A RECONSTRUÇÃO DA CAPELA DAS MERCÊS EM SÃO LUIZ DO PARAITINGA
The Rebuilding Of The Capela Das Mercês In São Luiz Do Paraitinga
Renata Rendelucci Allucci
Mestre em História pela PUC-SP
renata@3d3.com.br
Resumo
O artigo apresenta o processo de reconstrução da Capela das Mercês, situada na
cidade paulista de São Luiz do Paraitinga, destruída por uma enchente em janeiro de
2010. Com a catástrofe, as ações e as tensões entre interesses de diferentes grupos
ficaram explicitadas por meio de decisões a respeito da maneira sobre como se daria
a reconstrução desse edifício. A Capela das Mercês, como monumento histórico,
arquitetônico e cultural tombado atua sobre a memória dos luizenses e, por meio
dela, preserva e dissemina a identidade da comunidade. Foram analisados parte dos
documentos dos processos de tombamento e da reconstrução e alguns discursos dos
representantes do órgão federal de preservação do patrimônio nacional.
Palavras-chave
Patrimônio cultural, memória, identidade
Abstract
This article refers to the process of rebuilding the Capela das Mercês (Mercês Chapel),
located in São Luiz do Paraitinga, in the state of São Paulo, which was destroyed by a
flood in January 2010. With the disaster, the actions and tensions between the
interests of different groups appeared in the discussions on how the reconstruction
should be done. Capela da Mercês, as historical, architectural and cultural monument
acts on the memory of the citizens of São Luiz, and through it preserves and
disseminates the community's identity. Part of the documents of the processes of
declaration as national heritage and of the reconstruction and some speeches of the
representatives of the federal agency for the preservation of the national heritage
were analyzed.
Keywords
Cultural patrimony, memory, identity
26
1. Introdução
Nos primeiros dias de janeiro de 2010, a cidade de São Luiz do Paraitinga
sofreu uma inundação de grandes proporções, causando danos a vários imóveis, além
da perda de documentação, móveis e objetos oficiais e pessoais dos moradores. A
vida social e cultural sofreu uma interrupção, assim como a economia e o turismo
foram abalados.
São Luiz do Paraitinga foi tombada em 2010 pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e tem edifícios tombados pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São
Paulo – Condephaat, desde 1981. Para promover ações de salvaguarda do patrimônio,
esses mesmos órgãos de preservação acompanharam as obras emergenciais daquele
momento e participariam, logo após, das atividades de reconstrução e restauro1.
Entre os edifícios que ruíram encontrava-se a Capela das Mercês, último
testemunho arquitetônico da primeira fase de instalação da vila no final do século
XVIII, na definição do Condephaat, no Diário Oficial do Estado (SÃO PAULO, 1981).
Ela foi a primeira edificação reconstruída e devolvida à cidade, em 25 de
setembro de 2011.A obra foi realizada como “uma operação com a força da memória
identitária local, com o olhar posto sobre os acontecimentos que marcavam a
coletividade, tanto quanto vivências cotidianas, os hábitos de luizenses de muitas
gerações” (IPHAN, 2010b), nas palavras do historiador Jaelson Bitran Trindade, perito
em patrimônio cultural do IPHAN que estuda a cidade desde os anos 1970.
Para entender o processo de reconstrução da Capela das Mercês é preciso
compreender o cenário em que ela se encontra – a cidade de São Luiz do Paraitinga–,
além de seu significado para os moradores e como atuaram no processo.
2. São Luiz do Paraitinga: localização, tombamentos e turismo
O município de São Luiz do Paraitinga está localizado no Vale do Paraíba, na
região Sudeste do Estado de São Paulo, no meio do caminho entre Taubaté e Ubatuba
e a 182 km da capital. Sua população é de 10.397 habitantes, de acordo com o Censo
Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com
1
De acordo com as definições do Manual de elaboração de projetos de preservação do patrimônio cultural
(BRASIL, 2005), reconstrução e restauro são conjunto de ações e operações com diferentes finalidades e
procedimentos. Restauração ou Restauro - conjunto de operações destinadas a restabelecer a unidade da
edificação, relativa à concepção original ou de intervenções significativas na sua história. O restauro deve
ser baseado em análises e levantamentos inquestionáveis e a execução permitir a distinção entre o
original e a intervenção. A restauração constitui o tipo de conservação que requer o maior número de
ações especializadas. Sobre Reconstrução, será detalhada mais adiante neste trabalho.
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aproximadamente seis mil pessoas vivendo na área urbana. A cidade é banhada pelo
Rio Paraitinga (Parahytinga que, em Tupi-Guarani significa Águas Claras).
O interesse dos órgãos de preservação do patrimônio por São Luiz do
Paraitinga começa em 1963, com a publicação do ensaio Quadro Geral dos Monumentos Paulistas2 de autoria do arquiteto Luís Saia, no qual ele esclarece sua versão
interpretativa sobre a arquitetura e o desenho das cidades paulistas. Neste texto, Saia
explicita a evolução da região, enfatizando as fundações que marcaram uma fase de
expansão da Capitania de São Paulo e, no seu entendimento, destaca São Luiz do
Paraitinga como cidade representativa desse período e cujos “restos” qualificados
deveriam receber proteção do poder público, indicando assim um caminho para a
patrimonialização de exemplares arquitetônicos remanescentes que considerava
significativos.
Dez anos depois, Saia reafirma a importância da cidade em seu texto Evolução
urbana de São Luís do Paraitinga, apresentado no Simpósio Nacional dos Professores
Universitários de História de 1973 e publicado nos Anais em 1974 (SAIA, 1974). Em
1977, dois anos após seu falecimento, na Publicação no. 2 do Condephaat, este
mesmo texto de Saia reaparece, juntamente com um texto de Jaelson Bitran
Trindade, No caminho do Paraitinga, acrescido de algumas fotos e plantas baixas de
edificações da cidade. Esse material consta na publicação como Levantamento
métrico-arquitetônico e fotográfico, e estudos da formação de uma cidade tradicional
paulista (SAIA, TRINDADE, 1977).
Estes documentos deram suporte à ação de tombamento do conjunto urbanoarquitetônico pelo recém-criado criado Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - Condephaat, do qual Saia
era conselheiro.
