Webdiáspora.br
Mohammed ElHajji
Camila Escudero
Webdiáspora.br
Migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Equipe de Pesquisa
Amanda Rezende Lopes
Ana Carolina Calenzo
Anna Carolina Düppre
Beatriz Araújo
Brunna Arakaki
Carlos Eduardo Barros
Clara Almeida
Clara Wardi
Daniel Salgado
Edinelson Marinho
Irene Niskier
Iris Figueiredo Costa
Paloma Silbar
Pedro Leite
Thaís Batista
Victor Soriano
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Carole Kümmecke - https://www.behance.net/CaroleKummecke
Revisão: João Paulo Rossini Teixeira Coelho
O padrão ortográfico e o sistema de citações e referências bibliográficas são prerrogativas de
cada autor. Da mesma forma, o conteúdo de cada capítulo é de inteira e exclusiva
responsabilidade de seu respectivo autor.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
ELHAJJI, Mohammed; ESCUDERO, Camila.
Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil [recurso eletrônico] / Mohammed ElHajji; Camila
Escudero -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2020.
304 p.
ISBN - 978-65-87340-05-0
Disponível em: http://www.editorafi.org
1. Migrações; 2. TICs; 3. Identidades; 4. Cultura; 5. Brasil; I. Título.
CDD: 306
Índices para catálogo sistemático:
1. Sociedade
306
Sumário
1 ................................................................................................................................. 11
Introdução
2 ................................................................................................................................ 16
Apontamentos teóricos
2.1. Sujeitos e redes virtuais................................................................................................... 16
2.2. Conceitualizações............................................................................................................. 18
2.3. Internet versus Imigração ............................................................................................. 20
2.4. Webdiáspora ................................................................................................................... 22
3 ................................................................................................................................ 25
Webdiáspora Africana
3.1. Contexto histórico da imigração.................................................................................... 25
3.2. Mapeamento ................................................................................................................... 28
3.3. Análise............................................................................................................................... 41
3.4. Considerações finais ....................................................................................................... 45
4............................................................................................................................... 50
Webdiáspora Portuguesa
4.1. Contexto histórico da imigração.................................................................................... 50
4.2. Mapeamento ................................................................................................................... 53
4.3. Análise ............................................................................................................................. 66
4.4. Considerações finais ....................................................................................................... 68
5 ................................................................................................................................70
Webdiáspora Alemã
5.1. Contexto histórico da imigração .................................................................................... 70
5.2. Mapeamento.................................................................................................................... 74
5.3. Análise ............................................................................................................................... 91
5.4. Considerações finais ....................................................................................................... 93
6................................................................................................................................ 95
Webdiáspora Italiana
6.1. Contexto histórico da imigração.................................................................................... 95
6.2. Mapeamento ................................................................................................................... 98
6.3. Análise............................................................................................................................. 125
6.4. Considerações finais ......................................................................................................128
7 ............................................................................................................................... 131
Webdiáspora Muçulmana
7.1. Contexto histórico da imigração ................................................................................... 131
7.2. Mapeamento...................................................................................................................134
7.3. Análise ............................................................................................................................. 151
7.4. Considerações finais ...................................................................................................... 154
8 ............................................................................................................................. 157
Webdiáspora Espanhola (Galega)
8.1. Contexto histórico da imigração .................................................................................. 157
8.2. Mapeamento ..................................................................................................................162
8.3. Análise ............................................................................................................................ 174
8.4. Considerações finais...................................................................................................... 177
9.............................................................................................................................. 180
Webdiáspora Russa e Ucraniana
9.1. Contexto histórico da imigração.................................................................................. 180
9.2. Mapeamento .................................................................................................................. 181
9.3. Análise.............................................................................................................................193
9.4. Considerações finais ...................................................................................................... 195
10 ............................................................................................................................ 197
Webdiáspora Árabe
10.1. Contexto histórico da imigração ................................................................................. 197
10.2. Mapeamento ................................................................................................................ 200
10.3. Análise ...........................................................................................................................219
10.4. Considerações finais ................................................................................................... 222
11 ............................................................................................................................. 225
Webdiáspora Andina
11.1. Contexto histórico da imigração................................................................................. 225
11.2. Mapeamento ................................................................................................................ 234
11.3. Análise........................................................................................................................... 263
11.4. Considerações finais .................................................................................................... 268
12 ............................................................................................................................ 271
Webdiáspora Japonesa (Okinawana)
12.1. Contexto histórico da imigração ................................................................................. 271
12.2. Mapeamento ................................................................................................................ 273
12.3. Análise .......................................................................................................................... 288
12.4. Considerações finais ................................................................................................... 292
13 ........................................................................................................................... 293
Considerações finais
Referências ............................................................................................................ 298
1
Introdução
A questão migratória não pode mais ser apreendida somente em
termos de ausência e de rupturas. Antigas diásporas e novos imigrantes
dispõem, hoje, de sofisticadas tecnologias de informação e comunicação
(TICs) que não apenas permitem a manutenção e a consolidação dos
laços identitários e afetivos para com a sociedade e a cultura de origem,
mas também viabilizam e incentivam a construção de novos quadros
comunitários (de ordem étnica, cultural, nacional, linguística e/ou confessional), tanto no plano local quanto no transnacional.
Assim, a relação entre o fenômeno imigratório (envolvendo diversos
grupos / nacionalidades / etnias) e as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), mais especificamente a internet, na
contemporaneidade, não podia não chamar a atenção dos estudiosos e
dos pesquisadores do campo da Comunicação Social. Ainda mais quando
se considera que o conceito de webdiáspora se configura dentro dos processos migratórios, não só como um espaço transnacional, intercultural e
multiterritorial midiático, mas como um recurso para interação e compartilhamento dos vínculos sociais (reais ou imaginários, com o país de
origem ou de destino), no qual fluxos de informação acabam por construir não só uma identidade diaspórica, mas por participar da negociação
de direitos cidadãos e garantir a existência de um cidadão do mundo.
Cientes disso e diante da percepção do aumento crescente de sites,
blogs, fóruns, comunidades e páginas próprias inseridas em redes sociais
(Facebook, principalmente) criadas e mantidas por indivíduos ou grupos
organizados de imigrantes estrangeiros estabelecidos no Brasil, coloca-
12 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
mo-nos a seguinte questão: Que usos os imigrantes e diásporas presentes no Brasil fazem da internet?
Partimos da hipótese de que os espaços criados na internet pelas diásporas – sites, blogs, fóruns, páginas no Facebook etc. – contribuem não
só para a manutenção e a criação de vínculos sociais (tanto no país de
origem como no de acolhida) e busca de informações sobre o processo
migratório, mas também possibilitam uma participação do imigrante,
promovendo associativismo, cidadania, atuação política e preservação da
memória, num processo contínuo de construção e manutenção de identidades culturais transnacionais.
Assim, nosso objetivo principal com essa pesquisa foi verificar como
se dá a construção empírica da webdiáspora no Brasil em 10 diferentes
grupos diaspóricos: italianos, andinos, árabes, mulçumanos, espanhóis
(galegos), japoneses, portugueses, africanos, ucranianos e russos e alemães. Como objetivos específicos, destacamos: 1) identificar a
organização e a estrutura dos espaços virtuais criados pelas diásporas na
internet; 2) analisar o conteúdo desses espaços a fim de verificar que uso
determinado grupo faz dele; 3) reunir, sistematizar e disponibilizar dados sobre a relação entre migração e TICs que possam ser utilizados em
futuros estudos sobre o tema; 4) contribuir para a construção e a consolidação do conceito de webdiáspora. A técnica de Análise utilizada no
trabalho de pesquisa é a de conteúdo (BARDIN, 1977), por considerá-la
apropriada para descrever objetiva e sistematicamente o conteúdo manifesto da comunicação, visando à inferência, seja baseada em dados
quantitativos, seja em dados qualitativos.
Como passo inicial, definimos por qual nacionalidade / grupo / etnia cada membro da equipe de pesquisa ficará responsável. E, ao
contrário de outras abordagens, optamos, na presente investigação, por
uma análise centrada no Brasil. Ou seja, apesar de trabalhar com grupos
de diversas nacionalidades e etnias, apenas páginas que remetem a estrangeiros fixados em território brasileiro foram analisadas. De fato, para
integrar nosso corpus de análise, o site, fórum, blog ou página no Face-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 13
book devia enquadrar-se nos seguintes critérios: 1) uso da língua portuguesa (ou outro idioma dominado pelo membro da equipe responsável
pelo grupo); 2) ser atualizado periodicamente; 3) ter sido criado há, pelo
menos, seis meses; e 4) ser um projeto de iniciativa pessoal, grupo, ONG,
ou sociedade civil em geral – sem instituições governamentais envolvidas.
Utilizamos o sistema de busca Google para encontrar esses espaços
na Web. A busca foi determinada por palavras chave, como 1: imigração
italiana para o Brasil; italianos no Brasil; imigrantes italianos; Brasil e
Itália; diáspora italiana; italianos em São Paulo; italianos no Rio de Janeiro (e italianos nos demais estados brasileiros...), comunidade italiana e
colônia italiana. Também propomos a utilização de algumas técnicas de
pesquisa do Google para otimizar os resultados. Foram elas: 1) procurar
dentro de um domínio específico, com o comando: imigrante italiano
site:oestrangeiro.org; 2) procurar os links da página, com o comando:
link:oestrangeiro.org; 3) procurar assuntos relacionados com a palavra
chave digitada, com o comando: related:oestrangeiro.org 2.
Como essa pesquisa inicial no Google resultou em um grande número de páginas, após breve análise de todas, fizemos um recorte dos
que mais se aproximam do conceito teórico de webdiáspora – detalhado
no capítulo 2. Não estipulamos um número fixo de páginas correspondente a cada grupo / nacionalidade / etnia para compor o corpus. Tudo
dependeu da quantidade de material encontrado / selecionado que julgamos relevante.
Após o corpus definido, iniciamos a fase de Análise do Conteúdo
propriamente dita. A ideia foi trabalhar com o conteúdo informativo
dessas páginas, que formou nossa “Unidade de registro”, publicado entre
1
Aqui damos o exemplo do caso dos imigrantes italianos. Obviamente, o termo italiano(a) foi trocado de acordo
com a nacionalidade / etnia / grupo pesquisado.
2
Nesses dois últimos, o site www.oestrangeiro.org é dado apenas como exemplo. Evidentemente, outros foram
utilizados.
14 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
outubro de 2013 e fevereiro de 2014, ou seja, quatro meses 3. Em seguida,
iniciamos a categorização, conforme o seguinte protocolo:
Nome e endereço do site / fórum / blog / pág. Facebook:
Data da análise:
Categoria de análise
N°
Data Assunto geral Assunto específico 1 2
3 4 5
6 7 8
9 10
11 Observações
Algumas explicações se fazem necessárias sobre este protocolo a fim
de facilitar o preenchimento e a compreensão dos dados. O item “Data”
corresponde à data em que o texto foi publicado; “Assunto geral” é uma
palavra que resume o conteúdo total do texto (ex.: Política, Economia,
Cultura, Tecnologia etc.), ou seja, uma espécie de editoria; e “Assunto
específico” remete a um brevíssimo resumo do que se trata a notícia –
para uma identificação mais precisa. Já as categorias de análise são: 1)
Projeto de migração; 2) Famílias e relações transnacionais; 3) Vínculos
informativos com país de nascimento; 4) Consumo e produção cultural;
5) Aprendizado do idioma; 6) Cidadania jurídica; 7) Usos de mídias de
migração; 8) Companhia e ócio; 9); Participação política; 10) Associativismo; e 11) Outros. O item “Observação” serviu para anotações de
caráter qualitativo do pesquisador, sobre alguma curiosidade do texto
analisado, relevância, característica peculiar etc. Vale ressaltar que todas
essas categorias foram propostas em trabalho sobre o tema, porém voltado para imigrantes latino-americanos, feito Brignol (2010). A parte
final da pesquisa consistiu na tabulação e posterior análise dos dados.
3
Como alguns sites apresentaram conteúdo extremamente extenso, optamos por uma amostra construída, dentro
desse período. No caso de páginas com datas de publicações impossíveis de se identificar, optamos por uma análise
geral do material disponibilizado, num total de cerca de 10 posts ou textos.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 15
Enfim, há de salientar que, no presente Relatório de Pesquisa, privilegiou-se a abordagem quantitativa e de conteúdo. Análises mais
qualitativas e conceituais do fenômeno webdiaspórico foram desenvolvidas posteriormente pelos autores, individualmente ou em coautoria em
vários trabalhos, comunicações em congressos, artigos científicos e capítulos de livros.
O Relatório de Pesquisa aqui apresentado é decorrente de um
projeto financiado pelo CNPq – no âmbito da bolsa de pesquisa outorgada ao Professor MOHAMMED ELHAJJI para o triênio 2015-2017
e que contou com a participação efetiva da então sua orientanda de
Doutorado em Comunicação e Cultura pelo PPGCOM-UFRJ e membro do Grupo de Pesquisa DIASPOTICS, CAMILA ESCUDERO. A
realização da pesquisa também teve contribuição efetiva dos bolsistas do Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da
UFRJ (PET-ECO), assim como outros (à época) graduandos da mesma Instituição.
2
Apontamentos teóricos
2.1. Sujeitos e redes virtuais
Sabemos que a Comunicação é o processo-base de toda e qualquer
forma de organização social. Autores como Harold A. Innis (2011) e Peter
Burke e Asa Briggs (2004) já nos mostraram com maestria a relação do
surgimento e o impacto de cada meio de comunicação com o desenvolvimento da história e da sociedade. No início deste milênio, Manuel
Castells (1999) relacionou o surgimento das TICs com a formação da
sociedade em rede, aqui, resumidamente, uma nova forma de organização social possibilitada pelo surgimento das tecnologias de informação
num período de coincidência temporal com uma necessidade de mudanças econômicas e sociais.
