Neste artigo, tenho a intenção de analisar a trama amorosa do romance Grande Sertão: veredas, a f... more Neste artigo, tenho a intenção de analisar a trama amorosa do romance Grande Sertão: veredas, a fim de mostrar sua articulação com a trama épica (as guerras entre jagunços). Defendo que Guimarães Rosa desenvolve uma dialética entre dois extremos: o amor carnal, ou desejo erótico, simbolizado pela prostituta Nhorinhá, e o amor espiritual, ou paixão romântica, simbolizado pela noiva Otacília. A relação do protagonista Riobaldo com essas duas personagens é atravessada pelo ciúme de seu amigo Diadorim, expressão de um amor proibido no qual aqueles dois extremos se misturam. A partir de determinadas passagens do romance, discuto a caracterização de Diadorim como figuração da máxima ambiguidade, que é o princípio articulador da narrativa. Nessa figuração, a mistura dos elementos opostos (o feminino e o masculino, a delicadeza e a ferocidade, o ódio e o desejo) articula a trama amorosa não só com a trama épica do romance, mas também com o seu tema metafísico-religioso (a especulação sobre Deus e o diabo).
O artigo defende que o extenso debate sobre a relação de Shakespeare e Montaigne deve ser pensad... more O artigo defende que o extenso debate sobre a relação de Shakespeare e Montaigne deve ser pensado a partir da história da recepção dos dois autores. Com base em uma consideração sobre o desenvolvimento desse debate desde o final do século XIX até os dias atuais, é analisado o mais aceito caso de intertextualidade entre obras dos dois escritores, um trecho de "Dos Canibais" citado em A tempestade.
The paper argues that the extensive debate about the relationship between Shakespeare and Montaigne should be considered from the perspective of the history of the reception of the two authors. Based on a evaluation of the development of this debate from the end of the 19th century to the present day, the discussion is centered on the most accepted case of intertextuality between works by the two writers: an excerpt from "On the Cannibals" quoted in The tempest.
Este artigo comenta o texto de Ernani Chaves “Foucault: cinismo, arte moderna e estética da exist... more Este artigo comenta o texto de Ernani Chaves “Foucault: cinismo, arte moderna e estética da existência”. O tema indicado no título desse texto é especificado por quatro hipóteses. A primeira diz respeito à relação entre as práticas de vida dos cínicos e o que se pode chamar de “vida artista”. A segunda é que, a partir da relação entre a prática de vida do cinismo e a atitude do artista moderno, seria possível vincular o dizer verdadeiro (parrêsia) e a arte. A terceira consiste em tomar Baudelaire como exemplo do artista moderno que encarna a parrêsia. Já a quarta hipótese não é interpretativa como as três primeiras, mas uma indicação comparativa: a tentativa de mostrar como a leitura do texto de Benjamin sobre Baudelaire pode ter influenciado a mudança de concepção de Foucault acerca do poeta francês.
Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestaç... more Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestações interrelacionadas, correspondentes a três personagens: Lear, Pobre Tom e o Bobo. O primeiro enlouquece em decorrência da senilidade e do choque emocional, o segundo encena o desvario de um possesso, e o terceiro usa ironicamente o nonsense para dizer verdades incômodas. Por meio desses personagens, aparecem em cena formas de explicação da loucura concorrentes: a médica, que se baseava no conceito de melancolia; a religiosa, que a associava à possessão demoníaca; e a satírica, que via a loucura como contraparte do saber racional. Recorrendo ao Elogio da loucura de Erasmo e à História da loucura de Foucault, a hipótese defendida no ensaio é a de que Shakespeare combinou diferentes aspectos da experiência da loucura presentes nas manifestações artísticas do início da modernidade, revelando assim uma relação dialética de loucura e sabedoria.
Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifest... more Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestações interrelacionadas, correspondentes a três personagens: Lear, Pobre Tom e o Bobo. O primeiro enlouquece em decorrência da senilidade e do choque emocional, o segundo encena o desvario de um possesso, e o terceiro usa ironicamente o nonsense para dizer verdades incômodas. Por meio desses personagens, aparecem em cena formas de explicação da loucura concorrentes: a médica, que se baseava no conceito de melancolia; a religiosa, que a associava à possessão demoníaca; e a satírica, que via a loucura como contraparte do saber racional. Recorrendo ao Elogio da loucura de Erasmo e à História da loucura de Foucault, a hipótese defendida no ensaio é a de que Shakespeare combinou diferentes aspectos da experiência da loucura presentes nas manifestações artísticas do início da modernidade, revelando assim uma relação dialética de loucura e sabedoria.
This essay intends to demonstrate that the approach to madness in King Lear can be divided in three interrelated manifestations, corresponding to three characters: Lear, Poor Tom and the Fool. The first becomes mad as a result of senility and emotional shock, the second feigns the madness of a possessed person, and the third ironically uses nonsensical statements to tell uncomfortable truths. Through these characters, competing forms of explanation of madness appear on the scene: the medical one, which is based on the concept of melancholy; the religious one, which associated it with demonic possession; and the satirical one, which saw madness as the counterpart of rational knowledge. Using Erasmus' Praise of Folly and Foucault's History of Madness, the hypothesis defended in the essay is that Shakespeare combined different sides of the experience of madness present in the artistic manifestations of early modernity, thus revealing a dialectical relationship between madness and wisdom.
On naive and sentimental Poetry, the last of Schiller’s philosophical writings, can be considered... more On naive and sentimental Poetry, the last of Schiller’s philosophical writings, can be considered as a synthesis of the discussions on ancient and modern that defines the aesthetic theory during the period of Weimar Classicism. According to Schiller, the imitation of the ideal of beauty in Greek art should be related to a consideration about the new standards in modern poetry. His thoughts on this subject sum up the concepts of ancient and modern, or classic and romantic, in the dialectic relation between the terms naif and sentimental.
Este artigo tem como tema a presença da filosofia em Hamlet. Com base em pesquisas a respeito das... more Este artigo tem como tema a presença da filosofia em Hamlet. Com base em pesquisas a respeito das fontes usadas por Shakespeare para escrever a peça, destacam-se três referências filosóficas: o estoicismo de Sêneca, o pensamento político de Maquiavel e o ceticismo de Montaigne. Essas três referências são associadas a personagens específicos: o fiel amigo Horácio é estoico; o rei usurpador Cláudio é maquiavelista; Hamlet admira o estoicismo de seu amigo, usa o maquiavelismo para lidar com a política que o ameaça e, ao mesmo tempo se isola, observando ceticamente um mundo que considera corrompido.
Este artigo tem como ponto de partida o exemplo da relação espelhada entre um livro e uma pintura... more Este artigo tem como ponto de partida o exemplo da relação espelhada entre um livro e uma pintura de mesmo nome: o retrato que Lucian Freud fez do crítico de arte Martin Gayford e o diário que esse crítico escreveu sobre seu retratista, ambas as obras chamadas Homem com cachecol azul. A partir do exemplo, discuto a metáfora do espelho para caracterizar a arte, recorrendo para isso à teoria da representação artísticas elaborada pelo filósofo norte-americano Arthur Danto no artigo “O mundo da arte”, de 1964, e no primeiro capítulo do livro A transfiguração do lugar-comum, de 1981. Recorro, por fim, a dois exemplos artísticos de espelhamento na representação analisados por Danto em O abuso da beleza, de 2003, um quadro holandês do século dezessete e um poema de Rainer Maria Rilke.
O artigo a seguir discute as conexões entre o filme Quei loro incontri, de Jean-Marie Straub, o r... more O artigo a seguir discute as conexões entre o filme Quei loro incontri, de Jean-Marie Straub, o romance Diálogos com Leucó, de Cesare Pavese, e as reflexões de Friedrich Hölderlin acerca da Grécia Clássica, dos deuses e do mundo moderno. A célebre pergunta "Para que poetas em tempos de indigência?", do poema "Pão e vinho" de Hölderlin, serve como referência para essa discussão.