Em 1981 o Condephaat tombou, em esfera estadual, a Casa de Oswaldo
Cruz3, o Sobrado número 3 da Praça Oswaldo Cruz e a Capela das Mercês, objeto
desta pesquisa.
O processo da Capela consta no Livro do Tombo Histórico sob inscrição nº
155, p. 28, s.d., com poucas informações sobre as motivações para o tombamento
além do conteúdo do já mencionado texto de Saia nas publicações de 1974 e 1977. O
resumo apresentado pelo Condephaat define o edifício
2
Será considerado o texto-chave do livro Morada Paulista, publicado em 1972 e que reúne estudos e
artigos de Luis Saia publicados anteriormente.
3
Trata-se da casa onde nasceu o médico e sanitarista Oswaldo Cruz, em 5 de agosto de 1872.
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A Capela de Nossa Senhora das Mercês foi construída provavelmente em fins
do século XVIII e inaugurada oficialmente em 1814. Sua benfeitora, segundo
documentação arrolada, foi Maria Antonia dos Prazeres. As paredes são
estruturais, em taipa de pilão e, internamente, de tijolos, em substituição às
antigas de pau-a-pique. De pequenas dimensões, situa-se isolada na ponta de
uma quadra, entre duas ruas. Apresenta uma fachada singela, sem torre e
assimétrica. Apesar da simplicidade, possui um pequeno coro, sobre a entrada
principal, de onde se abrem duas janelas, com vergas em arco abatido
(CONDEPHAAT, 1981).
O tombamento da Capela das Mercês se deu por motivos históricos e
arquitetônicos, como evidencia a publicação no Diário Oficial em 30 de setembro de
1981, transcrita abaixo:
O Secretário Extraordinário da Cultura, nos termos do Decreto-Lei 149, de 15
de agosto de 1969, resolve:
- Artigo 1.o - Fica tombada como monumento histórico e de interesse
arquitetônico a Capela de Nossa Senhora das Mercês, situada à Rua Cel.
Domingues de Castro em São Luiz do Paraitinga, último testemunho
arquitetônico da primeira fase de instalação da vila (exploração agrícola
cafeeira da região) no final do século XVIII e início do século XIX, em cujas
dependências deverá se instalar o futuro Museu de Arte Sacra.
- Artigo 2.o Fica o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado, autorizado a inscrever no Livro
do Tombo competente, o imóvel em referência, para os devidos e legais
efeitos.
- Artigo 3.o - Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação (SÃO
PAULO, 1981).
A instalação de um Museu de Arte Sacra nunca se realizou. Em seu lugar foi
inaugurado, em 1985, o MAST - Museu de Arte Sacra de Taubaté, cidade vizinha a
São Luiz do Paraitinga.
Em 1982 o Condephaat efetuou mais um tombamento em esfera estadual,
agora da área de São Luiz do Paraitinga conhecida como Centro Histórico, após
cadastro de suas edificações, realizado pelo arquiteto Gustavo Neves da Rocha e,
novamente, fundamentando o processo no texto de Luís Saia. Conforme Arquivo do
Condephaat
A cidade, por suas características específicas, foi dividida em dois setores para
efeito do tombamento:
Centro Histórico I – Área de grandes sobrados, predominantemente do século
XIX, no alinhamento do lote e com influências do ecletismo. O conjunto é
formado por 171 edificações, em sua maior parte, de uso residencial.
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Centro histórico II – Constituído de 262 casas populares, de um ou dois
pavimentos, de uso residencial e pequeno comércio (CONDEPHAAT, 1981).
Saia, além de conselheiro do Condephaat, esteve no comando da regional do
IPHAN São Paulo de 1938 até o seu falecimento em 1975.
Os documentos para o tombamento do centro histórico de São Luiz do
Paraitinga pelo IPHAN estavam prontos desde 2009 quando, para entender a extensão
dos problemas causados pela enchente e suas consequências, o órgão reelaborou, em
2010, o Dossiê São Luiz do Paraitinga, “estudo que avalia o significado histórico do
plano urbano, as transformações e caráter da sua morfologia, como também da
configuração tipológica das construções e dos espaços abertos, e a partir destes da
pertinência do tombamento e da regulamentação da sua área de preservação”
(IPHAN, 2010a, p.11).
No Dossiê, o IPHAN apresenta suas motivações para o tombamento ao
explicitar
Para nós, voltados à proteção do patrimônio cultural, é a cidade em seu
conjunto que importa, tanto à luz do entendimento do desenho da cidade e
sua arquitetura, seu desenvolvimento histórico, como em relação a definições,
princípios e objetivos exarados em cartas e recomendações relativas ao
patrimônio cultural, elaboradas em encontros patrocinados pela Unesco, pela
OEA e pelo International Council on Monumentsand Sites (Icomos). Vale
lembrar a Carta de Washington– Unesco (EUA, 1987), centrada na questão da
preservação das “áreas urbanas históricas, grandes ou pequenas, incluindo
cidades, vilas e centros ou bairros históricos, em conjunto com os seus
ambientes naturais ou feitos pelo homem”, sublinhando que, “para além do
seu papel como documentos históricos, estas áreas incorporam os valores das
culturas urbanas tradicionais”(IPHAN, 2010a, p.20-21).
Também o conteúdo do Dossiê é predominantemente determinado pelas
interpretações do arquiteto Luís Saia sobre a regularidade do traçado urbano da
cidade e pelos seus estudos e pesquisas sobre a história urbana e o levantamento da
arquitetura local, elaborados com o historiador Jaelson Bitran Trindade. Encontramos
no Dossiê proposições formuladas por esses autores como, por exemplo, “o conjunto
urbano-arquitetônico e paisagístico de São Luiz do Paraitinga é paradigmático do
urbanismo planejado que pontuou a segunda metade do século XVIII no Brasil –
urbanismo ilustrado, característico da Era Pombalina.” (IPHAN, 2010a, p.24).
Em outro trecho do Dossiê, os autores atestam que “São Luiz do Paraitinga é
hoje, reitera-se aqui, a principal referência, nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, da
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política territorial ´ilustrada´ da segunda metade do Setecentos”(IPHAN, 2010a,
p.25). Esta é uma das razões pelas quais se justificaram diversos estudos feitos pelo
IPHAN sobre a cidade, que deram a valoração do patrimônio da cidade de São Luiz do
Paraitinga na atualidade e culminaram em seu tombamento em dezembro de 2010,
quando o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou a proposta do
IPHAN apresentada
para reconhecimento
do
Centro
Histórico
de São
Luiz
do
Paraitinga como bem do patrimônio cultural brasileiro.
