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Ophiuroidea e Crinoidea (Echinodermata) do Miocénico da Bacia do Baixo Tejo (Portugal): dados preliminares. Ophiuroidea and Crinoidea (Echinodermata) from the Miocene of the Lower Tagus basin (Portugal): preliminary data. Pereira, P.(a,1); Pereira, B.(b,2); Pita, R.(b,2); Cachão, M.(b,3) & Silva, C. M. da(b,4) a - Departamento de Ciências Exactas e Tecnológicas da Universidade Aberta, Rua Fernão Lopes, n.º 9, 2º dto, 1000-132 Lisboa. b – Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C6, 4º Piso. Campo Grande. 1749-016 Lisboa. 1 - pecten@univ-ab.pt; 2 - as1568897@sapo.pt; 3 - mcachao@fc.ul.pt; 4 paleo.carlos@fc.ul.pt SUMÁRIO São apresentados os primeiros resultados do estudo sistemático, com base em ossículos desarticulados, dos ofiuróides e crinóides do Miocénico da Bacia do Baixo Tejo. No estado actual do estudo, os ossículos de ofiuróides apenas podem ser classificados ao nível da classe (Ophiuroidea); os ossículos de crinóides, referidos pela primeira vez no Miocénico de Portugal, são atribuídos à Ordem Comatulida, a qual é constituída por crinóides sem pedúnculo. Palavras-chave: Echinodermata, Ophiuroidea, Crinoidea, Miocénico, Bacia do Baixo Tejo, Portugal. SUMMARY The first results of the systematic study based on disarticulated ossicles of the ophiuroids and crinoids from the Miocene of the Lower Tagus Basin are presented. In this stage of the study, the ophiuroid ossicles can only be assigned to the Class Ophiuroidea; the crinoid ossicles, reported for the first time in the Miocene of Portugal, are assigned to the Order Comatulida, which only includes unstalked crinoids. Key-words: Echinodermata, Ophiuroidea, Crinoidea, Miocene, Lower Tagus Basin, Portugal. Introdução O primeiro registo da ocorrência de equinodermes no Miocénico de Portugal data de 1841, ano em que L. Agassiz identificou e descreveu o equinóide Scutella smithiana, com base num exemplar incompleto colhido por J. Smith na região de Lisboa [1]. Contudo, durante quase 130 anos, esse conhecimento restringiu-se unicamente à Classe Echinoidea. Provavelmente devido ao facto de surgirem sempre sob a forma de ossículos desarticulados, apenas em 1970 [2], foi referida a ocorrência de asteróides, cujos primeiros estudos sistemáticos foram publicados já neste século [3][4], e de ofiuróides, dos quais não houve referências posteriores. O presente trabalho apresenta os resultados preliminares do estudo de ossículos desarticulados de ofiuróides e crinóides do Miocénico da Bacia do Baixo Tejo, sendo a primeira referência publicada sobre a ocorrência de crinóides e a primeira vez que são identificados diferentes tipos de ossículos de ofiuróides no Cenozóico de Portugal. Anteriormente, apenas havia sido referida a ocorrência de ofiuróides no Hetangiano de Sangalhos [5] e de crinóides no Complexo Vulcano Sedimentar (pelo menos pós Ordovícico inferior) em 1 Estremoz [6] e no Jurássico e Cretácico das bacias Lusitânica e do Algarve [7][8]. No Neogénico do resto da Europa são raros os trabalhos sobre restos fossilizados de ofiuróides e crinóides, em particular aqueles baseados em ossículos articulados, existindo estudos sobre o Miocénico Inferior da Áustria [9] e da Holanda [10] e sobre o Miocénico Médio da Polónia [11] e da Áustria [12]. O material estudado provém do Miocénico Médio da base da arriba litoral, 700 m a sul da desembocadura da Lagoa de Albufeira, tendo sido colhida uma amostra de sedimento (areia muito fina com Chlamys macrotis) com cerca de 2 kg. A nomenclatura utilizada para identificar os ossículos de crinóides usada neste trabalho corresponde à tradução da terminologia em inglês utilizada na descrição das estruturas esqueléticas de crinóides actuais [13]. Resultados A amostra estudada revelou-se extremamente rica de restos fossilizados, particularmente bem preservados, de equinodermes, principalmente ossículos desarticulados de ofiuróides e espinhos e fragmentos da carapaça de equinóides (Psammechinus sp., Echinocyamus sp. e