Afro-Religiões

Resumen: en los sistemas religiosos de inspiración afro, como el espiritismo cruzao, la santería, el palo monte y el vodou, entre otros, la oralidad ocupa un lugar relevante. Esto se puede apreciar en diferentes niveles, como la enseñanza de las tradiciones, las prácticas rituales y el quehacer religioso, aspectos que se encuentran íntimamente vinculados. Los mitos, las plegarias y los cantos que aparecen en la escena ritual vehiculizan las posibilidades de transformar la realidad fenoménica de los participan-tes. De aquí se desprende la idea de un decir-hacer, lo cual indica que la palabra no solo es nomina-tiva o enunciativa; la palabra es acción. Sin ella los objetos, las imágenes y las plantas utilizados con fines terapéuticos serían tan solo objetos desprovistos de poder. Así, a partir del trabajo etnográfico y narrativo basado en el trabajo de campo realizado en Cuba en 2013 durante una ceremonia de entrega de Olokun, se discutirá el lugar de la palabra dentro de la santería.

Palabras clave: decir-hacer, oralidad, patakís, religiones de inspiración afro, santería cubana

Sayaing-Doing in an Olokun Ceremony

SUMMARY In Afro-inspired religious systems such as Espiritismo Cruzao, Santeria, Palo Monte and Vodou, among others, orality plays a central role. This can be observed at different closely linked levels such as the teaching of traditions, ritual practices, and religious work the myths, prayers, and hymns that appear on the ritual scene support the possibilities of transforming the phenomenal reality of the participants. This gives rise to an idea of a saying-doing, which indicates that the word is not only nominative but also expository; the word is action. Without it, the objects, images and plants used for therapeutic ends would be simple objects devoid of power. Thus, drawing from the ethno-graphic and narrative work based on the fieldwork carried out in Cuba in 2013 during an Olokun ceremony, I will discuss the role played by the word in Santeria.

Keywords: Afro-inspired religions, Cuban Santeria, orality, patakís, saying-doing

A disciplina aborda, numa perspectiva interdisciplinar, questões relacionadas com o tema que envolve os negros no Brasil Colonial, visando o aprofundamento de estudos acerca de: aspectos da história africana brasileira, da escravidão no Brasil e da cultura afro-brasileira; principais religiões de matrizes africanas no Brasil; dados historiográficos, caracterização, significado dos quilombos brasileiros e a importância dos mesmo para a construção da cidadania brasileira.

Este artigo apresenta discussões teórico-metodológicas para uma Educação Patrimonial das Relações Étnico-Raciais passível de ser aplicada em ambientes virtuais. Essas discussões compõem o corpus que embasa o relatório de estágio pós-doutoral proposto e desenvolvido no contexto predatório da pandemia de Sars-Cov-2 (Covid-19). Para tanto, inicio refletindo sobre meu lugar de escrita, sigo com uma breve teorização do ensino-aprendizagem nas redes virtuais, de modo posterior apresento os marcos legais que fundamentam uma proposta de Educação Patrimonial das Relações Étnico-Raciais, e por fim, os esforços já realizados pelo diálogo entre arqueologia e dança, com a indicação dos métodos elaborados a partir da relação entre retórica e empirismo articulada ao longo de um devir auto-etnográfico nas religiões de matriz africana.

O objetivo deste artigo é compartilhar algumas reflexões decorrentes da pesquisa de doutorado “Sonoridades afro-brasileiras em Corumbá: um estudo sobre representações musicais em rituais de Umbanda”. Com a realização deste trabalho, pretendemos, primeiramente, demonstrar que o universo sonoro em rituais de Umbanda é crucial e constitutivo dessas manifestações religiosas. Consideramos, portanto, que a música, ou melhor, a curimba - tal como denominam os adeptos dessa religião e presente nos rituais a que nos referimos - é um continuum que ultrapassa esse universo, por meio de uma complexa rede de elementos que permeiam as interações sociais que constituem esses processos. Embora constitua tarefa inexequível investigarmos a fundo cada um desses elementos, podemos citar, como basilares, os vínculos familiares de sangue e espirituais, as articulações políticas com o Instituto da Mulher Negra do Pantanal (IMNEGRA) e os diversos serviços prestados à comunidade corumbaense, principalmente no que tange à espiritualidade. Em segundo lugar, percebemos a constante presença de aspectos pertencentes ao imaginário da identidade negra ou negritude, de maneira a reafirmá-la, integrando uma plêiade de elementos. Nesse sentido, observamos a recorrência de referências à África e à Bahia, à escravidão, aos pretos velhos e ao sofrimento da comunidade negra, juntamente com uma estreita associação ao movimento negro, à comunidade quilombola e às suas manifestações. É importante ressaltar, dentre a amplitude de assuntos tangenciados, que o foco central deste estudo é o universo sonoro e sua íntima relação com a religiosidade umbandista, inserida no contexto das tradições afro-brasileiras, ressalvadas as considerações críticas ao essencialismo.