Assim, como mais uma mídia, entre todas surgidas ao longo do
tempo, a internet e também a comunicação wireless, 3G, 4G e, mais
recentemente, o 5G – integrantes das TICs – vêm modificando a forma
como nos comunicamos e, principalmente, os nossos comportamentos,
local e globalmente, atingindo diversos níveis, desde o da própria relação
tecnológica, à organização econômica e à adequação social (CARDOSO,
2007). Isso não quer dizer, obviamente, que são as tecnologias que determinam a sociedade, mas sim a sociedade é que dá forma à tecnologia
de acordo com as necessidades, valores e interesses das pessoas que as
utilizam. A diferença, hoje, é que não é possível entender o mundo sem a
comunicação mediada por tecnologias.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 17
Hoje em dia os sistemas de mídias nacionais encontram-se interligados pelo
pertencimento de suas instituições, empresas e organizações a múltiplas redes de relação e poder, tal como os seus cidadãos, partilhando assim espaços
de fluxos (CARDOSO, 2007, p.23).
Tal partilha de espaços de fluxos tem a interação como meio, justamente característica chave da internet. Ainda de acordo com Cardoso
(2007, p. 25), a internet pode ser concebida como uma ferramenta de
construção de projetos individuais desenvolvidos a partir de diferentes
dimensões. Por que? Porque ela é “na sua constituição e apropriação
flexível, interativa, dotada de ubiquidade, global, acessível e não depende
de poderes passados e acessíveis”.
Soma-se a isso o fato de ela estar localizada num espaço virtual 1, cuja principal característica, segundo Levy, é o desprendimento do aqui e
agora, numa reinvenção da cultura nômade.
Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de
afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus
membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos
problemas: a geografia, contingente, não é mais nem o ponto de partida,
nem o ponto de coerção. Apesar de ‘não-presente’, esta comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar
de referência estável: em toda parte onde se encontram seus membros móveis... ou em parte alguma. A virtualização reinventa uma cultura nômade,
não por uma volta ao paleolítico, nem às antigas civilizações de pastores, mas
fazendo surgir um meio de interação social onde as relações se configuram
com o mínimo de inércia (LEVY, 1996, p.09).
Cria-se, portanto, uma situação em que vários sistemas de proximidades e vários espaços coexistam – todos baseados em subjetividade e
cognição. Tratam-se de locais de convergência entre realidades socioculturais diversas formando a já mencionada sociedade em rede. Uma
1
Neste trabalho adotamos a definição de virtual dada por Pierre Levy (1996, p.05-06): “Contrariamente ao possível,
estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha
uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a
atualização (...) o real assemelha-se ao possível; em troca, o atual em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe”.
18 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
junção de mobilidade humana com cultura midiática que resulta na interação. Esta, por sua vez, toma como base a identidade cultural –
produtos de narrações e atuações do sujeito –, sob a qual agem e se reconfiguram um híbrido de conceitos, entre eles transnacionalismo e
interculturalismo.
2.2. Conceitualizações
Historicamente, o termo diáspora tem sido utilizado para remeter à
dispersão dos judeus ao longo dos séculos. Apesar disso, a Organização
Internacional para as Migrações (OIM) o define atualmente como “qualquer pessoa ou população étnica que abandona a pátria tradicional da
sua etnia, estando dispersa por outras partes do mundo (2009, p. 18)”.
Tal definição está de acordo para um glossário, como foi o caso da fonte
da OIM, porém, ganha certa complexidade quando contextualizada socialmente, remetendo não só à ideia de grupos dispersos, mas também à
de identidade comunitária.
Uma das marcas da diáspora como uma forma social é a ‘relação tríade’ entre: (a) coletivos ainda que dispersos globalmente auto-identificados como
grupos étnicos, (b) os estados territoriais e os contextos em que tais grupos
residem, e (c) a pátria e o contexto de onde eles ou seus antepassados vieram
(VERTOVEC, 1999, p.02 – Tradução nossa).
Assim, de acordo com Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992), entende-se que, agora, um novo tipo de população imigrante está
emergindo, composta de redes, atividades e parceiros que envolvem suas
vidas do local de origem e do local de acolhida num único campo social.
Isso nada mais seria que o transnacionalismo, processo pelo qual é construído um campo social que une o país de origem e o país de destino.
Segundo as autoras, nesse campo, os imigrantes desenvolvem e mantêm
múltiplas relações – familiares, econômicas, sociais, organizacionais,
religiosas e políticas – para além das fronteiras. Ou ainda: tomam ações,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 19
decisões, se preocupam, e desenvolvem identidades com as quais formam uma rede de conexão que envolve dois ou mais países.
Esses imigrantes transnacionais – ou transmigrantes (Schiller,
Basch e Blanc-Szanton, 1992) – têm como característica principal a comunicação intercultural. De acordo com Canclini (2005, p. 23), essa
resume-se a relações interpessoais entre membros de uma mesma sociedade ou de culturas diferentes e, depois, abrangendo também as
comunicações entre sociedades distintas, graças à mobilidade e facilitada
pelo uso das TICs. Em outras palavras: o reconhecimento do “outro”
possibilita que relações de contato e troca cultural se efetivem em grupos
diferentes para que, justamente, estes possam se reelaborar, garantindo
assim sua inserção na pós-modernidade e na lógica da globalização. A
ideia de interculturalidade do autor remete à mistura de sujeitos e sociedades, ou seja, ao que acontece quando as diferenças se encontram,
convivendo em situações de negociações e trocas recíprocas.
Ainda para Canclini, tal situação ganha relevância não só dentro de
uma etnia ou nação, mas em “circuitos globais, superando fronteiras,
tornando porosas as barreiras nacionais ou étnicas e fazendo com que
cada grupo possa abastecer-se de repertórios culturais diferentes
(CANCLINI, 2005, p. 43)”, numa reelaboração intercultural do sentido de
práticas culturais.
A condição contínua de deslocamento – ainda que já tenha chegado
à sociedade receptora – faz com que os imigrantes vivam oscilando com
fluidez e mobilidade entre os espaços, numa flexibilidade de pertencimentos e construção de identidades constantes, numa enorme
diversidade de comportamento e representações. “As identidades dos
sujeitos formam-se agora em processos interétnicos e internacionais,
entre fluxos produzidos pela tecnologia (CANCLINI, 2005, p. 201)”.
E, por identidade, adotamos aqui o conceito de Hall (2005), que diz
que para compreendermos como a identidade funciona, precisamos conceituá-la em suas diferentes dimensões. Segundo o autor, com
frequência, a identidade envolve reivindicações essencialistas sobre quem
20 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
pertence e quem não pertence a um determinado grupo identitário, nas
quais a identidade é vista como fixa e imutável. Outras vezes, essas reivindicações estão baseadas na natureza (étnica, raça, relação de
parentesco...). Mas, frequentemente, elas estão ancoradas em alguma
versão essencialista da história do passado (na qual a história é constituída como uma verdade imutável – tradições). O fato, é que, a identidade é,
na verdade, relacional, e a diferença é estabelecida por uma marcação
simbólica relativamente a outras identidades. Ela está vinculada também
a condições sociais e materiais – o social e o simbólico referem-se a dois
processos diferentes, mas cada um deles é necessário para a construção e
a manutenção das identidades. A marcação simbólica é o meio pelo qual
damos sentido a práticas e relações sociais. E, por fim, as identidades não
são unificadas; há contradições no seu interior que precisam ser negociadas.
2.3. Internet versus Imigração
É possível perceber que a internet, como afirma Liliane Dutra Brignol (2010, p. 40), se configura como um espaço de comunicação que, por
sua própria lógica constitutiva, surge como possível alternativa para um
tratamento diferenciado das migrações. É ela que vai reunir espaços
transnacionais de interação, intercâmbio e troca a partir da aproximação
das diferenças e interconexão das culturas (interculturalismo).
Mais que isso, [a internet] possibilita a consolidação de um espaço comunicacional de interação entre seus membros que pode servir, não apenas para
informar, mas também para dinamizar relações interculturais e atuar no
processo de participação social entre sujeitos distantes.
Nessa interação, em blogs, chats, fóruns, Facebook e demais ferramentas da Web observamos que a troca de informações básicas e de
ordem prática contribui tanto para questões de ordem reais do deslocamento – para construção do projeto migratório, por exemplo, isto é, a
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 21
decisão de migrar e escolha do lugar de destino incentivadas por informações de quem já viveu tal experiência, passando pela articulação de
sua instalação no país de destino (e a necessidade de trabalho, saúde,
habitação, aprendizagem do idioma, mobilidade etc.) – a questões de
ordem subjetiva, como a construção de uma identidade diaspórica e o
estabelecimento de vínculos sociais, seja na manutenção de relações com
o país de origem, seja no compartilhamento de relações no país de acolhida. Tal interação, em última instância, resume os modos de
configuração das migrações hoje – transnacionais e interculturais –, no
qual, o destino é a própria condição migratória numa busca constante
pela possibilidade de desenvolvimento pessoal. São as comunidades
transnacionais constituídas na internet – e todos os fluxos de informações resultados da interatividade que essa mídia proporciona – que
geram experiências e representações de co-pertencimento e integração
social. “A midiatização afasta, esfria, e, ao mesmo tempo, a interconectividade proporciona sensações de proximidade e simultaneidade
(CANCLINI, 2005, p. 216)”.
O que torna a Internet tão interessante? (...) Trata-se de um objeto comum,
dinâmico, construído, ou pelo menos alimentado, por todos os que a utilizam. Ela certamente adquiriu esse caráter de não-separação por ter sido
fabricada, ampliada, melhorada pelos informatas que a princípio eram seus
principais usuários (LEVY, 1996, p. 89).
No caso do processo migratório, a redes sociais na internet
(...) caracterizam o modo de organização dos próprios imigrantes, numa lógica que atravessa diferentes esferas de vida, como modo de produção,
participação social, dinâmica de mobilização, interação e estabelecimento de
vínculos (BRIGNOL, 2010, p. 75).
De acordo com Arjun Appadurai (1996, p. 196), na maioria das comunidades transnacionais aparece um “novo patriotismo”, não como
extensões de debates pró ou contra nacionalistas, apesar de existir boa
dose de nostalgia em relação à pátria de origem, aos próprios compatrio-
22 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
tas, exilados ou não. Elas também envolvem novas formas de nacionalismo, bastante intrigantes, que resultam num “nacionalismo
diaspórico”, baseado em compromissos, de ordem, principalmente, política, que acabam por revitalizar ambas as extremidades do processo
diaspórico.
2.4. Webdiáspora
Vimos que a Web vem sendo utilizada como um espaço de reordenamento de experiências e práticas subjetivas de imigrantes
transnacionais e demais atores envolvidos no processo migratório, baseada, fundamentalmente, em relações interculturais e multiterritoriais.
De acordo com Claire Scopsi (2009, p. 86), desde 1997 já era possível encontrar o termo em inglês “digital diaspora” em alguns trabalhos
sobre o tema imigração – que, em geral, referia-se aos “imigrantes conectados” – em um simples buscador na Web. Com o passar do tempo e
a disseminação e evolução das TICs, em especial da internet, outros conceitos e termos foram surgindo para abordar o assunto dos imigrantes
na Web. Hoje aceita-se, como sinônimo de webdiáspora, palavras e expressões como e-diáspora, web diaspórica, diáspora networks, diáspora
digital, entre outras. Entretanto, pondera a autora (2009, p. 91, tradução
nossa), “a publicação de sites por membros de uma comunidade transnacional não pode ser vista como um critério único de classificação de
webdiáspora”. E ela continua: “sob pena de ter que considerar qualquer
site que envolva comunidades de imigrantes como tal. Critérios de coesão
e reivindicação identitária nos ajudam a sair desse ciclo vicioso” (idem).
Portanto, sua definição do que chama de web diaspórica é a seguinte:
Colocamos aqui como definição que a web diaspórica são sites produzidos
pelas comunidades transnacionais a partir de um dos lugares de dispersão,
organizada em torno de um ou mais elementos culturais compartilhados
(língua, religião, etnia), destinado explicitamente a membros da comunidade
espalhados pelo mundo pela migração e, eventualmente, à população que
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 23
manteve-se na terra natal, contribuindo para a consciência de uma ligação
identitária, sua afirmação pública e sua implementação por ações de reivindicação, representação e desenvolvimento econômico e cultural em benefício
de seus membros (SCOPSI, 2009, p. 92, tradução nossa).
Tristan Mattelart (2009) faz uma revisão crítica de literatura de vários estudos sobre o tema dos usos das TICs por imigrantes. Segundo o
autor (2009, p. 13), os trabalhos sobre diásporas se colocaram de forma
mais efetiva no mundo acadêmico de língua inglesa (anglófano) no fim
dos anos 1980, como um importante laboratório a partir do qual são
identificadas transformações socioculturais produzidas pela lógica da
globalização. Seguindo este ponto de vista, as diásporas, por suas negociações culturais constantes são, em muitos aspectos, emblemáticas em um
mundo onde as identidades culturais estão se reinventando a todo momento sob a força de fluxos transnacionais. Coincidindo com o aumento
do poder da internet, no fim dos anos 1990, a questão da diáspora provocou o desenvolvimento de uma literatura cada vez mais importante
dedicada às relações complexas que relacionam essas populações com as
TICs.
