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Vincent na Chatuba
2014|12|27 Na tarde de terça-feira, 9 de dezembro de 2014, o fotógrafo Vincent Rosenblatt
concedeu esta entrevista, entrecortada por baforadas de cigarros Nat Sherman, enquanto
preparava o ateliê para, à noite, receber colecionadores e marchands.
Publicado: 27 dezembro 2014
Autor: Carlos Palombini
Categoria: entrevista
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Na tarde de terça-feira, 9 de dezembro de 2014, o fotógrafo Vincent Rosenblatt, que acabara de
chegar de Miami, concedeu esta entrevista, entrecortada por baforadas de cigarros Nat
Sherman, na área de serviço do apartamento em Copacabana, enquanto preparava o ateliê
para, à noite, receber colecionadores e marchands.*
C.P. — Você frequentou o baile da Chatuba em que época?
V.R. — Conheci o baile da Chatuba em 2005, no início de minha jornada no Funk, muito antes
de travar contato com o Byano. Houve um show do Bonde das Tchuchucas no Boqueirão do
Passeio. Simpatizei e elas me convidaram para fotografá-las, fazer um ensaio na Vila Cruzeiro,
na laje de uma. Fiz uma foto das quatro pulando, dançando na laje, importante para mim até
hoje. Isso foi num sábado. À noite havia o baile da Chatuba. A memória do caso Tim Lopes
estava mais presente, mas as meninas — Elaine, Aninha, Cris, Dani — decidiram me apresentar
à autoridade local. Chegamos lá e me levaram ao […], que muito naturalmente me disse não
haver problema em fotografar o baile. Já de início, porém, eu sentia nos olhares que era uma
imensa surpresa um fotógrafo ali. Nessa época, a brincadeira do pessoal, quando me
cumprimentava nos bailes, era apertar-me a mão e exclamar: “E aí, Tim Lopes, tudo bem?”
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O Bonde das Tchutchucas na Vila Cruzeiro sábado, 28 de maio de 2005, foto número um do
acervo publicado de Vincent Rosenblatt.
C.P. — Só na Penha?
V.R. — Não, em todos os lugares. Na cabeça do pessoal, fotógrafo de baile funk era só para
falar mal, para denegrir. Era difícil construir uma imagem positiva. Tentei fotografar um
pouco, me ambientar ali, mas à medida que o baile enchia, as meninas do Bonde começavam a
ficar receosas, e assim, resolveram por precaução que seria melhor sair. Senti uma tensão
muito forte no ar, mas também a satisfação de poder estar lá, mesmo sem foto marcante. Bem
depois, fiz exposição na Ôi Futuro, quando estava muito próximo ao Lango — o DJ Lango Vida
Loka, empresário do MC Tan.
C.P. — Ah, do Tan e Cula.
V.R. — É, mas depois foi mais do Tan. Agora ele está com o Duduzinho.
C.P. — O Tan e Cula são de onde?
V.R. — O Tan é da Mineira, e o Cula, da região da Cruz Vermelha. O Cula, que não estava mais
com eles, também me ajudou muito, em particular no Fogueteiro: me levou até lá e me pôs a
fotografar o baile. Ainda me apresentou às autoridades locais e me apadrinhou em Santa
Teresa.
Lango veio trabalhar todos os dias em minha casa em Santa Teresa durante um ano. Fazia
seus contatos por Messenger, Orkut — na época — e rádio Nextel. Fechava os bailes e eu podia
vê-lo operar, saber como funcionava a economia do Funk. Ao falar por Messenger com um DJ
ou MC de comunidade, ele aproveitava para me colocar na fita. E já em 2006 me apresenta ao
Byano, que conversa comigo, me convida para a Chatuba por dois anos. E eu sempre: “Ah, eu
vou!”, “Vou, sim!” Mas não sei se estava com receio ou muito ocupado no Complexo do Lins.