Este texto foi realizado a partir de questões surgidas durante o trabalho realizado para confecção de tese de doutorado sobre a música do candomblé queto e buscou centrar sua discussão em torno do material levantado como apoio para tanto. Tal material, consistindo de referências fonográficas sobre a música sacra afro-brasileira, mostrou-se muito diversificado, embora revelasse algumas tendências mais recorrentes: os documentos sonoros de casas e grupos religiosos; e formas variadas de música popular ligadas à indústria fonográfica com forte relação temática (principalmente) ou musical com os conteúdos das formas musicais religiosas. Buscou-se então, através da resenha de alguns exemplos, problematizar questões gerais ligadas a estes tipos de registro sonoro, apontando para futuras pesquisas sobre uma discografia de música sacra afro-brasileira, inclusive as oriundas de outros contextos rituais e regionais. Buscou-se também apontar tendências em relação ao conjunto desses documentos no âmbito do desenvolvimento histórico da música popular brasileira.

A tese versa sobre a manutenção ritual cotidiana dos mistérios, espíritos que pertencem aos panteões do vodu, por imigrantes da República Dominicana, chamados de pessoas que têm os mistérios, que vivem em Porto Rico. O material etnográfico realça os mistérios como uma espécie de herança familiar em circulação. Pessoas e mistérios descrevem as experiências multifacetadas e densas entre eles com categorias como dom, atender, trabalhar, pagar, corpo e consumo. Deixando-se conduzir pela trama relacional que essas categorias informam, a tese tem como objetivo inicial demonstrar a maneira singular como a noção de pessoa é compreendida pelos interlocutores, vivos e mortos, que tomam parte nesta etnografia. O segundo objetivo é discutir os modos de atenção ritual enquanto formas de troca que produzem dependência recíproca e trabalho entre os dominicanos e seus espíritos, a partir da manipulação de substâncias e objetos cuja importância reside em seus efeitos sensíveis. Tomando as práticas de sensibilização dos mistérios como técnica ritual fundamental, o terceiro objetivo é discutir como certa materialidade – artefatos, imagens e substâncias – é interiorizada nas casas, visando-se à recriação de certas paisagens de lembrança para os mistérios, que assim as habitam; bem como manipulada nos ambientes domésticos como dispositivos de afastamento de tantos outros.

This thesis discusses the daily care of misterios (mysteries); spirits that belong to the vodou pantheon, by immigrants from the Dominican Republic that live in Puerto Rico called personas que tienen los misterios (people that have the mysteries).  The ethnographic material reveals these misterios as a kind of family legacy in circulation. People and misterios describe their multifaceted and dense experiences in between them with categories such as don (divine gift), atender (to attend), trabajar (to work), pagar (to pay), cuerpo (the body) and consumo (consumption). The initial objective of the thesis is to demonstrate the singular manner in which the notion of person is comprehended by the interlocutors, alive and deceased, that take part in this ethnography, through the relational plot that these categories inform. The second objective is to discuss the forms of ritual attention as ways of exchange, which produce a reciprocal dependence and work in between Dominicans and their spirits through the manipulation of substances and objects whose importance resides in their sensitive effects. Taking the misterios awareness practices as a fundamental ritual technique, the third objective is the discussion of how certain materials- artifacts, images and substances- are interiorized in houses, achieving a recreation of the misterios scenery that live in them; and also how these things are manipulated in the domestic ambience as devices of alienation from so many others.

O trabalho aborda as práticas sociais dos terreiros afro-ameríndios na cidade de Manaus, de suas lideranças, as mães-de-santo, sua inserção nas comunidades em que se localizam e a complexa relação destes com o ambiente. Para analisar as práticas terapêuticas realizadas nos terreiros, foi utilizado o conceito de auto-atenção para a compreensão das escolhas das metodologias holísticas simultaneamente aos tratamentos pelos sistemas médicos oficiais. O pano de fundo são as reformas urbanas engendradas pelo poder público e sua intervenção sobre os igarapés do centro da cidade na última década, com o consequente deslocamento das casas de terreiro para os bairros da periferia.

Resumo: No imaginário candomblecista, a África assume uma posição particular, quer como lieu de mémoire, i.e., como espaço de memória e referência emocional, ligada ao desterro da escravatura, quer como recurso político, ou seja, como referência ideológica face ao idioma diacrítico de autenticidade. Nesse sentido, a África configura o horizonte último candomblecista por excelência. Pese embora o sentido operatório desta afirmação, neste texto pretendo evidenciar a forma como na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, a comunidade candomblecista privilegia a Bahia como referência ideológica e normativa.

