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  • Possui bacharelado em História pela Universidade de São Paulo (1997), mestrado em História Social do Trabalho pela Un... moreedit
Nesse artigo abordamos aspectos do pensamento e da sensibilidade histórica de Karl Philipp Moritz. Para tanto, tomamos como fio condutor o topos do “solo clássico”, enfatizado por Moritz no livro a Viagem de um alemão à Itália de 1786 a... more
Nesse artigo abordamos aspectos do pensamento e da sensibilidade histórica de Karl Philipp Moritz. Para tanto, tomamos como fio condutor o topos do “solo clássico”, enfatizado por Moritz no livro a Viagem de um alemão à Itália de 1786 a 1788: um diário de viagem em cartas (Reisen eines Deutschen in Italien in den Jahren 1786 bis 1788: Reisebericht in Briefen). No contexto das viagens formativas à Itália realizadas na década de 1780 por intelectuais e poetas alemães, o termo “solo clássico” (klassische Boden) denota uma relação que Moritz – assim como Goethe, Herder e outros autores de narrativas de viagens dessa época – estabelece entre a imaginação literária e os locais nos quais os eventos retratados pela literatura antiga tiveram lugar. Segundo Moritz, a experiência de ler um autor antigo (ou recordar essa leitura) no local onde os fatos retratados teriam ocorrido seria capaz de ativar, por meio da “imaginação”, a memória histórica, concedendo ao passado uma presença viva. Ao evocar esta experiência do (no) “solo clássico”, Moritz estabelece uma dialética entre imaginação e lugar, literatura e paisagem, linguagem e “solo”. Ele constata que em Roma o antigo persiste imbricado no moderno, seja na paisagem (que inclui a arquitetura, os monumentos, ruínas, o traçado urbano da cidade e a natureza italiana), ou no “povo” italiano (em seus hábitos linguísticos e “culturais”, cerimônias e instituições políticas e religiosas). Trata-se, para ele, por fim, de pensar em que medida, partindo dessas sobrevivências, a Antiguidade pode ser (re)visitada e depurada de suas imbricações com o moderno.
Resumo: No "Diário de viagem de 1769", a jornada marítima que Johann Gottfried Herder empreende de Riga a Nantes representa a saída em busca de novos horizontes, de novos modos de ver o mundo, em favor de um projeto reformista tipicamente... more
Resumo: No "Diário de viagem de 1769", a jornada marítima que Johann Gottfried Herder empreende de Riga a Nantes representa a saída em busca de novos horizontes, de novos modos de ver o mundo, em favor de um projeto reformista tipicamente esclarecido. Coerente com a ótica cosmopolita do Esclarecimento, a viagem herderiana evoca uma temporalidade aberta e grandes expectativas em relação ao futuro. Contudo, poucos anos depois, no ensaio Mais uma filosofia da história para a formação da humanidade, esse projeto é submetido a uma crítica contundente, de modo que o horizonte de expectativa de 1769 recua em favor de um espaço de experiência tradicionalmente formado: o círculo da cultura. Isso se evidencia na afirmação emblemática, aparentemente paradoxal de Herder em 1774, de que as viagens ao estrangeiro são sinal de "doença, de flatulência, de riqueza malsã, de pressentimento de morte", apontando para uma tensão dialética típica de seu pensamento de juventude.

Abstract: In his "Travel Diary of 1769", J. G. Herder's voyage from Riga to Nantes represents the departure in search of new horizons and new ways of seeing the world, in favor of a typically enlightened reformist project. In consonance with the cosmopolitan optics of the Enlightenment, Herder's journey evokes an open temporality and great expectations for the future. However, a few years later, in his essay Another Philosophy of History for the Formation of Mankind, this project is subjected to a strong criticism, in such a way that the horizon of expectation of 1769 recedes in favor of a traditionally formed space of experience: the circle of culture. That is evidenced by Herder's emblematic and seemingly paradoxical claim that travels abroad are a sign of "sickness, flatulence, bloatedness, premonition of death", pointing to a dialectical tension typical of his early thought.
