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Entrevista Com Cid Vale Ferreira

Abusões

339 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 02 ENTREVISTA COM O EDITOR CID VALE FERREIRA Alexander Meireles da Silva (UFG-Catalão) Fernando Monteiro de Barros (UERJ-FFP) Júlio França (UERJ) Recebido em 10 jun 2019. Alexander Meireles da Silva é Doutor em Literatura Aprovado em 11 jul 2019. Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008), Mestre em Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003), Especialista em Educação a Distância pelo SENAI-RJ (2003), Especialista em Literaturas de Língua Inglesa (2000), Bacharel e Licenciado em Língua Inglesa e Literaturas Correspondentes (1998) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Desde 2009 atua como Professor Associado de Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa da Unidade Acadêmica Especial de Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão, onde também é Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da RC/UFG. É membro fundador dos Grupos de Pesquisa Estudos do Gótico (CNPq) e Nós do Insólito: Vertentes da Ficção, da Teoria e da Crítica (CNPq) que reúnem pesquisadores e pesquisadoras de diversas universidades do Brasil. Suas pesquisas se concentram na área Literatura Fantástica. É criador de conteúdo do blog Fantasticursos (www.fantasticursos.com) e do canal do YouTube Fantasticursos (www.youtube.com/fantasticursos), onde oferece conteúdo, cursos e consultoria sobre o Fantástico na Literatura e no Cinema nas vertentes da Fantasia, Gótico, Horror e Ficção Científica. REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 340 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Fernando Monteiro de Barros é Professor Adjunto de Literatura Brasileira na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística (PPLIN) e desenvolve pesquisa sobre literatura gótica brasileira. É membro pesquisador do grupo (CNPq) Estudos do Gótico. Júlio França tem Doutorado em Literatura Comparada pela UFF (2006), com Pós-doutorado pela Brown University (2015). É professor de Teoria da Literatura do Instituto de Letras e líder do grupo de pesquisa Estudos do Gótico (CNPq). Criador e administrador, desde 2010, do site Sobre o Medo, dedicado à divulgação de estudos acadêmicos sobre o gênero do horror na literatura. Fundador e coeditor geral do periódico acadêmico Abusões, voltado para a publicação de artigos sobre a literatura fantástica e gótica. Suas publicações mais recentes são As nuances do Gótico: do Setecentos à contemporaneidade (Bonecker, 2017); Poéticas do Mal: a literatura do medo no Brasil (1840-1920) (Bonecker, 2017) e Páginas Perversas: narrativas brasileiras esquecidas (Appris, 2017). E-mail: julfranca@gmail.com REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 341 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Cid Vale Ferreira é bacharel em Letras pela FFLCHUSP, livreiro e editor. Organizador de Voivode: Estudos sobre os vampiros (2003) e As Trevas e Outros Poemas de Lord Byron (2007). É sócio do Sebo Clepsidra, que tem três livrarias no estado de São Paulo e uma editora independente focada nos imaginários Gótico, Romântico e Decadentista. Idealizou recentemente a Coesão Independente, um grupo horizontal de editoras independentes unidas por ações de apoio mútuo. P.: Cid Vale Ferreira, a Revista Abusões agradece imensamente por sua disponibilidade para conceder esta entrevista para a edição que celebra os 200 anos do conto “O Vampiro” (1819), de John Polidori. Comecemos, pois, com o tema de nosso dossiê: Qual a importância da narrativa de Polidori para o desenvolvimento da imagem dos vampiros como conhecemos hoje? R.: Eu que agradeço a oportunidade de participar de uma iniciativa tão necessária ao desenvolvimento dos estudos não apenas do Gótico, mas de toda a literatura fantástica no Brasil. Gostaria de parabenizá-los também pela escolha do tema desta edição. O bicentenário da publicação do conto é de extrema importância para o desenvolvimento de um dos ramos mais longevos da tradição gótica: a narrativa centrada na ameaça representada por um vampiro aristocrático. Podemos nos perguntar, por exemplo, quantas personagens masculinas conhecemos da literatura vampírica anterior a Lord