Artigo Original
Desenvolvimento profissional de treinadores
brasileiros medalhistas olímpicos
Professional development of brazilian coaches olympic medalists
DE SOUZA SOBRINHO AEP, ALMEIDA RF, CARRARA PDS, SANTOS FLP,
MESQUITA I, AZEVEDO JÚNIOR MR. Desenvolvimento profissional de
treinadores brasileiros medalhistas olímpicos. R. bras. Ci. e Mov 2019;27(3):170185.
RESUMO: O estudo acerca do coaching esportivo, apesar de escasso no Brasil, vem mostrando um amplo
desenvolvimento nos últimos anos. Estudos foram realizados principalmente no contexto do desempenho,
no entanto, nenhum destes abordou o desenvolvimento de treinadores brasileiros medalhistas olímpicos.
Este estudo objetivou analisar as situações de aprendizagens realizadas ao longo da vida de treinadores
brasileiros medalhistas olímpicos com o intuito de compreender quais destas possibilitaram aos
treinadores construir e desenvolver os conhecimentos necessários para se engajar efetivamente na sua
prática profissional. Utilizou-se um delineamento descritivo qualitativo do tipo múltiplos estudos de caso.
Os participantes do estudo foram selecionados intencionalmente respeitando os seguintes critérios:
treinadores brasileiros medalhistas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro; mais de dez anos de
experiência como treinador esportivo; disposição para participar do estudo. Aceitaram fazer parte do
estudo, 5 treinadores brasileiros, sendo três treinadores de esportes individuais e dois treinadores de
esportes coletivos. Os dados foram coletados a partir da aplicação da Linha do Tempo e de entrevista
semiestruturada. A análise dos dados foi realizada a partir dos preceitos da Análise de Conteúdo. Os
resultados informaram a utilização de uma variedade de situações de aprendizagens mediadas, não
mediadas e internas. Sendo assim, possibilitaram a identificação de um panorama de formação e
desenvolvimento dos treinadores brasileiros medalhistas olímpicos, qual seja: a) possuem experiência
enquanto atletas nas modalidades que atuam; b) possuem prática enquanto treinadores em outros contextos
de prática; c) são formados em Educação Física; d) frequentaram cursos especializados de curta duração;
e) realizam ações de prática reflexiva deliberada.
Palavras-chave: Desenvolvimento; Situação de aprendizagem; Treinador.
ABSTRACT: The study about sports coaching, although scarce in Brazil, has been showing a wide
development in recent years. Studies were conducted mainly in the context of performance, however, none
of these addressed the development of Brazilian Olympic medalist coaches. This study aimed at analyzing
the lifelong learning situations of Brazilian Olympic medalists coaches in order to understand which of
these enabled coaches to build and develop the knowledge needed to effectively engage their professional
practice. A qualitative descriptive design of multiple case studies was used. The study participants were
intentionally selected according to the following criteria: Brazilian medalists coaches at the Rio de Janeiro
Olympic Games; more than ten years of experience as a sports coach; willingness to participate in the
study. Five Brazilian coaches were accepted as being part of the study, being three individual sports
coaches and two collective sports coaches. The data were collected from the application of the Timeline
and semi-structured interview. The analysis of the data was carried out from the precepts of the Content
Analysis. The results informed the use of a variety of mediated, unmediated and internal learning
situations. Thus, they enabled the identification of a formation and development panorama of the Brazilian
Olympic medalists trainers, which are: a) they have experience as athletes in the modalities that act; b)
practice as coaches in other contexts of practice; c) are trained in Physical Education; d) attended
specialized short courses; e) carry out actions of deliberate reflexive practice.
Antônio E. P. de Souza
Sobrinho1
Rodrigo F. de Almeida2
Paulo Daniel S. Carrara3
Fabrício Luís P. Santos4
Isabel Mesquita5
Mário R. Azevedo Júnior6
1
Centro Universitário
URCAMP
2
Centro de Educação
Física e Desportos da
Universidade Federal do
Espírito Santo
3
Universidade de São
Paulo - Escola de
Educação Física e Esporte
4
Faculdade SOGIPA de
Educação Física
5
Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto
6
Escola Superior de
Educação Física da
Universidade Federal de
Pelotas
Key Words: Development; Learning situation; Coach.
Contato: Antônio Evanhoé Pereira de Souza Sobrinho - antoniosobrinho@urcamp.edu.br
Recebido: 21/11/2018
Aceito: 15/02/2019
171 Desenvolvimento profissional de treinadores olímpicos
Introdução
Sabe-se que em cerca de 200 países, milhões de treinadores, voluntários ou contratados, desenvolvem vastas
oportunidades esportivas para centenas de milhões de participantes1. Qualquer pessoa envolvida com o mundo do
esporte está consciente que os treinadores têm um papel importante e que sua atividade é complexa 2. Sendo assim,
treinadores precisam desenvolver competências de base que incluem conhecimentos relacionados à pedagogia do treino
e conhecimentos específicos do esporte com que trabalham3.
A este respeito, Côté & Gilbert4 sugerem uma definição integrativa da atividade do treinador que foca em três
diferentes frentes: (a) no conhecimento do treinador, (b) nos resultados dos atletas e (c) nos diferentes contextos em que
o treinador está envolvido; esta última determinada como a consistente aplicação integrada dos conhecimentos
profissionais, interpessoais e intrapessoais para melhorar nos atletas a competência, a confiança, a conexão e o caráter
em contextos específicos de treino. Essa definição sugere que a ação dos treinadores seja pautada em conhecimentos
que não se refiram apenas ao domínio da modalidade esportiva, mas também à liderança e à influência de pessoas, bem
como à gestão do próprio conhecimento5.
No entanto, investigações realizadas sugerem que os programas de formação de treinadores existentes, em
contexto mundial, não tem um impacto significante em longo prazo na prática do treinador 6, pois o principal objetivo
desses programas parece consistir em transmitir conceitos e teorias, ao invés de focar em questões práticas e contextuais
da atividade do treinador7,8.
