Conferências do Casino
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No intuito de compreender a vida moderna, Marshall Berman (1986) recorre a Karl Marx, “não tanto por suas respostas, mas por suas perguntas”. Razão pela qual a frase que dá título ao seu livro é uma construção extraída do próprio... more
No intuito de compreender a vida moderna, Marshall Berman (1986) recorre a Karl Marx, “não tanto por suas respostas, mas por suas perguntas”. Razão pela qual a frase que dá título ao seu livro é uma construção extraída do próprio Manifesto do Partido Comunista (1848), de Karl Marx e Friedrich Engels. Apoiados na leitura de Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade (Berman, 1982), busca-se nesta pesquisa articular os termos [r]evolução, binômio caro às análises realizadas por Antoine Compagnon (2010), e decadência, visto como sinônimo de moderno, em seu entrelaçamento ambíguo, tais quais as contradições da vida moderna. No cenário da literatura portuguesa do século XIX, Antero de Quental e Eça de Queirós, símbolos da Geração de 70, idealizaram [re]construir Portugal e deram vida à revolução. Antero, à frente das Conferências Democráticas do Cassino, em 1871, profere Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos, marcando o espírito pedagógico-revolucionário pretendido pelo movimento. Proibidas as Conferências, os conferencistas seguiram outros rumos. Eça, mais tarde, apresenta-nos sua crítica à sociedade portuguesa com Os Maias: episódios da vida romântica (1888). Relato da decadência presente na vida moderna. As Conferências – ao contrário do que, mais tarde representou a Geração de Orpheu, uma vez que repercutiram de modos diferentes, tanto na esfera social quanto política –, marcaram a vida portuguesa, de modo que o ideal revolucionário permanecesse como inerente à sociedade moderna. Esta, por sua vez, não soube avançar frente às contradições da própria modernidade, como foi com Portugal, e a solidez da revolução idealizada por essas gerações, pareceu ter se diluído, desmanchado no ar. Ao representar o desejo de romper com a [então] tradição literária em Portugal, ou, pelo menos, a tentativa de alcançar tal fim por meio da Revolução, a Geração de 70 vestiu-se da modernidade, “contraditória em si mesma” (Compagnon), imbricando-se em revolução e decadência.