Ruthven, o vampiro de Polidori. Antes, sugiro que não nos detenhamos em discussões sobre monstros hematófagos das mitologias, sobre gules orientais, sobre revenants das baladas macabras, sobre “mortos mastigadores” da Idade Média etc. REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 342 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Sugiro focarmos nos vampiros modernos posteriores ao Visum et Repertum e demais documentos que popularizaram a lenda nos moldes consolidados nas primeiras décadas do século XVIII. Nesse recorte, onde estão os vampiros? No poema de Heinrich Ossenfelder, “Der Vampir” (1748), o vampiro é apenas mencionado pelo eu lírico como algo em que ele gostaria de se tornar, em seu ímpeto vingativo. Na lírica de Goethe, Coleridge e Southey, as personagens Filínion (ou melhor, a versão vampírica inspirada por ela), Christabel e Oneiza são todas femininas. O mesmo ocorre no conto “Liebeszauber” (1812), de Ludwig Tieck. Na ópera cômica de Silvestro Palma, I Vampiri (1812), as personagens apenas desconfiam umas das outras, temendo estar rodeadas de vampiros (o que não se confirma). É verdade que, nas notícias sobre as suspeitas de ataques vampíricos do século XVIII, muitos dos supostos vampiros eram homens, mas eles não haviam sido propriamente “literalizados”. Figuravam em notícias de jornal, em perícias médicas, em dicionários filosóficos, em tratados de teologia, mas sempre como figuras históricas sobre quem se comentava, nunca como personagens literárias. É possível que sejam descobertas personagens vampíricas masculinas em textos anteriores a O Vampiro (alguns estudiosos citam textos alemães perdidos de 1801 e 1812 como candidatos a ocupar essa vaga), mas a criação do primeiro vampiro masculino de relevância internacional em uma narrativa de ficção coube a Polidori. Não bastasse sua importância como marco histórico, Ruthven também é notável como o protótipo REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 343 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 de uma longa (longuíssima) cadeia de personagens que lhe devem tributo. Trata-se do vampiro byroniano, resultado da confluência de três pontos: o primeiro é a lenda do vampiro, o segundo é Augustus Darvell, personagem rediviva criada pelo próprio Byron no célebre “concurso” de Diodati, em seu conto inacabado, enquanto o terceiro são traços que podem ser considerados uma caricatura do próprio poeta londrino. Trata-se da mescla de donjuanismo com fatalidade, de beleza física com monstruosidade sobrenatural, e de nobreza social com vileza de caráter. Tudo isso foi apimentado pela atribuição enganosa da autoria do conto a Byron, o que contribuiu para catapultar o vampiro pensado nesse molde como vilão digno da pena de qualquer autor. Podemos listar alguns exemplos de obras tributárias ao conto. O primeiro romance vampírico europeu foi Lord Ruthven ou Les Vampires (1820), do francês Cyprien Bérard. A peça responsável por popularizar o vampiro no teatro da França foi Le Vampire (1820), colaboração de Charles Nodier, Achille de Jouffroy e Pierre-Frédéric-Adolphe Carmouche com base no conto. Da mesma maneira, a peça que popularizou o vampiro nos palcos britânicos foi The Vampire; or, the Bride of the Isles! (1820), de autoria de James Planché, baseada por sua vez na peça francesa. Na Alemanha, a peça que introduziu o vampiro aos palcos foi outra adaptação do roteiro de Nodier, Jouffroy e Carmouche, intitulada Der Vampir oder die Totenbraut (1821), de Heinrich Ludwig Ritter, que por sua vez serviu de base para a influente ópera Der Vampyr (1828), de Heinrich Marschner. Não por acaso, entre 1828 e 1835, foram publicados na REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 344 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Alemanha quatro contos intitulados “Der Vampyr” (por J. E. H. em 1828, por Isidor em 1833, por Hirsch e Wieser em 1835, e, finalmente, por Franz Seraph Chrismar em 1835). Aliás, em um exercício metalinguístico impressionante, o conto de Isidor menciona não apenas a ópera de Marschner e o conto de Polidori (atribuindo-o ainda a Byron), como promove uma intensa reflexão sobre a tradição da narrativa vampírica que começava a ser moldada. Além desse impacto inicial, personagens como Sir