ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)
RESEARCH PAPER (ORIGINAL)
ISSNe: 2182.2883 | ISSNp: 0874.0283
Disponível em: https://doi.org/10.12707/RIV18077
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local
de saúde: determinantes da satisfação
Job satisfaction of nurses in a local health unit: determinants of satisfaction
Satisfacción profesional de los enfermeros en una unidad sanitaria local: determinantes
de la satisfacción
Cláudia Isabel Neves Pacheco da Silva*
; Teresa Maria Ferreira dos Santos Potra**
Resumo
Enquadramento: A satisfação profissional (SP) está associada à qualidade das organizações, pelo que a sua avaliação
é essencial para a criação de políticas e estruturas de suporte.
Objetivo: Analisar a satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde.
Metodologia: Estudo descritivo, analítico, com desenho observacional e transversal, do tipo quantitativo. Utilizou-se o Instrumento de Avaliação da Satisfação Profissional para a colheita de dados.
Resultados: Amostra (n = 218), predominantemente feminina (84,6%), com a idade média de 33 anos, apresentando uma SP total de 66,6%. Os mais satisfeitos têm entre 21-30 anos de serviço. Contudo, face ao vencimento
auferido, são os mais jovens (22-34 anos), solteiros, com menos tempo de serviço (≤ 5 anos), categoria de enfermeiro, que prestam 36-45h de cuidados por semana, que apresentam maior satisfação.
Conclusão: Os enfermeiros apresentam uma SP regular, que se relaciona com a idade, situação familiar, categoria
profissional, carga horária e, principalmente, com os anos de serviço.
Palavras-chave: satisfação no emprego; enfermeiros; enfermagem
Abstract
Resumen
Background: Job satisfaction (JS) is associated with
quality in organizations, so its evaluation is essential to
create support policies and structures.
Objective: To analyze the job satisfaction of nurses in a
local health unit.
Methodology: Descriptive, analytical study with observational and transversal design, of the quantitative type.
The Professional Satisfaction Assessment Instrument
(PSAI) was used for data collection.
Results: Sample (n = 218), predominantly female
(84.6%), with a mean age of 33 years, presenting a total
JS of 66.6%. The most satisfied have between 21-30
years of service. However, in terms of salary, the youngest (22-34 years), single, with a shorter period of service (≤ 5 years), nurse category, and who provide 36-45
hours of care per week, are the most satisfied.
Conclusion: Nurses have a regular JS, which is related
to age, family situation, professional category, workload, and, mainly, to the years of service.
Marco contextual: La satisfacción profesional (SP) está
asociada a la calidad de las organizaciones, por lo que
su evaluación es esencial para la creación de políticas y
estructuras de apoyo.
Objetivo: Analizar la satisfacción profesional de los enfermeros en una unidad sanitaria local.
Metodología: Estudio descriptivo, analítico, con diseño observacional y transversal, de tipo cuantitativo. Se
utilizó el Instrumento de Evaluación de la Satisfacción
Profesional para la recogida de datos.
Resultados: Muestra (n = 218) predominantemente femenina (84,6%), con una edad media de 33 años, que
presenta una SP total del 66,6%. Los más satisfechos
tienen entre 21 y 30 años de servicio. Sin embargo, en
relación con el salario percibido, son los más jóvenes
(22-34 años), los solteros, los que cuentan con menos
tiempo de servicio (≤ 5 años), la categoría de enfermero,
los que prestan 36-45h de cuidados por semana, los que
presentan mayor satisfacción.
Conclusión: Los enfermeros presentan una SP regular,
que se relaciona con la edad, la situación familiar, la categoría profesional, la carga horaria y, principalmente,
con los años de servicio.
Keywords: job satisfaction; nurses; nursing
*MSc., Enfermeira, Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, Serviço de Urgência
Básico de Odemira, 7540-230, Santiago do Cacém, Portugal [claudiasilva312@gmail.
com]. https://orcid.org/0000-0002-4885-6962. Contribuição no artigo: pesquisa
bibliográfica, delineamento da pesquisa, recolha e análise estatística dos dados, discussão
dos resultados e redação do artigo. Morada para correspondência: Rua Maria Madalena
Falcão n.º 23, 7630-127, Odemira, Portugal.
**Ph.D., Professora Coordenadora, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, 1700063, Lisboa, Portugal [tsantos@esel.pt]. https://orcid.org/0000-0002-5344-0136.
Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, delineamento da pesquisa, discussão
dos resultados e redação do artigo.
Revista de Enfermagem Referência
Palabras clave: satisfacción en el trabajo; enfermeros;
enfermería
Recebido para publicação em: 18.10.18
Aceite para publicação em: 06.02.19
Série IV - n.º 20 - JAN./FEV./MAR. 2019
pp. 117 - 128
Introdução
A satisfação profissional (SP) é uma variável
do comportamento organizacional crucial para
melhorar o funcionamento das organizações,
podendo afetar o desempenho e a gestão e, em
consequência, a qualidade dos serviços prestados à população (Mendes, 2014). Neste sentido,
para que se possam definir estruturas de suporte
e políticas organizacionais que promovam esta
variável, é imperativo que a conheçamos. A crise
económica e financeira que se iniciou em 2008
exigiu uma redução dos gastos, o que levou ao
desinvestimento nos serviços de saúde. Neste
período os enfermeiros viram as condições de
trabalho degradarem-se, refletindo-se também
na remuneração, nomeadamente, devido ao
congelamento de progressão na carreira e à
não atualização de escalões remuneratórios há
mais de 10 anos. Como fator de agravamento,
atualmente a carreira profissional não distingue os diferentes níveis de formação, criando desigualdades entre os enfermeiros. A não
contratação de mais enfermeiros neste período
levou a um aumento da sobrecarga de trabalho, traduzindo-se numa redução de recursos
humanos; Portugal em 2015 apresentava 6,3
enfermeiros por cada 1000 habitantes, valor
muito inferior à média da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE) que é de 9,0 (Ferreira, Fernandez, &
Anes, 2017; Organization for Economic Co-operation and Development, 2017). Tendo em
conta o exposto, o presente estudo teve como
objetivos: avaliar o grau de SP dos enfermeiros
de uma unidade local de saúde (ULS) da zona
sul de Portugal; e identificar a relação entre as
variáveis sociodemográficas e organizacionais
e a satisfação profissional.