Finalmente, o trabalho discutido aqui mostra como a dimensão econômica
da web diaspórica permanece, surpreendentemente, em grande parte negligenciado: como se o ciberespaço permitiu magicamente escapar das
restrições que esta dimensão implica. Mas se a internet oferece a muitos
grupos diaspóricos uma plataforma a partir da qual eles se esforçam para ser
ouvido e ter voz, tanto no país de residência como no de origem, não é menos estruturado pela lógica socio-econômica que é necessária para integrar
de forma mais firme esses projetos (MATTELART, 2009, p. 50).
Já para Angeliki Koukoutsaki Monnier (2012, p. 270-271), o conceito
de “web diasporique” apresenta algumas dificuldades devido à própria
concepção de diáspora, “fluída e controversa”. De acordo com a autora,
envolve sites produzidos por comunidades transnacionais a partir de um
dos locais de dispersão, organizados por um ou mais elementos culturais
compartilhados (língua, religião, etnia), voltados explicitamente para os
24 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
membros da comunidade dispersa em todo o mundo pela migração.
Nestas páginas virtuais, a população parece permanecer na “pátria”,
contribuindo para a conscientização de uma identidade, a sua afirmação
pública e realização de ações de reivindicações, representação ou desenvolvimento econômico e cultural para o benefício de seus membros.
O fato é que toda essa conceitualização remete à ideia de novas subjetividades e identidades flexíveis que não só vão além, mas cruzam e
perpassam as tradicionais fronteiras estabelecidas pela organização até
então configuradas pela forma Estado-nação, num movimento de fluidez
e mobilidade. Tudo isso converge na atualidade para uma complexa forma de interação social, tendo por base as identidades – estas, como
vimos, produtos de narrações e atuações do sujeito. Neste contexto, as
TICs acabam por reunir as características propícias para que uma diáspora transcenda o alcance nacional ou étnico presentes em sua própria
constituição, a fim de abarcar as relações interculturais e transnacionais
que o mundo globalizado tanto exige.
Assim, a Webdiáspora se configura, dentro dos processos migratórios, não só como um espaço transnacional e intercultural midiático, mas
como um recurso para interação e compartilhamento dos vínculos sociais
(reais ou imaginários, com o país de origem ou de destino), no qual fluxos de informação acabam por construir não só uma identidade
diaspórica, mas por participar da negociação de direitos cidadãos e garantir a existência de um cidadão do mundo.
3
Webdiáspora Africana
3.1. Contexto histórico da imigração
Muitas vezes, as vivências e experiências práticas mobilizam questões que acabam por se concretizar em pesquisas e, consequentemente,
em conhecimento. É, dentre muitos outros, o caso de Alain Pascal Kaly
(2007) que, em seu artigo À procura de oportunidades ou desembarque
por engano – Migração de Africanos para o Brasil, discorre, como colocado no título do trabalho, sobre a migração de africanos para o Brasil
sendo, ele mesmo, um africano que já vivenciou essa situação.
Pensando na história do Brasil, fica claro que a presença de pessoas
oriundas da África é quase tão antiga quanto o próprio país, e, segundo
Kaly (2007), é possível afirmar que, entre a chegada do primeiro português até hoje, cinco levas de africanos atracaram em solo brasileiro. Os
dois primeiros grupos que chegaram, no entanto, não vieram à procura
de oportunidades, nem por engano. Ambos eram escravos. O interessante é que, no caso do primeiro grupo, os africanos vieram diretamente de
Portugal – onde já viviam há tempos na condição de escravos. Os componentes do segundo grupo, por sua vez, provinham diretamente da
África. A condição, no entanto, era a mesma. Esses africanos, que desembarcaram entre os séculos XVI e XIX, se deslocaram a partir de diversas
partes da hoje chamada África Negra. Ao longo desses séculos, homens e
mulheres de diferentes idades, inclusive crianças, “foram obrigados a
iniciar um dos maiores movimentos migratórios de seres humanos que a
humanidade tinha presenciado” (KALY, 2007, p. 103).
26 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Setenta e dois anos separaram o fim da escravidão, em 1888, e a
chegada da terceira leva de africanos, agora em outra condição: a de
estudantes e oriundos de outros países, além dos africanos. No entanto,
nessa época, no Brasil, a brancura era o principal requisito para que
recém-chegados fossem incluídos na “raça brasileira”. O desenvolvimento do país, dessa forma, passava pela vinda de milhares de europeus
brancos (os imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, principalmente). Neste contexto, como ressalta Kaly (2007), a vinda de negros –
símbolos do atraso e inferioridade humana – deveria ser vetada. Grande
parte dos negros norte-americanos que gostariam de ingressar no país,
por exemplo, possuíam sólida formação acadêmica e profissional. Tinham, inegavelmente, formas de contribuir para o desenvolvimento do
país – diferentemente do que se afirmava – porém, eram vítimas de preconceito.
No que diz respeito ao quarto grupo – composto por refugiados angolanos e moçambicanos que fugiam de guerras civis e de libertação em
seus países de origem –, é preciso, segundo o autor, subdividi-lo em duas
partes. A primeira delas era composta, de forma majoritária, por africanos brancos, descendentes de portugueses. Muitos, ou todos, foram
recebidos como portugueses nascidos em países africanos, e não como
angolanos ou moçambicanos. Foram tratados, contraditoriamente, como
portugueses, quando, na verdade, fugiam dos perigos e consequências de
guerras travadas contra o colonialismo português. Sua integração foi,
portanto, facilitada. O segundo subgrupo também era formado por refugiados dos dois países. Seu ingresso no Brasil se deu a partir da década
de 80 – decorrência das guerras civis pós-independência. A maior parte
deles não tinha qualificação nem um bom nível escolar e, além disso, a
maioria era negra. A inserção das pessoas constituintes desse subgrupo,
independentemente do nível de qualificação, foi muito mais periférica.
Entre as décadas de 80 e a primeira década deste século, o Brasil se
deparou com dois tipos de imigrantes africanos, constituintes, segundo
Kaly (2007), da quinta e última leva. O primeiro era composto por fugiti-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 27
vos de guerras civis em diversos países; o segundo, por sua vez, é formado por jovens sem boa qualificação profissional e, por isso, sem muitas
perspectivas. Alguns entram no país de forma irregular pensando que
iriam desembarcar na Europa ou nos Estados Unidos – onde acreditam
que podem ganhar dinheiro mais rapidamente.
Como se vê no artigo, a história da migração africana ao longo desses cinco grupos fixados pelo autor (talvez a maior contribuição de seu
artigo), difere-se substancialmente em relação ao histórico de outras
comunidades migrantes: ela é marcada, de forma intensa, pelo transbordo, que, por sua vez, difere-se de qualquer outro tipo de deslocamento –
como o exílio e a dispersão.
Indubitavelmente, um processo migratório com proporções enormes como essas não poderia deixar de promover mudanças e gerar
consequências: seres humanos, culturas e civilizações foram colocadas
em contato, e, com isso, iniciou-se um processo de hierarquização desses
componentes e práticas culturais que, ainda hoje, continuam modelando
as relações sociais entre brancos, negros e mestiços não só do Brasil, mas
também em outros países do Novo Mundo. O triste é que, mesmo com o
reconhecimento da igualdade formal, a crença na inferioridade dos negros se faz transparente nos discursos e, por isso, se mostra ainda nos
dias de hoje. O próprio autor dá um depoimento instigante a esse respeito: desde sua chegada no Brasil, ele descobriu que duas coisas agiriam
contra ele com o passar do tempo: a cor da pele e o continente de origem.
A inserção do negro – antes e pós-abolição – se deu, política e juridicamente, de forma periférica. O fim jurídico da escravidão não foi,
portanto, acompanhado de uma mudança na mentalidade. A cidadania
plena sempre lhes foi negada. Segundo Kaly (2007, p.104), “são os descendentes de ex-escravos e de ex-colonizados que continuam vivendo à
margem da cidadania plena, apesar dos avanços e conquistas socioeconômicas em vários setores da vida”.
28 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
3.2. Mapeamento
Associação dos Estudantes Guineenses – RJ
(https://www.facebook.com/groups/257265160954253/?fref=ts)
Figura 1 – Assoc. dos Estudantes Guineenses
A Associação dos Estudantes Guineenses - RJ corresponde a um
grupo público no Facebook, cujo conteúdo é bastante diverso. O número
total de membros é de 81 (em setembro de 2014) e existem, entre eles,
representantes de universidades do Rio de Janeiro, como a Universidade
Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, além de outros estados, como a Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Por ser um grupo, sua construção se dá de forma
colaborativa: todos os participantes podem publicar, curtir e comentar –
e sua democratização é perceptível a partir das postagens, que englobam
diferentes temas, desde a divulgação de eventos, notícias que se relacionam à mobilidade dos estudantes e políticas referentes à organização
associativa. A maior parte das postagens, por se constituir em um grupo
de estudantes, se relaciona com conteúdos acadêmicos e burocráticos que
dizem respeito à condição de aluno e imigrante.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 29
Angolanos no Brasil!!!
(https://www.facebook.com/groups/262594177103263/?fref=ts)
Figura 2 – Angolanos no Brasil!!!
Angolanos no Brasil!!! é um grupo fechado no Facebook, mas isso
não significa um impedimento real para não angolanos que queiram, por
motivos diversos, fazer parte dele. Essa flexibilidade quanto à aprovação
de novos membros se mostra numericamente: são 2.319 (em setembro
de 2014) integrantes que constroem coletivamente um dos grupos mais
movimentados da amostra. Até mesmo por conta dessa expressividade,
seu conteúdo é bastante diverso, não havendo um eixo temático predeterminado, sendo a África – e o interesse por compreendê-la melhor e
vivenciá-la de alguma forma – o elo que dá contorno ao grupo. São compartilhados eventos, notícias, opiniões políticas, conteúdos acadêmicos e
informações referentes à vivência e à burocracia enfrentadas pelos imigrantes residentes em solo brasileiro. Seja cultural, política ou
economicamente, o grupo é um importante meio de informação para
seus membros e, também, no caso da população efetivamente imigrante,
um meio para encontrar pares, especialmente em caso de necessidade.
30 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Moçambicanos
(https://www.facebook.com/groups/mocambicanos/?fref=ts)
Figura 3 – Moçambicanos
Por se tratar de esferas colaborativas de compartilhamento de informações no Facebook, a frequência das postagens da página
Moçambicanos se relaciona de forma direta com o número de membros
que o compõem. O grupo, apesar de fechado, não se opõe em aceitar
pessoas de outras nacionalidades e deixa bem claro seu posicionamento
em sua própria definição: “um grupo de amigos moçambicanos e de
outras nacionalidades espalhadas pelo mundo fora, que amam e desejam
conhecer Moçambique e África”. O coletivo se afirma, também em sua
descrição, como um espaço que supera nacionalidades, partidos políticos,
raças ou religiões e que preza, sobretudo, pela união dos que, pelo menos
por hora, encontram-se espalhados pelo mundo. Mas a diversidade não é
compreendida como uma desculpa para ofensas ou falta de respeito, é
preciso que se coabite um mesmo espaço, ainda que não físico e territorialmente localizado, de forma pacífica, objetivando a troca. O que se
configura na pratica são postagens de fotos, desejos de felicitações, informações políticas, mensagens que simplesmente compartilham o
orgulho de ter Moçambique como terra de origem e, até mesmo, piadas.
Em meio à grande periodicidade de postagens, algumas coisas se perdem
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 31
frente ao objetivo do grupo e, nesse contexto, algumas postagens simplesmente parecem soltas e, claro, pela abrangência do grupo, pessoas
acabam por utilizá-lo para propagandear cursos e produtos.
Iº Encontro da Diáspora Guineense no Brasil
(https://www.facebook.com/groups/336498379767896/?fref=ts)
Figura 4 – I Encontro da Diáspora Guineense / Brasil
Também configurado como um grupo público, o I° Encontro da Diáspora Guineense, no Facebook, tem em sua descrição um
questionamento: Qual deve ser o papel da diáspora guineense qualificada
no Brasil? Com 747 membros (em setembro de 2014), o grupo é uma
plataforma que outros sites utilizam para disponibilizar seus conteúdos,
acabando por ocasionar um cruzamento entre diferentes plataformas. De
forma geral, todas as informações compartilhadas são muito plurais, e
diferem substancialmente quanto ao conteúdo: de opiniões políticas referentes à questão migratória e às situações atuais que se relacionam com
o país de origem à divulgação de eventos organizados por africanos, com
motivos de confraternização e debate. Quando observa-se a página em
postagens mais antigas, o que se torna perceptível é uma multiplicidade
maior de agentes que constroem o grupo, que foi muito utilizado, durante um tempo, para o compartilhamento de informes da Associação dos
32 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Estudantes da Guiné-Bissau no Estado do Ceará, como a divulgação de
informações quanto ao Torneio de Futebol no Campo de António Bezerra, por exemplo. Mas, ao observar seu conteúdo mais recente, o que se
encontra não é um debate sobre as questões, mas um esvaziamento do
espaço virtual quanto às postagens – tanto em relação aos agentes que o
constroem e, também, aos debates.