Desta forma, estudos realizados recentemente que tratavam das vias de se tornar treinador 9-13 utilizando uma
perspectiva sociocultural de aprendizagem ao longo da vida 14,15,16 identificaram que as experiências: como atleta, com
outros treinadores, a partir de cursos formais e não formais, com a família e a partir do processo de reflexão das
experiências, são as vias potenciais para moldar o processo de aprendizagem dos treinadores. Além disso, Mesquita 8
destaca a aprendizagem pela interação com os outros no contexto de prática enquanto fonte prioritária de conhecimento
profissional, pois a atividade do treinador decorre pela (e na) interação humana em contextos concretos, com
características idiossincráticas, complexas e imprevisíveis8.
Segundo Callary, Werthner & Trudel10, importa sobremaneira entender o processo idiossincrático de se tornar
um treinador de alto nível, ou seja, o tipo de influência subjetiva (e objetiva) dos diversos agentes, percebida pelos
treinadores através desse processo de aquisição de conhecimento. Portanto, além de verificar a formação, importa
recorrer-se à trajetória de desenvolvimento em longo prazo de treinadores de alto nível, para que se possa compreender
de que forma e em que ponto se deram as situações de aprendizagem mais significativas para o seu desenvolvimento.
Na literatura internacional do coaching esportivo7,17,18 já há propostas de modelos de desenvolvimento
necessários para o alcance do alto nível de treinadores esportivos, os quais informam mais do que a necessidade da
formação formal e mediada para o alcance do alto nível, destacando o aprendizado experiencial.
No Brasil, as vias de formação de treinadores esportivos têm sido evidenciadas, principalmente nos cursos de
bacharelado em Educação Física/Esporte19, além das Confederações esportivas e do Comitê Olímpico Brasileiro 20, com
exceção dos treinadores de futebol que contam com legislação específica21. No entanto, particularmente no caso do
Brasil, as investigações em torno desta temática têm vindo a evidenciar a existência de uma formação desconexa com a
necessidade dos treinadores19, além da falta de sistematização e estrutura educacional dos cursos oferecidos pelas
federações22.
Sendo assim, busca-se aprofundar a temática que envolve as vias para se tornar um treinador de alto nível no
Brasil, e por isto, o objetivo do estudo foi analisar as situações de aprendizagens realizadas ao longo da vida com o
intuito de compreender quais destas possibilitam aos treinadores construir e desenvolver os conhecimentos necessários
para se engajar efetivamente na sua prática profissional.
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DE SOUZA SOBRINHO et al.
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Metodologia
Foi utilizado um delineamento descritivo qualitativo do tipo múltiplos estudos de caso. Este delineamento,
além de ter sido utilizado no contexto do coaching esportivo23, permite o estudo de um ou de pouco objetos, de forma
profunda e exaustiva, e que detalhe e amplie o seu conhecimento24.
A população do estudo foi formada por treinadores brasileiros de alto nível, ou seja, aqueles que estimulam o
talento e maximizam os níveis de desempenho de atletas aspirantes e de elite 25.
Os participantes do estudo foram selecionados intencionalmente respeitando os seguintes critérios: treinadores
brasileiros medalhistas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro; mais de dez anos de experiência como treinador
esportivo; disposição para participar do estudo.
Após contato realizado por diferentes meios (e-mail, telefone, via federação e redes sociais), aceitaram fazer
parte do estudo cinco treinadores brasileiros (Tabela 1), sendo três treinadores de esportes individuais e dois treinadores
de esportes coletivos. A estes treinadores, foi enviada uma carta de apresentação do estudo, e foi acertada a
operacionalização para a coleta de dados.
Tabela 1. Caracterização dos Participantes.
Treinador
Esporte
Idade
Experiência
Resultado
T1
Individual
43
17 anos
Bronze
T2
Coletivo
44
22 anos
Ouro
T3
Individual
59
29 anos
Bronze
T4
Coletivo
50
32 anos
Ouro
T5
Individual
50
32 anos
Ouro
Fonte: pesquisa direta. Elaborado pelos autores. Resultado nos Jogos Olímpicos 2016.
As coletas de dados se deram entre os meses de novembro de 2017 a setembro de 2018. As entrevistas foram
realizadas nos seus locais de trabalho, conforme disponibilidade dos treinadores.
A coleta de dados contou com duas estratégias. A primeira, a utilização da Linha do Tempo de Rappaport 26,
permitiu a exploração dos marcos de vida do treinador com relação aos objetivos traçados para o estudo, e serviu como
guia para a estratégia seguinte, a realização de uma entrevista semiestruturada. A opção pela Linha do Tempo se deu em
razão da entrevista utilizada como único instrumento poder dar uma visão enviesada do entrevistado27.
A linha do tempo foi utilizada a partir da seguinte instrução 28, qual seja, utilizar a folha demarcada com uma
linha horizontal indicando o nascimento e o momento atual, em partes opostas da folha, apontando os eventos, as
pessoas, os fatos e contextos mais importantes na sua trajetória para se tornar treinador, indicando os anos que
aconteceram tais marcos. Como segunda estratégia, a entrevista semiestruturada auxiliou no desenvolvimento dos
objetivos propostos para este estudo, a qual obedeceu a um roteiro pré-determinado. Primeiramente foram feitas
perguntas abertas, tais como: “Quais experiências pessoais você acredita que foram determinantes para que alcançasse
este nível de trabalho?” Em segundo instante foram feitas perguntas direcionados aos temas específicos. A entrevista foi
gravada em áudio e transcrita posteriormente para sua análise.
A análise dos dados foi realizada através de Análise de Conteúdo 29, um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.
A análise das informações permitiu a identificação de temas específicos dentro de cada categoria definida a
priori (situações mediadas, situações não mediadas e situações internas de aprendizagem), possibilitando nortear a
elaboração das perguntas e um maior detalhamento das percepções dos treinadores. As informações obtidas foram
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interpretadas e classificadas em conformidade com a proposta de Trudel, Culver e Werthner30 relacionadas às situações
de aprendizagem, pois além de avançar no entendimento da aprendizagem enquanto um processo individual permite a
discussão da aprendizagem a partir do ponto de vista dos treinadores e daqueles indivíduos encarregados em fornecer os
contextos de aprendizagem adequados aos treinadores.
