Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de
Cerâmica Arqueológica da
Quinta do Rouxinol
Ana Isabel Vieira Braga
Relatório de Estágio de Mestrado em Museologia
Março de 2012
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção
de Cerâmica Arqueológica da
Quinta do Rouxinol
Relatório de Estágio de Mestrado em Museologia
Ana Isabel Vieira Braga
Orientação de: Professora Raquel Henriques da Silva
Dr. Jorge Raposo
Março de 2012
Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Museologia realizado sob a orientação científica
de: Professora Raquel Henriques da Silva e Dr. Jorge Raposo
À família:
Carlos, Laura, Miguel, Vânia, Rui, Joana, e Mike
ii
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho não seria possível sem a colaboração, apoio, e incentivo de
várias pessoas e entidades que de alguma forma me acompanharam neste trajecto, e às
quais manifesto o meu agradecimento.
Agradeço à Câmara Municipal do Seixal, entidade de tutela do Ecomuseu Municipal
do Seixal, por ter autorizado que desenvolvesse este estágio na instituição referida, e pelo
apoio que sempre disponibilizou.
Aos meus orientadores, Professora Raquel Henriques da Silva, e Dr. Jorge Raposo,
agradeço a sapiência, a disponibilidade, e o rigor crítico com que orientaram o meu
trabalho.
A todos os docentes e colegas de Mestrado em Museologia, na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, agradeço a solidariedade e o
excelente ambiente de troca de conhecimentos que sempre pautou as aulas de mestrado.
Agradeço ainda ao Ecomuseu Municipal do Seixal, e em particular à sua equipa
técnica, que sempre se mostrou disponível para me auxiliar no decurso do meu trabalho de
estágio.
Ao Cézer, ao Henrique, à Olga, à Adelina, e à Ana, agradeço por me terem recebido
de braços abertos, e por todo o auxílio prestado no decurso deste trabalho de estágio. Mas
agradeço sobretudo porque mais do que colegas, foram uma verdadeira família. Por toda a
amizade, por todo o apoio, pelo incentivo, e pela partilha incondicional, o meu muito
obrigado!
Aos meus amigos, eles sabem quem são, obrigada pelo companheirismo, pela
paciência, e sobretudo pela compreensão.
Um agradecimento especial à minha família porque é em grande medida a
responsável pelo ser humano que sou. Ao meu pai e à minha mãe, não apenas pelos valores
que me transmitiram, ou por todo o apoio, sempre incondicional, em todas as fases ou
escolhas de vida, mas sobretudo por constituírem o exemplo pelo qual me guio. Ao Miguel
e à Vânia, por me terem acolhido, pela amizade, pela paciência, um obrigado especial. Ao
Rui e à Joana pelo apoio, pelo incentivo, pelo afecto, e por nunca me terem deixado
desistir, muito obrigada!
Finalmente ao Mike, por suportar todas as mudanças de humor, e todas as
ausências, por constituir o estímulo que me fez avançar, por me ter obrigado a “viver”
durante este processo, mas sobretudo por ser o companheiro incondicional, muito
obrigada!
iii
RESUMO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da
Quinta do Rouxinol
Os conceitos de documentação e inventário, em contexto museológico, evoluíram
no sentido de uma concepção abrangente enquanto função museológica essencial à própria
condição de museu. Nesse sentido, actualmente, as instituições procuram integrar e
interligar toda a informação disponível num mesmo sistema, optimizando assim os
processos de busca e recuperação da informação.
A evolução dos Sistemas de Documentação e Inventário acompanhou não apenas
as transformações da sociedade, mas também a evolução dos próprios paradigmas
museológicos.
A introdução da informática e a sua aplicação às áreas museológicas,
particularmente a documentação e o inventário, fez sobressair a importância da
normalização de conceitos, procedimentos e práticas. A definição de normas é um
processo complexo, mas apresenta-se como factor indissociável da fiabilidade e qualidade
de um sistema de informação.
Durante o século XX foram várias as instituições de relevo, a nível internacional,
que criaram instrumentos com o objectivo de normalizar a informação e as práticas de
documentação e inventário. A título de exemplo referimos os instrumentos criados pelo
CIDOC, como o International Guidelines for Museum Object Information ou o CIDOC Conceptual
Reference Model, ou pela MDA com o SPECTRUM standard. Salientamos também o trabalho
do Getty Research Institute, o programa Joconde em França, ou o DOMUS em Espanha. Em
Portugal sobressaem os esforços de enquadramento legal vertidos na Lei-Quadro dos
Museus Portugueses, e distinguem-se a criação de um programa comum de inventário das
colecções museológicas dos museus tutelados pela administração central - o Matriz - bem
como a disponibilização de parte dos seus registos na internet, e a publicação dos vários
volumes de Normas de Inventário pelo IMC.
O século XXI assume uma nova etapa na documentação e inventário em museus,
através da disponibilização e interligação dos registos na web, como é o caso, a título de
exemplo, dos programas MatrizNet e Europeana. Esta nova etapa relança a reflexão acerca
da importância de definição e normalização de conceitos, procedimentos, e práticas, a este
nível.
Os objectos arqueológicos constituem uma realidade específica no âmbito da
documentação e inventário em contexto museológico. Para isso contribuem: a sua
condição de documentos históricos; a própria natureza deste tipo de materiais, que os
aproxima de objectos do quotidiano, sem valor artístico - e por vezes estético – relevante; e
as questões decorrentes das quantidades de objectos resultantes de trabalhos arqueológicos
(principalmente trabalhos de escavação arqueológica), associadas ao seu carácter
fragmentário, que inviabilizam o inventário efectivo de todos os materiais. Todas estas
iv
questões fazem sobressair a urgente necessidade de normalização de procedimentos,
práticas, e conceitos, ao longo de todo o processo de documentação e inventário.
O Ecomuseu Municipal do Seixal constitui também um caso singular no que
concerne o seu Sistema de Documentação e Informação. Para isso concorre a própria
natureza da instituição: uma instituição polinucleada, de tutela municipal, com um acervo e
campo disciplinar diversificados, que se orienta por uma noção dinâmica de património em
relação com a sua envolvente social e territorial. Mais do que um museu, no sentido
convencional do termo, o EMS é uma experiência museológica, de gestão do património
cultural referente a um território, e a uma realidade em mudança.
Partindo do inventário de uma colecção de cerâmica comum local da Quinta do
Rouxinol, e da observação atenta da realidade do Ecomuseu Municipal do Seixal,
propusemo-nos reflectir sobre estas questões, e propôr novas soluções quando justificado.
PALAVRAS-CHAVE: Sistema de Documentação e Inventário, Sistema de Informação,
normalização, museu, colecções de objectos arqueológicos, Ecomuseu Municipal do Seixal.
ABSTRACT
INTERNSHIP REPORT
Documentation and Inventory Systems of an Archaeological Ceramics Collection Coming from Quinta do
Rouxinol
The concepts of documentation and inventory in the museological context, have
evolved into a wide concept as an essential function to the very condition of the museum.
Accordingly, at present, the institutions seek to integrate and interconnect all available
information in a single system, thereby optimizing the process of search and information
retrieval.
The evolution of Documentation and Inventory Systems has accompanied not only
the transformation of society, but also the evolution of museological paradigms.
The introduction of computer technology and its application to museological fields,
particularly to documentation and inventory, has highlighted the importance of
standardization of concepts, procedures and practices. The determination of standards is a
complex process, but presents itself as an inseparable factor from the reliability and quality
of an information system.
v
During the twentieth century there were several relevant institutions on the
international level, that have created instruments aiming to standardize the information,
and the documentation and inventory practices. For example, the instruments created by
CIDOC, as the International Guidelines for Museum Object Information or the Conceptual Reference
Model, and by the MDA with SPECTRUM standard, by the Getty Research Institute, the Joconde
program in France, or the Domus in Spain. In Portugal stand the efforts of legal framework
poured into Lei-Quadro dos Museus Portugueses, and we also emphasize the creation of a joint
program to inventory of museum collections protected by central government: the Matriz.
We also stress the importance of part of its records being available on the Internet, and the
publication of several volumes of “Normas de Inventário” by IMC.
The twenty-first century takes a new step in museum documentation and inventory,
through the provision and interconnection of records on the web. Such is the case, for
example, of MatrizNet and Europeana. This new step relaunches the debate concerning the
importance of definition and standardization of concepts, procedures, and practices.
The archaeological objects are in a special category in museological documentation
and inventory due to: their status as historical documents; the very nature of such materials,
often everyday objects without significant artistic – and sometimes aesthetic – value; and
questions arising from the quantity of objects found in archaeological works (mainly
archeological excavation), which associated with its fragmentary nature, prevent effective
inventory of all materials. All these issues stress the urgent need for standardization of
procedures, practices and concepts throughout the documentation and inventory
processes.
The Ecomuseu Municipal do Seixal is also a unique case regarding its Documentation
and Information System. To this contributes the very nature of the institution: a
polynuclear institution, of municipal tutelage, with diversified collections and disciplinary
field that is guided by a dynamic notion of heritage, in relation to its social and territorial
surroundings. More than a museum, in the conventional sense, the Ecomuseu Municipal do
Seixal is a museological experience of cultural heritage management related to a territory,
and a changing reality.
Starting from the inventory of a common local ceramic collection from Quinta do
Rouxinol, and close observation of the Ecomuseu Municipal do Seixal’s reality, we have put
ourselves to reflect on these issues, and propose new solutions whenever convenient.
KEYWORDS: Documentation and Inventory System, Information System,
standardization, museum, archaeological objects collections, Ecomuseu Municipal do
Seixal.
vi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APOM – Associação Portuguesa de Museologia
CD – Centro de Documentação
CDI – Centro de Documentação e Informação
CIDOC – ICOMs International Committee for Documentation
CIDOC-CRM – CIDOC Conceptual Reference Model
CHIN – Canadian Heritage Information Network
CMS – Câmara Municipal do Seixal
DBMS – Database Management System
DOMUS - Sistema Integrado de Documentacion y Gestion Museográfica
DGEMN – Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
EEP – Estimativa de Equivalente de Peça
EMS – Ecomuseu Municipal do Seixal
IBIM-SIGME - Inventário Básico Informatizado de Museos/Sistema Integrado de Gestión de Museos Españoles
ICOM – International Council of Museums
ICONCLASS – Iconographic Classification
IHRU – Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana
IMC – Instituto dos Museus e da Conservação
IPM – Instituto Português de Museus
MDA – Museum Documentation Association
MLA – Council for Museums Archives and Libraries
OIM – Office International des Musées
PEPAL - Programa de Estágios Profissionais na Administração Local
RPM – Rede Portuguesa de Museus
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
vii
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
ÍNDICE
1.
Introdução................................................................................................................................. 3
2. A Documentação e o Inventário em contexto museal: algumas considerações.................. 7
2.1 Estado da Questão ................................................................................................................. 7
2.1.1 Perspectiva Histórica ..................................................................................................... 7
2.1.2 Instrumentos de referência ......................................................................................... 14
2.1.3 Os Conceitos de Documentação e Inventário ......................................................... 22
2.2. A Problemática Arqueológica ........................................................................................... 25
3. Caracterização da Instituição .................................................................................................... 29
4. Caracterização da Colecção em Estudo .................................................................................. 37
4.1. Metodologia Classificatória................................................................................................ 40
4.2. Universo de Trabalho ......................................................................................................... 45
5. O Sistema de Documentação e Informação do EMS ........................................................... 49
5.1 O sistema de Documentação e Informação e o Serviço de Arqueologia .................... 55
5.2 O sistema de Documentação e Informação e a colecção em estudo ........................... 58
5.2.1 Metodologia de Inventário .......................................................................................... 59
6. Apresentação de propostas ....................................................................................................... 61
6.1. Definição de terminologias ................................................................................................ 61
6.2. Definição de critérios de inventário ............................................................................. 62
6.3. Elementos para uma Proposta de uniformização da Informação ............................... 65
6.3.1. “Elementos para uma Proposta de uniformização da Informação” - Clarificação
de Conceitos ........................................................................................................................... 66
6.3.2 “Elementos para uma Proposta de uniformização da Informação” - O Campo
de Descrição ........................................................................................................................... 68
6.3.3. “Elementos para uma Proposta de uniformização da Informação” - O campo
de Dimensões ......................................................................................................................... 75
6.4 O relacionamento e a optimização da Informação ......................................................... 79
1
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
7. Considerações Finais .................................................................................................................. 81
Lista de Tabelas ............................................................................................................................... 92
Lista de Gráficos ............................................................................................................................. 93
Anexos .............................................................................................................................................. 94
2
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
1. INTRODUÇÃO
No âmbito da componente não-lectiva, do Mestrado em Museologia, da Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, propus-me realizar um
Estágio com Relatório. Este estágio desenvolveu-se no Ecomuseu Municipal do Seixal
EMS), sob o tema Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica
Proveniente da Quinta do Rouxinol.
O tema do presente estágio surgiu graças à formação académica de base –
Licenciatura em Arqueologia. De facto, foi sempre nossa convicção que as instituições
museológicas constituem instrumentos preferenciais de investigação, preservação, e
comunicação não apenas de materiais, mas também de toda a “vida arqueológica”. No
entanto, para que sejam cumpridos estes preceitos, é necessário um conhecimento
constante e efectivo das colecções, dos seus instrumentos, dos seus percursos, e dos seus
contextos. Enfim, é necessário um Sistema de Documentação e Inventário eficaz.
O estágio no Ecomuseu Municipal do Seixal concretizou-se graças ao
consentimento da instituição no sentido da realização deste trabalho, que surgiu também da
proximidade que mantivemos com a colecção em estudo, durante o período prévio de
colaboração, em regime de voluntariado, com o Serviço de Arqueologia.
Na proposta que foi entregue à faculdade para registo da componente não-lectiva,
identificaram-se algumas problemáticas relativas à documentação e inventário de colecções
de cerâmica arqueológica. Entre elas contam-se: a indispensabilidade de normalização de
conceitos e procedimentos no âmbito dos sistemas de documentação e inventário, com
vista a assegurar a sua fiabilidade e qualidade; a condição dos materiais arqueológicos,
enquanto documentos históricos; a própria natureza deste tipo de materiais, que os
aproxima de objectos do quotidiano, sem valor artístico - e por vezes estético - relevante; as
questões decorrentes das quantidades de objectos resultantes de trabalhos arqueológicos
(principalmente trabalhos de escavação arqueológica), associadas ao seu carácter
fragmentário, que inviabilizam o inventário efectivo de todos os materiais; e,
principalmente, a urgente necessidade de normalização de procedimentos, práticas, e
conceitos, ao longo de todo o processo de documentação e inventário deste tipo de
objectos. Estas e outras questões foram desenvolvidas no capítulo A Documentação e o
Inventário em Contexto Museal, do presente Relatório de Estágio.
Identificou-se então, como objectivo principal de estágio, desenvolver as
problemáticas enunciadas, com base num trabalho de inventário das colecções de cerâmica
3
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
arqueológica da Quinta do Rouxinol. Com este inventário, pretendia-se aprofundar os
conhecimentos adquiridos ao longo da parte lectiva do Mestrado em Museologia, e da
formação académica inicial (Licenciatura em Arqueologia), aplicando-os e interrelacionando-os, num trabalho baseado em sistemas de documentação e inventário. Foi
também nosso objectivo constituir uma mais-valia para o Ecomuseu Municipal do Seixal,
contribuindo para a actualização dos seus registos de inventário, ao mesmo tempo que se
realizava uma reflexão acerca das práticas existentes, propondo sempre que necessário (e
possível), novas soluções.
Procurava-se assim reforçar e completar a nossa formação académica, ao mesmo
tempo que se adquiria conhecimento prático sobre o funcionamento do museu,
familiarização com as suas diversas áreas, adaptação a modos de trabalho em equipa, novos
conhecimentos e competências na área específica de Sistemas de Documentação e
Inventário, e se desenvolviam problemáticas específicas relacionadas com o tema em
questão.
O presente estágio iniciou-se assim com um período de integração na instituição de
acolhimento, durante o qual se realizou o estudo e compreensão da história da instituição,
missão, vocação e objectivos. Este trabalho baseou-se, antes de mais, num processo de
observação, e pesquisa bibliográfica e documental, realizado pela estagiária, com o auxílio
sempre que necessário da própria equipa técnica do Ecomuseu. O fruto desta primeira
etapa de trabalho encontra-se reflectido no capítulo Caracterização da Instituição do presente
Relatório de Estágio.
Após esta primeira etapa, seguiu-se um período de aproximação mais efectiva ao
tema do Estágio a realizar. Deste modo, foi realizado o estudo, a par com a compreensão, e
posterior manipulação, do Sistema de Documentação e Inventário utilizado na instituição,
em particular para a colecção em estudo.
Depois deste trabalho preliminar, procurámos focalizar-nos no objecto de Estágio:
a colecção de cerâmica arqueológica da Quinta do Rouxinol. Realizou-se assim um estudo
geral sobre as características e especificidades deste acervo, e das suas metodologias de
documentação e inventário, que se encontra reflectido no capítulo Caracterização da Colecção
em Estudo.
Rapidamente percebemos que o sistema de documentação e inventário de
colecções arqueológicas no EMS é bastante complexo. Decidimos então realizar, em
primeiro lugar, um trabalho de compreensão das diferentes fases de Documentação e
Inventário de materiais arqueológicos no EMS, desde o registo preliminar de campo até ao
4
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
inventário em suporte informático Micromusée. Para isso, além de várias questões colocadas
em contexto informal à equipa do Serviço de Arqueologia do EMS, procedeu-se ao estudo
de alguma bibliografia e documentação sobre o tema, e que será desenvolvida ao longo do
presente Relatório de Estágio. O resultado deste trabalho encontra-se reflectido no capítulo O
Sistema de Informação do EMS.
Simultaneamente foi realizado também um exercício de comparação com outras
realidades museológicas e práticas existentes. Para isso procedeu-se à análise da bibliografia
internacional e nacional de referência, bem como à análise de registos publicados no sítio
online MatrizNet. Gostaríamos de ter efectuado um contacto mais efectivo com instituições
museológicas e paramuseológicas com coleções de arqueologia a seu cargo, no entanto o
reduzido período de tempo no qual decorreu este estágio (Agosto de 2011 a Fevereiro de
2012) levou a que optássemos por uma estratégia diferente.
Quando iniciámos este estágio, decorria em paralelo um trabalho de investigação,
de mestrado em Arqueologia, sobre a mesma colecção (SANTOS, 2011). Nesse sentido,
procurámos coordenar esforços, e trabalhar interdisciplinarmente, no sentido da definição
de metodologias que servissem satisfatoriamente as duas abordagens: a arqueológica, e a
museológica. Esta intenção reflectiu-se na nossa contribuição no trabalho de triagem,
selecção, descrição, e categorização de objectos, desenvolvido no âmbito da dissertação
atrás referida.
Com base neste enquadramento, procedeu-se à revisão das fichas de inventário de
objectos de cerâmica comum local da Quinta do Rouxinol, inseridas no suporte
informático utilizado pela instituição, bem como à documentação e inventariação de outros
materiais deste acervo.
Tal como se sugeriu na proposta de Estágio com Relatório entregue na faculdade,
estas tarefas foram realizadas com base numa postura crítica, procurando detectar carências
nos procedimentos utilizados, e propondo novas soluções, que se encontram explicitadas
no capítulo Apresentação de Propostas.
O presente Relatório de Estágio não pretende ser apenas um relato das funções
desempenhadas no âmbito do estágio no Ecomuseu Municipal do Seixal, mas sobretudo
constituir um instrumento de reflexão acerca das diversas questões enunciadas. Procurámos
traduzir a nossa postura crítica, e apresentar as propostas que nos pareceram mais
adequadas. Pretendemos com isso contribuir não apenas para a uniformização e
normalização de práticas, procedimentos e conceitos no Ecomuseu Municipal do Seixal,
mas também contribuir para a discussão destas problemáticas a nível nacional. De facto é
5
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
nossa convicção, que um trabalho deste tipo é tanto mais eficaz quanto generalizada for a
sua aplicação.
6
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
2. A DOCUMENTAÇÃO E O INVENTÁRIO EM CONTEXTO
MUSEAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
2.1 ESTADO DA QUESTÃO
Actualmente entende-se por inventário, em contexto museal, um conceito
abrangente integrado nos contextos de Sistemas de Informação (conjunto ordenado de
procedimentos normalizados que permite a gestão dos documentos e a exploração
metódica da informação mediante as tecnologias adequadas ([S.N.], 2005, p. 13), Sistemas
de Gestão Documental, e das Ciências da Informação.
Nesse sentido, as entidades museológicas passaram a ser consideradas estruturas
que reúnem, produzem, e sistematizam informação sobre as colecções que albergam,
associada à informação de carácter administrativo e documental, numa lógica que procura
integrar toda a informação, independentemente da sua natureza e localização. Os registos
podem ser utilizados como base para investigação, acesso público, exposição, educação,
desenvolvimento do acervo, gestão do acervo e segurança (ICOM, 2004).
2.1.1 PERSPECTIVA HISTÓRICA
A evolução do conceito de documentação e inventário em museus foi um processo
lento, com avanços e recuos, e que acompanhou não apenas as transformações da
sociedade no geral, como também a evolução dos próprios paradigmas museológicos. Teve
como principal objectivo, num momento inicial, apenas o registo dos objectos no sentido
de posse e salvaguarda, mais tarde, aproxima-se da organização das colecções, e
actualmente está relacionada também com o acesso e difusão da informação com vista à
construção de conhecimento.
As consequências da Primeira Grande Guerra Mundial motivaram na Europa uma
crescente preocupação com a salvaguarda dos objectos culturais, nomeadamente as obras
de arte. Este ímpeto conservacionista provocou a necessidade, cada vez mais evidente, de
criação de um organismo internacional que regulamentasse a actividade dos museus e todos
os temas dela decorrentes, a um nível superior que o nacional ou o regional.
7
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
É assim criado em Janeiro de 1927 L’Office International des Musées (OIM). Sediada
em Paris, esta instituição, integrada no International Institute of Intelectual Cooperation (Sociedade
das Nações), prosseguia a obra de estudo e análise que já se iniciara com as grandes
associações nacionais de museus: a britânica The Museum’s Association, fundada em 1889 em
York; a americana American Association of Museum; e a alemã Deutches Museum Bunde, fundada
em 1917 (ALONSO FERNÁNDEZ, 1993).
A OIM explorou os assuntos relacionados com a museologia, discutindo-os numa
publicação em formato de revista (Mouseion), recomendou o emprego de fichas de
inventário e a padronização de etiquetas descritivas que dessem suporte ao intercâmbio de
obras de arte no âmbito internacional, e publicou os dois volumes de Muséographie – a
primeira publicação internacional sobre esta matéria, resultado das actas de uma
conferência organizada pela própria Sociedade das Nações em Madrid em 1934.
Henri Focillon 1 , um dos impulsionadores da OIM, almejava criar um centro de
documentação para museus de carácter internacional. A sua proposta seria que a OIM
oferecesse aos conservadores o boletim da OIM, como meio de comunicação e difusão das
ideias e trabalhos realizados, enquanto que os conservadores ficariam obrigados a enviar o
último catálogo editado, assim como a resposta a uma série de perguntas impressas numa
ficha normalizada. Pretendia-se assim constituir um grande centro de informação, ao
serviço de todas as instituições museológicas, que teria como funções a normalização de
terminologias para as classificações de objectos em uso, a constituição de anuários, a
unificação dos catálogos iconográficos, e a construção de um directório de todos os
museus do mundo. A OIM assumia-se assim como um grande centro de documentação
incentivando o carácter enciclopédico e pedagógico dos museus.
Os objectivos da OIM no sentido da uniformização e normalização da
documentação, nomeadamente no âmbito dos catálogos, nunca foram cumpridos uma vez
que apesar do apoio que recebiam por parte de alguns profissionais, eram também alvo de
fortes críticas e controvérsia por parte de outros. Preocupava-os a perda de identidade da
instituição ao adoptar uma forma padronizada num dos seus instrumentos de divulgação
preferenciais: os catálogos. De facto, cedo se percebeu, que o que realmente fazia falta
naquele momento era a unificação das práticas documentais – mais do que dos seus
instrumentos de divulgação – com vista à partilha de informação entre as várias
instituições, sem comprometer a sua identidade e o seu processo comunicacional.
1
M. Henri Focillon, professor de História da Arte na Sorbonne, apresentou em Janeiro de 1926 um relatório
ao Instituto de Cooperação Internacional, organismo da Sociedade das Nações, com o objectivo de fundar
uma instituição internacional que assegurasse uma cooperação permanente de todos os museus dos países
membros. (ALONSO FERNÁNDEZ, 1993)
8
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
A partir da Segunda Grande Guerra surgem uma série de novas tendências sociais e
museológicas que acabam por influenciar não apenas a dimensão teórico-conceptual da
museologia, como também os aspectos mais pragmáticos e quotidianos da vida
museológica.
Mr. J. Chaucey Hamlim, director do museu de ciências de Búffalo, Estados Unidos
da América, criou em 1946, em França, com sede em Paris, o International Council of Museums
(ICOM 2), uma organização não-governamental, vinculada à Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Entre os seus principais objectivos
contam-se: promover o estabelecimento, desenvolvimento, e gestão profissional de
museus; e incrementar o conhecimento e a compreensão da natureza, função e papel deste
tipo de instituições (ICOM, 2007).
O ICOM assume-se hoje como uma organização internacional de museus, para
profissionais de museus, cuja actuação é centrada na conservação, preservação e divulgação
do Património Cultural e Natural, presente e futuro, tangível e intangível 3. Caracteriza-se
ainda como uma rede com cerca de 30.000 membros, distribuídos por Comités
Internacionais (num total de 31 comités) e Nacionais (num total de 117 comités) que
representam 137 países 4.
O ICOM Portugal possui estatutos próprios desde 20 de Maio de 1975 e tem como
objectivo fundamental: “cooperar com instituições museológicas e com outras organizações profissionais
em programas de interesse comum, lutar pelo desenvolvimento dos Museus, como instrumentos de educação e
de cultura, ao serviço da comunidade” (GUEDES, 2009).
Em Portugal o panorama museológico do Estado Novo (entre os anos 30 e os anos
60) reflecte os princípios ideológicos do regime: o restauro interpretativo do património
edificado, e o comemorativismo nacionalista. Nesse sentido, é inaugurado no Porto o
Museu Nacional Soares dos Reis, é impulsionado um plano de museus regionais
etnográficos, e incentivam-se as actividades associadas às Comemorações Centenárias
(1940), das quais é exemplo o Museu de Arte Popular inaugurado em 1948. A partir de
1974, e da instauração do novo regime democrático, assiste-se a um novo interesse pelo
património natural e cultural, bem como a uma explosão da iniciativa comunitária de
2
ICOM em português significa Conselho Internacional de Museus
Missão do ICOM, para mais informações: http://icom.museum/ [consultado em Janeiro de 2012]
4 Os comités do ICOM agrupam especialistas nas mais diversas áreas da museologia, tendo em vista o
aprofundamento de várias matérias de índole museológica. Os comités nacionais assumem-se como o
principal instrumento de comunicação entre o secretariado do ICOM e os seus membros, enquanto os
comités internacionais representam um elemento fundamental na colaboração internacional, permitindo a
definição de normas e procedimentos na óptica de uma sociedade global de informação. O seu órgão de
comunicação é a revista trimestral Museum, a par com o boletim ICOM News, no qual são difundidas
informações de interesse museológico e museográfico.
3
9
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
autarquias e populações locais, que contribuíram sobremaneira para uma verdadeira
explosão museal. As décadas de 80 e 90 caracterizam-se pelo aparecimento de novos
projectos museológicos, parte dos quais, inspirados nas linhas doutrinais da Nova
Museologia.
A Nova Museologia pode ser descrita como a expressão de uma mudança na
concepção do papel social do museu. É o produto de importantes movimentos culturais e
sociais que marcam o fim dos anos 60 e o início dos anos 70. A França, em parte graças aos
movimentos de ecomuseologia iniciados alguns anos antes, como por exemplo o Ecomuseu
de Creusot, teve um papel piloto na Nova Museologia, uma vez que grande parte dos valores
da ecomuseologia serão acolhidos por este novo movimento.
As primeiras manifestações públicas acontecem em 1983, e são protagonizadas por
um grupo de pessoas que se encontram primeiro em Londres, a propósito da Conferência
Geral do ICOM, e depois no Québec, aquando do primeiro ateliê internacional intitulado
“Ecomuseus/Nova Museologia”. A contestação ao modelo tradicional de museu, e a vontade
de criar um novo tipo de museologia, vão-se estruturando e organizando até à criação em
1985 de uma federação internacional da nova museologia, em Lisboa, aquando do Segundo
Ateliê Internacional. O texto base deste movimento é a Declaração de Québec, formulada a
13 de Outubro de 1984 5.
Nesta
declaração
podemos
encontrar
algumas
palavras-chave
como:
a
interdisciplinaridade, o desenvolvimento sustentado, a museologia popular, e as noções de
museu global ou de museu comunitário. No entanto, o princípio base da Nova Museologia,
e o ponto em que mais se afasta da “museologia tradicional”, é o relevo dado às questões
sociais. De facto, a função social dos novos museus deve sobrepor-se a todas as funções
“tradicionais” do museu, incluindo a conservação (MAYRAND, 1985).
Nesta declaração, caracteriza-se ainda o movimento como um meio possível de
aproximação entre os povos, o seu auto-conhecimento, o seu desenvolvimento crítico, e a
sua preocupação de criação de um mundo que respeite a sua riqueza intrínseca
(MAYRAND, 1985). Salvaguarda-se também a criação de instrumentos museológicos
específicos para sítios e projectos específicos.
Em grande parte, foi a Nova Museologia, e em particular a Ecomuseologia, que
associaram ao domínio dos museus termos e conceitos que anteriormente não estavam
associados como: identidade, territorialidade, comunidade e desenvolvimento, tendo como
[Em Linha] Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001273/127347eo.pdf#68373
[Acedido em Janeiro de 2012]
5
10
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
pano de fundo as colecções materiais e as manifestações do património imaterial da
população.
De facto, utilizando as palavras de Hugues de Varine 6, a modernização do museu, e
por isso, em parte, o movimento da Nova Museologia segue « ...o caminho de abertura a todo o
homem e a todos os aspectos da aventura humana, antiga e actual, pela utilização da única linguagem que
transcende as diferenças culturais, a do objecto, da coisa real” 7 (VARINE, 1985, p. 185).
Em Portugal, o movimento da Nova Museologia foi acolhido por diversas
instituições – como o Ecomuseu Municipal do Seixal - que iniciaram processos de
aproximação a um novo paradigma museológico. O património cultural passa agora a ser
estudado, investigado, conservado, inventariado, documentado, e comunicado, não só pelas
suas características físicas mas também por todas as interacções que acompanham a sua
vida de objecto: as pessoas, os lugares, os valores, as actividades. A museologia passa a
centrar-se no estudo das relações entre o Homem, o objecto/bem cultural, e o seu espaço.
Esta alteração de paradigma, ainda que não tenha sido generalizada, que não tenha
sido absorvida pela totalidade das instituições museológicas, e cujos frutos não possamos
ainda estar em posição de analisar, provocou alterações também nos conceitos e práticas da
documentação e do inventário museológicos. A documentação passa a ser entendida como
um sistema de recuperação de informação, que transforma um objecto em fonte de
pesquisa científica e dá-lhe novas significâncias, enquanto instrumento de produção de
conhecimento. A documentação deixa de ser entendida como um fim em si mesma para
passar a constituir um instrumento: um instrumento de conhecimento, e por inerência, um
instrumento de gestão. A documentação e o inventário assumem-se assim como funções
museológicas vitais que dão suporte à concretização das restantes funções museológicas 8.
6
Hugues de Varine, nascido em 1935, formou-se na Universidade de Paris (Sorbonne) em estudos superiores
de História e de Arqueologia. Entre 1958 e 1960 foi coordenador do centro de documentação da missão
cultural francesa na Embaixada de França pelo que viveu alguns anos em Portugal. Entre 1965 e 1974 foi
director do Conselho Internacional de Museus (ICOM), e de 1982 a 1984 foi director do Instituto FrancoPortuguês. A par com Georges-Henri Rivière é considerado o pai da Ecomuseologia e um dos fundadores da
Nova Museologia. Em grande medida, a influência que Hugues de Varine teve na museologia portuguesa fezse sentir através de contactos estabelecidos com os museólogos responsáveis por projectos emergentes e
intercâmbios entre França e Portugal, assim como pelo apoio à visita da APOM a museus da Bretanha e o
apoio à organização do “Atelier Internacional Nova Museologia – Museus Locais”, em Lisboa (1985).
7 Traduzido da versão original: ”. «…le chemin de l’ouverture à tout l’homme et à tous les aspects de l’aventure humaine,
ancienne et actuelle, par l’utilisation du seul langage qui trascende les différences culturelles, celui de l’objet, de la chose réelle. »
8
“O objectivo da museologia tende a visar muito mais a interpretação e a compreensão de um domínio, ou de um aspecto da
realidade, do que a tarefa de fazer coleccionismo de objectos e documentos por si mesmos.(…) Afirmar que os objectos a
musealizar necessitam de sofrer uma relação de comunicação para conseguirem adquirir significado ou valor patrimonial (já que
por si sós não conseguem esse ganho senão por uma relação estabelecida com o exterior) equivale a constatar que os objectos não se
explicam a si mesmos. Faltando-lhes os contextos, as relações e os problemas que lhes dão sentido e os ligam à realidade.”
(PEREIRA, 2004, p. 74)
11
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Aos poucos, durante o século XX, a documentação vai-se assumindo como uma
das funções essenciais à vida museológica. Nos anos 70 o tema integra já um curso
ministrado por George Henri Rivière
9
que o coloca a par com a investigação
(CERAVOLO e TÁLAMO, 2007). A sua definição conceptual e metodológica carecia no
entanto de aprofundada reflexão. Faltava-lhe a discussão conducente à normalização de
práticas, procedimentos, e instrumentos, que a tornassem univocamente um instrumento
fundamental da gestão e de todo o fazer museológico.
O desenvolvimento da informática foi por vezes encarado como a solução para esta
falta de uniformização. Foi precisamente o advento dos programas de documentação e
inventário em suporte informático que lançou a verdadeira discussão acerca da definição
conceptual da documentação e dos seus “sistemas de documentação”. Estes “sistemas de
documentação”, como o próprio nome indica, implicam uma concepção sistémica,
relacionada com uma sucessão de etapas que se interligam organicamente, e que graças à
normalização, são compatíveis e coerentes entre si. Deste modo, nos anos 90, com o
desenvolvimento da informática, assistiu-se ao impulso da discussão acerca da
normalização sobretudo no que concerne o controlo terminológico.
Actualmente, o conceito de documentação e inventário evoluiu no sentido da sua
afirmação enquanto função museológica essencial à própria condição de museu.
No panorama internacional, a definição de museu adoptada pelo ICOM nos seus
estatutos estabelece que o museu é “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da
sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao público, e que adquire, conserva, estuda, comunica e expõe
testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, tendo em vista o estudo, a educação e a
fruição”
10
. Ainda que não apareça menção explícita às funções de documentação e
inventário, estas estão implícitas nas restantes funções expressas no documento, visto que
todas geram documentação e informação relevante para o inventário dinâmico e
cumulativo dos objectos.
9
Georges Henri-Rivière foi um dos responsáveis pela definição da Ecomuseologia, publicando-se, após a sua
morte, em 1989, na revista Museum, um artigo intitulado “Ecomuseus – uma definição evolutiva”, que constitui,
ainda hoje, um dos documentos essenciais no estudo da Ecomuseologia. Iniciou o curso de “Museu Studies” na
Ecole du Louvre em 1925, e concluiu-o em 1928. Entre 1928 e 1937, esteve ligado enquanto curador,
comissário, ou apenas impulsionador, a vários projetos museológicos de relevo, dos quais se destacam: em
1928 a exposição sobre arte antiga americana no Musée des Arts Décoratifs, a renovação do Musée du Trocadero
que seria reaberto em 1938 com o novo nome de Musée de l’Homme, e a abertura, em 1937, do Musée National
des Arts et Traditions Populaires. Foi o primeiro director do ICOM (1948-1965), ao qual regressou, em 1968,
como conselheiro permanente.
10 Extraído dos Estatutos do ICOM, adoptados na 16ª Assembleia Geral do ICOM (Haia, Holanda, 5 de Setembro de
1989) e alterados pela 18ª Assembleia Geral do ICOM (Stavanger, Noruega, 7 de Julho de 1995) e pela 20ª Assembleia
Geral do ICOM (Barcelona, Espanha, 6 de Julho de 2001) Artigo 2º Definições [em linha] Disponível em:
http://www.icom-portugal.org/documentos_def,129,220,detalhe.aspx [acedido em Janeiro de 2012])
12
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Vejamos no entanto o “Código Deontológico do ICOM Para Museus” (ICOM, 2009)
aprovado pela XV Assembleia Geral do ICOM, realizada em Buenos Aires, Argentina, em 4
de Novembro de 1986, modificado na XX Assembleia Geral em Barcelona, Espanha, em 6
de Julho de 2001, e revisto pela XXI Assembleia Geral realizada em Seul, Coreia do Sul, em 8
de Outubro de 2004, que “estabelece normas mínimas para a prática profissional e actuação dos
museus e seu pessoal” (ICOM, 2009, p. 1). Neste documento incluem-se várias referências à
documentação e inventário, em várias secções, mas reserva-se um ponto na secção 2, no
capítulo de Protecção de acervos, para considerações acerca da Documentação de acervos 11 ,
estabelecendo que os acervos devem ser documentados de forma bastante exaustiva –
compreendendo a identificação e descrição de cada item, dos elementos que lhe estão
associados, do seu estado de conservação e tratamentos a que esteve submetido, e da sua
localização – e considerando já fundamental a existência de sistemas de recuperação da
informação acessíveis quer a profissionais da instituição museológica, quer a públicos
externos.
Quanto a Portugal, atentemos à Lei-quadro dos Museus Portugueses (Lei 47/2004
de 19 de Agosto de 2004) onde no artigo 3º se esclarece acerca do “Conceito de Museu” e na
alínea a) se assegura que uma instituição só é considerada museu se “Garantir um destino
unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário,
documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação”. Neste mesmo diploma legal
reserva-se toda uma secção (secção IV), com cerca de onze artigos, ao “Inventário e
documentação”. Curiosamente verificamos que no total dos onze artigos reservados a esta
temática, apenas se consagra um curto artigo à definição do conceito de documentação 12 em
âmbito museológico, explorando-se largamente o conceito e âmbito do inventário
museológico 13, bem como as formas de o realizar.
“2.20 – Documentação dos acervos: Os acervos dos museus devem ser documentados de acordo com normas
profissionais reconhecidas. Esta documentação deve permitir a identificação e a descrição completa de cada item, dos elementos a
ele associados, de sua procedência, de seu estado de conservação, dos tratamentos a que já foram submetidos e de sua localização.
Estes dados devem ser mantidos em ambiente seguro e estar apoiados por sistemas de recuperação da informação que permitam o
acesso aos dados por profissionais do museu e outros usuários autorizados.” (ICOM, 2009, p. 19)
12 Artigo 25º: “O inventário museológico deve ser complementado por registos subsequentes que possibilitem aprofundar e
disponibilizar informação sobre os bens culturais, bem como acompanhar e historiar o respectivo processamento e a actividade do
museu” ( "Lei Quadro dos Museus Portugueses," 2004)
13 Artigo 16º, 1- “O inventário museológico é a relação exaustiva dos bens culturais que constituem o acervo próprio de cada
museu, independentemente da modalidade de incorporação” ( "Lei Quadro dos Museus Portugueses," 2004)
11
13
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
No contexto da Rede Portuguesa de Museus
14
, cuja adesão pressupõe o
cumprimento das funções museológicas previstas na Lei-quadro dos Museus Portugueses
(Lei 47/2004), no seu Despacho Normativo nº3/2006 de 25 de Janeiro (publicado em Diário da
República – I Série – B), no anexo I e no anexo III, respectivamente, enunciam-se os pontos
constantes do formulário de candidatura à credenciação de museus e respectivas instruções
de preenchimento, nos quais se especificam considerações acerca: do número de
inventário, da ficha de inventário e respectivos componentes, e do sistema de registo e
informatização e respectivas informatização do inventário e cópias de segurança.
Podemos assim afirmar que actualmente os conceitos de documentação e
inventário em museus evoluíram no sentido de se assumirem como funções museológicas
essenciais à própria condição de museu.
