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Suco de laranja reduz o colesterol em
indivíduos normolipidêmicos1
Cholesterol-lowering effect of orange
juice in normolipidemic subjects
Thais Borges CÉSAR 2
Layane Urzedo RODRIGUES3
Milena Salomão Peres de ARAÚJO3
Nancy Preising APTEKMANN 3
RESUMO
Objetivos
Neste estudo foi investigado o efeito do consumo habitual de suco de laranja no perfil dos lípides e lipoproteínas
em homens e mulheres normolipidêmicos.
Métodos
Todos os voluntários (n=29) consumiram 750mL/dia de suco de laranja durante 60 dias. Variáveis bioquímicas
como perfil lipídico, apolipoproteínas, glicose, paraoxonase1 e o tamanho de HDL foram medidas antes e após
o período de suplementação com suco de laranja. Também foram realizadas medidas antropométricas e inquéritos
dietéticos.
Resultados
O consumo crônico de suco de laranja reduziu significativamente o colesterol total nos homens (11%, p<0,05)
e nas mulheres (10%, p<0,05) e o LDL-C nos homens e mulheres (15%, p<0,05). O HDL-C e a apoA-I também
diminuíram, refletindo a redução do colesterol total. Os triacilgliceróis, apo B, PON1, tamanho da HDL, IMC,
gordura corporal e circunferência abdominal não foram modificados com o tratamento com suco de laranja.
Conclusão
Neste estudo, mostrou-se que o suco de laranja apresenta propriedade redutora sobre o colesterol, e foi
sugerido que a associação dos flavonóides cítricos com a vitamina C previne o estresse oxidativo e o
desenvolvimento da aterosclerose.
Termos de indexação: Colesterol. Colesterol-LDL. Lipoproteínas. Suco.
1
Artigo elaborado a partir da dissertação de L.U. RODRIGUES, intitulada “Suco de laranja reduz colesterol e insulina no sangue
de indivíduos saudáveis”. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 2008.
2
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Alimentos e
Nutrição. Rod. Araraquara-Jaú, Km 1, 14801-902, Araraquara, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: T.B. CÉSAR.
E-mail: <tcesar@fcfar.unesp.br>.
3
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Araraquara, SP, Brasil.
Rev. Nutr., Campinas, 23(5):779-789, set./out., 2010
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T.B. CÉSAR et al.
ABSTRACT
Objective
This study investigated the effect of regular orange juice consumption on blood lipids and lipoproteins of
normolipidemic men and women.
Methods
All volunteers (n=29) consumed 750mL of orange juice daily for 60 days. Biochemical variables such as lipid
profile, apolipoproteins, glucose, paraoxonase 1, and HDL size, were measured before and after the orange
juice consumption period. Anthropometric and dietary data were also collected.
Results
Daily consumption of orange juice significantly reduced total cholesterol in men (11%, p<0.05) and women
(10%, p<0.05) and LDL-cholesterol (15%, p<0.05) in men and women. HDL-C and Apo A-I also decreased,
reflecting the reduction in total cholesterol. Triacylglycerols, apolipoprotein B, PON 1, HDL size, BMI, body fat,
and waist circumference were not affected by orange juice consumption.
Conclusion
Orange juice presented cholesterol-lowering activity and the association between citrus flavonoids and vitamin
C may prevent oxidative stress and the development of atherosclerosis.
Indexing terms: Cholesterol. Cholesterol-LDL. Lipoproteins. Juice.
INTRODUÇÃO
Estudos atuais têm mostrado que os flavonóides, um grupo de substâncias não nutritivas
presentes nos alimentos, podem retardar ou prevenir as doenças ateroscleróticas1 devido à atividade antioxidante sobre as Lipoproteínas de Baixa
Densidade (LDL) e consequente ação inibidora na
formação da placa ateromatosa2. Os flavonóides
são compostos naturais encontrados em frutas e
vegetais e por isso extensivamente consumido por
vegetarianos e grupos de indivíduos com amplo
consumo de frutas e vegetais, levando à menor
incidência da doença aterosclerótica nessas populações3. O estudo da atividade metabólica dos flavonóides tem demonstrado ainda a atenuação
do estresse oxidativo em doenças como o câncer,
diabetes mellitus, doenças neurodegenerativas,
aterosclerose, entre outras1,4,5.