Em 2002 a cidade recebeu, pela Lei Estadual no. 11.197 de 5 de julho de
2002, a denominação de Estância Turística de São Luiz do Paraitinga. Na definição da
Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, “Estâncias Turísticas são cidades com
muitas tradições culturais, patrimônios históricos, artesanatos, lindas paisagens,
centros de lazer, além de ótimos serviços de gastronomia”4. Elas recebem anualmente
verbas do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias – DADE para
serem aplicadas em obras que melhorem sua estrutura para receber turistas.
As reflexões de Carlos Murilo Prado Santos (2006) em sua dissertação de
mestrado O reencantamento das cidades: tempo e espaço na memória do patrimônio
cultural de São Luiz do Paraitinga/SP sobre a atividade turística nessa cidade indicam
que
ao transformar o centro de São Luiz do Paraitinga em patrimônio e, em
seguida, em Estância Turística do Estado, temos o início de uma nova forma
de relação entre a sociedade e este território, agora em processo de
valorização com o desenvolvimento do turismo. (SANTOS, 2006, p.19)
Porém, como aponta este autor, apesar destas titulações a cidade continua
sem planejamento, sua infraestrutura é inadequada, não há capacitação de mão-deobra e as políticas e ações efetivas não privilegiam a inserção da comunidade local
nas atividades relacionadas ao turismo. (SANTOS, 2006, p.232-233).
Para comemorar o título de bem do patrimônio cultural brasileiro, em 19 de
dezembro de 2010, uma celebração foi promovida pelo IPHAN e pelo Ministério da
Cultura – MinC, com “um espetáculo histórico, cultural, sacro e folclórico, que
percorrerá o centro histórico com bonecões, congadas, dança da fita, moçambique,
4
Definição e informações http://www.turismo.sp.gov.br/dade/estancias.html
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guiados pela Banda Marcial e a Fanfarra Municipal”, conforme anunciou o IPHAN em
seu site5.
Como se pode inferir, o IPHAN ressalta e enaltece as manifestações culturais
já existentes na cidade, associadas ao seu patrimônio arquitetônico, para apoiar e
valorizar os processos de tombamento. Essa exaltação vai ao encontro dos discursos
políticos e de alguns grupos interessados que utilizam a revitalização do patrimônio
histórico como fator de diferenciação e promoção da cidade e para o desenvolvimento
do turismo.
3. A enchente
Na história da cidade foram marcantes algumas cheias do rio Paraitinga.
Campos (2011) compilou esses acontecimentos e conta que a primeira enchente de
que se tem registro foi em janeiro de 1863, causando alguns prejuízos como a
destruição de sobrados e algumas casas. A segunda foi em fevereiro de 1971 e
registrou a subida do rio em mais de 6 metros na região urbana, além da destruição
da Ponte Alta que liga São Luiz do Paraitinga e Ubatuba, provocando a interrupção do
acesso entre essas cidades por um mês. Em fevereiro de 1996 as águas chegaram até
a Praça da Matriz e tinha sido, até aquele momento, a que causou mais prejuízos aos
moradores.
Mas foi a enchente de janeiro de 2010 a pior enfrentada pela cidade, com o rio
subindo praticamente 15 metros acima de suas margens. Quase todos os edifícios do
núcleo histórico eram construídos em taipa de pilão e pau a pique, com alicerces feitos
de pedras irregulares. Isso causou o desmoronamento e a queda da Igreja Matriz, do
antigo Grupo Escolar (obra de Euclides da Cunha), da Capela das Mercês e de
inúmeros sobrados e casas térreas da área atingida, além da destruição de
estabelecimentos
comerciais
como
padarias,
farmácias,
restaurantes,
bancos,
cartório.
Houve uma pronta mobilização da sociedade civil e de empresas na ajuda aos
desabrigados. De várias cidades do estado de São Paulo chegaram alimentos, roupas,
água, produtos de limpeza e de higiene. A catástrofe recebeu ampla cobertura da
imprensa nacional, de veículos como os jornais Folha de São Paulo, O Estado de São
Paulo e O Globo, das revistas Veja e Exame e dos portais UOL e Terra, entre outros.
5
São Luiz do Paraitinga (SP) celebra sua preservação como patrimônio brasileiro. Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=15785&sigla=Noticia&retorno=detalheN
oticia. Acesso em maio de 2013.
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O
desastre
comunidades
gerou
religiosas,
uma
série
instituições
de
manifestações
filantrópicas
ou
solidárias.Grupos
alguns
de
organizados
exclusivamente com esta finalidade visitaram a cidade, auxiliaram na limpeza de
casas e ruas e ajudaram no atendimento dos desabrigados.
Institucionalmente, foram criados alguns órgãos para atuar na reestruturação
da cidade, tanto física quanto emocional. Um deles foi a AMI São Luiz – Associação
dos Amigos para a Reconstrução e Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de
São Luiz do Paraitinga, entidade civil de caráter cultural e sem fins lucrativos e
econômicos. Criada em janeiro de 2010, sua diretoria foi composta por um grupo de
aproximadamente
10
luizenses,
entre
professores,
advogados,
comerciantes,
engenheiros e jornalistas.
Outra iniciativa foi o Centro de Reconstrução Sustentável – CERESTA, que
surgiu em maio de 2010 pela necessidade de centralizar e abrigar, num espaço único,
os vários grupos de trabalho envolvidos com a reconstrução. Logo após a enchente,
fizeram uso do espaço físico do CERESTA a Defesa Civil do Estado, o Instituto de
Pesquisas Tecnológicas - IPT, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
- CDHU, a Secretaria do Governo do Estado para a Reconstrução, os técnicos da
Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico – UPPH, os técnicos do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e Instituto Elpídio dos Santos – IES.
Uma ação muito importante foi a criação do Jornal da Reconstrução, editado
pelo jornalista e morador da cidade Luiz Egypto de Cerqueira. A iniciativa teve como
ponto de partida a constatação da necessidade de um veículo impresso capaz de falar
para e com a comunidade, além de ouvi-la.