Enquadramento
A SP resulta de uma resposta face ao trabalho,
estando relacionada com a produtividade, o
compromisso organizacional, a intenção de
sair (do atual emprego e/ou profissão), o burnout, o conflito trabalho-família e a qualidade
dos cuidados (Cunha, Cunha, Rego, Neves, &
Cabral-Cardoso, 2016; Silva & Potra, 2017).
Os líderes desempenham um papel importante na promoção desta variável, através da
criação de ambientes de trabalho que promovam o acesso à informação, os recursos e
oportunidades de formação e desenvolvimento,
constituindo-se como mecanismos mediadores para a prestação de cuidados de qualidade
(Koy, Yunibhand, Angsuroch, & Fisher, 2015;
Laschinger, Heather, & Fida, 2015). Assim, o
conhecimento acerca do que influencia a SP
e o seu efeito assume-se como uma ferramenta de trabalho para as organizações de saúde,
permitindo o delineamento de estratégias para
a melhorar e/ou manter, com vista a controlar
os seus resultados (Silva & Potra, 2017). Adicionalmente ao suporte estrutural e às práticas
de gestão como fatores preponderantes para a
SP dos colaboradores, Spector (2012) classifica
os fatores que a influenciam tendo em conta a
sua origem: de causa pessoal se associados ao
indivíduo, tais como a idade, o género, as habilitações literárias, o estado civil e o tempo de
serviço; e de causa organizacional, como seja o
horário, o trabalho em si mesmo ou a formação
profissional. Neste sentido, o estudo de Ferreira
et al. (2017) revelou que os enfermeiros mais
satisfeitos profissionalmente são os mais jovens,
com menor grau académico, com tempo de
serviço inferior a 10 anos e com remuneração
mais baixa, contrariando o estudo de Moura,
Brás, Anes, e Ferreira (2016) que conclui que
os enfermeiros mais satisfeitos são do género
masculino, de faixas etárias mais elevadas, casados e com filhos e enfermeiros especialistas.
Emerge, assim, a necessidade de avaliar a SP
dos enfermeiros de uma ULS identificando as
variáveis sociodemográficas e organizacionais
determinantes da mesma.
Questões de investigação
Esta investigação orientou-se pelas seguintes
perguntas: qual o nível de satisfação profissional
dos enfermeiros numa ULS? Será que o nível
de satisfação profissional dos enfermeiros de
uma ULS se relaciona com as suas variáveis
sociodemográficas e organizacionais?
Metodologia
Foi realizado um estudo descritivo, analítico,
com desenho observacional e transversal, do
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde:
determinantes da satisfação
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
118
tipo quantitativo numa ULS da zona sul de
Portugal. Aplicou-se um questionário, o Instrumento de Avaliação da Satisfação Profissional
(IASP) desenvolvido pelo Centro de Estudos
e Investigação em Saúde da Universidade de
Coimbra, composto por 28 questões divididas
em cinco grupos. O primeiro foca-se nos fatores organizacionais: carga horária e tempo de
serviço na saúde. O segundo, terceiro e quarto
permitem a avaliação da SP quanto às três dimensões constituintes, através da aplicação das
escalas: Qualidade do Local de Trabalho (QLT),
Qualidade da Prestação de Cuidados (QPC)
e Melhoria Contínua da Qualidade (MCQ),
sendo que a soma de todas corresponde à SP
total. Estas escalas subdividem-se em subescalas
e/ou, facetas e itens que as caracterizam, tal
como representado na Tabela 1.
Tabela 1
Escalas, subescalas, facetas e itens constituintes do IASP
Escalas Subescalas
Política de
Recursos
Humanos
QLT
Facetas
Órgãos de
Gestão
“reconhecimento dos órgãos de direção”; “comunicação, queixas e
objeções”; “planificação das atividades”
Recursos
Humanos
“continuidade do pessoal”; “proporção hierárquica”; “número de
profissionais”; “trabalho de equipa”; “comunicação”
Estado de
Espírito
“do seu”; “dos outros”
Coordenador
“abertura”; “razoabilidade”; “inovação”; “liberdade”; “atitude positiva”;
“atitude construtiva”; “investimento na qualidade”; “apoio”;
“expectativas”; “conhecimentos”; “circulação da informação”
Vencimento
“em relação à sua responsabilidade”, “à sua experiência”; e “ao seu
desempenho”
Local Trabalho
Equipamento
“limpeza”; “segurança”; “organização do espaço e equipamento”
Moral
Recursos
Tecnológicos
e Financeiros
Itens
QPC
“atendimento”; “coordenação dos cuidados”; “capacidade dos
profissionais de saúde”; “sensibilidade”; “condições das instalações”;
“informações”; e “custo dos cuidados”
MCQ
“melhoria da qualidade”; “bem à primeira vez”; “conhecimentos
sobre qualidade”; “ambiente de trabalho”; “diminuir o desperdício”;
“partilha de ideias”; “orgulho da profissão”; e “expectativas na
qualidade”
Nota. MCQ = Melhoria Contínua da Qualidade; QLT = Qualidade do local de trabalho; QPC = Qualidade da
prestação de cuidados.
As respostas são dadas numa escala de Likert de 5
pontos, em que: 1 = mau; 2 = regular; 3 = bom; 4 =
muito bom; 5 = excelente. A cada item desta escala
corresponde uma escala percentual de 0 a 100%,
de acordo com os seguintes critérios: mau - 0%;
regular - 50%; bom - 70%; muito bom - 90%; excelente - 100%. O valor obtido varia entre 0 e 100%,
sendo que quanto maior o valor, maior a SP. O
grupo cinco agrega as questões de enquadramento
sociodemográfico: género; idade; situação familiar;
agregado familiar; número de filhos; formação aca-
démica; e categoria profissional. O IASP apresenta
boa fiabilidade, exibindo valores de Cronbach em
estudos anteriores, na maioria das situações, acima de
0,90. Neste estudo obtiveram-se valores de Cronbach
superiores a 0,88 e a 0,90 em todas as escalas, subescalas e facetas. A recolha de dados decorreu em
janeiro de 2017 tendo os questionários sido entregues
em papel ao enfermeiro chefe/responsável de cada
unidade ou aos participantes.