O suco de laranja é um alimento singular
devido ao alto conteúdo de vitamina C e a quantidades apreciáveis de outros nutrientes essenciais,
como carotenóides, folato e potássio. As frutas
cítricas, incluindo o suco de laranja, são fontes
dos flavonóides hesperidina e naringinina, que
protegem contra o câncer6 e a aterosclerose5.
Revista de Nutrição
Outro estudo relatou a associação dos flavonóides
cítricos ou flavanonas com redução do risco de
Doença Arterial Coronariana (DAC), redução do
colesterol sanguíneo, inibição da oxidação da LDL
e ácidos graxos e ainda redução da agregação
plaquetária7. A hesperidina é o principal componente flavonóide encontrado exclusivamente nas
frutas cítricas e em quantidades apreciáveis no
suco de laranja8. A hesperidina juntamente com
a naringenina, o segundo mais importante flavonóide das frutas cítricas, exibem ação cardioprotetora indireta por exercer efeito supressor sobre
as espécies reativas de oxigênio in vitro9.
No homem e em animais experimentais,
o suco de laranja e a hesperidina isolada mostraram efeito hipolipidêmico sobre o colesterol total,
LDL-Colesterol (LDL-C) e triacilgliceróis, e aumento
do colesterol da Lipoproteína de Alta Densidade
(HDL-C)10,11. Foi sugerido que as flavanonas são
capazes de reduzir os níveis de colesterol sanguíneo por dois mecanismos básicos: 1) inibição
da Enzima Acetil-Coenzima-A Acil Transferase
(ACAT), responsável pela esterificação do colesterol hepático, e 2) aumento da atividade dos receptores celulares de LDL-C12.
Estudos epidemiológicos têm que a vitamina C contida nas frutas e nos vegetais se associa
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com a redução do risco de DAC13, embora resultados conflitantes tenham sido observados em
estudos com suplementação de vitamina C e mortalidade por DAC14. Porém, a terapêutica com
doses elevadas de vitamina C melhorou a função
vascular de pacientes com doença arterial coronariana15, e a ingestão crônica com o suplemento
melhoraram a função endotelial16. Outro estudo
atribuiu à vitamina C do suco de laranja ação antioxidante em mulheres que consumiram 600mL
de suco por dia17. Foi ainda observado que 500mL
de suco de laranja diariamente aumentou a concentração de vitamina C e reduziu os radicais livres
no sangue de homens18,19.
A hipótese oxidativa da aterosclerose tem
contribuído para ampliar o campo de estudo das
substâncias antioxidantes que podem prevenir o
estresse oxidativo, reduzir a oxidação da LDL e
inibir o desenvolvimento da aterosclerose20. Um
agente antioxidante natural do organismo humano é a enzima Paraoxonase 1 (PON1), que possui
papel fundamental na prevenção da aterosclerose
ao impedir a oxidação da LDL-C e HDL-C e inativação de lípides oxidados da LDL21. Identificada
em tecidos animais em 1946 por Abraham Mazur,
a PON1 é uma esterase/lactonase associada à
HDL22, e sua atividade está inversamente relacionada ao risco de doenças cardiovasculares21.
Experimentos in vitro mostraram que a PON1
pode proteger a HDL da oxidação, preservando a
integridade da partícula, e atenuar a oxidação da
LDL, por hidrolisar os lipídeos oxidados nas lipoproteínas, nos macrófagos e nas lesões ateroscleróticas23. Mas para exercer seu efeito antioxidante
é necessário que haja interação entre a PON1 e
os lipídeos oxidados, o que pode ocorrer de duas
formas: (1) por difusão da PON1 durante a interação entre LDL e HDL; e (2) provável transferência
dos lipídeos oxidados da LDL para a HDL e
posterior ação da PON122.
Este estudo se propôs a investigar o efeito
crônico da ingestão de suco de laranja sobre
alguns fatores de risco para o desenvolvimento
das doenças cardiovasculares. Para tanto, foram
avaliados o perfil dos lípides sanguíneos, apolipo-
proteínas, PON 1, tamanho da partícula de HDL,
variáveis antropométricas e ingestão alimentar de
homens e mulheres adultos submetidos à suplementação com suco de laranja.
MÉTODOS
As medidas antropométricas, dietéticas e
bioquímicas foram realizadas em um grupo de
34 indivíduos saudáveis, recrutados na Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e na
comunidade de Araraquara (SP). O grupo foi composto por 17 homens e 17 mulheres, com idade
entre 25 e 55 anos; destes, apenas 3 homens e 2
mulheres não finalizaram o estudo. Os voluntários
foram informados acerca da finalidade do trabalho e as dúvidas foram esclarecidas. Foi solicitado aos voluntários que não modificassem seus
hábitos de alimentação ou de atividade física,
quando houvesse, durante todo o período experimental. A seleção foi realizada de acordo com as
normas do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de
Araraquara (SP), protocolo CEP/FCFCAr nº 8/2005.