2.1.2 INSTRUMENTOS DE REFERÊNCIA
A partir do século XX foram criados, internacionalmente, alguns instrumentos com
o objectivo de normalizar a informação e as práticas de documentação e inventário
museológico 15.
Salientamos em primeiro lugar os esforços realizados pelo organismo internacional
de referência: o ICOM. De entre os comités internacionais do ICOM destacamos o que se
refere mais concretamente à documentação museológica: o International Comittee for
Documentation - CIDOC. Este organismo, constituído por cerca de 650 especialistas, entre
os quais documentalistas, conservadores, analistas de sistemas informáticos, entre outros,
de mais de 60 países, tem a seu cargo a investigação na área do registo e documentação de
colecções museológicas, e a criação e divulgação de orientações e boas políticas nesta área.
O CIDOC assume-se ainda como um fórum de debate acerca das questões de
normalização de práticas e conceitos, e propõe iniciativas mediante um conjunto de
Working Groups.
14
“A Rede Portuguesa de Museus é um sistema organizado de museus, baseado na adesão voluntária, configurado de forma
progressiva e que visa a descentralização, a mediação, a qualificação e a cooperação entre museus.” ([em linha] disponível em:
http://www.imc-ip.pt/pt-PT/rpm/ContentDetail.aspx [acedido em Janeiro de 2012]). Este organismo foi
criado pelo Despacho Conjunto nº616/2000 ([em linha] disponível em: http://www.imcip.pt/Data/Documents/RPM/Despacho%20Conjunto%20-%20616-2000.pdf [acedido em Janeiro de 2012])
15 Optamos aqui por mencionar apenas aqueles que nos parecem mais relevantes no âmbito do presente
trabalho, remetemos uma listagem mais exaustiva para o trabalho de Ana Patrícia Remelgado
(REMELGADO, 2008, p. 29-67) particularmente no seu capítulo 2. Identificação dos princípios orientadores e
normalizadores do inventário
14
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Em 1978, percebendo-se a necessidade de implementar regras para a identificação
e registo da história e dos testemunhos materiais do Homem, como acontecia nas
bibliotecas e arquivos, Robert G. Chendall e Peter Homulos propuseram um conjunto de
Categorias de Informação para objectos museológicos 16 à consideração dos membros do ICOM.
Este documento, com 16 categorias gerais, foi concebido para identificar um objecto,
registar a sua história (propriedade e uso), e fornecer informações para uso de inventários
internos dos museus. No final desta reunião o documento foi recomendado como base
para elaboração de normas nacionais.
Depois, entre 1980 e 1992, o CIDOC desenvolveu este trabalho com base em duas
iniciativas paralelas: o Data Standard Working Group e o Data Model Working, que mais tarde,
em 1995, dariam origem ao Data Standards Working Group. Ao primeiro incumbia-se a
análise e construção de categorias distintas de informação para as colecções de arqueologia
e arte, e ao segundo arquitectar um modelo de dados que permitisse o registo da
informação relativa às colecções. Daqui resultou que em 1992, na conferência do ICOM
em Québec, se reavaliasse a situação e se iniciasse a construção de um documento
orientador: o actual International Guidelines for Museum Object Information (ICOM, 1995),
apresentando-se a sua primeira edição na Conferência Trienal do ICOM de 1995 em
Stavanger, Noruega.
De grande relevância são também os esforços do CIDOC no sentido de definir um
modelo de dados para museus. Deste modo, em 1999, foi concluída a primeira edição do
CIDOC Conceptual Reference Model (CRM), e apresentada à International Standards Organization
(ISO) que validou este documento em 2006. O CIDOC-CRM tem como objectivo
principal a criação de “uma plataforma de entendimento, uma linguagem sobre sistemas de informação
de Património Cultural e Natural, que facilitará a sua concepção implementação e comunicação entre
diferentes sistemas de gestão do Património, favorecendo a estruturação da informação existente em cada
instituição” (REMELGADO, 2008, p. 46).
Actualmente, a documentação produzida pelo CIDOC assume-se como uma das
referências, a nível internacional, na normalização de documentação em âmbito museal,
quer ao nível da estrutura de dados, quer do controlo da linguagem. No sítio do CIDOC na
internet 17 é possível consultar os princípios orientadores da prática museológica na área da
documentação.
16
Tradução livre de “Information Categories for museum objects” (ICOM, 1995)
linha] Disponível em: http://cidoc.mediahost.org/home%28en%29%28E1%29.xml (consultado em
Novembro de 2011)
17 [em
15
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Destacamos ainda, no panorama internacional de normalização de dados em
museologia, o SPECTRUM, standard 18, gerido pela Museum Documentation Association (MDA),
que se assume como o diploma de referência para a documentação nos museus do Reino
Unido. Foi pela primeira vez publicado em 1994, a partir de 2003 inicia-se um processo de
profunda reflexão e revisão por mais de cem instituições, e torna-se finalmente um standard
(ou norma) a partir de 2005. Actualmente, esta norma é largamente utilizada, e feita de
acordo com os requisitos de documentação exigidos pelo Arts Council of England 19 para a
credenciação de museus no Reino Unido.
O SPECTRUM está dividido em duas secções principais: os procedimentos e os
requisitos de informação. Na primeira são definidos os procedimentos que devem ser
usados, em termos de documentação, nas instituições museais, na gestão de acervo
(aquisição, empréstimo, transporte, acções de conservação e restauro), e na segunda são
explicitados os requisitos de informação necessários à documentação das colecções. Esta
norma é a referência essencial, para a indústria de software para museus, na construção dos
sistemas de informação a nível internacional. No entanto, mais do que um modelo de
dados que permite a construção de uma base de dados, o SPECTRUM é uma norma de
procedimentos que permite que as instituições saibam as etapas necessárias à
documentação das acções inerentes ao quotidiano de uma instituição museológica.
No panorama internacional, no que concerne a normalização de procedimentos e
terminologias na documentação museológica, particularmente no Estados Unidos da
América, salientamos a actuação do Getty Research Institute 20 concretamente com a criação
das suas Categories for the Description of Works of Art ou do “Introduction to Controlled
Vocabulaires: Terminology for Art, Architecture, and Other Cultural Works”, ou ainda “Introduction
to Object ID: Guidelines for Making Records that Describe Art, Antiques, and Antiquites” 21 .
No Canadá destacamos a criação, em 1972, do Canada National Inventory Program
pelo National Museum Policy, cujo objectivo foi a criação de um sistema de inventário
Disponível em linha em: http://www.collectionslink.org.uk/spectrum-standard [consultado em Novembro
de 2011]
19 O Arts Council England é a entidade oficial responsável no Reino Unido pela credenciação de museus e pelo
desenvolvimento das bibliotecas, para além de outros serviços da área do património cultural. Esta
responsabilidade esteve, desde o ano 2000 até Outubro de 2011, a cargo do Council for Museum, Libraries and
Archives (MLA) a quem estava acometida a responsabilidade de definir e desenvolver a estratégia nacional no
âmbito dos três tipos de instituições que tutelava: museus, bibliotecas e arquivos (cf. http://www.mla.gov.uk/
(consultado em Setembro de 2011). Salientamos no âmbito das suas publicações o “From Australia to Zanzibar
Museums Standards Schemes Overseas. A research Project for Resource: The Council for Museums Archives and Libraries”
(MASON e WEEKS, 2002)
20 [em linha] Disponível em: http://www.getty.edu/research/index.html [consultado em Janeiro de 2012]
21
Ambos
os
títulos
estão
disponíveis
na
Web
em:
http://www.getty.edu/research/publications/electronic_publications/index.html [consultado em Janeiro de
2012]
18
16
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
informatizado que facilitasse a partilha de informação relativa às colecções, favorecesse a
investigação, e contribuísse para o desenvolvimento e aplicação de normas de gestão de
informação 22. Agora denominado Canadian Heritage Information Network 23 (CHIN) contribui
para a definição e estabelecimento de normas que promovem a consistência da
documentação museológica salientando-se o CHIN Data Dictionaries, construído de acordo
com o SPECTRUM e o CIDOC Guidelines for Museum Objects Information (REMELGADO,
2008).
Em França relevamos as iniciativas, nos anos 60, do então ministro da cultura,
André Malraux, que determinou a organização de um inventário geral do património
cultural francês, motivando a criação de um Secretariado Geral do Inventário, de uma
Comissão Nacional, e de duas Comissões Regionais (na Alsácia e na Bretanha). No
seguimento deste trabalho de inventário é criada em 1975 o Joconde 24, um catálogo colectivo
das colecções dos museus franceses. No panorama legislativo, a França destaca-se pela
publicação de diplomas legais que regulamentam e normalizam as práticas museológicas de
documentação e inventário, como por exemplo o “Arrêté du 25 mai 2004 fixant les normes
techinques relatives à la ténue de l’inventaire du registre des bien deposés dans un musée de France et au
récolement” 25.
Em Espanha, nos anos 90, a Subdirección General de Informatica del Ministerio de Cultura
dá início ao projecto de Inventário Básico Informatizado de Museos/Sistema Integrado de Gestión de
Museos Españoles (IBIM-SIGME) que na realidade constituiu um primeiro passo para a
concretização, em 1998, do “Proyecto de Normalización Documental: elementos para una aplicación
informática de gestión museográfica”
(CARRETERO PÉREZ [et al.], 1998). Este projecto
resultou no desenvolvimento de uma aplicação informática de gestão museológica
denominada DOMUS – Sistema Integrado de Documentacion y Gestion Museográfica que originou
o aparecimento de alguma regulamentação no que concerne a terminologia utilizada para
designar, descrever, e classificar os bens culturais (por exemplo os chamados “Grupos de
Vocabulários Técnicos”: grupos de trabalho formados por pessoal técnico e especializado, de
museus e outras instituições congéneres, com o objectivo de definir grupos de termos para
várias temáticas como artes gráficas, numismática, cerâmica, mobiliário, escultura, têxteis,
metais e vidro) (CARRETERO PÉREZ, 2005).
22
Informações disponíveis na Web em: http://www.thecanadianencyclopedia.com/articles/art-galleries-andmuseums [consultado em Janeiro de 2012]
23 [em linha] disponível em: http://www.rcip-chin.gc.ca/index-eng.jsp [consultado em Janeiro de 2012]
24 [em linha] disponível em: http://www.culture.gouv.fr/documentation/joconde/fr/pres.htm [consultado
em Janeiro de 2012]
25 "Arrêté du 25 mai 2004 fixant les normes techniques relatives à la tenue de l'inventaire, du registre des
biens déposés dans un musée de France et au récolement," 12 de Junho de 2004)
17
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Na Europa podemos ainda mencionar, de entre outros, o caso holandês com o
ICONCLASS 26 (Iconographic Classification), criado em Leiden, nos Países Baixos, nos anos 50
mas só concluído nos anos 70, por um grupo de investigadores da Royal Netherlands Academy
of Arts and Sciences. Constitui-se como um sistema de classificação iconográfico, organizado
hierarquicamente, cuja linguagem documental é usada em diversas bases de dados
europeias e americanas.
Em Portugal, destaca-se a adopção de um mesmo programa informático pelos
museus tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) que motivou a
criação de alguma normalização no que concerne o inventário.
O projecto Matriz iniciou-se em 1993, pela mão do então Instituto Português de Museus
(IPM), com o objectivo de dotar os museus tutelados pela Administração Central com um
programa comum de inventário das colecções museológicas. A primeira versão deste
software é instalada em 29 museus e palácios nacionais tutelados pelo IPM, entre 1993 e
1998. Em 2000 surge o Matriz 2.0 no qual, para além do módulo de inventário, é
proporcionado um conjunto de ferramentas para a gestão integrada das colecções
museológicas, incluindo as actividades inerentes à vida museológica (organização de
exposições, transporte, intervenções de conservação, etc.). Já no início da década de 2000,
o IPM, desenvolveu o interface Web do programa Matriz - o Matriznet – que permite o
acesso online aos conteúdos de inventário relativos às colecções dos museus tutelados pelo
Instituto, bem como a informação relativa a exposições.
Em Junho de 2011 foi apresentada nacionalmente a nova versão do programa – o
Matriz 3.0 – que nasce das necessidades sentidas com a implementação da Rede Portuguesa
de Museus (RPM) de o adaptar a uma maior variedade de colecções: colecções constituídas
por bens culturais móveis, imóveis, materiais e imateriais, e património natural.
O Matriz 3.0 assume-se como uma ferramenta transversal aos vários serviços e
profissionais de museus. Esta nova versão, ancorada num servidor da internet onde é
alojada a informação das várias instituições que utilizam o programa, cria as categorias de
objectos de Ciência e Técnica, História Natural Ciências da Terra e História Natural Ciências da
Vida, para além das já existentes categorias de Arte, Arqueologia, e Etnologia; permite a
realização de inventário de fundos documentais – cartografia, desenho, fotografia, filme,
som, fontes escritas, e fontes orais; e cria uma ficha de inventário de bens imóveis
26
[em linha] disponível em: http://www.iconclass.nl/ [consultado em Janeiro de 2012]
18
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
normalizada em conjunto com o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) 27.
Concomitantemente com o lançamento do Matriz 3.0 é também lançado o novo sítio on-line
do MatrizNet 28 com um layout mais intuitivo, novas possibilidades de pesquisa orientada para
públicos especialistas, e a disponibilização on-line das publicações de Normas de Inventário.
Simultaneamente foi também lançado o MatrizPCI 29 que constitui o sistema de informação
de suporte ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, ao mesmo tempo que está
vocacionado para a divulgação de boas práticas, e para a valorização do Património
Cultural Imaterial.
As publicações de Normas de Inventário do antigo IPM, e actual Instituto Português de
Museus (IMC), iniciaram-se no final do século XX com o primeiro volume dedicado a
Normas gerais. Artes plásticas e artes decorativas com os objectivos de “servir de instrumento de uso
corrente aos museus tutelados pelo IPM (…) em segundo lugar, o de poder orientar outros museus
portugueses que, dispondo ou não de programas de inventário informatizado, pretendam utilizar ou
confrontar a experiência que acumulamos e desejamos partilhar” (PINHO e FREITAS, 2000, p. 7).
Actualmente, com 13 volumes publicados 30, assumem-se como as normas de referência de
documentação e inventário – nomeadamente no que concerne a definição de terminologias
e procedimentos - para os profissionais dos museus portugueses.
Independentemente das limitações que estas publicações evidenciem – quanto a
nós derivadas precisamente do facto de se assumirem como normas gerais, direccionadas
em primeiro lugar aos museus tutelados pelo IMC (Museus e Palácios Nacionais), e por
isso muitas vezes distantes das práticas inerentes a instituições de dimensão mais reduzida
que têm a seu cargo colecções de natureza muito distinta, ou das particularidades de
determinadas disciplinas, como a Arqueologia – constituem ainda assim a referência a nível
nacional, e representam um passo fundamental no sentido da normalização de
procedimentos e conceitos relativos à documentação e ao inventário museológicos.
27
Organismo que resulta da reestruturação e redenominação do antigo Instituto Nacional de Habitação
(INH), no qual foram integrados o Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado
(IGAPHE) e parte da Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) [em linha]
disponível em: http://www.portaldahabitacao.pt/pt/ihru/ [consultado em Janeiro de 2012]
28 [em linha] disponível em: http://www.matriznet.imc-ip.pt/matriznet/home.aspx [consultado em Janeiro de
2012]
29 [em linha] disponível em: http://www.matrizpci.imc-ip.pt/matrizpci.web/Home.aspx [consultado em
Janeiro de 2012]
30 Os volumes de Normas de Inventário publicados até à data de apresentação deste trabalho são: “Normas gerais.
Artes plásticas e artes decorativas”; “Cerâmica. Artes Plásticas e Artes Decorativas”; “Escultura. Artes Plásticas e Artes
Decorativas”; “Instrumentos Musicais. Arte”; “Pintura. Artes Plásticas e Artes Decorativas”; “Mobiliário. Artes Plásticas e
Artes Decorativas”; “Ourivesaria. Arte”; “Têxteis. Artes Plásticas e Artes Decorativas”; “Espólio Documental. Artes
Plásticas e Artes Decorativas” “Arqueologia. Normas Gerais”; “Cerâmica Utilitária. Arqueologia”; “Ciência e Técnica.
Normas Gerais”; “Alfaia Agrícola. Etnologia”; “Tecnologia Têxtil. Etnologia”;
19
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Salientamos ainda a existência de outros sistemas de gestão de colecções
museológicas, utilizados por museus que não são tutelados pelo IMC, como é o caso, por
exemplo, de Micromusée (comercializado pela Mobydoc), ou os In Arte, In Patrimonium, In
Domus, In Natura, e In Memoria (comercializados pela Sistemas de Futuro).
A Mobydoc é uma empresa francesa, dedicada à construção e comercialização de
sistemas de gestão de colecções para museus, bibliotecas, arquivos, centros de
documentação, e colecções privadas, desde 1985. O seu software é utilizado em mais de
quinhentas instituições um pouco por todo o mundo. Exemplo disso é o Micromusée: um
sistema de gestão, multilingue 31 , de colecções diversificadas - desde objectos de Arte, à
Arqueologia, passando pela Etnografia, Indústria e Técnica, ou Ciências Naturais. O
sistema foca-se em três grupos de informação - sobre o objecto, sobre o objecto na
instituição, e a difusão online 32 - e quando integrado no sistema MUM (como acontece no
EMS) possibilita a relação com as bases SNbase (gestão de colecções de ciência natural),
Mobytext (dirigido a centros de documentação e bibliotecas), Gapi (gestão de arquivos),
Mobydoc Photo (gestão de colecções fotográficas), Mobydoc Filmo (gestão de colecções em
suporte fílmico), e Mobydoc Archi (gestão de património imóvel).
A Sistemas do Futuro, fundada em 1996, tem por missão “Através das Novas Tecnologias,
dar uma nova dimensão ao Património Cultural e Natural” 33. Esta empresa portuguesa conta já
com uma carteira de clientes diversificada 34 e foi considerada em 2007, por Alexandre
Ribeiro Matos (MATOS, 2007b), uma das empresas líderes de sector em Portugal.
Desde finais do século XX temos vindo a assistir a uma nova etapa no que
concerne à documentação e inventário em museus: a disponibilização e interligação dos
registos na Web. De facto, sendo verdade que estaremos provavelmente a atravessar a era
da informação, os museus - enquanto instituições que se inserem na sociedade e que
31
Disponível em Francês, Inglês, Holandês, Polaco, Alemão, Espanhol, Português, e Árabe.
[em linha] Disponível em: http://www.mobydoc.fr/pdf/produits/micromusee_UK_web.pdf [consultado
em Fevereiro de 2012]
33 [em linha] Disponível em: http://www.sistemasfuturo.pt/ [consultado em Fevereiro de 2012]
34 A Sistemas do Futuro conta, entre os seus clientes, com: Associações (como por exemplo a Associação de
Arqueólogos Portugueses ou a Associação Nacional de Farmácias), a Autarquias (como a Câmara Municipal
de Lisboa, de Lousada, de Almada, e de Matosinhos, entre outras), Direcções Regionais (como a Consejería de
Cultura e Deporte – Gobierno de Cantabria, ou a Direcção Regional de Cultura e Vale do Tejo, entre outras),
Ensino (como a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ou a Escola Profissional de Arqueologia de
Mértola, entre outras), Fundações (como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a Fundação Ricardo Espirito
Santo Silva, entre outras), Igreja (por exemplo a Diocese de Braga, Coimbra, ou Porto, entre outras),
Institutos (como o Instituto de Desporto de Portugal, ou o Instituto Geológico Mineiro, entre outros),
Museus (como o Museu Municipal de Penafiel, ou o Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa,
entre outros), e outras (como a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva S. A., ou a
Empresa Portuguesa de Águas Livres).
32
20
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
absorvem as suas transformações - acompanharam esta evolução utilizando, na maioria dos
casos, as novas ferramentas de informação e comunicação, e abriram-se, agora de modo
mais amplo e diversificado, a novas formas de comunicação com públicos mais alargados.
Assistimos no século passado à proliferação dos meios de comunicação que o
museu tem ao seu dispor, especialmente dos sítios na web, sendo prática comum,
actualmente, cada museu possuir o seu sítio institucional. Agora assistimos à interligação das
instituições na Web. Quer dizer que as instituições museológicas, genericamente,
aperceberam-se que o caminho do futuro é o cruzamento da informação, e associaram os
seus registos em sítios on-line que podem funcionar como catálogos colectivos, ou como
nada mais do que motores de busca. Se num primeiro momento estes sítios Web
(normalmente de iniciativa de um poder central) agrupavam os registos dos museus de cada
país (é o caso da Joconde 35 para os museus franceses, da Cer.es Colecciones en Red 36 para os
museus espanhóis, e do Matriz.Net para os portugueses) actualmente vemos nascer sítios de
iniciativa comunitária que extravasam os limites territoriais. É o caso da Europeana, uma
iniciativa europeia que agrupa os registos de várias tipologias de instituições, de vários
museus, e de várias nacionalidades.
O projecto Europeana 37 foi lançado em 20 de Novembro de 2008 pelo Comissariado
para a Sociedade de Informação e Meios de Comunicação da União Europeia. Actualmente permite
o acesso on-line a cerca de 2 milhões de objectos digitais entre filmes, fotografias, pinturas,
sons, mapas, manuscritos, livros, jornais, e documentos de arquivo dos vários estadosmembros da União Europeia, provenientes de museus, bibliotecas, arquivos, e colecções
audiovisuais. Os principais objectivos da Europeana são: “promover o acesso do público em geral à
cultura europeia; tornar simples e apelativo o acesso aos recursos culturais dos diferentes Estados-Membros;
facilitar o acesso dos investigadores a elementos vários, multidisciplinares e em vários formatos” 38.
Os projectos de publicação de dados sobre o património cultural, sobretudo no que
concerne a publicação de registos de inventário de instituições museológicas, têm como
principal objectivo comum a disponibilização da informação a um número alargado de
utilizadores. No entanto, para que este objectivo seja cumprido, é imprescindível a adopção
35
[em linha] disponível em: http://www.culture.gouv.fr/documentation/joconde/fr/pres.htm [consultado
em Janeiro de 2012]
36 Cer.es Colecciones en Red é a Red Digital de Colecciones de Museos de España [em linha] disponível em:
http://ceres.mcu.es/pages/SimpleSearch?index=true [consultado em Janeiro de 2012]
37 [em linha] disponível em: http://www.europeana.eu/portal/ [consultado em Janeiro de 2012]
38
[em
linha]
disponível
em:
http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe?p_cot_id=4562&p_est_id=10182
[consultado
em
Janeiro de 2012]
21
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
de normas de registo, documentação e inventário, tendo em vista, tanto a fiabilidade da
informação disponibilizada, quanto a pesquisa célere e eficaz por parte dos utilizadores.
2.1.3 OS CONCEITOS DE DOCUMENTAÇÃO E INVENTÁRIO
Como vimos em momentos anteriores do presente trabalho, os conceitos de
documentação e inventário em contexto museológico, evoluíram historicamente no sentido
de um alargamento da sua defnição, fazendo-os corresponder a funções essenciais à
própria condição de museu.
Podemos distinguir duas concepções metodológicas distintas acerca da
documentação em museus, ainda que ambas mantenham em comum o objectivo último da
salvaguarda do património: a perspectiva tecnicista, mais relacionada com a abordagem norte
americana, e a perspectiva reflexiva, mais conotada com as instituições europeias
(CERAVOLO e TÁLAMO, 2007). Para a primeira, o objectivo principal da documentação
é satisfazer as necessidades de controlo do existente, e a informação destina-se
principalmente às instituições ou aos utilizadores internos. Os procedimentos visam a
elaboração e preenchimento de registos, e o armazenamento e recuperação da informação,
centrando-se em informações como a localização do objecto, o seu estado de conservação,
ou os registos relacionados com a incorporação. Para a segunda, a perspectiva reflexiva, os
museus constituem centros de documentação, cujo objectivo de informação são os
utilizadores externos, para além dos internos. A informação aqui assume diferentes
abordagens e cumpre diferentes objectivos: gestão do acervo, investigação, divulgação. Os
objectos, nesta perspectiva, apenas possuem significado se um destinatário o reconhecer
(PEREIRA, 2004).
Adoptando a perspectiva reflexiva, devemos distinguir dois tipos de informação
inerentes ao Inventário Museológico: o espólio propriamente dito, constituído por
objectos, cuja história e morfologia constituem, só por si, fontes de informação; e os
fundos documentais (com tipologias diversificadas) que contribuem para o conhecimento
do objecto. Ambos concorrem para a constituição do inventário enquanto instrumento
documental museológico, o qual deverá garantir a recuperação da informação por parte dos
diferentes utilizadores, sob pena de comprometer um sistema documental que se pretende
efectivo. Um sistema de informação engloba assim, para além de informações acerca dos
objectos, os procedimentos utilizados para gerir a informação sobre os fundos dos museus
e as suas funções.
22
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Podemos então considerar três características essenciais num sistema de
documentação: fiabilidade (a capacidade de um sistema assegurar a cobertura e a qualidade
de todos os processos de documentação através dos instrumentos adequados), flexibilidade
(a possibilidade de adaptação a diversos museus com diferentes tipos de colecções), e
economia (pesquisa célere e eficiente da informação) (YASSUDA, 2009).
Sobressai, no panorama nacional (mas também no internacional) uma crescente
preocupação, por parte de diversos organismos de tutela, no sentido de sensibilizar os
profissionais dos museus para a importância da documentação das colecções museológicas.
No entanto, a introdução da informática nas instituições museológicas evidenciou as
complicações e fragilidades decorrentes da ausência de regulamentação na maioria dos
museus. Este vazio normativo reflectia-se na diversidade de práticas existentes, na
diversidade de estruturas catalográficas, na multiplicidade de fichas de inventário consoante
a tipologia das colecções. Esta realidade compromete não só a consistência dos registos,
como também as potencialidades de integração em redes informáticas especializadas, como
por exemplo o MatrizNet ou a Europeana, e a sua divulgação junto dos diferentes públicos
(REMELGADO, 2008).
Internacionalmente, os museus têm vindo a desenvolver sistemas informáticos, no
domínio das suas actividades, desde os anos 60 do século XX. Num primeiro momento,
eram sistemas muito simples, não relacionais, com funcionalidades muito reduzidas, e
utilizados por uma única instituição, o que logo à partida se traduzia numa desvantagem
evidente: os sistemas, a sua estrutura e componentes, variavam consoante a instituição em
que se desenvolviam. Esta realidade constituía uma condicionante à implementação de
sistemas integrados de colecções museológicas.
Deste modo, ao longo das últimas décadas, caminhou-se no sentido da criação de
sistemas de documentação adaptados às várias realidades museológicas, que permitam o
cruzamento de informação através de sistemas integrados de gestão de colecções, acessíveis
aos públicos através da Internet ou de locais de pesquisa nas próprias instituições
museológicas.
No entanto, este tipo de sistemas não se compadece com a proliferação de
procedimentos e classificações sobre uma mesma realidade. De facto o volume de
informação não corresponde automaticamente à qualidade e utilidade da mesma. A eficácia
de um sistema com estas características, e portanto a garantia da qualidade e utilidade em
volumes crescentes de informação, depende da eliminação do ruído gerado pela
informação não uniformizada, por classificações e procedimentos heterogéneos, e pela falta
23
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
de controlo nos procedimentos e nos resultados. Para uma partilha efectiva é necessária
uma sistematização da informação, normalização, monitorização e avaliação dos
procedimentos, homogeneização de classificações, e clarificação de conceitos e
terminologias.
Deste modo, a definição de normas condiciona definitivamente a eficácia de um
sistema de informação, quer no que diz respeito à sua concepção, quer à sua utilização. A
norma deverá uniformizar aquilo que à partida representa alguma diversidade, e será tanto
mas útil e eficaz quanto efectiva for a sua generalização.
No registo e catalogação de um objecto, a questão da normalização, reveste-se de
especial complexidade. A multiplicidade de variantes que influenciam o modo de registo e
catalogação concorrem para esta complexificação. Tomemos como exemplos a escolha dos
critérios de base para a descrição de determinado objecto (a produção, a função, a estética),
a terminologia e os conceitos utilizados, ou a perspectiva individual da instituição, na figura
do inventariante, que inevitavelmente reflecte diferentes perspectivas de análise, estudo,
investigação. Todas estas variáveis (que ainda assim representam apenas uma amostra do
universo de variáveis reais) influenciam determinantemente a informação a colocar num
registo de inventário
Para o sucesso de um sistema de informação, é ainda necessário que os normativos
sejam claros, generalizados a todo o sistema, e conhecidos e reconhecidos por todos os
utilizadores do sistema: tanto os que o alimentam quanto os que o consultam.
Uma norma não poderá assim atentar aos particularismos e especificidades de
determinado objecto, mas sim identificar e traduzir a generalidade das características e
conceitos comuns. Não obstante, os particularismos que o singularizam devem ser
registados em sede de inventário museológico, desde que esse registo respeite a normas em
vigor.
Tanto na planificação de um projecto de documentação e gestão de uma colecção
museológica, como na sua execução, a normalização funciona como pilar central, sem a
qual corremos o risco de derrocada do sistema. A normalização - processo de extrema
complexidade dada a heterogeneidade do seu objecto - é assim indissociável dos conceitos
de documentação e inventário.
24
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
2.2. A PROBLEMÁTICA ARQUEOLÓGICA
Uma parte significativa do acervo dos museus de tutela municipal em Portugal é
composta por colecções de arqueologia. Para isso concorre quer a proliferação dos
trabalhos arqueológicos decorrentes de intervenções urbanísticas, quer a responsabilidade
do Estado e das Regiões Autónomas, designadamente das administrações regionais e locais,
pela salvaguarda do espólio resultante de trabalhos arqueológicos 39.
No processo de documentação e inventário em contexto museal, as colecções de
arqueologia, pela sua natureza, levantam algumas questões que lhes conferem uma certa
especificidade. Na concepção, execução, e utilização de sistemas de gestão de informação
não se podem ignorar questões como a quantidade de objectos resultantes de uma
escavação, a natureza destes objectos, ou o registo de trabalho de campo, pois de outro
modo condicionaremos a eficácia e o rigor dos processos de documentação e inventário, e
de recuperação de informação (MATOS, 2007a).
Em primeiro lugar, de forma a caracterizar as especificidades das colecções
arqueológicas em contexto museológico, devemos ter em mente que estas colecções
constituem acima de tudo documentos históricos e, como tal, requerem a explicitação dos
contextos que as envolvem. Podemos pensar neste tipo de materiais como palavras soltas e
dispersas de um livro, que só poderão fazer sentido se forem correctamente
contextualizadas.
Investigar em Arqueologia significa frequentemente recolher espólio através de
escavação, ou seja, recorrendo a uma metodologia intrusiva e irrepetível que exige um
grande cuidado técnico e um complexo registo documental, de modo a minimizar a
inevitável descontextualização (estratigráfica, planimétrica ou tridimensional). “Voltar a
“enterrar” esse espólio num depósito “mudo” e “morto”, sem dele retirar nem partilhar o que tem para nos
39
A este respeito citamos: na Lei 107/2001 de 18 de Setembro o artigo 74º “3 – Os bens provenientes da
realização de trabalhos arqueológicos constituem património nacional, competindo ao Estado e às Regiões Autónomas proceder ao
seu arquivo, conservação, gestão, valorização e divulgação através dos organismos vocacionados para o efeito, nos termos da lei” e
o artigo 75º “2 – Em qualquer lugar onde se presuma a existência de vestígios, bens ou outros indícios arqueológicos, poderá
ser estabelecido com carácter preventivo e temporário, pelo órgão da administração do património cultural competente, uma reserva
arqueológica de protecção, por forma a garantir-se a execução de trabalhos de emergência, com vista a determinar o seu interesse.”;
no Decreto-Lei nº 270/99 de 15 de Julho o Artigo 16º “5 – No prazo máximo de dois anos após a incorporação em
deposito provisório, o IPA deverá propor ao Ministério da Cultura a incorporação definitiva dos bens, ouvidos os serviços
competentes, o arqueólogo responsável, o Instituto Português de Museus e as entidades publicas e privadas envolvidas,
designadamente as administrações regionais e locais das respectivas zonas de proveniência, e tendo em atenção a rede nacional de
museus.”; na Lei-quadro dos Museus Portugueses, Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto o artigo 14º: “1 – A
incorporação de bens arqueológicos provenientes de trabalhos arqueológicos e achados fortuitos é efectuada em museus. 2 – A
incorporação referida no número anterior é feita preferencialmente em museus da Rede Portuguesa de Museus”.
25
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
dizer, é uma forma de delapidar o património que constitui herança comum” (RAPOSO, J., 2002, p. 2).
Deste modo, o inventário de bens arqueológicos deve estar inter-relacionado com a sua
documentação, ou seja, com os contextos dos quais estes foram retirados com vista à
preservação da sua relevância documental.
Os materiais arqueológicos possuem uma outra particularidade, que neste caso os
aproxima das colecções etnográficas, uma vez que se situam maioritariamente na área dos
objectos do quotidiano, muitas vezes sem o valor artístico que é comummente atribuído à
maioria dos objectos museológicos. Daí que no campo da descrição do inventário de
materiais arqueológicos, em suporte Matriz ou outro, raramente haja lugar para descrições
de carácter iconográfico, dificultando a individualização do objecto. Quando falamos de
uma pintura, ou de um outro qualquer objecto de Arte (entendida no sentido mais corrente
do termo), a descrição das figuras que apresenta é factor identitário e distintivo. No caso
dos objectos arqueológicos a descrição estará mais relacionada com aspectos técnicos e/ou
morfológicos que muitas vezes se assemelham a centenas de outros objectos, mas que para
fins de estudo e investigação são de vital relevância. Daí que mais uma vez salientamos a
importância, no âmbito do inventário museológico, da contextualização destes objectos
como forma de distinção identitária.
Por outro lado, os materiais arqueológicos são os únicos que se apresentam em
esmagadora maioria, sob forma fragmentária, muitas vezes até meramente residual. Este
factor, aliado à enorme quantidade de materiais que são recolhidos no campo e depositados
em museu (uma escavação pode resultar em dezenas de milhares de objectos!) colocam um
problema elementar de inventariação: o que inventariar?
É necessário à partida dissociar objecto arqueológico de objecto museológico, uma
vez que a sua associação traduzir-se-ia em tarefas hercúleas de inventariação que pela sua
morosidade conduziriam à ausência de registo de grande parte dos objectos.
Então, a montante de qualquer procedimento de inventário museológico deste tipo
de bens, é fundamental realizar trabalhos de registo preliminar, conservação e restauro,
documentação, investigação, e triagem, a partir dos quais, mediante juízos de valor com
26
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
base científica, alguns objectos sofrerão uma metamorfose conceptual: do “caco” ao objecto
museológico 40.
Nesta fase, os que permanecerem como “cacos”, podem, mediante um método de
avaliação científica, integrar, no todo ou em parte, um inventário arqueológico específico.
Independentemente desta avaliação, os “cacos”, globalmente, devem ser objecto de um
processo de inventário (que não tem que ser necessariamente orientado por pressupostos
estritamente museológicos), bem como de formas adequadas de acondicionamento em
reserva, pois constituem bens culturais com potencial informativo que poderá suscitar no
futuro novos olhares, e poder-se-ão constituir em peças fundamentais de investigação
mediante novos paradigmas 41.
Neste processo que antecede o inventário é importante também interrogarmo-nos
sobre que critérios transformam o “caco” em objecto museológico? Estes critérios não se
encontram convenientemente regulamentados ou normalizados pelo que a realidade
corresponde a uma multiplicidade de actuações que dependem essencialmente do
posicionamento teórico do inventariante. Urge, por isso, encontrar normas que possam
uniformizar a prática arqueológica neste campo.
Ainda assim podemos identificar alguns preceitos que são frequentemente
utilizados mas que carecem ainda de aprofundada definição conceptual e terminológica.
Entre eles encontram-se critérios museográficos como o valor artístico, a relevância para
determinada investigação, critérios de excepcionalidade, e critérios que os qualifiquem
como fonte de outras informações (por exemplo os bordos de cerâmica, ao contrário dos
fragmentos de pança, permitem encontrar uma série de informações relativas à peça de que
fariam parte) (RAPOSO, L. MARTINS e CORREIA, 2000); (CRUZ e CORREIA, 2007).
A documentação e o inventário de objectos arqueológicos enfrentam ainda uma
outra dificuldade: a indefinição de alguns conceitos e terminologias. A arqueologia é uma
ciência patrimonial ainda relativamente recente cuja prática esteve durante muitos anos órfã
40
Este processo é de resto semelhante ao que acontece noutras colecções de objectos não arqueológicos. Por
exemplo, quando o conjunto a incorporar corresponde a grandes quantidades de objectos (fundos
documentais, por exemplo), é frequente realizar-se, num primeira fase, um Registo de Entrada, com informação
sumária acerca da colecção. Depois, mediante trabalhos de estudo, investigação, conservação, e triagem, os
objectos são documentados e inventariados no sistema de informação da instituição. Este procedimento é
suportado pelo artigo 15º, nº 3, da Lei-Quadro dos Museus Portugueses: “Em circunstâncias excepcionais,
decorrentes da natureza e características do acervo do museu, a incorporação pode não ser acompanhada da imediata elaboração
do inventário museológico de cada bem cultural.”
41 “Provavelmente, será impossível (ou desaconselhável), inventariar todo o material recolhido, por exemplo, em escavações
arqueológicas feitas sob metodologias modernas. Haverá portanto que seleccionar o material a inventariar sob uma óptica
museológica; para o restante material deve ser criado um sistema de registo distinto, que deve quanto possível respeitar o sistema
de registo e recolha próprio da escavação” (RAPOSO, L. MARTINS e CORREIA, 2000, p. 23)
27
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
de qualquer tipo de regulamentação. Actualmente possui já um enquadramento legal
bastante preciso, mas carece ainda de investigação acerca das metodologias inerentes ao seu
campo disciplinar, sobretudo no que diz respeito à “arqueologia em museus”.
Durante muitos anos foi prática corrente em Portugal realizarem-se escavações
cujos resultados nunca chegaram a ser publicados, e cujo espólio era recolhido em reservas
privadas, muitas vezes propriedade dos responsáveis pelos trabalhos arqueológicos.
Actualmente, apesar de regulamentada esta situação, existe ainda uma insuficiente partilha
de informação entre os profissionais de arqueologia.
Todos estes factores resultam na ausência de normalização de terminologias e
conceitos, próprios da Arqueologia, mas fundamentais no quotidiano museológico. No
caso das cerâmicas, por exemplo, a sua divisão em subcategorias não é ainda unânime.
Alguns profissionais utilizam como referência os aspectos funcionais, outros utilizam
aspectos técnicos, e outros ainda aspectos morfológicos. Do mesmo modo, no que
concerne aos aspectos morfológicos, está ainda por definir um thesaurus que uniformize
terminologias e que esclareça sobre a utilização de determinados conceitos ainda pouco
clarificados (veja-se por exemplo a utilização indiscriminada dos conceitos taça, tigela ou
malga na descrição de um mesmo objecto). Urge então uma maior partilha de informação
entre profissionais de arqueologia, e entre estes e profissionais de museologia, no sentido
da criação de um thesaurus abrangente utilizado tanto por investigadores quanto por
profissionais de Museus.
No panorama internacional foram feitos já alguns esforços nesse sentido 42 , no
entanto carecem de tradução para Língua Portuguesa, e de adaptação à realidade
arqueológica nacional.
42
Exemplos de Thesaurus e Listas de Valores disponíveis na Internet:
•
ARENA (Archaeological Records of Europe – Netwoeked Access http://ads.ahds.ac.uk/arena/links/standards.html
http://thesaurus.english•
Archaeological
objects
Thesaurus
|
MDA
heritage.org.uk/thesaurus.asp?thes_no=144&thes_name=MDA%20Object%20Type%20Thesaurus
•
Archéologie | Direction des Musées de France http://www.culture.gouv.fr/documentation/joconde/fr/pres.htm;
•
IGESPAR / IPA – Endovélico http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/arqueologico-endovelico/
•
National
Monuments
Record
Thesauri
/
Archaeological
Sciences
http://thesaurus.englishheritage.org.uk/thesaurus.asp?thes_no=560;
•
National Monuments Record Thesauri, English Heritage http://thesaurus.english-heritage.org.uk/newuser.htm;
•
UNESCO thesaurus http://www2.ulcc.ac.uk/unesco/index.htm
28
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
3. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
O Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS) é uma instituição museológica
territorialmente descentralizada, constituído em núcleos e extensões espalhados pelo
território que lhe serve de referência, foi criado em 1982 enquanto Museu Municipal do
Seixal e só um ano mais tarde, em 1983, adoptou a denominação actual.