Os questionários preenchidos foram colocados pelos
próprios participantes em urnas seladas. A população
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
CLÁUDIA ISABEL NEVES PACHECO DA SILVA et al.
119
alvo correspondia à totalidade dos enfermeiros (344),
contudo, considerados os recursos humanos efetivos
no período de recolha de dados, foram entregues 311
questionários (população acessível). Os enfermeiros
preencheram 218 questionários, correspondendo ao
número da amostra final. O tratamento estatístico
dos dados foi realizado com recurso ao programa
IBM SPSS Statitics, versão 24.0 for Windows.
Utilizaram-se medidas estatísticas descritivas e de
comparação como os testes estatísticos t-Student
(t) e One-Way ANOVA (F), pois, de acordo com
Marôco (2007), para amostras grandes estes são
bastantes robustos mesmo quando a distribuição
da variável não é do tipo normal. O teste Post Hoc
de Sheffe (Post Hoc) foi utilizado para determinar em
que grupos ocorriam as diferenças estatisticamente
significativas.
Relativamente à região de rejeição, foi considerado o nível de significância p = 0,05, com
um intervalo de confiança de 95%. Foram tidos em conta os procedimentos éticos e legais,
nomeadamente, o consentimento informado,
a confidencialidade e a privacidade dos dados.
Os questionários foram entregues com uma
carta de apresentação, contendo os objetivos
do estudo e não se solicitou a identificação dos
participantes, sendo os dados sociodemográficos
de preenchimento facultativo em que apenas os
investigadores tiveram acesso a essa informação.
Foi solicitada autorização ao autor para utilização da escala, tendo a mesma sido concedida.
Foi obtido o parecer positivo da Comissão de
Ética e autorização do Conselho de Administração da ULS para a realização do estudo.
Resultados
Caracterização sociodemográfica e profissional
Participaram no estudo 218 enfermeiros, tendo
a taxa de resposta sido de 70,1%. A amostra
é composta por 84,7% profissionais do sexo
feminino, sendo a média de idades de 33 anos.
Relativamente à situação familiar, 64% dos
enfermeiros são casados ou vivem em união de
facto, 28% são solteiros e 8% estão separados
/divorciados. A maioria integra um agregado
familiar de três ou quatro elementos (56%),
seguidos de um a dois elementos (41%) e 3%
com cinco ou mais elementos. Mais de metade
dos participantes (59%) tem um a dois filhos,
39% não tem filhos, 2% tem três ou quatro.
No que respeita à formação académica, 58%
tem licenciatura, 23% tem uma pós-graduação
e 17% doutoramento, 2% bacharelato. Quanto
à categoria profissional, 90% são enfermeiros
ou enfermeiros graduados, 7% são enfermeiros especialistas e 3% são enfermeiros chefes.
Constatou-se que 39,9% dos profissionais da
amostra trabalham na área dos cuidados de saúde primários, 57,8% nos cuidados hospitalares
e 2,3% nos cuidados continuados. Metade dos
participantes realizam 35 horas de cuidados,
36,9% realiza entre 36 a 40 horas, e 8,5%,
entre 41 a 45 horas. No que respeita aos anos
de serviço, 20,3% exercem até há 5 anos, 24,3%
possuem entre 6 a 10 anos de experiência, 29%
entre 11 a 20 anos, 21% entre 21 e 30 anos e
6% tem 31 ou mais anos. A maioria dos participantes não acumula de funções (81,3%).
Satisfação profissional
A satisfação média com as dimensões QLT
e QPC apresentaram um nível regular, com
61,8% e 67,8%, respetivamente, enquanto
na dimensão MCQ se verificou uma satisfação média de bom (70,4%). A maioria dos
participantes (77%) apresenta uma satisfação
classificada entre regular e bom relativamente à
dimensão QLT, e 2% classifica-a de muito bom.
Identificou-se a existência de 21% que classifica
a sua satisfação com o local de trabalho como
mau (Figura 1).
A média da satisfação com a subescala Política
de Recursos Humanos foi de 55,6%, correspondendo a uma classificação de regular. Relativamente à faceta Órgãos de gestão, a média
de satisfação é de 51,4% (regular), sendo o
item com maior classificação a “planificação das
atividades” (50%) e os com menor o “reconhecimento da direção” e “comunicação” (37,9%
cada). A faceta Recursos humanos obteve a
satisfação regular com o valor de 59,20%, sendo
os itens com maior satisfação a “comunicação” e “trabalho em equipa” (respetivamente,
63,2% e 62,4%) e o com menor o “número de
recursos humanos” (29,5%). Quanto à subescala Moral, verificou-se a satisfação média de
70,8%, classificada como bom. A faceta Estado
de espírito apresenta uma média de satisfação
de 68,6% (regular), sendo que ambos os itens
obtiveram classificações de regular (65,2% e
69,4%). A faceta Coordenador obteve uma
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde:
determinantes da satisfação
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satisfação média de 71,6%. Os itens desta fa- satisfação foram a “capacidade dos profissionais”
ceta com maior satisfação foram a “abertura” e “sensibilidade”, tendo obtido a classificação
e “liberdade” (75,6% cada) e os com menor o de, respetivamente, 76,2% e 72,8%. Neste
“investimento na qualidade”, “atitude positiva” âmbito o menor valor encontrado refere-se ao
e “atitude construtiva” (respetivamente, 59%, item “informações” (59,2%). No que respeita
59% e 58,2%). A subescala Recursos Tecno- à dimensão MCQ a maioria dos participantes
lógicos
e Financeiros apresenta uma satisfação (74%) continua a apresentar uma satisfação
horas de cuidados, 36,9% realiza entre 36 a 40 horas, e 8,5%, entre 41 a 45 horas. No
média de 52,6%, classificada como regular. profissional que varia entre as classificações de
que respeita
aos anos
de serviço,
20,3%deexercem
atée bom,
há 5 cerca
anos,de
24,3%
A faceta
Vencimento
obteve
uma média
regular
13% possuem
classifica-a de muito
satisfação
de
22%,
sendo
que
todos
itens
obbom,
e
a
faixa
de
participantes
a classifica
entre 6 a 10 anos de experiência, 29% entre 11 a 20 anos, 21% entre 21 e 30que
anos
e
tiveram classificações de mau (em relação à como mau situa-se nos 13% (Figura 1). Dos
6% tem 31 ou mais anos. A maioria dos participantes não acumula de funções
experiência - 29,5%; ao desempenho - 17%; itens integrantes na escala da MCQ, o que
(81,3%).