Byano via as fotos da Árvore Seca lotada, que surgiam no Orkut e depois no Face: “Poxa, você
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sempre vai ao Lins, tem que vir conhecer a Penha!”, “Quando você vem à minha
comunidade?”
Acho que demorei dois anos para, lá por meados de 2008, tomar coragem. Um belo dia: “Então,
hoje vou!” Peguei um táxi, cheguei lá, me orientei, e perguntei a uma rapaziada onde
encontraria o Byano. Embora fosse cedo e o baile ainda estivesse vazio, ele já estava à mesa
do DJ. Me abraçou, me levou ao camarote, e me apresentou ao […], que logo falou: “fica à
vontade, tá em casa.” Teve início um período em que fui regularmente à Chatuba, quatro ou
cinco vezes, talvez um pouco mais. Teria de olhar meu acervo para dizer. No dia em que tomei
coragem, já que era para fazer isso, levei tripé e câmara de grande formato. Quando o […]
falou “fica à vontade”, eu disse: “se é pra ficar à vontade, vou instalar meu tripé aqui no
camarote pra fotografar a multidão de cima”.
C.P. — E você fez isso?
V.R. — Fiz. E uma coisa de que gostei na Penha. Em muito baile sempre tem soldado novinho,
sem saber que tenho carta branca. Vem me encher o saco, quer me levar até a boca para
desenrolar, acha que encontrou o novo Tim Lopes e vai subir na hierarquia porque descobriu
o infiltrado. E estou muito óbvio. Minha técnica de ser no baile é estar com câmara, flash no
meio de todo o mundo. Não preparo emboscada, não estou escondido, não tenho câmara
oculta: estou, por assim dizer, como o nariz no rosto, bem visível, e francamente, obviamente
detectável. Na Penha podia haver vinte, cinquenta fuzis à volta. Ninguém jamais duvidaria
que, se eu estava no meio, havia uma boa razão para isso: eu era de confiança. A confiança é
o capital que você constrói nas comunidades. Eu havia aprendido isso com o falecido Doutor,
da Árvore Seca.
C.P. — Você o conheceu quando?
V.R. — Em 2005. Lango me apresentou ao DJ Pernalonga, regente do baile da Árvore Seca,
muito falado na época. Pernalonga imediatamente me convidou pra fotografar na Árvore Seca.
Ele, como muitos outros DJs, entendeu a força da imagem: ter fotos bonitas do baile para
ajudar a enchê-lo, fazer dele um sucesso, dar fama. A parceria começou assim. Ele me levou
até lá, me apresentou ao Doutor, já com certa idade. O Doutor: “é só não nos fotografar, não
fotografar as armas, e você pode se sentir em casa.” E me senti mesmo. Ao final, fui até ele
perguntar se queria ver as imagens. Vira e mexe aparecia uma foto com armas, uma foto
qualquer mesmo, de não importa qual lugar, antiga, e o jornal O Dia ou O Globo estampava
como foto do baile tal: “bandidos empunham armas no baile”.
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Equipe Pernalonga no Baile da Árvore Seca, Complexo do Lins, fotografada por Vincent
Rosenblatt domingo, 11 de setembro de 2005.
C.P. — Eles pegam de qualquer lugar.
V.R. — Eu logo pensava: “se sai uma foto dessas, que ninguém imagine ser minha!” Fui direto
ao Doutor, alta madrugada: “Estou indo embora, você quer olhar as fotos?” Ele me fitou:
“Olhar, pra quê! Você não me deu sua palavra? Confio em você. Não quero ver nada, não.” Era
quase uma falta de respeito minha querer comprovar que cumprira a palavra. É uma
civilização da palavra dada. E foi assim na Chatuba. Ninguém jamais quis ver minhas fotos
depois de entrar ou sair. Sinto-me grato por ter podido acompanhar os tempos áureos do
Maracanã do Funk.
C.P. — A pergunta é da Adriana Facina: o que tornava o Baile da Chatuba especial?