A criação em 1982 do Museu Municipal do Seixal teve na sua génese um levantamento
histórico-cultural do concelho, iniciado em 1979, e levado a cabo por uma equipa de
técnicos, autarcas, e elementos de organizações locais.
No seguimento desta iniciativa, inaugura-se em 1981 uma exposição promovida pela
Câmara Municipal do Seixal, intitulada “O Trabalho na História do Seixal” e que terá servido
de barómetro à criação do Museu Municipal (Ecomuseu Municipal do Seixal, 1997). De
facto, a exposição comprovou a necessidade da criação de um Museu Municipal do Seixal,
quer pelo número de visitantes que obteve, quer pelas inúmeras doações de peças que
necessitavam agora de um espaço de armazenamento e exposição 43.
Este projecto polinucleado, já muito próximo das correntes da Nova Museologia, evoluiu
segundo uma perspectiva global do património concelhio, conservado preferencialmente in
situ, e com especial abertura à participação da população.
Em 1983, a instituição, acolhendo as sugestões de Hugues de Varine, adopta a
denominação de Ecomuseu Municipal do Seixal, continuando a partir de então a
desenvolver um sistema de gestão patrimonial adaptado à realidade de um território (que
não se restringe obrigatoriamente aos limites administrativos do concelho) em mudança,
em estreita relação com as comunidades locais, e segundo uma perspectiva dinâmica do
património cultural e natural, nas suas vertentes materiais e imateriais, móveis e imóveis.
Nas várias definições de Ecomuseologia está explícita a estreita relação entre o Museu
e as comunidades. Nesta perspectiva o museu é feito por e para a população de
determinado local, assumindo-se como um instrumento eminentemente cultural, no qual a
população deixa de funcionar apenas como visitante, ou como objecto de estudo, para
passar a ser o sujeito fundamental da instituição. Dito de outro modo, museu e população
local cooperam para o desenvolvimento sustentado de determinado território através da
valorização e preservação dos respectivos patrimónios. Define-se assim uma instituição de
43
“Todas estas iniciativas lançaram raízes para um Museu, de tal modo que se tornou imperiosa a sua criação. Porque existem
colecções e a população quer um Museu.” (NABAIS, 1980-1981)
29
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
âmbito participativo, onde a população é encorajada a envolver-se activamente na
construção da sua identidade e na preservação da memória colectiva.
Este posicionamento em relação às comunidades locais levanta questões que se
prendem desde logo com a definição dessas mesmas comunidades (quem são? como as
caracterizamos e distinguimos?), e ainda com a sustentabilidade de uma instituição cujos
públicos preferenciais (as populações locais) não são entendidos como visitantes, e por isso
não são geradores de receita pela cobrança de bilhete de entrada.
O Ecomuseu Municipal do Seixal assume-se por isso como um caso de estudo
bastante particular, quer pelo paradigma museológico que acolhe, desde logo através da sua
denominação, quer pela singularidade da sua Missão 44.
De facto a principal característica que distingue esta instituição é a sua relação com o
território: “difundir testemunhos do Homem e do Meio, reportados ao território e à população do concelho
do Seixal” (Câmara Municipal do Seixal, 2001; Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009b). Um
Ecomuseu, tendo uma definição de natureza evolutiva (RIVIÈRE, 1992), espalha-se pelo
território que o acolhe e que deve reflectir, aproximando-se por isso da noção de museu
polinucleado. A definição do território, neste caso, levanta algumas questões: qual o
território a que o Ecomuseu do Seixal se deve reportar? O território administrativo
correspondente ao Município do Seixal será suficiente? Quais os critérios de base para a
definição deste território?
Aqui os limites administrativos do Concelho não são suficientes, uma vez que a sua
actividade se reporta a um sistema de gestão patrimonial, que se procura adaptar à realidade
de um território em mudança e de contornos culturais que não se restringem
obrigatoriamente a limites administrativos. Compreendemos facilmente esta noção se
considerarmos que as actividades socioeconómicas da população seixalense extravasam (e
extravasaram) o território definido para o Concelho do Seixal. Tomemos como exemplo o
património flúvio-marítimo: fará sentido estudar as embarcações tradicionais construídas
no Seixal esquecendo as rotas que fariam, os locais com os quais manteriam relações, as
comunidades que intervinham na construção deste património? A resposta é não. Se
entendermos o Património numa perspectiva global devemos também estudá-lo e abordálo de uma perspectiva globalizante.
44
“investigar, conservar, documentar, interpretar, valorizar e difundir testemunhos do Homem e do Meio, reportados ao território
e à população do concelho do Seixal, contribuindo para a construção e para a transmissão das memórias colectivas e para o
reforço das identidades locais. Através do trabalho museal, nas suas diversas vertentes, tem a missão de estimular e ser
instrumento do desenvolvimento sustentado da região.” (Câmara Municipal do Seixal, 2001)e (Ecomuseu Municipal
do Seixal, 2009b)
30
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
No entanto, é necessário não esquecer que esta noção global de património interfere
directamente com a gestão das colecções. Se considerarmos que só o concelho (ou seja os
limites administrativos) do Seixal tem cerca de 94 km2, distribuídos por 6 freguesias, e mais
de 157 mil habitantes 45, percebemos que o volume de património a incorporar será imenso.
Deste modo o museu deve assegurar os recursos necessários à conveniente gestão do
acervo existente, e definir através de uma política de incorporações em que medida as suas
colecções poderão ainda crescer. O EMS possui uma Política de Incorporações enunciada
no site institucional que define o acervo incorporado e a incorporar, e prevê que:
“As incorporações no EMS são portanto condicionadas pelos recursos económicos e
pelas condições materiais por parte da tutela, definidas de acordo com a orientação
programática evolutiva do museu e com a referida pluralidade de campos temáticos, decorrente das
diversidades identitárias e da interpretação multifacetada e multidisciplinar do território de
referência do Ecomuseu (o concelho do Seixal)” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009a, p.
5).
Complexificando o volume de património a incorporar e a dificuldade na gestão dos
recursos necessários à correcta salvaguarda do mesmo, o EMS é a entidade municipal
responsável pelos trabalhos arqueológicos do município (Câmara Municipal do Seixal,
2012, Artigo 97º). Cabe-lhe deste modo a gestão do património arqueológico nos seus
diversos domínios, resultando em quantidades apreciáveis de património móvel (entre
outros) cuja salvaguarda e gestão é de total responsabilidade do EMS.
Daqui se depreende também a dificuldade na definição do acervo do EMS e respectivo
campo temático. Não é de certo uma instituição museológica vocacionada para um único
campo temático ou disciplinar. Pelo contrário, o acervo incorporado, atendendo à missão e
objectivos institucionais 46 , e de acordo com a sua estrutura descentralizada, abrange a
arqueologia e a história regional e local, tendo por referência e principal contexto o
território e a população do Concelho; o património técnico e industrial, reportando-se aos
contextos, aos meios técnicos e às unidades transformadoras e industriais instaladas ou
referentes ao território e à população do Concelho; e o património e a cultura flúvio45
Segundo os dados preliminares dos Censos 2011
Informações
obtidas
em:
[em
linha]
Disponível
em:
http://www.portugal.gov.pt/pt/GC19/Documentos/MAAP/Fichas_Municipios/Seixal.pdf [acedido em
Janeiro de 2012]
46 O EMS estabelece como principais objectivos: a preservação, a interpretação e a divulgação do património
cultural, material (imóvel, móvel e flutuante) e imaterial, como recurso de desenvolvimento; o registo e a
transmissão de conhecimentos, técnicas e saberes-fazer; a prestação de serviços ao público, através de uma
equipa multidisciplinar, com a participação de comunidades interessadas em promover o património cultural
e natural, entre as quais se inscrevem os Amigos e Doadores do Ecomuseu. (Ecomuseu Municipal do Seixal,
2009b, Capítulo I, Artigo 5º)
31
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
marítimos relativos ao estuário do Tejo (Ecomuseu Municipal do Seixal 2009b, Capítulo I,
Artigo 5º).
Esta abrangência temática tem também implicações ao nível da equipa técnica que
assegura a activação das funções museológicas. Deste modo, o EMS, no desenvolvimento
das suas actividades norteia-se pela concepção inter e transdisciplinar dos projectos. Para
isso conta quer com as disciplinas de base de formação da sua equipa técnica, quer com
recursos científicos e técnicos exteriores, nomeadamente através de parcerias e
colaborações.
A actual equipa do EMS é constituída por elementos cujas formações e áreas
disciplinares académicas abarcam a História, a Arqueologia, a Antropologia, a Geografia, a
Arquitectura, a Conservação e Gestão do Património Cultural, e ainda a Museologia
(Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009b, Capítulo I, Artigo 5º).
O Ecomuseu, enquanto instituição museal inscrita e logo credenciada pela Rede
Portuguesa de Museus (RPM) 47 , possui Política de Incorporação (Ecomuseu Municipal do
Seixal, 2009a) e Regulamento (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009b) próprios, e coloca ao
serviço da sua missão as funções previstas na Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Lei
47/2004 de 19 de Agosto) 48 , segundo uma perspectiva inter-relacional. A investigação,
enquanto função museológica que compreende o estudo e a documentação, relaciona-se
directamente com a incorporação. Da mesma forma, a preservação, em sentido amplo,
engloba para além da conservação e restauro, as funções de aquisição e gestão de colecções.
Todas as anteriores estão ainda intimamente ligadas à função de comunicação que reúne a
interpretação, a exposição, a educação e a difusão.
No cumprimento das funções museológicas o Ecomuseu do Seixal apresenta também
algumas especificidades que se prendem sobretudo com uma noção dinâmica de
património, e consequentemente da sua conservação. Esta deve ser feita preferencialmente
in-situ e em actividade, procurando-se assim conservar não apenas o “objecto” mas também
os diálogos que este mantém com a envolvente, o contexto, e a própria população, bem
como os saberes-fazer, os gestos de trabalho, enfim o património imaterial implícito ao
objecto cultural. Um exemplo é a Extensão na Tipografia Popular do Seixal que inclui um
tipógrafo que põe agora os seus conhecimentos e a sua formação ao serviço dos utentes do
47
[em linha] Disponível em: http://www.ipmuseus.pt/pt-PT/rpm/ContentDetail.aspx. [acedido em
Dezembro de 2011]
48 “O Museu prossegue as seguintes funções: a) Estudo e investigação; b) Incorporação; c) Inventário e documentação; d)
Conservação; e) Segurança; f) Interpretação ;g) Educação.” Artº 7 Lei Quadro dos Museus (Lei 47/2004 - "Lei
Quadro dos Museus Portugueses," 2004)
32
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Ecomuseu, e o Moinho de Maré de Corroios onde um técnico do Ecomuseu 49 com
conhecimentos de moagem contribui também para a manutenção destes saberes-fazer. Esta
noção alargada de património, e consequentemente de conservação e gestão do mesmo,
leva assim a um alargamento da equipa técnica. De facto, para além das disciplinas
normalmente atribuíveis a uma instituição museológica, a equipa técnica do EMS integra
também saberes nas áreas de mecânica, navegação à vela e náutica de recreio, construção
artesanal de modelos de barcos em madeira, moagem, e tipografia.
Esta noção dinâmica de conservação relaciona-se também com um modelo de gestão
patrimonial e política de incorporações que conduz a uma selecção de património a gerir
em relação muito estreita com intervenções de conservação e salvamento.
Por outro lado, daqui decorre também a estrutura territorialmente descentralizada e
polinucleada desta instituição. O EMS constitui-se assim em núcleos (“sítios ou espaços de
propriedade e tutela municipais, musealizados ou com aproveitamento museológico” 50) e extensões (“sítios
ou patrimónios integrados de tutelas mistas, com parcial aproveitamento museológico 51 ”). 52 O centro
administrativo corresponde ao Núcleo da Mundet 53 no qual se localizam os Serviços
Centrais, existindo ainda o Núcleo Naval 54 , o Núcleo da Quinta da Trindade (no qual
foram instalados os serviços de Reservas, Conservação e Inventário Geral, e
Arqueologia) 55, o Núcleo do Moinho de Maré de Corroios 56, o Núcleo da Olaria Romana
da Quinta do Rouxinol 57, a Extensão na antiga fábrica de pólvora de Vale de Milhaços 58, a
49
Este é já o terceiro técnico afecto ao Moinho de Maré de Corroios. Não é moleiro de profissão, no entanto
foram-lhe passados os conhecimentos necessários ao desempenho das suas funções. Durante as duas
primeiras “gerações” de técnicos, os conhecimentos relativos à profissão foram transmitidos directamente,
visto que o primeiro era moleiro de profissão, e passou os seus conhecimentos à pessoa que o foi substituir e
que gozou ainda de um período de contacto directo com o seu antecessor. Infelizmente o mesmo processo
não se verificou entre este último e o seu sucessor.
50 [em linha] Disponível em: http://www2.cm-seixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos_home.html
[acedido em Dezembro de 2011]
51 [em linha] Disponível em: http://www2.cm-seixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos_home.html
[acedido em Dezembro de 2011]
52 Anexo I
53
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em:
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos/nucleo_mundet.html [acedido em Fevereiro de 2012]
54
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos/nucleo_naval.html [acedido em Fevereiro de 2012]
55
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos/nucleo_qtrindade.html [acedido em Fevereiro de 2012]
56
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos/nucleo_moinho_mare.html [acedido em Fevereiro de
2012]
57
http://www2.cmPara
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
seixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos/nucleo_olaria.html [acedido em Fevereiro de 2012]
58
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/extensoes/extensao_polvora.html [acedido em Fevereiro de 2012]
33
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Extensão na Quinta de S. Pedro 59, e ainda a Extensão na Tipografia Popular do Seixal 60. O
EMS dispõe também de Instalações Técnicas na Torre da Marinha. A Proposta de
Regulamento do Ecomuseu Municipal do Seixal de 2009 previa que estas fossem desactivadas “em
função da atribuição de áreas e instalações técnicas adequadas às reservas museológicas em espaços a definir
pela tutela” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009b, p. 3), no entanto à data de realização
deste trabalho as referidas instalações não foram ainda desactivadas.
Esta descentralização territorial tem implicações também ao nível da gestão das
colecções. O acervo não está obviamente concentrado num único espaço físico (como é
habitual na maior parte dos museus) mas sim distribuído por vários edifícios de acordo
com o seu campo temático. Esta distribuição no espaço coloca problemas óbvios, por
exemplo ao nível do inventário que serão abordados em fases posteriores do presente
trabalho.
Administrativamente o EMS, de acordo com o site institucional da Câmara Municipal
do Seixal 61 integra a estrutura orgânica da Câmara Municipal do Seixal, na Direcção
Municipal de Administração Geral e Desenvolvimento Sociocultural, do qual faz parte o
Departamento de Cultura que por sua vez inclui a Divisão de Património Histórico e
Museus.
À tutela cabe a definição de políticas, planos e orçamentos, através de um Vereador de
Pelouro e de um Director de Departamento no qual se insere a Divisão correspondente ao
Ecomuseu. O Chefe de Divisão, enquanto órgão intermédio de gestão, possui
responsabilidade científica e técnica, propõe políticas, avalia e propõe programas de
actividade, gere o funcionamento da organização museal, e é ainda o responsável pela
equipa técnica. A Equipa Técnica possui um papel fundamental no quotidiano da
instituição quer pelas suas competências específicas nas diferentes áreas funcionais, quer
pela participação e contributo pessoal no cumprimento da missão, e dos objectivos que
todos ajudam a definir.
Este enquadramento institucional define que cabe à entidade de tutela, Câmara
Municipal do Seixal, a aprovação de orçamento e plano de actividades anual proposto pelo
Chefe de Divisão. A contratação e a afectação de pessoal estão também a cargo da entidade
de tutela, cabendo ao director a sua gestão corrente. Este modelo apresenta algumas
59
Para
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
http://www2.cmseixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/extensoes/extensao_qspedro.html [acedido em Fevereiro de 2012]
60
http://www2.cmPara
mais
informações:
[em
linha]
Disponível
em
seixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/pdf/tipografia.pdf [acedido em Fevereiro de 2012]
61 [em linha] Disponível em: http://www.cm-seixal.pt/CMSEIXAL/CAMARA/ [acedido em Dezembro de
2011]
34
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
fragilidades na medida em que sendo a tutela uma instituição pública da Administração
Local, está sujeita ela própria às contingências orçamentais emanadas superiormente,
devendo depois distribuí-las por diversos departamentos dos quais o EMS é apenas uma
parte. Por outras palavras, o orçamento destinado ao EMS, sendo definido anualmente pela
entidade de tutela, corre o risco de sofrer alterações de acordo com contingências relativas
à gestão autárquica como um todo, podendo remeter a instituição museológica para um
grave problema de sustentabilidade financeira.
Por outro lado, por estar enquadrado na estrutura orgânica da entidade de tutela, o
Ecomuseu, beneficia de mais-valias já que tem garantida a dotação de um orçamento anual
(realidade cada vez mais valorizada tendo em conta o momento de crise económica e
financeira que o nosso país atravessa), bem como de recursos humanos necessários para o
correcto funcionamento da instituição.
Nesta abordagem, o EMS baseia-se - do ponto de vista funcional - na gestão integrada
de serviços, por que se reparte uma equipa permanente de cerca de 50 pessoas. A tutela
atribui-lhe responsabilidades sobre o património museológico, cultural, material e imaterial,
móvel e imóvel. 62.
Internamente, o EMS organiza-se em serviços tecnicamente dependentes do Chefe de
Divisão. Dito de outro modo, o Director trabalha directamente com os coordenadores dos
serviços de: Conservação e Inventário Geral, Centro de Documentação e Informação,
Arqueologia, Inventário e Estudo de Património Industrial, Património Marítimo, Serviço
Educativo, Secção Administrativa e de Atendimento Público, e Gabinete de Gestão de
Embarcações Tradicionais. Com o objectivo de preencher as áreas de investigação e de
projecto, e dotadas dos respectivos recursos humanos, estão também constituídas áreas de
trabalho: Área de Investigação e de Projecto sobre Moinhos de Maré, Área de Investigação
e de Projecto sobre Património e Cultura Flúvio-marítimos, e Área de Arquitectura e
Património Cultural Imóvel. Os serviços anteriormente nomeados, à excepção do Gabinete
de Gestão de Embarcações Tradicionais e da Secção Administrativa e de Atendimento
Público, correspondem a estruturas não formais existentes apenas numa perspectiva de
organização interna da instituição museal.
De forma sucinta, o Ecomuseu Municipal do Seixal é uma instituição que cumprindo
as funções museológicas previstas nas definições de Museu adoptadas pelo ICOM e
plasmadas na Lei-Quadro dos Museus Portugueses (Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto), não
62
De acordo com o artigo 97º do “Regulamento dos Serviços Municipais da Câmara Municipal do Seixal” (Câmara
Municipal do Seixal, 2012)
35
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
corresponde verdadeiramente a um museu no sentido convencional e tradicional da palavra,
mas sim a uma experiência museológica, de gestão do património cultural referente a um
território e a uma realidade em mudança.
36
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
4. CARACTERIZAÇÃO DA COLECÇÃO EM ESTUDO
O presente trabalho, abordando a temática dos sistemas de documentação e
inventário de bens arqueológicos em contexto museal, versa uma colecção de cerâmica
arqueológica pertencente à Câmara Municipal do Seixal e gerida pelo Ecomuseu Municipal
do Seixal.
Esta colecção é fruto de trabalhos de escavação arqueológica na Olaria Romana da
Quinta do Rouxinol, sítio classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 26A/92, de 1 de Junho, situado na freguesia de Corroios, concelho do Seixal 63. Este sítio
arqueológico assumiu desde logo bastante relevância no panorama nacional, e até
internacional, por constituir a primeira estrutura deste tipo identificada no estuário do Tejo,
alterando completamente o conhecimento acerca da ocupação romana nesta zona, e
permitindo melhor compreensão das relações comerciais no seio do Império, sobretudo as
que dizem respeito ao comércio a longa distância (RAPOSO, J. e DUARTE, 2000, p. 13).
A Quinta do Rouxinol, antiga exploração agrícola diversificada (horticultura,
fruticultura, criação de gado, etc.) conhece um processo de urbanização a partir dos anos
70 do século XX, pelo que actualmente resta apenas uma pequena faixa junto ao esteiro do
rio, quase totalmente ocupada pelo viveiro municipal 64.
Segundo informações orais os primeiros achados arqueológicos terão ocorrido nos
anos 60 do século XX aquando da construção de uma central de captação de águas no
local. Na altura ter-se-á recolhido diverso espólio romano cujo paradeiro infelizmente não
foi ainda possível identificar. Mais tarde, entre 1982 e 1983 o Ecomuseu Municipal do
Seixal fez as primeiras prospecções sistemáticas no local, recolhendo uma moeda de
Constantino I juntamente com alguns fragmentos cerâmicos, e motivando a inclusão no
projecto de investigação regional Ocupação Romana na Margem Esquerda do Estuário do Tejo 65.
Em 1986, o EMS viu-se obrigado a precipitar o início dos trabalhos de escavação com
carácter de emergência, devido a trabalhos de saneamento básico realizados pela autarquia
no local. Depois, entre 1987 e 1991 realizaram-se novas campanhas de escavação agora já
de forma planificada (DUARTE, 1990; DUARTE e RAPOSO, 1996; RAPOSO, J. e
DUARTE, 2000).
63
Localização cartográfica: R. 120.869 Folha 442 da Carta 1/25.000 dos Serviços Cartográficos do Exército;
Coordenadas geográficas: 38º 39' 08,50'' N; 9º 08' 35,90'' W.; nº IPA: PT031510050004; Código Nacional de
Sítio: 3683; Processo ENDOVELLICUS: 86/1(190), C - 03683 e S – 03683
64 Anexo II
65 Projecto iniciado em 1985 com a participação da Câmara Municipal do Seixal, Câmara Municipal de
Alcochete, Câmara Municipal de Benavente, e coordenado pelo Centro de Arqueologia de Almada.
37
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Nos trabalhos arqueológicos foram detectados dois fornos de produção oleira,
vestígios de um terceiro forno, uma pequena estrutura de combustão e ainda algumas
fossas de despejo 66.
Na intervenção de 1986 foi escavado integralmente o primeiro forno (Forno 1) do
qual se conserva a base da câmara de combustão, encaixada em sedimento arenoso e
construída com tijolo e tijoleiras. Tem forma ovóide e um pequeno corredor de acesso na
zona mais estreita. Foram ainda detectadas as bases das três arcadas que suportavam a
grelha sobre a qual eram colocadas as peças a cozer. Não existem no entanto vestígios
dessa grelha, nem da câmara superior que completava o forno e permitia controlar as
condições de cozedura.
O Forno 2, escavado posteriormente, possui também três arcadas de suporte da
grelha, mas, ao contrário do Forno 1, incorpora algumas pedras na construção da parede,
apresenta um pequeno pilarete de suporte de uma dessas arcadas, e o pavimento do
corredor é realizado com placas de argila. À semelhança do primeiro forno, no Forno 2,
também não se encontraram vestígios da grelha sobre a qual coziam as peças, nem da
câmara superior.
O Forno 3 está limitado a um pequeno fragmento de parede, de aparelho
construtivo semelhante aos restantes. Na proximidade, uma concentração de tijolos e
tijoleiras sugere o derrube desta estrutura, a que se junta grande quantidade e diversidade de
fragmentos de ânforas, e peças de loiça doméstica que ilustram as suas produções.
A pequena estrutura de combustão detectada possui planta em forma de ferradura
encontrando-se também encaixada no sedimento arenoso. Construída com pequenos
tijolos paralelepipédicos, e outros fragmentos cerâmicos, a estrutura poderá ter funcionado
em associação com o Forno 2, eventualmente para cozedura de materiais mais frágeis ou
que carecessem de cuidados especiais.
A investigação levada a cabo na olaria, que terá funcionado entre as últimas décadas
do século II e o início do século V, permitiu classificar o vale do Tejo como um dos
centros de produção de ânforas mais significativos do território português (DUARTE e
RAPOSO, 1996).
O espólio resultante destes trabalhos de escavação foi encaminhado para o
Ecomuseu Municipal do Seixal sendo logo objecto de trabalhos de limpeza, marcação,
registo, classificação, acondicionamento, e intervenções pontuais de conservação e/ou
restauro quando justificado. À época, e em trabalhos posteriores de investigação resultantes
66
Anexo II
38
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
em publicação de artigos sobre o tema, foram inventariados em suporte Filemaker 67 os
materiais considerados mais relevantes.
No âmbito da metodologia de tratamento e acondicionamento dos materiais na
instituição realizaram-se várias fases de triagens de materiais. Num primeiro momento foi
efectuada uma separação tipológica e por tipo de fragmento (bordos, fundos, asas, panças,
etc.), dando prioridade ao estudo das ânforas, no âmbito do qual foram publicados variados
resultados quer arqueológicos quer arqueométricos 68.
Este é um estudo ainda em aberto que se desenvolve no âmbito do projecto de
investigação “Olaria Romana do Estuário do Tejo: centros de produção e consumo (Porto dos Cacos,
Quinta do Rouxinol e Rua dos Correeiros) – OREST”. Este projecto envolve o EMS, o Centro
de Arqueologia de Almada e o Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
(UNIARQ). Para os trabalhos mais recentes, relativos ao EMS, foi importante a
colaboração de uma Técnica Superior de Arqueologia - primeiro através de um estágio
promovido pelo Programa de Estágios Profissionais na Administração Local (PEPAL), e depois
em regime de prestação de serviços - para a realização de trabalhos de triagem,
classificação, medição e inventário de objectos.
No decurso dos estudos efectuados foi realizada a exposição “QUINTA DO
ROUXINOL – Uma Olaria Romana no Estuário do Tejo” 69. Esta exposição, como tantas vezes
acontece nas instituições museológicas, motivou uma série de trabalhos de estudo e
investigação, de revisão do inventário já realizado, e ainda de selecção de novos objectos,
não apenas no âmbito dos materiais anfóricos, como também acerca do sítio arqueológico,
e dos restantes materiais exumados. No seguimento desta exposição, e dos trabalhos que
motivou no seio do EMS, foi realizada uma dissertação de Mestrado, por um dos técnicos
de arqueologia do EMS 70, no âmbito da qual foram feitas novas triagens desta vez sobre
materiais de cerâmica comum.
O material exumado na Quinta do Rouxinol, quer pela relevância que assume no
panorama da investigação arqueológica, quer pelo potencial museológico que encerra, foi já
67
Referimo-nos a FileMaker Pro 4.1, versão 4.1v1 (9/8/98), software usado na construção de uma base de
dados específica desenvolvida pelo Serviço de Arqueologia do EMS.
68 Alguns exemplos de estudos publicados:
(DUARTE e RAPOSO, 1996) (RAPOSO, J. [et al.], 2005) (RAPOSO, J. SABROSA e DUARTE, 1995)
(DUARTE, 1990) (CABRAL FONSECA e GOUVEIA, 2002)
69 Referimo-nos à exposição “QUINTA DO ROUXINOL – Uma Olaria Romana no Estuário do Tejo” resultante
de uma parceria entre o EMS e o Museu Nacional de Arqueologia (MNA), ao abrigo do programa Pro-museus,
inaugurada em Março de 2009, à data de realização do presente trabalho ainda visitável, e complementada
pelo livro-guia “Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios/Seixal) (FILIPE e RAPOSO,
2009)
70 Referimo-nos à dissertação em Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sobre o
tema “As cerâmicas de produção local do centro oleiro romano da Quinta do Rouxinol”, realizada por Cézer Santos, com
classificação final de 18 valores, ainda não publicada. (SANTOS, 2011)
39
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
fruto de variados trabalhos de investigação, abordando diversas temáticas, e continuará
decerto a ser objecto de interesse e investigação por muito mais tempo graças às quase
inesgotáveis perspectivas de investigação que pode proporcionar.
4.1. METODOLOGIA CLASSIFICATÓRIA
A colecção a que se refere o presente trabalho formou-se a partir de uma série de
triagens realizadas sobre os fragmentos de cerâmica comum local 71, já plenamente no âmbito
do trabalho de Mestrado anteriormente referido (SANTOS, 2011). Para a realização desse
estudo usaram-se os bordos que possibilitassem (pela porção do objecto representada) a
classificação formal e funcional das peças, e nos casos em que não houve dúvidas quanto à
classificação (raros quando comparados com a totalidade de fragmentos) foram incluídos
também fundos 72.
Este trabalho, realizado entre Novembro de 2010 e Agosto de 2011 73 , permitiu
contabilizar a totalidade dos bordos de cerâmica comum exumados na Quinta do Rouxinol
– 9585 – e concomitantemente proceder à sua triagem, descrição, medição, classificação de
fabrico, classificação morfológica, e tratamento estatístico.
A classificação morfológica apoiou-se no quadro classificatório utilizado pela
instituição, “Elementos de Apoio à Classificação e Documentação de Colecções Cerâmicas” (Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização]), para o qual também contribuiu
acrescentando novas informações. Foi então estudada a totalidade dos bordos de cerâmica
de produção local – referentes à Quinta do Rouxinol – independentemente da sua
classificação funcional, exceptuando-se as ânforas por estarem já a ser tratadas no âmbito
de outros estudos.
Esta classificação morfológica teve ainda por base a separação dos fragmentos em
categorias e formas. Tratando-se de um contexto de olaria, e portanto de produção, a
classificação por critérios funcionais tornava-se duvidosa uma vez que a maioria dos
71
A designação cerâmica comum local, em arqueologia, refere-se à cerâmica de uso quotidiano - para confecção,
consumo e armazenamento de alimentos - e de produção endógena, por oposição à cerâmica fina, ou
cerâmica de excepção, que corresponde normalmente a materiais mais finos, de pastas e conformação mais
cuidadas, por vezes elaboradas com recurso a outros processos técnicos e tecnológicos, e frequentemente
importados. Esta designação é largamente utilizada no âmbito da arqueologia mas a sua definição é quanto a
nós pouco precisa. No âmbito do presente estudo, cingimos esta designação aos materiais endógenos
utilizados quer em ambiente doméstico, quer laboral/oficinal.
72 (SANTOS, 2011) a adopção desta metodologia é suportada, entre outros, pelos estudos de Fanette
LAUBENHEIMER (LAUBENHEIMER, 1985), e dá continuidade à metodologia anteriormente adoptada
para o estudo de materiais anfóricos.
73 Participei neste trabalho no âmbito da colaboração em regime de voluntariado com os Serviços de
Arqueologia do EMS
40
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
objectos, provavelmente, não chegaram a ter a utilização que lhes estaria destinada. De
facto é necessário ter em mente que um objecto, ou uma tipologia de objectos, raras vezes
possui apenas um fim, uma utilização única. Por exemplo, não podemos afirmar com toda
a certeza que os pratos produzidos na Quinta do Rouxinol se destinassem apenas ao
consumo de alimentos à mesa, e descartar a hipótese de terem sido também usados, por
exemplo, na preparação de alimentos a fogo. Esta realidade torna-se ainda mais complexa
quando nos deparamos com objectos que são muitas vezes utilizados tanto em contexto
doméstico, quanto oficinal/laboral, ou ainda em contexto funerário.
Esta realidade levou a que a metodologia classificatória utilizada tivesse em conta
tanto aspectos formais (a morfologia do objecto) quanto funcionais, dando muitas vezes
primazia aos primeiros. Podemos assim dizer que foi adoptado um critério classificatório
híbrido que viria depois a influenciar a forma como os objectos foram inventariados, uma
vez que foi seguido o mesmo critério de classificação.
Em primeiro lugar foram distinguidas as formas abertas 74 - nas quais se incluem os
pratos, os pratos covos, as tigelas, as bacias, os almofarizes, os alguidares, e os funis - as
formas fechadas 75 - onde se incluem os tachos, os potes/panelas, os potinhos, os jarros, as
bilhas, os cântaros, os grandes potes canelados, e as talhas – e outras formas 76 – que
incluem as tampas, as lucernas, os moldes, os suportes, os pesos, a cerâmica figurativa, e a
cerâmica arquitectónica. Para além destes foram individualizados os fragmentos de forma
indefinida, também denominada indeterminada 77 . Numa fase ulterior do trabalho de
triagem foram definidas e identificadas as variantes e sub-variantes dentro das diversas
formas.
Desde uma fase inicial do trabalho de triagem e classificação com o qual
colaborámos, houve a preocupação de criar uma metodologia classificatória o mais
abrangente possível. Pretendia-se que as formas, variantes, e sub-variantes, identificadas e
definidas fossem úteis, não apenas na análise do universo em estudo, mas também em
futuros trabalhos que versem a cerâmica arqueológica, sobretudo as cerâmicas comuns.
Para isso, foi criado um sistema de designação numérico (composto por quatro a cinco
74
“Formas abertas: regra geral, são recipientes que não apresentam restrições de diâmetro e onde o diâmetro máximo coincide
com a abertura (sem contar com a eventual curvatura do lábio). No entanto, também se incluem aqui peças com paredes
ligeiramente curvadas, onde o diâmetro da abertura pode ser um pouco inferior ao diâmetro máximo" (Ecomuseu Municipal
do Seixal, 2007 - [em permanente actualização], p. 12)
75 “Formas fechadas: recipientes que, acima do diâmetro máximo, apresentam diâmetros mais estreitos, coincidentes com a
abertura ou não.” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização], p. 13)
76
“Outras formas: recipientes que podem assumir formas abertas ou fechadas ou peças que não se podem incluir nesse tipo de
classificação.” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização], p. 13)
77 “Formas indefinidas: quando não é possível a atribuição mais precisa.” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007 - [em
permanente actualização], p. 13)
41
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
números separados entre si por pontos) que permite classificar os fragmentos quanto à sua
categoria (1º número), forma (2º número), variante (3º número), e sub-variante (4º e 5º
números) de modo equivalente. Quer isto dizer que, por exemplo, uma mesma variante,
independentemente da forma em que ocorra, tem sempre atribuído um mesmo número.
Este sistema classificatório foi traduzido na seguinte tabela:
Tabela 1 - Tabela Tipológica.
(Utilizada na classificação de fragmentos segundo a Categoria, a Forma, e a Variante)
Tabela Tipológica
Categoria
1. Abertas
2. Fechadas
3. Ânforas
4. Tampas
5. Lucernas
Forma
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8
9
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Prato (Prato Grande, Pratel)
Prato Covo
Tigela (Taça)
Bacia
Almofariz
Alguidar
Funil
Frigideira
Terrina
Tacho (Caçarola)
Pote/Panela (Púcaro)
Potinho (Copo, Caneca, Chávena)
Jarro
Bilha (Garrafa)
Cântaro
G. P. Canelado
Talha
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Africana Grande
Almagro 50
Almagro 51a-b
Almagro 51c
Beltran 72
Dressel 14
Dressel 28
Lusitana 9
QtR. 35
1.
2.
3.
4.
BD - Bordo Direito
BT - Bordo Triangular
BVI - Bordo Voltado para o Interior
BVE - Bordo Voltado para o Exterior
1.
2.
3
MAN – Manual
MLD – Moldada
Roda
6. Moldes
7. Suportes
8. Pesos
9. Cerâmica Figurativa
10. Cerâmica Arquitectónica
5.1. Moldes de Lucerna
1.
SA - Suporte em Anel
2.
ST - Suporte Tubular
1.
CUR – Curvilíneo
2.
ANG - Angulares
1.
2.
3.
Antropomorfo
Zoomorfo
Fitomorfo
1.
Tijolo
2.
Telha
3.
4.
Revestimento
Elementos de Canalização
Variante
1.
2.
3.
4.
BH – Bordo Horizontal
BD – Bordo Direito
BVI – Bordo Voltado para o Interior
BVE – Bordo Voltado para o Exterior
5.
BT – Bordo Triangular
6.
BAM – Bordo Amendoado ou Arredondado
7.
BDO – Bordo com Dobra sobre o Ombro
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
BB – Bordo Bífido
BCC – Bordo Contracurvado
BDA – Bordo Direito com Aba
BAA – Bordo em Aba Amendoada
BAI – Bordo com Aba Interna
BDC – Bordo com Dobra ou carena
BTRI – Bocal Trilobado
1.
Bordos
2.
Fundos
1.
Perfil Oblíquo
2.
Perfil Horizontal
1.
Peças Abertas
2.
Peças Fechadas
1.
2.
MB -Molde Bloco
MR - Molde Recortado
1.
1.
2.
3.
Secção Triangular
PO - Parede Oblíqua
PV - Parede Vertical
PA - Parede Arqueada
1.
2.
3.
1.
1. Discóide
2. Bobine
3. Quadrante
1. Trapezoidal
1.
Manual
2.
Molde
1.
2.
1.
2.
1.
1.
Angulares
Curvilíneos
Placa
Meia-cana
Azulejo
Tubular cilíndrico
As formas presentes na ol ari a romana da Qui nta do Rouxi nol .
As ânforas estão presentes mas não foram contempl adas neste estudo.
42
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Esta tabela é lida da esquerda para a direita de acordo com os três níveis
representados (Categoria, Forma, e Variante). Deste modo, se por exemplo, estivermos
perante a designação 1.1.4 sabemos que nos referimos a uma forma aberta, que é um prato,
com o bordo voltado para o exterior.
O quarto e o quinto nível de classificação, a sub-variante, não estão explícitos nesta
tabela visto que correspondem a especificidades que não podem ser generalizadas, e por
isso devem ser identificadas, em cada estudo, caso a caso.
A construção desta tabela é da responsabilidade do Serviço de Arqueologia do
EMS, particularmente no âmbito do trabalho de Mestrado em Arqueologia anteriormente
referido 78. O seu objectivo, para além da utilidade nos estudos referentes à cerâmica da
Quinta do Rouxinol, é conferir alguma normalização às terminologias e classificações
utilizadas nos estudos de cerâmica arqueológica de forma genérica. Deste modo foi
elaborada com base em designações amplamente utilizadas no panorama arqueológico e
que se incluem no documento de classificação elaborado e utilizado no EMS (Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização], p. 29-54), e foi construída de
modo a poder-se expandir caso se identifiquem categorias, formas, ou variantes, até então
desconhecidas, como de resto aconteceu no decurso do trabalho de triagem e classificação
em apreço.
Todos os dados recolhidos na análise do conjunto de fragmentos seleccionados
foram inseridos em folhas de cálculo informatizadas em Excel. Num primeiro ficheiro,
referente a dados de carácter morfológico, foram inseridos os dados do contexto
arqueológico, os dados de fabrico e grupo tipológico, e por fim os dados que caracterizam
particularidades nas diversas formas (tipo de asa, existência de sulcos no bordo, defeitos de
cozedura, presença de vestígios de uso, existência de decoração ou grafito, etc…). Este
ficheiro constituído por tabelas 79 onde se registaram as informações orientadas pelo
contexto de recolha dos objectos, teve por referência ficheiros já existentes utilizados na
classificação de materiais anfóricos no EMS, mas foi substancialmente alterado, com base
nos descritores incluídos no manual de trabalho interno anteriormente referido - “Elementos
de Apoio à Classificação e Documentação de Colecções Cerâmicas” (Ecomuseu Municipal do Seixal,
2007 - [em permanente actualização]). Num segundo ficheiro 80introduziram-se as medições
de diâmetro das peças, de acordo com a sua forma, mantendo em comum com a primeira
78
Contribuímos também com o Serviço de Arqueologia na construção e definição desta tabela que se assume
agora como instrumento vital de trabalho.
79 Anexo III, 1.
80 Anexo III, 2.
43
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
folha as informações de contexto arqueológico enquanto meio de identificação dos
objectos. Acreditamos que esta metodologia facilitará futuras contabilizações e tratamentos
estatísticos.
A par da análise morfológica realizou-se também a análise dos fabricos e matrizes
cerâmicas com o objectivo de determinar uma eventual relação entre estes e a morfologia
dos objectos que permitisse inferir considerações acerca da sua funcionalidade.
No que concerne os fabricos e matrizes cerâmicas, foi desenvolvida no âmbito do
trabalho de Mestrado já referido, uma ficha em Filemaker específica para este tipo de
análise 81 . Foi atribuído um código alfanumérico de dois a três dígitos aos grupos
petrográficos 82. Nesse sentido foram individualizadas desde as pastas mais grosseiras e as
técnicas de conformação mais simples, até pastas mais finas e técnicas mais complexas
(SANTOS, 2011) 83 num total de sete grupos técnicos de fabricos distintos.