Palavras-chave: Candomblé; Uberaba; Bahia.

Abstract: It is well-known that Africa invokes a series of mental-emotional and political dispositions among candomblé practitioners. It configures, indeed, a truly lieu de mémoire, related to the slave trade, but also an ideological resource for narratives on authenticity. In that sense, it is clear that Africa remains the ultimate source of power for those practitioners. However, despite the validity of that statement, it is my intention to present here the ways in which Uberaba's candomblé community invokes Bahia as ideological and normative reference.

Este trabalho pretende refletir sobre o encontro cultural entre música e religião na canção de câmara brasileira e, também, sobre o preconceito observado na apresentação das mesmas.  Privilegiaremos a Religião Umbandista – devido a um trabalho de campo prévio realizado em uma terreira de Umbanda – que é uma religião essencialmente ligada à música e vários compositores brasileiros se deleitaram na riqueza melódica e rítmica dos “pontos de umbanda”, entre outras canções rituais, para compor belas canções de câmara. O nosso trabalho como intérpretes tem buscado divulgar essas canções que sofrem preconceitos por parte dos artistas e do público. Ao lado da resistência de se cantar em idioma nacional, acrescenta-se o preconceito que existe em relação às religiões afro-brasileiras, que perpassa séculos de história. Para este estudo, foram realizadas entrevistas fundamentadas em estudos etnomusicológicos, com o objetivo de dar voz a praticantes de religiões afro-brasileiras (umbandistas), público presente nas apresentações, e a nós enquanto músicos/recitalistas e simpáticos ao tema.

Resumo: As pesquisas sobre as comunidades de terreiro têm colocado uma série de desafios tanto para o contexto acadêmico da investigação, quanto para a apropriação que candomblecistas tem feito dos estudos produzidos nas academias. Este texto buscará traçar um plano desde o qual se possa verificar as interconexões entre a crítica ao sincretismo iniciada de maneira bastante particular por um conjunto de lideranças do Candomblé no final do século passado e estruturações de discursos acadêmicos e religiosos em torno da problemática da pureza e do fortalecimento, dando outros contornos para a as abordagens acadêmicas já colocadas nos estudos sobre os candomblés. Propõe-se, ainda, a distinção entre um sincretismo estratégico e um sincretismo interno, que sirva para situar as relações entre a crítica ao sincretismo e a busca por um fortalecimento da identidade calçado na pureza entendida como um retorno à África.

A análise dos moluscos que compõem o candomblé permite compreender como os negros/ escravos, introduziram o uso de diversas espécies deste filo no Brasil como uma expressão da diáspora ocorrida. Esta constatação nos leva a afirmar que a ação resultou tanto numa "diáspora animal", como numa bio invasão. Assim, torna-se possível compreender os usos que estes animais possuem para o culto ao longo de sua trajetória e também verificar como os afrodescendentes e adeptos desta religião conseguiram perpetuar suas tradições quanto ao uso dos moluscos no candomblé. Palavras-chaves: Candomblé, Moluscos, Bio invasores.

Paths of Ogum: Blooming the streets, celebrating São Jorge and Occupying the City.  [Publicado em Memórias de Pesquisa (Visual) na Revista ARQUIVOS DO CMD, publicação semestral do grupo de Pesquisa Cultura, Memória e Desenvolvimento da Universidade de Brasília: v. 4, n. 2 (2016). Disponível em: http://www.culturaememoria.com.br/revista/index.php/cmd/article/view/98] ... RESUMO: “Fica ao meu lado, São Jorge Guerreiro”, assim se inicia a música-oração de Moacyr Luz e Aldir Blanc em homenagem a São Jorge. É também pedindo e agradecendo ao Santo que os fiéis amanhecem na alvorada do dia 23 de abril nas igrejas em toda cidade, não é diferente na Praça da República, localizada na Central do Brasil, próximo ao Saara, conhecido pólo de comércio popular do Rio de Janeiro. Milhares de fiéis passarão na Igreja para pedir graças àquele que é considerado guerreiro, tema de inúmeras músicas, santo sincretizado no Rio de Janeiro (e na umbanda), com o orixá guerreiro Ogum, em dia de feriado na cidade. Personagens habituais vão compondo a festa, que ainda traz pessoas de outros estados e músicos de escolas de samba que tem o santo como patrono/protetor. É na festa que o santo, o orixá e o samba se encontram. É na ocupação das ruas, cantando sambas e pagodes antigos, entre o batuque e as velas acesas, a festa e a oração, que São Jorge e Ogum são cultuados nas ruas do Rio de Janeiro, colorindo os espaços de vermelho e branco.
Palavras-chaves: São Jorge, Religiões afro-brasileiras, Catolicismo, Samba, Rio de Janeiro

