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MUDANÇAS NO CENÁRIO DE UMA COOPERATIVA DE MINIMERCADOS
Cristiane Gularte Quintana1
Paula Patrícia Ganzer2
Pelayo Munhoz Olea3
Sylvia Maria Azevedo Roesch4
Resumo
Juarez Enirak, proprietário de um minimercado na cidade de Rio Seco, desde 1995, percebia que a concorrência
na cidade estava cada vez maior, devido à chegada de redes de supermercados que possuíam preços atrativos.
Nessas condições, pensou na possibilidade de fundar uma Associação Central de Compras na cidade, que
trabalhasse como uma cooperativa, no intuito de fortalecer os minimercados locais, sendo estes de gêneros
alimentícios. Juarez reuniu vários comerciantes e, com a ideia aprovada por todos, nasceu, em 1997, a
Associação Central de Compras de Rio Seco (ACCRS). As compras passaram a ser feitas pela Associação
diretamente das indústrias. Entretanto, Juarez tinha em mente outros planos de expansão que não eram aceitos
pelos seus diretores. O objetivo deste caso é auxiliar como instrumento de aprendizagem para disciplinas de
análise e decisão estratégica, de preferência em cursos de graduação em Administração.
Palavras- chave: Associação Central de Compras. Análise Estratégica e decisão. Minimercados
CHANGES IN THE SCENARIO OF A MINI-MARKETS’ COOPERATIVE
Abstract
Enirak Juarez, owner of a small supermarket in the town of Rio Seco, since 1995, realized that competition in
the city was growing, due to the arrival of supermarket chains that had attractive prices. Under these conditions,
considered the possibility of founding a Central Association of Shopping in the city, that worked as a
cooperative in order to strengthen local mini markets, and these foodstuffs. Juarez met several traders, and with
the idea approved by all, was founded in 1997, the Central Association of purchases Rio Seco (ACCRS). The
purchases came to be made directly by the Association of Industries. However, Juarez had in mind other
expansion plans that were not accepted by its directors. The objective here is to help as a learning tool for
courses in analysis and strategic decision, preferably in undergraduate courses in Business Administration.
1
Mestre em administração pela Universidade de Caxias do Sul - UCS. Professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - Campus Rio Grande. Email:
cristianequintana@hotmail.com
2
Doutoranda em administração pela Universidade de Caxias do Sul – UCS.
3
Doutor em Administração e Direção de Empresas pela Universitat Politècnica de Catalunya, ETSEIB/UPC,
Espanha. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul –.
PPGA/UCS e Professor da Universidade FEEVALE.
4
Pós-doutorada pela London Business School. Professora Visitante das Universidade de Caxias do Sul - UCS,
Universidade Federal da Bahia - UFBA e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS .
Gestão Contemporânea, Porto Alegre, n. 15, jan./jun. 2014.
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Keywords: Central Association of Purchasing. Strategic Analysis and Decision. Mini markets.
Introdução
As centrais de compras existem no Brasil há 30 anos. No entanto, começaram a ficar
populares nos últimos 10 anos. De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira
de Supermercados (ABRAS), em parceria com a LatinPanel, há, em média, 130 associações
ativas, com participação de 3,5 mil lojas em todo o país. Através das centrais, os pequenos
varejistas passaram a ter acesso a produtos que as indústrias antes não entregavam em lojas
menores, por uma questão de custo. A prática proporcionou a inserção dos supermercados
menores na concorrência; afinal, ampliando o mix de produtos, eles puderam também
aumentar as vendas (MAGALHÃES, 2009).
O caso descrito a seguir5 relata um conflito de expansão de uma cooperativa de
minimercados na cidade de Rio Seco, a ACCRS. Juarez, seu presidente fundador, desejava
expandir a cooperativa, pois sabia que era um bom negócio para os comerciantes da cidade.
Para ele, a ACCRS necessitava aumentar o número de associados, que era de 35. A expansão
traria vantagens, fazendo com que as taxas sobre os produtos pagos por associado
diminuíssem e o poder de barganha da ACCRS aumentasse. Assim, Juarez apresentou uma
proposta de expansão para os associados atuais, a qual incluiria os minimercados das cidades
próximas a Rio Seco, que são as cidades de Vicentina, com 435.564 habitantes, Tancredo,
com 107.278 com habitantes, e Verancino, com 27.126 habitantes, sendo estes municípios
com população acima de 20 mil habitantes.