Em suas pautas, assuntos como novas casas populares, conselhos para a
reconstrução, notícias sobre as situações física e econômica da cidade, o andamento
das obras, relatos de audiências públicas, entre outros, mas também sobre o
calendário
festivo,
chamando
os
moradores
para
participar
das
festas
e
comemorações que, timidamente, voltavam a ocupar as ruas da cidade6. O jornal foi a
plataforma na qual se reuniram as vozes do poder público local, dos órgãos de
preservação que estavam atuando na cidade, das organizações luizenses como AMI e
IES e dos moradores, aglutinando informações e ajudando a esclarecer sobre os
processos e os resultados das diversas ações em curso na cidade naquele momento.
6
Todas
as
edições
do
Jornal
da
Reconstruçãoestão
disponibilizadas
no
site
http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/site/publicacao/jornal/
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Para sua viabilização, Egypto articulou a redação do jornal como projeto de
extensão do Departamento de Comunicação Social da Universidade de Taubaté
(Unitau), por meio da colaboração voluntária de alunos de Jornalismo dessa
instituição e vinculou-o à Câmara de Desenvolvimento Socioeconômico de São Luiz do
Paraitinga. A produção das suas edições quinzenais, de 2.000 exemplares de
tiragem, foi viabilizada pelo apoio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,
responsável pelo papel e impressão.
A primeira edição circulou na primeira quinzena de março de 2010. Até a nona
edição, distribuída na segunda quinzena de junho de 2010, o jornal foi editado por
Luiz Egypto. Em outubro do mesmo ano a produção do Jornal da Reconstrução foi
retomada sob a responsabilidade editorial de jornalistas da Imprensa Oficial e
coordenação da Prefeitura Municipal. O jornal circulou até o número 18, de março de
2011 e, a partir de então,sua produção foi interrompida.
4. A Capela de Nossa Senhora das Mercês
Não há uma data precisa para a construção da Capela das Mercês, assim como
é incerta a procedência de Maria Antônia dos Prazeres, a quem se atribui a iniciativa
de sua construção.
Na versão de Trindade (IPHAN, 2010d), a construção da Capela data da
década de 1790, momento de crescimento da economia e da população luizenses,
impulsionados pela produção de mantimentos para exportar, apoiada no trabalho
escravo.
Em alguns documentos encontra-se que Maria Antônia dos Prazeres vinha da
Vila de Guaratinguetá; em outros, era natural de Caeté, cidade localizada em Minas
Gerais, procedência que justificaria as semelhanças de construção e estilo da Capela
das Mercês com as capelas de algumas regiões de Minas Gerais erguidas no final do
século XVIII.
Para Luis Saia, “embora tal capela tenha sido objeto de reformas sucessivas e
desfiguradoras, mantém sua validade integral, do ponto de vista de referência certa
para análise da estrutura urbana” (SAIA, 1974, p. 429; 1977, p.22). Isso e o fato de
ser considerada “último testemunho arquitetônico da primeira fase de instalação da
vila” permitiram seus tombamentos estadual e federal.
Em 1814, a Capela das Mercês recebeu sua terceira e última modificação,
quando foi acrescentado um corredor executado em tijolos de barro cozido e feita a
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alteração da cobertura da Capela-mor. O ano de 1814 foi instituído como o de sua
inauguração oficial, na data de 24 de setembro.
A imagem de Nossa Senhora das Mercês tem sido atribuída, como consta nos
documentos do IPHAN, a Boaventura dos Santos, santeiro que no final do século XVIII
morava em Guarulhos e que realizou várias imagens para outras localidades do Vale
do Paraíba. Por ter um ventre avolumado, sua figura sugere uma Nossa Senhora
grávida.
Com o tempo, o uso da Capela das Mercês foi ampliado e modificado.Sendo
uma das três igrejas católicas da cidade7 e a menor delas em tamanho, desde o início
foi usada menos para ofícios religiosos do que para atividades festivas e culturais.
Adquiriu, então, um lugar na memória dos luizenses por seu uso popular, como palco
de manifestações artísticas com apresentações de grupos locais de jongos e
marujadas, grupos musicais e cantores, exibições de vídeos, entre outras atividades.
Com a enchente, a Capela das Mercês ficou totalmente destruída (Figura 1).
Ao
perceber
a
extensão
do
desastre,
escolhas
tiveram
que
ser
feitas,
e
imediatamente.
Figura 1 - Capela das Mercês, em São Luiz do Paraitinga após as águas baixarem.
Fonte: Foto Anita Hirschbruch, janeiro de 2010. Acervo IPHAN/SP.
Foi nesse momento primeiro de decisões que entra em cena José Carlos
Imparato, arqueólogo bissexto. Doutor em Ciências Odontológicas pela Universidade
de São Paulo, onde é Professor Livre-Docente de Odontopediatria e, ainda, Reitor da
Universidade Camilo Castelo Branco, Imparato é um apaixonado por São Luiz do
7
As outras são a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que, por sua localização, não foi atingida pela
enchente, mas foi restaurada e entregue em outubro de 2013 e a Igreja Matriz São Luís de Tolosa, que
também ruiu e cuja reconstrução foi finalizada em 16 de maio de 2014.
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Paraitinga. Graças à sua especialização em Arqueologia, comandou as ações mais
imediatas relativas à Capela das Mercês juntamente com voluntários da cidade,
autorizado pelo promotor público Antônio Carlos Ozório Nunes. Quando, dias depois, o
IPHAN instalou-se na cidade com seus técnicos, Imparato continuou a acompanhar os
procedimentos, auxiliando também a empresa contratada para os serviços de
reconstrução, utilizando seus conhecimentos sobre a Capela.
Em entrevista realizada em sua casa, em janeiro de 2013 8, Imparato relembra
que “No dia 01, isso aqui estava assim, um cenário de guerra, as pessoas jogando as
coisas para fora das casas, tirando lixo [...] Aí começou a chegar polícia, o corpo de
bombeiro, exército. Não tinha ninguém com uma ação coordenada”.