Mesquita et al.31 referem que as situações mediadas são aquelas propostas por outra pessoa, como o caso dos
cursos de formação. O material a ser aprendido é decidido e dirigido por uma pessoa que não seja o aluno32. Já as
situações não mediadas são definidas pelo aprendiz, ou seja, o aprendiz é quem assume a responsabilidade sobre o que,
como e quando vai aprender32. Por fim, durante as situações internas de aprendizagem o aprendiz engaja-se num
processo de reflexão sobre as novas informações, tendo por referência em concomitância experiências vivenciadas,
reconsiderando as ideias pré-existentes31. Portanto, as categorias de análise foram relacionadas às situações de
aprendizagens mediadas, não mediadas e internas.
Para averiguar a credibilidade descritiva e interpretativa dos dados, realizou-se a checagem pelos participantes,
cujas descrições foram enviadas aos sujeitos para que se manifestassem sobre a veracidade delas, reconhecendo-as e
confirmando-as33.
Frisamos que a pesquisa foi desenvolvida com o consentimento de todos os treinadores envolvidos, através do
preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Além disso, obtivemos a aprovação de seus propósitos
e procedimentos junto ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Educação Física, da Universidade Federal
de Pelotas (CAAE No – 75923314.4.0000.5313).
Resultados e discussão
Referentes aos resultados encontrados neste estudo, optamos por descrevê-los e discuti-los de acordo com as
situações de aprendizagens dos treinadores participantes deste estudo. Por esta razão, os descrevemos em três
categorias: situações mediadas, situações não mediadas e situações internas de aprendizagem.
Situações Mediadas de Aprendizagem
A respeito dos resultados encontrados em relação às situações mediadas de aprendizagem experimentadas
pelos treinadores participantes deste estudo, encontrou-se que todos possuíam formação acadêmica em Educação Física
e, ainda, haviam participado de alguns cursos oferecidos pelas federações (T2, T3) e Comitê Olímpico Brasileiro (T1,
T4).
Os resultados encontrados para esta tipologia de situação de aprendizagem vão de encontro com os achados de
Gilbert, Cote & Mallett34 que, ao analisarem treinadores de sucesso, encontraram pouco tempo despendido à educação
formal. Nessa mesma linha, o estudo de Souza Sobrinho et al.35, que revisou sistematicamente a literatura sobre as
fontes de aprendizagem dos treinadores brasileiros, encontrou que os cursos de formação acadêmica e os cursos de curta
duração foram as situações de aprendizagem mais valorizadas pelos treinadores brasileiros nos estudos analisados. O
que revela no Brasil, uma lógica formativa baseada no apelo a situações mediadas de aprendizagem.
Apesar deste tipo de formação não ser valorizada fora do Brasil, pois não atendem as necessidades dos
treinadores36, na verdade, percebe-se que devido à legislação brasileira, é imperativo que os treinadores completem a
sua graduação acadêmica para o exercício da profissão37, ou seja, a formação possui um caráter acadêmico 23,38. Todavia,
tais cursos ainda não são muito estabelecidos para a formação de treinadores de desempenho 6.
De fato, percebe-se na fala do treinador T4 que a formação acadêmica pareceu não suportar sozinha, o seu
desenvolvimento enquanto treinador.
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DE SOUZA SOBRINHO et al.
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[...] quando eu entrei na faculdade eu vi que só a faculdade não ia me dar o que eu queria. Acho que a
faculdade, ela tem um foco voltado mais geral. Aqui no estado, na minha época, ainda tinha um pouco mais
de treinamento, mas não nos dava assim, conhecimento suficiente pro trabalho em alto nível, mas me
despertou muita coisa [...] (T4).
Isto pode ser devido, tanto ao caráter multidimensional dos cursos de bacharelado brasileiros, os quais tendem
a ter uma formação mais generalista nos campos da saúde, lazer e desempenho esportivo 38, e ainda, centradas no
instrutor19, quanto ao seu caráter prescritivo em detrimento do trabalho com questões práticas e contextuais da
atividade7,8.
Além disto, Milistetd et al.5 informam que as federações esportivas oferecem cursos de certificação para
profissionais de Educação Física e desenvolvem conteúdos específicos direcionados à intervenção do treinador de
rendimento em diferentes níveis de atuação. No entanto, são poucas as federações esportivas que possuem programas
sistematizados para a formação de treinadores, e que entre elas não há uma estrutura educacional comum 22.
Esta perspectiva de formação parece ser redutora e está alheia às necessidades formativas do treinador na
medida em que as aulas decorrem, sobretudo, em contexto de sala, longe das questões práticas e contextuais da
atividade, e não consideram verdadeiros problemas do treinador 7,8. Como refere Jones39, a atividade do treinador
desenvolve-se em contextos repletos de ambiguidade e complexidade, devendo a sua formação contemplar estes
ingredientes, uma vez que, sem os mesmos, a formação é descontextualizada e redundantemente abstrata 8.
Por esta razão, Trudel, Culver & Werthner30 sugerem que as situações mediadas devem considerar a seleção da
quantidade de material de ensino e as formas de avaliação; a seleção de quem irá conduzir a aprendizagem; o
fornecimento adequado de informação para situar o material de ensino; o agrupamento de treinadores com biografias
similares; e, ainda, a oferta de programas de formação online. Ademais, Mesquita et al.40,8, destacam que os cursos de
formação precisam ajustar seus programas e oferecer experiências de aprendizagens variadas para incentivar uma
prática mais crítica e criativa, pois de fato os treinadores sentem a necessidade das suas aprendizagens serem situadas
em demonstrações práticas e discussões em que o aprendiz e o professor trabalham colaborativamente para facilitar a
compreensão das aplicações do conteúdo do programa à sua atividade prática41.
No contexto nacional, Milistetd et al.5 apresentaram algumas orientações para sistematização das práticas
pedagógicas ao longo do curso de bacharelado em Educação Física, revelando a necessidade do estudante “aprender a
aprender”, “aprender a refletir”, definir visão e estratégia, desenvolver capacidades de organizar ambientes de atuação e
condução de práticas, e construir soluções no campo de ação.