responsabilidade
- 17%). Relativamente à fa- obteve melhor classificação foi o item “orgulho
ceta Local de trabalho e equipamento a média na profissão”, com 76,8%. Os restantes itens
de satisfação
foi de 63,0%, classificado como obtiveram classificações semelhantes, variando
Satisfação profissional
regular, sendo o item com maior satisfação a entre os valores de 62,4% a 71,4%. No que se
A satisfação
média
com as
dimensões
QLT e refere
QPC apresentaram
um nívelque
regular,
“limpeza”
(78,2%)
e o com
menor
o “equipaàs subescalas/facetas
constituem a
dimensão
QLT
representadas
na
mento”
(62,4%).
Também
na
dimensão
QPC
com 61.8% e 67,8%, respetivamente, enquanto na dimensão MCQ se verificou Tabela
uma 2, os
a maioria dos participantes (82,4%) apresenta participantes apresentaram maior satisfação na
satisfação média de bom (70,4%). A maioria dos participantes (77%) apresenta uma
uma satisfação profissional classificada entre subescala Moral e com as suas facetas Coordesatisfação
regular
bom relativamente
à dimensão
e 2% (68.6%),
regular
e bom,classificada
cerca de 8%entre
como
muitoe bom
nador (71,6%)
e EstadoQLT,
de espírito
tendo-se
identificado
também
uma
faixa
de
e
menor
satisfação
com
subescala
classifica-a de muito bom. Identificou-se a existência de 21% que classifica a sua Recursos
10% que a classifica como mau (Figura 1). Tecnológicos e Financeiros e com a sua faceta
o local de trabalho como mau (Figura 1).
Os satisfação
itens com com
melhor
classificação quanto à Vencimentos, com 22,0% (Tabela 2).
Figura 1. Satisfação profissional por dimensão.
Figura 1. Satisfação profissional por dimensão.
A média da satisfação com a subescala Política de Recursos Humanos foi de 55,80%,
correspondendo a uma classificação de regular. Relativamente à faceta Órgãos de
gestão, a média de satisfação é de 51,60% (regular), sendo o item com maior
classificação a “planificação das atividades” (50%) e os com menor o “reconhecimento
da direção” e “comunicação” (37,9% cada). A faceta Recursos humanos obteve a
satisfação regular com o valor de 59,20%, sendo os itens com maior satisfação a
“comunicação” e “trabalho em equipa” (respetivamente, 63,2% e 62,4%) e o com
Revista
de Enfermagem
Referência
- IV - n.º 20 verificou-2019
CLÁUDIA de
ISABEL
NEVES PACHECO
DA SILVA et al.
menor o “número
recursos
humanos”
(29,5%).
Quanto
à subescala
Moral,
121
Tabela 2
Satisfação profissional da dimensão QLT por subescalas e facetas
Subescalas
Facetas
PRH: 55,6%
(M: 2,28; DP ± 0,66)
Órgãos de Gestão - Média: 51,4% (M: 2,07; DP ± 0,82)
Moral: 70,8%
(M: 3,04; DP ± 0,99)
Estado de Espírito - Média: 68,6% (M: 2,90; DP ± 0,82)
RTF Média: 52,6%
(M: 2,13; DP ± 0,65)
Vencimento - Média: 22,0%
Recursos Humanos - Média: 59,2% (M: 2,46 ; DP ± 0,74)
Coordenador - Média: 71,6% (M: 3,06; DP ± 1,09)
(M: 1,44: DP ± 0,67)
Local Trabalho Equipamento - Média: 63,0% (M: 2,65; DP ± 0,89)
Nota. DP = Desvio Padrão; M = Média; PRH = Política de Recursos Humanos; RTF = Recursos Tecnológicos e Financeiros.
faceta Estado de espírito, também se verificou
diferença do nível médio de satisfação (p =
0,036), voltando a ser o grupo de 45 aos 54 anos
(73,03%) que apresenta maior satisfação, agora
em relação ao grupo com ≥ 55 anos (53,75%).
Para a faceta Vencimento (p = 0,001), os grupos
dos 22 aos 34 anos (22,02%) e de ≥ 55 anos
(45,83%) apresentam maior satisfação que o
grupo de 35 aos 44 anos (10,33%). No que
se refere ao estado civil verificaram-se diferenças estatisticamente significativas na subescala
Recursos Tecnológicos e Financeiros e faceta
Vencimento (p = 0,010 e p = 0,007, respetivamente), sendo que os solteiros (56,8% e 33,9%,
respetivamente) apresentam maior satisfação
que os casados/união de facto (52,5% e 17,7%,
respetivamente), conforme a Tabela 3.
Tendo em conta os resultados obtidos, a média
total da satisfação com a Unidade Local de Saúde
foi de 66,6%, sendo classificada como regular.