Este caso de ensino apresenta informações de um caso real, mas os nomes foram
trocados para preservar identidades.
5
Os nomes da empresa, da diretoria, da cidade e da cooperativa são fictícios, com o intuito de preservar
as fontes do caso real.
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1 Histórico
A Associação Central de Compras de Rio Seco (ACCRS) é uma cooperativa que
surgiu devido à idealização e ao empenho de Juarez, proprietário de um minimercado de Rio
Seco, que, com esforço, comandou sua empresa e a presidência da Associação ACCRS. No
caso de Juarez, a razão da criação de uma cooperativa foi fortalecer os minimercados frente à
concorrência de grandes redes de supermercados que chegavam ao município de Rio Seco,
cidade que começou a ser povoada em 1875 e que hoje possui 63.635 habitantes, com um PIB
per capita de R$ 26.201,00. Rio Seco é uma cidade de colonização italiana, com forte
presença das atividades comerciais, principalmente relacionadas a produtos alimentícios.
Juarez iniciou suas atividades no ramo de comércio de gêneros alimentícios em 1995,
na garagem de sua casa, no município de Rio Seco. Em três anos, conseguiu comprar um
terreno e construir um estabelecimento melhor para atender seus clientes. A concorrência
ainda não era ameaçadora aos comerciantes locais, mas, anos mais tarde, com a chegada das
redes de supermercados na cidade, o comércio local passou a sofrer com a queda da venda de
seus produtos, devido ao fato de os preços dos minimercados não serem competitivos com os
dos grandes supermercados.
Observando a situação que os comerciantes enfrentavam, Juarez teve a ideia de fundar
uma associação que funcionasse como uma cooperativa, ou seja, sem fins lucrativos, somente
para minimercados, comprando diretamente da indústria e repassando o valor da indústria
para os associados. Isso possibilitaria comprar em quantidade e com menores preços, fazendo
com que os proprietários de minimercados pudessem competir com as grandes redes de
supermercados recém-chegadas à cidade. Dessa forma, em 1999, nasceu a Associação Central
de Compras de Rio Seco (ACCRS), que somente permitia a associação de minimercados.
Inicialmente, trabalhou-se com produtos de primeira necessidade, como farinha, arroz, feijão,
açúcar, azeite, enlatados, produtos em embalagem longa vida.
Com o apoio de comerciantes membros de uma diretoria criadora da Associação,
Juarez, como fundador, tornou-se o presidente da Associação. No intuito de fortalecer e
prosperar, iniciou-se um trabalho para associar comerciantes da cidade, possibilitando que o
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poder de barganha fosse crescente, tornando-se competitiva a nova Associação de
minimercados no município.
Para que futuros associados se sentissem beneficiados, Juarez montou uma equipe para
divulgar a Associação em anúncios. As ofertas eram lançadas, e os nomes dos minimercados
associados eram divulgados juntamente com a propaganda, o que chamava a atenção dos
comerciantes que ainda não eram associados e passavam a se interessar pela participação no
grupo.
O presidente da Associação trabalhava para divulgá-la e utilizava o rádio como um
meio de anunciar as ofertas que seriam oferecidas nos estabelecimentos associados, visitava
futuros associados e divulgava a forma de trabalho da nova cooperativa. Após seis meses, a
cooperativa já atingia 80% de adesão dos comerciantes da cidade. O presidente ficou
satisfeito com o novo empreendimento a favor dos comerciantes de Rio Seco.
Depois de consolidada, em 2007, a ACCRS aumentou sua linha de produtos para
higiene e beleza, descartáveis, biscoitos diversos, doces e chocolates, mas ainda estava
direcionada somente para o comércio local da cidade. Passado dois anos, em 2009, a
Associação passou por modernizações em sua estrutura, como compra de computadores,
aquisição de programas de gerenciamento (software), entre outras ações. A partir disso, Juarez
pensou em uma expansão da ACCRS para municípios vizinhos, no intuito de proporcionar a
sustentabilidade da Associação, devido às despesas que ocorreram após a modernização. A
necessidade de expansão foi por perceber que a Associação deveria se modernizar. Como
consequência, haveria despesas maiores, com contratação de mais funcionários e expansão de
depósito. Juarez passou para a diretoria a ideia da opção do negócio, o que, inicialmente, não
foi aprovado, pois seus membros queriam que o benefício permanecesse somente para os
comerciantes locais, ou seja, da cidade de Rio Seco.