(English below) " 'As coisas como elas são'. Moralidade política e social em William Godwin (1790-1800)" é um estudo a respeito do filósofo, romancista e ideólogo político William Godwin (1756-1836). A trajetória política de Godwin na... more
(English below) " 'As coisas como elas são'. Moralidade política e social em William Godwin (1790-1800)" é um estudo a respeito do filósofo, romancista e ideólogo político William Godwin (1756-1836). A trajetória política de Godwin na década de 1790 é abordada tendo como referência a crítica às posições tradicionais da historiografia a seu respeito. Enquanto esta se recusa a atribuir a Godwin um caráter propriamente político e representativo no dito "debate político" da década de 1790, este estudo procura compreender o conteúdo propriamente político de sua atuação social. Para isso, investiga como Godwin pensa a ordem políticosocial na Inglaterra da década de 1790, tendo como fontes fundamentais seu tratado filosófico Investigação acerca dajustiça política (1793) e seu romance As coisas como elas são, ou as aventuras de Caleb Williams (1794). No romance Caleb Williams, Godwin se dirige à crítica política da moralidade privada. Segundo ele, em decorrência da perpetuação de uma ordem política fundada nos valores morais aristocráticos, as relações entre os indivíduos são marcadas pela violência, pela tirania e pelo sofrimento. Esta crítica revela seu caráter propriamente político por ser dirigida às instituições monárquicas e aristocráticas que, para ele, condicionam os indivíduos a alimentar os valores e sentimentos que conduzem as sociabilidades privadas a assumirem um caráter conflituoso e violento. Com sua crítica à ordem monárquica e aristocrática, Godwin revela os desejos de uma fração das classes médias inglesas interessadas em reformar a moralidade da. nação e de universalizar seus códigos de conduta. Godwin defende as idéias burguesas de virtude e capacidade individual, ao invés da hereditariedade e do sangue nobre cultivados pela aristocracia. Godwin desempenha o papel de ideólogo burguês, que opera a reelaboração e difusão de valores mais aptos à consolidação da ordem capitalista na Inglaterra. / "'Things as they are'. Political and social morality in William Godwin (1790-1800)" is a study on the philosopher, writer and political ideologist William Godwin (1790-1800). Godwin's political role in 1790's is approached according to the criticism to the traditional historiography approaches about him. Whereas the latter refuses to attribute a properly political nature to Godwin, which is representative in the so-called 1790's "polítical debate", this study seeks to understand the proper1ypolitical content ofhis social actuation. To do so, it investigates how Godwin thinks of the political order in England in 1790, having as fundamental sources his philosophical treatise Political justice (1793) and his romance Things as they are or the adventures ofCaleb Williams (1794). In Caleb Williams Godwin addresses private morality's polítical criticism. According to him, due to a perpetuation of a polítical order founded on aristocratic moral values, re1ations among individuaIs are marked by violence, tyranny and suffering. Ris criticism reveals its proper1y polítical nature because it is addressed to British aristocratic and monarchical institutions. To him, they subject individuaIs to the conditioning of supporting values and feelings which makes private sociability to assume a conflicting and violent nature. With his criticism to the monarchical and aristocratic order, Godwin reveals the desires of a fraction of British middle classes interested in refonning nation's morality and universalising its behaviour codes. Godwin advocates bourgeois notions of virtue and individual capacity rather than that ones of heredity and noble blood maintained by aristocracy. Re reveals himself as a bourgeois ideologist that proceeds to a re-e1aboration and spread of values more suitable to the consolidation of the British capitalist order.
Nesse artigo tratamos da relação que Goethe, em seus escritos italianos, estabelece com o passado antigo sobrevivente em sua materialidade – o que ele designa pelo termo “solo clássico”. A experiência de visitar um local mencionado por... more
Nesse artigo tratamos da relação que Goethe, em seus escritos italianos, estabelece com o passado antigo sobrevivente em sua materialidade  – o que ele designa pelo termo “solo clássico”. A experiência de visitar um local mencionado por um autor da Antiguidade seria capaz de ativar, por meio da “imaginação”, a memória histórica, forjando uma relação “viva” com o passado. Por outro lado, ele também julga difícil adquirir uma ideia correta da Antiguidade através dos restos do mundo antigo, sentido em que a imaginação se torna um problema. Como resposta ele propõe uma disciplina do olhar sobre a paisagem.
Um dos aspectos centrais do Iluminismo é a submissão da tradição, da política, da religião e dos costumes ao crivo da razão. Ao findar o século XVIII, cada vez mais a própria razão passa a ser objeto da crítica, culminando nas realizações... more
Um dos aspectos centrais do Iluminismo é a submissão da tradição, da política, da religião e dos costumes ao crivo da razão. Ao findar o século XVIII, cada vez mais a própria razão passa a ser objeto da crítica, culminando nas realizações do idealismo e do romantismo alemão (Cassirer, Justo). Neste contexto se situa a obra do filósofo e crítico literário Johann Gottfried Herder, reconhecido como teórico representativo do primeiro momento do Romantismo alemão, o "Sturm und Drang". Na obra de Herder deste período se evidenciam aspectos típicos da transição de uma "Weltanschauung" iluminista para uma visão romântica do mundo, no sentido em que se manifesta aí um acirramento das incertezas quanto às possibilidades da razão como instrumento de compreensão e reordenação do mundo. Esta posição, exposta ademais de modo irônico e cifrado em sua "Filosofia da história" de 1774 (Justo), levou uma parcela considerável da historiografia a considerar Herder como um autor romântico, filosoficamente irracionalista, atuante “contra o iluminismo” (Berlin, Rosenfeld), politicamente reacionário e conservador (Hauser). Por um outro lado, seguindo os passos de Lukács, mais recentemente tem sido sustentado o caráter iluminista, racional e progressista da crítica herderiana (Justo, Koepke). Herder seria um expoente da "Aufklärung" e, como tal, sua tarefa crítica seria expressão do iluminismo em sua conformação especificamente germânica. A crítica de Herder ao Iluminismo francês teria como alvo tangencial sua presença nas cortes alemãs, sobretudo na Prússia de Frederico II, e manifestaria um repúdio a padrões morais e estéticos especificamente aristocráticos (Elias). Trata-se, portanto, nesta comunicação, partindo da crítica da historiografia a respeito, de reavaliar a posição de Herder em relação ao Iluminismo, colocando em questão o caráter "romântico, reacionário e irracionalista" de sua obra. Esse caminho abre espaço para pensarmos sua relação com projetos de emancipação cultural e política da burguesia alemã em fins do século XVIII.