O tema deste comentário é a temporalidade que se constitui nos episódios da Odisseia em que o her... more O tema deste comentário é a temporalidade que se constitui nos episódios da Odisseia em que o herói assume a função de narrador e relata seu nostos, seu retorno para casa, na condição de navegante por mares e ilhas desconhecidos. Para estudar esse tema, tomo como referência o trecho do Canto IV em que Menelau narra sua aventura com Proteu, o ancião do mar. Destaco (seguindo indicações de Irene De Jong) alguns paralelos entre esse trecho e a narrativa feita por Ulisses na corte dos feácios, do canto IX ao XII. Por fim, com base em uma metáfora formulada por Adorno, proponho uma leitura alegórica da narrativa de Menelau que ressalta a relação entre o narrador-herói, a verdade e o tempo.
Este artigo tem como tema a interpretação que Adorno e Horkheimer fazem, na Dialética do esclarec... more Este artigo tem como tema a interpretação que Adorno e Horkheimer fazem, na Dialética do esclarecimento, do episódio das sereias narrado no décimo segundo canto da Odisseia. Com base em comentários de Jeanne Marie Gagnebin sobre essa interpretação, ressalto não só a importância da questão da narrativa no episódio, como também os desdobramentos que a inclusão dessa questão oferece para a própria reflexão proposta pelos autores da Dialética do esclarecimento.
Este artigo elabora duas hipóteses a respeito do expressionismo abstrato norte-americano. A prime... more Este artigo elabora duas hipóteses a respeito do expressionismo abstrato norte-americano. A primeira, baseada nas ideias de Clement Greenberg, é que esse movimento pode ser considerado o ápice da evolução do modernismo. A segunda, baseada em considerações de Robert Rosenblum e Jean-François Lyotard, é que os pintores expressionistas abstratos exploraram uma estética do sublime. Portanto, eles retomam a seu modo a elaboração de uma categoria estética tradicional, que já tinha sido tema da pintura figurativa romântica. A principal referência para essa vinculação entre o expressionismo abstrato e o sublime é a obra de Barnett Newman.
O artigo analisa, a partir de referências feitas por Harold Bloom em seu estudo Shakespeare: a in... more O artigo analisa, a partir de referências feitas por Harold Bloom em seu estudo Shakespeare: a invenção do humano, passagens nas quais Nietzsche propõe interpretações de duas tragédias de Shakespeare. Uma dessas passagens, retirada de Aurora, defende uma compreensão de Macbeth que escape da avaliação moralista do protagonista. A outra passagem é do primeiro livro de Nietzsche, O nascimento da tragédia, e diz respeito a uma das questões mais debatidas na recepção de Hamlet: o motivo da hesitação do príncipe, sua demora em agir diante das circunstâncias que lhe são apresentadas no primeiro ato da tragédia.
Neste artigo, tenho a intenção de analisar a trama amorosa do romance Grande Sertão: veredas, a f... more Neste artigo, tenho a intenção de analisar a trama amorosa do romance Grande Sertão: veredas, a fim de mostrar sua articulação com a trama épica (as guerras entre jagunços). Defendo que Guimarães Rosa desenvolve uma dialética entre dois extremos: o amor carnal, ou desejo erótico, simbolizado pela prostituta Nhorinhá, e o amor espiritual, ou paixão romântica, simbolizado pela noiva Otacília. A relação do protagonista Riobaldo com essas duas personagens é atravessada pelo ciúme de seu amigo Diadorim, expressão de um amor proibido no qual aqueles dois extremos se misturam. A partir de determinadas passagens do romance, discuto a caracterização de Diadorim como figuração da máxima ambiguidade, que é o princípio articulador da narrativa. Nessa figuração, a mistura dos elementos opostos (o feminino e o masculino, a delicadeza e a ferocidade, o ódio e o desejo) articula a trama amorosa não só com a trama épica do romance, mas também com o seu tema metafísico-religioso (a especulação sobre Deus e o diabo).
O artigo defende que o extenso debate sobre a relação de Shakespeare e Montaigne deve ser pensad... more O artigo defende que o extenso debate sobre a relação de Shakespeare e Montaigne deve ser pensado a partir da história da recepção dos dois autores. Com base em uma consideração sobre o desenvolvimento desse debate desde o final do século XIX até os dias atuais, é analisado o mais aceito caso de intertextualidade entre obras dos dois escritores, um trecho de "Dos Canibais" citado em A tempestade.