Determinantes da SP e relação com variáveis
sociodemográficas e organizacionais
Relativamente aos fatores sociodemográficos,
verificam-se melhores pontuações de SP no sexo
feminino, no entanto sem significância estatística. No que se refere à idade, as diferenças no
nível médio de satisfação são estatisticamente
significativas para as subescalas Moral e a faceta
Coordenador (p = 0,020 e p = 0,016, respetivamente), com o grupo etário dos 45 aos 54 anos
a apresentar maior satisfação (79,9% e 81,14%,
respetivamente) que o grupo dos 35 aos 44
anos (65,89% e 65,56%, respetivamente). Na
Tabela 3
Satisfação profissional segundo a idade e situação familiar
Situação familiar
Média (%)
Faceta
Subescala
Escala
Idade
∑
n
QLT
PRH
MO
RTF
196
Teste
22-34 35-44 45-54 ≥ 55
(1)
(2)
(3)
(4)
105
50
33
F
p
8
Média (%)
Post
Hoc
∑
Solteiro (1)
201
57
Teste
Casado/ Separado /
União Divorciado
(2)
(3)
128
16
F
p
62,02 61,75 59,35 67,42 60,60 2,388 0,070
61,97 62,75
61,73
61,08
0,147 0,863
56,01 54,49 56,26 61,60 52,22 2,578 0,055
55,91 55,52
55,84
57,78
0,181 0,835
OG 52,22 50,29 53,40 57,88 42,19 2,210 0,088
52,06 51,75
52,50
49,22
0,225 0,799
RH 59,05 57,85 58,24 64,88 56,50 1,988 0,117
Post
hoc
58,98 58,79
58,41
64,25
1,075 0,343
71,36 71,30 65,89 79,90 71,54 3,367 0,020* 3 > 2 71,24 71,11
71,10
67,95
0,244 0,784
COO 71,87 71,84 65,56 81.14 74,77 3,526 0,016* 3 > 2 71,74 71,21
72,42
68,18
0,295 0,745
EE 68,56 68,38 68,37 73,03 53,75 2,896 0,036* 3 > 4 68,55 70,53
67,73
68,00
0,548 0,579
50,63
52,50
4,673 0,010* 1 > 2
52,36 53,35 50,80 51,90 51,07 0,485 0,693
52,52 56,77
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde:
determinantes da satisfação
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
122
VEN 22,02 28,41 10,33 13,64 45,83 5,916 0,001* 1,4 > 2 22,22 33,92
17,58
17,71
5,134 0,007* 1 > 2
LTE 62,53 62,33 63,30 64,24 53,13 0,888 0,449
62,74 66,67
60,82
64,06
2,239 0,109
QPC
68,15 66,87 68,63 69,46 76,43 1,098 0,351
67,97 67,30
67,87
102,68
0,376 0,687
MCQ
70.65 69,38 69,30 75,61 75,31 1,540 0,206
70,50 71,38
70,61
66,56
0,541 0,583
Nota. COO = Coordenador; EE = Estado de Espírito; F = One-Way ANOVA; LTE = Local de Trabalho e Equipamento; M = Média; MCQ = Melhoria Contínua da Qualidade; MO = Moral; n = Número; OG = Órgão de Gestão;
PRH = Política de Recursos Humanos; Post Hoc = Post Hoc de Sheffe; p = Valor de p; RH = Recursos Humanos; RTF
= Recursos Tecnológicos e Financeiros; QLT = Qualidade do Local de Trabalho; QPC = Qualidade da Prestação de
Cuidados; VEN = Vencimento; ∑ = Somatório. * Significativo a 5%.
Na categoria profissional as diferenças estatisticamente significativas foram identificadas
apenas na faceta Vencimento (p = 0,001); os
enfermeiros com categoria de “enfermeiro”
apresentam maior satisfação (29,85%) do
que os “enfermeiros graduados” (7,75%). Na
formação académica não se verificaram diferenças com relevância estatística (Tabela 4).
Tabela 4
Satisfação profissional segundo a categoria profissional e formação académica
∑
n
203
QLT
Formação Académica
Média (%)
Faceta
Subescala
Escala
Categoria Profissional
Teste
Com
Chefe Espec.
Gradu Enf.
Espec.
(1)
(2)
(4)
(5)
(3)
6
15
29
43
F
p
110
Média (%)
Post
Hoc
∑
201
Bach Licen
(1)
(2)
3
116
Teste
PG
(3)
Dout
(4)
47
35
F
p
61,92
71,49 63,43 61,94 58,49 62,42 1,569 0,184
61,88 61,49 61,98 60,61 63,26 0,258 0,855
55,79
66,67 57,85 57,05 54,44 55,10 1,342 0,256
55,74 53,70 55,29 55,70 57,43 0,248 0,863
OG
51,85
59,17 57,33 54,66 49,42 50,77 1,235 0,297
51,94 55,00 50,99 52,98 53,43 0,322 0,810
RH
58,96
72,67 58,27 58,97 58,19 58,59 1,312 0,267
58,78 52,67 58,63 58,17 60,63 0,370 0,775
PRH
MO
71,24
86,41 72,87 70,05 66,63 72,27 1,587 0,179
71,21 74,62 71,42 68,99 73,21 0,344 0,793
COO
71,74
87,88 72,67 70,88 66,75 72,86 1,480 0,210
71,72 77,27 71,87 69,11 74,26 0,445 0,721
EE
68,51
78,33 74,00 65,53 66,05 68,99 1,383 0,241
68,40 60,00 68,96 68,30 67,43 0,322 0,810
52,48
50,00 53,05 53,15 47,34 53,74 1,177 0,322
52,44 42,86 52,86 51,88 52,29 0,239 0,869
VEN
22,09
22,22 27,78 10,92
LTE
62,71
58,33 62,00 67,24 60,81 62,59 0,701 0,592
62,59 60,00 62,41 62,23 63,86 0,091 0,965
QPC
67,75
82,38 69,24 70,49 64,08 67,38 2,243 0,066
67,81 59,52 67,32 67,20 71,01 0,826 0,481
MCQ
70,40
82,08 71,17 70,78 70,30 69,59 0,821 0,513
70,43 71,67 70,87 67,34 73,00 0,853 0,467
RTF
7,75 29,85 4,802 0,001* 5 > 4 22,31 0,00 25,29 20,21 17,14 1,110 0,346
Nota. Bach = Bacharelato; Com Espec.= Com especialidade; COO = Coordenador; Dout = Doutoramento; EE =
Estado de Espírito; Espec.= Especialidade; F = One-Way ANOVA; Licen = Licenciatura; LTE = Local de trabalho e
equipamento; M = Média; MCQ = Melhoria Continua da Qualidade; MO = Moral; n = Número; OG = Órgãos de
Gestão; p = Valor de p; PG = Pós-graduação; PRH = Política de Recursos Humanos; RH = Recursos Humanos; Post
Hoc = Post Hoc de Sheffe; QLT = Qualidade do Local de Trabalho; QPC = Qualidade da Prestação dos Cuidados;
RTF = Recursos Tecnológicos e Financeiros; VEN = Vencimento; ∑ = Somatório. * Significativo a 5%.