No caso da Olaria Romana da Quinta do Rouxinol, a questão da relação entre os
dados técnicos de fabrico e os dados morfológicos complica-se, e os resultados obrigamnos a muitas cautelas neste tipo de relações. No que concerne ao fabrico mais comum no
universo analisado (Grupo C de Cézer Santos (SANTOS, 2011)) não existe, à partida, uma
relação entre o grupo técnico e a função. No entanto, quando comparados os principais
grupos de fabrico, verifica-se que existe uma distinção entre os fabricos com características
de ir à mesa, e os que não o sejam. Podemos assim dizer que os fabricos de carácter mais
fino (Grupo D de Cézer Santos (SANTOS, 2011)) se destinavam essencialmente à loiça de
mesa, ainda que apareçam residualmente em formas cuja funcionalidade se associa à
preparação de alimentos ou a armazenamento de líquidos (por exemplo tachos e panelas,
ou cântaros). Mas não podemos dizer com segurança que outros tipos de fabricos se
destinem exclusivamente a outras funcionalidades.
A metodologia de análise descrita, que incluiu a análise morfológica, a análise de
grupos de fabrico e matrizes cerâmicas, e a definição e distribuição dos fragmentos
estudados por tipologias e respectivas variantes e sub-variantes tipológicas, estruturou e
agilizou o trabalho de registo de inventário que se realizou no âmbito do presente estudo.
81
Anexo IV, 1.
“Os fabricos e matrizes cerâmicas foram observados com recurso a lupa de bolso de 20X e lupa-binocular de 45X.
Desenvolveu-se uma ficha específica para este tipo de análise, tendo como base modelos pré-existentes e com o apoio de manuais de
ceramologia.” (SANTOS, 2011, p. 32)
83 Anexo IV, 2.
82
44
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
4.2. UNIVERSO DE TRABALHO
O presente estudo partiu do mesmo universo de objectos que a dissertação de
Mestrado já referida (SANTOS, 2011).
O total de 9585 fragmentos de bordos distribuíram-se então pelas diversas formas,
variantes e sub-variantes anteriormente definidas.
Tabela 2 - Distribuição do nº de fragmentos por Formas
Nº de Fragmentos
Frequência
Relativa (%)
1502
519
665
77
273
507
1
1984
2116
585
281
324
73
41
27
262
6
3
328
11
9585
15,67%
5,41%
6,94%
0,80%
2,85%
5,29%
0,01%
20,70%
22,08%
6,10%
2,93%
3,38%
0,76%
0,43%
0,28%
2,73%
0,06%
0,03%
3,42%
0,11%
100%
Prato
Prato Covo
Tigela
Bacia
Almofariz
Alguidar
Funil
Tacho
Pote/Panela
Potinho
Jarro
Bilha
Cântaro
Grande Pote Canelado
Talha
Tampa
Lucerna
Molde
Suporte
Peso
Total
Peso
Suporte
Molde
Tampa
Lucerna
Talha
Cântaro
Grande Pote…
Jarro
Bilha
Potinho
Pote/Panela
Funil
Tacho
Alguidar
Bacia
Almofariz
Tigela
Prato
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Prato Covo
Frequência Relativa (%)
Gráfico 1 - Distribuição de fragmentos por Formas
Formas
45
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Tabela 3 - Relação entre Formas e nº de Sub-variantes Tipológicas
Prato
Prato Covo
Tigela
Bacia
Almofariz
Alguidar
Funil
Tacho
Pote/Panela
Potinho
Jarro
Bilha
Cântaro
Grande Pote Canelado
Talha
Tampa
Lucerna
Molde
Suporte
Peso
Total
Nº de Subvariantes
Tipológicas
9
4
13
5
3
9
1
5
8
8
4
11
3
3
5
6
3
2
7
4
113
A subdivisão em variantes encontra-se em anexo 84 e permite-nos perceber a grande
diversidade de variantes tipológicas presentes no espólio em estudo.
A cada uma destas tipologias acrescenta-se ainda um grupo denominado
“Indeterminadas” que corresponde a fragmentos de bordos cujas dimensões ou
características morfológicas não permitem determinar variantes ou sub-variantes, num total
de 1925 fragmentos (cerca de 20% do total de fragmentos com forma atribuída).
Depois desta triagem foi seleccionado um conjunto de fragmentos para serem
inventariados mediante critérios que serão mais tarde, no decurso do presente relatório,
abordados. Do conjunto de peças seleccionadas para inventário, foi ainda constituído um
segundo grupo, mais reduzido, que serviu de objecto de estudo no presente trabalho. Este
84
Anexo V
46
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
grupo, seleccionado em conjunto com o autor da dissertação de Mestrado anteriormente
referida, incluía os fragmentos mais representativos (pela percentagem de objecto
conservado) de cada sub-variante tipológica, e ainda todos os objectos com decoração,
inscrições, ou grafitos. A este grupo acrescentaram-se ainda os objectos que já se
encontravam inventariados na base de dados Filemaker, fruto de trabalhos de investigação
anteriores, formando um total de 271 objectos.
A colecção em estudo é então constituída por 271 fragmentos de cerâmica comum
local, maioritariamente bordos e fundos, alguns elementos de cerâmica arquitectónica, e
cerâmica figurativa, distribuídos pelas seguintes formas:
Tabela 4 – Distribuição da colecção por formas
Forma
Prato
Prato Covo
Tigela
Bacia
Almofariz
Alguidar
Funil
Tacho
Pote/Panela
Potinho
Jarro
Bilha
Cântaro
Grd. Pote
Canelado
Talha
Tampa
Lucerna
Molde
Suporte
Peso
Cerâmica
Figurativa
Cerâmica
Arquitectónica
Frequência Frequência
Absoluta Relativa (%)
23
9
48
7
6
18
3
11
18
14
11
25
4
8,49%
3,32%
17,71%
2,58%
2,21%
6,64%
1,11%
4,06%
6,64%
5,17%
4,06%
9,23%
1,48%
9
3,32%
10
7
5
3
27
9
3,69%
2,58%
1,85%
1,11%
9,96%
3,32%
1
0,37%
3
1,11%
47
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
É a partir deste conjunto de objectos de cerâmica comum do sítio arqueológico da
Olaria Romana da Quinta do Rouxinol que nos propomos, mediante um exercício de
inventário, desenvolver algumas questões inerentes à documentação e ao inventário de
colecções de arqueologia em contexto museal.
48
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
5. O SISTEMA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DO
EMS
No Ecomuseu Municipal do Seixal, as funções de documentação e inventário são
asseguradas por um Sistema de Documentação e Informação. Quer isto dizer que esta
instituição museológica possui e aplica já uma noção de documentação e inventário
museológico integrada na noção de sistema de informação, transversal aos vários serviços e
campos temáticos que abrange.
Abordámos já no Capítulo III (Caracterização da Instituição) do presente trabalho, a
estrutura territorialmente descentralizada do EMS, que em conjunto com a sua missão, se
traduz na diversidade de acervo gerido, na consequente multiplicidade de campos
temáticos, e na postura interdisciplinar com que idealiza e realiza os seus projectos. Esta
realidade suporta-se num modelo sistémico de gestão integrada de recursos e serviços, cujo
funcionamento se baseia na circulação e na partilha de informação. De facto, todos estes
elementos reflectem-se nas diversas funções museológicas cumpridas pelo EMS, e
necessitam de um sistema de tratamento e gestão da documentação polivalente e
transversal (FILIPE, 2005).
O sistema de documentação e informação actualmente utilizado e gerido pelo EMS
passou por um processo de implementação que acompanhou a história da própria
instituição, mas também dos sistemas de documentação e inventário no contexto
museológico português e internacional.
Ainda antes da institucionalização do Museu Municipal do Seixal (que se passaria a
denominar Ecomuseu Municipal do Seixal em 1983), já a entidade de tutela (a Câmara
Municipal do Seixal) manifestava alguma preocupação pela documentação e inventário em
âmbito museológico, cometendo à Área de Museografia as tarefas de “catalogação e classificação
das espécies” (Câmara Municipal do Seixal, 1982, Artigo 5º, nº 2, alínea c).
Em 1981, realizam-se assim os primeiros registos de objectos existentes em arquivo
(FILIPE, 2000, p. 99), seguindo os princípios e os instrumentos documentais
recomendados pelo ICOM, implementados pelo Departamento da Cultura da Generalitat da
Catalunha, e descritos por Luis Caballero Zoreda numa publicação intitulada “A propósito del
«Sistema de Documentacion para Museos»” (CABALLERO ZOREDA, 1983). Realizavam-se
em formulário tipo: as folhas de registo constituíam um livro de formulários, em duplicado,
e destacáveis, de modo a que a folha de preenchimento original se destinasse a circulação
49
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
ou à entidade de origem do objecto, e a cópia se destinasse aos serviços do EMS. Os
formulários identificavam a Câmara Municipal do Seixal – Serviços de Dinamização e
Planeamento Cultural – Património Histórico-cultural, e indicavam também a origem do
objecto através da freguesia e do proprietário.
Segundo Graça Filipe (FILIPE, 2000), entre 1981 e 1983 os registos de entrada
continuam a ser feitos no mesmo tipo de formulários, e a informação sobre os objectos é
normalmente muito sumária, havendo até indicação, em alguns casos, que os mesmos não
correspondiam à data de recolha ou de ingresso no museu. Algumas doações, pela sua
importância, ficaram registadas em acta das sessões administrativas da Câmara Municipal
do Seixal, como é o caso da oferta de dois barcos, em 1982, pela Associação Náutica do
Seixal. Destaca-se a documentação dos objectos em fotografia, função atribuída a um
elemento da equipa técnica do museu, em acumulação com outros trabalhos
museográficos, e dos objectos recolhidos em estaleiros navais, nos quais se nota um maior
cuidado no campo de descrição, mantendo-se ainda insuficiente a restante informação.
Ainda na década de 80, as primeiras escavações arqueológicas promovidas pelo
museu despertam necessidades de resposta a um novo trabalho de incorporação e
tratamento do espólio. No final desta década, a documentação, começa a ser encarada
numa perspectiva de alargamento do trabalho museológico em duas frentes: por um lado a
História local, competindo à instituição museológica a recolha e o tratamento de
informação relativa à história do concelho; e por outro o Arquivo Histórico Municipal,
competindo-lhe a sua organização e investigação.
Em 1991 o Ecomuseu Municipal do Seixal elaborou e seguiu um plano de
inventário retrospectivo do acervo móvel. Esta actividade levou à reformulação e à
normalização de critérios de documentação e de inventário, e à criação de bases de dados
informatizadas, desenvolvidas internamente, em suporte FileMaker Pro: a base de dados de
inventário geral, e as bases de dados de inventário e estudo de colecções arqueológicas.
Delinearam-se novos projectos de trabalho para o património edificado, particularmente
para o Núcleo Urbano Antigo do Seixal, e para o inventário do património proto-industrial
e industrial. À data, estava já em fase de reflexão e estudo a criação de um sistema
integrado de documentação para o EMS. A introdução do software FileMaker Pro permitiu a
criação de várias bases de dados adaptadas a objectivos específicos de documentação e/ou
de investigação, que mantêm, no entanto, pouca relação entre si.
Entre 1993 e 1995, procedeu-se à articulação entre a função de conservação e a de
difusão, estabelecendo-se o eixo de organização das actividades e de estruturação dos
50
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
serviços aos quais foram atribuídos níveis diferenciados de gestão: os trabalhos de
preservação nas áreas da incorporação, conservação, e “procedimentos mínimos de documentação
do acervo museológico” (FILIPE, 2000, p. 231), concentraram-se numa mesma equipa de
trabalho. Simultaneamente, o Centro de Documentação (CD), em conjunto com o serviço
de museografia, mantêm-se numa área de interligação entre estas duas áreas funcionais – a
conservação e a difusão. A transferência orgânica do Arquivo Municipal, e a sua saída física
do museu, motivou uma nova reflexão acerca das atribuições do CD. No entanto, a
insuficiência de recursos travou o salto qualitativo desejado como “verdadeiro serviço de
documentação do museu” (FILIPE, 2000, p. 235). Nesse sentido, a perspectiva de gestão do
CD aproximava-se bastante da do Serviço Educativo, visto que lhe cabia “uma vertente
essencial de resposta às necessidades e solicitações de um importante sector dos utilizadores do Ecomuseu”
(FILIPE, 2000, p. 231), constituído pelos públicos escolares dos vários graus de ensino (e
dentro destes com especial relevância os públicos universitários), e pelos utilizadores
particularmente interessados em informações históricas ou representações iconográficas
locais, ou ainda numa simples orientação bibliográfica. Na primeira metade da década de 90
o Centro de Documentação do EMS constitui-se assim como um interface entre as áreas
funcionais de investigação, preservação e difusão.
No período decorrido entre 1995 e 1998 assiste-se a uma reestruturação dos
serviços do EMS, com particular destaque para a constituição do Serviço de Inventário e
Estudo do Património Industrial, e para a reformulação do CD, a partir de então
denominado Centro de Documentação e Informação (CDI). Neste período ganham
também especial relevância os acervos arqueológicos, que motivam repercussões quer no
serviço de conservação, quer no reformulado Centro de Documentação e Informação, quer
ainda na programação de reservas que se pretendiam reinstalar convenientemente na nova
sede do Ecomuseu.
A reformulação do Centro de Documentação e Informação perspectiva um sistema
de documentação onde se incluem procedimentos, normas e métodos usados na
planificação, incorporação, e tratamento da documentação, tendo por objectivo a
organização e a gestão da informação utilizada dentro da instituição e difundida junto dos
públicos ou grupos de utilizadores do museu. Nesse sentido, a documentação divide-se em
três grandes grupos: o acervo museológico propriamente dito, repartido entre as reservas e
as exposições; a documentação científica relativa às disciplinas de base do museu; e os
documentos associados ou produzidos no âmbito do funcionamento da instituição.
(FILIPE, 2000).
51
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
As reformulações internas de que foi alvo o EMS nos últimos anos da década de
90,fizeram sobressair a indispensabilidade de uma gestão integrada de informação, capaz de
corresponder ao modelo de gestão desenvolvido, e simultaneamente, às crescentes
solicitações externas. Concorreram ainda para este reconhecimento a diversificação
acentuada de acervo, as crescentes exigências dos projectos de estudo e investigação
(nomeadamente nas áreas de Arqueologia e do Património Industrial), o consequente
volume de informação gerada, e finalmente, a organização e qualificação do CDI.
Reconhecendo-se que o sistema assente no programa FileMakerPro se mostrava
insuficiente, intensifica-se o processo de identificação de necessidades e pesquisa de
mercado para um novo sistema de gestão da informação.
Os critérios definidos para a escolha do novo software foram: a capacidade de
adaptação à diversidade das colecções do Ecomuseu; a capacidade de integração do
inventário de acervo com vários níveis de documentação; o respeito pelas normas nacionais
e internacionais, no campo da museologia, da biblioteconomia, e da arquivística; a
utilização de uma arquitectura aberta, e de linguagem de programação actualizada, com
perspectivas de desenvolvimento futuro e compatível com outras soluções informáticas; a
adequação ao funcionamento multiposto e em rede; e a facilidade de importação,
exportação, e divulgação da informação (RAPOSO, J., 2011).
Em 2002, após a pesquisa de mercado, e face à inexistência de produtos nacionais
que correspondessem aos requisitos enunciados pelo EMS, optou-se pelo software Mobydoc,
na altura circunscrito às bases de dados Micromusée (para o acervo móvel) e Mobytext (para
fundos documentais). Estas aplicações garantiam a capacidade de integração de colecções
diversificadas; a capacidade de inter-relacionamento de bases adaptadas a fundos diferentes;
facilidade de importação e exportação de dados; níveis de segurança adequados; ambiente
amigável para o utilizador; possibilidade de progressiva digitalização do acervo; e a
documentação de património não gerido. (RAPOSO, J., 2011)
Simultaneamente, criou-se um grupo de trabalho - transversal aos vários serviços
museológicos e coordenado pela direcção técnica do EMS - para o Sistema de Documentação e
Inventário responsável pelo estudo e adaptação às estruturas das bases de dados existentes, a
criação de tabelas e listas hierarquizadas de termos, a criação e/ou a adopção de thesauri
específicos, a conversão de dados e testes de funcionalidades, e a definição de normas e
procedimentos de utilização das bases de dados, pela elaboração de um Manual de Ajuda ao
Utilizador (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007) baseado no Manual Micromusée, versão 5,
de 1999 (FILIPE, 2005).
52
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Em 2004 e 2007, respectivamente, introduziram-se as bases Photo (para registos
fotográficos) e Archi (para inventário de bens imóveis, conjuntos, e sítios que integram a
Carta do Património do Seixal).
Em 2007, o sistema de informação do EMS conhece mais um salto qualitativo,
através do relacionamento de todas as bases (Micromusée, Mobytext, Photo, e Archi) num
sistema de gestão integrado – o Mobydoc MUM. Este sistema integrado de informação
abrange a gestão documental, a gestão de imagem, o acervo móvel, e o património imóvel,
e permite a partilha de thesauri, ficheiros e tabelas, pesquisas cruzadas, e a relação entre
registos de natureza diversa. No mesmo ano iniciou-se ainda a implementação da
ferramenta OPAC WEB (fornecido também pela MobyDoc) para a divulgação on line da
informação sobre o património inventariado pelo EMS.
Actualmente, o sistema de documentação do EMS integra quatro vertentes: os
objectos que gere e/ou acolhe no seu acervo, os dados que resultam do seu registo, a
documentação inerente ao estudo e interpretação do acervo bem como dos respectivos
contextos, e ainda a sua comunicação. O sistema de informação baseia-se também na
activação das funções museológicas e está em consonância com a missão institucional 85.
No EMS, a investigação é a actividade de base que estrutura as restantes funções
museológicas (FILIPE, 2005). A política de incorporação, bem como a definição do
estatuto do objecto museológico, e o sistema de documentação, são orientadas pela
Investigação. De facto, no decurso do nosso trabalho de estágio pudemos comprovar esta
realidade. A reflexão acerca do sistema de documentação e inventário dos objectos de
cerâmica comum, bem como o trabalho de selecção de objectos a incorporar na base de
dados institucional que nos propusemos para o nosso trabalho de estágio, surgiu do
projecto de investigação sobre os objectos de cerâmica comum da Quinta do Rouxinol,
vertido na dissertação de mestrado de Cézer Santos (SANTOS, 2011).
A incorporação de um objecto no EMS está também intimamente relacionada com
o respectivo inventário museológico. De facto, sendo a incorporação “o processo a partir do
qual um bem cultural, uma colecção ou um documento ganha estatuto museológico formal, a partir do
momento em que ingressa no EMS”
(Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009a, p. 1), e
considerando que a política de incorporação “integra as normas e procedimentos de entrada e registo
de bens, de inventário e de documentação, em vigor no EMS, incluindo a gestão de movimentos – internos e
85
A esse propósito: “o sistema de documentação do EMS propõe-se abranger, quer metodologias e normas inerentes à
aplicação de funções museológicas aos bens geridos e acervo incorporado, quer um tratamento alargado aos outros tipos de
documentos incorporados ou produzidos em contexto museal, tendo por referência e unidade de propósito o cumprimento da missão
e objectivos programáticos do Ecomuseu e respectivas funções museológicas.” (FILIPE, 2005, p. 10)
53
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
entre o EMS e outras entidades/instituições, por motivos de investigação, conservação ou exposição”
(Ecomuseu Municipal do Seixal, 2009a, p. 1), podemos afirmar que os procedimentos de
registo e inventário dos bens culturais determinam a sua incorporação na instituição, e por
isso, a sua mudança de estatuto para objecto museológico. Cabe ainda explicitar que no
EMS, em momento prévio ao inventário de bens móveis, procede-se ao Registo de Entrada
dos objectos, em suporte papel. Em casos excepcionais, como frequentemente representam
os objectos de cerâmica arqueológica, o EMS pratica uma forma de inventário intermédia,
em suporte informático. Esta forma de inventário que aparece em fase posterior ao Registo
de Entrada, antecede o Inventário Geral, e está, em regra, associada a um determinado sítio
arqueológico, obedece a critérios de estudo e investigação através dos quais se fundamenta
a integração de parte do espólio no inventário geral da instituição (Ecomuseu Municipal do
Seixal, 2009a).
Enquanto estrutura descentralizada, com uma área temática diversificada, o EMS
descentralizou também a tarefa de inventário dos seus bens culturais. Nesse sentido, as
áreas responsáveis pela introdução e validação da informação no sistema informático de
base de dados repartem-se fisicamente pelos núcleos da Quinta da Trindade e da Mundet, e
integram os serviços de Arqueologia, Inventário e Estudo do Património Industrial,
Património Marítimo, Conservação e Inventário Geral, e Centro de Documentação e
Informação, com colaborações pontuais de outros serviços e áreas funcionais.
No que concerne o acervo móvel, a base de dados informática utilizada no EMS,
inclui 33 zonas de introdução de dados de natureza diversa: administrativa, documental e
técnica 86 . A informação introduzida é “controlada por 29 ficheiros e 110 tabelas predefinidas,
actualizáveis e na sua maioria hierarquizáveis” (RAPOSO, J., 2011, p. 6). Esta organização em
tabelas e ficheiros, ao reduzir não apenas os campos de introdução de texto livre, mas
também a repetição da informação, garante uma maior qualidade e uniformidade na
informação introduzida, simplifica a reduz o tempo de alimentação, e diminui a
probabilidade de erro humano.
A articulação entre a base de dados Micromusée e a base Photo permite a visualização
de registos fotográficos associados em qualquer introdução ou consulta de dados,
completando deste modo o registo escrito.
86
As zonas de introdução de dados na base Micromusée no EMS são: Número de Identificação, Designação, Criação,
Execução, Utilização/Destino, Recolha, Matéria e Técnica, Medidas, Particularidades, Inscrições/Marcas,
Funcionamento/Contexto, Descrição analítica, Indexação, Categoria, Colecção anterior, Estatuto Administrativo, Dados
Patrimoniais, Departamento, Direitos de Autor, Valor Estimado, Verificação do Estado, Dados de Conservação, Localização
e Movimentos, Reprodução, Fotografia, Bibliografia, Analítico, Exposição, Observações, Imagem digital, Objecto Associado,
Catalogação, Informação do Sistema.
54
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Das potencialidades do sistema MobyDoc Mum em uso no EMS, salientamos a
possibilidade de duplicação de campos dentro de uma mesma zona, ou até de repetição de
zonas inteiras. Esta característica permite não apenas um registo tendencialmente mais
completo, como ainda a possibilidade de adequação do discurso do registo de inventário ao
perfil de utilizador. Esta ferramenta é particularmente útil no campo de descrição, como
explicitaremos mais à frente no presente trabalho.
Destacamos também, de entre outras, a possibilidade de associação de objectos
com algum tipo de relação entre si, incluindo objectos não directamente geridos pela
instituição (RAPOSO, J., 2011), aumentando assim as potencialidades de contextualização
de conhecimento.
Actualmente 87, o sistema de informação do EMS conta com cerca de centro e trinta
mil registos, repartidos entre acervo e registos fotográficos, acervo móvel e imóvel, e
fundos documentais.
5.1 O
SISTEMA DE
DOCUMENTAÇÃO
E
INFORMAÇÃO
E O
SERVIÇO
DE
ARQUEOLOGIA
Segundo o Regulamento do Ecomuseu Municipal do Seixal, cabe ao Serviço de
Arqueologia do EMS assegurar
“as atribuições e competências legalmente cometidas à CMS no domínio da
Arqueologia, nomeadamente através da coordenação científica ou do
acompanhamento de acções de inventário, documentação, investigação,
interpretação, conservação, valorização e divulgação do património arqueológico
relacionado com o território concelhio. A este serviço compete ainda promover um
sistema integrado de informação e gestão do espólio arqueológico recolhido no
Concelho, actualizar o inventário de sítios, imóveis ou conjuntos de natureza
arqueológica integrados na Carta do Património do Seixal e participar em
projectos de qualificação e desenvolvimento de núcleos e extensões do EMS, em
particular o núcleo da Quinta do Rouxinol (Olaria Romana) e a extensão da
Quinta de S. Pedro (Necrópole Medieval-Moderna).”
(Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2009b, p. 22, Capítulo V, Artigo 29º)
87
Dados relativos a 31 de Janeiro de 2012
55
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Quer isto dizer que compete ao Serviço de Arqueologia, para além das actividades
de investigação de campo (preventiva ou de salvamento), e do tratamento, conservação,
estudo e inventário de materiais arqueológicos (exumados por escavação, em trabalhos de
prospecção, doados ao museu, etc), realizar acções de educação e informação (através de
exposições, edições, acções de formação, etc) para públicos diversos. Todas estas
actividades resultam, evidentemente, em grandes massas documentais que devem ser
registadas na base de dados institucional, através da qual serão geridas, para se retirar o
máximo potencial museológico ou museográfico.
O inventário no âmbito do Serviço de Arqueologia apresenta assim algumas
especificidades, para além das que caracterizam a instituição museológica como um todo.
Algumas decorrem da própria natureza das colecções e outras decorrerão do processo de
documentação e inventário adoptado pelo EMS para este tipo de materiais.
De facto, como mencionámos já no decurso do presente trabalho 88, os objectos
arqueológicos, particularmente os de cerâmica arqueológica, apresentam especificidades
que os distinguem de outro tipo de objectos, e que devem ser considerados no momento
de inventário. Este tipo de objectos constituem, antes de mais, documentos históricos, e
por isso necessitam da explicitação dos contextos que as envolvem para atingirem a
totalidade do seu potencial informativo e museográfico. Por outro lado, o facto de
constituírem maioritariamente objectos de uso quotidiano retira-lhes a unicidade comum
nos objectos museológicos, pelo que a sua descrição estará frequentemente mais
relacionada com aspectos técnicos e/ou morfológicos, do que com aspectos estéticos ou
artísticos. Ressalta ainda o facto de a maioria destes objectos se apresentarem sob forma
fragmentária, e em enormes quantidades, o que inviabiliza o inventário da totalidade de
objectos, e obriga a um processo de estudo, investigação, conservação, documentação e
triagem, a partir do qual alguns serão alvo preferencial de investigação científica e, no todo
ou em parte, sofrerão uma metamorfose conceptual do caco ao objecto museológico.
Acresce ainda a problemática de indefinição de alguns conceitos inerentes à denominação
dos objectos de cerâmica arqueológica.
A estas especificidades, deve juntar-se o sistema utilizado no Ecomuseu Municipal
do Seixal para a documentação e inventário de objectos arqueológicos. Nesta instituição, o
inventário em Arqueologia obedece a duas fases. Em primeiro lugar, são isolados os “cacos”
indiferenciados (sem contexto de recolha relevante e/ou informação formal ou tecnológica
88
Ver Capítulo II – A Documentação e o Inventário em contexto museal
56
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
relevante). Estes objectos são, ainda assim, contabilizados e registados em folhas de cálculo
em suporte Excel, acondicionados e colocados em reserva. Os restantes são inseridos em
inventário específico de sítio arqueológico, em suporte FileMakerPro, e acondicionados em
reserva de modo diferenciado. Numa segunda fase, é seleccionado um grupo mais restrito
de objectos que integra a base de dados Micromusée, utilizada pela instituição para o
inventário geral do seu acervo móvel.
Esta opção metodológica encerra variadas motivações. Por um lado, a base de
dados Micromusée, como todas as outras genericamente preparadas para a gestão de acervo
móvel indiferenciado, não permite incluir informações mais específicas, de carácter
iminentemente científico, imprescindíveis à investigação e aos trabalhos arqueológicos
(sobretudo porque determinado tipo de informação, a ser introduzida no sistema de
inventário geral, poderia pôr em causa os processos de normalização, e tornaria a ficha de
registo praticamente ilegível a todos os que não tivessem formação específica em
arqueologia). As bases de dados em suporte informático FileMakerPro, porque facilitam
uma maior adaptabilidade de forma e conteúdos, e porque se destinam, quase
exclusivamente, ao Serviço de Arqueologia, apresentam-se como a solução que no imediato
melhor satisfaz estas necessidades.
Por outro lado, mesmo depois de realizada a separação dos objectos que encerram
potencial informativo/científico para a prossecução das funções de estudo e investigação,
de interpretação, de educação, e de comunicação, mantém-se um problema basilar na
documentação e inventário de materiais arqueológicos, que é o da natureza e da enorme
quantidade de objectos. De facto, esta instituição não possui recursos (financeiros, técnicos,
ou humanos) para realizar o inventário e documentação conveniente, de todas as peças, na
base de dados Micromusée. Deste modo, opta por realizar um registo mais rápido e expedito
dos materiais menos relevantes, em Excel, e manter a documentação e inventário dos
restantes, intimamente ligada à investigação, em bases de dados (FileMakerPro) criadas,
adaptadas e alimentadas pelo Serviço de Arqueologia, com os níveis de complexidade e de
exigência técnica requeridos pelo estudo de cada colecção. Destes, é depois seleccionado
um grupo mais restrito, desta vez por critérios estritamente “museológicos” (como o
potencial para o cumprimento das funções de interpretação, educação, e comunicação), que
será introduzido, pelo Serviço de Arqueologia, num inventário mais generalista (Micromusée),
com base na metodologia, regras, procedimentos, ficheiros e tabelas técnicas, aplicáveis a
todo o acervo da instituição. Esta última forma de inventário visa a consulta geral, interna e
57
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
externa, neste último caso logo que se concretize a operacionalização da aplicação Opac
Web, ou a participação institucional no programa Europeana.
Esta situação traz, obviamente, desvantagens que advêm logo do facto do acervo
museológico não estar inserido numa única base de dados, e por isso a sua gestão não ser
unitária. A consulta dos bens inventariados em suporte FileMaker é condicionada ao pessoal
interno ao EMS, e ainda assim é feita normalmente pelo Serviço de Arqueologia, pois é
preferencialmente a este que se destina a informação nela contida. Também a flexibilidade,
de forma e conteúdos que o suporte FileMaker proporciona pode ser uma desvantagem,
visto que dificulta um controlo da informação, quer ao nível da estrutura, quer ao nível da
linguagem. Para além disso, a falta de recursos humanos não permite transitar para suporte
Micromusée todos os objectos que o justificariam, sendo isso feito em função de
disponibilidades nem sempre compatíveis com outros programas ou tarefas em curso.
A solução de inventário em FileMaker é assim uma situação de compromisso que
permite registar os objectos, as suas movimentações ou acções de conservação e restauro,
informações de carácter específico úteis sobretudo ao Serviço de Arqueologia, em
momento prévio ao inventário na base de dados institucional. A situação desejável, num
futuro, seria que a instituição possuísse os recursos necessários (técnicos, humanos, e
financeiros) ao inventário e documentação de todos os seus bens de relevância científica na
base de dados institucional, satisfazendo as necessidades específicas do Serviço de
Arqueologia, sem comprometer a viabilidade de utilização da informação pelos restantes
utilizadores, mesmo que isso significasse manter uma base de dados “paralela” em suporte
FileMakerPro (por exemplo).
O inventário em suporte FileMaker assume-se assim como um instrumento de
trabalho intermédio entre o que seria desejável (o inventário de todos os bens científicos/
“objectos museológicos”) e o que é possível.
5.2 O
SISTEMA DE
DOCUMENTAÇÃO
E
INFORMAÇÃO
E A COLECÇÃO EM
ESTUDO
Para a colecção sobre a qual nos propusemos trabalhar durante a componente nãolectiva do Mestrado em Museologia em que nos enquadramos, adoptámos o sistema de
informação que temos vindo a descrever no presente capítulo.
58
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
5.2.1 METODOLOGIA DE INVENTÁRIO
O inventário de todos os fragmentos cerâmicos exumados na Quinta do Rouxinol é
injustificado visto que, pelo seu carácter fragmentário, a maioria não encerra potencial
informativo/científico, ou comunicativo em termos museais. Para além de pouco
pertinente, a realizar-se este tipo de trabalho, traduzir-se-ia numa tarefa hercúlea que
implicaria recursos humanos e financeiros indisponíveis quer nesta instituição, quer na
maioria das instituições museológicas portuguesas com colecções de arqueologia sob sua
responsabilidade. De facto, as colecções de arqueologia quer pela quantidade de objectos
que incluem, quer pela natureza fragmentária desses mesmos objectos, quer ainda pelo seu
carácter documental mais do que estético ou artístico, afastam-se em grande medida de
outros tipos de colecções museológicas como de Arte ou de Ciência e Técnica. Nas
colecções de arqueologia, em contexto museológico, temos que assumir a impossibilidade
de inventariar tudo.
Deste modo, como nos propõem Luís Raposo 89, e como de resto é também prática
do Ecomuseu Municipal do Seixal, é necessário à partida dissociar objecto arqueológico de
objecto museológico, com base em trabalhos de registo preliminares, conservação e
restauro, documentação, investigação e triagem, como se verificou na colecção em apreço.
É com base nestes trabalhos que alguns objectos sofrerão a metamorfose conceptual
abordada no Capítulo II do presente trabalho.
Nesse sentido, no âmbito de presente trabalho, a par com a triagem e o estudo
anteriormente referidos, foram definidos critérios que permitiram seleccionar um grupo
significativo de peças a inventariar. De acordo com a solução de inventário em duplo
suporte que a instituição adopta, optámos também por criar um conjunto de normas que
permitissem separar os objectos de inventário em FileMaker – ou inventário eminentemente
arqueológico – dos que serão introduzidos na base de dados Micromusée – sendo por isso
objecto de um inventário eminentemente museológico.
Com base nos critérios acima referidos realizou-se então, no âmbito do estágio que
deu origem ao presente relatório, o inventário de um conjunto de objectos, e o seu registo e
introdução na base de dados institucional. Os restantes mantêm-se apenas inventariados
em suporte FileMaker mas desejamos que num futuro, preferencialmente próximo, possam
89
Aula de Seminário em Programação Museológica do Mestrado em Museologia da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa no dia 03 de Dezembro de 2010
59
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
também ser introduzidos em Micromusée. A seguir apresenta-se uma relação entre o
conjunto inventariado na base de dados institucional e as respectivas formas.
Tabela 5 - Distribuição do Conjunto Inventariado em suporte Micromusée por
Formas
Formas
60
C. Arq.
Peso
C. Fig.
Molde
Suporte
100%
Lucerna
191
Talha
0,52%
Tampa
1
Cerâmica
Arquitectóni
ca
Total
Cântaro
0,52%
G. P. Can.
1
Jarro
Cerâmica
Figurativa
Bilha
4,71%
3,14%
3,14%
1,57%
14,66%
3,66%
Potinho
9
6
6
3
28
7
Pote/Panela
Talha
Tampa
Lucerna
Molde
Suporte
Peso
Funil
2,09%
Tacho
4
20%
18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
Alguidar
Grd. Pote
Canelado
Gráfico 2 - Distribuição do conjunto inventariado em suporte
Micromusée por formas
Bacia
9,95%
3,66%
18,32%
2,62%
1,57%
4,71%
1,05%
2,62%
3,66%
4,19%
3,14%
8,90%
1,57%
Almofariz
19
7
35
5
3
9
2
5
7
8
6
17
3
Tigela
Prato
Prato Covo
Tigela
Bacia
Almofariz
Alguidar
Funil
Tacho
Pote/Panela
Potinho
Jarro
Bilha
Cântaro
Prato
Frequência
Relativa
(%)
Prato Covo
Frequência
Absoluta
Frequência Relativa
Forma
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
6. APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS
O enquadramento enunciado nos capítulos anteriores orientou o trabalho de
estágio, desenvolvido no Ecomuseu Municipal do Seixal, no âmbito da componente não
lectiva do mestrado em Museologia.
O diagnóstico da realidade da instituição, o levantamento de problemáticas relativas
quer ao seu Sistema de Documentação e Informação, quer especificamente ao tratamento
das colecções de cerâmica arqueológica, conduziram à formulação das hipóteses de
resposta que a seguir se enunciam. Para os problemas que nos surgiram procurámos uma
abordagem global, que por um lado tivesse em atenção as necessidades institucionais, e que
por outro pudesse ser abrangente o suficiente para ser utilizada noutros contextos, noutras
instituições.
6.1. DEFINIÇÃO DE TERMINOLOGIAS
No capítulo A Documentação e o Inventário em Contexto Museal: algumas considerações
salientámos a importância fundamental da normalização de terminologias e procedimentos
na prossecução dos objectivos de documentação e inventário museológico. Deste modo,
procurámos ao longo do trabalho de estágio contribuir para essa mesma normalização no
que concerne a documentação e inventário das cerâmicas comuns locais da Quinta do
Rouxinol, no Ecomuseu Municipal do Seixal.
Numa fase inicial de estágio, acompanhámos e colaborámos com os trabalhos de
selecção e triagem de materiais, no âmbito de uma dissertação de mestrado, sobre as
cerâmicas comuns locais da Quinta do Rouxinol (SANTOS, 2011).
Nesse sentido, foi elaborada uma metodologia classificatória de fragmentos de
cerâmica comum (SANTOS, 2011). Esta metodologia deu origem a uma Tabela Tipológica 90,
elaborada interdisciplinarmente, e que prossegue os objectivos de normalização
metodológica, estruturando não apenas trabalhos futuros no seio do EMS, mas também
eventuais trabalhos externos.
Paralelamente, ainda num trabalho conjunto com a dissertação acima mencionada,
foram revistas e ampliadas as terminologias a incluir na Tabela Tipológica, e que estavam já
contempladas no manual de trabalho “Elementos de apoio à classificação e documentação de colecções
90
Tabela 1 Capítulo IV.
61
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
de cerâmica” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização]) 91. Esta
definição terminológica conduziu à normalização da informação introduzida no campo
Denominação no inventário posteriormente realizado.
6.2. DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS DE INVENTÁRIO
Depois de criteriosamente analisados, estudados, e triados os objectos que fariam
parte do estudo realizado no âmbito da dissertação já referida, e tendo em mente as
problemáticas inerentes ao inventário de materiais cerâmicos arqueológicos, procedeu-se à
selecção de peças para inventário.
Tendo em conta o sistema de inventário do EMS em duas vertentes – FileMakerPro
e Micromusée – era fundamental a definição de normas que orientassem os procedimentos de
selecção de objectos para ambos.
As normas que presidiram a esta escolha foram seleccionadas com base num
levantamento dos critérios utilizados no EMS, e em outras instituições, conforme a
bibliografia publicada (CRUZ e CORREIA, 2007; MATOS, 2007a; RAPOSO, L.
MARTINS e CORREIA, 2000), bem como em trabalhos de investigação arqueológica
(BALFET
FAUVET-BERTHELOT
e
MONZON,
2000;
BALFET
FAUVET-
BÉRTHELOT e MONZON, 1992). De facto, é nosso objectivo contribuir para a
normalização de práticas no seio desta instituição, e se possível para a discussão da
normalização destes critérios no panorama nacional.
Considerando o inventário em FileMakerPro, no EMS, como o momento mais
abrangente de inventário, foram definidos os seguintes critérios:
• Peça completa: o número de peças completas de cerâmica comum em contexto de
escavação arqueológica, quer por recolha directa, quer por reconstituição após
“puzzle” em laboratório, é por norma muito reduzido, pelo que sempre que se
verifique este critério a peça deverá ser inventariada, independentemente de
critérios estéticos ou de outra ordem.
• Fragmento de perfil completo: entende-se por fragmento de perfil completo os
que apresentem uma secção conservada desde o bordo até ao fundo. Este tipo de
fragmento, para além de permitir reconstituições do objecto mais fiáveis, permite
também obter dados importantes quanto à sua tipologia e dimensões.
91
Anexo VI
62
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
• Fragmento com 50% ou mais de diâmetro de bordo ou fundo conservado,
e/ou Asa completa: este tipo de fragmentos permite a contabilização mais fiável
de EEP (Estimativa de Equivalente de Peça) 92 e a obtenção de dados mais seguros
no tratamento estatístico.
• Fragmentos representativos de contexto e/ou tipologias/formas: no decorrer
dos trabalhos de investigação deverá ser seleccionado pelo menos um fragmento
representativo de cada contexto estratigráfico, independentemente da metodologia
utilizada durante os trabalhos de escavação, bem como de cada Categoria, Forma,
Variante, ou Sub-variante tipológica.
• Fragmentos com potencial datante: os fragmentos que permitam atribuir
cronologias mais precisas a determinado contexto (como por exemplo as sigillatas),
devem ser sempre inventariados.
• Fragmentos com marcas decorativas ou inscrições/grafitos: os fragmentos
decorados ou que apresentem inscrições ou grafitos devem ser sempre
inventariados quer pelo potencial informativo que o estudo das técnicas e motivos
decorativos/inscrição/grafito pode potenciar, quer pelo seu carácter excepcional,
quer ainda pelo carácter estético.
