéis assumidos, nas estratégias desenvolvidas e
em sua abordagem de intervenção. E, além disso, em sua competência para estabelecer
relações sociais16, que são a essência da intervenção do treinador esportivo1,2 e que, no caso
dos treinadores de Bocha, indicam uma complexidade adicional39.
A compreensão das nuances das deficiências de seus atletas, lidar com problemas de
acessibilidade e logística, bem como considerar os estados psicológicos de seus atletas
(satisfação, motivação e confiança) são alguns dos aspectos determinantes na eficácia do
treinador de paradesporto5. De fato, há a necessidade de explorar as concepções dos
treinadores a respeito do treinamento paradesportivo e as consequências disso em suas
abordagens de intervenção e desenvolvimento profissional8. Suas perspectivas individuais
sobre deficiência e treinamento são balizadores de sua filosofia, ações, do que prioriza para
seus atletas, e também dos conhecimentos que valorizam para a intervenção4.
Conclusões
A partir dos resultados, conclui-se que os treinadores valorizaram um conjunto variado
de conhecimentos para a sua intervenção. Os conhecimentos profissionais acerca das
características dos atletas, dos medicamentos e da funcionalidade dos equipamentos utilizados
para a prática Bocha Paralímpica, auxiliam os treinadores a alcançar uma compreensão
detalhada sobre seu atleta, com implicações em suas estratégias de treino, bem como na
motivação dos atletas. Os conhecimentos interpessoais para estabelecer relações com staffs,
auxiliares, pais e demais profissionais, contribuem para que os treinadores promovam um
ambiente de treinamento familiar e de confiança para os atletas favorecendo ao engajamento
dos mesmos nas atividades de treino. A indicação dos papéis de amigo e psicólogo,
impulsionados pela proximidade e confiança entre os treinadores e seus atletas, representa o
conhecimento intrapessoal desses profissionais fundamentais ao comprometimento e
responsabilidades assumidas por estes treinadores. De fato, a valorização de tais
conhecimentos, no caso desses treinadores, é balizada pelo elevado grau de deficiência dos
atletas, bem como pelas circunstâncias que permeiam o contexto de treinamento da Bocha
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Conhecimentos declarados por treinadores de bocha paralímpica para a intervenção profissional
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Paralímpica.
O estudo limitou-se a analisar os conhecimentos declarativos dos treinadores, não
contemplando o modo como esses conhecimentos são operacionalizados na prática
(conhecimento tácito). Além disso, os conhecimentos mencionados pelos treinadores não
foram analisados em função das classes (BC1 à BC2) de seus atletas, podendo, assim, ter
limitado a identificação de alguma especificidade dos conhecimentos declarados pelos
treinadores. Sugere-se a realização de investigações que combinem procedimentos de
observação e entrevista para obter evidências sobre como os conhecimentos desses
treinadores são operacionalizados na prática e quais suas justificativas pessoais para a escolha
de tais procedimentos. No caso da Bocha Paralímpica, a análise contextual da interação dos
treinadores com os atletas, pais e demais profissionais e as estratégias de ensino/treino
empregadas nessa modalidade são aspectos a serem investigados.
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ORCID dos autores:
Daiane Cardoso da Silva: 0000-0002-7596-6083
Vinícius Zeilmann Brasil: 0000-0003-0036-494X
Juarez Vieira do Nascimento: 0000-0003-0989-949X
Filipy Kuhn: 0000-0001-5004-6857
Ana Flávia Backes: 0000-0002-3949-8809
Valmor Ramos: 0000-0002-1659-5702
Recebido em 12/05/18.
Revisado em 26/10/18.
Aceito em 25/12/18.
Endereço para correspondência: Vinícius Zeilmann Brasil. Rua Pascoal Simone 358, Coqueiros – Florianópolis, SC, CEP
88080-350. E-mail: vzbrasil@hotmail.com
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