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A questão da natureza da relação entre Formas inteligíveis e objetos sensíveis pode ser encontrada em diversos diálogos platônicos. Trata-se, obviamente, de uma questão de grande importância para própria Teoria das Formas, ten-do em vista... more
A questão da natureza da relação entre Formas inteligíveis e objetos sensíveis pode ser encontrada em diversos diálogos platônicos. Trata-se, obviamente, de uma questão de grande importância para própria Teoria das Formas, ten-do em vista que a postulação de Formas inteligívies tem como um de seus objetivos principais a garantia da possibilidade de conhecimento seguro dos objetos e fenômenos do mundo sensível. Dois modelos distintos para com-preensão da natureza desta relação podem ser encontrados na obra de Pla-tão: o modelo da participação e o modelo da imitação, cada qual apresentado por meio de um rico vocabulário. O modelo da participação é apresentado na obra platônica através de um vocabulário relacionado à noção da presença da Forma nos objetos sensívies, enquanto que o modelo da imitação é apresen-tado por meio de um vocabulário ligado à relação modelo-imagem. Não há consenso entre os comentadores acerca de qual modelo Platão adota em cada um dos diálogos ou mesmo em cada fase da sua obra. David Ross em Plato's Theory oo Ideas deeende a tese de que a posição de Platão flutua entre ambos os modelos sem nunca chegar a adoção definitiva de um em detrimento do outro. A primeira parte do diálogo Parmênides apresenta críticas a estas duas maneiras de entender a relação entre objetos sensíveis e Formas inteligíveis. Contudo, enquanto as crrticas à noção de participação parecem bastante defi-nitivas, a única crítica à noção de imitação parece ser facilmente contornável. Seguindo a posição de que estes modelos não se confundem no interior da obra platônica e que podemos atribuir ao Platão da fase média (República, Banquete, Fédon) a adoção do modelo da participação e ao Platão da terceira ase (Timeu, Sofista, Polltico, Filebo) a adoção do modelo da imitação, ooe-recerei uma interpretação para primeira parte do Parmênides que procura explicar a relevância das críticas contidas no diálogo.
Como amplamente reconhecido, Platão expôs seu pensamento por meio de uma forma literária de escrita, o chamado diálogo socrático. Apesar de estudos acerca das características dessa forma de expressão terem se multiplicado nos últimos... more
Como amplamente reconhecido, Platão expôs seu pensamento por meio de uma forma literária de escrita, o chamado diálogo socrático. Apesar de estudos acerca das características dessa forma de expressão terem se multiplicado nos últimos anos, ainda é relativamente raro encontrarmos trabalhos que tracem as relações de implicação entre a forma dramática de composição adotada por Platão e os temas metafísicos tradicionais de sua obra. O presente texto pretende suprir, em parte, esta lacuna ao abordar o tema da ontologia platônica sob a ótica das características dramáticas e literárias dos diálogos. Pretendo demonstrar como a devida atenção às questões dramáticas da obra de Platão pode nos levar ao entendimento de que o personagem Sócrates está, desde os primeiros diálogos, defendendo consistentemente uma única ontologia constituída por Formas e objetos sensíveis. Para que tal entendimento seja construído, argumento em favor da existência de múltiplos planos de leitura de um mesmo diálogo e identifico os usos, por parte de Platão, da figura de linguagem da "prolepse" ou "antecipação". Antes de Aristóteles estabelecer o tratado como forma de composição filosófica preponderante entre a comunidade intelectual grega, os diversos temas da Filosofia eram apresentados por meio do que hoje chamaríamos formas literárias de composição. Os fragmentos que possuímos das obras dos pensadores anteriores a Platão, conhecidos por nós sob a alcunha de