Grupo de Estudantes Moçambicanos no Brasil
(https://www.facebook.com/groups/550847528324950/?fref=ts)
Figura 5 – Grupo de Estudantes Moçambicanos
Grupo no Facebook criado em novembro de 2013, Estudantes Moçambicanos no Brasil é fechado e possui um número limitado de
membros (apenas 64, em setembro de 2014) e, segundo seu fundador,
foi feito para que a comunicação fosse facilitada. Constitui um espaço
virtual onde certamente se encontrará, no caso dos imigrantes, outros
que compartilham vivências e experiências semelhantes – perde-se no
número, mas ganha-se em termos qualitativos referentes à vivência migratória. O grupo representa, nesse sentido, uma segurança, um local
que, em caso de necessidade, poderá ser um espaço de amparo e de procura por ajuda. Uma das participantes, por exemplo, procura por ajuda
para um “irmão” que estudará na Universidade do Estado do Rio de
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 33
Janeiro. São compartilhadas, também, oportunidades, eventos e informações, constantemente de forma saudosa em relação à Pérola do Índico,
forma como Moçambique é carinhosamente chamada em uma das postagens. A periodicidade das publicações, no entanto, é reduzida – o que
com certeza se relaciona com o número de membros, também reduzido.
Comunidade Africana de São Paulo – Filhos e filhas da mesma MÃE
AFRICA
(https://www.facebook.com/groups/1461170534115584/?fref=ts)
Figura 6 – Filhos e filhas da mesma MÃE ÁFRICA
Em uma postagem fixa, no início da página, é anunciado o objetivo
do grupo do Facebook Comunidade Africana de São Paulo – Filhos e filhas da mesma MÃE AFRICA: “criar um canal entre todos os Africanos de
São Paulo para pensar a como valorizar mais nossa terra e cultura
PODEROSAS”. Os conteúdos publicados estão sempre em consonância
com questões relacionadas à temática da imigração africana, principalmente relacionadas à cidade de São Paulo – como “a posse dos 20
conselheiros imigrantes eleitos por voto no dia 30 de março”. Apesar do
objetivo – e sua pretensão territorialmente abrangente – o grupo conta
apenas com 17 membros (em setembro de 2014), o que conduziu ao seu
progressivo desuso, mesmo com uma descrição altamente convidativa,
34 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
que dá boas vindas aos novos integrantes e pede para que se adicionem
amigos africanos à comunidade virtual.
Comunidade Ango-Congolesa no Brasil
(http://cacbbr.blogspot.com.br/)
Figura 7 – Comunid. Ango-Congolesa no Brasil
Conforme descrição no próprio blog Comunidade Ango-Congolesa
no Brasil, a “CACB foi criada com o objetivo de aproximar os imigrantes
de Angola, Congo Brazzaville, República Democrática do Congo, demais
povos africanos e seus descendentes que vivem no Brasil e no mundo”.
Não por acaso, as informações vinculadas no blog dizem respeito, em
grande medida, aos países citados e à condição imigrante no Brasil, como
notícias referentes a mudanças na legislação e às suas implicações práticas na vida das populações. Algumas postagens fazem referência a
grandes personalidades africanas, tanto no âmbito econômico como
político, e divulgam, também, informações sobre o continente de origem.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 35
Estudantes Guineenses na UNILAB
(https://www.facebook.com/groups/guiguisnaunilab)
Figura 8 – Estudantes Guineenses na UNILAB
O grupo do Facebook Estudantes Guineenses na UNILAB reúne estudantes guineenses da Universidade da Integração Nacional da
Lusofonia Afro-Brasileira. Apesar de ser um grupo público no Facebook
(configuração que permite que todos vejam o que é postado), para adentrá-lo é preciso enviar uma solicitação que deve ser confirmada pelo
administrador – um perfil intitulado “Unilab Guiné-Bissau”. A necessidade de confirmação para que o acesso seja viabilizado produz uma
tendência homogeneizante, fazendo com que os membros do grupo sejam verdadeiramente guineenses e estudantes; seu conteúdo é, portanto,
bem direcionado a essa comunidade. Por meio do grupo são compartilhados informes sobre reuniões da Comunidade de Estudantes
Guineenses na Unilab, eventos convocados pela Pró-reitoria de Políticas
Afirmativas e Estudantis (Propae), encontros de futebol e Acampamentos
de Férias Estudantis, que têm o “objetivo de promover a integração entre
os estudantes de diferentes nacionalidades que fazem parte desta Universidade”. Em uma postagem, um membro informa sobre a greve dos
alunos da Unilab e convoca os estudantes brasileiros a se unir na causa
dos estrangeiros, pois, afirma o guineense, “juntos somos uma grande
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família, a causa é comum a todos, reivindicamos; Repasse do auxilio
estudantil, moradia estudantil, estrutura, fortalecimento da política de
assistência aos estudantis”. Por fim, ressalta uma demanda de sua comunidade: “Queremos ser ouvidos e respeitados!”.
Eacape Cidadania Africana
(https://www.facebook.com/Eacape.br)
Figura 9 – Eacape Cidadania Africana
O perfil no Facebook Eacape Cidadania Africana compartilha informações diversas sobre a África: desde informes sobre moda a notícias
políticas. Com 1377 amigos (em setembro de 2014), a página se configura
pela diversidade de conteúdos; uma de suas publicações, por exemplo,
alerta para os cuidados necessários ao levar o cachorro para passear no
verão. Além disso, notícias sobre o Brasil também se mostram presentes,
assim como conteúdos e fotos que não se situam exclusivamente no Brasil ou em países africanos. Pode-se concluir, portanto, que seu conteúdo é
diverso, abarcando outras temáticas para além de questões exclusivamente relacionadas à migração, mas que, muitas vezes, também podem
ajudar as comunidades migrantes em sua vida cotidiana.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 37
Estudantes Africanos no Estado do Espírito Santo
(https://www.facebook.com/groups/227286393982227/)
Figura 10 – Estudantes Africanos no ES
Estudantes Africanos no Estado do Espírito Santo, grupo fechado no
Facebook, conta com a participação de 160 membros (em setembro de
2014). Com conteúdo diverso, é uma rede que permite que estudantes
falem com seus pares; em uma das postagens, por exemplo, uma estudante que está se formando pela Universidade Federal do Espírito Santo
diz sentir-se honrada em convidar os membros para as solenidades de
sua formatura. Outro estudante também se utiliza do grupo para convidar os integrantes para sua colação de grau: “É com grande honra e
prazer, e com a mais alta consideração, que venho convidá-los para comemorar junto comigo esta vitória; que embora sofrida e com grande
sacrifício foi uma conquista árdua que completei”. Além disso, são disponibilizadas informações sobre eventos relacionados à temática africana e
às questões referentes à imigração.
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Moçambicanos no Brasil
(https://www.facebook.com/groups/ruicampi11112/?ref=ts&fref=ts)
Figura 11 – Moçambicanos no Brasil
“Um grupo para conectar os Moçambicanos espalhados pelo Brasil
afora, em função de propagar a união da comunidade que por aí se sente
meio longe da Pátria Amada”. Eis o que descreve o grupo do Facebook
Moçambicanos no Brasil, constituído por 323 membros (em setembro de
2014). Seu conteúdo é diverso, com postagens sobre questões africanas e
brasileiras relacionadas a oportunidades de trabalho e educação, por
exemplo. Um dos álbuns disponibilizados no grupo é denominado “MÃE
ÁFRICA” e conta com fotos distintas, tanto de pessoas, como de lugares;
outro álbum, por sua vez, serve para que sejam compartilhadas bebidas
típicas de Moçambique. Além disso, o grupo se apresenta como um meio
de divulgação de eventos, tais como a palestra “Direitos Humanos em
Moçambique”, e informações, textos e vídeos sobre a cultura africana.
Um dos eventos anunciados se apresenta como um encontro entre exresidentes de Nampula, Nacala e Ilha Macuas, mas, apesar de ser uma
página direcionada a moçambicanos que residem no Brasil, acontecerá
em Porto, evidenciando a pluralidade do grupo, apesar de seu objetivo se
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 39
voltar essencialmente para a comunidade moçambicana que se encontra
em solo brasileiro.
Blog do Universitário Africano
(http://www.blogdouniversitarioafricano.com/p/blog-page.html)
Figura 12 – Blog do Universitário Africano
O Blog do Universitário Africano compartilha conteúdos diversos
que se relacionam à condição migrante como, por exemplo, sobre Programas de Cooperação Internacional entre Brasil e África, eventos e
informações que se relacionam à conjuntura africana atual. Ao mesmo
tempo, também é marcado pelo compartilhamento de informações que
se encontram ligadas a algumas conjunturas brasileiras, como o reconhecimento do quilombo da Sacopã. Mas, de forma geral, as notícias
sempre estão relacionas à condição migrante e ao continente de origem.
O blog se articula com a EACAPE, descrita como uma Organização da
Sociedade de Interesse Público “que surge como ferramenta institucional
na promoção da cidadania quilombola e da cidadania africana, através
dos imigrantes e alunos intercambistas nos mencionados casos, com o
desafio do enfrentamento dos respectivos problemas”.
40 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Associação dos Estudantes Angolanos em Brasília
(https://www.facebook.com/pages/Associa%C3%A7%C3%A3o-dosEstudantes-Angolanos-em-Bras%C3%ADlia/264760190202012)
Figura 13 – Assoc. Estudantes Angolanos em Brasília
Com uma dinâmica diferente dos grupos, a página no Facebook Associação dos Estudantes Angolanos em Brasília também compartilha
informações sobre angolanos de forma geral, não se conformando em
divulgar informações que se relacionem diretamente à vivência em solo
brasileiro. Compartilham-se, em grande medida, eventos organizados
pela própria associação, como o “Futebol da PAZ”, encontros de africanos
e reuniões que se relacionam à organização política da Associação. Com o
tempo, a página foi perdendo periodicidade em relação às suas postagens.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 41
Guiné-Bissau – Cidadania, Democracia & Desenvolvimento
(https://www.facebook.com/groups/gbissau/)
Figura 14 – Guiné Bissau – Eleições 2014
A página no Facebook Guiné-Bissau – Eleições 2014 foi criada com o
objetivo principal de discutir e informar sobre as Eleições presidenciais no
país. No entanto, com a passagem do evento, em agosto do mesmo ano,
trocou de nome para Guiné-Bissau: Cidadania, Democracia & Desenvolvimento. Hoje, possui mais de 6 mil membros (dezembro de 2014). Conforme
descrito pelos criadores, o objetivo é “incentivar e motivar o empenho de
todos os guineenses no exercício das suas responsabilidades da cidadania e,
consequentemente, a promoção da democracia e do desenvolvimento da
Guiné-Bissau”. O conteúdo atual da página é bem diversificado, sendo comum haver posts sobre eventos culturais, além de notícias sobre política,
economia e sobre a relação do país africano com o Brasil.
3.3. Análise
Ao total, entre os sites, grupos e páginas encontradas no Facebook, 9
foram analisados 1. Dentre eles, apenas um não conseguiu atingir 10 pos1
As páginas do Facebook: Associação dos Estudantes Guineenses RJ, Angolanos no Brasil!!!, Iº Encontro da Diáspora Guineense no Brasil, Eacape Cidadania Africana, Estudantes Africanos no Estado do Espírito Santo,
42 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
tagens dentro do recorte temporal, totalizando-se, dessa forma, 87 postagens submetidas ao protocolo de pesquisa. Ao aplicar o protocolo com
as categorias, verificamos que 26 postagens fazem parte da categoria
“Vínculo informativo com o país de nascimento”, seguida pela categoria
“Outros”, com 21 postagens. Às mais numerosas, seguem as categorias
“Companhia e ócio” (11), “Cidadania jurídica” (7) e “Consumo e produção
cultural” (6). Em seguida, encontram-se os temas “Projeto de migração”
(6) e “Participação política” (5). “Famílias e relações transnacionais” (2) e
“Associativismo” (3) foram as menos numerosas. “Aprendizado do idioma” e “Usos de mídia de migração” não totalizaram nenhuma postagem.
É uma característica comum entre todos os sites a publicação de informações, fotos e vídeos que dizem respeito à terra natal, como o país de
origem é por vezes referido. São informações sobre política, cultura,
tecnologia, esporte, educação e economia, por exemplo. A preocupação
com o conhecimento da história da África, perceptível através de postagens efetuadas, nos leva a crer que tanto africanos quanto brasileiros
percebem um desconhecimento generalizado em relação ao continente –
o que explica, em certa medida, o grande número de compartilhamentos
de informações sobre seus países e continente. Notícias sobre racismo –
no Brasil e no mundo – também ilustraram diversos grupos. Uma notícia
sobre um episódio de racismo e repressão policial injustificada vivido por
africanos em Porto Alegre foi compartilhada em diferentes páginas.
Muitas informações são compartilhadas não por dizerem respeito ao
país de origem, mas, inversamente, por estarem relacionadas ao país de
acolhida, ou seja, ao Brasil. Tais informações e notícias ocuparam, por
vezes, a categoria “Outros”, outras vezes ocuparam a categoria “Cidadania jurídica”, por exemplo, o que dependia essencialmente de seu
conteúdo. A categoria “Outros” se relaciona a diversos conteúdos que não
foram contemplados de forma significativa pelas categorias criadas, co-
MOÇAMBICANOS NO BRASIL, Grupo de Estudantes Moçambicanos no Brasil, além do Blog do Universitário
Africano e do site Comunidade Ango-Congolesa no Brasil.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 43
mo por exemplo, anúncios de trabalho, entrevistas a personalidades
africanas, divulgação de textos acadêmicos, felicitações e agradecimentos.
A categoria “Companhia e ócio”, por sua vez, se relaciona a convites
de eventos – como churrascos, almoços e festas, mais comuns em grupos
compostos por estudantes – e, comumente, à procura por indivíduos que
se encontram em determinado lugar. Em alguns grupos, também buscava-se por pessoas que planejassem visitar o país de origem, como quando
ocorreu o falecimento de Nelson Mandela, chamado carinhosamente de
Madiba em uma postagem. Os grupos no Facebook se mostram como um
espaço para aqueles que desejam procurar por seus pares quando algum
tipo de ajuda ou companhia se faz necessária, sem que a certeza de resposta exista. Em grupos com recorte nacional, são comuns postagens de
usuários que procuram por indivíduos de certa nacionalidade, em certo
local, sem que haja respostas por parte de seus integrantes. Em grupos
estaduais ou municipais a resposta se faz mais frequente.