• Fragmentos com particularidades que o transformam em excepção: sempre
que o objecto apresente particularidades únicas no seio de determinada colecção,
ou até da instituição museológica referente, ou ainda no panorama arqueológico
nacional/internacional, deve ser inventariado. Aqui se incluem, entre outras, as
peças reproduzidas em publicações.
• Fragmentos que sejam objecto de intervenções de conservação e/ou
restauro: os fragmentos sujeitos a intervenções deste tipo devem ser inventariados
como forma de assegurar o registo das transformações que neles ocorrem durante a
sua “vida” na instituição museológica, independentemente da existência de fichas
de laboratório que registam os pormenores técnicos da intervenção.
92
EEP, ou Estimativa Equivalente de Peça, trata os fragmentos de cerâmica não individualmente mas em
termos de representatividade face a uma peça (ou parte dela) completa. Permite conhecer o número mínimo
de objectos que podem estar representados num determinado conjunto de fragmentos (por exemplo se
possuirmos um fragmento com 50% ou mais de diâmetro de bordo conservado, será contabilizado como
uma unidade, mas se tiver apenas entre 25% e 50% do diâmetro de bordo então será contabilizado como 0,5
de uma unidade, se tiver entre 10% e 25% como 0,25, entre 5% e 10% como 0,1, e menos de 5% como 0,05).
(SANTOS, 2011)
63
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Estes critérios não pretendem, de forma alguma, ser exclusivos, pelo que cabe à
instituição avaliar a pertinência de inventário de objectos que não cumpram os acima
mencionados. Consideramos, no entanto, que a adopção destes é uma mais-valia,
impedindo a proliferação de práticas pouco normalizadas, e portanto de resultados
indesejáveis.
Para além destes, no caso do EMS, faz sentido devido à sua metodologia de
inventário, definir critérios que seleccionem os objectos cujo inventário deva ser
considerado, prioritariamente, também em Micromusée. Estes têm como principal objectivo
cumprir as funções de educação, comunicação, e interpretação, respeitando também as
necessidades de estudo e investigação. Sublinhamos que esta realidade é uma situação de
compromisso, e que, idealmente, não seria necessário seleccionar, de entre o conjunto
definido, um novo grupo.
Elaborámos assim uma lista de critérios, ordenada por preceitos de prioridade, a
seguir na escolha dos objectos:
• Peça completa: as peças que se encontrem completas, ou que esteja reconstituída
parte significativa da sua forma original, devem constar da base de dados
institucional pois são as que, à partida, possuem mais potencial comunicativo,
investigacional, expositivo e interpretativo.
• Fragmentos representativos de contexto e/ou tipologias/formas: este tipo de
objectos deve ser inventariado na base de dados institucional uma vez que
constituem, per si, fontes documentais de vital importância para a investigação e
documentação do contexto de recolha, e das suas eventuais significâncias.
• Fragmentos com marcas decorativas ou inscrições/grafitos: este tipo de
objectos, para além do potencial informativo que encerram, são valiosos
instrumentos de comunicação e exposição.
• Fragmentos com particularidades que o transformam em excepção: à
semelhança do que atrás se referiu acerca destes objectos no âmbito do inventário
em sentido lato, no caso da base de dados institucional, estes objectos devem fazer
parte do grupo de inventário prioritário pois as suas características excepcionais
conferem-lhes potencial para cumprimento das funções museológicas já referidas –
a comunicação, a interpretação, a educação, a investigação, e a documentação.
64
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Aplicámos estes critérios no decurso do nosso trabalho de estágio no EMS,
resultando numa selecção de 271 fragmentos a inventariar em FileMakerPro, e 191 em
Micromusée, de um universo de 9585 fragmentos.
Esta definição de critérios permitiu uma optimização de recursos, reduzindo o
tempo de selecção e o erro humano, e estruturou o grupo de peças a inventariar, num
conjunto coerente que satisfizesse não apenas as necessidades institucionais, como também
de eventuais utilizadores externos do sistema de documentação e informação.
Depois de seleccionado o conjunto a inventariar, procedeu-se à introdução de
dados em suporte FileMakerPro e Micromusée.
6.3. ELEMENTOS PARA UMA PROPOSTA DE UNIFORMIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
No decurso do trabalho de inventário, detectámos a necessidade de definição de
terminologias, e de estrutura de informação, fundamentalmente, em dois campos: medições e
descrição.
A ausência de uma mesma estrutura de informação nestes campos induzia, muitas
vezes, o utilizador em erro face ao potencial informativo da peça. Por outras palavras, a
ausência de determinada informação podia significar que o objecto não a permitia obter, ou
simplesmente que o inventariante não a tinha contemplado no seu registo. Do mesmo
modo, a indefinição de alguns conceitos como comprimento, largura, e altura, tornava a
informação confusa, reduzindo a sua utilidade.
Para dar resposta a estas necessidades, elaborámos um manual de apoio cujas
considerações fundamentais reproduziremos a seguir, e que apresentamos como proposta –
ou caminho – para a resolução destas questões: “Elementos para uma Proposta de uniformização da
Informação”. O principal objectivo deste documento é constituir um contributo para uma
maior uniformização da informação a inserir no âmbito de inventário, sobretudo no que se
refere à estrutura e organização da mesma. Estamos cientes que este é sempre um trabalho
em aberto, idealmente realizado com recurso a uma equipa multidisciplinar, e por isso, este
documento, não pode ser entendido de forma rígida, ou dogmática.
65
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
6.3.1. “ELEMENTOS
PARA
UMA
PROPOSTA
DE
UNIFORMIZAÇÃO
DA
INFORMAÇÃO” - CLARIFICAÇÃO DE CONCEITOS
Antes de mais, pensamos ser indispensável a clarificação de alguns conceitos
inerentes aos sistemas de documentação e informação em âmbito museal.
A documentação e o inventário em contexto museológico realizam-se, actualmente
e na maioria dos casos, com recurso a ferramentas informáticas, mais concretamente bases
de dados.
Genericamente, uma base de dados é um conjunto de informações, organizadas
segundo regras específicas, às quais se pode aceder para introduzir, extrair, actualizar,
acrescentar, ou eliminar informação. No contexto informático, uma base de dados é um
conjunto de dados estruturados, manipuláveis mediante um Sistema de Gestão de Bases de
Dados ou Database Management System (DBMS) 93. Existem diversos tipos de bases de dados
informáticas (Bases de Dados Hierárquicas, Modelo em Rede, Base de dados por objectos, Base de dados
Relacional) que evoluíram historicamente no sentido de uma maior complexidade em termos
de estrutura, e de maiores e melhores potencialidades tanto no registo da informação
quanto na obtenção de informações distintas – mas relacionáveis - sobre um mesmo
registo.
A que melhores soluções oferece, no contexto museológico, é a base de dados
relacional. Este tipo de base de dados estrutura a informação em diversos ficheiros que se
associam entre si através de campos comuns. Neste caso, um ou mais campos funcionam
como índex, ou seja, chaves – ou descritores - que interligam a informação entre os diversos
ficheiros, e pelas quais esta é procurada quando necessário. Dito de outra forma, uma
chave/descritor é um campo que permite identificar de forma unívoca os
registos/entidades de um ficheiro.
Os elementos fundamentais de uma base de dados relacional são assim os ficheiros:
cada um corresponde a uma classe de entidades ou a um relacionamento entre entidades, e
é designado por um nome único dentro da base. As bases de dados relacionais possuem
uma “chave” comum – chave primária - que identifica, de igual modo, em cada base,
diferentes tipos de informação sobre os registos individuais. A chave primária mais comum é
a referência ou número de inventário. Para que haja uma relação efectiva, este campo terá de se
repetir em todas as bases, com a mesma designação e formatação de dados.
93
Um Sistema de Gestão de Bases de Dados “é uma aplicação informática que faz a gestão de toda a base de dados”
(CARVALHO AZEVEDO e ABREU, 2008, p.39)
66
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Um registo/entidade corresponde ao sujeito de informação da base de dados, ou
seja, cada um dos elementos acerca dos quais queremos guardar informações. No caso da
documentação e inventário em contexto museal, os registos/entidades mais comuns são os
objectos que pretendemos inventariar.
Os registos/entidades são constituídos por atributos – características de um
registo/entidade, ou neste caso particular, as características do objecto a documentar ou
inventariar, através de conteúdos a inserir em diferentes campos. Cada registo/entidade
possui ainda dois tipos de campos/atributos associados: o campo/atributo identificador
(também designado chave primária) e os campos/atributos descritores – atributos que não
pertencem à chave primária, ou seja, não identificam mas descrevem cada ocorrência da
entidade.
Em bases de dados complexas os conjuntos de campos podem ser agrupados em
zonas. Por exemplo, a Base de Dados Micromusée, utilizada pelo EMS, é constituída por 33
zonas de introdução de dados 94, alimentadas por 29 ficheiros e 110 tabelas. É através dos
ficheiros que se organiza e partilha os dados relativos a “cronologias, designações, exposições,
intervenções realizadas, locais, matérias, palavras-chave, pessoas/colectividades, técnicas, etc.” (RAPOSO,
J., 2011, p. 6). Quanto às tabelas “sistematizam categorias, coordenadas, condições de degradação,
medidas, métodos de recolha, modos de incorporação, etc.” (RAPOSO, J., 2011, p. 6). Esta
organização garante um maior controlo na informação introduzida, e um aumento da
fiabilidade através da redução do erro humano, uma vez que diminui os campos de texto
livre, e simplifica e abrevia o tempo de alimentação (já que não é necessário repetir
informação em registos diferentes).
Utilizaremos futuramente o vocabulário acima descrito quando nos referirmos aos
suportes informáticos de inventário, exceptuando-se o termo descritor que utilizaremos mais
especificamente para designar as informações que caracterizam determinado objecto em
determinado contexto – por exemplo os descritores de dimensão serão o comprimento, a
altura, a largura e o diâmetro.
94 As 33 zonas são: Números de identificação, Designação, Criação, Execução, Utilização/Destino, Recolha, Matéria e
Técnica, Medidas, Particularidade, Inscrições/Marcas, Funcionamento e contexto, Descrição analítica, Indexação, Categoria,
Colecção anterior, Estatuto Administrativo, Dados Patrimoniais, Departamento, Direitos de autor, Valor estimado,
Verificação do estado, Dados sobre a conservação, Localizações e movimentos, Reprodução, Fotografia, Bibliografia, Analítico,
Exposição, Observações, Imagem digital, Objecto associado, Catalogação, Informações do Sistema (Ecomuseu Municipal do
Seixal, 2007)
67
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
6.3.2
“ELEMENTOS
PARA
UMA
PROPOSTA
DE
UNIFORMIZAÇÃO
DA
INFORMAÇÃO” - O CAMPO DE DESCRIÇÃO
O campo de Descrição das fichas de inventário em contexto museológico é de
importância vital no âmbito da documentação e inventário de uma colecção, e assume-se
como instrumento útil a qualquer uma das funções museológicas.
No entanto, esta ferramenta será tanto mais útil quanto rigoroso, claro, estruturado
e organizado for o seu conteúdo.
Em alguns suportes informáticos de inventário – por exemplo o Micromusée - é
possível duplicar a zona destinada à Descrição na ficha de inventário, permitindo adaptar a
linguagem e os conteúdos ao público-alvo. Deste modo, as descrições terão complexidades,
linguagens, e informações distintas caso se dirijam a um público especializado, por
exemplo, aos utilizadores internos da instituição museológica, ou a um público generalizado
como o é o da Web. Importa, em todo o caso, definir em cada uma das situações, quais as
informações que pretendemos registar, em que sequência ordenada o faremos, e que
vocabulário utilizaremos. Só assim poderemos ter alguma uniformidade na estrutura da
informação, acelerando não só o processo de registo, como optimizando os processos de
consulta e recolha de informação pelos diferentes destinatários.
Na tentativa de criarmos uma uniformização a esse nível para o Ecomuseu
Municipal do Seixal, no que se refere às suas colecções de cerâmica arqueológica, e à
informação destinada preferencialmente a utilizadores internos da instituição, achamos que
será crucial atentar em primeiro lugar à realidade existente. Nesse sentido socorremo-nos
de duas ferramentas que consideramos essenciais: a bibliografia nacional e internacional de
referência sobre o tema 95, e a observação atenta da realidade dos museus nacionais.
Para esta última, no âmbito deste estudo, e dadas as limitações de tempo que
impediriam a realização de uma análise mais aprofundada, decidimos centrar a nossa
atenção nos museus tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação cujo sistema de
informação é o programa Matriz. Destes centramo-nos nas instituições que publicaram os
seus registos sobre objectos de cerâmica arqueológica no interface web MatrizNet.
Escolhemos esta amostra porque pretendíamos analisar a informação inserida no
campo Descrição do inventário de bens de cerâmica arqueológica, e para que não houvesse
discrepâncias motivadas pela utilização de suportes informáticos distintos, necessitávamos
de um conjunto significativo de instituições que utilizasse o mesmo suporte informático de
95
Ver Anexo VII
68
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
inventário. Por outro lado, pareceu-nos relevante que os registos analisados fossem
produzidos por instituições que adoptassem já as normas de inventário publicadas pelo
Instituto dos Museus e da Conservação, supondo-se por isso que a introdução de
informação no campo Descrição fosse já de algum modo normalizada. Concorreu ainda para
a nossa escolha o facto de os registos estarem disponíveis para consulta na Web podendo,
por isso, ser procurados e utilizados por públicos muito diversificados.
O suporte de inventário Matriz não permite a duplicação do campo Descrição, pelo
que não existe a possibilidade de adaptar o conteúdo de cada registo/entidade ao
destinatário preferencial da informação. O seu interface web - Matriz.net - assume-se como
“um importante instrumento, não apenas de trabalho, para profissionais ligados ao sector patrimonial e
museológico e para o público estudantil, mas também de descoberta do património para públicos
alargados” 96. Supomos assim, pelo público alargado a que se destinam, e pela impossibilidade
de duplicação deste campo de inventário, que os registos/entidades publicados neste
catálogo on-line detenham a informação mais completa e abrangente possível, pois só assim
conseguirão satisfazer as necessidades de públicos tão alargados como os utilizadores
internos das instituições, ou os públicos estudantis, por exemplo 97.
Da análise das fontes bibliográficas e da realidade de alguns museus sobressai a
disparidade em termos de uniformização, quer de conteúdos a incluir no campo de
Descrição, quer da sua estrutura. No entanto, comparando as diversas realidades e ainda a
experiência do Ecomuseu, pensamos poder avançar com uma proposta de modelo de
estruturação de conteúdos na Descrição.
Depois de estudados os princípios propostos quer pela legislação portuguesa na
área do património, quer pelas normas internacionais no campo da documentação, ressalta
a importância da descrição no seio do inventário, enquanto campo de identificação de um
objecto que fornece informação útil para as diversas actividades museológicas
(conservação, segurança, exposição, educação, entre outras).
As Normas de Inventário publicadas pelo IMC fornecem-nos também algumas
orientações gerais. No entanto, não nos proporcionam orientações específicas que
impeçam a variedade de organizações de descrição que constatamos na análise aos vários
museus.
96
[em linha] Disponível em: http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Apresentacao.aspx [consultado
em Janeiro de 2012]
97 Anexos VIII e IX
69
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
No que diz respeito a bibliografia específica acerca de materiais de cerâmica
arqueológica, salientamos os estudos de Balfet, Fauvet-Bérthelot e Monzon
(BALFET
FAUVET-BERTHELOT e MONZON, 2000; BALFET FAUVET-BÉRTHELOT e
MONZON, 1992) cuja estrutura e organização de conteúdos corresponde, genericamente,
à organização que pensamos ser a mais adequada para o campo de descrição, e que
coincidentemente, ou não, está muito próxima da usada pelo Museu Nacional de
Arqueologia (dos museus analisados é o que nos seus registos evidencia maior
uniformização quer no que concerne aos conteúdos, quer a sua estrutura e organização).
Como já foi referido, o campo de Descrição de Inventário no contexto museológico
pode assumir diversos objectivos. Muitas vezes, este campo de introdução de texto não
controlado identifica o objecto na ausência de uma imagem, ou completa-a. Pode servir
para a gestão de acervo do museu, por exemplo na selecção de peças para exposições ou
catálogos, pode também ser utilizada como base de elaboração de uma legenda ou entrada
de catálogo, como apoio para trabalhos de investigação, ou no caso dos registos acessíveis a
utilizadores externos ao museu, pode constituir a informação fundamental para o
conhecimento do objecto em questão, por exemplo.
Em alguns suportes informatizados de inventário é possível a duplicação do campo
Descrição (como é o caso do programa utilizado no Ecomuseu Municipal do Seixal)
alargando assim as hipóteses de fazer corresponder a descrição a objectivos e públicos
específicos. No entanto, em muitos programas, como por exemplo o Matriz, esta realidade
não se verifica. Devemos então assumir que a cada objecto, na maioria das situações,
corresponderá um único conteúdo no campo de Descrição, que poderá – e deverá – ainda
assim ser actualizado sempre que surjam novos dados de interesse. Esta limitação leva-nos
a crer que por defeito os conteúdos da descrição deverão ser os mais completos possíveis
sem comprometer a sua acessibilidade pelos diferentes públicos.
Em primeiro lugar acentuamos alguns princípios básicos inerentes à descrição de um
objecto museológico, que nos são referidos na bibliografia analisada, nomeadamente nas
Normas de Inventário do Instituto de Museus e da Conservação:
• A descrição deve ser realizada partindo do geral para o particular.
• Em fragmentos que o permitam, primeiro identificar a peça tal como se reconstitui,
só depois particularizando o que se conserva. Entendemos que este é o modo mais
eficaz de identificar o objecto de forma compreensível para a maioria dos públicos.
A quem não domina o vocabulário arqueológico/museológico será decerto mais
fácil identificar um prato por esta designação, e só então perceber que deste prato
70
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
apenas se conserva parte do bordo, por exemplo, do que identificar o objecto pela
parte conservado - por exemplo bordo de prato - quando muitas vezes as
designações bordo, pança, ou fundo, não são de conhecimento generalizado.
• Seguindo o princípio anterior, devemos identificar primeiro a forma genérica e a
estrutura a descrever, e só depois os elementos acessórios ou decorativos.
• A descrição acompanhará logicamente a verticalidade ou a horizontalidade da
própria peça e organizar-se-á partindo dos elementos principais para os secundários
(corpo principal, seguido das asas, pegas, ou bicos, por exemplo).
Acreditamos assim que é fundamental a identificação imediata do objecto pela
mesma designação que lhe é atribuída no campo Designação da ficha de inventário, para que
não existam dúvidas sobre qual o objecto que estaremos a descrever.
Admitimos também que a descrição, cujo objectivo é não apenas a utilização
interna pela instituição mas também a comunicação, terá muitas vezes que repetir
informações já inseridas noutros campos do inventário. Estas informações, porque são
caracterizadoras do objecto, não deverão ser omitidas.
Referimo-nos, por exemplo, à descrição dos elementos de decoração. Ainda que
haja outro campo da ficha de inventário especificamente para este propósito, a decoração
de um objecto é um factor identitário, distintivo e caracterizador, e por isso deverá sempre
figurar na descrição.
Ainda que a lógica de uma base de dados relacional seja a da optimização e
consequente fragmentação da informação por vários campos, reforçamos a necessidade de
repetição de informação, sobretudo porque nos referimos a descrições cujos objectivos
incluem a comunicação alargada. Por isso, as descrições devem ser auto-suficientes não
apenas na caracterização, mas também na interpretação e contextualização do objecto.
No caso dos materiais de cerâmica arqueológica, a sua natureza de objectos de uso
quotidiano torna-os muitas vezes indistintos entre si – quer dizer poderão existir numa
mesma colecção dezenas de pratos com a mesma morfologia, por exemplo – e nestes casos
a decoração é um elemento essencial que acentua a sua unicidade. Por todos estes motivos,
no caso dos materiais arqueológicos, contrariando um pouco o princípio de descrição do
geral para o particular, acreditamos que os elementos decorativos não deverão figurar no
final da descrição, mas sim imediatamente a seguir à descrição morfológica, precisamente
porque são dois dos elementos que mais concorrem para a identificação do objecto.
Quanto à organização da descrição morfológica do objecto, as Normas de
Inventário do IMC propõem-nos que comecemos na base em direcção ao topo
71
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
(RAPOSO, L. MARTINS e CORREIA, 2000). No entanto, as análises realizadas aos
objectos publicados no Matriz.net mostram-nos uma falta de uniformização neste critério,
visto que às vezes até mesmo dentro de uma mesma instituição, encontramos registos que
descrevem partindo da base para o topo, e outros que o fazem em sentido inverso.
Acreditamos que a direcção proposta pelo IMC poderá ser útil em casos particulares, mas
não o será na maioria dos fragmentos de cerâmica arqueológica. Quando consideramos
fragmentos que apenas traduzem parcialmente o perfil do objecto, a questão terá que ser
um pouco mais complexa.
Quanto a nós, não fará sentido descrever um fragmento de bordo partindo da sua
base visto que o ponto de maior relevância se encontra precisamente no topo – o lábio. Do
mesmo modo, não fará sentido descrever um fragmento que apenas apresente parte do
fundo do objecto partindo do topo do fragmento. No caso dos objectos de perfil
completo, ou até mesmo completos, também não fará muito sentido organizar a descrição
no sentido da base para o topo visto que é genericamente aceite na comunidade científica
arqueológica que o ponto com maior potencial informativo de um objecto cerâmico é
precisamente o bordo/lábio. Ainda assim admitimos que possam existir excepções, e por
isso acreditamos que a regra deverá ser a descrição do topo para a base, mas considerando
os casos em que esta não seja eficiente, poder-se-á estruturar a descrição no sentido
inverso.
A redacção da descrição deverá ser concisa mas fluida, e a linguagem deve ser
rigorosa mas genericamente acessível, dada a assumpção anterior que este campo poderá ser
útil a públicos muito diversificados para objectivos também diversos. Nos casos em que
possamos adequar diferentes conteúdos da descrição a públicos ou objectivos específicos,
deverão ser criados critérios de linguagem e de complexidade de acordo com o tipo de
utilizadores e de utilizações previstas.
O vocabulário a utilizar nas descrições de objectos de cerâmica arqueológica deverá,
em todo o caso, ser extremamente rigoroso para que possa ser compreensível quer para
especialistas quer para utilizadores externos à temática arqueológica. Quando necessário
dever-se-ão utilizar os thesauri disponíveis, e quando estes não forem suficientes dever-se-á
recorrer a bibliografia de carácter específico. No caso de materiais de cerâmica arqueológica
propomos: “Elementos de apoio à classificação e documentação de colecções cerâmicas” (Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização]), os estudos de Hélène Balfet
(BALFET
FAUVET-BERTHELOT
e
MONZON,
2000;
BALFET
FAUVET-
72
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
BÉRTHELOT e MONZON, 1992), e finalmente a dissertação de mestrado de Cézer
Santos (SANTOS, 2011).
Nas descrições em âmbito de inventário museológico poderá ainda existir a
tentação de incluir especificidades de carácter técnico, apenas inteligíveis aos especialistas
em determinada matéria. Esta tentação deverá ser combatida sob pena de ficarmos com
descrições demasiado extensas e complexas, e completamente incompreensíveis para a
maioria dos públicos que as possam consultar. No caso de se achar ainda assim relevante a
inclusão deste tipo de informações, dever-se-á fazê-lo no final do corpo de descrição, deste
modo assegurando que a mensagem inicial seja clara, compreensível e útil ao maior número
de pessoas possível. No caso de objectos de cerâmica arqueológica referimo-nos a
informações específicas, maioritariamente de carácter morfológico, como por exemplo
tratar-se de um objecto de forma aberta ou fechada, ou de perfil contínuo ou descontínuo e
respectivos pontos de intersecção. Nestes casos, quando a informação puder ser
sinteticamente referida no momento de descrição morfológica, e ainda assim mantê-la
inteligível, poder-se-á fazê-lo. De outro modo reserva-se esta informação para o final da
descrição.
Poderá ainda caber neste campo de inventário a referência a grupos tipológicos
previamente estabelecidos e vulgarizados na comunidade científica. Nestes casos devemos
atentar à generalidade de utilização deste tipo de indicadores. Quer isto dizer que por
exemplo para as sigillatas ou para materiais anfóricos fará todo o sentido mencionar as
tipologias que são já universalmente utilizadas, quer na comunidade científica quer por
vezes fora dela. No entanto, para a cerâmica comum terá que haver outro tipo de reservas,
visto que as tipologias não são ainda uniformemente utilizadas, sequer no seio da
comunidade arqueológica. Deste modo, a referência a este tipo de informação, quando for
generalizada na comunidade científica, poderá aparecer imediatamente a seguir à
denominação, actuando assim como qualificativo. Quando não for de uso generalizado,
deverá ser incluída no final do corpo da descrição.
Informações externas ao objecto como a identificação do inventariante ou do(s)
autor(es) da descrição, ou datas e descrições de acções de conservação e restauro, não
fazem parte deste campo da ficha de inventário e deverão ser registadas na sua área
respectiva.
Propomos então a seguinte organização de conteúdos:
• Deve-se iniciar a descrição pela Denominação do objecto. Deste modo identificase claramente de que objecto estamos a tratar. A denominação a incluir neste
73
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
campo deve ser igual à inscrita no campo Denominação da base de dados para que as
informações da mesma sejam coerentes. No caso de fragmentos - que permitam
identificar a forma respectiva - propomos que logo na denominação se identifique
pela forma geral – por exemplo Prato – seguido do qualificativo – (fragmento).
• Em seguida, se for considerado relevante, poder-se-ão incluir informações genéricas
sobre a matéria visto que concorrem para a descrição geral do aspecto visual do
objecto (por exemplo se a colecção é maioritariamente constituída por objectos de
matriz não calcária mas o objecto a descrever apresenta matriz calcária).
• Depois poder-se-á, quando relevante, precisar a técnica – roda, molde, ou manual,
por exemplo, pois concorre também para o aspecto genérico do objecto.
• Nesta fase dever-se-ão incluir informações sucintas relacionadas com a função do
objecto, e época de produção ou uso, e origem ou proveniência.
• Depois dever-se-á registar a descrição da morfologia do objecto, acompanhando
a porção conservada, e quando aplicável, os seus constituintes. É esta informação
que nos permite por um lado identificar a forma do objecto, e por outro identificar
muitas vezes tipologias e seleccionar categorias. Aqui, quando for esse o caso,
dever-se-á precisar que a descrição se refere ao fragmento conservado e não ao
objecto de que faria parte.
• Em seguida salientar-se-ão o acabamento e os aspectos decorativos do objecto.
Dever-se-á descrever a decoração, e quando relevante poder-se-ão até incluir
considerações de âmbito iconográfico.
• Depois da descrição dos aspectos morfológicos e decorativos da peça podemos
prosseguir para a descrição da pasta e outros aspectos técnicos ou tecnológicos.
Esta deverá incluir informações relativas a: cor (interna e externa, e cerne), estrutura
(compacta, etc.), textura, elementos e/ou inclusões, técnica de cozedura, entre
outros.
• Por
último
poderão
desenvolver-se
informações
de
carácter
histórico,
antropológico, ou outro, que auxiliem na compreensão do objecto. Poder-se-á
ainda desenvolver o contexto de recolha. 98
Todas as informações acima mencionadas devem ser incluídas, pois constituem
dados relevantes para a identificação do objecto. No entanto, a informação deverá ter
98
Apresentamos alguns exemplos de objectos que inventariámos e cujas descrições seguiram esta estrutura.
Ver Anexo X
74
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
sempre um carácter sintético. Não se deverão omitir conteúdos relevantes, mas também
não se pretende, neste campo, um estudo exaustivo de cada um destes elementos.
A estrutura aqui proposta, não tendo um carácter rígido e inflexível, visa
uniformizar o campo de descrição de materiais de cerâmica arqueológica das fichas de
inventário em contexto museológico, com vista a optimizar a informação e permitir
processos mais céleres e eficazes de pesquisa.
6.3.3. “ELEMENTOS
PARA
UMA
PROPOSTA
DE
UNIFORMIZAÇÃO
DA
INFORMAÇÃO” - O CAMPO DE DIMENSÕES
Para além do campo da Descrição em inventário, e quanto a nós estreitamente
relacionado com este, apresenta-se o campo de Dimensões.
De facto, ao longo da análise que fizemos para os pontos anteriores, deparámo-nos
com algumas disparidades no que concerne a utilização de descritores de dimensão.
No Ecomuseu, existe já um documento de trabalho interno - “Critérios para a medição
de objectos” (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2008) – que esclarece algumas das questões que
iremos abordar: como a forma de orientar o objecto para o medir, quais as dimensões a
considerar, e que unidades de medida utilizar. No entanto, a organização deste tipo de
dados, no âmbito de registo de inventário de objectos de cerâmica arqueológica, não é
generalizada, pelo que julgamos relevante fornecer um contributo nesse sentido.
Para isso realizámos uma análise dos descritores utilizados nas instituições que têm
servido de amostra para o presente estudo. 99
Os descritores de dimensão utilizados nos registos de inventário de objectos
museológicos podem servir uma tripla função: identificar e caracterizar o objecto;
representar dados com potencial aproveitamento científico; constituir dados fundamentais
para a gestão de acervo da instituição à qual pertencem (organização de reservas,
transporte, acondicionamento, embalagem, entre outros).
No caso dos materiais de cerâmica arqueológica, pelas suas características de
tridimensionalidade e pelo seu carácter fragmentário, o uso indiscriminado e não
uniformizado de descritores de dimensão pode induzir o receptor da informação em erro.
A ausência de determinado descritor pode levar o receptor a julgar que este não é aplicável
no objecto em questão, e na realidade a omissão pode dever-se apenas a uma falta de
padronização nos registos.
99
Os resultados das análises aos descritores de dimensão encontram-se em anexo: Anexo XI
75
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
Igualmente importante é a definição de significado de cada um dos descritores. De
facto, pela análise efectuada, julgamos que a grande maioria das instituições não utiliza
definições comuns para altura, largura, e comprimento. Ainda que possa existir esta
definição no seio de cada instituição, porque não é padronizada e porque não está
disponível ao público no acto de pesquisa de registos de inventário, induz o receptor de
informação em erro e confusão quanto ao significado de cada descritor.
Importa assim analisar a realidade existente para propor um modelo de estrutura de
descritores de acordo com significâncias explícitas e idealmente comuns a diversas
instituições.
Os descritores de dimensão utilizados nos registos analisados de objectos de
cerâmica arqueológica publicados no Matriz.net são a altura, a largura, o comprimento, a
profundidade, a espessura e o diâmetro. Verificou-se na análise que em nenhum registo são
utilizados os seis descritores possíveis, utilizando-se até um máximo de cinco descritores.
Na realidade parece-nos que qualquer um destes descritores é fundamental e por isso deve
ser registado sempre que aplicável ao objecto em questão.
A organização destes descritores deverá considerar a funcionalidade/utilização ou
posicionamento funcional do objecto, e deverá ser interpretada em função da nossa
posição face ao objecto. Exceptuam-se os materiais de cerâmica arqueológica cuja
orientação segue critérios de estabilidade/função.
Quando as dimensões consideradas dizem respeito às dimensões do fragmento e
não do objecto de que faria parte (e por isso têm uma utilidade mais logística do que
científica, ou seja, são úteis sobretudo para tarefas de acondicionamento ou transporte),
este deve ser orientado paralelamente a um plano (deitado sobre a mesa, por exemplo),
contrariando, por vezes, a orientação natural da peça. Por outro lado, quando as dimensões
dizem respeito a uma projecção do objecto tal como se reconstituiria (adoptando um
carácter científico), como é o caso do diâmetro, devem ser recolhidas com a peça orientada
de acordo com os critérios de estabilidade/função normalmente utilizados em desenho
arqueológico, por exemplo.
No caso de este tipo de critérios não ser aplicável (por se desconhecer a função do
objecto, por exemplo) propomos que se adeque a estrutura descritiva à forma do objecto.
Deste modo se estivermos a considerar um objecto cuja forma genérica é comparável à de
um prisma, por exemplo, consideraremos em primeiro lugar o comprimento,
imediatamente seguido da largura (dimensões definidas no plano da base).
76
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
A altura e a profundidade serão consideradas, por esta ordem, caso a morfologia
da peça, ou de parte dela, o justifique (dimensões que definem a tridimensionalidade do
objecto).
Quando o objecto se assemelhe a um prisma ou pirâmide de base quadrangular, em
que o comprimento é igual à largura, indicar-se-á essa característica na descrição do
objecto, e bastará, nesse caso, indicar como dimensões a largura e a altura (Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2008).
Se considerarmos um objecto cuja forma genérica é comparável à de um cilindro
consideraremos o diâmetro, depois a altura, e quando justificável a espessura.
A espessura é, normalmente, considerada em objectos cuja forma se assemelhe à
de um prisma, e nos quais haja uma diferença de escala assinalável entre a projecção
horizontal (comprimento e largura), e a terceira dimensão (por exemplo chapas, ou folhas)
(Ecomuseu Municipal do Seixal, 2008). Nos objectos de cerâmica arqueológica, a
espessura, refere-se à dimensão da secção da parede do objecto, e será também
considerada quando a morfologia da peça, ou parte dela, o justifique.
A profundidade é considerada quando for possível definir uma figura geométrica
secundária impressa em negativo (ou “escavada”) na figura principal. Nestes casos a
tridimensionalidade da figura secundária é definida pela profundidade
(Ecomuseu
Municipal do Seixal, 2008). No caso dos objectos de cerâmica arqueológica, considera-se
também por profundidade, a dimensão, medida pela parte interna do objecto, da base
para o topo.
Estas dimensões devem sempre ser expressas em centímetros.
O peso, não constituindo propriamente uma dimensão, é na maioria dos objectos
uma característica importante a registar em sede de inventário museológico. Deve ser
incluído depois das dimensões anteriormente referidas, e será expresso em gramas.
Esta organização segue o critério de descrição dos sólidos geométricos, iniciando-se
pela descrição da base (comprimento e largura, ou diâmetro), seguida da altura,
profundidade, e/ou espessura.
A utilização generalizada desta sequência de descritores não só tornará os registos
de inventário tendencialmente mais completos, como também facilitará uma obtenção mais
célere de resultados pelo receptor de informação (interno ou externo à instituição).
Apesar da importância da uniformização na estrutura de dados, esta de nada servirá
se a informação introduzida não for clara. Na análise efectuada, verificamos que 62% dos
registos utilizam o Diâmetro como descritor de dimensão, sendo até o segundo descritor
77
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
mais utilizado. No entanto, na maioria dos casos (73%) não existe indicação de que parte
do objecto está a ser medida. Nesse sentido, a informação introduzida perde valor por não
ser clara. Propomos assim que se especifique através das denominações Diâmetro Máximo,
Diâmetro de Bordo, Diâmetro da Base, e Diâmetro de bico/vertedor.
Genericamente, as dimensões indicadas devem corresponder às projecções
máximas do objecto, a menos que haja indicação em contrário. Quando se justifique,
podem ser indicadas dimensões de outros pontos, partes, ou zonas relevantes, desde que
sejam devidamente explicitadas. (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2008)
No que concerne à clarificação de conceitos socorremo-nos para além de outra
bibliografia (como as Normas de Inventário publicadas pelo IMC) de documentação
interna do EMS (Ecomuseu Municipal do Seixal, 2007 - [em permanente actualização];
Ecomuseu Municipal do Seixal, 2008):
• Comprimento – dimensão medida da esquerda para a direita;
• Largura – dimensão medida na perpendicular do comprimento, no mesmo plano
horizontal;
• Altura – dimensão medida da base para o topo, na vertical do plano definido pelo
comprimento e pela largura.
• Diâmetro – dimensão máxima do círculo da base; dever-se-á especificar a que parte
do objecto se refere;
• Profundidade – distância entre o plano da boca/bordo e o fundo do objecto,
medida na parte interna da peça. Pode também expressar a tridimensionalidade de
uma figura secundária “escavada” no objecto principal (por exemplo, no fundo de
uma ânfora).
• Espessura – corresponde à dimensão da parede do objecto em secção.
Quanto à utilização de outro tipo de descritores de dimensão, parece-nos que só
fará sentido em colecções específicas ou com objectivos de estudo particulares. Nestes
casos, existindo já esse tipo de informação, poderá ser acrescentado à base de dados, sem
prejuízo das dimensões acima mencionadas, desde que se clarifiquem os conceitos
subjacentes.
Esta proposta visa a uniformização dos dados inseridos em base de dados no
âmbito do inventário de objectos de cerâmica arqueológica. No entanto, não é uma
estrutura rígida. Sempre que necessário as sugestões acima referidas poder-se-ão adaptar a
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
realidades específicas, tendo sempre em mente a uniformidade e clareza dos critérios a
utilizar.
Salientamos ainda, como ideia fundamental do presente estudo, a ausência
generalizada de uniformização ou padronização na introdução de informação de Descrição
ou Dimensão nos registos de inventário em contexto museológico, apesar de alguns esforços
por parte das entidades tutelares para combater esta realidade, e a necessidade óbvia de
reverter esse processo.
Consideramos também relevante realçar que as propostas aqui enunciadas
pressupõem que quaisquer que sejam os critérios a adoptar na organização dos registos da
ficha de inventário, ou na utilização de vocabulário, o seu objectivo é sempre optimizar a
informação que disponibilizamos, seja para utilização interna ou externa à instituição
museológica. Do mesmo modo, não podemos esquecer que os critérios adoptados por
qualquer instituição são apenas do conhecimento dos utilizadores internos da própria
instituição (e frequentemente apenas de parte destes), ou seja, por um número muito
reduzido de utilizadores, e que por isso devem ser coerentes e evitar a possibilidade de
interpretações erróneas da informação, ou da sua ausência.
6.4 O RELACIONAMENTO E A OPTIMIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
No âmbito do inventário em suporte FileMakerPro deparámo-nos com algumas
limitações que decorrem, principalmente, da obsolescência da versão desta ferramenta
disponível no EMS, face às versões mais recentes entretanto comercializadas.
Consideramos indispensável, no âmbito do registo de inventário, acompanhar a
informação de cada objecto, de imagem que o identifique. No caso dos materiais
arqueológicos, é também de grande utilidade disponibilizar o seu desenho, uma vez que
traduz informação não visível no registo fotográfico.
Infelizmente, a introdução de desenhos e fotografias nos registos de inventário em
suporte FileMakerPro, na versão em utilização no EMS, aumenta significativamente a
dimensão do ficheiro de base de dados, o que, conjugado com hardware também a precisar
de modernização, pode significar avarias no sistema, provocando até, por vezes, perda de
informação.
Com o objectivo de combater esta limitação, e ainda assim manter a completude e
integridade dos registos, criámos uma base de dados suplementar, também em suporte
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
FileMakerPro, onde introduzimos os registos em desenho dos objectos que inventariámos.
Depois, realizámos a ligação com a base de dados principal, através de um “botão” que, com
um simples clique, permite visualizar os desenhos correspondentes ao objecto que queremos
pesquisar. A base de dados de desenho que criámos tem também um “botão” que efectua a
ligação inversa, permitindo visualizar o desenho e aceder às informações relativas ao
objecto 100.
Esta simples ferramenta alivia a base de dados de objecto do peso motivado pela
introdução de elementos de imagem (neste caso desenhos), ao mesmo tempo que potencia
a relação entre os objectos e as fontes documentais que lhes estão associadas.
Do mesmo modo, para clarificar informação que aparecia num código
alfanumérico, na base de dados de objectos da Quinta do Rouxinol, foi criado um botão de
ligação entre o campo Grupo Técnico e a base de dados específica para Descrição Técnica de
Grupos de Fabrico. Deste modo, mais uma vez de uma forma muito simples, satisfizeram-se
as necessidades de clarificação da informação introduzida em inventário 101.
Ainda com os mesmos objectivos foi criada uma base de dados de Descrição Grupo
Técnico, e respectivos botões de relacionamento entre esta e a base principal. Esta base de
dados clarifica o código alfanumérico atribuído para identificar as tipologias de Cézer
Santos (SANTOS, 2011) 102.
As propostas enunciadas neste capítulo tiveram sempre como objectivo comum a
optimização do registo de inventário, bem como a qualidade e fiabilidade das informações
obtidas nos resultados de pesquisa, potenciando as capacidades oferecidas pelo sistema de
documentação e informação em uso no EMS para os materiais de cerâmica arqueológica.
Tivemos ainda em mente a possibilidade de alargamento destas propostas a outros
contextos de inventário e/ou outras instituições museológicas. Cabe ainda salientar que
estas propostas foram incorporadas nos trabalhos de inventário que realizámos no âmbito
do estágio no EMS, quanto a nós, com resultados satisfatórios.