Francis Varney, do penny dreadful Varney, o Vampiro (1845-1847), que, tal como Lord Ruthven, também ressuscita ao ser exposto ao luar, e o próprio Conde Drácula, de Drácula (1897), jamais existiriam da maneira como foram pensados se não fosse pela criação de Polidori. P.: Como você encara a longa tradição da literatura de vampiros: é uma referência para se seguir, subverter ou inovar? R.: Essas três maneiras de lidar com ela são igualmente importantes em sua manutenção. Ao seguir e reproduzir o que há de formulaico nessas narrativas, temos a permanência das estruturas que fizeram com que o vampiro moderno se tornasse um fenômeno cultural e quase mítico nos últimos séculos. É o que temos ao observar a publicação de obras como a novela Carmilla (1872), de Sheridan Le Fanu, que retoma elementos do poema de Coleridge, “Christabel” (1816), e da novela anônima alemã traduzida como The Mysterious Stranger (1860) e, mais recentemente, o romance Dracul: A origem de um monstro (2018), de Dacre Stoker e J. D. Barker, que ajudou a reavivar o interesse dos jovens pelo transilvano de Bram Stoker. REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 345 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Muitas vezes será necessário subvertê-las para adaptar a tradição aos novos tempos, seja pra introduzir alívios cômicos em meio a solenidade de algumas representações da lenda, como fez Paul Féval com seu La Ville-Vampire (1867), ou para suscitar reflexões mais complexas, como fez Matheson com o clássico Eu Sou a Lenda (1954). As inovações mantêm a temática pertinente no decorrer das décadas, seja aprimorando a complexidade social das relações entres os mortos-vivos, como Anne Rice propõe nas Crônicas Vampirescas, seja aproximando os vampiros de estéticas mais modernas, como vemos no filme Fome de Viver (1983), cuja ambientação criou uma associação permanente entre a subcultura gótica e os sanguessugas. P.: Você é o organizador de Voivode; estudos sobre os vampiros (Jundiaí, SP: Pandemonium, 2002), obra seminal sobre o tema no Brasil. Quando os vampiros surgiram na sua vida, a ponto de lhe despertar o interesse por estudá-los, e, depois, publicar um livro de referência sobre o tema? R.: Muito cedo! Eu tinha quatro anos em 1983 quando, em uma viagem para Belo Horizonte com meus pais e irmãos, ouvimos do meu pai a promessa de que cada um poderia escolher uma HQ na próxima parada se nos comportássemos naquele banco traseiro. Dito e feito! Peguei um gibi que tinha uma imagem do Spectreman no que eu pensei ser a capa, mas na verdade se tratava de um anúncio na quarta capa de uma edição da Capitão Mistério (Almanaque de Terror 2), com imagens bem gráficas e sangrentas para alguém REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 346 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 daquela idade. Eu ainda não lia muito bem, mas passei anos e anos com essas histórias gravadas na memória. A primeira trazia um vampiro baseado no Christopher Lee e a segunda, que depois descobri ter sido escrita pelo R. F. Lucchetti, falava de uma condessa vampira que invadia o quarto de seus hóspedes com asas de morcego. Fiquei tão impressionado que acordei apavorado, e meu pai ficou chocado ao ver do que se tratava realmente a HQ que comprei. Ele a rasgou em pedaços e, protetor, disse que eu jamais voltaria a ler algo daquele tipo. Deu no que deu. Daí em diante, os desenhos animados, os filmes, games e livros sobre vampiros passaram a me interessar. Aos treze anos meu quarto parecia um museu de vampiros, com muitos pôsteres, quadros e banners com vampiros do cinema. Passei a ler sobre eles em livros que me deram a base para começar a pesquisar mais seriamente sobre vampiros na história e na arte. Tempos depois, quando precisei decidir qual seria o tema de um primeiro livro de uma coleção ligada ao meu site da época, o Carcasse.com, acabei escolhendo os vampiros. Obs.: Cerca de três décadas e meia depois, encontrei outra cópia da tal HQ! P.: Como alguém que edita e veicula a literatura de vampiros no Brasil, como você, vê o meio hoje em termos de quem escreve? Houve mudanças em relação à época de Voivode, no início dos anos 2000? R.: Em poucos anos após o lançamento do Voivode, já estávamos vivendo em outra realidade. Reunir