Além disto, reconhecendo a importância da utilização de metodologias ativas, Mesquita et al.2, a partir de um
estudo onde analisaram a percepção dos treinadores experts sobre as estratégias de enriquecimento da formação de
treinadores portugueses, sugerem a utilização de estratégias de ensino indiretas baseadas no aprendiz, as quais
estimulem o entusiasmo e a confiança, levando-os a engajar-se mais ativamente no próprio aprendizado e,
consequentemente, pensar e agir de maneira mais autônoma.
Portanto, mais do que a necessidade de cursos prescritivos, verifica-se a urgente necessidade de reformulação
das estratégias formativas, de forma que se leve em consideração metodologias mais ativas, as quais permitam
possibilitar reflexões mais profundas acerca do que se está aprendendo e levem em consideração as experiências
anteriores.
Situações não mediadas de aprendizagem
Com relação às situações não mediadas vivenciadas ao longo do desenvolvimento profissional dos treinadores
deste estudo para alcançar o alto nível, verificou-se nos treinadores brasileiros medalhistas olímpicos, uma trajetória
diversificada baseada em experiências enquanto atleta, experiências profissionais, experiências com a família, o recurso
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à leitura autodirigida, e ainda, a troca de informação com os pares.
Experiência Enquanto Atleta
A experiência enquanto atleta foi verificada na fala de todos os treinadores. O Treinador T1 discorre sobre o
assunto, destacando o sonho que tinha quando atleta de participar de uma olimpíada. O treinador T4 destaca a questão
da vivência das situações esportivas no processo de se tornar treinador. Já o treinador T3, relata sua experiência de
determinação com um antigo treinador.
Então, eu acredito que, eu acho que tudo começa com um sonho. Quando eu treinava eu tinha o sonho de ir
para a olimpíada, e que na época era o auge de um atleta [...] não consegui realizar quando atleta, por
dificuldades financeiras da modalidade na época, burocracias, panelinhas, uma infinidade de fatores aí que
acabavam prejudicando [...] então a partir do momento que você não tem condições de ir como atleta, eu parti
com um outro sonho, de ir como treinador (T1, p.3).
Eu acho que o meu período de atleta foi muito importante por que o aprendizado é muito importante, você
vivencia muitas situações no dia a dia dos treinos, do dia a dia das competições [...] uma vivência sobre
aquele nível de ansiedade, sobre a organização, sobre a motivação por uma competição dessas [...] Então a
vivência como atleta me ensinou muita coisa que eu consegui depois, de certa forma, usar como experiência
no trabalho quando eu comecei a me tornar técnico (T4).
A experiência pessoal que eu tive foi na minha infância, na minha formação enquanto garoto [...] com um
professor muito rigoroso. Treinava todos os dias, de 2ª a sábado, 3h30min, 4h, e isso foi um ensinamento
muito valioso que me ajudou para o resto da minha vida [...] enquanto atleta e, posteriormente, como técnico
(T3).
Ainda com relação às experiências vivenciadas enquanto atleta, os treinadores T1 e T4 informam que a relação
com antigos treinadores, no sentido de ter um papel ativo na tarefa de ser atleta, foi importante na sua formação
enquanto treinador.
[...] quando eu era atleta ainda, eu era meio que o capitão do time, tinha uma certa liderança na equipe e eu
tinha uma função dentro da equipe que eu ajudava o técnico com ideias. Eu era o levantador do time, que tem
a função de organizar a equipe no ataque. Então eu tinha uma função meio que de técnico dentro de quadra, e
aquilo me fazia olhar o que principais equipes faziam e estar sempre buscando estar mais próximo do que de
melhor se fazia no Brasil e até fora (T4).
O fato de ter sido atleta auxiliou muito na parte técnica. O que eu tive de aprendizado com meus dois extreinadores foi fundamental pro meu trabalho e pro meu desenvolvimento como treinador. Eu não copiei o
que eles fizeram, eu aprendi o que eles fizeram e transformei a minha maneira, a maneira que eu acredito que
poderia ser melhor [...] procurei fazer algumas adaptações [...] se adequando ao meu local de trabalho, aos
atletas que eu tinha e a cultura do nosso país. Por que a gente vive numa cultura totalmente diferente de onde
um dos meus treinadores fez estágio. Ele fez estágio na Rússia [...] top da modalidade no mundo na época, e
com certeza uma cultura totalmente diferente da nossa, então é difícil você aplicar o mesmo trabalho feito lá
[...], então você tem que fazer uma adequação pra se encaixar direitinho no que você tem aqui em mãos (T1).
Além disso, os treinadores T1, T2, T3 e T5 consideraram as experiências na competição importantes. O
treinador T3 destacou os níveis estaduais de prática, o treinador T2 e T5, os níveis nacionais, e o treinador T1 níveis
sul-americano e mundial. Na fala do Treinador T4, pode-se ver claramente o destaque dado por este treinador à
competição como forma de aprendizado.
[...] eu disputei um brasileiro com 8 anos de idade, que eu acho que até que isso foi mudado corretamente, por
que é muito novo. Mas de qualquer forma foi uma experiência, uma vivência sobre aquele nível de ansiedade,
sobre a organização, sobre a motivação por uma competição dessas, e a preparação pra uma competição
dessas. Então essa vivência de competição, o que o atleta sente, a ansiedade de competir, lidar com
sentimentos durante uma competição importante, o treinamento em si. (T4).
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Quando se recorre a um marco teórico baseado na aprendizagem ao longo da vida 14,15,16, parece imprescindível
perceber, em virtude, principalmente, da natureza complexa e dinâmica dos contextos e circunstâncias onde o treinador
exerce a sua função42, a aprendizagem de forma mais robusta, baseada nas experiências durante a vida, pois segundo
Jarvis19 o indivíduo está em constante transformação a partir da experiência de situações sociais.
Além do mais, segundo Werthner & Trudel43, a identificação das fontes de informação é certamente importante
na assunção de como os treinadores aprendem. No entanto, os mesmos autores colocam que essa informação é de pouca
utilidade se não estendermos a pesquisa para explicar as variações ou idiossincrasias que parecem prevalecer nos
caminhos de aprendizado dos treinadores em diferentes contextos de coaching.