A primeira reação foi a de tentar remover, o mais rapidamente possível,
partes da Capela que tinham se espalhado pela rua lateral e que estavam impedindo a
passagem. Imparato não deixou que isso acontecesse, o que permitiu que fossem
salvos muitos materiais originais do edifício, posteriormente utilizados na sua
reconstrução. Agindo assim, ele estava de acordo com procedimentos como, por
exemplo, o recomendado pelo Manual Britânico sobre Patrimônio e Enchentes, sobre
como atuar nesses casos:
The removal of panelling, floors or lime plaster in a legally protected building
may cause unacceptable damage and require permission. If the works
proposed seem destructive then the local conservation officer should be
consulted. There is often a tendency for justifiable exposure work to become
enthusiastic demolition. Historically important materials should only be
removed by persons with appropriate skill and experience and with thought
given to appropriate storage and recording9.
Antes da chegada do IPHAN, Imparato começou a trabalhar de acordo com
seus conhecimentos de Arqueologia, com a ajuda de voluntários. Para estes, seu
sogro providenciou recursos, para que se mantivessem por algum tempo. O
envolvimento de pessoas vindas de outras cidades também foi muito grande. Alguns
ajudaram
na
limpeza
dos
locais
atingidos
pelas
águas;
outros
recolheram
mantimentos e produtos de primeira necessidade e enviaram para a Prefeitura, que se
encarregou da organização e distribuição, juntamente com voluntários.
8
Entrevista realizada na casa de José Carlos Imparato, em São Luiz do Paraitinga, janeiro/2013.
Transcrição de Satiko Seki.
9
Flooding and Historic Buildings.Good Practice Advice on Remedial Works. Disponível em
http://www.english-heritage.org.uk/professional/advice/advice-by-topic/climate-change/flood-risk-andadvice/. Acesso em janeiro/2015.
URBANA, V.6, nº 9, ago-dez, 2014 - Dossiê: Dimensões Simbólicas das Intervenções Urbanas CIEC/UNICAMP
36
Leonardo Falangola, assessor do Gabinete da Superintendência do IPHAN de
São Paulo à época, foi enviado a São Luiz do Paraitinga nos primeiros dias de janeiro
de 2010 como coordenador das ações do IPHAN na reconstrução da cidade. Neste
trecho de seu depoimento10 fica evidente a importância da Capela das Mercês e da
Igreja Matriz (que também desabou) não só como monumentos arquitetônicos e
históricos da cidade, como também sua importância simbólica:
Alguns discursos que a gente viu, nos depoimentos que a gente via, quando
as pessoas nos buscavam para pedir ajuda, a primeira coisa que aparecia nos
discursos era: “Nos ajude a salvar as igrejas”. Depois: “Ajude a salvar nossa
casa” [...] Então aqueles dois edifícios passaram a ser entendidos como
prioritários para as instâncias públicas.
O depoimento de Falangola, ainda que corresponda ao seu papel como
representante do IPHAN, encontra-se explicitado no documento Projeto Básico
redigido por este órgão de preservação para as ações da reconstrução da Capela das
Mercês e utilizado como guia para a execução da obra. Já em seu item Objetivo
estipula que “A reconstrução da Capela permitirá a salvaguarda de uma das
referências culturais mais importantes para a comunidade luizense” (IPHAN, 2010c).
O texto segue salientando o papel da Capela das Mercês para além de sua
materialidade. Na Justificativa do mesmo Projeto Básico, o IPHAN coloca-se como
responsável não apenas pela reconstrução do edifício, ao redigir que “a comunidade
local deposita grandes expectativas de que o IPHAN promova a recuperação deste
bem cultural de grande significado e marco arquitetônico e religioso da cidade”
(IPHAN, 2010c).
Tratava-se de um momento de extrema fragilidade da população da cidade,
com a perda de seus edifícios de referência, além de suas casas e locais de trabalho,
documentos e objetos pessoais. O inesperado da situação exigiu esforços de
mobilização tanto do poder público local quanto da sociedade civil, acrescidos pela
presença dos órgãos de preservação do patrimônio, muitas vezes discordantes entre
si em suas proposições de como interferir e trabalhar com o patrimônio destruído.
5. Reconstrução e procedimentos; pressões e atitudes
10
Entrevista realizada em novembro de 2012, nas dependências do IPHAN/SP. Transcrição de SatikoSeki.
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Nas teorias sobre patrimônio, a reconstrução11 tem finalidades e aspectos
específicos. De acordo com a definição do Manual de elaboração de projetos de
preservação do patrimônio cultural
Reconstrução é conjunto de ações destinadas a restaurar uma edificação ou
parte dela, que se encontre destruída ou em risco de destruição, mas ainda
não em ruínas. A reconstrução é aceitável em poucos casos especiais e deve
ser baseada em evidências históricas ou documentação indiscutíveis. São
exemplos: as edificações destruídas por incêndios, enchentes, guerra, ou,
ainda, na iminência de serem destruídas, como no caso de construção de
barragens (BRASIL, 2005, p.13).
No caso da Capela das Mercês, justificou-se este procedimento pela sua
destruição pela enchente e pela existência de documentos suficientes, segundo
atestou Jaelson Bitran Trindade no Memorial Descritivo que elaborou para o IPHAN
A farta documentação gráfica e fotográfica arregimentada desde meados do
século passado, bem como os elementos construtivos salvaguardados através
daminuciosa seleção dos restos arruinados, permitem sem nenhuma dúvida a
pretendida reconstituição da edificação em seus aspectos gerais e particulares
(IPHAN, 2010b).
Houve críticas aos procedimentos de reconstrução em São Luiz do Paraitinga.
Uma delas é de Márcio Novaes Coelho Jr., arquiteto e urbanista e ex-técnico do
Condephaat, expressa por ele no III Simpósio de Arquitetura e Urbanismo –
Extremos: arquitetura & emergência realizado no Senac Santo Amaro em 2011
Após o drama vivenciado, com a retirada das famílias em áreas de risco e
com a chegada da estiagem, iniciou-se o processo de identificação e
reconhecimento de que ainda restava de pé. Junto às equipes de socorro,
surgiram também as primeiras reações enérgicas de autoridades: passado o
dilúvio, a cidade deveria ser prontamente reerguida, com técnicas atuais, mas
"tudo assim como era antes". Ignorando qualquer diretriz, recomendação ou
experiência da ação preservacionista anterior, políticos cumpriam o papel que
lhes convém, de dar respostas prontas a questões urgentes, eliminavam
qualquer possibilidade de diálogo a respeito do que deveria ser feito diante de
tamanho infortúnio e, selavam o destino da cidade: tornar-se um grande
cenário, o mais fiel possível ao que um dia haveria sido (COELHO JR., 2011).