Considerando a relação entre a SP e a “carga
horária semanal”, apuraram-se diferenças na
faceta Vencimento (p = 0,000). Os enfermeiros
que realizam entre 36 a 45 horas apresentam
maior satisfação (33,92%) comparativamente
com os que realizam 35h ou entre 46 a 55h. No
que se refere à satisfação profissional segundo
CLÁUDIA ISABEL NEVES PACHECO DA SILVA et al.
o tempo de serviço verificaram-se diferenças
estatisticamente significativas nas três dimensões constituintes da SP (QTL – p = 0,0039;
QPC – p = 0,003; MCQ – p = 0,007). Relativamente à QLT, os enfermeiros com 21 a 30
anos de experiência apresentam maior satisfação
(61.89% e 66%, respetivamente) quanto à su-
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
123
bescala Política de Recursos Humanos e faceta
Recursos humanos do que os enfermeiros com
5 ou menos anos de serviço (57,28% e 60,22%,
respetivamente). Contudo, na faceta Vencimen-
to os enfermeiros mais jovens (≤ 5 anos) estão
mais satisfeitos (40,74%) que os com 21 a 30
anos de serviço (9,01%), ou mesmo que os com
11 a 20 anos (12,09%; Tabela 5).
Tabela 5
Satisfação profissional segundo a carga horária semanal e anos na saúde
Faceta
Escala
Subescala
Carga Horária Semanal
Média (%)
n
QLT
PRH
MO
Anos na Saúde
Teste
∑
35h
(1)
36 45h
(2)
4655h
(3)
214
107
85
22
F
p
Média (%)
Post
Hoc
∑
≤5
(1)
177
36
Teste
6-10 11-20 21-30
(2)
(3)
(4)
43
51
37
≥ 31
(5)
F
p
10
61,77 61,80
63,28 55,62 2,811 0,062
62,24
65,31 60,12 59,02 66,49 60,96 2,585 0,039*
55,75 56,73
55,85 50,42 2,033 0,134
56,21
57,28 53,20 54,10 61,89 54,94 2,974 0,021* 4 > 2
OG 51,73 52,48
52,24 40,34 1,453 0,236
52,12
53,61 47,67 50,10 56,76 53,00 1,662 0,161
RH 58,98 60,13
58,57 54,76 1,261 0,286
59,57
60,22 56,51 57,29 66,00 58,00 2,659 0,035* 4 > 2
70,92 70,91
72,89 63,43 2,051 0,131
71,66
74,53 70,18 66,74 77,44 71,54 1,885 0,115
COO 71,36 71,39
73,51 62,89 2,148 0,119
72,10
74,70 70,97 66,65 78,54 72,18 1,848 0,122
EE 68,54 68,32
69,40 66,36 0,307 0,736
66,26
73,61 65,81 67,80 71,35 68,00 1,464 0,215
52,48 51,50
54,50 48,70 1,945 0,146
52,65
58,49 50,33 51,12 52,16 51,14 2,838 0,026*
RTF
Post
Hoc
VEN 21,42 13,71
9,01
___
___
33,92 10,61 11,053 0,000* 2 > 1,3 21,28
40,74 25,58 12,09
LTE 62,92 63,50
62,71 60,91 0,204 0,816
63,25
67,64 57,91 63,33 66.08 59,50 2,140 0,078
25,00 6,669 0,000* 1 > 3,4
QPC
67,63 68,96
67,72 60,75 2,781 0,064
68,69
71,98 63,10 66,64 75,32 65,71 4,094 0,003* 4 > 2
MCQ
70,22 69,98
71,50 66,31 0,909 0,405
71,19
76,32 66,51 67,99 76,55 69,17 3,679 0,007* 4 > 2
Nota: COO = Coordenador; EE = Estado de Espírito; F = One-way ANOVA; LTE = Local de Trabalho e Equipamento; M = Média; MCQ = Melhoria Contínua da Qualidade; MO = Moral; n = número; OG = Órgão de Gestão;
Post Hoc = Post Hoc de Sheffe; p = Valor de p; PRH = Política de Recursos Humanos; QLT = Qualidade do Local de
Trabalho; QPC = Qualidade da Prestação dos Cuidados; RH = Recursos Humanos; RTF = Recursos Tecnológicos
e Financeiros; VEN = Vencimento; ∑ = Somatório. * Significativo a 5%.
Discussão
A SP total obtida foi de 66,6%, sendo considerada como regular. Apesar de este valor ser
inferior ao de Azevedo (2012; 71,6%) ou Fonseca (2014; 71,5%), aproxima-se do verificado
no estudo de Matos (2012; 67,7%) que se situa
também no grau regular. A SP das dimensões
constituintes, QLT (61,6%), QPC (67,8%) e
MCQ (70,4%), mostrou-se inferior à verificada no estudo de Fonseca (2014; QLT: 67,42%,
QPC: 78,28% e MCQ: 80,71%), e Azevedo
(2012; QLT: 65,56%, QPC: 74,12% e MCQ:
75,37%), sendo, contudo, semelhante o padrão
em crescendo de SP identificado ao longo das
escalas. Assim, os enfermeiros encontram-se
mais satisfeitos com os aspetos da MCQ e QPC
do que com os relacionados com a QLT. Explorando os processos que influenciam a SP e,
em particular, os que se relacionam com as
facetas do IASP, segundo Laschinger et al.
(2015), a liderança autêntica, através do empoderamento estrutural e suporte das práticas
profissionais, pode influenciar a perceção da
QPC, e esta, por sua vez, contribui fortemente para a SP dos enfermeiros. A QPC e a MCQ
relacionam-se diretamente, através, nomeadamente, das questões do ambiente de trabalho,
como sejam as medidas de suporte da prática
clínica e as relações interpessoais. Estudos recentes corroboram com a existência de uma
forte relação positiva entre o ambiente de trabalho e a SP (Koy et al., 2015; You et al., 2013).