Alguns grupos são ocupados exclusivamente, ou pelo menos predominantemente, por estudantes e, não por acaso, seu contorno
informativo acaba por dizer respeito de maneira mais intensa a notícias e
acontecimentos que podem influir na estadia de seus membros, como a
divulgação da lista de ganhadores de permanência segundo o Ministério
da Justiça e informações sobre a validação de vistos de estudantes estrangeiros. Dentre os nove sites analisados, quatro são destinados aos
estudantes, prova real de que o Brasil tem sido procurado de forma intensa por estudantes do continente africano, que começaram a chegar ao
país a partir da década de 1960, oriundos de países recémindependentes, que, a partir da assinatura de convênios culturais e técnicos, puderam vir ao Brasil para estudar em diferentes localidades.
Em alguns grupos no Facebook com o número de membros mais
reduzido, como o grupo Associação dos Estudantes Guineenses – RJ, é
possível perceber o caráter mais intimista de algumas de suas postagens.
Estar nesse grupo significa, dessa forma, fazer parte de uma rede que
divulga informações de diversos tipos; significa, para além de participar
44 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
de uma organização política, estar inserido num círculo de sociabilidade
no qual se pode observar a participação de vários membros – e não somente de um grupo que almeja falar pelo todo – e parece existir um
sentimento de coletividade e pertencimento, onde a realização de um se
configura como uma conquista para todo o grupo. O grupo é o grande
responsável pela postagem da categoria associativismo, somando duas
postagens entre as três que se totalizam na categoria.
Em grupos mais numerosos, como o grupo no Facebook Angolanos
no Brasil!!!, brasileiros e africanos coabitam o espaço virtual. Sua coexistência nem sempre se dá de forma não conflituosa, apesar de pacífica na
maior parte das experiências que se concretizam nos grupos. Em alguns
episódios, o que se anuncia como uma brincadeira por quem fala, nem
sempre é interpretado como tal – especialmente quando quem fala é
brasileiro – em contextos em que generalizações sobre africanos normalmente não são bem-vindas. Sem os recursos presenciais como a
entonação, a interpretação pode ficar demasiadamente ambígua para
quem recebe – no caso da internet, de quem lê – a partir de suas vivências culturais e sociais. Alguns africanos, nesse sentido, não se
mostraram receptivos a generalizações de conteúdo ambíguo, que podem, ao mesmo tempo, ser expressões jocosas ou ofensivas – o que pode
ser sintomático do tratamento concedido ao migrante africano fora do
meio virtual no Brasil, um país em que, apesar de cultivar para si e para
fora o mito da democracia racial, o racismo subsiste.
O orgulho do lugar de origem mistura-se com notícias sobre o
mundo lusófono, os “Leões Africanos”, e as transformações vivenciadas
por seus países, por exemplo, que por vezes exaltam as melhorias experimentadas, e, em outras, mostram a fragilidade que ainda é vivenciada,
num movimento que preserva, sobretudo, a informação. Algumas dificuldades vividas por africanos são até mesmo familiares aos brasileiros,
como as dificuldades impostas pela impunidade da corrupção. Notícias
sobre a entrada e permanência no Brasil – que podem influenciar na vida
daqueles que aqui estão e para cá querem vir – também são visíveis,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 45
como a facilitação, por parte do Brasil, na concessão de vistos para estrangeiros que vieram para a Copa do Mundo, ou a possibilidade de
receber o benefício do Bolsa Família sendo estrangeiro em São Paulo.
A preocupação com a divulgação da cultura e dos costumes africanos também se faz presente de forma significativa. São compartilhados
vídeos e fotos de danças, músicas e comidas típicas, por exemplo, o que
também exemplifica a vontade – tanto de africanos quanto de afrodescendentes que fazem parte dos grupos – de divulgar e, acima de tudo, de
valorizar a cultura do lugar de onde se veio. A divulgação de informações,
que demonstram a riqueza da cultura africana, é uma forma de romper
com a discriminação racial que se configura no país e é vivida na pele por
quem é negro, e ainda mais por quem é negro e imigrante, que antes da
chegada muitas vezes idealiza a realidade brasileira e, acostumados com
outras formas de relação, defrontam-se, a partir da imersão, com o racismo brasileiro, sem que tenha havido tempo de naturalizá-lo.
3.4. Considerações finais
De acordo com Amparo (2012), a identidade que se constrói no âmbito digital pode ser entendida como um produto social que engendra
efeitos nas relações não mediadas pelo virtual. Mais do que um espelho
do que é o presencial, o virtual – que nutre e é nutrido por ele – transforma a sociabilidade a partir de suas possibilidades de encontro, fala e
troca.
A forma como os imigrantes africanos utilizam a internet aponta
para a divulgação e compartilhamento de histórias, notícias, fotos e vídeos, especialmente no que diz respeito à terra natal. Mas, para além
disso, aponta para articulação e reivindicação de sua cultura e de seu
continente, que, apesar de tão ligado ao Brasil, permanece irremediavelmente obscuro na cabeça de muitos. Frente à experiência migratória
negra (o que adiciona obstáculos à empreitada) é bom poder contar com
um espaço em que pares podem ser encontrados e solicitados, mesmo
46 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
que não presencialmente. Nesse sentido, as TICs se tornam um recuo
afetivo e de ligação com a terra, cultura e imaginário de origem e funcionam, portanto, como uma teia psicológica que mantém o migrante
seguro ao mesmo tempo em que preso ao seu passado e antepassados
(ELHAJJI, 2001).
A internet, e seu caráter inerentemente transnacional, têm possibilitado a emergência de identidades baseadas em pluripertencimentos e
múltiplas identificações através do acesso a referenciais culturais diversos que permitem, consequentemente, o desenvolvimento de laços
afetivos e subjetivos que não estão postos somente nas fronteiras formais
dos países de destino. O que se observa enquanto produto dessa nova
esfera midiática e comunicacional é a vinculação mais intensa com o
universo simbólico de origem e a decorrente dificuldade de desvinculação
da terra natal e comunidades “irmãs” que, por vezes, compartilham um
mesmo mito fundador, espalhadas pelo mundo – fazendo com que hoje,
mais do que nunca, a identidade transnacional de comunidades étnicoculturais se encontre mais ressaltada e reforçada (ELHAJJI, 2001). Não se
pode, dessa forma, negar a importância das TICs na construção identitária dos indivíduos, o que se tornou possível por meio de seu
barateamento, popularização e sofisticação.
A representatividade da categoria “Vínculo informativo com o país
de nascimento” – a mais numerosa dentre todas as categorias – comprova o não desligamento das raízes. Pode-se, a partir disso, afirmar que,
como Stuart Hall (2003) nos diz sobre os assentamentos negros formados na Grã-Bretanha, o senso de “terra de origem” manteve-se forte
entre os grupos que se fazem presentes na internet, embora os locais de
origem não sejam mais a única fonte de identificação no contexto transnacional e intercultural. A “identificação associativa” em relação em país
de origem permaneceu, portanto, intensa. Hall (2003) se refere a essa
relação como força do elo umbilical.
De todos os sites, grupos e páginas encontradas, parte significativa
deles (seis) se direciona especificamente aos estudantes, o que lhes dá,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 47
consequentemente, um contorno particular, com postagens que se relacionam às vivências e às necessidades dessa comunidade. O número
expressivo de grupos e páginas se faz compreensível a partir dos números: nos últimos anos (2000-2012), dos 6.981 estudantes participantes do
Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), 5.479 eram da
África. Além disso, estar imerso no contexto universitário brasileiro,
ainda que muitas vezes em condição de precariedade, lhes proporciona
alguns benefícios, como o uso da rede. Esses grupos, de forma geral,
ainda que públicos, não são abertos à comunidade brasileira. Neles são
reivindicados, além da força do coletivo, a nacionalidade: os grupos, em
sua maioria, não são de imigrantes ou de africanos estudantes, mas de
angolanos, moçambicanos, guineenses – sendo somente dois deles direcionados aos africanos de forma geral.
A reivindicação da nacionalidade transcende as organizações estudantis. Dos sites e grupos analisados, a maior parte se direciona a
nacionalidades específicas; no caso dos grupos encontrados, são angolanos, guineenses, moçambicanos e ango-congoleses. Nas comunidades
diaspóricas, segundo Stuart Hall (2003), as formas de vida da cultura de
origem, denominadas tradicionais, continuam influenciando a autodefinição dos indivíduos, ao mesmo tempo em que operam conjuntamente
com a vida social do país de acolhida. Agrupar-se no campo virtual é um
exemplo real disso, num processo em que as comunidades não se desligam de suas raízes, e a partir do qual se faz necessário renegociar e
redefinir padrões de relacionamento.
A organização a partir da nacionalidade pode ser considerada uma
resposta à eliminação que se procede, no Brasil, das diversidades culturais, linguísticas e étnicas, processo anunciado por Kaly (2007), e a partir
do qual ocorre a redução dos diversos grupos à categoria de monogrupo.
Os que aqui chegam são chamados genericamente de africanos. No entanto, esses estudantes deixaram suas famílias em seus bairros e cidades
– como Mancagne, Peul, Serere, Diola, Ibo, Banto, Soninké, Bambara,
Dioula, Ewe, Touare, Dinka – embarcaram no avião como senegalenses,
48 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
guineenses, gaboneses, marfinenses, argelinos, egípcios, cabo-verdianos,
angolanos, e chegaram ao Brasil sob o rótulo de africanos – diferentemente do que ocorre aos imigrantes europeus, asiáticos e norteamericanos, que são tratados a partir de suas nacionalidades próprias.
Os grupos submetidos à análise diferenciam-se substancialmente
em relação ao número de seus membros. Existe, ao mesmo tempo, um
grupo com mais de 14 mil membros e outro com apenas 17, por exemplo.
Como pontua Amparo (2012) ao estudar as relações de sociabilidade
entre jovens, nos grupos com número pouco expressivo de participantes
as relações se realizam com pessoas com as quais se tem um contato
frequente, consolidando, a partir da mediação do virtual, relações que se
configuram presencialmente.
Em grupos ocupados por um número maior de pessoas, no entanto,
é comum observar que as relações transcendem um limite territorial
restrito e um determinado grupo de sociabilidade. São grupos mais plurais, em que seus membros diferem entre si de forma mais expressiva,
até mesmo em relação à nacionalidade: são grupos em que brasileiros
(que se encontram dentro ou fora do país) comumente se fazem presentes.
A comunicação, nesses espaços, se torna possível através do compartilhamento de elementos que articulam a cultura de origem com a
cultura do país de acolhida, num movimento que, ao mesmo tempo que
afasta, aproxima por meio da divulgação de fotos e notícias, por exemplo,
a partir dos quais as similitudes existentes entre o “aqui” e o “lá” se tornam visíveis. Por outro lado, a diferença de nacionalidade – assim como
fatores que decorrem dela – é reafirmada, o que pode ser compreendido
como sintomático de certa tensão que se configura nas relações que existem sem a mediação do campo virtual, num país em que negros não são
tão bem recebidos e tratados, como denunciado por Kaly (2007). As dificuldades impostas pela experiência migratória acabam por fazer com que
esses africanos, mais uma vez, reivindiquem sua nacionalidade, sua origem e sua negritude, reforçando seus laços.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 49
O sentir do grupo em relação à sua condição acaba por gerar efeitos
discursivos e práticos e, nesse sentido, quanto mais minoritário ou menorizado, ameaçado ou marginalizado o grupo se sente, mais seus
discursos identitários carregarão consigo a radicalização e dramatização
de suas diferenças frente a outros grupos. Elaborar um discurso identitário étnico-cultural e anunciá-lo é, por si só, um ato político dentro de um
sistema social étnica e culturalmente hierarquizado (ELHAJJI, 2001).
Não é possível – ainda que se considere a natureza heterogênea e
multifacetada de todo sujeito contemporâneo – ignorar a relevância da
dimensão grupal na formação identitária, assim como seu papel na recepção e tradução de discursos sociais, produção de significados e
conformação da visão de mundo do sujeito. A emergência ou a afirmação
desse tipo de identificação a uma comunidade diferenciada não pode ser
entendida, no entanto, como uma atitude inata, “mas sim como uma
reação relativa e proporcional ao sentimento de necessidade de perpetuação de uma marca simbólica determinada” (ELHAJJI, 2001, p. 3) frente a
uma ameaça de opressão ou extinção. No caso da comunidade africana, a
estratégia que conduz à sua perpetuação parece estar posta no requerimento da valorização e do conhecimento de sua origem e cultura.
4
Webdiáspora Portuguesa
4.1. Contexto histórico da imigração
Primeiro país europeu a empreender grandes navegações marítimas, Portugal colonizou o Brasil em 1500 e foi o país que teve o mais
longo movimento emigratório para o Brasil. Durante o período colonial,
chegavam ao Brasil colonizadores portugueses e escravos, e o processo
de colonização foi lento até a chegada da corte ao país. Algumas políticas
de povoamento foram implantadas nesse período, como as capitanias
hereditárias, mas a ocupação portuguesa foi, por muito tempo, de exploração.
A coroa portuguesa restringiu a emigração de seus súditos no século
XVII, mas mesmo com as restrições, famílias portuguesas continuavam a
ocupar o Brasil. Cidades do Nordeste e Norte eram as que mais recebiam
imigrantes à época. O crescimento intelectual, social e cultural só aconteceu em 1808, com a chegada da corte e abertura dos portos para
estrangeiros (RODRIGUES, 2003).