Após a aceitação do termo de consentimento livre
e esclarecido, procedeu-se ao início do experimento.
Avaliação antropométrica: Os participantes
foram pesados e medidos em dois momentos do
estudo: antes e após o tratamento com suco de
laranja durante 60 dias. A massa corporal foi obtida com o indivíduo imóvel, sem sapatos e com
roupas leves, em balança mecânica modelo 31
Filizola®, com capacidade de 150kg e divisão de
100g. A estatura foi registrada em metros e obtida
a partir da fixação em superfície vertical de fita
métrica não extensível, a 100cm do chão; os participantes em pé, descalços, com os calcanhares
juntos, costas retas e braços estendidos ao lado
do corpo para a obtenção da medida. A classificação do estado nutricional foi realizada segundo
o Índice de Massa Corporal (IMC)24. A medida da
circunferência da cintura, tomada na cicatriz umbilical, foi realizada com uma fita métrica não
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extensível, com o indivíduo em pé. A medida foi
feita no momento da expiração e os resultados
foram interpretados com base nos valores limítrofes de 94 cm para os homens e 80 cm para as
mulheres24. O percentual de gordura corpórea foi
obtido por bioimpedância elétrica com o equipamento “Biodinamics, Modelo 310”, da Biodinamics
Corp, EUA, aplicado pela manhã com os participantes em jejum, sem atividade física e após
repouso de 15 minutos25.
Avaliação dietética: Constou da aplicação
de dois recordatórios de 24 horas sendo um em
dia da semana e outro em um dia do final de
semana, aplicados nos períodos anterior e posterior à suplementação com suco de laranja, resultando em quatro recordatórios ao final do experimento. Os resultados foram expressos como a
média do recordatórios do dia da semana e do
final da semana, nos períodos pré e pós-tratamento. Os dados de energia e nutrientes dos
recordatórios foram obtidos com o “Programa de
Apoio à Nutrição - Nutwin”, versão 1.5.2.50,
2005, Escola Paulista de Medicina, Unifesp (SP),
Brasil. A adequação nutricional dos macronutrientes foi avaliada de acordo com as Recomendações Nutricionais26. O consumo diário de 750mL
de suco de laranja foi avaliado semanalmente por
ocasião da entrega do suco concentrado aos
participantes, tendo sido verificada uma adesão
superior a 85,0% em todos os casos analisados.
Durante o período experimental, cinco indivíduos
(três homens e duas mulheres) que não conseguiram tomar a dose diária pré-determinada de
750mL/dia foram encorajados a abandonar o
estudo. A atividade física dos participantes foi
obtida pela descrição individual dos hábitos e frequência diária de exercícios, caminhada, atividades de lazer, entre outros, antes e após o período
experimental e foi avaliada de acordo com os
níveis de atividade física utilizados no cálculo do
gasto energético26.
Suco de Laranja: Os participantes ingeriram 750mL de suco de laranja diariamente durante 60 dias ininterruptos. A dose oferecida foi baseada em estudo realizado com doses crescen-
Revista de Nutrição
tes de suco de laranja (250, 500 e 750mL/dia)
oferecidas a homens, que mostrou que somente
a maior dose (750mL/dia) provocou modificações
significativas no perfil lipídico11, e por isso foi escolhida para aplicação no presente experimento. O
suco concentrado congelado foi cedido pela empresa Citrosuco Paulista S.A., pertencente ao
Grupo Fischer (Matão-SP). Um único lote de suco
de laranja concentrado e congelado (64,89 Brix e
Ratio 17,12), obtido por processo industrial de
extração do suco e concentrado por centrifugação, foi retirado na fábrica em baldes de 26kg. O
suco concentrado foi envasado assepticamente
em garrafas de 900mL que foram armazenadas
a -20ºC. Os participantes foram instruídos a retirar
semanalmente no laboratório experimental uma
garrafa do suco concentrado (900mL), e a diluir
diariamente 125mL com 625mL de água filtrada
em recipiente plástico graduado, fornecido previamente, que deveria ser mantido tampado em
geladeira até o completo consumo. Foi recomendado o consumo de suco sem açúcar, distribuído
ao longo do dia durante as principais refeições.