The paper argues that the extensive debate about the relationship between Shakespeare and Montaigne should be considered from the perspective of the history of the reception of the two authors. Based on a evaluation of the development of this debate from the end of the 19th century to the present day, the discussion is centered on the most accepted case of intertextuality between works by the two writers: an excerpt from "On the Cannibals" quoted in The tempest.
Este artigo comenta o texto de Ernani Chaves “Foucault: cinismo, arte moderna e estética da exist... more Este artigo comenta o texto de Ernani Chaves “Foucault: cinismo, arte moderna e estética da existência”. O tema indicado no título desse texto é especificado por quatro hipóteses. A primeira diz respeito à relação entre as práticas de vida dos cínicos e o que se pode chamar de “vida artista”. A segunda é que, a partir da relação entre a prática de vida do cinismo e a atitude do artista moderno, seria possível vincular o dizer verdadeiro (parrêsia) e a arte. A terceira consiste em tomar Baudelaire como exemplo do artista moderno que encarna a parrêsia. Já a quarta hipótese não é interpretativa como as três primeiras, mas uma indicação comparativa: a tentativa de mostrar como a leitura do texto de Benjamin sobre Baudelaire pode ter influenciado a mudança de concepção de Foucault acerca do poeta francês.
Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestaç... more Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestações interrelacionadas, correspondentes a três personagens: Lear, Pobre Tom e o Bobo. O primeiro enlouquece em decorrência da senilidade e do choque emocional, o segundo encena o desvario de um possesso, e o terceiro usa ironicamente o nonsense para dizer verdades incômodas. Por meio desses personagens, aparecem em cena formas de explicação da loucura concorrentes: a médica, que se baseava no conceito de melancolia; a religiosa, que a associava à possessão demoníaca; e a satírica, que via a loucura como contraparte do saber racional. Recorrendo ao Elogio da loucura de Erasmo e à História da loucura de Foucault, a hipótese defendida no ensaio é a de que Shakespeare combinou diferentes aspectos da experiência da loucura presentes nas manifestações artísticas do início da modernidade, revelando assim uma relação dialética de loucura e sabedoria.
Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifest... more Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestações interrelacionadas, correspondentes a três personagens: Lear, Pobre Tom e o Bobo. O primeiro enlouquece em decorrência da senilidade e do choque emocional, o segundo encena o desvario de um possesso, e o terceiro usa ironicamente o nonsense para dizer verdades incômodas. Por meio desses personagens, aparecem em cena formas de explicação da loucura concorrentes: a médica, que se baseava no conceito de melancolia; a religiosa, que a associava à possessão demoníaca; e a satírica, que via a loucura como contraparte do saber racional. Recorrendo ao Elogio da loucura de Erasmo e à História da loucura de Foucault, a hipótese defendida no ensaio é a de que Shakespeare combinou diferentes aspectos da experiência da loucura presentes nas manifestações artísticas do início da modernidade, revelando assim uma relação dialética de loucura e sabedoria.
This essay intends to demonstrate that the approach to madness in King Lear can be divided in three interrelated manifestations, corresponding to three characters: Lear, Poor Tom and the Fool. The first becomes mad as a result of senility and emotional shock, the second feigns the madness of a possessed person, and the third ironically uses nonsensical statements to tell uncomfortable truths. Through these characters, competing forms of explanation of madness appear on the scene: the medical one, which is based on the concept of melancholy; the religious one, which associated it with demonic possession; and the satirical one, which saw madness as the counterpart of rational knowledge. Using Erasmus' Praise of Folly and Foucault's History of Madness, the hypothesis defended in the essay is that Shakespeare combined different sides of the experience of madness present in the artistic manifestations of early modernity, thus revealing a dialectical relationship between madness and wisdom.