No decorrer do século XIX, com a procura por mão de obra nãoescravocrata, cresceu o número de imigrantes e os portugueses foram o
segundo povo a imigrar para o Brasil em número, perdendo apenas para
os italianos. Dentre as vantagens para a imigração portuguesa estavam a
facilidade da língua e pagamentos das despesas de viagem pelo governo
brasileiro (RODRIGUES, 2003).
Havia três tipos principais de imigrantes portugueses: “os que emigravam com a finalidade de obter uma carreira profissional, os que
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 51
emigravam para adquirir uma poupança e os que emigravam para fugir
de uma situação de crise” (RODRIGUES apud LEITE, 2003, p. 15). Apesar
do maior número de imigrantes nessa época concentrar-se no Rio de
Janeiro e em São Paulo, as regiões Sul, Nordeste e o Estado de Minas
Gerais também receberam um grande número de portugueses.
O grande fluxo da imigração portuguesa ocorreu entre 1910 e 1914,
sofrendo uma queda após a Primeira Guerra Mundial. O fluxo emigratório só recomeçou a partir de 1920. Depois de 1941, a imigração
portuguesa diminuiu, mas em 1960 que ocorreu uma queda significativa.
Os imigrantes que aqui chegaram nessa década eram, geralmente, contrários à política de Portugal nas colônias africanas. Em 1974 ocorreu um
novo grande fluxo de emigração portuguesa para o Brasil por motivos
políticos, após a queda do regime salazarista. De acordo com Rodrigues
(2003), o número de migrantes portugueses que escolhem o Brasil como
destino decaiu na última década, não sendo o país prioritário. Apesar
disso, há uma grande comunidade de portugueses e luso-descendentes.
No auge da migração portuguesa, os imigrantes chegavam ao Brasil
em embarcações a vapor, na terceira classe, em péssimas condições de
higiene, facilitando a proliferação de doenças. Eles aportavam no Rio de
Janeiro e no Porto de Santos, de onde a maior parte dos imigrantes seguia para São Paulo, que, por conta da produção cafeeira, era a região
que concentrava um grande contingente de imigrantes (RODRIGUES,
2003). Quando chegavam, os que não tinham onde ficar dirigiam-se para
a Hospedaria dos Imigrantes, local que poderiam permanecer por até
oito dias. No Rio de Janeiro, os imigrantes eram conduzidos para a Ilha
das Flores. De grande importância para o desenvolvimento do país, os
portugueses correspondiam à maior parte da mão de obra urbana e rural
em algumas regiões do país (RODRIGUES, 2003).
O brasileiro não herdou dos portugueses apenas a língua, mas também traços da arquitetura, danças típicas, brincadeiras infantis e
festividades. Até mesmo superstições relacionadas ao pão, como não
atirá-lo fora, que é pecado, são herança de Portugal. Os portugueses
52 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
também influenciaram nossa culinária, introduzindo diversos ingredientes, frutas e legumes em nosso cultivo, além de receitas de doces como
rabanadas, quindins, cocadas etc. No artesanato, algumas de nossas heranças são as olarias, os azulejos e os bordados herdados da Ilha da
Madeira (RODRIGUES, 2003).
A relação entre brasileiros e portugueses é essencial para a história
do Brasil como a compreendemos hoje, pois a imigração portuguesa
construiu grande parte da nossa identidade. É a relação migratória mais
antiga que mantemos e sua contribuição para nossa cultura é, ao lado da
cultura africana e indígena, a mais forte.
Rodrigues afirma que em 2003 – período em que seu livro foi publicado –, o fluxo migratório entre Brasil e Portugal havia invertido: os
brasileiros seguiam para Portugal, à procura de uma vida na Europa e de
melhores condições de emprego.
Com a atual crise econômica vivida por Portugal e alto índice de desemprego no país – o país fechou 2013 com um índice de 15,5% (SILVA,
CRISÓSTOMO, MARTINS, 2014) –, a migração portuguesa voltou a crescer nos últimos anos. Em 2013, verificou-se que cerca de 100 a 120 mil
portugueses saíram do país a procura de oportunidades em outros países, especialmente na França (MEIRELES, 2014).
Apesar da facilidade da língua, o Brasil hoje não é o principal destino dos portugueses que estão à procura de emprego fora do país, pela
burocracia em relação à documentação e pelo fato de que profissões como engenharia e arquitetura não têm qualificação equivalente nos dois
países (MEIRELES, 2014). Isso demonstra que, apesar da proximidade
cultural e linguística entre os dois países, até mesmo para imigrantes
portugueses é difícil a regularização no país, que por suas burocracias
dificulta a acolhida de estrangeiros.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas no processo migratório, o
Censo de 2010 1 apontou que os portugueses ainda ocupam uma posição
de destaque entre os imigrantes que escolhem o Brasil para morar. Em
1
Fonte: www.ibge.gov.br
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 53
2010, eram 21.376 imigrantes legalizados que residiam no país há mais
de cinco anos, o que fazia Portugal ocupar o quinto lugar na lista.
4.2. Mapeamento
Portugueses no Brasil
(https://www.facebook.com/groups/portuguesesnobrasil/)
Figura 15 – Portugueses no Brasil
Em maio de 2014, o grupo no Facebook intitulado Portugueses no
Brasil contava com mais de 7.300 usuários ativos. Entre os grupos analisados, é o que possui maior fluxo de informações e interações entre
usuários, que utilizam a página para fins diversos, buscando facilitar a
vida no país e manter vínculos. O grupo é formado por portugueses – e
alguns brasileiros – que, constantemente, compartilham notícias, tiram
dúvidas e buscam facilitar a vida daqueles que já estão no Brasil ou pretendem vir para cá. Os brasileiros presentes no grupo frequentemente
desejam fazer o caminho inverso dos portugueses. É um grupo fechado,
mas os moderadores aceitam qualquer um que solicite participação. Apesar de haver moderação, não há aparente liderança no grupo, mas alguns
usuários que são mais ativos do que outros.
54 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Portugueses no Brasil (PT no BR)
(https://www.facebook.com/groups/ptnobr/)
Figura 16 – PT no BR
Apesar de ter o mesmo nome do grupo anterior, o grupo PT no BR é
menor, mas com um perfil parecido. O objetivo é o compartilhamento de
informações visando à interação entre portugueses residentes no Brasil
ou interessados em migrar para o país. No grupo, é comum compartilharem notícias sobre Portugal, especialmente ligadas a esportes e política.
Os temas postados pelos usuários variam, pois o grupo é um espaço livre
para discussões variadas. É comum que os usuários postem fotos de
Portugal, lembrando da terra natal com saudosismo, assim como utilizam o espaço para esclarecer dúvidas sobre o processo migratório.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 55
Arquitectos e Engenheiros Civis Portugueses no Brasil
(https://www.facebook.com/pages/Arquitectos-e-Engenheiros-CivisPortugueses-no-Brasil/257449727647078)
Figura 17 – Arquitectos e Engenheiros Port. no Brasil
Como o nome diz, a página Arquitectos e Engenheiros Civis Portugueses no Brasil reúne arquitetos e engenheiros civis portugueses que
atuem ou desejam atuar no Brasil. Em maio de 2014, a página contava
com mais de 450 curtidas, ou seja, mais de 450 usuários do Facebook
acompanhavam as novidades postadas na página. Com poucas atualizações, a página virtual serve para informar profissionais portugueses da
área, trazendo notícias sobre a construção civil e a regularização do registro profissional para que esses profissionais estejam aptos a atuar no
país. A página serve como um espaço de encontro para os profissionais
portugueses, para que se mantenham atualizados em relação à profissão
e a como exercê-la no país.
56 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Casa do Minho
(http://www.minho.com.br/)
Figura 18 – Casa do Minho
O site Casa do Minho é um espaço virtual do clube português homônimo, localizado no Cosme Velho, Rio de Janeiro. Com caráter
informativo, a página reúne histórico do clube, galeria de fotos e espaços
destinados a divulgar a cultura portuguesa, como colunas no site com
textos sobre folclore e trajes e festas típicas portuguesas. A Casa do Minho é um clube destinado à preservação da cultura entre os imigrantes
portugueses. O site da associação folclórica ajuda a cumprir esse papel,
servindo como um espaço virtual no qual os administradores da página
compartilham, além da história de outros imigrantes, a história do próprio folclore português, perpetuando tradições no Brasil, ajudando-os a
manter vínculo com a terra natal.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 57
Portugal sem Passaporte
(http://blog.opovo.com.br/portugalsempassaporte/)
Figura 19 – Portugal sem Passaporte
O blog Portugal sem Passaporte é uma página dentro do site do jornal O Povo. Mantido pelo jornalista Graciliano Coutinho, é um espaço
para a comunidade portuguesa no Brasil se manter informada não apenas sobre as notícias de Portugal, mas também das notícias do Brasil que
podem afetar a comunidade portuguesa. Dividido por categorias, o blog
tem postagens diárias sobre assuntos como economia, a comunidade
lusa, notícias Brasil-Portugal, política portuguesa, turismo, cultura, uma
categoria para assuntos gerais de Portugal, associações luso-brasileiras
entre outros assuntos. É comum que o blog seja atualizado mais de uma
vez por dia, devido ao grande número de informações disponíveis.
58 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo
(http://www.cclb.org.br/index.html)
Figura 20 – CCLB
O site Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São
Paulo é um espaço virtual para o CCLB-SP, que de acordo com a definição contida na própria página “é o órgão de convergência de todas as
associações ligadas à comunidade e de todos os luso-brasileiros”. O espaço reúne informações sobre comunidades luso-brasileiras em todo o
estado de São Paulo. Além de notícias em geral e da divulgação de futuros eventos, o site é dividido em diferentes sessões e páginas internas.
Contém, ainda, diversas informações pertinentes aos integrantes da comunidade luso-brasileira, não apenas os residentes em São Paulo. Na
área sobre o Conselho há, além do histórico da organização, um espaço
no qual o internauta pode acessar o estatuto, funções, realizações, a diretoria e até mesmo as prestações de conta. No espaço destinado a eventos,
além de listar os próximos eventos para a comunidade, também há fotos
e vídeos de eventos anteriores. Há uma área destinada para os assuntos
pertinentes à comunidade, como listagem de veículos de imprensa lusobrasileira e associações, consulados, grupos folclóricos, restaurantes
típicos etc.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 59
Mundo Lusíada
(http://mundolusiada.com.br/)
Figura 21 – Mundo Lusíada
O Mundo Lusíada é um grande jornal da comunidade luso-brasileira
que possui versão digital. Além de notícias sobre a comunidade lusobrasileira – e a comunidade portuguesa em outros países, quando pertinente –, também traz notícias sobre Portugal. A versão digital possui
cinco colunas “Economia, Cultura & Sociedade”, “Fado no Brasil”, “Opinião Luso-Descendente”, “Realidade Jurídica” e “Sociedade Brasileira”.
Além disso, o portal também possui editorias: “Acontece”, “Comunidade”, “CPLP”, “Cultura”, “Economia”, “Esporte”, “Gastronomia”, “Política”
e “Turismo”. Também é possível ouvir a rádio virtual do Mundo Lusíada
através do site e ter acesso à agenda de eventos. O site é atualizado diariamente com notícias e é um portal de referência para a comunidade lusobrasileira, por ser um dos mais antigos veículos de comunicação mantido
pela comunidade portuguesa no Brasil.
60 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Emprego no Brasil para Portugueses 2
(https://www.facebook.com/EmpregoNoBrasilParaPortugueses)
A página no Facebook intitulada Empregos no Brasil para Portugueses é uma fanpage de uma consultoria especializada em assuntos de
migração, que presta serviços para estrangeiros que desejam migrar para
o Brasil, especialmente portugueses. A empresa presta serviços de legalização de documentos no Brasil e funciona como agência de empregos
para portugueses que estejam à procura de trabalho no país. A página
costuma postar notícias relacionadas à legalização jurídica de estrangeiros no Brasil, às ofertas de emprego e a qualquer outro tema relacionado
à cidadania jurídica. Tem pouco mais de 5 mil curtidas e, apesar de pertencer a uma empresa, boa parte do conteúdo não está relacionado à
empresa. Grande parcela do que é postado na página está relacionado às
dúvidas sobre a legalização de portugueses no Brasil.
Casa das Beiras
(http://www.casadasbeiras.com.br/)
Figura 22 – Casa das Beiras
2
No período da captura das imagens para ilustração desse trabalho (de 27/01/2014 a 15/02/2104), a página não
estava disponível.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 61
O site Casa das Beiras é a página oficial da instituição homônima,
que possui o objetivo de reunir portugueses naturais das Beiras e fazer
parte da integração entre os portugueses e os brasileiros. Fundada em
1953, a sua sede é na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro. Conta com sua
descrição e sua localização, além da afirmação “Visite a Casa das Beiras!”,
na página principal, que convida quem conhece o site a visitar o local
descrito. Apresenta também uma galeria de fotos do ambiente interno da
Casa, números de fax e telefone e espaço próprio para entrar em contato
com os responsáveis pelo portal em busca de mais informações sobre a
instituição.