O suco diluído, sem adição de açúcar, continha
um teor de sólidos solúveis de 12° Brix, 19% de
polpa e pH 3,73. Os principais nutrientes em
750mL de suco de laranja, pronto para beber, de
acordo com as especificações técnicas do produto, foram: 315kcal, 42mg de hesperitina, 12mg
de naringenina, 64g de açúcares totais (2:1:1 de
sacarose: frutose: glicose), 1308mg de potássio,
258mg de vitamina C e 135mg de ácido fólico.
Avaliação bioquímica: As colheitas de sangue dos participantes foram realizadas em duas
ocasiões - no início do experimento e após 60
dias da suplementação com suco de laranja - no
Laboratório de Análises Clínicas São Lucas, Araraquara (SP), com os indivíduos em jejum de 12
horas e em repouso. As amostras de sangue foram
centrifugadas para separação do soro e em
seguida realizadas as determinações bioquímicas.
As amostras separadas para análises da PON 1 e
tamanho da partícula de HDL foram encaminhadas ao Laboratório de Lípides do Instituto do
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Coração (InCor), São Paulo (SP). Todas as dosagens
bioquímicas foram realizadas em equipamento
automático, modelo System Vitros Chemistry 250,
Brasil. As apolipoproteínas A-I e B (apo A-I e apo
B) foram dosadas por imunoturbidimetria automatizada, com kits comerciais Roche (Apolipoproteínas AI e B, Imunotubidimétrico, Hitachi 912,
Roche Diagnostics). O colesterol total e os triacilgliceróis foram determinados pelo método Enzimático-Trinder, utilizando-se o kit comercial
Labtest (Colesterol Liquiform Ref. 76, Colesterol
oxidase-Reação de Trinder, Triacilgliceróis Liquiform
Ref. 87, Glicerol fosfato oxidase, Labtest Diagnóstica). O HDL-C foi determinado por Inibição Seletiva, sistema para determinação homogênea
direta do colesterol HDL no soro humano, utilizando o kit comercial Labtest (Colesterol HDL Ref.
13, Precipitação com fosfotungstato-magnésio,
Labtest Diagnóstica). O valor de LDL-C foi obtido
a partir dos resultados das dosagens do colesterol
total, triacilgliceróis e HDL-C, pela fórmula de
Friedewald27. A glicose foi determinada pelo método enzimático GOD-Trinder, utilizando o kit comercial Glicose Pap Liquiform 1 x 500mL Labtest
(Glicose HK Liquiform Ref. 85, Hexokinase de acordo com recomendação da IFCC). O tamanho da
HDL foi mensurado segundo a técnica de laser
de dispersão28.
buições. A comparação entre grupos de dados
com distribuição normal foi examinada com o teste t de Student e para os demais com distribuição
não normal foi utilizado o teste não paramétrico
de Wilcoxon. O nível de significância adotado foi
de 5% para as comparações efetuadas.
RESULTADOS
No início do experimento, cerca de 36,0%
dos homens e 33,0% das mulheres apresentavam
peso corporal acima da faixa de normalidade:
sobrepeso e obesidade. Foi verificada uma alta
incidência de indivíduos com uma dieta rica em
gorduras saturadas e colesterol, e sem hábitos de
atividade física, sugerindo um estilo de vida sedentário e maior risco para as doenças cardiovasculares. Considerando esses fatores e para uma
análise mais acurada dos resultados, os voluntários
foram divididos em quatro grupos, de acordo com
seu perfil antropométrico e gênero, a saber: (1)
homens eutróficos e (2) homens com sobrepeso,
(3) mulheres eutróficas e (4) mulheres com sobrepeso.
Contrariamente à suposição de que o suco
de laranja leva ao aumento do peso corporal por
causa do seu conteúdo energético, o elevado
consumo de suco de laranja neste estudo de
750mL/dia, equivalente a 315kcal, não foi associado com nenhuma variação detectável no peso,
IMC, porcentagem de gordura corporal e circunferência da cintura após a suplementação em todos
os grupos analisados (Tabela 1).
Análise estatística: Os resultados foram
analisados por meio do software Microsoft Office
Excel 2003 e Sigma Stat, versão 2.03, 1995. As
variáveis foram apresentadas como média e
desvio-padrão, e todos os conjuntos de dados foram testados quanto à normalidade de suas distri-
Tabela 1. Variáveis antropométricas em mulheres (n=15) e homens (n=14) distribuídas de acordo com o índice de massa corporal (IMC)
no início do experimento (pré) e ao final (pós) da suplementação com suco de laranja. Araraquara (SP), 2006.