On naive and sentimental Poetry, the last of Schiller’s philosophical writings, can be considered... more On naive and sentimental Poetry, the last of Schiller’s philosophical writings, can be considered as a synthesis of the discussions on ancient and modern that defines the aesthetic theory during the period of Weimar Classicism. According to Schiller, the imitation of the ideal of beauty in Greek art should be related to a consideration about the new standards in modern poetry. His thoughts on this subject sum up the concepts of ancient and modern, or classic and romantic, in the dialectic relation between the terms naif and sentimental.
Este artigo tem como tema a presença da filosofia em Hamlet. Com base em pesquisas a respeito das... more Este artigo tem como tema a presença da filosofia em Hamlet. Com base em pesquisas a respeito das fontes usadas por Shakespeare para escrever a peça, destacam-se três referências filosóficas: o estoicismo de Sêneca, o pensamento político de Maquiavel e o ceticismo de Montaigne. Essas três referências são associadas a personagens específicos: o fiel amigo Horácio é estoico; o rei usurpador Cláudio é maquiavelista; Hamlet admira o estoicismo de seu amigo, usa o maquiavelismo para lidar com a política que o ameaça e, ao mesmo tempo se isola, observando ceticamente um mundo que considera corrompido.
Este artigo tem como ponto de partida o exemplo da relação espelhada entre um livro e uma pintura... more Este artigo tem como ponto de partida o exemplo da relação espelhada entre um livro e uma pintura de mesmo nome: o retrato que Lucian Freud fez do crítico de arte Martin Gayford e o diário que esse crítico escreveu sobre seu retratista, ambas as obras chamadas Homem com cachecol azul. A partir do exemplo, discuto a metáfora do espelho para caracterizar a arte, recorrendo para isso à teoria da representação artísticas elaborada pelo filósofo norte-americano Arthur Danto no artigo “O mundo da arte”, de 1964, e no primeiro capítulo do livro A transfiguração do lugar-comum, de 1981. Recorro, por fim, a dois exemplos artísticos de espelhamento na representação analisados por Danto em O abuso da beleza, de 2003, um quadro holandês do século dezessete e um poema de Rainer Maria Rilke.
O artigo a seguir discute as conexões entre o filme Quei loro incontri, de Jean-Marie Straub, o r... more O artigo a seguir discute as conexões entre o filme Quei loro incontri, de Jean-Marie Straub, o romance Diálogos com Leucó, de Cesare Pavese, e as reflexões de Friedrich Hölderlin acerca da Grécia Clássica, dos deuses e do mundo moderno. A célebre pergunta "Para que poetas em tempos de indigência?", do poema "Pão e vinho" de Hölderlin, serve como referência para essa discussão.
O tema deste comentário é a temporalidade que se constitui nos episódios da Odisseia em que o her... more O tema deste comentário é a temporalidade que se constitui nos episódios da Odisseia em que o herói assume a função de narrador e relata seu nostos, seu retorno para casa, na condição de navegante por mares e ilhas desconhecidos. Para estudar esse tema, tomo como referência o trecho do Canto IV em que Menelau narra sua aventura com Proteu, o ancião do mar. Destaco (seguindo indicações de Irene De Jong) alguns paralelos entre esse trecho e a narrativa feita por Ulisses na corte dos feácios, do canto IX ao XII. Por fim, com base em uma metáfora formulada por Adorno, proponho uma leitura alegórica da narrativa de Menelau que ressalta a relação entre o narrador-herói, a verdade e o tempo.
Este artigo tem como tema a interpretação que Adorno e Horkheimer fazem, na Dialética do esclarec... more Este artigo tem como tema a interpretação que Adorno e Horkheimer fazem, na Dialética do esclarecimento, do episódio das sereias narrado no décimo segundo canto da Odisseia. Com base em comentários de Jeanne Marie Gagnebin sobre essa interpretação, ressalto não só a importância da questão da narrativa no episódio, como também os desdobramentos que a inclusão dessa questão oferece para a própria reflexão proposta pelos autores da Dialética do esclarecimento.