A Associação possuía um organograma composto por um presidente, um vicepresidente, um tesoureiro, um administrador, 8 diretores e 35 associados, conforme ilustrado
na Figura 1.
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Presidente
Vice-presidente
Tesoureiro
Diretores
Administrador
Associados
Figura 1 Organograma de cargos da ACCRS. Fonte: elaborado pelos autores.
2 O contexto do conflito
Na cidade de Rio Seco, o comércio de gêneros alimentícios obteve expansão entre
1997 e 2007, e a chegada dos grandes supermercados prejudicou o faturamento dos
minimercados, por não possuírem poder de barganha para serem competitivos no mercado.
Criou-se um cenário em que os clientes atuais dos estabelecimentos diminuíam a frequência
ou a quantidade de compras mensais, sendo que alguns acabavam deixando de frequentar o
estabelecimento em que costumavam comprar, devido ao preço.
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O presidente da cooperativa, no intuito de expor sua ideia e, ao mesmo tempo,
consultar os diretores sobre suas opiniões, convocou reuniões para debater a possibilidade de
novos associados. Juarez avaliava que a busca por mais 45 associados não seria tarefa difícil,
pois a procura seria em outros municípios e uma parte dos comerciantes já havia manifestado
interesse em participar da Associação. As despesas em relação aos associados não iriam
aumentar, pois os custos atuais e futuros seriam divididos entre todos os associados, o que
resultaria em redução na mensalidade dos atuais associados, por meio da divisão das despesas
com os novos associados. Não existia taxa de entrega dos produtos, sendo que os membros
transportavam por si próprios as suas compras.
A expansão do quadro de associados implicaria redução de custos para os associados
atuais, que pagavam uma taxa de 5% sobre o valor das compras, e o planejamento estratégico
previa a redução de 50% no valor da taxa sobre os produtos. Sendo assim, de 5%, os
associados passariam a pagar 2,5% sobre o valor das mercadorias adquiridas na Associação.
Além dessa vantagem, o aumento de associados também implicaria aumento do poder de
barganha da cooperativa, possibilitando a compra de um mesmo produto em grande
quantidade. Isso favoreceria os associados, que poderiam comprar da ACCRS a quantidade de
que necessitavam para seus estabelecimentos pelo preço de compra em grande volume, sendo
esta uma prática de grandes empresas.
Os comerciantes associados da ACCRS e os diretores não desejavam expandir, pois se
sentiam ameaçados em compartilhar a rede com comerciantes de outras cidades. Os diretores
se posicionaram contra a proposta do presidente, pelo fato de as cidades apresentarem
maneiras diferentes de trabalhar, ou seja, existiam consumidores com perfil diferenciado dos
da cidade de Rio Seco. Do mesmo modo, era do conhecimento dos diretores que os
empresários das outras cidades tinham comportamento individualista, o que influenciaria na
forma de atuação da ACCRS. De acordo com os diretores, “não se mexe em time que está
ganhando”. Além disso, os comerciantes que atuavam na cidade viam a Associação como
uma cooperativa feita somente para os comerciantes locais; portanto; não estavam de acordo
com a entrada de comerciantes das cidades próximas a Rio Seco.
Segundo o ponto de vista do presidente, a reação dos diretores estava impedindo o
crescimento da Associação Central de Compras de Rio Seco. Essa situação fez com que
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Juarez ficasse em dúvida de qual decisão tomar: ele poderia buscar novos associados de
outras cidades e, em consenso com os associados, mudar sua diretoria, ou continuar com a
atual diretoria no contexto presente da Associação.
3 O conflito
O presidente tinha claro que a decisão de expandir era oportuna naquele momento, em
que mais estabelecimentos cooperados aumentariam a divulgação da ACCRS, implicando
aumento de associados e diminuição do preço dos produtos, devido às quantidades
encomendadas nas indústrias.