Mulheres
IMC
Peso
Suco laranja
Peso (kg)
IMC (kg/m2)
Gordura corporal (%)
Circunferência abdominal (cm)
2
Eutrofia (≤25kg/m )
(n=10)
M
Pré
DP
Homens
2
Sob/Obeso (>25kg/m )
(n=5)
Pós
M DP
M
Pré
DP
2
Eutrofia (≤25kg/m )
(n=9)
Pós
M DP
M
Pré
DP
Pós
M DP
Sob/Obeso (>25kg/m2)
(n=5)
M
Pré
DP
Pós
M DP
58
7
57
7
70
7
70
5
66
5
67
5
93
16
93
16
21
2
21
2
28
3
28
3
22
1
22
1
30
3
30
3
28
4
26
4
34
4
34
3
22
6
21
3
27
5
21
6
77
6
77
5
90
7
90
7
79
7
79
7
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A comparação do consumo de alimentos
ricos em lípides, ácidos graxos saturados e colesterol no início e no final do experimento mostraram que não houve alteração significativa do consumo desses alimentos entre homens e mulheres. Foi observado, entretanto, que o consumo
de ácidos graxos saturados e colesterol das mulheres e dos homens eram superiores à recomendação26 antes e após a suplementação com o suco
de laranja. Entre os indivíduos eutróficos e com
sobrepeso, o consumo total de energia da dieta
antes e depois do suco de laranja estava dentro
da taxa de variação recomendada26 tanto em
homens como em mulheres (Tabela 2).
foi aumentado significativamente com o suco somente nas mulheres eutróficas, embora nenhum
grupo das mulheres alcançasse a recomendação
de 400µg/d26. Os homens, entretanto, mostraram uma ingestão adequada de ácido fólico antes
e após o suco de laranja, embora apresentassem
grande variação entre eles.
A análise dos lípides e das lipoproteínas
sanguíneos mostrou que após o consumo de
750mL/dia de suco de laranja houve uma redução
significativa de 11,0% do colesterol total e de
15,0% do LDL-C nos homens. Para as mulheres,
após o consumo do suco de laranja, foi verificada
redução de 10,0% para o colesterol total e 15,0%
para o LDL-C (Tabela 3). Porém, a concentração
de apo B, após o consumo de suco de laranja,
não mostrou modificação significativa (Tabela 3).
Já que cada LDL apresenta apenas uma apo
B-100, esse resultado sugere a manutenção no
número de partículas de LDL no soro dos indivíduos analisados, embora com menor teor de
colesterol no centro lipídico.
A ingestão de vitamina C teve aumento
significativo para as mulheres eutróficas e com
sobrepeso, embora o aumento para as últimas
não tenha sido significante. Para os homens, a
vitamina C aumentou significativamente nos
eutróficos e com sobrepeso, atingindo a recomendação26 nos indivíduos com sobrepeso após a
suplementação do suco (Tabela 2). O ácido fólico
Tabela 2. Ingestão dietética de nutrientes, pré e pós o período de suplementação com suco de laranja em homens e mulheres eutróficos
(IMC≤25 kg/m 2) e com sobrepeso (IMC>25kg/m2), e comparação com as cotas dietéticas recomendadas (DRI-2006).
Araraquara (SP), 2006.
Homens
Mulheres
Indivíduos
Eutróficos
Nutrientes
Energia
DRI
kcal/d
Proteína
DRI
g/d
0087 ± 26
Glicídios
DRI
g/d
0204 ± 35
Lipídeos
DRI
g/d
AGS
DRI
g/d
Colesterol
DRI
1484 ± 306
*
1687 ± 345
76 ± 26*0
49 - 173
222 - 320
55 ± 22*0
4 - 15
mg/d
0189 ± 100
1738 - 2310
2585 - 3015
0086 ± 27
0252 ± 110
µg/g
0192 ± 98
85 ± 5500
0014 ± 12
30 ± 2000
4 - 16
232 ± 164*
0175 ± 129
199 ± 52*0
0151 ± 57
307 ± 140*
0217 ± 98
308 ± 7100
200
222 ± 6400
75
400
330 ±1270
0044 ± 34
200
0098 ± 77
93 ± 4800
45 - 79
18 ± 6*00
0014 ± 8
.2892± 1513 2043± 775
228 - 329
44 - 77
0135 ± 3200
400
.2499± 533
333 ± 125*
72 ± 41*0
23 ± 17*0
.289 ± 30
**
91 ± 52*00
.93 ± 43
67 - 117
**
33 ± 22*00
.32 ± 15
10 - 23
271 ± 310*
.*
203 ± 32*0
*.*
500 ± 148*
.*
304 ± 146
200
0106 ± 103
400
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386 ± 240*0
200
207 ± 54*0
67 ± 67
90
0406 ± 159
332 ± 163*0
339 - 489
7 - 22
0578 ± 563
125 ± 74*00
75 - 263
*
62- 109
0025 ± 13
2549± 1200*
2591 - 3439
0136 ± 45
315 - 455
75
352 ± 1630
*
100 ± 49*0
0089 ± 60
Pós
Pré
70- 245
0429 ± 250
diferença estatisticamente significativa, p<0,05. (Teste t pareado).