11
Em muitos documentos elaborados pelo IPHAN para o processo da Capela das Mercês, aparecem os
termos reconstrução, reconstituição e restauro usados indiscriminadamente ora um, ora outro.
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Em contraposição, outro trecho do depoimento de Leonardo Falangola, no qual
ele atribui à pressão da comunidade de São Luiz do Paraitinga a escolha técnica feita
pelo IPHAN, mesmo com divergências entre seus arquitetos
Até aqui dentro do próprio IPHAN tem muita discussão [...] Algumas correntes
achavam que tinha que ser uma linguagem nova, que voltasse essa igreja,
mas que ficasse marcado que era um edifício novo. Outras, inclusive a
proposta que permaneceu, no âmbito técnico, discussão técnica, que é a
teoria que fala sobre construir como era, onde era, para devolver aquela
referência cultural [...]Então a demanda que o IPHAN recebeu da sociedade é:
“Eu quero aquela minha igreja de volta”. Existia essa demanda muito clara da
sociedade, que eles não aceitariam qualquer outra coisa que não fosse aquela
igreja que eles perderam, como a referência mais antiga da cidade. E isso
reforçou, conduziu a escolha técnica.
Não foram feitas entrevistas com outros peritos que pudessem trazer pontos
de vista alternativos.
Pode-se inferir, ainda pelo Memorial Descritivo do IPHAN, como foram
previstas as ações da reconstituição da Capela das Mercês:
O partido adotado, para evitar a mera reconstrução histórica, parte do
princípio da preservação dos remanescentes dos muros de taipa de pilão, que
ocorrem em todo o perímetro do edifício, com cerca de um metro de altura,
bem como no reaproveitamento de todo o madeiramento de portas e janelas,
estruturas de forros, guarda-corpos, balaustradas, coberturas, beirais, telhas,
elementos decorativos etc., os quais depois de revisados ou restaurados serão
repostos em seus locais de origem. Os elementos faltantes serão refeitos,
obedecendo às dimensões, formatos e “desenhos” originais.As alvenarias das
paredes faltantes serão refeitas em tijolos de barro cozido, que desde meados
do século XIX, foram sucessores naturais do antigo sistema construtivo em
taipa de pilão. Para evitar que estas alvenarias descarreguem seu peso e o
das coberturas sobre as frágeis paredes de taipa remanescentes, será
introduzido um sistema estrutural em concreto armado, formado por brocas,
“pilaretes” e baldrame, acima das taipas. As paredes de alvenaria de tijolos
serão auto-portantes, encimadas por cinta de amarração de concreto em seu
respaldo.Externamente, as alvenarias de taipa ou de tijolos serão revestidas e
caiadas. Internamente, as paredes de taipa serão aparentes na nave e
Capela-mor, protegidas por vidro temperado. As de tijolos também serão
revestidas e caiadas.Os pisos da nave, Capela-mor, coro e corredor de acesso
ao púlpito serão entabuadas. Os demais pisos serão revestidos com lajotas de
barro cozido (IPHAN, 2010b).
Esta descrição, associada aos apelos para que a Capela fosse feita à imagem e
semelhança da anterior, pode ser associada à distinção entre aspecto e estrutura,
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proposta por Cesare Brandi, classificada por ele como “sutil” e que aparece revelada
em seu texto, utilizado por aproximação da situação pesquisada neste texto:
Veja-se agora um outro exemplo, aquele de um edifício que, parcialmente
derrubado por um terremoto, se presta, no entanto, a uma reconstrução ou
anastilose. Nesse caso, o aspecto não pode ser considerado só como a
superfície externa dos blocos, mas estes últimos deverão permanecer como
blocos, não apenas na superfície; no entanto, a estrutura parietal interna
poderá mudar, para se garantir de futuros terremotos e até mesmo a
estrutura interna das colunas, se existirem, poderá ser substituída, desde que
com isso não se altere o aspecto da matéria. Mas também aqui será
necessária uma refinada sensibilidade para assegurar que a estrutura alterada
não se repercuta no aspecto (BRANDI, 2014, p. 37).
As preocupações em divulgar as alterações de estrutura e as não alterações
no aspecto ficam evidentes no texto d’O Jornal da Reconstrução no.18, de março de
2011, ao apresentar uma entrevista com o arquiteto Antonio das Neves Gameiro, que
consta como responsável pela gestão do projeto na documentação do IPHAN. Em um
trecho da matéria, percebe-se que é novamente enfatizado o fato de que a nova
construção será “igual” a anterior, como se lê:
O arquiteto informa que as novas paredes serão de tijolos antigos, antes
usados no muro da capela e também na sacristia. As colunas de sustentação,
que antes não existiam, serão de concreto armado. “Mesmo com toda esta
mudança estrutural em relação ao original, a igreja restaurada será igual ao
que era antes”, assegura Antonio. Na nova Mercês, haverá uma espécie de
janela de vidro, num local onde sobrou escombro, para que o visitante veja
como era a parede original de argamassa de taipa (CERQUEIRA, 2011).
A comunidade luizense pressionou para ter sua cidade de volta mas,
principalmente, exigiu a igualdade e semelhança das edificações com aquelas
atingidas pela enchente.Pelos depoimentos e documentos, parece ter sido esse
aspecto que o IPHAN levou em consideração para validar seus procedimentos na
restauração da Capela das Mercês.