Juarez tinha a sua frente um conflito em relação a seus diretores: como ele faria para
ampliar a capacidade da cooperativa? Anunciar a cooperativa também se tornava inviável,
pois, divulgando, mais empresários iriam querer se associar. Dessa forma, seria uma decisão
contra a opinião dos diretores, que não poderiam ser ignorados, pois contribuíram na fundação
da Associação.
A situação de administração do problema que Juarez estava enfrentando perante seus
parceiros era complicada. A cooperativa permanecia estagnada, e ele não conseguia imaginar
como poderia fazer as mudanças sem a aprovação da diretoria, pois estas devem sempre estar
em consenso com toda a diretoria. Nesse cenário, Juarez precisava tomar uma decisão: qual
atitude deveria tomar em relação a sua diretoria, frente às necessidades da cooperativa?
4 O desafio e as possibilidades
Diante do cenário descrito, Juarez precisava tomar uma decisão:
a) oportunizar o crescimento da cooperativa, buscando comerciantes de Vicentina,
Tancredo e Verancino, cidades vizinhas de Rio Seco, no intuito do crescimento da
ACCRS;
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b) manter a cooperativa como está, permanecendo com os associados atuais
trabalhando normalmente;
c) fortalecer a ideia de crescimento da cooperativa, através de reuniões com os
diretores.
5 Notas de ensino
Este caso é baseado em relatos do presidente fundador da Associação de Compras
Central de Rio Seco, proprietário de um comércio de gêneros alimentícios, que, em entrevista,
explanou o caso da cooperativa desde a sua fundação até os tempos em que ocorreram os
conflitos entre os membros da diretoria.
Também neste caso, procura-se oportunizar a possibilidade de desenvolvê-lo por
diferentes caminhos. Assim, existem três possibilidades de interpretação:
a) a Associação gerou resultados positivos na sua fase inicial, mas agora está
estagnada;
b) a Associação, apesar do seu início promissor, está ameaçada, em função do
aumento da concorrência e do surgimento de novos supermercados;
c) a Associação, desde sua criação, vem se mantendo estável em relação aos resultados
positivos.
6 Utilização recomendada
O caso foi elaborado para utilização em disciplinas de análise e decisão estratégica.
Portanto, sugere-se a sua aplicação especificamente em cursos de Administração.
7 Objetivos e aprendizagem
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Através da análise do caso da Associação Central de Compras de Rio Seco, é possível
refletir sobre diversos temas de aprendizagem:
a) o rápido crescimento da concorrência no mercado;
b) a visão da necessidade de mudar e adaptar-se às exigências do mercado;
c) a criação de alternativas para reverter situações que possam comprometer uma
economia local;
d) a importância da cooperação entre empresas para seu fortalecimento;
e) o papel do líder nas organizações.
8 Sugestões de questões para discussão do caso em sala de aula
a) O cenário descrito no caso é de mudança em um ambiente competitivo. Quais os
fatores que devem ser considerados, relacionados à liderança, para que o presidente
consiga promover as mudanças de forma rápida e adaptada à situação?
b) Quais os tipos de estratégias possíveis de serem aplicadas no caso da Associação?
c) Em termos estratégicos, quais as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que o
presidente deve considerar para tomar uma decisão em relação à opinião de seus
diretores sobre o crescimento da cooperativa?
d) Se você estivesse no lugar de Juarez, qual decisão tomaria perante a diretoria?
9 Alternativas para análise do caso
9.1 Liderança
Os líderes nunca dizem “Eu”, eles pensam “Eu”, “Nós” e “Equipe”, compreendem que
sua função é fazer a equipe andar. Aceitam a oportunidade, não fogem dela, e a equipe leva o
crédito, é a equipe que cria a confiança, possibilitando a execução da tarefa (DRUKER,
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1997). O autor também ressalta que o novo líder de uma cooperativa sem fins lucrativos não
possui muito tempo para ser eficaz em um período curto.
Dessa forma, diversos fatores devem ser considerados para compor a liderança. Em um
primeiro momento, Stefano (2008) identifica que a liderança é produto de inúmeros fatores,
como características pessoais dos liderados, característica da tarefa ou missão, características
pessoais do líder e do contexto organizacional e social da liderança. Já para Snell e Bohlander
(2009), as questões de liderança aparecem em diversos níveis. No nível executivo, é
necessário ter apoio intenso para um ambiente de trabalho de elevado desempenho, para
mudanças na cultura que possam acompanhar esse ambiente e para a modificação de
processos de negócios necessários para fornecer a mudança.