V.R. — Você chegava na Chatuba, era outro país. A gente não estava mais no Rio de Janeiro, no
Brasil. Era um espaço, não sei como explicar. Seria a alegria particular do povo da Penha? Era
um caldo de vários fatores que dava certo. Uma incubadora de MCs que estourariam depois:
Smith, Max, Orelha, outros. Excelentes DJs: o Napô — DJ Napô da Pitbull — e o Byano, que
estourava todos os sucessos, produzidos para o baile e nele testados. Talvez a personalidade
dos bandidos do momento, muito festeiros. A mistura da favela com globais: às vezes esta
atriz, aquele ator. Jogadores de futebol: o Adriano, que morava perto e não deixava de se
divertir. A pessoa sabia que podia ir e jamais alguém mexeria com ela. E o povão funkeiro,
pra dançar até se acabar. O baile ficava muito lotado, a quadra parecia pequena, e nunca uma
briga! Havia uma harmonia coletiva no caos organizado.
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MC Orelha, "Chatuba, terra de Sílvio Sant…
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“Chatuba, terra de Sílvio Santos”, do MC Orelha, produção do DJ Byano, apareceu no Youtube e
no 4shared em 17 de julho de 2009, antes de sair como vigésima segunda faixa do CD Níver do
FB, do DJ Byano, em 27 de julho de 2009.
E havia rituais. Em dado momento Byano lançava uma paródia funk da música do Silvio
Santos, “Quem quer ganhar dinheiro?”, e todos os olhares do povo da Chatuba convergiam
para o camarote. Durante a música o […] e os outros jogavam notas de cinquenta, de cem,
muitas, para o povo. Essa chuva de dinheiro era o momento de alegria coletiva. Todos
pulavam, tentavam agarrar uma nota.
A Chatuba era uma grande festa de certa generosidade, sem opressão, com muita alegria,
muito respeito, e uma energia coletiva inacreditável. Era o condado da Penha, o condado do
Complexo, era o principado. Você está na França e vai entrar em Mônaco ou passa para
Luxemburgo. Era um paraíso, não fiscal, mas emanava uma energia em contrapartida à
opressão que pode reinar nas comunidades ou na cidade. Era um espaço de liberdade de
expressão, de dança. Era uma coisa particular, uma aura que raramente vi em outro lugar.
Hoje o baile já não existe. Parte dos protagonistas morreu ou está presa. Espero que consiga
reinventar-se em tempo de UPP, mas não sabemos.
A foto mais popular do baile de maior prestígio, domingo, 9 de agosto de 2009, por Vincent
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Rosenblatt, reproduzida em blogs, redes sociais, canais do Youtube e contas do Soundcloud.
C.P. — Como você vê as transformações do mundo funk desde que começou a frequentá-lo?
Haveria fases, ciclos?
V.R. — Há ciclos de opressão e resistência, de repressão e retomada. Já desde 2005, mesmo os
donos de baile do asfalto estavam muito preocupados com a ideia de alguém fotografar, de
uma fotografia deturpar o local e ser utilizada na imprensa. Lembro aquela capa horrorosa
d’O Dia, “O Funk do mal”, com as fotos de todos os melhores MCs do momento, que atrapalhou
as carreiras de gente como Cidinho, Sabrina, todos, culminando na prisão dos MCs. Foi
absurdo porque a polícia, o batalhão da Penha, ganhava tanto dinheiro para permitir esses
bailes! A imprensa perseguia os mensageiros: é melhor matar o mensageiro do que quem
provoca o problema. Nessa jornada toda, os bailes oscilaram, já antes das UPPs, entre alegria e
festa, e destruição pela invasão do Bope, do caveirão, da polícia, que não recebia propina
suficiente. Já havia incerteza. E a UPP é o progresso do silêncio, da “ordem”.