Realmente a prática enquanto atleta tem sido universalmente reconhecida como a forma de aprendizado que
mais informou as práticas dos atuais treinadores de alto nível 44, pois foi reconhecida, com poucas exceções, em
treinadores de alto nível ao redor do mundo 7,34,45,46, assim como em solo nacional23,47,48-56.
Rynne, Mallett & Rabjonhs44 argumentam que durante o tempo em que são atletas, os futuros treinadores estão
realmente utilizando um tipo de aprendizagem por observação, por meio do qual eles são observadores e receptores da
prática de treinamento, tornando-se familiarizados com muitos dos aspectos técnicos do treinamento, bem como da
cultura da atividade do treinador. Esta assimilação tanto pode ser positiva, ao facilitar a transição para a carreira de
treinador, como negativa, ao inibir a inovação se a cultura em que está inserido for resistente a mudanças. Além disso,
parece possível que os treinadores ao utilizarem-se da aprendizagem por observação, podem trazer alguns vícios e erros
cometidos por seus treinadores, o que pode fazer com que a prática destes treinadores seja balizada por conteúdos
obsoletos, ou mesmo de uma cultura diferente daquela em que está inserido. Na fala do treinador T1, há o destaque para
a adequação deste tipo de conhecimento ao seu ambiente de trabalho.
[...] Eu não copiei o que eles fizeram, eu aprendi o que eles fizeram e transformei a minha maneira, a
maneira que eu acredito que poderia ser melhor [...] procurei fazer algumas adaptações [...] se
adequando ao meu local de trabalho, aos atletas que eu tinha e a cultura do nosso país. (T1)
Experiências Profissionais
Diversas experiências profissionais foram relatadas pelos treinadores no seu processo de desenvolvimento ao
longo da vida. Pode se verificar num primeiro momento o destaque à atividade com categorias de formação na fala de
todos os treinadores T3 e T1, conforme excertos apresentados a seguir.
A experiência muito válida pra mim foi como professor na prefeitura de São Bernardo do Campo atuando
como professor de escolinhas né, ensinando [...] para criançadas menores e ensinando também é, outras
modalidades como natação, o basquete, volei, principalmente a iniciação (T3).
Acredito que você tem que ter uma bagagem, vir de baixo [...] eu acredito que fiz da forma correta, entendeu?
Comecei com escolinha, garotos pequenos, garotos bons, garotos ruins, menina, menino, baby, adulto (T1).
O treinador T2, além de entender como importantes as experiências enquanto treinador de categorias de base,
reitera que precisou de outros tipos de conhecimento de caráter acadêmico também.
As experiências que eu tive enquanto treinador das categorias de base do clube que trabalhava na época foram
fundamentais, mas outras áreas como psicologia, fisiologia, treinamento desportivo são necessárias para o
alcance do alto nível (T2).
O treinador T4 informa ainda a experiência prática que teve enquanto treinador de um atleta de alto nível no
início da carreira.
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[...] minhas experiências como técnico tentando tirar o máximo da equipe que ali é um aprendizado grande.
Como você vai trabalhar com cada atleta de forma diferente, faixas etárias, isso me deu um aprendizado
muito grande [...] e trabalhar com um atleta de alto nível, isso me deu um nível de confiança muito alto [...]
me permitiu participar de competições muito importantes, tendo resultados altos, me deu confiança para
seguir no trabalho [...] (T4).
Outro ponto destacado relacionado às experiências profissionais enquanto constituintes do processo de
desenvolvimento dos treinadores foi a possibilidade de realizar estágios com treinadores e equipes estrangeiras, presente
na fala do treinador T1 e T5.
Então quando você vai pra fora e convive com outros atletas, outras equipes e outros treinadores, acredito que
essa seria uma das maiores evoluções que a gente tem como treinador assim, tá acompanhando uma equipe de
ponta. Você vai pro local de treinamento de uma equipe de ponta, Japão, Grã Bretanha, Estados Unidos,
como a gente fez no último ciclo, você tem uma evolução muito grande ali, técnica [...] essa é uma das partes
que você mais evolui tecnicamente [...] (T1).
Acho que foram os desafios olímpicos, acho que foram os treinamentos no exterior. Agora por exemplo, este
ano estive no Japão e estive na Geórgia, duas escolas muito distintas e duas escolas muito vitoriosas (T5 ).
A partir dos resultados pode se verificar que as experiências profissionais enquanto treinadores foram
destacadas por todos os treinadores participantes deste estudo, situação semelhante do ocorrido nos estudos realizados
com treinadores brasileiros no contexto de desempenho 23,49-56 e treinadores estrangeiros57,58,34,59,60,46.
Desta maneira, diferentemente dos treinadores formados pelos cursos de bacharelado no Brasil, os quais têm
suas primeiras experiências profissionais no contexto universitário 19, parece não haver dúvida que os treinadores de alto
nível relacionam as experiências durante o trabalho, ou seja, durante a prática enquanto treinadores, como estratégias
importantes para o seu desenvolvimento.
Todavia, como as experiências prévias como treinadores são variadas e idiossincráticas, não podem ser
baseadas apenas no volume destas experiências. Portanto, a qualidade, mais do que a quantidade, destas experiências é
essencial44.
Já há algum tempo que se discute que a experiência desempenha um papel central no impacto na prática dos
treinadores61. Além disso, baseado tanto nos estudos nacionais quanto internacionais, e ainda nos nossos resultados, fica
claro que os constrangimentos da prática devem ser levados em consideração para o desenvolvimento dos treinadores
esportivos.
Reforçando o exposto, Mesquita et al.31 examinaram a perspectiva de treinadores experts portugueses
relacionada às fontes de aprendizagens percebidas como importantes para promover um desenvolvimento a longo prazo
e destacaram a consciência dos participantes sobre a singularidade da sua formação, enfatizando a importância de
envolver-se com uma variedade de experiências de aprendizado, tais como formação vocacional (promoção de
aprendizagem experiencial), aprendizagem através da interação com treinadores, colaboração com especialistas,
observação de outros treinadores e orientação (informal e formal) foram apontados pelos treinadores entrevistados,
confirmando uma tendência já manifestada na pesquisa de coaching.