A satisfação com a MCQ constituiu o valor
mais elevado (70,4%) alcançando a classificação de bom. A faceta Órgãos de gestão obteve
o menor valor médio positivo de satisfação
(51,4%), seguindo-se os Recursos humanos
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde:
determinantes da satisfação
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
124
(59,2%), contribuindo também para o menor
valor da QLT, sendo, portanto, este resultado
sustentado pela literatura. A subescala com
menor classificação é a Política de Recursos
Humanos (55,8%). Entre as facetas avaliadas,
o Estado de espírito e o Coordenador, constituindo a subescala Moral, ostentam os valores
mais elevados de satisfação entre os profissionais, com, respetivamente, 68,6% e 71,6%,
tendo o mesmo sido verificado por Fonseca
(2014; 79,77% e 80,74%), Azevedo (2012;
73,49% e 73,43%) e Matos (2012; 72,9% e
72,1%). A faceta Coordenador, obteve a menção qualitativa de bom em que os itens com
melhor classificação são a “abertura” e “liberdade”, retratando um coordenador com abertura e disponibilidade para comunicar, e que
confia nos enfermeiros conferindo liberdade
para que tomem decisões quando necessário.
Os itens que obtiveram menor classificação
foram: “atitude positiva”, “atitude construtiva”
e “investimento na qualidade”. Apesar da faceta Estado de espírito apresentar uma classificação de regular, trata-se de um valor elevado
(68,6%). Seria expectável que assim fosse, pois
entre 2016 e 2017, apesar da ausência de valorização remuneratória, registou-se o maior
número de enfermeiros especialistas (23% do
total de enfermeiros), revelando empenho e
envolvimento com o exercício das funções
(Observatório Português dos Sistemas de Saúde, 2018). Por fim, a SP com a subescala Recursos Tecnológicos e Financeiros obteve o
nível mais baixo da escala QLT, sobretudo
devido à faceta Vencimento, a única com valor
negativo (22%), classificada como mau. Este
resultado é transversal a vários estudos da
satisfação profissional dos enfermeiros, tais
como em Fonseca (2014), em que se obteve o
valor de 39,01%, de Azevedo (2012; 36,78%),
ou de Matos (2012; 35,2%). A faceta Local de
trabalho e equipamento, obteve um valor superior (62,8%) ao verificado em Fonseca (2014;
53,24%), em Matos (2012; 53,7%) ou Azevedo (2012; 60,9%). Considerando os fatores
sociodemográficos estudados, contrariamente
ao suportado na literatura por Spector (2012)
não se verificaram diferenças estatisticamente
significativas na SP segundo o sexo ou formação académica. Por outro lado, no que se refere à idade e situação familiar, essa relação foi
identificada. Na variável idade, verificaram-se
CLÁUDIA ISABEL NEVES PACHECO DA SILVA et al.
diferenças nas facetas Coordenador e Estado
de espírito, que constituem a subescala Moral,
e na faceta Vencimento. No estudo de Fonseca
(2014) também se verificou relação com a idade, embora em diferentes facetas, tendo apenas
em comum o que respeita ao Vencimento, mas
nos estudos de Azevedo (2012) e Matos (2012)
tal não se verificou. Os enfermeiros com idades
entre 45-54 anos apresentam maior satisfação
face ao Coordenador e Estado de espírito e,
consequentemente, face à subescala Moral,
classificando-a como boa. A literatura diz-nos
que a causa de maior satisfação dos trabalhadores mais velhos se relaciona com uma modulação das expectativas face ao trabalho ao
longo da vida, podendo induzir um decréscimo
no grau de exigência face ao Estado de espírito e Coordenador (Mendes, 2014). Face ao
Estado de espírito, os participantes com menor
satisfação têm idade ≥ 55 anos, correspondendo à menção qualitativa de regular. O facto de
ter sido apresentado um grupo etário com idade ≥ 55 anos permitiu identificar uma pequena parte da amostra (n = 8), apesar de mais
velha, em que a SP tem um comportamento
inverso ao expectável. Este achado poderá dever-se à alteração da idade de reforma, cujo
agravamento se iniciou em 2007, conduzindo
a uma alteração do que poderia ser o projeto
de vida dos profissionais, no início e ao longo
da maioria da sua carreira contributiva (Decreto-Lei no 187/2007 de 10 de maio, 2007).
O estudo de Ferreira et al. (2017) concluiu que
os enfermeiros mais satisfeitos são os mais velhos e os mais jovens, em comparação com os
de idade intermédia. De facto, verificou-se uma
maior satisfação entre o grupo etário mais jovem
(22-34 anos), mas apenas quanto à faceta Vencimento. O grupo etário intermédio (35 a 44
anos) é o que apresenta menor satisfação neste
campo, bem como na faceta Coordenador. Este
resultado poderá relacionar-se com as diferenças encontradas na SP face à situação familiar,
pois a idade média para o primeiro casamento
é de 32,8 anos para os homens e 31,3 anos para
as mulheres (Instituto Nacional de Estatística,
2017), sendo precisamente os participantes
nesta faixa etária que constituem o grupo de
casados/união de facto, e os menos satisfeitos.
Sendo um grupo que se encontra sobrecarregado com a educação dos filhos e, possivelmente, com a geração anterior, colocam-se desafios
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
125
no equilíbrio entre a vida familiar e profissional
que poderão contribuir para a sua menor satisfação. Se por um lado, necessitam de capital
disponível para fazer face à educação dos filhos
e apoio dos mais velhos, por outro também necessitam de tempo disponível para dar suporte
a ambas as gerações. Este resultado é congruente com o decréscimo do indicador balanço vida-trabalho que se tem verificado desde 2011,
podendo conduzir à insatisfação profissional. A
atenção individual por parte dos gestores, a oferta de diversos padrões de trabalho e o aumento
do número de profissionais poderão representar
estratégias para a minimização dessa insatisfação
(República Portuguesa, 2018; Silva & Potra,
2017). Estes dados correlacionam-se com os
resultados face à categoria profissional, pois verificou-se menor satisfação entre os enfermeiros
graduados comparativamente com os de categoria de enfermeiro, pois o congelamento de
progressão na carreira conduziu à não valorização
remuneratória face à experiência profissional.