Trata-se do primeiro levantamento feito sobre casos de intolerância religiosa no Rio de Janeiro, sob a forma de relatório parcial de atividades de pesquisa, referentes a dois projetos financiados pela FAPERJ e pelo CNPq, voltados à a análise dos modelos de administração institucional de conflitos envolvendo controvérsias identitárias étnico-raciais e religiosas, no espaço público do Rio de Janeiro.
Traz um balanço referente às atividades de mobilização da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), dos seus dois primeiros anos de existências, e  a repercussão dos casos de intolerância na mídia. O relatório apresenta ainda um resumo dos casos a partir do levantamento de informações referentes a registros de ocorrências policiais e processos judiciais  e alguns depoimentos de vítimas de intolerância religiosa.

Este artigo trata da presença submersa de uma estrutura de ferro atribuída à divindade africana Exu na região  portuária  de  Salvador,  Bahia,  e  está  estruturado  por  três  linhas  analíticas.  A  primeira  apresenta  uma Arqueologia  das  Religiões  Negras  capaz  de  recuperar,  pela  materialidade,  processos  e  técnicas  rituais elaboradas  no  trânsito  diaspórico.  A  segunda  linha  enfoca  a  triangulação  epistêmica  entre  o  contexto arqueológico, a presença de feiras livres e a formação antrópica da enseada de Água de Meninos, em Salvador. A terceira linha problematiza o ritual de imersão do assentamento Exu no leito da Baía de Todos os Santos e a força invisível de sua presença.

Palavras-chave: Arqueologia das Religiões Negras; assentamento de Exu, paisagem sagrada..

O presente artigo propõe-se a abordar a religião afro-brasileira Candomblé a partir das formulações de Eric Hobsbawm acerca da invenção da tradição e de Stuart Hall sobre as comunidades imaginadas. Pretende-se inscrever o Candomblé dentro de uma lógica discursiva que o coloca como resultado histórico da transferência de escravos para o Brasil e, desta forma, como resposta às necessidades de reconfiguração e recodificação do imaginário religioso e assim da prática ritual. Desta feita, o Candomblé será tomado como uma invenção de tradição africana em diáspora. Ao mesmo tempo, tomando Hall, as nações de Candomblé, serão observadas como comunidades/nações imaginadas, i.e., referenciais simbólicos de uma identidade constituída sobre a invenção de tradição de Hobsbawm. As nações de Candomblé são espaços, maioritariamente, de revivalismo de uma identidade partilhada e imaginada.

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The present article aims to observe the afro-Brazilian religion Candomblé taking as starting point Eric Hobsbawm’s formulation concerning the invention of tradition and Stuart Hall’s one concerning the imagined communities. It is my propose to enroll the Candomblé into the discourse that sees Candomblé as a historical result of the Atlantic slavery process, and thereby as an answer to the need of reconfiguration and re-codification of the religious imaginary and practical ritual methods. So, Candomblé will be seen as an African invention of tradition in the Diaspora. At the same time, taking Hall’s ideas, the so called ‘nations of Candomblé’ must be seen as imagined communities/nations, i.e., symbolical references of an identity constituted as an invented one. Those nations of Candomblé are, mainly, places for the revival of a shared and imagined identity.

“De mim, o senhor não sabe nada”. A impressão desta frase de Caboclo Zé Raimundo na contracapa do livro O Sacerdote e o aprendiz: antropologia de um terreiro amazônico, de Hermes de Sousa Veras, poderia causar ao/à leitor/a duas sortes de reação: uma primeira associaríamos a um escândalo; uma segunda, a uma empolgação. É sabido que os humores de leitura, articulados no contato com qualquer gênero literário, dependem muito da ultrapassagem das primeiras páginas ou da contracapa de um livro. Suspeito, no entanto, que muitos antropólogos, notadamente clássicos, se escandalizariam ao se deparar com a frase aparentemente cabal: “o senhor não sabe nada”. Por meio dela, Caboclo Zé Raimundo estaria desafiando a objetividade científica da antropologia? Obviamente, qualquer resposta a essa pergunta depende de convicções teóricas e epistemológicas. Mas as duas possibilidades de reação à afirmação, ainda que sejam caricaturais, refletem posições históricas e bem definidas em relação à prática etnográfica.

Em Portugal, tem-se acentuado durante as últimas décadas a presença de uma vasta imigração,  principalmente com origem no Brasil e nas ex-colónias em África. Estas populações trouxeram com elas as suas religiões, rituais e espiritualidades, entre as quais os cultos afro-brasileiros com crescente popularidade nos últimos vinte anos, com templos repletos de portugueses, muitos optando pela Umbanda mais próxima da matriz previamente católica, outros virando-se para o Candomblé e para práticas consideradas mais africanas.