Sobre a autenticidade do monumento, o IPHAN justificou-se recorrendo ao
Documento da Conferência de Nara (Japão,1994) mas, principalmente, à Carta de
Brasília – documento regional do Cone Sul sobre o tema, datada de 1995 e da qual
usou o seguinte trecho:
O significado da palavra autenticidade está intimamente ligado à idéia de
verdade: autêntico é o que é verdadeiro, o que é dado como certo, sobre o
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qual não há dúvidas. Os edifícios e lugares são objetos materiais, portadores
de uma mensagem ou de um argumento, cuja validade, no quadro de um
contexto social e cultural determinado e de sua compreensão e aceitação pela
comunidade, os convertem em um patrimônio. Poderíamos dizer, com base
neste princípio, que nos encontramos diante de um bem autêntico quando há
correspondência entre o objeto material e seu significado. (...) A mensagem
original do bem deve ser conservada (...), assim como a interação entre o
bem e suas novas e diferentes circunstâncias culturais que deram lugar a
outras mensagens diferentes, porém tão ricas como a primeira. Isso significa
assumir um processo dinâmico e evolutivo. Assim é que a autenticidade
também faz alusão a todas as vicissitudes às quais o bem foi sujeito ao longo
12
de sua história e que, contudo, não alteraram seu caráter .
Pode-se, sobre o tema da autenticidade, acrescentar o pensamento de Muñoz
Viñas (2010), mesmo que o procedimento na Capela, mais que uma restauração,
tenha sido sua total reconstrução:
La idea de que la Restauración devuelve a la obra a su estado auténtico es
uma ingenuidade que se basa em outra anterior y más importante: la idea de
que esse estado auténtico es distinto Del actual y existe fuera de la
imaginación Del sujeto. La Restauración no se hace em aras de la Verdad, em
aras de la Ciencia, em aras de la Cultura o em aras del Arte. La Restauración
se hace para los usuários de los objetos: aquellos para quienes esos objetos
significam algo, aquellos para quienes esos objetos cumplen uma función
esencialmente simbólica o documental, pero quizá también de otros tipos. La
validez de un tipo o otro de Restauración depende de cómo ellos entiendan
que deben realizarse este tipo de trabajos. Esta interpretación puede variar,
pero es el consenso entre los afectados (o sus representantes, o los
sabedores enquien ellos confien) lo que em última instancia determinará su
validez (MUÑOZ VIÑAS, 2010, p.176).
No caso da Capela das Mercês, ficou estabelecido entre os afetados (a
população luizense, em sua maioria) e os detentores do saber (no caso, o IPHAN),
que sua reconstrução seria realizada de modo a aproximar o novo edifício ao antigo,
sobrevivente nas memórias, e que o novo seria, portanto, autêntico. Tentou-se,
portanto, privilegiar a função simbólica que a Capela adquiriu ao longo do tempo na
cidade. Por ser o primeiro edifício a ser refeito, sob enorme pressão da população e a
atenção da mídia voltada à cidade e ao que seria realizado, não houve uma discussão
técnica aprofundada sobre a melhor solução para a reconstrução.
12
Ata a 66ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada em 9/12/2010, na qual se
tratou da proposta de tombamento do Centro Histórico de São Luiz do Paraitinga, no Município de São
Luiz do Paraitinga (SP), contida no Proc. nº 1.590-T-2010 (01506.000169/2010-11). Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/baixaFcdAnexo.do;jsessionid=0C1AB167016EC3CD63F1DB89FFC00E7E?id=27
51.
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41
A pressão política para soluções rápidas também era grande, e fica evidente
em uma matéria do jornalista Rogério Pagnan, do Caderno Cotidiano da Folha de
S.Paulo13, na qual se lê que o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), em
visita a São Luiz do Paraitinga, criticou os órgãos de proteção do patrimônio e “cobrou
menos discussão e mais trabalho para reconstruir rapidamente o município”. Sobre a
Igreja Matriz de São Luís de Tolosa, opinou Serra"Minha posição é que a igreja seja
refeita inteiramente igual ao que era, reproduzindo [a original]. Porque ela ficou no
chão e não tem muito patrimônio histórico para observar." Continuou o governador
"Vai
ter
que
ter
um
debate
mais
rápido,
porque,
se
for
ficar
discutindo
academicamente, vão se passar alguns anos e não vai acontecer nada", afirmou. Essa
visita aconteceu em 6 de janeiro de 2010, apenas alguns poucos dias após os
desmoronamentos das igrejas.
6. Apontamentos sobre outros edifícios da cidade
A Igreja Matriz de São Luís de Tolosa teve sua reconstrução concluída em 16
de maio de 2014. Um vídeo14 produzido pela empresa Formarte, responsável técnica
pelo projeto, assim apresentava as obras: “o projeto de restauração foi desenvolvido
preservando ao máximo suas características prévias ao incidente. A reconstrução
respeitará o volume e as fachadas originais. Em seu interior, as galerias laterais
servirão de espaço de memória da sua história e do processo de restauração”.
Também era destacado o simbolismo religioso de seus altares e pinturas, e a igreja
era declarada o “principal espaço de celebração religiosa e social” da cidade. Aqui,
novamente, aparecem os indícios da promessa de que a nova igreja será, tanto
quanto possível, “igual” a anterior.
A apresentação do Encontro Internacional Arquimemória4: sobre preservação
do patrimônio edificado, realizado em 2013 pelo Instituto dos Arquitetos da Bahia,
demonstra que esta é uma situação encontrada em vários pontos do Brasil
Os diversos grupos sociais têm, cada vez mais, exigido participar das decisões
sobre o que e como preservar, influenciando diretamente nas ações
desenvolvidas pelos órgãos de preservação e até mesmo reivindicando, em
alguns casos, a reconstrução de monumentos destruídos por sinistros. A
reconstrução, já concluída, do Hotel Pilão, em Ouro Preto, da Igreja Matriz de
13
PAGAN, Rogério. Em São Luiz do Paraitinga, Serra cobra rapidez de órgãos do patrimônio. Folha de
S.Paulo.
São
Luiz
do
Paraitinga,
07/01/2010.
Cotidiano.
Disponível
em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u675929.shtml. Acesso em setembro/2014.
14
Disponível em http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/site/reconstrucao/apresentacao-do-projetode-reconstrucao-e-restauro-da-igreja-matriz/
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Pirenópolis, em Goiás, e da Capela das Mercês, em São Luiz do Paraitinga, no
Estado de São Paulo, bem como a reconstrução, em curso, da Igreja Matriz de
São Luiz de Tolosa, também em Paraitinga, todas exigidas pelas comunidades
locais, contrapõem-se ao posicionamento dominante entre os técnicos dos
órgãos de preservação que nega a possibilidade de reerguer os testemunhos
do passado que se perderam, replicando no Brasil processos que já vinham
sendo registrados em outros países15.