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Sobrepeso
Pós
Pré
1744 ± 750 2403± 1139
51 - 177
244 ± 52*0
0044 ± 20
Pós
Pré
1784 - 2164
Vitamina C mg/d
DRI
Folato
DRI
*
Pós
Pré
Eutróficos
Sobrepeso
90
314 ± 207
521 ± 1760*
400
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Devido ao conteúdo substancial de açúcares naturais do suco de laranja, como a frutose,
glicose e sacarose (64g em 750mL de suco de
laranja), haveria um risco potencial de elevar a
glicemia e os triacilgliceróis séricos nos indivíduos
que estivessem consumindo essa quantidade de
suco diariamente. Entretanto, não foi detectado
aumento significativo na glicemia ou triacilgliceróis
nos indivíduos desse experimento (Tabela 3). Além
disso, a mensuração dessas variáveis bioquímicas
antes e após a suplementação não excederam os
valores recomedados29.
Medidas do HDL-C e apo A-I após o consumo de suco de laranja mostraram uma redução
significativa de 9,0% e 16,0% nos homens e 6,0%
e 21,0% nas mulheres, respectivamente (Tabela
3). Porém, o tamanho médio das partículas de
HDL não foi alterado com a suplementação com
o suco de laranja, indicando não haver modificação do conteúdo central das partículas de HDL, representado principalmente pelo éster de colesterol.
A análise da atividade da enzima PON1
mostrou redução não significativa de 20,0% após
a suplementação com o suco de laranja tanto em
homens como em mulheres. Embora essa redução
tenha ocorrido em 80,0% dos indivíduos da amostra, não houve diferença significativa antes e de-
pois do período de suplementação por causa do
amplo desvio-padrão verificado, comum na mensuração desse parâmetro28.
DISCUSSÃO
A avaliação bioquímica dos lípides séricos
após a suplementação com o suco de laranja
mostrou que o consumo frequente desse alimento
favorece a redução das concentrações de colesterol total e de LDL-C. Estudos prévios mostraram que o consumo de suco de laranja pelo
homem4,10,11 e o de flavonóides cítricos por animais de experimentação8,12 reduziram o colesterol
total e de LDL, apontando ainda benefícios adicionais, como redução dos níveis de proteína C
reativa, de radicais livre, da peroxidação lipídica e
de outros marcadores do estresse oxidativo3, além
da redução de alguns marcadores inflamatórios9.
Além disso, os flavonóides cítricos promoveram
redução da biossíntese de colesterol hepático, pela
inibição da atividade da HMG CoA redutase e
ACAT em ratos alimentados com dieta rica em
colesterol12. A redução na atividade da ACAT leva
à menor esterificação do colesterol hepático disponível para a formação das Lipoproteínas de
Densidade Muito Baixa (VLDL), resultando, assim,
na redução da secreção de VLDL do fígado30.
Tabela 3. Dosagens bioquímicas no soro de glicose, lípides, apolipoproteínas, enzima paraoxonase 1 (PON1) e ta-manho da partícula de
HDL em homens e mulheres no início (pré) e final (pós) do período de suplementação dietética com suco de laranja. Araraquara (SP), 2006.