Casa de Viseu
(http://www.casadeviseu.com.br/)
Figura 23 – Casa de Viseu
Em 1966, uma reunião de 15 amigos tornou possível a criação de
uma Casa com ideais de preservação das tradições lusitanas, a qual hoje é
uma das mais tradicionais instituições luso-brasileiras do Rio de Janeiro e
do Brasil, segundo informações disponíveis no próprio site da instituição,
o Casa de Viseu. O portal apresenta a estrutura da instituição, que conta
com sede social e campestre, além de disponibilizar aos visitantes a programação, na qual é possível saber mais informações sobre shows e
62 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
cursos oferecidos, ver a galeria de fotos do local e dos presidentes do
mesmo, assim como os registros das atividades e participações em viagens dos membros e brasões dos Conselhos do Distrito de Viseu. Há
também espaço para tornar-se associado da Casa, efetuar reservas e
ainda entrar em contato com os responsáveis para maiores esclarecimentos, críticas ou sugestões.
Centro da Comunidade Luso-brasileira do Estado do Rio de Janeiro
(http://lusobrasilrj.blogspot.com.br/)
Figura 24 – Centro da Comum. Luso-Brasileira RJ
O Centro da Comunidade Luso-brasileira do Estado do Rio de Janeiro foi criado em Niterói, em 1968. Segundo o próprio blog da instituição,
que tem o mesmo nome, um de seus objetivos é o de promover a união
de portugueses, brasileiros e luso-descendentes. Dentre os conteúdos
abordados na página, estão fotos da imagem peregrina de Nossa Senhora
de Fátima, Santuário de Fátima em Portugal, da visita ao monumento de
Pedro Álvares Cabral. Também há destaque para monumentos importantes para a comunidade, como por exemplo o monumento de Nossa
Senhora de Fátima, em Niterói. Além disso, há fotos e relatos sobre personalidades importantes, como ocorreu na visita do ex-primeiro ministro
de Portugal, José Sócrates, ao Rio de Janeiro, em agosto de 2006. O portal
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 63
também apresenta redirecionamento para links de notícias e artigos
sobre a comunidade luso-brasileira e aos temas relacionados a ela.
Casa dos Açores do Rio de Janeiro
(http://casadosacoresrj.com/)
Figura 25 – Casa dos Açores do Rio de Janeiro
A Casa dos Açores foi fundada com a presença do escritor e intelectual açoriano Vitorino Nemésio, no Rio de Janeiro. Em 1952, ele motivou
a criação de um centro que reunisse açorianos e preservasse suas práticas culturais. Através de uma reunião com um grupo de açorianos, a
instituição foi criada. Dois anos após a fundação, com muita divulgação
através de jornais, a Casa de Açores foi inaugurada, segundo informações
presentes no site, homônimo. A página do clube expõe relatos de sua
história, relatos sobre a diretoria, sua localização, fotos e informações
sobre suas instalações e sobre o Grupo Folclórico Padre Tomás Borba.
Também conta com espaço para contato, notícias sobre eventos e com
uma galeria de fotografias dos mesmos, além de histórias do arquipélago
de Açores, de suas ilhas, e informações sobre comemorações religiosas.
64 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Comunidade Portuguesa
(http://www.comunidadeportuguesa.com.br/)
Figura 26 – Comunidade Portugesa
Comunidade Portuguesa é um site de encontros e relacionamentos
da Comunidade Portuguesa no Brasil e no mundo. Nele, é possível ver o
total de membros, homens e mulheres, de cada país. Fotos e informações
pessoais básicas de pessoas online no momento também estão disponíveis, assim como imagens de membros de destaque no mês e
testemunhos de pessoas que já passaram pelo site e conquistaram um
bom relacionamento. Há, além disso, depoimentos de especialistas sobre
o site, uma seção de busca por pessoas (de acordo com formação, profissão, religião e outras características), uma seção de contato com os
responsáveis pela iniciativa e um tópico onde é possível enviar imagens
de flores através de mensagens, por email. É necessário fazer o registro
no site para criar um perfil e realizar contato com as pessoas vinculadas
na rede. O objetivo do portal é o de auxiliar na aproximação de pessoas
através da internet, para que elas possam se conhecer, se encontrar e
construir relacionamentos de acordo com suas preferências.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 65
Comunidade Portuguesa de Pernambuco
(https://www.facebook.com/comportuguesaPE)
Figura 27 – Conselho da Comum. Portugesa de PE
Criada em 2011, a página do Facebook Comunidade Portuguesa de
Pernambuco é destinada aos portugueses e luso-descendentes do estado
de Pernambuco, e vinculada ao site Conselho da Comunidade Portuguesa
de Pernambuco 3. Curiosidades sobre o país de origem, gastronomia,
música, esporte, arte, felicitações de datas importantes e notícias sobre a
cultura portuguesa e sobre os portugueses no Brasil e, mais especificamente, em Pernambuco, são algumas das temáticas presentes na página.
Além da divulgação de premiações, como a de prêmios da Academia
Portuguesa de Cinema, e de eventos, como exposições de artes e lançamento de livros relacionados aos portugueses. Há, também, fotos de
encontros e confraternizações entre membros, assim como fotos ilustrando as temáticas relatadas nas postagens.
3
Disponível em http://www.comunidadeportuguesape.com.br/
66 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
4.3. Análise
Foi analisado um total de sete páginas 4, dentre sites, blogs, fóruns e
grupos no Facebook. Cada postagem foi encaixada em uma das 11 categorias estabelecidas. São elas: 1) “Projeto de migração”; 2) “Famílias e
relações transnacionais”; 3) “Vínculos informativos com o país de nascimento”; 4) “Consumo e produção cultural”; 5) “Aprendizado do idioma”;
6) “Cidadania jurídica”; 7) “Usos de mídias de migração”; 8) “Companhia
e ócio”; 9) “Participação política”; 10) “Associativismo”; e 11) “Outros”.
Das 282 postagens analisadas nos sete sites, blogs e páginas do Facebook submetidas ao protocolo de pesquisa, a maioria (79) não seguiu
um padrão de assunto e foi classificada na categoria “Outros”. Em seguida, vieram as categorias: “Vínculos informativos com o país de
nascimento” (50 postagens), “Consumo e produção cultural” (42), “Projeto de migração” (32) e “Participação política” (23). Os outros temas
tiveram participações mais tímidas. “Usos de mídias de migração” e “Associativismo” foram marcados em 16 publicações cada um, “Companhia e
ócio” em 13, “Cidadania jurídica” em 10 e “Aprendizado do idioma” em
apenas uma. A categoria “Famílias e relações transnacionais” não foi
contemplada. É importante ressaltar que muitas postagens puderam ser
identificadas em mais de uma classificação. Foram 52 neste caso.
Devido ao grande fluxo de informações na página e à dificuldade de
realizar uma busca por período específico no Facebook, fizemos uma
amostra construída do conteúdo do grupo Portugueses no Brasil no Facebook. Analisamos um total de cem postagens compartilhadas no grupo
durante o mês de fevereiro de 2014. Já do grupo Portugueses no Brasil
(PT no BR), analisamos todo o conteúdo postado durante o período englobado pela nossa pesquisa.
Não há um padrão específico para as postagens compartilhadas no
Facebook, pois o compartilhamento é livre e a cargo do usuário que pos4
Portugueses no Brasil (PT no BR), Emprego no Brasil para Portugueses, Arquitectos e Engenheiros Civis Portugueses no Brasil, Casa do Minho, Portugal sem Passaporte, Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de
São Paulo e Mundo Lusíada.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 67
ta. No grupo, os moderadores e administradores da página não costumam apagar tópicos, nem há regras do que deve ser compartilhado ou
como, o que acontece em muitos outros grupos no Facebook.
Notamos que muitos usuários utilizam o grupo no Facebook para
divulgar seus serviços. Constantemente algum usuário compartilha links
para que outros possam conhecer a rádio virtual que mantém, além de
divulgar blogs, sites e outras páginas que considerem de interesse de
outros usuários. Analisando o conteúdo, também é muito comum encontrar usuários postando links e fotos de produtos que vendem, como por
exemplo doces tradicionais portugueses.
Há um grande número de notícias sobre futebol. É comum que os
usuários compartilhem não só notícias, mas também outros conteúdos,
como tirinhas, fotografias etc. relacionadas ao tema. O time que mais
costuma aparecer entre os comentários dos internautas que estão no
grupo Portugueses no Brasil é o clube português Benfica, embora postagens sobre outras equipes de futebol eventualmente apareçam.
O debate político é constante entre os usuários, o que causa desconforto em alguns tópicos, rendendo discussões acaloradas sobre a situação
política do Brasil e de Portugal. É comum que os internautas debatam
sobre corrupção e tentem encontrar qual país está em melhor situação
através dos debates, Portugal ou Brasil. Nesses tópicos, quase sempre há
divergências políticas entre os usuários, que discutem seus pontos de vista
e chegam até mesmo a ofender uns aos outros por causa de suas opiniões.
Os tópicos com maior participação dos usuários, porém, são os relacionados às dúvidas sobre o processo migratório. Os participantes da página
mostraram-se solícitos ao esclarecer as questões dos colegas a respeito da
documentação, que são as mais frequentes, compartilhando casos próprios
nos comentários ou dando dicas a outros usuários. As respostas geralmente chegam no mesmo dia em que o usuário posta suas dúvidas.
As páginas, ao contrário dos grupos, são abertas para qualquer usuário, bastando “curtir” para acompanhar o conteúdo. Tanto na página
Empregos no Brasil para Portugueses quanto na página Arquitectos e
68 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Engenheiros Civis no Brasil, grande parte do conteúdo postado está relacionado à cidadania jurídica e aos projetos de migração.
A página Clube Minho é um exemplo de espaço virtual para preservação da memória portuguesa na mente dos imigrantes. As postagens
são relacionadas ao consumo, à produção cultural e ao associativismo,
voltadas para assuntos como culinária, grupos folclóricos, danças típicas
etc.
Já o blog Portugal sem Passaporte, funciona como um espaço informativo para os imigrantes, pois boa parte do conteúdo são vínculos
informativos com o país de nascimento. As notícias postadas no site do
CCLB geralmente estão relacionadas à cultura. Como um conselho para
unir as comunidades portuguesas, é normal a preocupação com a preservação da cultura.
Para a elaboração dos protocolos do site Mundo Lusíada, foi necessária uma análise diferenciada. O site não possui busca por período,
apenas por palavras chaves. Como não era possível localizar as notícias
postadas entre o período que a pesquisa abrange, escolhemos analisar
apenas o conteúdo acessível através da página inicial.
Tal qual o blog Portugal sem Passaporte, o conteúdo do Mundo Lusíada é, em sua maioria, de vínculos informativos. Há muitas notícias
relacionadas à política e à economia, grande parte sobre transações entre
Portugal e Brasil.
Os espaços virtuais da comunidade portuguesa residente no Brasil
são variados. Ao analisarmos os sites escolhidos, foi possível notar que
boa parte das interações relacionadas à categoria “companhia e ócio”
concentram-se nas páginas no Facebook.
4.4. Considerações finais
Pelas páginas analisadas, não foi possível perceber interações entre
imigrantes e familiares que permaneceram no país de origem – a maior
parte do que foi encontrado durante a análise dizia respeito a espaços
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 69
públicos, onde desconhecidos interagiam. Apesar disso, as redes sociais
mostram-se um importante espaço para interação e troca de informações
entre imigrantes, que as utilizam como um facilitador para sanar dúvidas
referentes ao projeto de migração. É comum que sejam utilizadas para tal
fim, assim como para discutir trivialidades e opiniões sobre a vida em
Portugal e no Brasil.
Apesar de muitos sites pertencerem a associações, eles não permitem interação entre internautas, o que os afasta do conteúdo produzido.
Considerando os sites analisados e o perfil dos usuários que encontramos nos grupos do Facebook, foi possível notar que boa parte dos
imigrantes portugueses residentes no Brasil usa a internet como forma
de se informar sobre o país de origem e sanar dúvidas a respeito de questões jurídicas etc.
Embora haja muitos grupos folclóricos espalhados pelo país e alguns deles mantenham uma página online, essas páginas funcionam
como espaço para compartilhar cultura, mas principalmente para divulgar eventos e preservar a memória histórica do próprio grupo. Apesar
disso, é possível notar que o espaço virtual existe apenas para registro,
pois as atividades concentram-se principalmente no presencial.
Diante da amostra que tínhamos, ressaltamos que, no período analisado, a comunidade luso-brasileira que interage por meio da internet
possui grande interesse em sanar dúvidas relacionadas à regulamentação
jurídica e ao projeto de migração, além de buscar manter vínculos com o
país de origem através de notícias ou do compartilhamento de conteúdo
que remeta a Portugal, desde notícias até imagens e poemas saudosistas
sobre a pátria.
5
Webdiáspora Alemã
5.1. Contexto histórico da imigração
Para traçar um panorama histórico que brevemente descreva o
processo de imigração de alemães para o Brasil, este trabalho utilizou
a obra de Joana de Paula Cidade Miranda, Deutschum no Brasil: imigração, identidade e mídia étnica alemã. A apresentação histórica é
dividida por Joana entre a descrição do processo ao longo de quase
todo o século XIX, “explicando as razões que levaram o império luso a
buscar indivíduos em outras nações e o porquê da saída de determinadas pessoas de suas terras de origem” (MIRANDA, 2008, p. 14), e a
investigação sobre “como foi o fluxo migratório nas décadas iniciais
do século 20 e o que foi a campanha de nacionalização, projeto getulista que afetou sensivelmente os colonos e seus descendentes neste
período” (MIRANDA, 2008, p. 33).
Em março de 1820, Dom João VI assinou um decreto que permitia a
entrada de imigrantes não portugueses no Brasil. Os principais motivos
desta decisão teriam sido a necessidade de colonizar áreas de vazios demográficos, especialmente onde as fronteiras com a América Espanhola
ainda se encontravam indefinidas, e a crença segundo a qual os imigrantes trariam consigo técnicas e práticas que impulsionariam o
desenvolvimento econômico do país.