Detalhe da manchete infame de capa do jornal O Dia, em 30 de setembro de 2005, antevéspera
da estreia, em 2 de outubro, do documentário Sou feia mas tô na moda, de Denise Garcia, no
cine Odeon, durante o Festival do Rio.
Eu estava em Miami na semana passada e levaram-me para conhecer os redutos do Miami
Bass, de certo hip-hop da Costa Sul, do 2 Livre Crew. Até hoje são guetos. Eles chamam slums,
como se fossem favelas, mas têm condições bem melhores que as das favelas do Rio. É mais
uma incubadora de MCs, de bondes. Há dificuldades, mas são econômicas. Ninguém vai
impedir esses caras de ganhar a vida, de ter o reconhecimento do público, de trilhar seu
caminho na indústria musical. Existe a cena. E as palavras, as letras, são sexuais ou guerreiras.
Tive um insight: se você olhar o clip de 1989 ou 1990 de “Me So Horny”, do 2 Livre Crew, é
Putaria pura: chupar o pau, chupar o cu. É a Putaria carioca exata. O clip tem seguranças de
metralhadora, de fuzil ao redor da piscina onde as beldades nadam. E os caras ganharam a
vida, salvaram suas vidas, fizeram seus nomes, são referências mundiais. Aqui temos talentos
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iguais ou maiores, mas estão massacrados entre proibição e campanha negativa de imprensa,
prisão. Existe o mesmo potencial. Equipe de som, nem tem em Miami. É uma riqueza incrível,
uma acumulação de capital na forma de caixas de som. Quando os americanos veem isso
dizem: “seria impossível aqui, deve custar os olhos da cara!” Há essa riqueza aqui.
Você compara duas vertentes da diáspora afro-americana. Numa, apesar do racismo, apesar do
gueto, apesar de tudo, liberdade de expressão: os caras puderam e podem trilhar seu caminho.
E aqui é mediante autorização, por debaixo dos panos, refugiados na Internet, no Youtube, no
Soundcloud, mediante aceitação da elite. É muito complicado. Já é complicado ser artista, viver
de sua arte. Mas se um Estado todo, uma sociedade se liga para tornar tudo muito mais difícil
e impossível! Eu acho que os americanos não têm noção do problema da dificuldade de
liberdade de expressão e da opressão que reinam aqui. Imagine sua block party receber a
visita de um blindado da Força Nacional, os policiais metralharem suas caixas de som,
botarem todo o mundo pelado no frio, espancarem alguns. Veja Ferguson: um policial mata um
jovem negro, o país está a sangue e fogo. Aqui, todos o dias a polícia mata alguns jovens
moradores de favelas. O pior dos casos tem repercussão local. Existe o Amarildo, mas é muito
raro, um assim. A situação é muito pior.
C.P. — Você estava naquele baile em que a polícia invadiu a Chatuba.
V.R. — Sim, e o pior é que todo o mundo sabia que haveria um problema, que o caveirão iria
vir. Naquele dia, parece…
C.P. — Foi a PMERJ?
V.R. — Foi. […] Bem, vamos dizer assim. Naquele dia parece que o arrego não foi pago, e todos
os novinhos ao redor do baile diziam: “hoje, não sei, vai vir caveirão”. Mas o baile encheu
como sempre, e é isso que deixa perceber a força e a importância visceral do Funk para a
juventude do Rio. Porque ao fim e ao cabo todo o mundo arrisca a vida por seu baile. A
celebração, o ritual do baile, é tão importante que chega a ser religiosa. É um rito social de
tamanha relevância que aceitamos arriscar a vida.
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As três únicas fotos explicitamente sinistras do acervo publicado de Vincent Rosenblatt foram
tomadas no baile da Chatuba na madrugada de domingo, 27 de setembro de 2009, após a invasão
da PMERJ: acima, o DJ Byano diante do que restou de sua equipe, o Chatubão Digital.