espatangóides) e, ainda, ossículos desarticulados de crinóides e asteróides (supramarginais de Astropecten sp. e Luidia sp. e ambulacrais de Luidia sp.). Relativamente aos ofiuróides, foram encontrados ossículos dos braços (Fig.1), nomeadamente, vértebras (Fig.3) e placas laterais (Fig.3). Com o aprofundar do estudo, estas placas laterais serão particularmente importantes, pois são apropriadas para determinação específica [14], são numerosas e estão muito bem preservadas. modificado denominado centrodorsal (onde começam os braquíolos), situado no centro da superfície aboral, e do qual partem numerosos cirros segmentados, não ramificados que utilizam para se fixarem ou para se deslocarem sobre o fundo do mar ou nadando (Fig.2). Fig.2: Diagrama esquemático representando os principais elementos esqueléticos do corpo dos comatulídeos [13]. Legenda: br = ossículo braquial; Br = série não ramificada de braquiais (a numeração romana indica a posição relativa da série; a numeração árabe corresponde ao número de braquiais que compõem a série; o símbolo + corresponde a articulação sizigial). Foram encontrados ossículos dos cirros (Fig.4) e dos braquíolos: radiais, braquiais axilares (Fig.5) e braquiais simples (Fig.6), apresentando diferentes tipos de articulações: muscular, sizigial e sinartrial. Ossículos desarticulados muito semelhantes a estes foram referidos no Miocénico Médio (Langhiano) da Molasse Zone da Áustria [12]. Fig.1: Corte de braço de ofiuróide [15]; no centro encontra-se a vértebra, na periferia as placas laterais e dorsal. Relativamente aos crinóides, foram encontrados ossículos de indivíduos pertencentes à Ordem Comatulida. Os comatulídeos são crinóides que, no estado adulto, não apresentam pedúnculo; apenas mantêm o seu segmento mais superior, um grande ossículo Fig.3: Ossículos de braço de ofiuróide: à esquerda, placa lateral (altura: 2,0 mm); à direita, vista distal (em cima) e proximal (em baixo) de vértebra (largura: 2,2 mm). 2 facilidades concedidas na execução das fotografias dos ossículos. Referências Bibliográficas Fig.4: Ossículos de comatulídeo: vista dorsal (à esquerda) e lateral (à direita) de cirral (diâmetro: 1,5 mm). Fig.5: Ossículos de comatulídeo. Braquial axial: à esquerda, vista interior; à direita, vista exterior (altura: 1,9 mm). Fig.6: Ossículos de comatulídeo. Em cima, à esquerda, braquial com articulação sizigial (largura: 0,8 mm). Em cima, à direita, braquial com articulação muscular (largura: 1,4 mm). Em baixo, braquial (largura: 1,3 mm): à esquerda, face distal com articulação muscular e com articulação para pínula (extremidade esquerda), à direita, face proximal com articulação sinartrial. Agradecimentos Os autores desejam agradecer ao Prof. Dr. Charles Messing (Nova Southeastern University, Florida, E.U.A.) o apoio prestado na interpretação taxonómica dos ossículos de comatulídeos e à Prof. Dra. Ana Azerêdo (Centro de Geologia, U.L.) pelas [1] Agassiz, L. (1841). Monographie d'echinodermes vivants et fossiles. Vol. 2 – Scutelles. Neuchatel. [2] Antunes, M. T. & Jonet, S. (1970). Requins de l’Helvétien Supérieur et du Tortonien de Lisbonne. Rev. Fac, Ciênc. Lisboa, 2ª Série-C, 16(1): 119-280. [3] Pereira, P.; Cachão, M. & Silva, C. M. da (2002). Estrelas-do-mar (Echinodermata: Asteroidea) do Miocénico da Bacia do Baixo Tejo (Portugal): primeiros registos. II Congreso Ibérico de Paleontología (libro de resúmenes): 202-203. [4] Pereira, P.; Cachão, M. & Silva, C. M. da (2003). Asteroidea (Echinodermata) do Miocénico da Bacia do Baixo Tejo-Sado. Actas do VI Congresso Nacional de Geologia (resumos alargados), Ciências da Terra (UNL) n.º esp. 5: A106-A109. [5] Hess, H. & Paloin, C. (1975). Ophiures de l’Hettangien du Nord de Portugal. Com. Serv. Geol. Portugal, Lisboa, 59: 5-13. [6] Piçarra, J. M. & Menn, J. le (1994). Ocorrência de crinóides em mármores do Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Estremoz : implicações estratigráficas. Com. Serv. Geol. Portugal, Lisboa, 80: 15-25. 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