Da mesma forma, recentemente, Milistetd et al.62 analisaram a percepção de treinadores aprendizes com
relação à contribuição das atividades de aprendizagem vivenciadas na sua formação num curso de bacharelado e
constataram que, apesar das aulas teóricas terem sido consideradas importantes, as atividades de aprendizagens práticas
pareceram ser mais significantes, pois possibilitaram o encontro com o mundo real da atividade do treinador, com os
problemas e dilemas da prática.
Desta forma parece claro a necessidade de uma maior aposta na formação insitu, ou seja, que leve em
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consideração os contextos de prática de onde emanam os verdadeiros problemas que oferecem aos treinadores
oportunidades ricas e singulares de desenvolvimento profissional.
Experiência com a Família
Outra situação não mediada destacada na fala da totalidade dos treinadores foi a experiência com a família,
tanto num sentido de relacionamento interpessoal, como visto na fala do Treinador T3, como num sentido de apoio às
práticas e motivacional (Treinador T2, T4 e T3)
[...] a família é a base pra tua vida, onde você se baliza principalmente em alguns fundamentos como respeito,
disciplina, caráter, como você convive com outras pessoas. E todo relacionamento convém da minha
formação familiar (T3).
Quando novo eu fui incentivado a praticar esportes [...] e eles sempre me deram a liberdade de fazer as
minhas escolhas, nunca me pressionaram que tipo de escolha eu ia fazer. Eu passei para administração de
empresas na universidade federal aqui com 16 anos, então era bom aluno. A minha opção por Educação
Física foi uma opção consciente, de uma coisa que eu queria fazer. Sabia que ia ser um curso muito difícil em
termos financeiros [...] mas a vontade de mexer com aquilo ali falou mais alto e minha família nunca me
questionou [...] sempre me apoiou. (T4)
Acredito que os primeiros apoiadores de um sonho vêm da família. A família que vai te levar, vai te buscar,
vai te dar o suporte, vai te sustentar [...] a maior contribuição vem da família, em apoio tanto psicológico,
fazer com que você vá treinar, fazer com que você vá praticar, fazer com que você, te obrigue a ir pro ginásio,
te apoia, te motiva [...] a família é fundamental para qualquer resultado (T1).
As aprendizagens através deste tipo de relação com a família são capazes de proporcionar ao indivíduo os
primeiros contatos com a cultura do esporte, através principalmente, da construção de conhecimento, crenças e valores,
o que Jarvis14 denomina de socialização primária, a qual ocorre através da interação com outros e auxilia a determinar a
forma com que se percebe e vivencie o mundo.
Desta forma, infere-se que os treinadores participantes deste estudo podem ter sido influenciados de certa
maneira a serem praticantes esportivos, a apresentarem o gosto pela prática esportiva, requisito importante para a
continuação no universo esportivo, o que também foi encontrado em alguns estudos brasileiros.
Ao analisarem a trajetória de um treinador de futebol e acessarem, a partir de suas experiências, relações de
interdependência relevantes para sua formação e atuação profissional, Talamoni, Oliveira e Hunger 63 encontraram a
influência da família no que concerne ao ingresso e continuação na prática esportiva.
Ramos et. al.64, também informaram que as primeiras experiências dos sujeitos do seu estudo sobre o surfe
ocorreram a partir de situações de lazer de verão, em ambiente natural, proporcionadas por relações sociais mais
imediatas, especificamente, através de pais, parentes e amigos.
No estudo de Rodrigues et al.50 que buscou investigar as fontes de conhecimento que sustentam o processo de
formação e o desenvolvimento profissional de treinadores de jovens atletas de basquetebol, os autores encontraram que
a emergência de conhecimentos, crenças e valores na fala dos treinadores parece indicar um processo formativo
sustentado pela apropriação de conhecimentos profissionais, com base científica, mas que ainda permanece fortemente
arraigado aos saberes experienciais, aos saberes que se adquire pela imersão na cultura esportiva, ancorados em outras
racionalidades que não a científica.
Realmente, os resultados encontrados em nosso estudo parecem confirmar o que foi sugerido por Ramos et
64
al. onde as interações com a família podem promover a inserção no esporte, influenciar ao longo da trajetória de vida
e nas decisões pedagógicas enquanto treinador e, portanto, tais experiências podem fazer com que haja o acumulo de
experiências que influenciam as ações dos treinadores.
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179 Desenvolvimento profissional de treinadores olímpicos
Leitura autodirigida e troca de informação com os pares
Pode-se perceber também a contribuição da utilização de leitura autodirigida (treinador T1, T4 e T5) e a troca
de informação com os pares (Treinadores T3, T4 e T5), enquanto situações não mediadas de aprendizagem nos
treinadores brasileiros de alto nível.
[...] normalmente é no meio do qual nós estamos envolvidos, a gente busca informações com seus colegas da
área, professores de Educação Física, estudiosos [...] (T3).
A gente é muito falho em fontes de informação. Não temos muitos livros, não temos muitos estudos, não
temos, como podemos dizer, muita coisa na literatura, não tem, é muito pouco [...] eu acredito que fonte de
informação é o teu dia a dia. Um dia após o outro, é um erro aqui, um acerto ali, entendeu? [...] Eu posso te
dizer que o que mais me ajudou em termos de literatura [...] foi relacionado a gestão de pessoas. Eu li e
continuo lendo bastante livros, principalmente, motivacionais, trabalho em equipe, liderança. Todos esses
livros relacionados à liderança, entende? (T1).
[...] a maior parte do tempo eu procurei ler o máximo que pude em termos de livros na época que saiam [...] o
caminho era buscar nos livros e nas minhas experiências com outros técnicos. Então eu tentei aproveitar o
máximo isso, experiências com outros técnicos, conversar com atletas, atletas que eu conhecia e jogavam em
outros lugares, informações sobre treinamentos, sobre como se dava o treinamento, assistia treinamento de
outros técnicos, ver a seleção brasileira treinar. Então tentava entender o que eles estavam fazendo e quais
eram os objetivos, pra tentar transferir aquilo no meu treino (T4).
Relativamente à leitura autodirigida, percebe-se que este recurso foi impulsionado pela necessidade de
atualização na sua área de atuação (Treinador T1 e T4), ou seja, através de um esforço pessoal dos treinadores para
aprender.
