Os mosteiros e conventos da Idade Média e Moderna, para funcionarem em condições de higiene e salubridade adequadas, careciam de um hidrossistema sólido e tecnicamente eficiente, na forma e no traçado, desde a captação de águas, seu...
moreOs mosteiros e conventos da Idade Média e Moderna, para funcionarem em condições de higiene e salubridade adequadas, careciam de um hidrossistema sólido e tecnicamente eficiente, na forma e no traçado, desde a captação de águas, seu transporte por gravidade, armazenamento e distribuição pela área intramural dos cenóbios, até à descarga dos resíduos domésticos e pluviais. Nesse sentido, o clero regular de outrora ensinou-nos a conquistar e a domesticar a água, ou seja, como se explora, conduz, acumula e administra com racionalidade e inteligência. Os testemunhos abaixo apresentados certificam um repertório de saberes e técnicas acerca do nosso amplo e diversificado património histórico-hidráulico de concepção pragmática e instância religiosa, hoje caídos em desuso e secos ou a funcionar modificados por novos equipamentos mecânicos. Esta afortunada manifestação de experiências e aptidões legadas, referentes à pesquisa e ao uso intensivo da água, legitima uma porção substancial de memória identitária bastante ignorada e ameaçada, que ultrapassa o domínio da tecnologia e urge recuperar e restabelecer na pluralidade da nossa cultura. É uma obrigação ética comum evitar o colapso desses importantes projectos centenários, atribuídos à ousadia e firmeza de espírito dos anónimos monges e frades de antanho. Amiúde, tais infra-estruturas são vitimadas por facilitações mesquinhas e actos abusivos de interesse privado económico-financeiro especulativo, que apagam ou ocultam o seu valor e significado históricos. Por isso, é improrrogável a nossa mobilização cautelar, assente no respeito e na responsabilidade pelos bens herdados das gerações precedentes, a fim de assegurarmos a sua salvaguarda, num propósito correlacionado de usufruto e defesa estáveis do nosso devir civilizacional.