Relativamente aos fatores organizacionais, os
resultados estão alinhados com a literatura, tendo-se verificado relação com a variável tempo
de serviço e carga horária. No que respeita a esta
última, a estagnação da remuneração justifica a
maior satisfação face ao Vencimento, dos enfermeiros que realizam entre 36-40 horas por auferirem valor líquido superior quando comparados com os que realizam 35 horas. Quando
comparados com os que realizam 40, ou mais
horas, também apresentam maior satisfação pois,
possivelmente, devido aos escalões de incidência
do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRS) a relação trabalho realizado e
rendimento auferido tornar-se-á prejudicial. A
literatura estabelece correlações muito baixas
entre a SP e o vencimento, contudo diz-nos que
a verificação de relação não se deve propriamente ao salário, mas à justiça percebida comparativamente aos restantes colaboradores (Spector,
2012). A carga de trabalho está relacionada com
níveis baixos a moderados de SP tal como os
verificados no presente estudo, podendo ser
agravados pela concomitância do trabalho por
turnos (Gouzou, Karanikola, Lemonidou, Papathanassoglou, & Giannakopoulou, 2015). Na
relação da SP com a variável tempo de serviço
verificaram-se diferenças estatisticamente significativas relativamente às três dimensões. A par
da justificação apresentada para o fator idade,
os profissionais mais velhos tendem a expressar
maior SP pela alteração das expectativas almejadas ao longo da vida, tendo sido notória essa
diferença na faceta Recursos humanos e nas
escalas QPC e MCQ, em que se verificou que
os enfermeiros mais satisfeitos têm entre 21-30
anos de serviço (Mendes, 2014). Contudo, face
ao vencimento, os enfermeiros com menor tempo de experiência (≤ 5 anos) são os que apresentam maior satisfação quando comparados com
as restantes faixas etárias. Este resultado pode
dever-se à conjugação das justificações apresentadas anteriormente, na medida em que os enfermeiros com menos tempo de serviço, possivelmente corresponderão aos enfermeiros com
a categoria de enfermeiro, solteiros, sem filhos
e/ou menor agregado familiar, e, portanto, com
menores encargos familiares. Os resultados deste estudo apresentam semelhanças com os estudos de Ferreira et al. (2017) e Moura et al. (2016)
na medida em que, se por um lado, são os mais
jovens e com menos tempo de serviço que se
encontram mais satisfeitos face ao vencimento,
por outro, face à Moral, já são os mais velhos
que apresentam maior satisfação. Contrariamente ao estudo de Moura et al. (2016) os enfermeiros casados apresentam menor satisfação face
ao vencimento e não se verificou relação com o
género ou categoria profissional.
Foi identificada como limitação do estudo a extensão do instrumento de colheita de dados que
dificultou a leitura e apresentação dos resultados.
Conclusão
Os enfermeiros da ULS apresentam uma SP
regular, estão menos satisfeitos com a QLT, particularmente no que se refere ao vencimento e
órgãos de gestão, e mais satisfeitos com aspetos
da MCQ. Os enfermeiros consideram que o
vencimento não se adequa à formação académica, experiência, desempenho ou responsabilidades assumidas e almejam uma melhoria
na comunicação e reconhecimento por parte
dos órgãos de direção. Por outro lado, os enfermeiros identificam a relação estabeleciada
com a chefia intermédia como fonte de SP, pela
abertura e disponibilidade para a comunicação
podendo, assim, concluir-se que estas figuras são
fundamentais para a manutenção da SP nesta
ULS. Já quanto à prestação de cuidados esta é
Satisfação profissional dos enfermeiros numa unidade local de saúde:
determinantes da satisfação
Revista de Enfermagem Referência - IV - n.º 20 -2019
126
percecionada, na sua essência, com qualidade,
o que poderá levar à conclusão que a natureza
do trabalho de enfermagem poderá suplantar-se
às insatisfações constatadas. A SP apresenta relação com algumas variáveis sociodemográficas
e organizacionais. Os enfermeiros com tempo
de serviço (na saúde; 21 a 30 anos) estão mais
satisfeitos, contudo, quanto ao vencimento, a
maior satisfação surge entre os enfermeiros a
exercer há menos tempo (≤ 5 anos).
Do mesmo modo, os enfermeiros mais velhos (45
- 54 anos), também se encontram mais satisfeitos
face à moral, e os mais jovens (22 - 34 anos) face
ao vencimento. Destaca-se a faixa etária entre
35 - 44 anos pelo mais baixo nível de satisfação
nestas áreas. A satisfação face aos fatores situação
familiar, a categoria profissional e carga horária,
é apenas modulada face ao vencimento; são os
solteiros, com a categoria de enfermeiro e que
realizam entre 36 a 45 horas de cuidados por
semana os mais satisfeitos. De concluir que, face
à heterogeneidade de dimensões e determinantes
da SP é fundamental manter a avaliação da SP nas
organizações de saúde. Este estudo não permite
concluir se os níveis de SP obtidos poderão ser
unicamente influenciados pelas causas estudadas,
contudo, admite-se que poderão dever-se também
aos planos de austeridade nacionais, dado aos
valores baixos de satisfação obtidos nos itens da
faceta Recursos humanos, que se relacionam com
o número de profissionais, proporção hierárquica
e continuidade de pessoal. Assim, considera-se
que o atual contexto de políticas de contenção
financeira também deverá ser tido em conta na
avaliação da SP.
Considerando os resultados obtidos recomenda-se o desenvolvimento de estratégias que
promovam a melhoria da qualidade do local
de trabalho, tais como a promoção de uma comunicação eficaz entre os órgãos de gestão e os
enfermeiros, facilitando o conhecimento das
dificuldades sentidas pelos enfermeiros quer na
vida profissional quer familiar, de modo a que
se possam definir estratégias mais personalizadas
que minimizem o conflito trabalho-família. Sugere-se também a instituição de políticas organizacionais que promovam o aumento de recursos
humanos e melhoria da informação prestada
aos utentes. A nível da investigação sugere-se
a análise da satisfação profissional por área de
cuidados, tendo em conta as especificidades de
cada contexto, nomeadamente, a realização do
CLÁUDIA ISABEL NEVES PACHECO DA SILVA et al.
trabalho por turnos, e a sua relação com outras
variáveis, tais como no equilíbrio família-trabalho, no empenhamento, na produtividade,
na qualidade e satisfação dos utentes.
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