Suplementação com suco de laranja
Variáveis bioquímica
do soro (mg/dL)
Mulheres (n=15)
M
Glicose
Triglicerídeos
Colesterol total
LDL-colesterol
HDL-colesterol
Apo A-I
Apo B-100
PON 1, (nmol.min-1.mL-1)
Tamanho da HDL, (nm)
*
Homens (n=14)
Pós
Pré
DP
Pré
M
DP
M
*
Pós
DP
M
DP
080,00
05,00
081,00
06,00
080,00
04,00
082,00
05,00*
088,00
39,00
098,00
48,00*
102,00
33,00
106,00
35,00*
174,00
30,00
157,00
22,00*
182,00
41,00
162,00
37,00*
104,00
23,00
088,00
20,00*
117,00
39,00
099,00
35,00*
053,00
12,00
049,00
09,00*
045,00
09,00
042,00
08,00*
130,00
30,00
103,00
24,00*
112,00
15,00
094 ,00
16,00*
085,00
25,00
091,00
17,00*
091,00
31,00
092,00
32,00*
056,00
44,00
045,00
30,00*
052,00
31,00
042,00
23,00*
009,09
00,52
008,79
00,86*
008,68
00,63
008,93
00,61*
valores com diferença estatisticamente significativa, p<0,05. Teste t pareado.
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T.B. CÉSAR et al.
No presente estudo, a concentração dos
triacilgliceróis e da glicose séricos não foram alterados pelo consumo de suco de laranja, mesmo
com o consumo de 750mL/dia, que acrescentou
cerca de 64g/dia de açúcares naturais ou 315kcal/
dia por indivíduo. Esses resultados corroboram a
pesquisa anterior com homens e mulheres normocolesterolêmicos10,11 e com dislipidemia31 que não
mostraram alteração nos níveis de triacilgliceróis
mesmo com a suplementação regular de um a
três copos de suco de laranja. Os autores sugeriram que, embora seja reportada redução dos
triacilgliceróis séricos em animais experimentais
suplementados com flavonoides cítricos, no homem esta influência é controversa. A magnitude
dos efeitos sobre os triacilgliceróis séricos parece
depender primariamente de fatores como idade,
sexo, nível basal de glicose, insulina e triacilgliceróis; presença de resistência à insulina e quantidade de frutose consumida na dieta32. Estudo
recente reportou que o consumo de frutose ou
de xarope de frutose durante duas semanas, num
total de 20% a 25% da energia da dieta, não
aumentou as concentrações de triglicerídeos em
indivíduos saudáveis e com sobrepeso ou obesidade33.
Em relação ao consumo dietético de lípides
totais, gorduras saturadas e colesterol, que potencialmente afetam o colesterol plasmático e de LDL,
foi verificado que os homens apresentavam consumo muito acima das recomendações26, enquanto as mulheres levemente acima. Não houve,
entretanto, alteração do padrão de ingestão de
gorduras durante o período experimental, o que
sugere que as modificações observadas no perfil
lipídico ocorreram independentemente da contribuição dos lípides da dieta. Porém, o consumo
elevado de gorduras saturadas e colesterol, tanto
em homens como em mulheres, reflete fortemente a ingestão de fontes animais na alimentação diária, com pequena presença de frutas e
verduras. Portanto, o suco de laranja representou
uma importante adição no valor nutricional das
dietas, acrescentando vitamina C, flavanonas,
potássio, ácido fólico, e outros importantes mi-
Revista de Nutrição
cronutrientes também observados em estudos
anteriores10-12, 31, 34.
Estudos conduzidos em animais e no homem têm mostrado que a suplementação dietética com vitamina C reduz taxa de oxidação de
LDL e diminui a formação da placa ateromatosa
devido à capacidade antioxidante do ácido ascórbico no organismo12,34. A vitamina C também foi
associada com menores níveis de pressão arterial
sistêmica em homens adultos que consumiam regularmente suco de laranja35. Outro estudo sugeriu ainda que a ação sinérgica da vitamina C com
os flavonóides presentes no suco cítrico promoveram o relaxamento vascular proporcionando a
manutenção e o equilíbrio da pressão arterial36.
Neste estudo foi verificada uma proporção
elevada de indivíduos com sobrepeso e obesidade,
sendo 36,0% de homens e 33,0% de mulheres,
acompanhando a tendência à prevalência de adultos com excesso de peso na região sudeste do
país. A distribuição da gordura corporal percentual foi idêntica à distribuição do IMC, sugerindo
que todos os indivíduos com sobrepeso e obesos
apresentavam excesso de massa gorda. A medida
da circunferência da cintura confirmou ainda que
esses mesmos participantes apresentavam maior
risco de desenvolvimento de complicações relacionadas à obesidade, verificando-se média de
10cm de circunferência abdominal acima dos valores seguros24 tanto para os homens quanto para
as mulheres. É notório que medidas do IMC e da
circunferência abdominal superiores aos valores
limítrofes estabelecidos se associam positivamente
com fatores de risco predisponentes para as doenças cardiovasculares37.