Em diversas falas sobre a Capela das Mercês, o que se quis demonstrar foi a
suposta força da comunidade luizense no comando das ações.Parte dessa imagem
está na frase do diretor de turismo da cidade, Eduardo de Oliveira Coelho: “São Luiz
perdeu parte de seus casarões, mas não perdeu sua cultura. Perdeu parte de sua
igreja, mas não perdeu sua fé. A união desse povo é que faz a reconstrução” (SIMAS,
2011). A colaboração da sociedade não foi e não é, exatamente, equânime; enquanto
os prédios públicos tombados receberam apoio financeiro dos governos federal e
estadual e, em sua maioria, já foram reerguidos ou restaurados, as edificações
tombadas pertencentes a particulares ainda não foram totalmente refeitas, pois seus
proprietários depararam-se com dificuldades como a necessidade de documentação
específica, de projetos de restauro feitos por especialistas e de obtenção de
financiamentos para a obra, o que trouxe diferenças e desentendimentos com parte
da população.
As propriedades particulares de imóveis tombados de famílias com renda
superior a dez salários mínimos são de responsabilidade de seus donos. Apesar de
terem encontrado auxílio em associações como a AMI, algumas condições não foram
possíveis de serem cumpridas e os imóveis encontram-se sem utilização. Esses
proprietários tiveram acesso a linhas de financiamento para restauração ou reforma
de suas casas, obtidos por meio de empréstimo, facilitado por uma carta de crédito
resultante do convênio entre a Secretaria de Estado da Cultura e a Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU. O empréstimo, um financiamento a
longo prazo, foi subsidiado em parte pelo governo estadual e em parte financiada pela
CDHU. Mas vale lembrar que muitos dos edifícios não foram reerguidos até hoje por
falta de condições financeiras de seus donos.
Aos moradores que tiveram suas casas não tombadas destruídas e aos que
habitavam as áreas de risco foram destinadas 150 casas populares, construídas por
meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU, do governo
15
Apresentação. Encontro Internacional Arquimemória4: sobre preservação do patrimônio edificado.
Disponível em http://www.iab-ba.org.br/arquimemoria4/. Acesso em outubro/2014.
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do Estado, sendo 45 casas térreas e 105 sobrados geminados. Esses imóveis, pagos
em até 25 anos, de 55 a 65 metros quadrados de área construída, foram montadas a
partir de painéis de PVC, preenchidos com concreto. Como explicava o Jornal da
Reconstrução em sua segunda edição, “o PVC é um material altamente resistente a
agentes externos, como a chuva, vento, alterações térmicas, erosão natural ou a
ácidos e combustíveis, além da fácil manutenção” (CERQUEIRA, 2010).Esse conjunto
de casas recebeu o nome de Residencial Casinha Branca, em alusão à música de
mesmo nome de Elpídio dos Santos, o mais famoso compositor e músico da cidade.
Sete prédios públicos tombados foram danificados pela enchente. Entre eles, a
antiga sede do Executivo municipal, imóvel que havia sido reformado recentemente e
que teve sua estrutura comprometida. A Biblioteca Municipal e a Escola Municipal Prof.
Waldemar Rodrigues desabaram e foram reconstruídas com verbas da Secretaria de
Estado da Cultura, sob a supervisão técnica do Condephaat. Durante o período das
obras, os tapumes que cercavam a Escola Municipal receberam pinturas de seus
alunos, que puderam se expressar sobre suas perdas. No caso da Biblioteca, sua
construção foi alvo de várias reclamações dos moradores da cidade; primeiro, em
relação à mudança visual do projeto original e, segundo, pelo uso de poliestireno
expandido (comumente conhecido por isopor) na construção dos parapeitos das
janelas, material que começou a se deteriorar antes mesmo da inauguração do
edifício. O casarão histórico, construído em 1889 e planejado por Euclides da Cunha,
recebeu, com a reforma, janelas com alumínio e vidro e portas de metal no lugar das
janelas e portas de madeira originais, além de uma garagem e da retirada das escadas, o
que causou grande rejeição por parte dos luizenses.
7. Entrega da Capela
Um momento muito significativo durante as obras foi o do encontro da
imagem de Nossa Senhora das Mercês, pelo ajudante de José Carlos Imparato, o
Túlio. Confeccionada em terracota policromada, ela ficou reduzida a 94 fragmentos.
Também foi motivo de discussão a permanência da imagem em São Luiz do Paraitinga
para sua recuperação e restauro. A Diocese de Taubaté queria levar a imagem, mas
foi impedida. Sua remoção, segundo Imparato, causaria ainda mais dor e sensação de
perda para os luizenses.
Nove meses depois da enchente, “a Capela de Nossa Senhora das Mercês é o
primeiro monumento recuperado e entregue à população de São Luiz do Paraitinga,
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uma das poucas cidades do Brasil onde as ações estão sendo pautadas pelo turismo
cultural”16, nas palavras do presidente do IPHAN à época, Luiz Fernando de Almeida.
Em sua fala encontram-se todos os elementos cujas pistas foram descritas
neste trabalho: a Capela entendida como monumento, a população como detentora de
seu patrimônio e ações que visam ao turismo cultural. O discurso institucional do
presidente coloca em evidência uma política cultural, e deixa para os interessados
analisar as tensões e disputas que o patrimônio histórico, artístico, arquitetônico,
tangível ou intangível provoca e as intenções de sua utilização.
Com a imagem de Nossa Senhora das Mercês recuperada e de volta ao seu
altar, a festa de reabertura da Capela aconteceu em 25 de setembro de 2011, num
domingo de festa: quermesse, desfile de bonecões, dança de fita, congada, missa
(Figura 2).
Presentes à celebração, as autoridades na ocasião - a Ministra da Cultura Ana
de Hollanda, o presidente do IPHAN Luiz Fernando de Almeida, a prefeita do município
Ana Lúcia Bilard, o bispo de Taubaté Dom João Carlos Rohden - luizenses e eu.
Figura 2 - Uma das atividades culturais, realizada em frente à Capela das Mercês, em São Luiz do
Paraitinga, no dia da entrega do edifício reconstruído.
Fonte: Foto Nana Vieira, 25 de setembro de 2011.
8. Referências
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