o que levantamos no livro REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 347 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 envolveu pequenas aventuras bibliográficas. Vou contar como chegamos a dois desses textos, só para dar uma ideia aos mais jovens de como era a pesquisa na época. Eu estava escrevendo um texto sobre a presença do vampiro na poesia nacional. Não havia um sistema de busca que varresse toda a internet em busca de palavras-chaves como passamos a ter com o Google. Fui a um sebo certo dia e abri antologia por antologia de poesia, buscando alguma pista nos sumários. Nada. Passei então a folhear as obras e a fazer uma leitura dinâmica atrás de palavras do campo semântico associado ao vampirismo. Hoje isso seria considerado praticamente loucura. Em cerca de quatro horas, encontrei apenas uma ocorrência, mas foi uma baita ocorrência: “A Noite” (1799), poema de Silva Alvarenga que trazia o verso “E o Vampir de sangue tinto”, considerado a primeira ocorrência do vocábulo em nossa poesia em uma nota de rodapé que também acenava para outra obra, “Octávio e Branca”, do Barão de Paranapiacaba, na qual, afirmava a nota, pela primeira vez deixamos de ter “vampiro” significando apenas “morcego hematófago” e passamos a ter a presença do vampiro lendário. Visitei umas cinco bibliotecas com boas seções de obras raras, mas não encontrava o livro A Harpa Gemedora (1849), no qual estaria essa narrativa em versos. Tive de apelar a amigos do Rio de Janeiro, e minha amiga Shirlei Massapust localizou-o na Biblioteca Nacional, onde microfilmamos os trechos correspondentes ao prefácio e ao poema. Isso custava caro, e algumas semanas depois pudemos REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 348 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 digitar as páginas impressas pela revelação do microfilme. Hoje bastaria baixar o PDF on-line gratuitamente. Em outro caso, comprei e li o livro Esquecidos por Deus (2000) de Mary Del Priore, atrás de notícias sobre vampiros no Brasil. Lá, havia uma menção aos “abantesmas” mencionados no livro Zoologia Fantástica do Brasil (1934), de Afonso de Taunay. Achei com certa facilidade um exemplar na USP e lá havia uma menção aos vampiros de um grimório português de magia do século XVIII. Novamente, promovemos uma caçada ao livro, e novamente a Shirlei o achou no Rio, no Real Gabinete Português de Leitura, onde transcreveu e digitou o capítulo dedicado aos vampiros no livro Raridades da natureza e da arte (1759), de Pedro Norberto de Aucourt e Padilha. Hoje, igualmente, bastam segundos para baixarmos um PDF dele. É outra realidade! P.: Como bibliófilo, você indicaria alguma obra da literatura de vampiros ainda desconhecida do grande público e dos estudos acadêmicos sobre o tema? R.: Muitas das raridades que localizei em minhas pesquisas eu publiquei no Voivode (2003), então não sei se podemos considerá-las desconhecidas, mas creio que mesmo alguns marcos importantes dos países que mais produziram literatura vampírica são pouco lidos por aqui, e acredito que a barreira da língua seja o principal entrave. Da Alemanha, o já mencionado conto “Liebeszauber” (1812), por exemplo, de Ludwig Tieck, é considerado a primeira obra em prosa a trazer uma vampira como personagem. Muitos dos REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 349 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 contos derivados da obra de Polidori, como os que eu citei em uma resposta anterior, também jamais foram traduzidos para o português. O primeiro romance vampírico da França, Lord Ruthven ou les Vampires (1820), de Cyprien Bérard, também nunca foi traduzido. Isso, sem citar o influentíssimo drama de Charles Nodier, um dos maiores responsáveis pela difusão do protótipo de Polidori pela Europa. Da Inglaterra, há alguns contos que são ouro puro. A primeira narrativa vampírica escrita por uma mulher, “The Skeleton Count, or The Vampire Mistress” (1828), de Elizabeth Caroline Grey, por exemplo, mescla vampirismo com reanimações de cadáveres à Frankenstein e maldições como a que transforma o personagem-título em um esqueleto animado todas as noites. É divertidíssimo! Isso, sem falar no rei dos penny dreadfuls, o espetacular Varney, o Vampiro, do qual muito se fala, mas