Como já mostrado na literatura, a aterogênese também está estreitamente correlacionada ao aumento nos níveis de peroxidação lipídica.
Em condições de homeostase, a oxidação da LDL
é provavelmente mínima devido tanto à presença
de muitos antioxidantes dietéticos distribuídos no
plasma e agregados a essa lipoproteína como
também à remoção eficiente da LDL por meio do
seu reconhecimento por receptores presentes
abundantemente nas células hepáticas36. Con-
Rev. Nutr., Campinas, 23(5):779-789, set./out., 2010
SUCO DE LARANJA REDUZ COLESTEROL | 787
tudo, essa situação pode ser modificada quando
há aumento de espécies reativas de oxigênio ou
nitrogênio, estabelecendo um quadro de estresse
oxidativo. Uma vez que a modificação oxidativa
da LDL nativa, decorrente desse balanço oxidativo,
é um ponto chave na gênese da aterosclerose, a
proteção dessa lipoproteína contra a oxidação
pode ser uma estratégia eficaz para a prevenção
e/ou para redução do risco de progressão dos
eventos implicados na formação do ateroma.
Sendo assim, a mensuração de marcadores de
peroxidação lipídica figura como uma excelente
ferramenta na caracterização de substâncias que
agem como protetores tissulares e plasmáticos dos
eventos oxidativos38.
total e LDL-C, demonstrando propriedade hipocolesterolêmiande e antiaterogênica. A redução
do HDL-C e da apo A-I foi associada à redução
total do colesterol sanguíneo e à menor atividade
oxidante no sangue devido ao elevado aporte de
vitamina C e flavanonas cítricas.
A PON 1, um marcador bioquímico da peroxidação lipídica, teve sua atividade reduzida
provavelmente devido ao aporte elevado de vitamina C obtido pela ingestão de 750mL de suco
de laranja por dia. Além disso, experimentos sugerem que os flavonóides agem em sinergia com a
vitamina C, potencializando seu efeito antioxidante nas lipoproteínas do sangue e prevenindo
os danos da aterosclerose3, o que pode ter também contribuído para reduzir a ação da PON1.
Os resultados de Rosenblat39 sugerem que a HDL
aumenta a atividade da PON1 ao estabilizar a
enzima. Neste trabalho houve redução significativa de partículas de HDL, o que pode ter influenciado na redução da atividade da PON1.
Outra hipótese para a redução da atividade da
PON1 está relacionada à redução de Apo A-I; já a
maior parte da PON1 sérica está localizada na
superfície da HDL e na Apo A-I. Assim, a deficiência dessa apolipoproteína em humanos reflete
a redução da atividade sérica da PON 122.
T.B. CÉSAR foi responsável pela elaboração do
projeto de pesquisa, do protocolo experimental,
obtenção de verba para a realização do experimento,
supervisão do experimento e elaboração do texto final
deste artigo. L.U. RODRIGUES foi responsável pela
seleção dos voluntários, pela coleta de dados nutricionais, bioquímicos e antropométricos, análise e discussão dos resultados e participou ativamente na
redação deste artigo. M.S.P. ARAÚJO colaborou como
médica responsável do projeto de pesquisa junto ao
Comitê de Ética da Unesp; auxiliou na elaboração dos
critérios de seleção dos voluntários, na coleta dos dados
bioquímicos e antropométricos e colaborou na revisão
do presente artigo. N.P. APTEKMANN colaborou na
confecção do protocolo do estudo, na análise estatística dos dados e discussão dos resultados.
CONCLUSÃO
3. Franke AA, Cooney RV, Henning SM, Custer LJ.
Bioavailability and antioxidant effects of orange
juice components in humans. J Agric Food Chem.
2005; 53(13):5170-78.
O consumo de suco de laranja não foi associado a variações no peso corporal, IMC, porcentagem de gordura e circunferência abdominal
após a suplementação diária de 750 mL durante
60 dias. O suco de laranja reduziu o colesterol
O estudo do efeito da ingestão crônica e
prolongada de suco de laranja, rico em hesperidina e vitamina C, demonstrou a ação hipolipemiante desse alimento natural, que levou à redução do risco de desenvolvimento de aterosclerose
em homens e mulheres normolipidêmicos.
COLABORADORES
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Recebido em: 15/9/2008
Versão final reapresentada em: 8/6/2009
Aprovado em: 11/11/2009
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