Este artigo elabora duas hipóteses a respeito do expressionismo abstrato norte-americano. A prime... more Este artigo elabora duas hipóteses a respeito do expressionismo abstrato norte-americano. A primeira, baseada nas ideias de Clement Greenberg, é que esse movimento pode ser considerado o ápice da evolução do modernismo. A segunda, baseada em considerações de Robert Rosenblum e Jean-François Lyotard, é que os pintores expressionistas abstratos exploraram uma estética do sublime. Portanto, eles retomam a seu modo a elaboração de uma categoria estética tradicional, que já tinha sido tema da pintura figurativa romântica. A principal referência para essa vinculação entre o expressionismo abstrato e o sublime é a obra de Barnett Newman.
O artigo analisa, a partir de referências feitas por Harold Bloom em seu estudo Shakespeare: a in... more O artigo analisa, a partir de referências feitas por Harold Bloom em seu estudo Shakespeare: a invenção do humano, passagens nas quais Nietzsche propõe interpretações de duas tragédias de Shakespeare. Uma dessas passagens, retirada de Aurora, defende uma compreensão de Macbeth que escape da avaliação moralista do protagonista. A outra passagem é do primeiro livro de Nietzsche, O nascimento da tragédia, e diz respeito a uma das questões mais debatidas na recepção de Hamlet: o motivo da hesitação do príncipe, sua demora em agir diante das circunstâncias que lhe são apresentadas no primeiro ato da tragédia.
O livro se divide em duas partes que discutem, em abordagens distintas, as relações de Hamlet com... more O livro se divide em duas partes que discutem, em abordagens distintas, as relações de Hamlet com a filosofia. Na primeira , "A filosofia em Hamlet", trata-se das fontes e referências filosóficas de que Shakespeare se apropriou para escrever a peça, como o estoicismo de Sêneca, o maquiavelismo e o ceticismo tal como apresentado nos Ensaios de Montaigne. A segunda parte, "Hamlet na filosofia", discute a recepção da peça, caracterizada pela variedade de interpretações contraditórias de seu enredo e de seu protagonista, entre as quais se destacam as leituras de Goethe, Nietzsche, Freud, Benjamin, Deleuze e Derrida.
Este livro oferece ao público algumas das mais importantes produções do projeto "Arte, ciências e... more Este livro oferece ao público algumas das mais importantes produções do projeto "Arte, ciências e filosofia no Renascimento", desenvolvido no âmbito do Programa Capes-Cofecub 2014 (Edital nº. 021/2013; projeto 812-14) em uma parceria da École Normale Supérieure de Lyon com as Universidades Federais Fluminense e do Rio de Janeiro. É o segundo de um conjunto de dois volumes, ambos fazendo parte da Coleção Reverso, editada pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense e publicada pela editora 7Letras. O que é o "Renascimento"? E como se define isto que se chama "filosofia renascentista"? Tudo o que se pode ler nas páginas deste livro constitui também uma tentativa de responder a estas questões. A filosofia renascentista tem seus objetivos e formas próprias, questionamentos e soluções típicas, cuja peculiaridade deve ser bem discernida para que se possa avaliar corretamente o alcance de suas concepções. Estava então em curso o mais violento alargamento de horizontes da história da humanidade: o ressurgimento do saber antigo, os grandes descobrimentos, a Reforma religiosa, a revolução técnica-que traz, entre outras invenções importantes, a imprensa com seu efeito cultural decisivo-são alguns dos eventos tremendos que abalam o Velho Mundo até suas fundações-um mundo, ademais, sacudido pela guerra, pela peste, por calamidades, fanatismos, fome e visões do apocalipse. No entanto, precisamente a tensão entre este panorama e a recepção e renovação das antigas ambições artísticas, científicas e filosóficas ambienta a brilhante e sensual atmosfera que envolve a cultura renascentista. Pois lá se tornou claro que não se tratava mais somente de estar de acordo com os deuses ou com a natureza, como queria até então em geral a filosofia, mas da necessidade de reposicionar de todos os termos da relação a partir das novas disposições. A Renascença foi um tempo de transições, rupturas, transformações, ambiguidades, ambivalências: encontramo-las também nas obras dos homens daquele tempo e a justificação e/ou a superação destas contradições constituiu seu grande vetor temático. Assim, mais do que a história de um período ou de um movimento cultural talvez se trate aqui da história de uma metáfora, de uma imagem que está bem viva hoje: aquela da possibilidade de uma transformação do mundo e do homem. Em momentos de crise, a ideia de Renascimento foi, e continua a ser, uma forma de se orientar em direção ao Novo Mundo.