A liderança é necessária para criar um ambiente dinâmico e desafiador, e é preciso
liderança, no intuito de distinguir as saídas fáceis que surgem oferecendo um caminho para a
vantagem competitiva, mas que, na verdade, são atalhos para o fracasso. A vantagem
competitiva nasce da liderança que valoriza e amplifica as forças para promover a inovação e
a modernização (PORTER, 1998).
Segundo Oliveira (2006), a liderança é o processo em que uma pessoa é capaz, por
características particulares, de entender as necessidades e as expectativas dos cooperados e
demais profissionais da cooperativa e também de extraí-las de forma válida e eficiente. Dessa
forma, obtém o engajamento e a participação dos membros no desenvolvimento, assim como
na implementação de trabalhos necessários para atingir metas e objetivos da cooperativa. Para
Stefano (2008, p. 24), cada gerente ou supervisor possui seu estilo de liderança, afinal cada
pessoa apresenta comportamentos que os diferem dos demais, surgindo, assim, os diversos
tipos de lideranças por eles utilizados; a liderança se baseia na crença dos seguidores a
respeito das qualidades do líder e de seu interesse em segui-lo.
As realidades competitivas demandam liderança. Os líderes acreditam na mudança,
eles imprimem energia a suas organizações para inovar continuamente. De acordo com
Stefano (2008), o que os líderes realmente fazem é preparar a organização para a mudança e
ajudá-la a enfrentar adversidades à medida que ela se esforça para consegui-lo.
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Assim, os diversos fatores descritos neste texto que caracterizam a liderança devem ser
observados, para que o presidente da ACCRS consiga promover as mudanças de forma rápida
e adaptada às situações que ocorrem durante a gestão.
9.2 Decisão estratégica
A tomada de decisão está presente em todas as funções dos gestores, como: definição
das metas e determinação dos recursos; divisão de trabalho; quem deve executá-las; formação
de equipe; motivação e condução da equipe; estilo de liderança; escolha das atividades que
precisam ser controladas; aferição dos resultados; tomada de medidas corretivas. As decisões
estratégicas abrangem a definição do negócio, sua alteração ou, pelo menos, uma modificação
na direção dos negócios (LACOMBE; HEILBORN, 2008).
A decisão estratégica que a empresa irá adotar é de fundamental importância. Levy
(1986) relata que força estratégica é a combinação de rentabilidade, competitividade e
estabilidade, sendo importante tornar máximo o retorno sobre o investimento, com a maior
competitividade e o mínimo risco possível. Para Dacorso (2004, p. 20), as decisões
estratégicas tomadas nas organizações são, em geral, decisões coletivas quanto ao seu
processo, ainda que a palavra final possa ser dada por apenas uma pessoa.
De acordo com Lupoli Júnior (2006, p. 76), um processo decisório requer uma precisa
avaliação situacional e que as informações pertinentes e oportunas sejam constantemente
adquiridas e fornecidas. A função é conservar o foco na tarefa e o alerta situacional; a
comunicação é aplicada para ajudar nas soluções de problemas. Segundo o autor, as causas
dos fracassos estratégicos estão relacionadas à tomada de decisão, ao desempenho e às
interações dos indivíduos participantes do processo de execução estratégica. Sendo assim, a
tomada de decisão estratégica é uma das principais exigências profissionais do administrador
de empresas.
Cobra (1992) afirma que as necessidades existentes em cada mercado são distintas, as
oportunidades concentradas para conquistá-lo também são específicas. Equivale a dizer que,
para planejar estrategicamente, é necessário conhecer cada mercado ou segmento de mercado
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em que se atua ou em que se pretende vir a atuar. Assim, formulam-se estratégias consistentes
para cada mercado ou segmento de mercado.
Segundo Oliveira (2007), define-se estratégia como um caminho ou ação formulada e
adequada para alcançar, de maneira diferenciada, as metas, os desafios e os objetivos
estabelecidos. O autor também aborda a decisão como o delineamento de um futuro, de como
estarão as coisas, podendo ser verdadeiro ou falso, dependendo dos elementos que o tomador
de decisões tem disponíveis e que permitem a ele possuir visão baseada em fatos de situações
presentes e futuras, correspondendo às escolhas entre vários caminhos alternativos e levando a
determinado resultado.