pouco se lê. No Brasil, eu destacaria que as metáforas vampíricas dos poemas de Zoroastro Pamplona têm um quê baudelaireano bastante sombrio, e ainda não me conformo de não haver dezenas de estudos sobre a produção do nosso decano R. F. Lucchetti (que criou inúmeros vampiros em suas centenas de obras). P.: Você está à frente da edição da primeira tradução brasileira do Varney, the Vampyre. Conte-nos um pouco sobre como surgiu a ideia de publicar a obra? R.: Quando eu estava escrevendo e organizando o Voivode, meu grande amigo Carlos Primati (um dos coautores e editor da obra) tinha uma editora que até então só existia no papel. REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 350 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Resolvemos inaugurar o catálogo dela com nosso livro e ele me convidou para criar um plano de publicações. No nosso primeiro brainstorm, já havíamos decidido traduzir o romance. Montamos uma equipe com três tradutores (nós e o editor Ricardo Giassetti) e começamos a nos revezar nas traduções de cada capítulo em 2002. Não avançamos muito, e não nos culpo. A empreitada é longa e árdua (são mais de 200 capítulos em inglês de meados do século XIX). Com a abertura da editora Sebo Clepsidra, em 2018, recuperei os planos que havia feito para a Pandemonium (editora do Primati) e logo reativei vários projetos antigos, incluindo esse. Quase desistimos logo no início, pois nossas parceiras da editora Wish haviam anunciado seu lançamento, mas o anúncio de que elas não lançariam mais a obra nos motivou a retomar o nosso. Para mim, conhecer a obra é conhecer algo único. Vemos ali a gênese de inúmeras soluções que se tornariam clichês nas narrativas vampíricas, e os autores (dos quais é certo que James Malcolm Rymer era o principal) tinham de pensar o impensável para manter o ritmo frenético da ação. Trata-se de uma leitura surpreendente! Mesmo que dê muito trabalho, mesmo que não dê retorno financeiro, creio que estarei muito feliz por oferecer algo dessa magnitude ao público brasileiro. P.: O que você poderia nos contar sobre seus mais recentes projetos editoriais? R.: Tenho muito interesse em ampliar o número de coleções da editora. Sou fã e colecionador de séries como a Trevo Negro e a Livro B. Minha meta é que uns 80% do nosso catálogo em REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 351 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 breve seja organizado em coleções. Atualmente, temos as coleções Lord Byron, Imaginário Gótico e Clássicos dos Penny Dreadfuls. Estamos criando uma de livros não literários (iniciada por Mitologia Lovecraftiana, de Caio Bezarias, e Gótico, de Fred Botting, ambas em edições ilustradas), uma sobre narrativas decadentistas (em parceria com a editora Raphus Press), uma sobre byronismo nacional (repleta de obras nunca reeditadas), uma de poemas narrativos (focada em rimances góticos do Brasil e Portugal) e uma de bluebooks góticos inéditos em português. Não estou falando de planos de longo prazo, isso tudo já está em produção. Estamos moldando nosso modelo de negócio para que os financiamentos coletivos se tornem nossa espinha dorsal, então convidamos todos os interessados em ver esse tipo de obra ganhando edições físicas a nos seguir nas redes sociais e na plataforma Catarse, pois quanto mais apoio tivermos nas divulgações desses projetos, mais rapidamente essas edições ganharão vida. P.: Cid, agradecemos muito sua gentil atenção e suas respostas tão cheias de preciosas informações para quem pensa em iniciar uma pesquisa sobre vampiros na literatura. Aproveitamos, por fim, para lhe perguntar se você gostaria de dizer algo mais os leitores da Abusões. R.: Gostaria de deixar nosso contato e nossos perfis nas redes a todos os interessados em nos acompanhar: Facebook: http://fb.me/seboclepsidra REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05 352 ENTREVISTA http://dx.doi.org/10.12957/abusoes.2019.44654 Instagram: @seboclepsidra E-mail: seboclepsidra@gmail.com Catarse: www.catarse.me/pt/users/22928/ De resto, sugiro sempre que apoiem as publicações independentes. São elas que apostarão no inusitado quando todas as grandes estiverem de costas para tudo que não for o Gótico mais comercial. REVISTA ABUSÕES | n. 09 v. 09 ano 05