No Brasil, em geral, há uma crença no mito do monolinguismo a partir do qual se acredita na predominância e soberania única do português em território brasileiro. Porém, esse mito de um país monolíngue serve apenas para desvalorizar e...
moreNo Brasil, em geral, há uma crença no mito do monolinguismo a partir do qual se acredita na predominância e soberania única do português em território brasileiro. Porém, esse mito de um país monolíngue serve apenas para desvalorizar e tentar apagar os grupos minoritários existentes no país. Nesta perspectiva, a presente dissertação, vinculada à Linha de Pesquisa Linguagem e Educação do PPGE/FURB, teve por objetivo analisar as concepções de bilinguismo e educação bilíngue adotadas por pesquisadores em produções científicas relacionadas às áreas de Educação e Linguagem. Com o intuito de alcançar este objetivo geral, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: i) discutir as relações entre os contextos sócio-históricos das pesquisas levantadas e o desenvolvimento de propostas de educação bilíngue; ii) mapear as concepções de bilinguismo abordadas nas pesquisas científicas; iii) caracterizar as modalidades de educação bilíngue encontradas nas pesquisas. Em consonância com esses objetivos, optou-se por uma metanálise qualitativa. Para seleção do corpus da pesquisa, foi realizado um levantamento em bases de dados (BDTD, FURB, USP e Anped) por teses, dissertações e artigos científicos das áreas de Educação e Linguagem que abordassem o bilinguismo e a educação bilíngue. O corpus se compõe de 81 trabalhos desenvolvidos entre os anos de 2010 e 2015. Os dados apontam que as pesquisas realizadas nas áreas de Educação e Linguagem utilizam em sua maioria uma compreensão de bilinguismo que entende o sujeito segundo uma visão sócio-histórica, dentro de um contexto de bi/plurilinguismo, além de considerar a interação entre diversas áreas do conhecimento, língua e cultura. Entretanto, algumas pesquisas discutem o bilinguismo a partir de uma perspectiva teórica de origem estruturalista, em que o indivíduo é entendido fora deste contexto, em razão de se basearem apenas em critérios relacionados à competência e/ou à habilidade linguística do indivíduo. A respeito da educação bilíngue, foi possível identificar que as pesquisas relacionadas à visão sociolinguística compreendem a educação como forma de manutenção de línguas minoritárias. Ao mesmo tempo, as pesquisas relativas a uma visão individualista do sujeito, entendem a educação bilíngue conforme o modelo de transição. Ademais, foi possível relacionar que as pesquisas e grupos de pesquisas surgem em razão do contexto sócio-histórico em que estão inseridos, a partir de pesquisas dos líderes desses grupos. Assim, o contexto sócio-histórico onde as pesquisas foram realizadas possui forte ligação com a língua minoritária investigada. Os dados sugerem que pouco tem se olhado para a educação nestes contextos minoritários. Destaca-se a importância de pesquisas do tipo estado da arte e metanálise, uma vez que permitem localizar tendências e lacunas, bem como contribuir para a inserção dos grupos minoritários. Ressalta-se também que os coletivos de pesquisas interinstitucionais exercem papel importante no desenvolvimento da pesquisa em nosso país. Novos questionamentos também surgiram a partir desta dissertação, como: de que forma as políticas públicas podem atuar de forma a favorecer e fortalecer o bilinguismo, a educação bilíngue, a interculturalidade e as minorias linguísticas? Como linguistas podem contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas educativas nesses contextos minoritários? Conclui-se que há carência de trabalhos que discutam o bilinguismo e a educação bilíngue e, por isso, há a necessidade de mais investimentos e pesquisas sobre o tema.