Tigre (2006) afirma que estratégias nem sempre são explícitas, pois podem ser
praticadas sem nenhuma formalização. Elas estão relacionadas à visão perceptiva das
capacidades internas da empresa, disponibilizando atenção ao ambiente externo, seja ele
setorial, regional ou internacional. O autor enfatiza que as oportunidades e as dificuldades
internas e externas são a combinação efetiva para uma boa estratégia.
Segundo Mintzberg e colaboradores (2006, p. 36), a estratégia competitiva significa
ser diferente. Significa escolher deliberadamente um conjunto de atividades diferentes para
entregar um mix único de valores. Para explicar a estratégia, o autor enfatiza os cinco Ps como
definições da estratégia que vem sendo utilizada em diferentes formas: estratégia como plano,
como pretexto, como padrão, como posição e como perspectiva, considerando algumas de
suas inter-relações.
Estratégia como plano. A estratégia é um curso de ação programada, pretendida. Por
isso, possui duas essenciais características, criadas anteriormente às ações que serão
aplicadas, desenvolvidas, portanto, propositalmente: como plano, as estratégias poderão ser
gerais e específicas.
Estratégia como pretexto. Trata-se de uma manobra em que a empresa procura induzir
os competidores, fazendo com que percebam de maneira equívoca os movimentos
competitivos, dessa forma alcançando vantagens competitivas.
Estratégia como padrão. É uma consistência no comportamento.
Estratégia como posição. É uma definição que especifica um meio de localização de
uma organização, uma força mediadora entre o ambiente e a organização, em contexto interno
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e externo. Essa estratégia olha para fora da organização, procurando localizá-la no ambiente
externo.
Estratégia como perspectiva. É a observação da organização em seu interior, sua
maneira de olhar para o mundo, ou seja, as estratégias são abstrações existentes na cabeça de
cada indivíduo. A estratégia é invenção; por outro lado, essa estratégia é uma perspectiva de
membros de uma organização que são compartilhadas pelas intenções e pelas ações de mentes
coletivas, por pessoas com pensamentos e comportamentos semelhantes.
Após a definição da estratégia empresarial, o autor Oliveira (2007) aborda alguns tipos
de estratégias que podem ser estabelecidas, dependendo da situação da empresa:
a) estratégia de sobrevivência: esta estratégia deve ser usada quando a empresa corre
riscos de pontos fracos internos e por ameaça externa também; isso acontece quando a
empresa está com seu ambiente inadequado;
b) estratégia de manutenção: cabe ao executivo da empresa identificar as ameaças e
usufruir dos pontos fortes da empresa, preocupando-se em diminuir os pontos fracos, de
maneira a minimizar pontos fortes da concorrência; neste caso, os investimentos devem ser
constantes, porém moderados;
c) estratégia de crescimento: o executivo nessa situação pode lançar novos produtos e
serviços, procurando, assim, aumentar as vendas;
d) estratégia de desenvolvimento: nessa circunstância, o executivo precisa desenvolver
a empresa, pois a predominância é de pontos fortes e de novas oportunidades.
Essas formas de estratégias dependem da situação e do tempo em que cada empresa
vive no mercado. Portanto, não mencionadas detalhadamente. As estratégias referidas são, de
maneira geral, ferramentas de organização para observar a situação presente em uma empresa,
de maneira a colaborar com sua continuidade saudável. Segundo os autores, não existe uma
única definição de estratégia; portanto, a estratégia vem sendo usada sob diferentes formas.
No caso específico da Associação, observa-se que os tipos de estratégias possíveis de
serem aplicadas são: estratégia de sobrevivência, em função da necessidade de expansão da
Associação, e estratégia de crescimento, que seria o aumento do número de associados para
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garantir maior poder de barganha à Associação. Esses tipos permitem ao presidente da
Associação buscar o melhor caminho para não deixar a entidade estagnada.