Tradução juvenil dos "Hinos para a noite" de Novalis, realizada a partir da versão inglesa de 1897 de George MacDonald.
Poemas por Wilhelm Müller  (1794-1827) musicados por 
Franz  Schubert (1797-1828).
(English below) Este estudo trata, sob a ótica da Teoria da História e com o auxílio de métodos da História Social e dos Conceitos, da relação entre a crítica do jovem Herder ao Esclarecimento e seu conceito de nação em formação entre... more
(English below) Este estudo trata, sob a ótica da Teoria da História e com o auxílio de métodos da História Social e dos Conceitos, da relação entre a crítica do jovem Herder ao Esclarecimento e seu conceito de nação em formação entre 1765 e 1774. Partindo das implicações historiográficas do tema, seu objetivo é pôr à luz e compreender os significados políticos da obra de Herder no período estudado. Trata-se, em primeiro lugar, do projeto reformista herderiano em favor das identidades nacionais, pesando suas divergências em relação ao projeto civilizatório e cosmopolita do Esclarecimento. Em seguida, aborda-se a crítica de Herder ao Esclarecimento e à modernidade.  O grande problema apresentado por Herder em 1774, no contexto dessa crítica, é a incompreensão e depreciação do “outro” pelo europeu esclarecido que, em nome da universalidade, justifica e instrumentaliza o projeto colonizador do Estado. Desse modo, Herder vê uma convergência entre o Esclarecimento e os interesses dos grandes Estados monárquicos europeus. À medida que ele gradualmente passa a pensar a história como história do presente, essa crítica se acirra e toma a forma da oposição conflituosa entre o Estado esclarecido e cosmopolita e os “povos” e “nações” sob seu domínio. Trata-se, então, para Herder, de defender estes “povos” e “nações” contra o poder “uniformizador” e “mecanizador” do Estado moderno, crítica que ele dirige especialmente para a Prússia de Frederico II. Conforme Herder, a modernidade realiza uma dissolução dos vínculos humanos, dos afetos e laços identitários, e seu projeto nacional surge como antídoto para essa dissolução que, segundo ele, é o grande mal da época moderna. Partindo daí, ele procura contribuir não só para a construção da identidade nacional alemã, mas dos “povos” e “nações” que são, no seu entender, oprimidos pela vocação colonizadora do Estado monárquico aliado ao ethos esclarecido da modernidade. Por conseguinte, a crítica de Herder ao Esclarecimento e sua formulação de um novo conceito de nação são importantes contribuições à formação da ideologia nacional alemã (e não só) entre os séculos XVIII e XIX. / Starting from the perspective of the Theory of History, Social History and History of Concepts methods, this thesis deals with the relationship between the young Herder critique of Enlightenment and the making of his concept of nation that takes place between 1765 and 1774. Stressing the historiographic implications of this theme, this study aims to bring to light the political meaning of Herder's work in the period. In the first place, it focusses Herder's reformist project in favor of national identities, weighing its distintive character before the civilizing and cosmopolitan project of Enlightenment. Departing from that point, the study approaches Herder's critique of Enlightenment and his critique of modernity. The great problem presented by Herder in 1774 in the context of his critique is the incomprehension and depreciation of the "other" by the enlightened European who, in the name of universality, justifies and instrumentalizes the Modern State colonizing project. In this sense, Herder´s critique denounces a convergence between the Enlightenment and the great European monarchical States. As Herder gradually begins to think of history as a history of the present, this critique gets stronger and takes the form of the conflicting opposition between the enlightened and cosmopolitan State and the “nations” under its control. Therefore, Herder´s main concern is defending the "peoples" and the "nations" against the "unifying" and "mechanizing" power of the modern State, a criticism that he addresses especially to Frederick II and the Prussian State. So the Herderian national project emerges as an antidote to what he considers the great evil of the Modern Age: the dissolution of human bonds, affections and ties of identity. In this respect, he seeks to contribute not only to the construction of the German national identity, but also to the identity of “peoples” and “nations” who are, in his view, oppressed by the colonizing trend of the monarchical State allied to the enlightened ethos of modernity. Thus, Herder's critique of Enlightenment, and his formulation of a new concept of nation are important contributions to the formation of the German (and other peoples) national ideology between the 18th and 19th centuries.