Nelson, Cushion & Potrac60 indicam que a utilização deste tipo de estratégia para aprender é, de fato, mais
dependente de uma iniciativa pessoal do treinador, que ocorre à medida que este busca soluções para resolver
problemas ou dilemas da prática no ensino.
Em outros estudos com treinadores brasileiros, o recurso às leituras autodirigidas também foram encontradas
esparsamente. No estudo de Ramos et al.23 o qual tinha como objetivo examinar as representações dos treinadores sobre
como aprenderam a ser treinadores, apenas um dos quatro treinadores participantes do estudo havia recorrido à leitura
de livros. No estudo de Barros et al.48, o qual objetivou identificar as fontes de conhecimento de treinadores de ginástica
artística, dos 8 treinadores entrevistados, dentre uma diversidade de fontes informais de aprendizagem, apenas dois
treinadores utilizavam da leitura autodirigida.
Isto parece supor que talvez, devido à dinamicidade da atividade do treinador, este recurso demande de elevado
tempo despendido, e por isso, não seja utilizado como uma das principais fontes não mediadas deliberadas dos
treinadores.
As trocas de informação entre os pares foram relatadas na fala de dois dos quatro treinadores participantes
deste estudo. Para eles a troca de informação ocorreu a partir da necessidade clara de buscar informações sobre a
modalidade em que trabalham (Treinador T3).
Este tipo de situação de aprendizagem, importante na construção dos conhecimentos do treinador esportivo 65,
ainda que presente em diversos estudos realizados com treinadores brasileiros 51,49,50 tem sido discutida com relação à
resistência de alguns treinadores compartilharem informações em função do caráter competitivo de algumas
modalidades o que leva a um senso de isolamento profissional 66,69. Tal pode e deve ser ultrapassado, pois a opção por se
relacionar com os pares pode fazer com que os treinadores descubram novas práticas, e repensem sobre questões
pertinentes em seu dia-a-dia, o que pode fazer diferença no seu desenvolvimento e na sua atuação futura.
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DE SOUZA SOBRINHO et al.
180
Situações Internas de Aprendizagem
As situações internas de aprendizagem dizem respeito à capacidade de refletir sobre novas informações,
repesando as suas ideias anteriores. São exemplos deste tipo de situação de aprendizagem a programação de um tempo
para refletir, ter um treinador pessoal e escrever em um diário reflexivo32. No estudo com treinadores brasileiros de alto
nível foi possível verificar que alguns treinadores utilizam esta prática. Na fala dos treinadores T1 e T4, percebe-se a
utilização de práticas reflexivas durante as competições, bem como durante os treinamentos e planejamentos. Além do
mais, tais reflexões são realizadas com a equipe multidisciplinar (T4).
Cada competição, cada período que a gente passa de treino, cada ano, cada mesociclo ou macrociclo, cada
planificação que a gente faz, a gente sempre procura, é, quando termina, ou termina uma competição, ou
termina um macro, a gente procura fazer um feedback e ver os pontos positivos, os pontos negativos, onde
que foi o erro [...] apontar onde que foi o erro é o mais importante, e procurar sempre deixar, mostrar que
aquele erro lá, pô isso aqui, tem que tá atento a esse ponto aqui. Então isso daqui vai te dar bagagem pra uma
próxima competição, pra uma próxima planificação, entendeu? Começar ou não no período certo. Adiantar
uma semana, atrasar uma semana, adiantar um mês, mudar um treino, mudar uma folga, mudar, entendeu?
Então isso é, isso te ajuda a tudo. Todo esse feedback que você faz, vai te ajudar pro próximo né? Então,
acredito que seja esse ponto da reflexão (T1).
Sim, o tempo inteiro, a gente está sempre. Então na hora que a gente planeja na verdade a gente está
refletindo sobre o que a gente já fez e sobre o que a gente pretende fazer. È na hora do planejamento, mas
todo dia e semanalmente a gente está fazendo avaliação do que está fazendo e dos ajustes que vai fazer para o
que está por vir, então é um trabalho constante. [...] é um trabalho constante que eu faço junto com os
profissionais que trabalham na minha equipe (T4).
Outro ponto importante encontrado com relação às situações internas de aprendizagem e que tem sido
relevante para o desenvolvimento de treinadores de alto nível foi a verificação da existência de um treinador para o
treinador. O treinador T1 destaca que possui enquanto fonte de informação, além do exposto anteriormente, o trabalho
de coaching como ele próprio refere.
[...] eu faço um trabalho de coaching também. Então, isso é o que eu faço particularmente pra mim mesmo
[...] O trabalho de coaching te ajuda a fazer essa parte de gestão de pessoas, então eu procuro sempre
direcionar o coaching pra parte de gestão de pessoas, que eu acho que hoje é o fundamental pra você
conseguir bons resultados [...] tem uma pessoa que é do comitê olímpico que a gente tem algumas sessões
semanais assim, ou a cada quinze dias, que ele passa algumas tarefas. A gente sempre procura falar sobre
algumas experiências durante o período que a gente não se encontra, ou durante o treino, durante a
competição, se fala por skipe, ou se eu tenho algum problema eu já entro em contato entendeu? [...] Comecei
ano passado antes da olimpíada [...] um fator bem determinante assim, como se você tivesse um amigo bem
particular assim [...] ele vai te direcionar, vai ter dar algumas opções de como lidar com “n” situações (T1).
Verdadeiramente, o uso de práticas reflexivas deliberadas tem sido sugerido como o principal fator no
desenvolvimento de treinadores de alto nível32. “Isso significa que, à medida que as identidades dos treinadores
evoluem, eles se tornarão mais propensos a reservar tempo para refletir sobre sua prática e maximizar as oportunidades
de aprendizado (p.43)”32.
Cushion70 coloca que ser um treinador reflexivo é visto como essencial para a seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento profissional, para conectar teoria à prática, promover pensamento critico, levar à autoconsciência e
compreensão, empoderar treinadores e atletas e promover aprendizagem e práticas melhoradas.