9.3 Análise do ambiente
A informação só pode ser considerada a partir de um dado coletado e analisado. O
sistema de informações em marketing é definido como o estabelecimento de procedimentos e
métodos para uma coleta de dados planejada e regular, que, uma vez analisados, produzem
uma informação para a tomada de decisão em marketing. A instalação de um sistema para a
coleta e análise de dados precisa ter em vista alguns pressupostos, como: o estilo de decisão
que a informação vai proporcionar; qual informação é necessária para a tomada de decisão; a
frequência com que a informação deve ser produzida; os estudos especiais devem ser
incorporados ao sistema de informação para a viabilização na tomada de decisão (COBRA,
1993).
A posição estratégica põe a organização no seu devido lugar no ambiente externo,
reunindo informações das revisões interna e externa para produzir um relatório da situação.
As análises estratégicas do ambiente são classificadas do seguinte modo:
a) a análise de lacunas é usada para enfocar as necessidades dos usuários, comparando
os serviços atualmente disponíveis;
b) a análise da concorrência é uma técnica de comparação de uma organização com
fornecedores similares;
c) a análise pelo valor monetário é usada como método de comparar os benefícios de
vários serviços oferecidos aos usuários com o custo do fornecimento do serviço;
d) a análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) é utilizada
para comparar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma organização (HUDSON,
1999).
Segundo Snell e Bohlander (2009), a análise ambiental consiste no acompanhamento
das forças externas que influenciam a empresa, sendo estas: os fatores econômicos; as
tendências competitivas; as mudanças tecnológicas; as questões legais e políticas; as questões
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sociais; e as tendências demográficas e do mercado de trabalho. As alterações no ambiente
externo têm impacto direto na forma como as empresas são geridas e as pessoas gerenciadas.
Um dos pontos fortes que levou o presidente da Associação a tomar a decisão sobre a
necessidade de expansão da cooperativa foi a modernização, como, por exemplo, a aquisição
de novos computadores, para acompanhar as mudanças tecnológicas ocorridas no ambiente
externo da entidade.
A empresa precisa considerar o macroambiente para tomar decisões estratégicas, pois
este se torna uma fonte de informação importante para o direcionamento correto da
organização frente aos seus mercados de atuação. Segundo Bateman e Scott (1998) e Snell e
Bohlander (2009), a empresa existe em seu ambiente competitivo, sendo ele composto pela
empresa e seus concorrentes, por fornecedores, por consumidores, por novos entrantes e por
produtos substitutos. Em um nível mais geral, está o macroambiente, que inclui o ambiente
político, as condições econômicas e outros fatores fundamentais, que, em geral, afetam as
organizações. O ambiente econômico compromete a habilidade para as empresas operarem
eficazmente e influencia suas escolhas estratégicas.
Uma fraqueza que se destaca na Associação é a perda de mercado para grandes redes
de supermercados, que representa uma ameaça para a manutenção da entidade. Assim, é
importante evidenciar as forças e as oportunidades que o ambiente proporciona para superar
essa ameaça. Nesse aspecto, a atitude estratégica do presidente em expandir para cidades
vizinhas pode ser uma importante oportunidade para estimular a capacidade que a Associação
possui no ambiente em que atua.
9.4 Cooperativismo
Uma organização sem fins lucrativos trata com o público e precisa desenvolver um
bom relacionamento com cada pessoa, tendo início no conselho diretor, que se mostra
profundamente envolvido na tomada de decisões da Associação cooperativa, como é o
assunto do caso de ensino (DRUKER, 1997).
A própria dificuldade de enfrentar o crescimento da competitividade entre empresas
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faz com que as pessoas procurem se unir. Assim, pode haver melhor desenvolvimento e
operacionalização, na busca de resultados comuns. A cooperação deve ser efetuada desde os
clientes até os fornecedores da cooperativa, formando, assim, uma cadeia de valor otimizada,
que possibilita uma cooperação nacional ou até mesmo internacional (OLIVEIRA, 2007).
10 Obtenção dos dados
Este caso para ensino relata uma situação real, ocorrida no ano de 2009, em uma
cooperativa situada no município de Rio Seco. Obtiveram-se as informações através de
entrevista com o presidente da cooperativa, por meio da qual foram coletados os dados
apresentados. A divulgação deste caso foi autorizada pelo entrevistado, após ter tido acesso à
versão final aqui relatada.
Recebido em julho de 2013.
Aprovado em agosto de 2013.
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