100
Anexo XII
Anexo XII
102 Anexo XII
101
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente Relatório de Estágio reflectiu as considerações, reflexões, e propostas que
realizámos ao longo do trabalho de estágio no EMS.
Os objectivos a que nos propusemos no início da componente não-lectiva foram
cumpridos. Desenvolvemos as problemáticas explicitadas no capítulo O Inventário e a
Documentação em contexto museal, com base num trabalho de inventário da colecção de
cerâmica arqueológica da Quinta do Rouxinol. A partir deste aprofundámos, aplicámos, e
inter-relacionámos, os conhecimentos adquiridos ao longo da componente lectiva do
mestrado em museologia, e da formação inicial em Arqueologia. No EMS, contribuímos
para a actualização dos registos de inventário, ao mesmo tempo que realizámos uma
reflexão sobre as práticas existentes, e propusemos, quando justificável, novas soluções.
Mantivemos ao longo de todo o processo uma postura crítica, e avançámos com propostas
de normalização de práticas, procedimentos e conceitos, não apenas para o EMS, mas
desejavelmente para discussão e aplicação a contextos mais alargados.
O trabalho que desenvolvemos deveria, idealmente, ser um trabalho realizado por
uma equipa multidisciplinar, pelo que as propostas enunciadas não devem ser entendidas
de forma dogmática, mas apenas servir de base a futuras discussões de âmbito mais
alargado.
A documentação e o inventário, em contexto museológico, evoluíram –
acompanhando as transformações da sociedade no geral, mas também a evolução dos
paradigmas museológicos - para um conceito mais abrangente, enquanto função
museológica essencial à própria condição de museu. Actualmente, as instituições
museológicas reúnem, produzem, e sistematizam informação sobre as colecções que
preservam, ao mesmo tempo que associam informação de carácter administrativo e
documental. Procura-se, deste modo, integrar toda a informação, independentemente da
sua natureza e/ou localização.
O século XXI assume uma nova etapa na documentação e inventário em museus
através da disponibilização e interligação dos registos na web, como é o caso, a título de
exemplo, dos programas MatrizNet e Europeana.
O desenvolvimento da informática, fez sobressair a indispensabilidade da
normalização de procedimentos, práticas, e conceitos, no âmbito da documentação e
inventário. A definição de normas é um factor indissociável da eficácia de um sistema de
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
informação, quer no domínio da sua concepção, quer da sua utilização. No entanto este é
um processo complexo, que implica a uniformização do que é naturalmente diversificado.
Nesse sentido, ao longo do século XX, e agora durante o século XXI, várias
instituições de referência criaram instrumentos com o objectivo de normalizar a
informação e as práticas de documentação e inventário. Destacámos os esforços realizados
pelo CIDOC enquanto organismo do ICOM, vertidos no International Guidelines for Museum
Object Information (ICOM, 1995), e no CIDOC Conceptual Reference Model. Relevámos também
a importância fundamental do SPECTRUM, standard gerido pela Museum Documentation
Association, não apenas enquanto modelo de dados para a construção de bases de dados,
mas também enquanto normas de procedimentos. Nos Estados Unidos da América
sobressai a actuação do Getty Research Institute através da criação de vários documentos de
controlo de procedimentos e vocabulário. No Canadá ressalta a criação do Canadian
Heritage Information Network (CHIN) que constitui um contributo incontornável para a
definição de normas que promovem a consistência da documentação museológica. Na
França, o catálogo colectivo dos museus franceses, Joconde, e os regulamentos legais que
normalizam as práticas de documentação e inventário museológico. Em Espanha, o
“Proyecto de Normalización Documental: elementos para una aplicación informática de gestión
museográfica” (CARRETERO PÉREZ [et al.], 1998) que resultou no desenvolvimento de
uma aplicação informática de gestão museológica: DOMUS, e consequente regulamentação
da terminologia utilizada para designar, descrever, e classificar os bens culturais.
Em
Portugal, a legislação produzida no âmbito do enquadramento legal da prática museológica
(Lei Quadro dos Museus Portugueses), e a criação de um programa comum de inventário
das colecções museológicas dos museus tutelados pela administração central - o Matriz –
constituem factores incontornáveis na temática da normalização. As versões subsequentes
deste programa, bem como a disponibilização dos registos na internet, e a publicação das
Normas de Inventário pelo Instituto de Museus e da Conservação, significaram um avanço
muito significativo na normalização de estruturas, procedimentos, e conceitos, relativos à
documentação e ao inventário museológicos.
A estas questões acrescem as especificidades dos materiais que nos propusemos
tratar: objectos de cerâmica arqueológica da olaria romana da Quinta do Rouxinol.
A sua condição de documentos históricos, bem como a sua natureza de objectos do
quotidiano, pressupõem a explicitação dos contextos que os acompanham. Isto reflecte-se
num complexo registo documental aquando da sua recolha, e a subsequente integração da
documentação produzida no processo de inventário. No âmbito do trabalho de inventário
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
que realizámos no EMS fizemos sempre acompanhar os nossos registos da indicação
precisa do contexto de recolha, como aliás é prática comum de inventário nesta instituição.
A forma fragmentária, muitas vezes meramente residual, e a enorme quantidade de
materiais que são recolhidos no campo e depositados em museu, condicionam o registo de
inventário pela impossibilidade de inventariar todos os objectos. Defendemos uma
separação entre cacos (objectos sem potencial informativo ou estético) e objectos
museológicos, através de trabalhos preliminares de triagem, assentes em critérios
previamente definidos. Ainda assim é fundamental o registo (através de ferramentas
específicas e adequadas) dos que se mantêm cacos, pois podem constituir, no futuro, objecto
de investigação mediante novos paradigmas.
No âmbito do trabalho de estágio, para além de acompanharmos este processo
prévio de selecção e registo de materiais no que diz respeito aos objectos de cerâmica
comum local, propusemos critérios que definissem o conjunto de peças a inventariar, em
ambos os suportes informáticos utilizados na instituição, distinguindo desse modo os cacos,
dos objectos museológicos. Foi com base nestes critérios que procedemos ao registo de
inventário da colecção definida, quer em suporte FileMakerPro, quer em suporte Micromusée.
Os critérios que definimos têm como objectivo a normalização desta prática, e por
isso conjugam as necessidades de investigação eminentemente arqueológica, e as
necessidades específicas de cumprimento das funções museológicas essenciais à condição
de museu. A sua definição permitiu a optimização do registo de inventário realizado.
Na problemática arqueológica, acresce ainda a indefinição de alguns conceitos e
terminologias, próprias da Arqueologia, mas essenciais ao trabalho museológico. Referimonos, por exemplo, às terminologias de denominação dos objectos. Nesse sentido,
contribuímos para a ampliação e definição de terminologias integradas no manual Elementos
de Apoio à Classificação e Documentação de Colecções Cerâmicas (Ecomuseu Municipal do Seixal,
2007 - [em permanente actualização]) produzido e utilizado no EMS.
A própria instituição em que nos propusemos realizar o trabalho de estágio é
também um caso singular no panorama museológico. O Ecomuseu Municipal do Seixal é
uma instituição, polinucleada, de tutela municipal, com um acervo e campo disciplinar
diversificados, que se orienta por uma noção dinâmica de património em relação com a sua
envolvente social e territorial. Mais do que um museu, no sentido convencional do termo, o
EMS é uma experiência museológica, de gestão do património cultural referente a um
território, e a uma realidade em mudança. Esta configuração traduz especificidades no
âmbito do seu sistema de documentação e informação, e da sua adequação à missão,
83
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
vocação, e objectivos institucionais. Foram estas condicionantes que levaram à adopção de
um programa de documentação e inventário, baseado no software Mobydoc, que actualmente
constitui um sistema de gestão integrado, através do relacionamento das bases de dados de
objectos, fundos documentais, registos fotográficos, e património edificado.
No caso dos materiais arqueológicos, em alguns casos, o EMS realiza ainda uma
forma de inventário intermédia em suporte FileMakerPro. No entanto, a ferramenta
utilizada na instituição encerra algumas limitações que dificultam a introdução de elementos
de imagem nos registos de inventário. Considerando o desenho arqueológico um elemento
fundamental de documentação de objectos de cerâmica arqueológica, criámos uma base de
dados auxiliar para este tipo de registos, e realizámos a ligação entre esta e a base de dados
principal. Deste modo, potenciou-se a relação entre os objectos e as fontes documentais
que lhes estão associadas, sem prejuízo de funcionamento da base de dados principal.
Ainda em suporte FileMakerPro, considerando a clareza da informação introduzida
nos registos de inventário condição essencial à qualidade e fiabilidade dos registos,
realizámos um processo semelhante ao acima descrito, desta vez para clarificar códigos
alfanuméricos introduzidos nos campos Grupo Técnico e Grupo de Fabrico.
No decurso do trabalho de inventário que realizámos, detectámos carências ao nível
da normalização da estrutura de conteúdos, e da definição de terminologias, nos campos de
Descrição e Medições. Cientes que esta realidade traduzia-se no incumprimento de
características inerentes a um sistema de informação (a qualidade e a fiabilidade da
informação), propusemos alguns elementos para uma uniformização da informação. Após
a análise da bibliografia de referência, e de registos publicados no Matriz.Net avançámos
com propostas para a estruturação de conteúdos na Descrição, e para a definição de
terminologias, e estruturação da informação no campo Medições, no registo de inventário de
materiais de cerâmica arqueológica.
O trabalho de estágio que realizámos, vertido no presente Relatório de Estágio,
teve sempre presente a prática, os recursos, e os documentos internos, produzidos,
actualizados, e aplicados pelo EMS, quer no plano da investigação (nomeadamente a
arqueológica), quer na documentação e inventário do seu acervo.
Quer para o trabalho desenvolvido, quer para este Relatório, foi também
fundamental a aplicação e ampliação dos conhecimentos adquiridos na componente lectiva
do Mestrado em Museologia, indissociáveis da nossa contribuição para a instituição de
acolhimento de estágio, através da revisão e ampliação dos registos de inventário da
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
colecção de cerâmica comum local da Quinta do Rouxinol, e da observação atenta da
realidade e apresentação de propostas sempre que justificável.
Gostaríamos que as nossas propostas pudessem ser aplicadas a contextos mais
alargados que a instituição que nos acolheu, contribuindo assim para uma efectiva
normalização de conceitos, procedimentos e práticas na documentação e inventário de
objectos museológicos de temática arqueológica. De facto é nossa convicção que este tipo
de trabalho é tanto mais útil quanto alargada for a sua utilização. Urge assim encetar uma
discussão mais alargada dos elementos abordados no presente trabalho, para que com
contributos mais diversificados se possa atingir, num futuro, uma efectiva normalização de
âmbito global.
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Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
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RAPOSO, Jorge (2002) - "Arqueologia e Museus" in "Ecomuseu Informação", nº 23
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RAPOSO, Jorge; FABIÃO, Carlos; GUERRA, Amílcar; BUGALHÃO, Jacinta;
DUARTE, Ana Luísa; SABROSA, Armando; DIAS, Maria Isabel; PRUDÊNCIO,
Maria Isabel; GOUVEIA, Maria Ângela (2005) - "OREST project: Late Roman pottery
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1340).
[em
linha]
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em:
http://www2.cmseixal.pt/pls/decomuseu/web_extract_external.get_external?code=1235670&col_ext=co
ntent1&tab=ecom_publication. [acedido em: Agosto de 2011]
RAPOSO, Jorge; SABROSA, Armando; DUARTE, Ana Luísa (1995) - "Ânforas do
vale do Tejo: as olarias da Quinta do Rouxinol (Seixal) e do Porto dos Cacos
(Alcochete)".
[em
linha]
Disponível
em:
http://www2.cmseixal.pt/pls/decomuseu/web_extract_external.get_external?code=1104411&col_ext=co
ntent1&tab=ecom_publication. [acedido em: Agosto de 2011] ISSN: 0304-243.-A. 77
RAPOSO, Luis; MARTINS, Adolfo; CORREIA, Virgilio (2000) - "Normas de
Inventário de Arqueologia. Normas Gerais.". Lisboa. Instituto Português de Museus.
[em
linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Download/Normas/ARQ_NormasGerais.p
df. [acedido em: Setembro de 2011] ISBN n.º 972-776-065-1
REMELGADO, Ana Patricia Soares Lapa (2008) - "Gestão Integrada de Colecções
Museológicas: proposta aplicada aos Museus da Câmara Municipal do Porto".
Dissertação de Mestrado em Museologia; Departamento de Ciências e Técnicas do
Património; Porto; Faculdade de Letras, Universidade do Porto.p.296.
RIVIÈRE, Georges H. (1992) - "L'Écomusée, un modèle évolutif (1971-1980)" in
"Vagues: une anthologie de la nouvelle muséologie", p.440-445.
SANTOS, Cézer (2011) - "As cerâmicas de produção local do centro oleiro romano da
Quinta do Rouxinol". Dissertação de Mestrado em Arqueologia; Departamento de
História; Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.p.135.
90
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
VARINE, Hugues de (1985) - "L'écomusée: au-delà du mot" in Museum, nº 148, 1985.
[em
linha]
Disponível
em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001273/127347eo.pdf#68373. [acedido em:
Janeiro de 2012]
YASSUDA, Silvia Nathaly (2009) - "Documentação museológica: uma reflexão sobre
o tratamento descritivo do objecto no Museu Paulista". Dissertação de Pós-Graduação
em Ciência da Informação; Marília; Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Filosofia e Ciências.p.124.
91
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela 1 - Tabela Tipológica………………………………………………………………42
Tabela 2 - Distribuição do Número de Fragmentos por Formas.….……………………………45
Tabela 3 - Relação entre Formas e nº de Sub-variantes Tipológicas……………………………...46
Tabela 4 - Distribuição da Colecção por Formas..……………..……………………………...47
Tabela 5 - Distribuição do Conjunto Inventariado em suporte Micromusée por Formas………….…60
92
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
LISTA DE GRÁFICOS
Pág.
Gráfico 1 – Distribuição de fragmentos por formas……………………………………………45
Gráfico 2 - Distribuição do Conjunto Inventariado em suporte Micromusée por Formas……………60
93
Sistemas de Documentação e Inventário de uma Colecção de Cerâmica Arqueológica Proveniente da Quinta do Rouxinol
ANEXOS
94
ANEXO I
CONTEÚDO
Imagem 1 – Distribuição dos Núcleos e Extensões do EMS no Seixal
Núcleo Olaria Romana
Núcleo Moinho de
Extensão Quinta de S.
Extensão Fábrica de
Embarcações Tradicionais
Núcleo Mundet
Núcleo Quinta da Trindade
IMAGEM 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS NÚCLEOS E EXTENSÕES DO EMS NO SEIXAL
Fonte: http://www2.cm-seixal.pt/ecomuseu/nucleos_e_extensoes/nucleos_home.html
[acedido em Agosto de 2011]
ANEXO II
CONTEÚDO
Imagem 1 – Localização do Núcleo da Quinta do Rouxinol
Imagem 2 – Planta da área escavada na Quinta do Rouxinol
Núcleo da Quinta do Rouxinol
Viveiro Municipal
IMAGEM 1 – LOCALIZAÇÃO DO NÚCLEO DA QUINTA DO ROUXINOL
Fonte: http://maps.google.pt/maps?hl=pt-PT&tab=wl [acedido em Fevereiro de 2012]
Forno 3
Forninho
Forno 2
Forno 1
IMAGEM 2 – PLANTA DA ÁREA ESCAVADA NA QUINTA DO ROUXINOL
Fonte: (Santos, 2011)
ANEXO III
CONTEÚDO
1. “ Quinta do Rouxinol – Espólio em Reserva – Cerâmica Comum”, Exemplo de Tabela
utilizada no registo de dados de carácter morfológico
2. “Quinta do Rouxinol – Espólio em reserva – Cerâmica Comum – Diâmetros” Exemplo
de tabela utilizada no registo das medições de diâmetro
1. “ QUINTA DO ROUXINOL – ESPÓLIO EM RESERVA – CERÂMICA COMUM”,
EXEMPLO DE TABELA UTILIZADA NO REGISTO DE DADOS DE CARÁCTER
MORFOLÓGICO
Quinta do Rouxinol - Espólio em reserva - Cerâmica Comum
QtR.
QtR.
QtR.
QtR.
QtR.
C14/D14 (SE)
Forno 3
Forno 3
Forno 3
Forno 3
246
Forno 3
Forno 3
C13/D13 (SE)
Talude do Forno 1
870
B10
Forno 2
519
C13/D13 (SE)
1051
B10
3
18
1
5 131
1
6 132
1
6 134
1
6A 136
1
7 137
1
7 138
1
5 176
1
5 7 e8 7
8
65 22A
13 192 12
4 128
1
11 91 22C
12
18
2
4
2
6
12
1
1
5
2
1
1
Externo
Acabamento
Interno
Pós-Cozedura
3
Grafito
Pré-Cozedura
2
Pré-Cozedura
1
Cerâmica Manual
4
Cerâmica Moldada
2
Estriado
1
Decoração
Vertedouro
Sulco no bordo
Asa Vertical
Vestigios de uso
Asa Horizontal
Sobrecozedura
DEFORMADA
N.º Perfuração Posi. Prefur. Tipo. Caneluras
Perfil Completo
Diâmetro completo
Base
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Prato
Potinho
Lucerna
Peso
Completa
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
2.3.4.1
5.1.2
8.2.1
Pega Tampa
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
3
Quantidade
Forma
C1A
C2A
C1A
C1A
C2C
C1A
C1A
C1A
C2C
C1
C2A
B2A
C2A
Indeterminado
Fabrico
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
P
M
G
Designação
dimensão
333
333
333
333
333
333
333
333
333
333
318
332
312
TIPOLOGIA
N.º Contentor
U.E.
camada artificial
Plano / Perfil
área
PARTICULARIDADES
Parte da Peça
Pós-Cozedura
DIMENSÕES (cm)
Extremidade
GRUPOS
CONT.
Central
CONTEXTO
Descrição /
OBSERVAÇÕES
1
1
1
QtR. 246
1
QtR. 870
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
QtR. 519
QtR. 1051
2. “QUINTA DO ROUXINOL – ESPÓLIO EM RESERVA – CERÂMICA COMUM – DIÂMETROS” EXEMPLO DE TABELA UTILIZADA NO REGISTO DAS MEDIÇÕES DE
DIÂMETRO.
QtR. 268
QtR. 270
QtR. 269
128
230
91
5
234
183
7e8
41
44
180
6
7
7
10
10
10
3.1.3
4.3.1
Tampa
3.1.4
3.1.4
5
5
5
5
4.4.1
4.4.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
1.1.2.1
Tampa
Tampa
Prato
Prato
Prato
Prato
7
20
2
11
1
1
4
6
1
1
mais de 50%
de 10% a 25
1.1.2.1
Prato
1.1.2.1
Prato
1.1.2.1
Prato
1.1.2.1
Prato
1.1.2.1
Prato
1.3.4.9
Tigela
1.4.3
Bacia
1.4.4
Bacia
1.4.5
Bacia
1.4.5
Bacia
2.1.7.2
Tacho
2.2.1.1 Pote/Panela
4.1.2
Tampa
4.2.1
Tampa
4.2.1
Tampa
de 25% a 50%
Designação
TIPOLOGIA
Forma (antiga)
1
5
1
5
1
5
1
5
1
5
emexid 13
22A
4
10
2
1
1
1
1
1
1
6
3.1.1.2
4.1.2
6
22C 4.1.2
de 5% a 10%
18
20
128
131
132
14
61A
44
18
128
U.E.
camada artificial
Plano / Perfil
C14/D14 (SE)
3
C14/D14 (SE)
4
C13/D13 (SE)
4
Forno 3
5
Forno 3
6
C14/D14 (SE)
0
B10
6
Forno 2
9
C14/D14 (SE)
3
C13/D13 (SE)
4
S/C
C13/D13
4
p sup
C13/D13 (SE)
D13 (E)
9
B10
10
Forno 1 ou Talude
4
do Forno 1
D13 (E )
11
D13(S)
8
Talude do Forno 1
Forno 2
8
Forno 2
9
C13/D13 (SE)
7
menos de 5%
QtR. 211
QtR. 13
QtR. 216
área
QtR.
Quinta do Rouxinol - Espólio em reserva - Cerâmica Comum - Diâmetros
DIÂMETROS EM CENTÍMETROS
1
3
2
7
1
1
1
5
1
2
1
2
1
1
sem ref.; QtR. 211 (diâmetro = 24,4)
QtR. 13
QtR. 216 (diâmetro = 42cm)
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
DIB
1
1
1
1
1
1
1
1
1
3
1
1
1
QtR. 268
1
INV. QtR. 270
1
1
1
4
observações
1-2,5 2,5-4,5 4,5-6,5 6,5-8,5 8,5-10,5 10,5-12,5 12,5-14,5 14,5-16,5 16,5-18,5 18,5-20,5 20,5-22,5 22,5-24,5 24,5-26,5 26,5-28,5 28,5-30,5 30,5-32,5 32,5-34,5 34,5-36,5 36,5-38,5 38,5-40,5 40,5-42,5 42,5-44,5
1
1
1
1
1
2
QtR. 269
ANEXO IV
CONTEÚDO
1.
Ficha tipo de Fabricos Preenchida (Exemplo)
2.
Grupos Técnicos: Caracterização Petrográfica
1. FICHA TIPO DE FABRICOS PREENCHIDA (EXEMPLO)
DESCRIÇÃO TÉCNICA DE GRUPOS DE FABRICO
Grupo Tecnico
QtR. Relacionados
Matriz da Cerâmica:
C1
Calcária
Não-Calcária
Caulinítica
Cor Munsell
Cor do Cerne:
2.5YR 6/6
7.5YR 6/6
Cor da Superfície:
7.5YR 7/6
5YR 6/6
Acabamento da Superfície:
Ausente
Alisamento
Aguada
Brunimento
2 Média
3 Grosseira
QtR
Tipologia Morfológico-Funcional do Grupo:
cerâmica comum
Avermelhado e castanho alaranjado
Castanho alaranjado
Técnica de Conformação: Condições de Cozedura:
Engobe não v itrif icado
Engobe v itrif icado
Vidrado
Outro
Manual
Torno Lento
Torno Rápido
Molde
Textura da Pasta:
1 Fina
Ref. do Sítio:
Vacúolos
A pasta é mais ou menos compacta, apresenta
muitos negativ os de elementos não plásticos
que se soltaram.
Fractura:
A - Heterogénea
B - Redutora
C - Oxidante
Sobrecozedura
Concoidal
Lisa
Irregular
Laminada
Dureza:
Branda, < 2
Dura, de 3 a 6
Muito Dura, > 6
Sensação ao Toque:
Áspero
Rugoso
Desengordurante:
Suav e
Sim
Pulv orolento
Não
Saponáceo
Indeterminado
Inclusões:
Quartzo
Feldspato
"Minerais Negros"
Biotite (MN)
Dimensão v ariáv el entre
quartzos de v ário tipo.
Moscov ite (MB)
Calcite
Nódulos de Ferro
"Rocha"
Cerâmica Triturada
Outras
Concha
f ina e grosseira, apresenta
Forma:
Moscov ite (MB)
Nódulos de Ferro
Cerâmica Triturada
Concha
Forma:
Inclusões:
Quartzo
Feldspato
"Minerais Negros"
Biotite (MN)
Calcite
"Rocha"
Outras
Inclusões:
Quartzo
Moscov ite (MB)
Calcite
Feldspato
Nódulos de Ferro
"Rocha"
"Minerais Negros"
Cerâmica Triturada
Outras
Biotite (MN)
Concha
Pequenos picos e nodúlos av ermelhados que se
desf azem com f acilidade.
Observações:
Data:
21-06-2010
Arredondado
Frequência:
Reduzida < 20%
Média de 20% a 30%
Elev ada > 30%
Arredondado
Frequência:
Reduzida < 20%
Média de 20% a 30%
Elev ada > 30%
Forma:
Arredondado
Frequência:
Reduzida < 20%
Média de 20% a 30%
Elev ada > 30%
Subarredondado
Angular
Dimensão:
Fina < 0,25 mm
Média 0,26 a 0,50 mm
Grosseira 0,51 a 1 mm
Muito Grosseira > 1 mm
Subarredondado
Angular
Dimensão:
Fina < 0,25 mm
Média 0,26 a 0,50 mm
Grosseira 0,51 a 1 mm
Muito Grosseira > 1 mm
Subarredondado
Angular
Dimensão:
Fina < 0,25 mm
Média 0,26 a 0,50 mm
Grosseira 0,51 a 1 mm
Muito Grosseira > 1 mm
2. GRUPOS TÉCNICOS: CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA 1
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
“Pasta não-calcária com a cor do cerne e superfície alaranjada (5YR 6/8);
conformada manualmente,
com cozedura heterogénea. A textura da pasta é grosseira (mais ou menos
compacta, apresenta muitos negativos de elementos não plásticos que se
soltaram), com fractura irregular, dura e áspera ao toque e acabamento ausente.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
A1
Quartzo de forma subarredondada, frequência elevada e dimensão muito
grosseira (embora a dimensão seja variável, entre fina e grosseira, com quartzos
de vários tipos);
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência média e dimensão média (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
A1a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
Pasta não-calcária com a cor do cerne avermelhado e castanho alaranjado (2.5YR
6/6; 7.5YR 6/6), a cor da superfície é castanha alaranjada (7.5YR 7/6).
Conformada manualmente, com cozedura heterogénea. A textura da pasta é
média, com fractura irregular, dura e áspera ao toque e acabamento ausente.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
A2
Quartzo de forma subarredondada, frequência média e dimensão média (embora
a dimensão seja variável, entre fina e grosseira, com quartzos de vários tipos);
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência reduzida e dimensão grosseira (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
1
Informações retiradas de (SANTOS, 2011, p. 38-44)
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
A2a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
A pasta é calcária ou caulinítica com a cor do cerne e da superfície bege
esbranquiçada (10YR 8/2). Conformada manualmente, com cozedura
heterogénea. A textura da pasta é média, com fractura laminada, branda, rugosa
ao toque e acabamento ausente. Não é possível determinar a existência de
desengordurante.
B2
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzos de diversos tipos, alguns deles baços e sem brilho, de forma angular e
subarredondada, frequência média e dimensão média a muito grosseira;
Moscovite de forma subarredondada, frequência reduzida e dimensão fina;
“Rocha” com tons avermelhados, de forma subarredondada, frequência reduzida
e dimensão fina.
B2a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
Pasta não-calcária com a cor do cerne avermelhado e castanho alaranjado (2.5YR
6/6; 7.5YR 6/6; 5YR 6/8), a cor da superfície é castanha alaranjada (7.5YR 7/6;
5YR 6/6). Conformada em torno rápido, com cozedura heterogénea. A textura da
pasta é grosseira (mais ou menos compacta, apresenta muitos negativos de
elementos não plásticos que se soltaram), com fractura irregular, dura, áspera ao
toque e acabamento ausente.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
C1
Quartzo de forma subarredondada, frequência média e dimensão grosseira
(embora a dimensão seja variável, entre fina e grosseira, com quartzos de vários
tipos);
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência reduzida e dimensão grosseira (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
C1a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
C1b
Distingue-se por possuir uma aguada como tratamento da superfície externa ou
interna.
Pasta não-calcária com a cor do cerne avermelhado e castanho alaranjado (2.5YR
6/6; 7.5YR 6/6; 5YR 6/8), a cor da superfície é castanha alaranjada (7.5YR 7/6;
5YR 6/6). Conformada em torno rápido, com cozedura heterogénea. A textura da
pasta é média com fractura irregular, dura, áspera ao toque e acabamento
ausente.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
C2
Quartzo de forma subarredondada, frequência média e dimensão grosseira
(embora a dimensão seja variável, entre fina e grosseira, com quartzos de vários
tipos);
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência reduzida e dimensão grosseira (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
C2a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
C2b
Distingue-se por possuir uma aguada como tratamento da superfície externa ou
interna.
C2c
Distingue-se por possuir um brunimento como tratamento da superfície externa
ou interna.
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
A pasta é calcária ou caulinítica com a cor do cerne e da superfície bege
esbranquiçada (10YR 8/2). Conformada em torno rápido, com cozedura
heterogénea. A textura da pasta é média, com fractura laminada, branda,
pulverulenta ao toque e acabamento ausente. Não é possível determinar a
existência de desengordurante.
D2
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzos de diversos tipos, alguns deles baços e sem brilho outros de cor rosada,
de forma angular e subarredondado, frequência média e dimensão média;
Moscovite de forma subarredondada, frequência reduzida e dimensão fina;
“Rocha” com tons avermelhados, de forma subarredondada, frequência reduzida
e dimensão fina.
D2a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
A pasta é calcária ou caulinítica com a cor do cerne e da superfície bege
esbranquiçada (10YR 8/2). Conformada em torno rápido, com cozedura
heterogénea. A textura da pasta é fina, com fractura concoidal, dura, áspero ao
toque e acabamento ausente. Não é possível determinar a existência de
desengordurante.
D3
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzos de diversos tipos, alguns deles baços e sem brilho outros de cor rosada,
de forma angular e subarredondada, frequência média e dimensão média;
Moscovite de forma subarredondada, frequência reduzida e dimensão fina;
“Rocha com tons avermelhados, de forma subarredondada, frequência reduzida e
dimensão fina.
D3a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
D3b
Distingue-se por possuir uma aguada como tratamento da superfície externa ou
interna.
D3d
Distingue-se por possuir um engobe não vitrificado como tratamento da
superfície externa ou interna de cor vermelha, semelhante ao vermelho
pompeiano (10R 4/6)
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
Pasta de eventual mistura com a cor do cerne bege alaranjado (7.5YR 7/6) e a cor
da superfície bege rosado (2.5YR 6/8; 7.5YR 8/3). Não tem acabamento de
superfície. Conformada em torno rápido, com cozedura heterogénea. A textura da
pasta é grosseira, com fractura irregular, branda, pulverulenta ao toque. Não é
possível determinar a existência de desengordurante.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
E1
Quartzo de forma subarredondada, frequência elevada e dimensão muito
grosseira;
Moscovite de forma angular, frequência elevada e dimensão média;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência reduzida e dimensão grosseira (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
E1a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
Pasta de eventual mistura com a cor do cerne bege alaranjado (7.5YR 7/6) e a cor
da superfície bege rosado (7.5YR 8/4). Não tem acabamento de superfície.
Conformada em torno rápido, com cozedura heterogénea. A textura da pasta é
média, com fractura irregular, muito dura, áspera ao toque. Não é possível
determinar a existência de desengordurante.
E2
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzo de forma subarredondada, frequência média e dimensão média;
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência média e dimensão muito grosseira (pequenos
picos e nódulos que se desfazem com facilidade).
E2a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
E2d
Distingue-se por possuir um engobe não vitrificado como tratamento da
superfície externa ou interna de cor beje claro (7.5YR 8/3)
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
Pasta de eventual mistura com a cor do cerne amarelo avermelhado (5YR 7/8) e a
cor da superfície bege rosado (5YR 8/4; 7.5YR 8/3). Não tem acabamento de
superfície. Conformada em torno rápido, com cozedura heterogénea. A textura da
pasta é fina, com fractura irregular, branda, pulverulenta ao toque. Não é possível
determinar a existência de desengordurante.
E3
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzo de forma angular, frequência média e dimensão média;
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência média e dimensão média (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
E3a
Distingue-se por possuir um alisamento como tratamento da superfície externa ou
interna.
Pasta de eventual mistura com a cor do cerne castanho (5YR 3/3) e a cor da
superfície cinzenta acastanhada (2.5YR 3/1). Não tem acabamento de superfície.
Conformada em torno rápido, com cozedura redutora. A textura da pasta é média,
com fractura irregular, dura, suave ao toque. Não é possível determinar a
existência de desengordurante.
F2
As inclusões identificadas foram as seguintes:
Quartzo de forma angular, frequência reduzida e dimensão média;
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência reduzida e dimensão média (pequenos picos e
nódulos que se desfazem com facilidade).
F2c
Distingue-se por possuir um brunimento como tratamento da superfície externa
ou interna.
Designação de Grupo
Técnico
Descrição de Grupo Técnico
Pasta não-calcária com a cor do cerne avermelhado e castanho alaranjado (2.5YR
6/6; 7.5YR 6/6), a cor da superfície é castanha alaranjada (7.5YR 7/6).
Conformada a molde, com cozedura heterogénea. A textura da pasta é fina com
fractura irregular, branda, suave ao toque e acabamento ausente.
As inclusões identificadas foram as seguintes:
G3
Quartzo de forma subarredondada, frequência média e dimensão média;
Moscovite de forma angular, frequência média e dimensão fina;
Nódulos de ferro ou partículas de cerâmica triturada de forma
subarredondada, de frequência
reduzida e dimensão fina (pequenos picos e nódulos que se desfazem com
facilidade).
G3a
Distingue-se por possuir um brunimento como tratamento da superfície externa
ou interna.”
ANEXO V
CONTEÚDO
Tabela 1 – Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Formas
Abertas
Tabela 2 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Formas
Fechadas
Tabela 3 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Tampas
Tabela 4 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Lucernas
Tabela 5 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Moldes
Tabela 6 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Suportes
Tabela 7 - Tabela de distribuição do total de fragmentos por Variantes de Pesos
TABELA 1 – TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR VARIANTES
DE FORMAS ABERTAS 1
1 - Formas Abertas
Prato
1.1
BH - 1
BD - 2
BVI - 3
BVE - 4
BT - 5
BAM - 6
BDO - 7
BB - 8
BCC - 9
BDA - 10
BAA - 11
BAI - 12
BDC - 13
BTRI - 14
Total de
Formas
Abertas
BH - 1
BD - 2
BVI - 3
BVE - 4
BT - 5
BAM - 6
BDO - 7
BB - 8
BCC - 9
BDA - 10
BAA - 11
BAI - 12
BDC - 13
BTRI - 14
Total de
Formas
Abertas
284
919
29
Prato Covo
1.2
Tigela
1.3
404
268
46
182
Bacia
1.4
Almofariz
1.5
Alguidar
1.6
Funil
1.7
1
1
1
67
17
6
314
38
BD – Bordo Direito
BVI – Bordo Voltado para o
Interior
BVE – Bordo Voltado para o
Exterior
8
12
BH – Bordo Horizontal
4
169
BT – Bordo Triangular
5
BAM – Bordo Amendoado
BDO – Bordo Dobrado sobre o
Ombro
2775
BB – Bordo Bífido
Prato
1.1
Prato Covo
1.2
2,96%
9,59%
0,30%
4,21%
1 - Formas Abertas (%)
Tigela
Bacia Almofariz
1.3
1.4
1.5
2,80%
0,48%
1,90%
Alguidar
1.6
Funil
1.7
0,01%
0,01%
0,01%
0,70%
0,18%
0,06%
3,28%
0,40%
0,08%
0,13%
0,04%
1,76%
0,05%
28,95%
Aos valores das tabelas 1 a 7 devem-se juntar 1925 fragmentos indeterminados que perfazem
20,08% do total de fragmentos analisados.
1
TABELA 2 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR VARIANTES
DE FORMAS FECHADAS
Tacho
2.1
BH - 1
BD - 2
BVI - 3
BVE - 4
BT - 5
BAM - 6
BDO - 7
BB - 8
BCC - 9
BDA - 10
BAA - 11
BAI - 12
BDC - 13
BTRI - 14
Total de
Formas
Fechadas
284
Pote/Panela Potinho
2.2
2.3
28
324
5
958
430
2 - Formas Fechadas
Jarro
Bilha
2.4
2.5
Cântaro G. P. Can
2.6
2.7
31
15
2
116
4
40
3
41
2
4
3
1614
21
Talha
2.8
13
BH – Bordo Horizontal
BD – Bordo Direito
BVI – Bordo Voltado para o
Interior
BVE – Bordo Voltado para o
Exterior
57
BT – Bordo Triangular
23
92
57
171
BAM – Bordo Amendoado
15
BDO – Bordo Dobrado sobre o
Ombro
4353
BB – Bordo Bífido
Tacho
2.1
BH - 1
BD - 2
BVI - 3
BVE - 4
2,96%
BT - 5
BAM - 6
BDO - 7 16,84%
BB - 8
BCC - 9
BDA - 10
BAA - 11
BAI - 12
BDC - 13
BTRI - 14
Total de
Formas
Fechadas
Pote/Panel
2.2
0,29%
3,38%
9,99%
0,22%
2 - Formas Fechadas (%)
Potinho
Jarro
Bilha
Cântaro G. P. Can
2.6
2.7
2.3
2.4
2.5
0,05%
4,49%
0,32%
0,16%
0,02%
1,21%
0,04%
0,42%
0,03%
0,59%
1,78%
0,16%
0,96%
45,41%
0,43%
0,02%
0,04%
0,03%
0,59%
0,24%
Talha
2.8
0,14%
TABELA 3 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR
VARIANTES DE TAMPAS
BD
4.1
4. Tampas
BT
4.2
BVI
4.3
BVE
4.4
1. Perfil
Oblíquo
48
7
1
7
2. Perfil
Horizontal
142
BVE – Bordo Voltado para o Exterior
205
1. Perfil
Oblíquo
0,50%
2. Perfil
Horizontal
1,48%
BT – Bordo Triangular
BVI – Bordo Voltado para o Interior
Total de
Tampas
BD
4.1
BD – Bordo Direito
4. Tampas (%)
BT
BVI
4.2
4.3
0,07%
Total de
Tampas
0,01%
BVE
4.4
0,07%
2,14%
TABELA 4 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR
VARIANTES DE LUCERNAS
5. Lucernas
MAN
5.1
1. Peças
Abertas
2. Peças
Fechadas
Total das
Lucernas
MLD
5.2
2
2
2
6
5. Lucernas (%)
MAN
MLD
5.1
5.2
1. Peças
0,02%
Abertas
2. Peças
0,02%
0,02%
Fechadas
Total das
0,06%
Lucernas
MAN – Conformação Manual
MLD – Conformação a Molde
TABELA 5 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR
VARIANTES DE MOLDES
6. MOLDES
6.1 Moldes de Lucerna
M.
M. Bloco
Recortado
1.
2.
1. Fundo
2. Topo
2
1
Total de
3
Moldes
6.1 Moldes de Lucerna (%)
M.
M. Bloco
Recortado
1.
2.
1. Fundo
2. Topo
Total de
Moldes
0,02%
0,01%
0,03%
TABELA 6 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR
VARIANTES DE SUPORTES
7. Suportes
Em Anel
7.1
1. Secção
Triangular
1. PO
2. PV
3. PA
Total de
Suportes
7. Suportes (%)
Tubulares
7.2
Em Anel
7.1
1. Secção
Triangular
1
1
73
231
1. PO
2. PV
3. PA
Total de
Suportes
306
Tubulares
7.2
PO – Perfil Oblíquo
PV – Perfil Vertical
0,01%
0,01%
0,76%
2,41%
PA – Perfil Arqueado
3,19%
TABELA 7 - TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DE FRAGMENTOS POR VARIANTES
DE PESOS
8. Pesos
8. Pesos (%)
Curvilíneos Angulares
8.1
8.2
Curvilíneos Angulares
8.1
8.2
1. Discóide
2. Bobina
3. Quadrante
1. Trapezoidal
Total de Pesos
7
1
1
3
12
1. Discóide
2. Bobina
3. Quadrante
1. Trapezoidal
Total de Pesos
0,07%
0,01%
0,01%
0,03%
0,13%
ANEXO VI
CONTEÚDO
Tabela 1 - Tabela de definição de Terminologia Formal
TABELA 1 - TABELA DE DEFINIÇÃO DE TERMINOLOGIA FORMAL 1
Designação
Alguidar
Almofariz
Bacia
Definição
Observações
Peça utilizada na cozinha ou em
actividades de higiene, aberta, cujo perfil
pode ser contínuo ou descontínuo, e
funda, em geral troncocónica, mas que
pode ter também modelações elípticas ou
ovais. Com ou sem asas, o fundo é plano
e largo.
A dimensão da abertura ou a dimensão
mínima da abertura (no caso das peças
elípticas), deve estar compreendida entre
uma vez e meia e três vezes a altura
máxima (1,5X H≤M DM ≤ 3X HM), o
diâmetro da abertura, no caso das peças
com perímetro de bordo circular, é maior
que 40 cm.
Peça utilizada na cozinha para preparação
de alimentos, aberta, de perfil geralmente
descontínuo, mas que pode também ser
contínuo, usada para triturar com a ajuda
de um pilão, de morfologia semelhante à
tigela, normalmente com o bordo bem
marcado e, por vezes, com um vertedouro
e fundo plano ou pé diferenciado. A
superfície interna pode apresentar
estriamento concêntrico ou inclusão de
pedrinhas angulosas. As proporções são
idênticas às das tigelas, com o diâmetro
máximo entre duas a quatro vezes a altura
máxima (2X HM ≤ DM ≤ 4X HM) e
maior ou igual ao dobro do diâmetro do
fundo (DM ≥ 2X DF).