Na prática, num estudo com treinadores de sucesso71 identificou-se que a aquisição de conhecimento era
facilitada principalmente por meio de clínicas de orientação interativa e mentorias que promoviam a investigação crítica
e a experimentação ativa.
Atualmente na literatura internacional do coaching esportivo, algumas ferramentas têm sido utilizadas para
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181 Desenvolvimento profissional de treinadores olímpicos
incentivar a prática reflexiva dos treinadores, como o caso dos diários72, cartões73, vídeos74 e interação entre os
pares75,76.
Relativamente à oportunidade de ter um treinador para os treinadores, esta foi referida por Trudel & Gilbert 77
como uma tática relevante para criar o ambiente e as oportunidades certas para estimular o desenvolvimento dos
treinadores de alto nível. Desta maneira, eles devem “ser estimulados a maximizar seu desenvolvimento e a
contribuição de um treinador pessoal é reconhecidamente um veículo poderoso para aumentar o desempenho, alcançar
resultados e otimizar a efetividade pessoal” (p. 21) 77, e o que, verdadeiramente, é referido como determinante pelo
treinador T1.
Importante destacar, que esta oportunidade é oferecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro, e, no entanto, foi
referida apenas por um treinador. Outros estudos com treinadores brasileiros também não informaram a utilização de
um treinador pessoal, o que pode ser verificado através do estudo de Souza Sobrinho et al.35 que realizou uma revisão
sistemática sobre as fontes de aprendizagem dos treinadores brasileiros, a partir da categorização em situações
mediadas, não mediadas e internas, e não encontrou tal estratégia.
Sendo assim, as entidades formativas no Brasil precisam fazer com que os conhecimentos científicos da área
do coaching esportivo sejam utilizados nos seus processos formativos, bem como, os treinadores consigam acessar estes
conhecimentos, percebendo-os como importantes no seu processo de desenvolvimento ao longo da vida, principalmente
no ambiente de alto nível, reconhecido pelo alto grau de constrangimento. Nas palavras de Lyle 78, o papel de um
treinador de alto nível normalmente envolve um compromisso pessoal e profissional mais intenso, contato interpessoal
extensivo com os atletas e maior foco em preparação e envolvimento com a competição, foco em padrões de
desempenho, variáveis e resultados de competição, incluindo metas de longo prazo quando comparados com colegas
que trabalham em outros contextos esportivos.
Por fim, segundo Trudel, Rodrigue & Gilbert32 para que os treinadores esportivos acessem os mais altos níveis
de desempenho é crucial que utilizem a reflexão deliberada, e para auxiliá-los na sua jornada de desenvolvimento
profissional é necessário que se forneça um ambiente de aprendizagem onde todos os atores do processo (por exemplo,
auxiliares técnicos, nutricionistas, psicólogos, fisiologistas e etc.) percebam-se como parte essencial na contribuição de
auxiliar os atletas a atingir o seu pleno potencial.
Considerações finais
Reconhecendo os limites encontrados neste estudo, imposto principalmente pela participação de um número
reduzido de treinadores e pela utilização de instrumentos de coleta de dados que recorrem à lembrança dos indivíduos,
parece pertinente atentar para que interpretação dos seus resultados contribua para a compreensão dentro de um
contexto maior, e não se encerre em si mesmo, evitando desta forma a sua generalização.
Deste modo, a partir de um estudo que objetivou analisar as situações de aprendizagens realizadas ao longo da
vida por treinadores brasileiros medalhistas olímpicos, com o intuito de compreender quais destas possibilitaram a
construção e o desenvolvimento dos conhecimentos necessários para o engajamento efetivo na sua prática profissional,
pode se perceber a utilização de uma variedade de situações de aprendizagens mediadas, não mediadas e internas.
As situações mediadas valorizadas pelos treinadores participantes deste estudo foram a formação acadêmica,
através da conclusão do curso de Educação Física, e os cursos de formação especializada de curta duração, oferecidos
pelas federações e confederações esportivas. Com relação às situações não mediadas, reconhecidas como significativas
pelos treinadores perceberam-se a prática enquanto atleta, a prática enquanto treinadores de categorias de base, a prática
com treinadores mais experientes, a realização de estágios com treinadores e equipes estrangeiras, a troca de informação
com os pares, e ainda, a leitura autodirigida. Já a respeito das situações de aprendizagem internas, verificou-se o recurso
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DE SOUZA SOBRINHO et al.
182
à reflexão deliberada e ainda o acesso a um treinador para os treinadores.
Desta maneira, em suma, vamos tentar traçar um panorama de formação e desenvolvimento dos treinadores
brasileiros medalhistas olímpicos, qual seja: a) possuem experiência enquanto atletas nas modalidades que atuam; b)
possuem prática enquanto treinadores em outros contextos de prática; c) são formados em Educação Física; d)
frequentaram cursos especializados de curta duração; e) realizam ações de prática reflexiva deliberada.
Em vias de conclusão, estudar treinadores medalhistas olímpicos é estudar os sujeitos que chegaram aos mais
altos níveis de prestação dentro de suas respectivas modalidades, ou seja, alcançaram o auge de suas carreiras, as quais
são repletas de dinamismo, complexidade e imprevisibilidade. E, por isso, reconhecer como de fato construíram e
desenvolveram seus conhecimentos para a atuação profissional a partir de experiências diversificadas ocorridas ao
longo da vida, além de auxiliar no desenvolvimento do crescimento científico brasileiro nesta área em específico,
contribui para o conhecimento das peculiaridades experimentadas durante o processo de se tornar treinador, o que pode
colaborar na aplicação prática destas descobertas, ampliando o leque de possibilidades formativas para os responsáveis
por esta empreitada, como as universidades, clubes, federações e confederações.
Desta forma, os programas de formação de treinadores no Brasil devem considerar a oferta de uma preparação
profissional a longo prazo considerando as diversas situações de aprendizagens, sejam elas mediadas, não mediadas e
internas. Além disso, recomenda-se por o Brasil ser um país de extensões continentais, a continuação do estudo do
coaching esportivo nos diferentes contextos de atuação, e ainda ampliá-lo, considerando as mais diversas organizações
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em outras categorias etárias, como nos Jogos Olímpicos da Juventude ou Campeonatos Mundiais Juniores.
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