E chegou o caveirão, chegou a polícia. O barulho dos tiros criou o pânico. Porque o movimento
resistiu e o caveirão não conseguiu subir a ladeira. Imagine cinco mil pessoas correndo de
uma direção a outra. Havia uma saída afunilada do outro lado. Todo o mundo pisoteado, a
equipe derrubada. Caixas caem em cima de uma moça, que fica presa lá. E o baile,
completamente lotado, torna-se um mar de sapatos femininos, manchas de sangue no chão, a
mesa do DJ pisoteada, CDs esparramados respingados de sangue. Por milagre ninguém morreu,
ninguém. A moça que ficou presa debaixo do equipamento teve apenas um ferimento no pé.
Eu estava no palco, fotografava dançarinas, quando ele voou sob pressão desse mar humano.
Virou e ficou apoiado nas caixas de som. Fiquei embaixo. As dançarinas estavam bem. Foi um
milagre.
Mas o pior provavelmente tenha sido no Chapadão. Uma semana depois, novamente por uma
história de arrego, a polícia vem e destrói o baile do Chapadão, com caveirão que consegue
chegar até a equipe de som, se joga contra ela, rouba a mesa do DJ. Ouvi claramente os
bandidos dizerem, quando souberam que o caveirão estava na ladeira, que ninguém trocaria
tiros com a polícia pois havia muitas crianças. E meteram o pé. Ficamos nós e as crianças.
Lembro ter-me abrigado num bar, e optamos por não fechar a grade para mostrar que não
havia nada. Mesmo assim, quem arriscava colocar a cabeça para fora, era rajada de tiros.
Jogaram uma bomba de efeito moral, gás de pimenta lá dentro: gente vomitando, jovens
chorando. Durou um bom tempo, com o barulho terrível do caveirão a se jogar contra a
equipe de som. Uma cena de guerra.
Eu vivi como turista o que os jovens de favela vivem a vida toda. Imagine construir sua
identidade, sua personalidade em cima desse tipo de evento, que pode acontecer todo o dia,
não só no baile funk, mas na favela. Isso é marcante. Demorei um bom tempo para voltar aos
bailes. Repito: vivi duas vezes na pele o que os funkeiros e os moradores das favelas vivem
toda uma vida desde a infância. Um gostinho da realidade.
C.P. — Voltando ao baile da Chatuba, como era a organização musical? As apresentações dos
MCs se entremeavam com as montagens do Byano?
V.R. — Tinha a Pitbull e o Chatubão. Alternavam sets Byano e Napô, principalmente. Os MCs
tinham hora para cantar e subiam ao palco. Houve gravação de DVD, que nunca deve ter sido
publicado porque foi justamente no dia do caveirão. Havia dias de festival, com muitos MCs, e
dias só de baile, com MC que nem subia ao palco, mas ficava à mesa do DJ. Dependia da
programação, como qualquer baile. O MC costumava vir quando tinha lançamento ou música
estourada. O baile em si era Byano e Napô a se dividir nos trabalhos: a Pitbull alternando-se,
em harmonia, com o Chatubão.
E uma coisa muito importante, do Byano, ao começar os trabalhos: há gente que reza, gente
que tem uma fala. E o Byano tinha este bordão genial. Lançava a abertura da equipe e seu
“Pau no cu do mundo!” Aquilo resumia bem a Chatuba. Era outro país, onde tínhamos a
liberdade de ser quem somos: ser funkeiro, ser da Penha, ser favelado, sermos nós mesmos. E
foda-se o resto. “Pau no cu do mundo!” Tenho saudades do bordão do Byano. Era a bandeira
dos piratas, o sinal da liberdade que desfrutaríamos naquela noite.
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Vincent Rosenblatt, autorretrato em Miami Beach, 7 de dezembro de 2014.
*
A transcrição é livre. Quem prefira a autenticidade oral à ficção do estilo poderá saltar
diretamente para o registro da conversa, ao final do texto, com os beeps de praxe, requisitados
pelo entrevistado em vista da situação por ele descrita.
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