Este livro oferece ao público algumas das mais importantes produções do projeto “Arte, ciências e... more Este livro oferece ao público algumas das mais importantes produções do projeto “Arte, ciências e filosofia no Renascimento”, desenvolvido no âmbito do Programa Capes-Cofecub 2014 (Edital no. 021/2013; projeto 812-14) em uma parceria da École Normale Supérieure de Lyon com as Universidades Federais Fluminense e do Rio de Janeiro. É o primeiro de um conjunto de dois volumes, ambos fazendo parte da Coleção Reverso, editada pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal Fluminense e publicada pela editora 7Letras.
Palestra sobre a teoria do sublime apresentada no ciclo Arte e ruptura, que organizei em 2011 no ... more Palestra sobre a teoria do sublime apresentada no ciclo Arte e ruptura, que organizei em 2011 no SESC Nacional. Todas as palestras do ciclo foram publicadas em livro dois anos depois da realização do evento.
A palestra, publicada em livro em 2013, trata do método de crítica literária de Peter Szondi, ind... more A palestra, publicada em livro em 2013, trata do método de crítica literária de Peter Szondi, indicando afinidades teóricas do autor com o crítico brasileiro Antonio Candido.
Texto de uma palestra de 2009, publicada em livro, a respeito da reflexão sobre o trágico elabora... more Texto de uma palestra de 2009, publicada em livro, a respeito da reflexão sobre o trágico elaborada por Walter Benjamin em sua abordagem crítica do Trauerspiel do período barroco alemão.
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The paper argues that the extensive debate about the relationship between Shakespeare and Montaigne should be considered from the perspective of the history of the reception of the two authors. Based on a evaluation of the development of this debate from the end of the 19th century to the present day, the discussion is centered on the most accepted case of intertextuality between works by the two writers: an excerpt from "On the Cannibals" quoted in The tempest.
This essay intends to demonstrate that the approach to madness in King Lear can be divided in three interrelated manifestations, corresponding to three characters: Lear, Poor Tom and the Fool. The first becomes mad as a result of senility and emotional shock, the second feigns the madness of a possessed person, and the third ironically uses nonsensical statements to tell uncomfortable truths. Through these characters, competing forms of explanation of madness appear on the scene: the medical one, which is based on the concept of melancholy; the religious one, which associated it with demonic possession; and the satirical one, which saw madness as the counterpart of rational knowledge. Using Erasmus' Praise of Folly and Foucault's History of Madness, the hypothesis defended in the essay is that Shakespeare combined different sides of the experience of madness present in the artistic manifestations of early modernity, thus revealing a dialectical relationship between madness and wisdom.
The paper argues that the extensive debate about the relationship between Shakespeare and Montaigne should be considered from the perspective of the history of the reception of the two authors. Based on a evaluation of the development of this debate from the end of the 19th century to the present day, the discussion is centered on the most accepted case of intertextuality between works by the two writers: an excerpt from "On the Cannibals" quoted in The tempest.
This essay intends to demonstrate that the approach to madness in King Lear can be divided in three interrelated manifestations, corresponding to three characters: Lear, Poor Tom and the Fool. The first becomes mad as a result of senility and emotional shock, the second feigns the madness of a possessed person, and the third ironically uses nonsensical statements to tell uncomfortable truths. Through these characters, competing forms of explanation of madness appear on the scene: the medical one, which is based on the concept of melancholy; the religious one, which associated it with demonic possession; and the satirical one, which saw madness as the counterpart of rational knowledge. Using Erasmus' Praise of Folly and Foucault's History of Madness, the hypothesis defended in the essay is that Shakespeare combined different sides of the experience of madness present in the artistic manifestations of early modernity, thus revealing a dialectical relationship between madness and wisdom.