Peça utilizada na cozinha ou em
actividades de higiene, de forma aberta e
perfil geralmente contínuo mas que
também
pode
ser
descontínuo,
morfologicamente semelhante a uma
grande tigela, geralmente com asas
horizontais, de fundo plano, paredes
fortemente oblíquas. O diâmetro da
abertura superior a quatro vezes a altura
(DM> 4X HM), pode eventualmente ser
elíptico, e de diâmetro superior a 20 cm.
As informações constantes nesta tabela foram retiradas de (Ecomuseu, 2007 – [em permanente
actualização) p. 29-38)
1
Bilha
Caçarola
Caneca
Cântaro
Chávena
Copo
Frigideira
Funil
Recipiente utilizado para servir alimentos
líquidos à mesa, fechado, com perfil
descontínuo, usado para servir líquidos,
caracterizado pelo colo estreito, a pança
larga e a aplicação de uma ou duas asas.
Proporcionalmente, o diâmetro da pança
será sempre três vezes superior ao
diâmetro do colo (DM≥ 3X DC) e a
altura superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB), diâmetro do bordo inferior a
10,5 cm e do colo inferior a 6 cm.
Peças morfologicamente
semelhantes mas com colo
mais largo (diâmetro do bojo
menos diferenciado do
diâmetro do colo – DM <3
DC) são jarros.
Peças
morfologicamente
semelhantes mas de maior
dimensão são cântaros.
Tacho com pega ou cabo.
Copo com asas.
Recipiente usado para armazenar líquidos,
caracterizado pelo colo estreito em relação
à pança e aplicação de uma ou duas asas.
Proporcionalmente, o diâmetro da pança
será sempre três vezes superior ao
diâmetro do colo (DM≥ 3X DC) e a
altura superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB), diâmetro do bordo entre 9 e
14 cm.
Copo com asas e diâmetro máximo
superior à altura (DB > HM).
Peça utilizada para consumo de alimentos
líquidos, sem asas, de paredes verticais ou
muito pouco extrovertidas, com diâmetro
da abertura inferior a uma vez e meia a
altura (DB <1,5 HM) e compreendido
entre 6 e 12 cm (6 cm ≤ DB ≤ 12 cm).
Peça aberta, semelhante a placa ou prato
com pega (s) ou cabo, usada para fritar
alimentos ou para os cozinhar no forno.
Peça aberta, com perfil descontínuo, de
forma semelhante à da Tigela (facilmente
confundível) com bico ou vertedouro na
extremidade inferior. Usado para verter
líquidos para recipientes de forma
fechada.
Peças morfologicamente
semelhantes mas com asas e
diâmetro máximo superior à
altura são chávenas (DB>
HM).
Sertã: USE Frigideira
Garrafa
Bilha sem asas, com colo alto (gargalo), e
corpo desde a base até ao colo de
proporções regulares (cilíndrica).
Grande Pote Canelado
Peça fechada, com perfil descontínuo,
morfologicamente semelhante a um pote
mas de dimensões muito maiores, usada
essencialmente na preparação do pez
(breu cru) através da cozedura. Apresenta
na superfície externa caneluras em toda a
face. Proporcionalmente, a altura é
sempre superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB) e geralmente inferior ou igual
ao diâmetro da pança (HM <DM),
diâmetros do bordo superiores a 25 cm,
terá de se ter em conta outras medidas
(espessura das paredes e proporção
diâmetro/altura).
Jarro
Peça utilizada para servir alimentos
líquidos, fechada, com perfil descontínuo,
morfologicamente aparentada com um
pote mas sempre com uma asa, bordo
simples, bico simples ou trilobado, usado
para servir líquidos. Alguns jarros podem
apresentar um pequeno vertedouro
tubular na pança, nestes casos, podem ser
coadores.
O colo é largo e não muito diferenciado
da pança (DM <3X DC), no caso dos
bordos trilobados a medida contabilizada
é a do colo. A altura é sempre superior ao
diâmetro da abertura (HM > DB), com
diâmetro do bordo entre os 6,5 e os 12,5
cm.
Lucernas/Candeias
Peça geralmente baixa, com um
bico/queimador, um depósito de
combustível, e geralmente com uma ou
mais pegas/asas.
São objectos usados para a iluminação do
quotidiano, geralmente são modelados a
partir de um molde bivalve ou
conformados manualmente.
Peça abundantemente utilizada em Época
Romana para fins de iluminação, mediante
a combustão de um óleo por intermédio
de uma torcida. Normalmente possuía
uma asa e era moldada, apresentando a
zona superior (disco) frequentemente
decorada. Um orifício permitia a
alimentação do óleo, enquanto outro
servia para a saída da torcida.
Peças
morfologicamente
semelhantes mas com colo
mais estreito (diâmetro do
bojo três vezes superior ao
diâmetro do colo – DM ≥ 3
DC) são bilhas.
Moldes
Utensílio usado na conformação de
outros objectos.
Panela
Recipiente utilizado para cozinhar
alimentos a fogo, fechado, de perfil
descontínuo, geralmente com asas, pança
ovóide ou piriforme, fundo plano ou
convexo.
A altura superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB). Objecto usado para cozinhar
alimentos, com diâmetro do bordo entre
10,5 e 30,5 cm. Objectos com diâmetros
do bordo superiores a 25 cm podem
corresponder a talhas, no entanto terá de
se ter em conta outras medidas (espessura
das paredes e proporção diâmetro/altura).
Pesos
Objectos
geralmente
usados
em
actividades laborais ou oficinais.
Geralmente os pesos de forma curvilínea
seriam usados para lastrar redes de pesca.
Os pesos de forma trapezoidal seriam
provavelmente usados na tecelagem.
Pote
Recipiente fechado, de perfil descontínuo,
geralmente sem asas, pança ovóide ou
piriforme, fundo plano. É usado para
funções
não-culinárias,
pelo
que
geralmente não apresenta vestígios de uso
culinário (acção do fogo).
A altura superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB). Objecto com diâmetro do
bordo entre 10,5 e 30,5 cm. Objectos com
diâmetros do bordo superiores a 25 cm
podem corresponder a talhas, no entanto
terá de se ter em conta outras medidas
(espessura das paredes e proporção
diâmetro/altura).
Potinho
Recipiente utilizado para consumir ou
servir alimentos à mesa, fechado, de perfil
descontínuo, normalmente com asas,
pança ovóide, piriforme ou carenada,
fundo plano ou com pé e usado,
geralmente, para funções não-culinárias,
para consumo de líquidos à mesa e,
eventualmente, como fervedor.
A altura superior ao diâmetro da abertura
(HM> DB) mas pode ter o diâmetro da
abertura menor que a altura (DB <HM).
Com uma ou duas asas, diâmetro do
bordo inferior a 12,5 cm. No caso dos
potinhos de bordo trilobado e asa
perpendicular ao vertedouro, o diâmetro
do bordo pode ir até aos 14 cm.
Peças morfologicamente
semelhantes mas de diâmetro
da abertura superior à altura
são tachos.
Peças
morfologicamente
semelhantes mas sem vestígios
de uso culinário (acção do
fogo) são potes.
Em caso de dúvida USE
Pote/panela.
Peças
morfologicamente
semelhantes
mas
com
vestígios de uso culinário
(acção do fogo) são panelas.
Em caso de dúvida USE
Pote/panela.
Peças
morfologicamente
semelhantes mas de altura
inferior ou igual ao diâmetro
da abertura são tachos.
Pratel
Prato
Prato Covo
Púcaro
Suportes
Taças
Peça com igual relação DM/HM mas
Prato pequeno: USE Pratel
mais pequena, com diâmetro inferior a 15
cm.
Peça geralmente usada para consumo de
alimentos à mesa, com perfil geralmente
contínuo, baixa, sem asas, de fundo plano
ou ligeiramente côncavo, paredes
fortemente extrovertidas e diâmetro da
abertura superior a quatro vezes a altura
(DM> 4 HM) e de dimensão entre 15 e
25 cm (15 cm ≤ DM ≤ 25 cm).
Objecto usado em contexto doméstico,
tanto para servir alimentos à mesa, quanto
para cozinhar alimentos a fogo, de forma
aberta
e
perfil
contínuo,
morfologicamente semelhante ao prato
(paredes fortemente extrovertidas, sem
asas e com fundo plano ou côncavo) mas
mais funda, com diâmetro máximo entre
duas a quatro vezes a altura máxima (2
HM ≤ DM ≤ 4 HM) e menor que o
dobro do diâmetro do fundo (DM <2
DF).
Peças com igual relação
HM/DM, mas de fundo mais
estreito, isto é, com o
diâmetro máximo maior ou
igual ao dobro do diâmetro do
fundo, são tigelas (DM ≥ 2
DF).
Peças
morfologicamente
semelhantes
mas
muito
fundas, podem ser terrinas.
Peça utilizada para cozinhar ou aquecer
alimentos líquidos, morfologicamente
aparentada com um panela mas de
dimensão relativamente pequena, de bojo
ovóide ou levemente carenado,
normalmente com uma ou duas asas,
fundo plano, levemente côncavo ou com
pé, com diâmetro da abertura geralmente
menor que a altura (DB <HM), mas
podendo ir até ao dobro desta (DB ≤ 2
HM).
Acessório usado, geralmente, para
suportar um recipiente que não se sustém
por si só. Os suportes em anel são
geralmente usados para sustentar potes ou
panelas de fundo de base arredondada.
Podem ser usados em contexto doméstico Trempe USE Suporte Tubular
ou oficinal.
Os suportes de ânfora são elementos
tubulares usados na actividade oleira para
suportar ânforas na sua montagem ou no
enfornamento.
Peça utilizada para consumir ou servir
alimentos à mesa, morfologicamente
semelhante à tigela com fundo ou pé alto
e bem diferenciado, pode apresentar duas
asas oponíveis.
Tacho
Recipiente utilizado para cozinhar
alimentos a fogo, normalmente fechado
(embora possam existir peças de forma
aberta), de perfil descontínuo, com ou
sem asas, pança esférica, ovóide ou
carenada, fundo plano ou convexo.
A altura é inferior ou igual ao diâmetro da
abertura (HM≤ DB), com diâmetros
inferiores a 30,5 cm. Peças com diâmetros
do bordo superiores a 25 cm podem
corresponder a talhas, no entanto terá de
se ter em conta outras medidas (espessura
das paredes e proporção diâmetro/altura).
Talha
Peça fechada, com perfil descontínuo,
morfologicamente semelhante a um pote
mas de dimensões muito maiores, usada
essencialmente para armazenamento.
Proporcionalmente, a altura é sempre
superior ao diâmetro da abertura (HM>
DB) e geralmente inferior ao diâmetro da
pança (HM <DM), diâmetros do bordo
superiores a 25 cm, terá de se ter em
conta outras medidas (espessura das
paredes e proporção diâmetro/altura).
Tampas
Acessório de forma aberta, para cobrir
recipientes diversos (pratos, pratos covos,
tachos, panelas, bilhas, talhas, etc.).
Normalmente têm a forma de um prato
ou tigela invertida, com uma pequena
pega ou outro elemento de preensão.
Terrina
Peça utilizada para servir alimentos à
mesa, de morfologia pouco definida, que
tanto pode apresentar perfis abertos como
fechados, assemelhando-se a pratos covos
fundos, tigelas fundas. Por vezes tem
tampa, asas e fundo ou pé diferenciado. O
diâmetro máximo terá entre uma a quatro
vezes a altura máxima (HM≤ DM ≤ 4
HM) e será maior ou igual ao dobro do
diâmetro do fundo (DM ≥ 2 DF).
Peças morfologicamente
semelhantes mas de altura
superior ao diâmetro da
abertura são panelas ou potes.
Dolium: USE Talha
ANEXO VII
CONTEÚDO
1.
Análise de Bibliografia
Tabela 1 – Análise Bibliográfica
1. ANÁLISE DE BIBLIOGRAFIA
Para esta análise bibliográfica foram seleccionados alguns títulos de referência
relacionados com: o enquadramento legal português para o património cultural e para os
museus portugueses; as orientações internacionais no âmbito da documentação em
museus; as orientações no âmbito do inventário emanadas pelo IMC; e a bibliografia
específica da temática arqueológica, particularmente no que concerne aos objectos
cerâmicos. De cada um destes temas foram seleccionados apenas um ou dois títulos visto
que a análise exaustiva de toda a bibliografia disponível não caberia no âmbito deste
trabalho. Optamos assim por salientar os que nos pareceram mais indicados e dentro
destes destacar os pontos mais relevantes para o presente estudo.
Na tabela seguinte realizamos a relação dos conceitos que nos parecem
fundamentais para os objectivos a que nos propomos.
TABELA 1 – ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA
Fonte
Lei do Património
Cultural
Lei nº 107/2001
Lei-quadro dos Museus
Portugueses
Lei nº 47/2004 de 19
de Agosto
Conceitos e ideias chave
Artigo 6º: Para além de outros princípios presentes nesta lei, a política do
património cultural obedece aos princípios gerais de a) Inventariação,
assegurando-se o levantamento sistemático, actualizado e tendencialmente
exaustivo dos bens culturais existentes com vista à respectiva identificação.
Capítulo III, secção I, Artigo 7º entre as funções museológicas encontra-se na
alínea c) o Inventário e a Documentação. Depois apresenta-se toda uma
secção (Secção IV) dedicada a esta função museológica. Estabelece-se a
obrigatoriedade do museu inventariar todos os bens incorporados (artigo
15º) mas salvaguarda-se no nº 3 do mesmo artigo que em circunstâncias
excepcionais, decorrentes da natureza e características do acervo do museu,
a incorporação pode não ser acompanhada da imediata elaboração do
inventário museológico de cada bem cultural. No artigo 19º, nº 2, alínea h)
estabelece-se como elemento obrigatório da ficha de inventário a Descrição.
Fonte
Conceitos e ideias chave
Pág. XVI
1O
grupo de Descrição fornece informação útil para arquivos de Segurança,
Quantificação, Acesso, e Histórico. Na ausência de uma imagem fornece uma
descrição detalhada do objecto e constitui-se um instrumento de busca que
a imagem por si só não proporciona.
(CIDOC-ICOM, 1995)
“International
Guidelines for Museum
Object Information: The
CIDOC Information
Categories”
Informação de Descrição pode ser usada para uma variedade de propósitos
incluindo a investigação, exposições, e publicações.
Categorias de informação:
•
•
Descrição física
Estado do espécime (usado apenas para especímenes de ciência).
Descrição Física:
•
•
Descrição do aspecto visual geral do objecto.
Inclui informação acerca de molduras, bases e apresentação quando
apropriado.
Pode ser registada mais do que uma descrição física.
Pág. 357
2Descrição
física
Definição: aspecto visual geral de um objecto;
"SPECTRUM: The UK
Museum
Documentation
Standard," 2009)
Como registar: Use gramática e pontuações normais. Se apropriado inclua a
referência e descrição da porção do objecto conservado. Comente apenas o
estado de conservação se este afectar o estado de fragmentação. Descreva
itens que seriam feitos usando um objecto. A base e a moldura devem
também ser descritos se apropriado. Poder-se-ão mencionar os seguintes
temas:
•
•
•
•
•
•
1
2
Tradução livre do texto original.
Idem
Qual a forma do objecto?
Descreva um objecto segundo a direcção que a peça toma (exemplo:
o lado direito da escultura, e não o do observador). Não use
‘esquerdino’ ou ‘destro’
Onde e como está decorado?
Como está seguro?
Como está construído?
Que escala é usada?
Fonte
Conceitos e ideias chave
Pág. 33-34
•
•
•
•
•
•
•
•
(PINHO e FREITAS,
2000)
Normas de Inventário.
Normas Gerais, Artes
Plásticas e Artes
Decorativas
“Não se deve confundir descrição de inventário com entrada de
catálogo, e dever-se-á ter sempre em conta a associação obrigatória
de uma imagem a cada uma das peças inventariadas”
“Neste campo dever-se-á descrever objectivamente aquilo que se vê
na peça e não o conhecimento que dela se tem.”
“Começar por descrever do geral para o particular”
“Identificar o tema/assunto representado”;
“Identificar o tema ou motivo principal primeiro, e secundário (s) ou
envolvente (s), depois”;
“Identificar/descrever primeiro a forma/estrutura e depois os
elementos decorativos”
“Descrever a forma e/ou composição abstracta ou figurativa de um
objecto e/ou elementos decorativos, quando aplicável”
Objectos bidimensionais
“Distinguir-se-á descrição estrutural e descrição conceptual.
Começar-se-á por identificar o tema/padrão principal, seguido dos
temas/elementos secundários, consoante se trate de uma composição
figurativa, geométrica ou abstracta”.
Objectos tridimensionais
•
•
•
•
•
“Identificar-se-á primeiramente a forma/estrutura e só depois a
decoração.
A organização dos descritores acompanhará logicamente a
verticalidade ou horizontalidade da própria peça.
A descrição será feita, tendencialmente, da base para o topo.
(exemplo peças de ourivesaria)
Para a escultura, designadamente no que respeita a peças de
Imaginária, a regra descritiva acima referida não se aplica. Neste
caso, começar-se-á por descrever a atitude geral da imagem, seguida
da sua descrição iconográfica e, por último, da leitura das formas e
das técnicas nela presentes.
No final da descrição sintética e rigorosa da peça, admite-se a
inclusão de um comentário personalizado, fundamentado, por
exemplo, na leitura estético-formal da obra, em apreciações de ordem
técnica, ou outra, sempre que na base de dados não exista campo
próprio para este tipo de informação e que esta seja considerada
pertinente”
Iconografia
•
•
•
“A descrição iconográfica pode ou não estar contida na própria
descrição geral da peça.
Serão sempre indicados os atributos específicos de cada imagem, bem
como as características particulares que contribuem para a sua
identificação.
Do mesmo modo, sendo os símbolos representações de ideias ou
conceitos de ordem moral ou intelectual, ter-se-á em conta a sua
forma, cor, posicionamento relativo na obra e significado intrínseco”
Fonte
Conceitos e ideias chave
Pág. 34-41
•
•
•
•
(MÂNTUA
HENRIQUES e
CAMPOS, 2007)
Normas de Inventário
Cerâmica. Artes
Plásticas e Artes
Decorativas
•
(RAPOSO, L. MARTINS
e CORREIA, 2000)
Normas de Inventário
de Arqueologia. Normas
Gerais
“Deve aplicar-se uma lógica de observação hierarquizada do objecto
que vai do geral para o particular e dos elementos estruturais para os
acessórios;
Identificar e descrever a configuração/forma do corpo cerâmico, pela
identificação dos elementos estruturais caracterizando-os, sempre
que possível, pelo recurso a figuras geométricas planas e
tridimensionais simples.
Identificar e descrever os elementos da decoração aplicados ao corpo
cerâmico;
Para facilitar a descrição da configuração física dos objectos
cerâmicos deve articular-se a identificação dos seus elementos
estruturais com figuras planas ou tridimensionais simples:”
Formas planas:
• Circulo, semicírculo
• Oval, Óvulo
• Triângulo, quadrado, pentágono, hexágono…
Superfícies:
• Plana
• Curva, cónica, cilíndrica
• Côncava, convexa
Volumes
• Cubo
• Paralelepípedo
• Prisma recto
• Pirâmide recta
• Tronco de pirâmide
• Cilindro
• Cone, Tronco de cone
• Esfera, Calote esférica
• Ovóide
• Toro
Linhas (para contornos por exemplo)
• Recta, quebrada
• Curva, contra curvada
• Paralelas, intersectadas
Pág. 22
“Todos os fragmentos que permitirem uma reconstituição da peça a
que pertenceram, podendo portanto ser objecto de uma análise
tipológica, inventariam-se enquanto peça e não como fragmento.”
Pág. 35-36
•
•
“Começar por descrever do geral para o particular. Em fragmentos,
primeiro identificar a peça tal como se reconstitui, só depois
particularizando o que se conserva.
Identificar primeiro a forma e a estrutura a descrever depois os
elementos acessórios ou decorativos.
Fonte
Conceitos e ideias chave
•
•
(CRUZ e CORREIA,
2007)
•
Normas de Inventário
de Arqueologia.
Cerâmica Utilitária
A descrição acompanhará logicamente a verticalidade ou
horizontalidade da própria pela. A descrição será feita,
tendencialmente, da base para o topo, sendo que a escultura de vulto
admite outro tipo de abordagem, consoante a configuração da
própria peça.
Em mosaicos, ou peças comparáveis, começar-se-á por descrever o
campo e seus diferentes planos, e por último a cercadura”
Pág. 50
“O princípio fundamental para a descrição e/ou classificação da
organização decorativa baseia-se essencialmente no posicionamento
dos motivos no corpo do recipiente, na relação entre os vários
motivos e na sua orientação, por exemplo horizontal/vertical.”
Pág. 20
Descrição Analítica
(ECOMUSEU, 2007)
Inventário do
Ecomuseu Municipal do
Seixal. Base de dados
Micromusée. Manual de
Ajuda ao Utilizador
“Este campo permite descrever a iconografia, o aspecto formal e técnico do
objecto.
Desenvolve-se neste campo a forma do objecto e explica-se o seu conteúdo
iconográfico. Para os objectos complexos, os diferentes elementos são muitas
vezes indissociáveis.
Por vezes repete-se aqui informação inserida noutros campos, usando um
discurso mais ligado que visa a posterior utilização em perfis de consulta de
bases de dados, ou de exportação e impressão a partir da mesma.”
3Estrutura
(BALFET FAUVETBÉRTHELOT e
MONZON, 1992)
Normas para la
Descripcion de Vasijas
Cerámicas
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
3
Tradução livre do texto original.
do Manual:
Forma dos recipientes (aberto/fechado) e denominações;
Partes de um recipiente;
Recipientes de forma simples ou composta;
Pontos de perfil;
Pasta: elementos constituintes e descrição da pasta;
Elaboração da forma: união de elementos, moldagem, fabrico à
roda (torno);
Cozedura: temperatura, atmosfera, instalações, controlo da
cozedura, ventilação;
Acabamentos: técnicas.
Tratamentos de superfície: alisamento, polimento, “à escova”
Modificação da superfície: incisão, excisão, gravado, impressão,
estampilhagem, impressão com rolo, modelado, penteada,
moldado.
Aplicação de um elemento: revestimento (engobe, grafito,
revestimento rugoso, “fumado” (?), vidrado); ornamento
(decoração pintada, barbotina, aplicação de um elemento
Fonte
Conceitos e ideias chave
modelado ou moldado).
Vocabulário para descrição de Perfis:
•
•
•
•
Ponto de intersecção: ponto de ruptura de uma curva que
provoca uma mudança brusca do contorno formando um
ângulo saliente ou reentrante. A curva resultante chama-se
descontínua.
Ponto de Inflexão: ponto de inversão, sem ruptura, entre os
segmentos convexos e côncavos de uma curva contínua.
Curva contínua: a curva do perfil é contínua quando não
existem pontos de intersecção.
Curva descontínua: a curva do perfil é descontínua quando
existem um ou mais pontos de intersecção.
Fonte
Conceitos e ideias chave
4Princípios:
•
•
A nomenclatura, em objectos arqueológicos, deve basear-se
principalmente em critérios de forma e não de função. Esta regra
não exclui os termos funcionais ou regionais, mas reserva a sua
utilização a casos em que o contexto o permita sem ambiguidade.
“A nossa proposta consiste numa classificação em grandes categorias,
definidas por critérios simples de profundidade e de diâmetro
(máximo de abertura), e, posteriormente, de outras dimensões. Para
cada categoria são dados igualmente os nomes e definições de formas
semelhantes relacionadas com uma função específica e
eventualmente termos de uso regional”.
Estrutura do Manual:
(BALFET FAUVETBERTHELOT e
MONZON, 2000)
“Lexique et Typologie
des Poteries. Pour la
Normalisation de la
Description des
Poteries”
4
Tradução livre do texto original.
Forma
• Recipientes abertos e fechados;
• Descrição de cada uma das formas incluídas nos grandes
grupos acima mencionados.
Denominação
• Nomenclatura de formas cerâmicas, divididas em recipientes
de forma simples e de forma composta;
Morfologia
• Pontos de um perfil: ponto de intersecção, ponto de inflexão;
ponto de tangencia vertical externa; ponto de tangencia
vertical interna; pontos extremos; curva contínua; curva
descontínua.
• Partes de um recipiente.
• Elementos de preensão, de verter, e de fechar/tapar;
Descrição de fabrico/acabamentos/decoração
• Termos técnicos – definição: Pasta (conformação, elementos
constituintes, descrição); Fabrico (generalidades, construção
por junção de elementos, moldagem, e modelagem a torno);
Cozedura (temperatura e atmosfera, instalações e controlo de
cozedura).
• Acabamento: técnicas;
• Técnicas de decoração: de acabamento de superfície (alisar,
polir, Lustrar, Encrespar, Raspar); de modificação da
superfície cerâmica (incisão, grafitar, excisão, gravar,
imprimir, carimbar, imprimir rolamento, imprimir por
basculamento, estampar, decalcar, fotocerâmica, modelar,
moldar) aplicação de um elemento (aplicação de um
revestimento – engobar, granular, vidrar, esmaltar, envernizar;
aplicação de uma decoração – pintura, traçado a barbotina,
decoração plástica, empedrar modelado ou moldado por
elementos separados).
Fonte
Conceitos e ideias chave
5A
investigação arqueológica foca-se na variação de três correntes
principais: tecnológica, funcional, estilística. Estas podem por sua vez estar
inter-relacionadas e associar-se a variáveis cronológicas, espaciais, sociais,
económicas e ideológicas.
Anatomia do Recipiente
(JOCHIM e DICKENS
JR., 2002)
•
Analysing Pottery
•
•
•
•
(SANTOS, 2011)
As Cerâmicas de
Produção Local do
Centro Oleiro Romano
da Quinta do Rouxinol
5
Para a maioria das medidas de bordos ou fundos o elemento mais
importante na orientação é a postura. Esta é a posição que,
idealmente, um vaso adoptaria quando posicionado sobre uma
superfície. Para orientar um bordo segure-o sobre uma superfície
plana e mova-o para a frente e para trás até achar a posição na qual
todo ou a maior parte do lábio esteja em contacto com a superfície.
A superfície plana assume-se então como a representação do eixo
plano horizontal do recipiente.
Partes de recipientes;
Medição da forma do recipiente: distinção entre formas abertas e
fechadas.
Análise tecnológica (pasta, fabricos, acabamentos, decoração)
Análise estilística;
Segue a metodologia de Balfet: divisão em categorias - Formas
abertas/formas fechadas - e acrescenta categorias de peças que
morfologicamente não se incluem nestas últimas: tampas, lucernas,
moldes, suportes para vasilhame, pesos, cerâmica figurativa e
cerâmica arquitectónica.
Estas Categorias estão depois divididas em formas: correspondem
genericamente aos modelos habitualmente produzidos pelos
oleiros. Simplificaram-se e uniformizaram-se as designações mais
regionalistas ou restritivas (exemplo: tigela, malga, taça ou gamela,
que correspondem vulgarmente ao mesmo tipo de peça).
Termos usados: pratos, pratos covos, tigelas bacias,
almofarizes, alguidares, funis, tachos, potes/panelas, potinhos,
jarros, bilhas, cântaros, “grandes potes canelados”, talhas.
Em algumas formas atribuíram-se ainda variantes, tendo em conta
a morfologia e posição do bordo, e sub-variantes que se referem a
peças que reproduzem determinado modelo mas que apresentam
alguma particularidade que ainda assim não é suficiente para uma
nova forma ou variante.
No estudo adoptou-se uma nomenclatura numérica simples, lógica,
e obedecendo a uma matriz pré-formatada, composta por um
numeral de três a cinco algarismos separados por um ponto: o
primeiro corresponde à categoria morfológica, o segundo à forma, o
Tradução livre do texto original.
Fonte
Conceitos e ideias chave
terceiro à variante, e o quarto e quintos às sub-variantes.
As formas foram ainda divididas segundo uma classificação
funcional num modelo pensado de forma a atribuir um grau de
funcionalidade às peças de acordo com o contexto em que surgem,
dando maior relevância ao último acto de uso no momento em que
o espaço é abandonado. Este esquema enfrenta um problema: peças
sem vestígios ou marcas de uso que são encontradas em contextos
nos quais nunca chegaram a cumprir o seu objectivo funcional
(olarias ou lixeiras). Nestes casos apenas se pode especular sobre a
sua funcionalidade baseando-se em paralelos de contextos de
consumo.
Deste modo definiram-se dois grandes grupos gerais: produção
local/regional e de importação.
Grupos de Contexto Funcional
“Cerâmica de uso votivo ou artístico: conjuntos de objectos de
carácter figurativo em que se valoriza a sua componente estética
e visual (estatuetas), e/ou utilizados em actos de natureza
religiosa, simbólica, funerária, ritual ou votiva (ex votos). Muitos
dos objectos podem pertencer ao grupo do uso doméstico,
sobretudo em contexto funerário.”
“Cerâmica de uso doméstico: conjunto de recipientes que se
destinam a ser usados à mesa e na cozinha:
• A cerâmica de mesa refere-se a um conjunto de recipientes
destinados a consumir e a servir alimentos (pratos, tigelas,
potinhos, jarros e bilhas);
• A cerâmica de cozinha refere-se a um conjunto de recipientes
destinados ao processamento de alimentos, com recurso à acção
do fogo (tachos e panelas) ou só de preparação (almofarizes);
• A cerâmica de iluminação refere-se a recipientes destinados
a esse fim (lucernas);
A cerâmica de uso higiénico refere-se a um conjunto de
recipientes para satisfação dos cuidados de higiene pessoal,
cosmética, lavagens em geral (bacias e alguidares);
• A cerâmica de transporte/armazenamento refere-se a um
conjunto de recipientes para armazenamento e/ou transporte de
alimentos ou outro tipo de materiais (potes, cântaros e talhas).”
“Cerâmica de uso oficinal/laboral: conjunto de recipientes ou
objectos destinados à produção laboral ou oficinal (cerâmica
canelada, suportes, moldes e pesos).”
“Cerâmica de transporte e armazenamento: conjunto de
recipientes destinados ao armazenamento e transporte de
diversas matérias [noutros contextos que não o doméstico]
(ânforas, cântaros e potes).”
“Cerâmica de uso lúdico: conjunto de objectos, feitos de raiz ou
reaproveitados, destinados ao entretenimento (peças de jogo).”
Fonte
Conceitos e ideias chave
“Cerâmica de construção: conjunto de objectos destinados à
edificação de estruturas e infra-estruturas:
Construção (telhas, tijolos, tijoleiras etc.);
Revestimento (azulejos, mosaicos, ladrilhos, etc.);
Elementos de canalização (tubos, manilhas, gárgulas,
etc.).”
“Cerâmica de uso indefinido: quando não é possível a
atribuição de um grupo mais preciso.”
Pode existir cruzamento entre os diversos subgrupos de carácter
funcional e os grupos de contexto funcional.
Esta divisão não é rígida uma vez que a realidade é complexa e as
formas poderão ter diversas funções. Cada caso terá de ser
analisado individualmente tendo em conta o seu contexto.
Designações: designações simples e de fácil visualização mental,
recorrendo a formas geométricas conhecidas, planos geométricos,
superfícies curvas, morfologia de signos alfabéticos, e partes da anatomia
humana ou animal.
ANEXO VIII
CONTEÚDO
Caracterização dos Descritores definidos para a análise do campo de Descrição
CARACTERIZAÇÃO
DESCRIÇÃO
DOS
DESCRITORES
DEFINIDOS PARA A ANÁLISE DO CAMPO DE
Para maior conveniência de estudo e análise, o conteúdo do campo Descrição das
fichas de inventário dos museus considerados, foi agrupado em “categorias de
informação”, às quais, no âmbito do presente estudo, chamámos descritores. Nesse sentido
elaborámos uma lista dos descritores considerados na análise aos registos de inventário, e
respectiva caracterização da informação.
Denominação: refere a denominação conferida ao objecto no campo com o
mesmo nome da ficha de inventário, por vezes precedida de fragmento.
Exemplo: ”Fragmento de malga de pansa carenada com ângulo externo vivo,
parte superior nitidamente côncava e bordo com entalhe de canelura na
superfície superior”.
(Museu Monográfico de Conímbriga, nº de inventário 64.608, [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=108747 [acedido em Fevereiro de 2012])
Categoria Funcional: referência a um grupo que designa utilização/destino.
Exemplo: “Fragmento de bojo de vaso ritual, em Cerâmica Bracarense, de
produção local”
(Museu D. Diogo de Sousa, nº de inventário 2002.0310 [em linha] Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=962053 [acedido em Fevereiro de 2012])
Matéria: informações relativas à matéria com que é feito o objecto. Por exemplo:
barro.
Exemplo: “Fragmento de candil de pé alto, de barro cozido revestido em ambas
as faces de esmalte verde com alguns pigmentos azulados aplicados sob o
engobe claro. O fragmento conservado corresponde a uma parte de base
incompleta de forma circular da tipologia dos candis de pé alto com bordo
boleado e uma aba exterior de secção triangular. Possui um arranque de asa
de fita de secção oval colocada verticalmente e a nascer da base. Na base
visível vestígio de apoio da trempe. Pasta beige, homogénea e bem depurada.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12777 F [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109453 [acedido em Fevereiro de 2012])
Técnicas de Conformação: informações relativas à transformação da matériaprima em cerâmica.
Exemplo: “Vaso de cerâmica manual. Pança globular, sem colo e com bordo
bastante esvasado, fundo plano e curto. Asa aparentemente de secção circular,
localizada entre bordo e a parte alta da pança. Superfície polida.”
(Museu D. Diogo de Sousa, nº de inventário 1991.0389 [em linha] Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=313361 [acedido em Fevereiro de 2012])
Descrição de Pasta: informações relativas à caracterização da pasta como por
exemplo: cor ou inclusões.
Exemplo: “Taça incompleta, de barro cozido, coberta em ambas as faces de
vidrado verde. É composta por dois fragmentos colados. Apresenta porção de
parede de perfil carenado com bordo recto envasado em aba. O vidrado da face
exterior é de tonalidade mais viva, enquanto o da face interior oscila entre o
esverdeado claro e amarelado. A decoração é incisa, aplicada na parte
superior do corpo. Traços oblíquos formam um padrão espinhado. A pasta é
beige alaranjada, bem depurada. Contém alguns elementos não plásticos.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12784 A [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109519 [acedido em Fevereiro de 2012])
Grupo de Fabrico: identificação de um grupo atribuído em resultado de
investigação desenvolvida no seio da instituição ou noutro contexto, segundo
critérios técnicos e tecnológicos.
Exemplo: “Prato em Cerâmica Focense, Tipo Hayes 3 - Fabrico 1”
(Museu D. Diogo de Sousa, nº de inventário 1991.0683 [em linha] Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=317112 [acedido em Fevereiro de 2012])
Morfologia: informações que descrevam a morfologia do objecto no todo ou em
parte.
Exemplo: “Taça incompleta, de barro cozido, coberta em ambas as faces de
vidrado verde. É composta por dois fragmentos colados. Apresenta porção de
parede de perfil carenado com bordo recto envasado em aba. O vidrado da face
exterior é de tonalidade mais viva, enquanto o da face interior oscila entre o
esverdeado claro e amarelado. A decoração é incisa, aplicada na parte
superior do corpo. Traços oblíquos formam um padrão espinhado. A pasta é
beige alaranjada, bem depurada. Contém alguns elementos não plásticos.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12784 A [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109519 [acedido em Fevereiro de 2012])
Acabamentos: informações relativas a alterações da superfície cerâmica que não
tenham como objectivo decorar/adornar o objecto.
Exemplo: “Taça incompleta, de barro cozido, coberta em ambas as faces de
vidrado verde. É composta por dois fragmentos colados. Apresenta porção de
parede de perfil carenado com bordo recto envasado em aba. O vidrado da face
exterior é de tonalidade mais viva, enquanto o da face interior oscila entre o
esverdeado claro e amarelado. A decoração é incisa, aplicada na parte
superior do corpo. Traços oblíquos formam um padrão espinhado. A pasta é
beige alaranjada, bem depurada. Contém alguns elementos não plásticos.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12784 A [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109519 [acedido em Fevereiro de 2012])
Decoração/Iconografia: informações relativas à decoração, quer se refiram à
técnica quer ao motivo representado, ou eventual análise iconográfica.
Exemplo: “Taça incompleta, de barro cozido, coberta em ambas as faces de
vidrado verde. É composta por dois fragmentos colados. Apresenta porção de
parede de perfil carenado com bordo recto envasado em aba. O vidrado da face
exterior é de tonalidade mais viva, enquanto o da face interior oscila entre o
esverdeado claro e amarelado. A decoração é incisa, aplicada na parte
superior do corpo. Traços oblíquos formam um padrão espinhado. A pasta é
beige alaranjada, bem depurada. Contém alguns elementos não plásticos.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12784 A [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109519 [acedido em Fevereiro de 2012])
Inscrição/Grafitos: informações relativas a inscrições ou grafitos inscritos no
objecto.
Exemplo: “Molde de lucerna de volutas, tipo Loeschcke IV (?). Fragmento da
parte inferior de molde bivalve onde apenas se lê na parte inferior as letras
DO.”
(Museu D. Diogo de Sousa, nº de inventário 1993.0695, [em linha] Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=317529 [acedido em Fevereiro de 2012])
Estado de Conservação: informações relativas ao estado de conservação do
objecto.
Exemplo: “Lucerna em argila de forma circular de fundo abalado e de boca
muito larga, tendo uma pega com formato arredondado e perfurado na parte
central do bojo. Falta-lhe um pedaço e tem pequenas brechas. Tem texto na
parte inferior.”
(Museu Abade Baçal, nº de inventário 1324, [em linha] Disponível em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=3583 [acedido em Fevereiro de 2012])
Porção Conservada: identifica a parte do objecto que se encontra conservada no
caso de este não estar completo.
Exemplo: “Bule de barro cozido coberto em ambas as faces de engobe beige
claro. O fragmento conservado apresenta colo baixo cilíndrico com bordo
boleado, o arranque do bojo com um pequeno bico vertedor de forma
bitroncónica que nasce do bojo e acompanha a curvatura do colo. Na face
exterior do colo existem caneluras salientes e paralelas em relação ao bordo e
entre si. No colo e no bico vertedor manchas escorridas de esmalte verde de
tonalidade turquesa. Pasta beige rosada, homogénea e bem depurada.
Apresenta estrias.”
(Museu Nacional de Arqueologia, nº de inventário 12784 D, [em linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=109365 [acedido em Fevereiro de 2012])
Particularidades: informações de carácter muito específico que muitas vezes
não estão directamente relacionadas com o objecto.
Exemplo: “Urna de forma globular e fundo côncavo. Existe mais um
fragmento.”
(Museu de Évora, nº de inventário ME 10852, [em linha] Disponível em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=27977 [acedido em Fevereiro de 2012])
Tipologia (grupo tipológico): referência a um grupo atribuído pela instituição,
ou outro tipo de fonte, que reúne os critérios de descrição e atribui-lhes uma
designação geralmente em código.
Exemplo: “Prato em Cerâmica Focense, Tipo Hayes 3 - Fabrico 1”
(Museu D. Diogo de Sousa, nº de inventário 1991.0683 [em linha] Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=317112 [acedido em Fevereiro de 2012])
Dados
Históricos/Antropológicos:
informações
de
carácter
histórico/antropológico sobre o objecto ou aspectos com ele relacionados.
Exemplo: “Lucerna de canal, também denominada paleocristã, tipo Hayes II A,
Dressel 31, Deneauve XII. Pico incompleto unido ao disco por um canal largo.
Orla horizontal rebaixada, separada do disco por moldura que envolve o canal
decorada com ramos de videira em espiral de onde pendem alternadamente
folhas e cachos de uvas. O disco apresenta duas figuras levando aos ombros
uma vara com um enorme cacho de uvas, desproporcionado em relação ás
figuras. Asa maciça, sobre a orla, que é larga e plana, decoração releva (tema
simbólico do velho testamento que representa dois hebreus com o cacho de
uvas da terra de Canaan). Pode-se relacionar com a comunidade hebraica que
se instalou em Troia no Baixo Império.”
(Museu de Évora, nº de inventário ME 3389, [em linha] Disponível em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=17638 [acedido em Fevereiro de 2012])
Identificação do Inventariante: informação relativa ao autor da ficha de
inventário.
Exemplo: “Pequeno fragmento do bordo e do colo, alto e arqueado, com um
fino cordão. Descrição de José Cristóvão (2004)”
(Museu Francisco Tavares Proença Júnior, nº de inventário 10.475 MFTPJ,
[em
linha]
Disponível
em:
http://www.matriznet.ipmuseus.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.
aspx?IdReg=220285 [acedido em Fevereiro de 2012])
ANEXO IX
CONTEÚDO
Análise do campo Descrição
Análise de Total de Registos Considerados
Tabela 1 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 2 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 3 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Abade Baçal
Tabela 4 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 5 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 6 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu D. Diogo de Sousa
Tabela 7 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 8 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 9 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu de Évora
Tabela 10 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 11 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 12 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior
Tabela 13 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 14 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 15 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Monográfico de Conímbriga
Tabela 16 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 17 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 18 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Nacional de Arqueologia
Tabela 19 – Frequência de número de descritor utilizados
Tabela 20 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 21 – Frequência de Descritor por Posicionamento
ANÁLISE DO CAMPO DESCRIÇÃO
Para esta análise foi seleccionada, do universo dos registos/entidades publicados
no Matriz.net com colecções de cerâmica arqueológica, uma amostra de 109 registos. Esta
amostra não tem por objectivo ser representativa em termos de tipologia de objecto mas
sim em termos de tipo e estrutura de descrição. Deste modo, depois de identificadas as
instituições com colecções de cerâmica arqueológica a seu cargo e publicadas no
Matriz.net (Museu Abade Baçal, Museu D. Diogo de Sousa, Museu de Évora, Museu
Francisco Tavares Proença Júnior, Museu Monográfico de Conímbriga, e Museu Nacional
de Arqueologia), foram seleccionados cerca de 20 registos de cada uma sob critérios de
diversidade em termos de organização, estrutura e vocabulário utilizados no campo de
descrição. Exceptua-se o Museu Abade Baçal, de onde apenas foram seleccionados 9
registos visto que o universo da colecção publicado é ele próprio muito diminuto.
O objectivo desta análise foi perceber quais os itens/descritores incluídos no
conteúdo do campo de Descrição 1 de uma ficha de inventário de objectos de cerâmica
arqueológica, e respectiva estrutura/organização.
Passaremos a designar estes itens de informação por descritores. Esta designação não pretende
aqui adoptar o significado relacionado com os suportes informáticos de bases de dados
anteriormente abordados, mas sim denominar os conjuntos de informações inseridos no campo
descrição: Denominação, Matéria, Técnicas de Conformação, Acabamentos, Descrição de Pasta, Grupo
de Fabrico, Porção Conservada, Estado de Conservação, Morfologia, Decoração/Iconografia,
Inscrições/Grafitos, Particularidades, Categoria Funcional, Tipologia (grupo tipológico), Dados
Históricos/Antropológicos, Identificação do Inventariante.
1
ANÁLISE DE TOTAL DE REGISTOS CONSIDERADOS
TABELA 1 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Ocorrências
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
5
13
33
26
10
5
5
12
5%
12%
30%
24%
9%
5%
5%
11%
Número de registos analisados: 109
Dos museus analisados, num total de 109 registos, como podemos verificar na Tabela
1 apenas 5% indica apenas uma informação no campo Descrição. 30% dos registos
incluem três tipos de informação e 24% indicam quatro tipos. O número máximo de
descritores diferentes incluídos neste campo é de 8 e foram utilizados em 11% dos
registos analisados.
TABELA 2 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
105
31
19
31
42
1
39
10
90
43
6
5
1
10
8
4
96%
28%
17%
28%
39%
1%
36%
9%
83%
39%
6%
5%
1%
9%
7%
4%
Número de registos analisados: 109
O descritor mais utilizado é a Denominação (96%), em seguida referem-se
maioritariamente descritores morfológicos (83%). Os descritores de Descrição de Pasta e
de Decoração/Iconografia são mencionados, cada um, em 39% dos registos, seguindo-se
os descritores referentes a Porção Conservada (36%), Matéria (28%), Acabamentos (28%),
e Técnicas de Conformação (17%). Os restantes descritores são mencionados em menos de
10% dos registos.
TABELA 3 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
31%
12%
6%
14%
47%
67%
5%
7%
3%
29%
3%
2%
50%
3%
6%
13%
9%
3%
73%
5%
47%
6%
3%
5%
5%
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
105
3
1
96%
30
1
3 16
4 9 18
5 9 7 2
1
15 5 3 16
5 4 1
33 34 2 2
5 8 17 4
2 3
1 2 1 1
1
7 1 1
1
2
2 1
29%
3%
4%
5%
3 8 8
14%
16
1 8
3%
32%
5%
2%
18%
10%
10%
1%
5%
5%
37%
9%
1%
1%
1%
7%
1
1
1
4
2%
1%
1%
2%
3%
6%
33%
Número de registos analisados: 109
O maior grau de uniformização, no que concerne o posicionamento do descritor na
estrutura de texto da descrição, é conferido à Denominação que aparece sempre
mencionada em primeiro lugar. Os descritores morfológicos aparecem sobretudo em
segundo e terceiro lugar mas podem também ser mencionados em primeiro lugar (3%),
quarto (2%), quinto (2%), e sexto (18%). No caso de Descrição de Pasta, a distribuição no
corpo de texto é bastante uniforme entre o segundo e o oitavo lugar, no entanto no caso de
Decoração/Iconografia é mencionado sobretudo em quarto lugar, ainda que também possa
aparecer em segundo, terceiro, quinto, sexto ou sétimo.
O dado mais relevante a retirar desta análise é que não existe uma uniformização nem
no que diz respeito aos descritores utilizados no campo Descrição, nem no que concerne
ao seu posicionamento na estrutura do texto.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU ABADE BAÇAL
TABELA 4 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Ocorrências
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
0
1
2
4
2
0
0
0
0%
11%
22%
45%
22%
0%
0%
0%
Número de registos analisados: 9
No Museu Abade Baçal, num total de 9 registos analisados, 45% apresentam
quatro descritores no campo Descrição, 22% menciona três, e igual percentagem
menciona cinco descritores. 11% dos registos analisados apontam apenas dois descritores
neste campo de inventário.
TABELA 5 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
9
5
0
1
0
0
1
4
7
5
0
2
0
0
0
0
100%
56%
11%
11%
44%
78%
56%
22%
Número de registos analisados: 9
Nesta instituição a totalidade dos registos analisados menciona informações
relativas à Denominação. O segundo descritor mais utilizado é a Morfologia (78%)
seguindo-se a Matéria e a Decoração/Iconografia ambos com 56% de utilização. O Estado
de Conservação é utilizado em 44% dos registos, e Particularidades em 22%. Por último
utilizam-se os descritores Acabamentos e Porção Conservada em 11% dos registos, nos
dois casos.
TABELA 6 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
5º
17%
33%
50%
6º
7º
8º
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
9
100%
5
56%
1
13%
1
1 2 1
2 5
2 1 2
1 1
22%
22%
13%
63%
13%
33%
17%
50%
Número de registos analisados: 9
A totalidade dos registos analisados menciona em primeiro lugar, no campo
Descrição do registo de inventário, informações relativas à Denominação. Depois são
mencionadas informações relativas à Matéria (56%), à Decoração/Iconografia (22%) ou
então à Morfologia (22%). Em terceiro lugar registam-se informações relativas à
Morfologia (63%), Estado de Conservação (13%), Acabamentos (13%), ou ainda
Decoração/Iconografia (13%). Em quarto lugar são mencionadas informações relativas ao
Estado de Conservação (33%), à Decoração/Iconografia (33%), à Porção Conservada
(17%), ou a Particularidades (17%). No final são registadas informações relativas ao
Estado de Conservação (50%) ou Particularidades (50%).
No geral as Descrições são demasiado sintéticas, omitindo-se informação vital para
a capaz compreensão do objecto inventariado, o vocabulário utilizado é frequentemente
pouco preciso, e não existe qualquer uniformização na estrutura da descrição, que aparece
muitas vezes até desorganizada.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU D. DIOGO DE SOUSA
TABELA 7 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Total de
Ocorrências
Total de
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
4
7
5
3
0
1
0
0
20%
35%
25%
15%
0%
5%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu D. Diogo de Sousa, num total de 20 registos analisados, 35%
apresentam apenas dois descritores no campo Descrição, 25% menciona três, 20% aponta
um descritor, 15% quatro, e 5% utiliza seis descritores.
TABELA 8 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
Frequência
Absoluta de
Utilização
20
7
2
1
1
1
2
1
8
4
1
2
1
0
0
0
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
100%
35%
10%
5%
5%
5%
10%
5%
40%
20%
5%
10%
5%
Número de registos analisados: 20
Nesta instituição a totalidade dos registos analisados menciona, no campo
Descrição do registo de inventário, informações relativas à Denominação. O segundo
descritor mais utilizado é a Morfologia (40%), seguida da Matéria (35%), e depois a
Decoração/Iconografia (20%). Os descritores Técnicas de Conformação, Porção
Conservada, e Particularidades são todos mencionados em apenas 10% dos registos. Os
restantes descritores incluídos correspondem, cada um, a 5% da frequência de utilização.
TABELA 9 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
100%
6
2
1
38%
13%
25%
1
25%
1
1
2
1
4 3
1
2 1 1
1
1 1
1
100%
25%
13%
6%
6%
11%
22%
11%
33%
11%
100%
25%
25%
11%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados menciona em primeiro lugar, no campo
Descrição do registo de inventário, informações relativas à Denominação.
Depois, são mencionadas informações sobre a Matéria (38%), a Morfologia
(25%), Técnicas de Conformação e Decoração Iconografia (13% cada um), e
Particularidades e Categoria Funcional (6% cada um).
Em terceiro lugar registam-se informações relativas à Morfologia (33%), Porção
Conservada (22%), Grupo de Fabrico, Estado de Conservação, Decoração/Iconografia, ou
Particularidades (todos representando 11%).
Em quarto lugar são mencionadas informações relativas à Matéria, Acabamentos,
Decoração/Iconografia, ou Inscrições/Grafitos (todos representando 25% dos registos com
pelo menos quatro descritores).
Depois, são mencionadas informações sobre a Morfologia, e por último, as
relativas à Descrição de Pasta.
No geral as Descrições são demasiado sintéticas, omitindo-se informação vital
para a capaz compreensão do objecto inventariado, e o vocabulário utilizado é
frequentemente pouco preciso.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU DE ÉVORA
TABELA 10 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Total de
Ocorrências
Total de
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
0
0
8
8
2
1
1
0
0%
0%
40%
40%
10%
5%
5%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu de Évora, num total de 20 registos analisados, 40% apresentam três
descritores no campo Descrição, e igual percentagem apresenta quatro. 10% dos registos
menciona cinco descritores, 5% menciona seis, e outros 5% mencionam sete.
TABELA 11 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
3
0
4
8
0
5
3
19
10
0
0
0
6
1
0
100%
15%
20%
40%
25%
15%
95%
50%
30%
5%
Número de registos analisados: 20
Nesta instituição a totalidade dos registos analisados menciona no campo
Descrição do registo de inventário, informações relativas à Denominação. O segundo
descritor mais utilizado é a Morfologia (95%) seguido da Decoração/Iconografia (50%).
Descrição de Pasta e Tipologia são utilizados, respectivamente, em 40% e 30% dos
registos. Os descritores menos utilizados são Porção Conservada (25%), Acabamentos
(20%), Matéria e Estados de Conservação (ambos com 15%), e finalmente Dados
Históricos/Antropológicos (5%).
TABELA 12 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
15%
8%
17%
5º
6º
25%
75%
50%
7º
8º
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
100%
3
15%
3
1
3 3 2
15%
15%
3
15%
3
4 14
4
2
1
6 3 1
1
20%
50%
1
1
17%
15%
70%
20%
8%
100%
50%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados menciona em primeiro lugar, no campo
Descrição do registo de inventário, informações relativas à Denominação.
Depois são mencionadas a Morfologia e Tipologia (ambas com 20%), Matéria,
Acabamentos, Descrição de Pasta, e Porção Conservada (todas em 15% dos registos com
pelo menos dois descritores).
Em terceiro lugar registam-se a Morfologia (70%), Descrição de Pasta, ou Estado de
Conservação (ambas em 15% dos registos).
Em quarto lugar são mencionadas a Decoração/Iconografia (50%), Descrição de
Pasta e Porção Conservada (ambos com 17% dos registos), Acabamentos e Tipologia
(ambos com 8%).
Depois, são mencionadas informações relativas a Decoração/Iconografia (75%) ou
Morfologia (25%).
Em sexto lugar mencionam-se informações relativas a Decoração/Iconografia ou
Dados Históricos/Antropológicos (ambas com 50%). Por último mencionam-se dados
relativos à Tipologia.
No conjunto analisado existem descrições claras, concisas e bem estruturadas,
mas encontram-se também descrições cujo vocabulário é impreciso, e onde a informação é
demasiado sintética, e desestruturada.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR
TABELA 13 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Total de
Ocorrências
Total de
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
1
0
7
8
2
2
0
0
5%
0%
35%
40%
10%
10%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu Francisco Tavares Proença Júnior, num total de 20 registos analisados,
40% apresentam quatro descritores no campo Descrição, 35% inclui três descritores, 10%
cinco e igual percentagem seis. 5% dos registos menciona apenas um descritor.
TABELA 14 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
16
0
0
1
16
0
11
0
20
5
3
0
0
1
0
3
80%
5%
80%
55%
100%
25%
15%
5%
15%
Número de registos analisados: 20
Nesta instituição o descritor mais utilizado no campo de descrição é a Morfologia
(em todos os registos), seguida da Denominação e Descrição de Pasta (cada uma em 80%),
depois a Porção Conservada (55%), a Decoração/Iconografia (25%), e Inscrições/Grafitos e
Identificação do Inventariante (ambas em 15%). Finalmente, são utilizados Acabamentos e
Tipologia (ambos em 5%).
TABELA 15 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
5º
6º
1
2 6 5 1 2
11%
5%
32%
42%
25%
100%
8 3
42%
16%
42%
5%
37%
5%
17%
17%
8%
25%
25%
17%
25%
7º 8º
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
16
3
1
80%
8 7 2
1 1 2 1
1 1
1
15%
5%
5%
2 1
Número de registos analisados: 20
Neste museu, em primeiro lugar menciona-se a Denominação (80% dos registos), a
Morfologia (15%), ou Inscrições/Grafitos (5%).
Depois registam-se informações relativas a Porção Conservada e Morfologia
(ambas com 42%), Descrição de Pasta (11%), ou Decoração/Iconografia (5%).
Em terceiro lugar incluem-se informações sobre a Morfologia (37%), Descrição de
Pasta (32%), Porção Conservada (16%), Acabamentos, Decoração/Iconografia, Tipologia
(todos representando 5%).
Depois registam-se informações relativas à Descrição de Pasta (42%), Morfologia,
Decoração/Iconografia, e Identificação do Inventariante (todas com 17%), ou
Inscrições/Grafitos (8%).
Em quinto lugar registam-se a Descrição da Pasta, Decoração/Iconografia,
Inscrições/Grafitos ou Identificação do Inventariante (todos em 25% dos registos com pelo
menos cinco descritores). Por último, é tratada a Descrição da Pasta.
No conjunto analisado, num número significativo de registos (11), a Denominação
não identifica o objecto mas sim a parte do objecto conservado, tornando a informação
pouco clara. A restante informação é também muito sintética e o vocabulário impreciso.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU MONOGRÁFICO DE CONÍMBRIGA
TABELA 16 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Ocorrências
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
0
5
11
3
1
0
0
0
0%
25%
55%
15%
5%
0%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu Monográfico de Conímbriga, num total de 20 registos analisados, 55%
apresentam três descritores no campo Descrição, 25% inclui apenas dois, 15% quatro, e
5% cinco.
TABELA 17 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
0
1
6
0
0
3
2
18
7
0
1
0
0
2
0
100%
5%
30%
15%
10%
90%
35%
5%
10%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados menciona a Denominação. O segundo
descritor mais utilizado é a Morfologia (90%), seguido da Decoração/Iconografia (35%),
Acabamentos (30%), Porção Conservada (15%), e Estado de Conservação (10%). Os
descritores menos utilizados são Técnicas de Conformação e Particularidades (ambos com
5%).
TABELA 18 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
5%
5%
33%
4º
5º
6º 7º 8º
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
100%
1
1 5
3
15%
2
50%
15 3
5 2
75%
1
1
20%
33%
50%
7%
1
7%
100%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados inicia a descrição mencionando a
Denominação.
Em segundo lugar regista-se informações relativas a Morfologia (75%), Porção
Conservada (15%), Técnicas de Conformação ou Acabamentos (ambos com 5%).
Depois mencionam-se Acabamentos e Decoração/Iconografia (ambos com 33%),
Morfologia (20%), Particularidades ou Dados Históricos/Antropológicos (ambos com 7%).
Em quarto lugar regista-se o Estado de Conservação ou a Decoração/Iconografia
(ambos com 50%). Por último referem-se os Dados Históricos/Antropológicos.
No geral as descrições são demasiado sintéticas, omitindo-se informação vital
como por exemplo a porção de objecto conservada. O vocabulário é impreciso, e não existe
qualquer tipo de organização na estrutura da descrição.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA
TABELA 19 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADOS
Número de
Descritores
Ocorrências
Ocorrências
(%)
1
2
3
4
5
6
7
8
0
0
0
0
3
1
4
12
0%
0%
0%
0%
15%
5%
20%
60%
Número de registos analisados: 20
No Museu Nacional de Arqueologia, num total de 20 registos analisados, 60%
apresentam oito descritores no campo Descrição, 20% inclui sete, 15% cinco, e 5% seis.
TABELA 20 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
Descritor
Frequência
Absoluta de
Utilização
Frequência
Relativa de
Utilização (%)
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
16
16
18
17
0
17
0
18
12
2
0
0
3
5
1
100%
80%
80%
90%
85%
85%
90%
60%
10%
15%
25%
5%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados inclui a Denominação no campo de Descrição.
Em seguida, os descritores mais utilizados são Acabamentos e Morfologia (ambos em
90%), Descrição de Pasta e Porção Conservada (ambas em 85%), Matéria e Técnicas de
Conformação
(ambas
em
80%),
Decoração/Iconografia
(60%),
Dados
Históricos/Antropológicos (25%), Tipologia (15%), e Inscrições/Grafitos (10%). O descritor
menos utilizado é a Identificação do Inventariante (5%).
TABELA 21 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Número/Posicionamento
de Descritor
1º
2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
1º
2º
3º
4º
80%
10%
80%
5º
6º
7º
8º
50%
67%
Descritor
Denominação
Matéria
Técnicas de Conformação
Acabamentos
Descrição da pasta
Grupo de Fabrico
Porção Conservada
Estado de Conservação
Morfologia
Decoração/Iconografia
Inscrições/Grafitos
Particularidades
Categoria Funcional
Tipologia (grupo tipológico)
Dados Históricos/Antropológicos
Identificação do Inventariante
20
100%
16
80%
16
2 16
1
1
8 8
16
2
5%
5%
16
4
80%
10%
8
94%
20%
2
50%
10%
3
15%
1
4
1
5%
33%
6%
Número de registos analisados: 20
A totalidade dos registos analisados inicia a descrição mencionando a
Denominação.
Em segundo lugar regista-se informações relativas a Matéria (80%), Tipologia
(15%) ou Porção Conservada (5%). Depois mencionam-se Técnicas de Conformação (80%),
Acabamentos ou Morfologia (ambos com 10%). Em quarto lugar referem-se Acabamentos
(80%) ou Decoração/Iconografia (20%). Depois, a Porção Conservada (80%),
Inscrições/Grafitos (10%), Descrição de Pasta ou Dados Históricos/Antropológicos (ambos
com 5%). Em sexto lugar menciona-se a Morfologia (94%) ou a Identificação do
Inventariante (6%). Segue-se informação relativa a Descrição de Pasta ou
Decoração/Iconografia (ambos com 50%), e por último registam-se dados relativos à
Descrição de Pasta (67%) ou Dados Históricos/Antropológicos (33%).
O Museu Nacional de Arqueologia, do universo das instituições analisadas, é a
que apresenta descrições mais completas e com maior diversidade de informação, mas
também com maior uniformização na sua organização. Podemos dizer, sinteticamente, que
a estrutura de informação utilizada é na maioria dos casos: Denominação, Matéria, Técnica,
Acabamento, Porção Conservada, Morfologia de cada constituinte, Decoração/Iconografia,
Descrição de Pasta, e eventualmente Dados Históricos/Antropológicos.
Na Descrição de Pasta utilizam-se como descritores: cor externa, cor interna, cor
de cerne, estrutura, textura, e elementos/inclusões.
Exemplo:
Nº de Inventário: 17037
Denominação: Fragmento de prato de cerâmica
“Prato de barro cozido coberto em ambas as faces de esmalte branco leitoso. O
fragmento conservado apresenta base côncava de onde se desenvolve uma parede grossa
com bordo semicircular de secção triangular. Apresenta carena na face exterior junto ao
fundo. Este forma um ônfalo saliente, e é decorado com um filete em relevo circundando o
fundo umbilical. Pasta rosada, bem depurada. Contém poucos elementos não plásticos de
grão médio e algumas bolhas de ar. A produção de artefactos cerâmicos esmaltados de cor
branca em ambas as faces deriva da tradição islâmica e constitui a continuação, com
algumas modificações, das suas formas e técnicas. Situa-se no período que medeia entre o
séc. XV e XVI. As formas mais frequentemente encontradas são escudelas (taças pequenas) e
pratos com um ônfalo no fundo. Caracterizam-se por uma grande robustez o que reflete a
sua espessura. O que os diferencia dos seus protótipos islâmicos são as dimensões mais
pequenas o que se prende com modos de comer diferentes, nomeadamente com a
individualização. No acervo do MNA existe um outro exemplar análogo, também de
proveniência desconhecida, nomeadamente o nº Inv. 17038 e ainda nº Inv.998.39.24. Em
Portugal, pratos com características semelhantes foram recolhidos em Mértola e em Silves.”
ANEXO X
CONTEÚDO
Exemplos de Descrições
EXEMPLOS DE DESCRIÇÕES
EMS.2009.00045.00000 – Tigela (fragmento) de cerâmica de matriz
calcária com decoração impressa digitada, utilizada para consumo de
alimentos à mesa em época romana (cerca da segunda metade do século
III, inícios do século IV). Foi recolhida em 1988, no âmbito de escavações
arqueológicas realizadas na Olaria Romana da Quinta do Rouxinol. O
fragmento conservado apresenta parte do bordo voltado para o exterior
formando pequena aba, e parte da parede recta tendencialmente
oblíqua. Abaixo do bordo desenvolve-se uma única banda horizontal com
decoração impressa digitada. A pasta beije esbranquiçada nas faces e no
cerne, de textura fina, foi provavelmente conformada a torno rápido e
cozida sob condições heterogéneas, apresentando inclusões de quartzo,
moscovite, e “rocha”. Corresponde ao tipo 1.3.4.2 de Cézer Santos, e ao
grupo de fabrico D3a do mesmo autor.
EMS.2008.00800.00000 – Tigela (fragmento) de cerâmica comum
decorada na face interna do fundo, utilizada para consumo de alimentos
à mesa em época romana (entre a segunda metade do século IV e inícios
do século V). Foi recolhida em 1989, no âmbito de escavações
arqueológicas realizadas na Olaria Romana da Quinta do Rouxinol. O
fragmento conservado apresenta fundo plano e pequena parte de parede
de perfil oblíquo. O fundo é decorado na face interna por uma banda,
circular e periférica, com linhas incisas em ziguezague. No centro
ostenta uma palmeta completa, e parte de outra, a 45º e em posição
perpendicular à primeira, o que permite supor que a decoração
completa incluiria quatro palmetas dispostas em círculo sobre os pontos
cardiais, circundadas por uma banda com decoração em ziguezague. A
pasta, castanho alaranjada nas faces interna e externa, e avermelhada e
castanha no cerne, foi provavelmente conformada a torno rápido e
cozida sob condições heterogéneas, apresentando inclusões de quartzo,
moscovite e nódulos de ferro. Corresponde ao tipo 1.3 de Cézer Santos, e
ao grupo de fabrico C2a do mesmo autor.
EMS.2008.00826.00000 – Jarro (fragmento) de cerâmica comum,
utilizado para servir líquidos à mesa em época romana (entre 220 e 300
d.C.). Foi recolhido em 1989, no âmbito de escavações arqueológicas
realizadas na Olaria Romana da Quinta do Rouxinol. Os fragmentos
conservados reconstituem o objecto, a que faltam apenas parte do bordo
e do colo. O bordo é voltado para o exterior e espessado, o colo alto
apresenta um sulco na zona da intersecção com a pança, abaixo do qual
se encontram vestígios de arranque da base de uma asa vertical. O corpo
forma perfil ovóide e termina numa base de fundo côncavo. A pasta,
castanho alaranjada nas faces interna e externa, e avermelhada e
castanha no cerne, foi provavelmente conformada a torno rápido e
cozida sob condições heterogéneas, apresentando inclusões de quartzo,
moscovite e nódulos de ferro. Corresponde ao tipo 2.4.4.2 de Cézer
Santos, e ao grupo de fabrico C2a do mesmo autor.
ANEXO XI
CONTEÚDO
Análise Descritores de Dimensão
Análise de Total de Registos Considerados
Tabela 1 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 2 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 3 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Abade Baçal
Tabela 4 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 5 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 6 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu D. Diogo de Sousa
Tabela 7 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 8 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 9 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu de Évora
Tabela 10 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 11 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 12 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior
Tabela 13 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 14 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 15 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Monográfico de Conímbriga
Tabela 16 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 17 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 18 – Frequência de Descritor por Posicionamento
Análise de Registos do Museu Nacional de Arqueologia
Tabela 19 – Frequência de número de descritor utilizado
Tabela 20 – Frequência de Utilização por Descritor
Tabela 21 – Frequência de Descritor por Posicionamento
ANÁLISE DESCRITORES DE DIMENSÃO
A análise cujos resultados serão abaixo descritos teve como objectivo perceber
quais os descritores de dimensões utilizados pelos museus com colecções de cerâmica
arqueológica publicadas no Matriz.net, e respectiva organização da informação.
Para esta análise foi considerado o universo de registos já tratado no Anexo IX.
As tabelas seguintes mostram os descritores de dimensão de objectos utilizados
nos registos analisados e respectiva frequência de utilização (absoluta e relativa em
percentagem).
ANÁLISE DE TOTAL DE REGISTOS CONSIDERADOS
TABELA 1 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
17
41
47
3
1
Total de Frequência Relativa
(%)
16%
37%
43%
3%
1%
Número de registos analisados: 109
Os museus analisados usam pelo menos um, e no máximo cinco, descritores de
dimensão de peça nos seus registos de inventário.
Num total de 109 registos de inventário analisados, 43% utilizam três descritores,
37% utiliza dois, 16% utiliza um, apenas 3% utiliza quatro descritores e 1% utiliza cinco.
Nenhuma peça foi inventariada utilizando o conjunto dos seis descritores identificados:
altura, largura, comprimento, profundidade, espessura e diâmetro.
TABELA 2 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
Frequência Relativa de
Utilização (%)
84
38
31
3
33
49
1
7
10
1
77%
35%
28%
3%
30%
68
73%
1%
10%
15%
1%
62%
Número de registos analisados: 109
O descritor mais utilizado, é a altura (77% dos registos), seguido do diâmetro
(62%). O menos utilizado é a profundidade (3%). A largura (35%), o comprimento (28%)
e a espessura (30%) têm uma expressão pouco significativa, quando comparados
individualmente, mas a realidade é que quando somados totalizam 93% das ocorrências, o
que quer dizer que é frequente utilizar-se pelo menos um destes três descritores. Quanto
ao diâmetro, no total de 68 registos que referem este descritor, 73% não menciona a que
parte do objecto se refere, 15% explicitam tratar-se do diâmetro da base do objecto, 10%
do diâmetro do bordo/boca, e apenas 1% do diâmetro máximo ou do diâmetro de
bico/vertedor.
TABELA 3 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
84
8 30
1 2 28
2 1
3 18 11 1
13 29 5 2
1
5 2
5 3 1 1
1
100%
21% 79%
3% 6% 91%
67% 33%
9% 55% 33% 3%
27% 59% 10% 4%
100%
71% 29%
50% 30% 10% 10%
100%
Número de registos analisados: 109
Nos registos considerados os descritores que apresentam maior uniformidade, no
que concerne o seu posicionamento face aos restantes descritores, são: a altura
(mencionada sempre em primeiro lugar), o diâmetro máximo (sempre em segundo lugar),
e o diâmetro de bico/vertedor (sempre em terceiro lugar). Como podemos verificar na
Tabela 3, não existe uniformidade de posicionamento em relação aos restantes descritores
de dimensão.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU ABADE BAÇAL
TABELA 4 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
0
8
1
0
0
Total de Frequência Relativa
(%)
0%
89%
11%
0%
0%
Número de registos analisados: 9
No Museu Abade Baçal, num total de 9 registos analisados, 89% apresentam dois
descritores de medição e os restantes 11% referem três.
TABELA 5 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
7
0
0
0
3
9
0
0
0
0
9
Frequência Relativa de
Utilização (%)
89%
0%
0%
0%
33%
100%
0%
0%
0%
0%
100%
Número de registos analisados: 9
Os descritores utilizados são a altura, a espessura e o diâmetro.
O descritor “diâmetro” é referido em todos os registos, apesar de não se especificar
a que parte da peça se refere. A altura é mencionada em 89% dos registos e a espessura
em 33%.
TABELA 6 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
100%
67% 33%
89% 11%
Diâmetro
Altura
7
Largura
Comprimento
Profundidade
2 1
Espessura
Não especifíca
8 1
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Número de registos analisados: 9
Nos registos considerados a altura é sempre mencionada em primeiro lugar. No
que concerne os restantes descritores (espessura e diâmetro), não existe uniformidade
quanto ao seu posicionamento.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU D. DIOGO DE SOUSA
TABELA 7 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
0
16
4
0
0
Total de Frequência Relativa
(%)
0%
80%
20%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu D. Diogo de Sousa, do total de 20 registos analisados, 80% apresenta
dois descritores de medição e 20% três.
TABELA 8 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
20
7
3
0
1
13
0
0
0
0
13
Frequência Relativa de
Utilização (%)
100%
35%
15%
0%
5%
100%
0%
0%
0%
0%
65%
Número de registos analisados: 20
Os descritores utilizados são a altura, a largura, o comprimento, a espessura e o
diâmetro.
O descritor altura é referido em todos os registos, seguido do diâmetro,
mencionado em 65% das ocorrências, apesar de não se especificar a que parte do objecto
se refere. A largura, o comprimento, e a espessura são mencionados, respectivamente, em
35%, 15%, e 5% dos registos.
TABELA 9 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
100%
100%
100%
100%
100%
Diâmetro
Altura
20
Largura
7
Comprimento
3
Profundidade
1
Espessura
Não especifíca
13
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Número de registos analisados: 20
O Museu D. Diogo de Sousa apresenta um grau elevado de uniformidade no que
concerne o posicionamento dos descritores de dimensão: a altura é sempre mencionada
em primeiro lugar, a largura em segundo, o comprimento em terceiro, a espessura em
terceiro também, e o diâmetro em segundo.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU DE ÉVORA
TABELA 10 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
0
4
13
3
0
Total de Frequência Relativa
(%)
0%
20%
65%
15%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu de Évora, do total de 20 registos analisados, 65% utilizam três
descritores, 20% apenas dois, e 15% quatro.
TABELA 11 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
Frequência Relativa de
Utilização (%)
19
13
13
2
3
2
0
4
3
0
95%
65%
65%
10%
15%
9
22%
0%
45%
33%
0%
45%
Número de registos analisados: 20
À semelhança dos museus acima mencionados, o descritor mais utilizado é a altura
(95% dos registos), seguindo-se a largura e o comprimento, com 65% de registos cada um.
O diâmetro é referido em 45% dos registos. Num total de nove registos que utilizam o
diâmetro como descritor de dimensão, 45% refere-se ao bordo/boca, 3% ao diâmetro da
base, e 22% não especifica a que parte do objecto se refere. No Museu de Évora utilizam-se
também a profundidade (10%) e a espessura (15%), ainda que com menos
expressividade.
TABELA 12 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
Diâmetro
Altura
19
Largura
1 12
Comprimento
1 12
2
Profundidade
1 2
Espessura
Não especifíca
2
Máximo
Bordo
3 1
Base
1 1 1
Bico/Vertedor
100%
8% 92%
8% 92%
100%
33% 67%
100%
75% 25%
33% 33% 33%
Número de registos analisados: 20
Nos registos considerados os descritores que apresentam maior uniformidade, no
que concerne o seu posicionamento face aos restantes descritores, são: a altura
(mencionada sempre em primeiro lugar), a profundidade (sempre em segundo lugar), e o
diâmetro (sempre em terceiro lugar). Como podemos verificar na Tabela 12, não existe
uniformidade de posicionamento em relação aos restantes descritores de dimensão.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR
TABELA 13 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
1
3
16
0
0
Total de Frequência Relativa
(%)
5%
15%
80%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu Francisco Tavares Proença Júnior, do total de 20 registos analisados,
80% refere três descritores de dimensão, 15% dois, e 5% apenas um.
TABELA 14 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
13
13
6
0
17
6
0
0
0
0
6
Frequência Relativa de
Utilização (%)
65%
65%
30%
0%
85%
100%
0%
0%
0%
0%
30%
Número de registos analisados: 20
O descritor mais referido é a espessura (85%), seguindo-se a altura e a largura, que
aparecem, cada uma, em 65% dos registos. Também mencionados, mas com menor
expressão, estão o comprimento e o diâmetro (30% cada um).
TABELA 15 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
100%
54% 46%
100%
65% 35%
33% 67%
Diâmetro
Altura
13
Largura
7 6
Comprimento
6
Profundidade
11 6
Espessura
Não especifíca
2 4
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Número de registos analisados: 20
Nos registos considerados os descritores que apresentam maior uniformidade, no
que concerne o seu posicionamento face aos restantes descritores, são: a altura
(mencionada sempre em primeiro lugar), e o comprimento (sempre em terceiro lugar).
Como podemos verificar na Tabela 15, não existe uniformidade de posicionamento em
relação aos restantes descritores de dimensão.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU MONOGRÁFICO DE CONÍMBRIGA
TABELA 16 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
14
4
2
0
0
Total de Frequência Relativa
(%)
70%
20%
10%
0%
0%
Número de registos analisados: 20
No Museu Monográfico de Conímbriga, num total de 20 registos, 70% refere
apenas um descritor de dimensão, 20% refere dois, e 10% refere três.
TABELA 17 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
7
0
2
0
0
19
0
0
0
0
19
Frequência Relativa de
Utilização (%)
35%
0%
10%
0%
0%
100%
0%
0%
0%
0%
95%
Número de registos analisados: 20
O descritor mais comum é o diâmetro (95%), apesar de não se especificar a que
parte do objecto se refere. São ainda mencionados a altura (35%) e o comprimento (10%).
TABELA 18 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
100%
100%
68% 32%
Diâmetro
Altura
7
Largura
Comprimento
2
Profundidade
Espessura
Não especifíca 13 6
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Número de registos analisados: 20
O Museu Monográfico de Conímbriga apresenta um grau elevado de uniformidade
no que concerne o posicionamento dos descritores de dimensão: a altura e o diâmetro são
sempre mencionados em primeiro lugar, e o comprimento em segundo.
ANÁLISE DE REGISTOS DO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA
TABELA 19 – FREQUÊNCIA DE NÚMERO DE DESCRITOR UTILIZADO
Número de
Descritores
1
2
3
4
5
Total de Frequência
Absoluta
1
7
11
0
1
Total de Frequência Relativa
(%)
5%
35%
55%
0%
5%
Número de registos analisados: 20
No Museu Nacional de Arqueologia são utilizados até cinco descritores de
dimensão. Num total de 20 registos analisados, a maioria (55%) menciona três
descritores, 35% menciona dois, 5% menciona um, e igual percentagem menciona cinco.
Curiosamente nenhum registo menciona quatro descritores.
TABELA 20 – FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO POR DESCRITOR
DESCRITOR
Diâmetro
Altura
Largura
Comprimento
Profundidade
Espessura
Não especifíca
Máximo
Bordo
Base
Bico/Vertedor
Frequência Absoluta de
Utilização
Frequência Relativa de
Utilização (%)
18
5
7
1
9
1
1
3
7
1
90%
25%
35%
5%
45%
13
8%
8%
23%
53%
8%
65%
Número de registos analisados: 20
O descritor mais referido é a altura (90%), seguida do diâmetro (65%). A espessura
é mencionada em 45% dos registos, seguindo-se o comprimento (35%) e a largura (25%).
A profundidade é mencionada em apenas 5% dos registos. No que concerne ao diâmetro,
53% de um total de 13 registos referem-se a diâmetro de base e 23% a diâmetro de
bordo/boca. Com 8% de ocorrências são também mencionados o diâmetro máximo e o
diâmetro de bico/vertedor. Igualmente 8% das ocorrências não especifica a que parte do
objecto se refere o diâmetro.
TABELA 21 – FREQUÊNCIA DE DESCRITOR POR POSICIONAMENTO
Posicionamento
de Descritor
1º 2º 3º 4º 5º
1º
2º
3º
4º
5º
Descritor
Diâmetro
Altura
18
Largura
5
Comprimento
1 1 5
1
Profundidade
1 5 2 1
Espessura
Não especifíca
1
Máximo
1
Bordo
2 1
Base
4 2
1
Bico/Vertedor
1
100%
100%
14% 14% 72%
100%
11% 56% 22% 11%
100%
100%
67% 33%
57% 29%
14%
100%
Número de registos analisados: 20
Nos registos considerados os descritores que apresentam maior uniformidade, no
que concerne o seu posicionamento face aos restantes descritores, são: a altura
(mencionada sempre em primeiro lugar), a largura (sempre em segundo), a profundidade
(sempre em terceiro), e os diâmetros não especificados e máximo (sempre em segundo) e
de bico/vertedor (sempre em terceiro lugar). Como podemos verificar na Tabela 21, não
existe uniformidade de posicionamento em relação aos restantes descritores de dimensão.
O museu que utiliza maior variedade de descritores, e aparentemente com maior
uniformidade, é o Museu Nacional de Arqueologia.
ANEXO XII
CONTEÚDO
Imagem 1: Ficha de Inventário de Objectos, Base de Dados de Inventário Quinta do
Rouxinol, FileMakerPro
Imagem 2: Ficha de Inventário de Desenho, Base de Dados de Desenho Quinta do
Rouxinol, FileMakerPro
Imagem 3: Ficha de Descrição Técnica de Grupos de Fabrico, Base de Dados de
Descrição Técnica de Grupos de Fabrico, FileMakerPro
Imagem 4: Ficha de Descrição Grupo Técnico, Base de Dados de Descrição Grupo
Técnico, FileMakerPro.
A
B
C
IMAGEM 1: FICHA DE INVENTÁRIO DE OBJECTOS, BASE DE DADOS DE INVENTÁRIO
QUINTA DO ROUXINOL, FILEMAKERPRO.
A – Botão de ligação à base de dados de Desenho
B – Botão de ligação à base de dados de Descrição Técnica de Grupos de
Fabrico
C – Botão de ligação à base de dados de Descrição Grupo Técnico
A
B
C
IMAGEM 2: FICHA DE INVENTÁRIO DE DESENHO, BASE DE DADOS DE DESENHO QUINTA
DO ROUXINOL, FILEMAKERPRO.
A – Botão de ligação à base de dados de objecto: “Inventário Quinta do
Rouxinol”
B – Botão de ligação à base de dados de Descrição Técnica de Grupos de
Fabrico
C – Botão de ligação à base de dados de Descrição Grupo Técnico
A
IMAGEM 3: FICHA DE DESCRIÇÃO TÉCNICA DE GRUPOS DE FABRICO, BASE DE DADOS DE
DESCRIÇÃO TÉCNICA DE GRUPOS DE FABRICO, FILEMAKERPRO.
A – Botão de ligação à base de dados de objecto: “Inventário Quinta do
Rouxinol”
A
IMAGEM 4: FICHA DE DESCRIÇÃO GRUPO TÉCNICO, BASE DE DADOS DE DESCRIÇÃO
GRUPO TÉCNICO, FILEMAKERPRO.
A – Botão de ligação à base de dados de objecto: “Inventário Quinta do
Rouxinol”