Por que, entretanto, imigrantes europeus, e ainda mais especificamente, alemães? Segundo a autora, “nas primeiras décadas do século XIX
existia o desejo, expresso pela política colonial de Dom João VI, de ‘bran-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 71
quear’ o Brasil, contrabalanceando a mão de obra escrava negra com
trabalhadores brancos” (MIRANDA, 2008, p. 15). Ela cita Giralda Seyferth (2000) para entendermos que “a predominância de alemães nos
primeiros projetos mais consistentes de colonização pode ser explicada
pela presença influente de indivíduos de ascendência germânica junto ao
governo imperial brasileiro”. Outro motivo também é citado: espanhóis,
holandeses, ingleses e franceses tinham interesses estrategicamente conflituosos com os objetivos da Corte portuguesa apresentados
anteriormente.
Note-se que, no início do século XIX, a Alemanha ainda não existia
enquanto Estado federal, e, portanto, o conceito de “alemão” utilizado é
definido pela cultura germânica, ou Deutschum. Vale ressaltar que a
situação da Europa do século XIX, com sua recente industrialização e,
consequentemente, pobreza de artesãos e camponeses, tornou interessante a vinda de imigrantes, apesar de que, para isto, essas pessoas
enfrentariam longas e precárias viagens através do Atlântico. A autora
ainda introduz em sua obra um estudo publicado pelo Serviço Nacional
de Divulgação Cultural Brasileiro. Este estudo, intitulado História da
imigração no Brasil: as famílias, organiza o período de 1824 (data de
início da primeira colônia bem-sucedida) até 1960, em seis etapas. A
primeira etapa duraria até 1830 e seria interrompida pela Revolução
Farroupilha e pela crise da gestão de Dom Pedro I. Na segunda etapa,
após o fim da Revolução, em 1845, seria reiniciado o movimento migratório. Nesta etapa, que terminaria em 1859, destaca-se a criação da Lei
das Terras, em 1850, que “determinou que os terrenos utilizados pelos
colonos não fossem mais doados a eles e sim vendidos” (MIRANDA,
2008, p. 18). Até a Proclamação da República, em 1889, estender-se-ia a
terceira etapa, com destaque para a abolição da escravatura, que intensificou a necessidade de mão de obra no Brasil. Ao final do Império,
haviam sido fundadas cerca de 80 colônias alemãs. Joana Miranda contrasta ainda as experiências frustradas de colonização alemã no Brasil
72 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
antes da independência com as colônias que de fato se consolidaram
aqui.
A autora cita ainda os anos pré-independência de 1818 e 1819,
quando, na Bahia e no Rio de Janeiro, houve tentativas nas quais os colonos acabaram por se dispersar. Contudo, em 1824 foi estabelecida com
sucesso a colônia e atual cidade de São Leopoldo. A partir de então, diversos outros empreendimentos se consolidaram pelo país,
principalmente na região sul. Segundo Joana Miranda, isto ocorreu devido aos imensos vazios demográficos desta região, com ameaças
iminentes em suas fronteiras. Outro fator teria sido o clima, desinteressante para plantação de produtos tropicais como o café, produtos estes
bem cotados no mercado externo.
Pela divisão proposta, a Proclamação da República em 1889 teria
iniciado a quarta etapa, marcada pelo início da Primeira Guerra Mundial,
quando o fluxo migratório para o Brasil foi suspenso. Com o fim da guerra em 1919, começaria a quinta etapa, período de maior chegada de
alemães no país. Este incremento na imigração é atribuído pela autora à
grave crise econômica da Alemanha até 1930, e, após esta data, à ascensão do nazismo. Do início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, até a
década de 1960, desenrola-se a última etapa da divisão. Com a recuperação das nações europeias e uma crescente mentalidade nacionalista no
Brasil, o contingente de imigrantes alemães viria a sofrer redução irreversível. Estendendo sua análise às condições de vida dos imigrantes
alemães no Brasil do século XX, Joana Miranda trata dos efeitos das medidas nacionalistas tomadas por Getúlio Vargas durante o Estado Novo
(1937 – 1945). Apesar de direcionadas para toda a população brasileira,
as consequências destas medidas foram mais duras ao modo de vida dos
imigrantes, principalmente pelo contexto de guerra à época. Além de
restrições ao uso público do idioma, proibição de publicações, trocas
forçadas de nomes de estabelecimentos, “a campanha também trouxe
alguns problemas estruturais para as colônias, como o déficit de salas de
aula gerado pelo fechamento de diversas escolas étnicas” (MIRANDA,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 73
2008, p. 39). Segundo a autora, este empreendimento atingiria seu objetivo solidamente.
O cotidiano da maioria dos imigrantes alemães foi de fato alterado
pelas pressões impostas pelo governo que, em alguns casos, acabou por
interromper a transmissão das tradições às novas gerações. A autora
conta que somente por volta de 1970 o pertencimento étnico haveria de
ser revalorizado, com a volta da circulação de jornais e a retomada de
atividades culturais tradicionais.
Chegando à análise contemporânea destes laços identitários, Joana
Miranda aponta o protagonismo do turismo nas colônias como um
grande fator de preservação da cultura germânica. Ela, contudo, aponta
duas contribuições do turismo que são, de certo modo, antagônicas. Se,
por um lado, ele geraria um “resgate deste passado imigratório histórico na tentativa de criar uma identidade diferenciada e atrair mais
visitantes” (MIRANDA, 2008, p. 40), por outro ele reduziria a diversidade das e entre as culturas germânicas, isto é, a “pluralidade é trocada
pela imagem que um turista esperaria de um local ‘alemão’: casas em
enxaimel, salsichas, chucrute e cervejas, muitas cervejas” (MIRANDA,
2008, p. 41).
Algumas entrevistas realizadas pela autora em 2008 parecem sustentar a hipótese de que há uma presença mais intensa de costumes e
uso de dialetos alemães em áreas rurais do sul brasileiro. Segundo estatística publicada pelo jornal Deutsche Welle em 2004 e citada na
monografia, há mais ou menos um milhão de bilíngues na região sul do
país, distribuídos entre os diversos dialetos alemães.
74 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
5.2. Mapeamento
BrasilAlemanha
(http://www.brasilalemanha.com.br)
Figura 28 – BrasilAlemanha
O portal bilíngue BrasilAlemanha é site abrangente, de viés informativo, contendo notícias dos dois países, relacionadas aos temas de
economia, política, clima, esporte, turismo, eventos culturais etc.; além
de possuir uma rádio que é transmitida no idioma alemão. Possui seis
colunistas, que produzem matérias principalmente no idioma nativo. O
site também destaca imagens, vídeos e parcerias, além de notícias veiculadas de outros sites. O BrasilAlemanha tem como foco principal o
fortalecimento de laços entre o Brasil e não somente a Alemanha, como
também a Áustria e Suíça alemã. O responsável por este portal, de caráter mais profissional, é Sílvio Aloysio Rockenbach, jornalista, licenciado
em Filosofia, redator e locutor no jornal Deutsche Welle entre 1970 e
1983. Além do endereço virtual, possui um físico, localizado em Porto
Alegre – RS.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 75
Imigração Alemã
(http://www.tonijochem.com.br)
Figura 29 – Imigração Alemã Toni Jochem
O site Imigração Alemã – Toni Jochem, criado pelo filósofo e historiador Toni Jochem, de Santa Catarina, traz primordialmente informações
históricas sobre colônias alemãs situadas no Brasil, principalmente na
parte sul e sudeste do território brasileiro, assim como indicações de
livros que escreveu, ou que teve alguma participação. Sem intenção de
noticiar, o site não é atualizado desde março de 2010, servindo como
acervo e consulta para o tema; incluindo nesse acervo artigos, mapas e
tabelas com informações acerca dessas colônias (ano da fundação, fundador, nome da colônia e localização), como também de integrantes
familiares que foram proprietários dessas terras terras e o período em
que permaneceram em sua posse. O site ainda conta com artigos que
correlacionam eventos tradicionais às imigrações alemãs ocorridas no
passado.
76 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Imigração Alemã
(http://imigracaoalema.com/home)
Figura 30 – Imigração Alemã (K.Braum)
O site Imigração Alemã é mantido por Felipe Kuhn Braun, de Novo
Hamburgo-RS, escritor graduado em Jornalismo e Mestrando em História, além de ser diretor de Genealogia do Museu Histórico Visconde de
São Leopoldo. Nesse site, é possível encontrar resenhas, artigos, históricos, entrevistas, reportagens e indicações de livros sobre a imigração
germânica, assim como um grande acervo fotográfico e documental sobre seus descendentes e sua disseminação pelo sul do Brasil. Há, ainda,
um setor dedicado ao estudo genealógico.
Associação Pró-Memória da Imigração Germânica
(http://www.amigbrasil.org.br)
Figura 31 – Assoc. Pró-Memória da Imigr. Germânica
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 77
O portal Associação Pró-Memória da Imigração Germânica é a página
oficial da Associação, uma organização sem fins lucrativos composta de
pessoas que se oferecem para desempenhar suas funções executivas, sem
qualquer pagamento de compensação, cujo intuito é a preservação da memória histórica, social e cultural dos povos de origem germânica ou que
tenham relação afetiva, linguística, geográfica, étnica ou diletante com os
mesmos. A proposta é o registro, documentação, acesso e disseminação de
acervos históricos como fotografias e livros. A maioria dos contribuintes
para o site reside no Sul do Brasil. O site ainda conta com a tradução para
mais duas línguas além do português brasileiro (o inglês e o alemão).
Associação Família Emmerich
(http://emmerich-afe.org)
Figura 32 – Associação Família Emmerich
O site Associação Família Emmerich tem como finalidade integrar a
família Emmerich e parentes próximos em qualquer região onde se encontrem, assim como promover pesquisas genealógicas e realizar
encontros de confraternização. A associação foi instituída em janeiro de
2000. No site é possível encontrar fotos dos encontros assim como histórias e documentos da imigração. O site ainda conta com artigos
referentes à origem e à história da Família, seja com os costumes ou as
78 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
personalidades importantes pertencentes a dela. Todo o site funciona
como um sítio informativo e para arquivo.
Genealogia da Família Eller
(http://www.familiaeller.com.br)
Figura 33 – Genealogia da Família Eller
O site Genealogia da Família Eller traz informações históricas, árvores
genealógicas e fotos da família originalmente alemã, colona em Nova Friburgo/RJ. A página está disponível desde maio de 1999, no entanto,
encontra-se desatualizada desde julho de 2011. Podemos encontrar ainda
uma parte dedicada à venda de livros e objetos da cultura germânica (indisponível atualmente), assim como o brasão e a história da Família Eller.
A Saga de Jakob Melges
(http://www.familiamelges.com.br)
Figura 34 – A Saga de Jakob Melges
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 79
O portal A Saga de Jakob Melges apresenta artigos, informações históricas e árvores genealógicas sobre a imigração da família Melges da
Alemanha para o Brasil. A página disponibiliza área para contato, a fim
de trocar informações, além de possibilitar conhecer os autores desse
projeto. O site, aparentemente, é dedicado para os familiares. O portal
também disponibiliza uma área. destinada a formulários que auxiliam na
catalogação da árvore genealógica e dos descendentes da família de Jakob
Melges.
Rodrigo Trespach
(http://www.rodrigotrespach.com/category/imigracao-alema)
Figura 35 – Rodrigo Trespach
No site Rodrigo Trespach, que leva o nome do dono, há o link Imigração Alemã, que conduz a notícias recentemente atualizadas
relacionadas à imigração alemã no Brasil, principalmente à comunidade
desse povo, com notícias globais. A página ainda conta com informações
genealógicas, culturais e científicas. Rodrigo tem colaborado principalmente com artigos para os jornais Deutsche Zeitung, de São Paulo, e Zero
Hora, de Porto Alegre, entre outros. O site é um dos mais atualizados
dentre todos os analisados ao longo deste trabalho.
80 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Rádio Germânica
(http://radiogermanica.com)
Figura 36 – Rádio Germânica
O site Rádio Germânica possibilita ouvir músicas tradicionais alemãs, além de conter vídeos que apresentam ex-colônias alemães em
pauta. Outro destaque é que possui bastante publicidade voltada para
cursos extracurriculares, graduações e oportunidades de emprego, sem
qualquer ligação direta com a comunidade germânica. Apresenta, também, matérias voltadas para oportunidades de emprego na Alemanha,
notícias sobre as embaixadas e sobre as festividades típicas do povo germano, principalmente eventos que acontecem na parte sul/sudeste do
Brasil.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 81
Alemães nas Américas
(http://alemaesnasamericas.blogspot.com.br)
Figura 37 – Alemães nas Américas
O blog Alemães nas Américas divulga estudos e notícias relacionados à imigração alemã. A última postagem é de junho de 2012, e há
poucas informações sobre o autor. A página divulga arquivos originais e
que faziam parte do passado de algum personagem germânico. A maioria
dos arquivos postados é de cunho informativo, com fundamentação histórica, poucas fotos ou vídeos. É possível, ainda, encontrar postagens de
acordo com citações de famílias previamente marcadas.
82 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Memória do Povo Alemão
(http://memoriadopovoalemao.blogspot.com.br)
Figura 38 – Memórida do Povo Alemão
O blog Memória do Povo Alemão foi criado para divulgação da história da Imigração alemã no Sul do Brasil. Nele, há reportagens, artigos em
português e alemão, históricos, documentos, assinaturas e fotografias
antigas, disponibilizadas graças o trabalho do jornalista e escritor Felipe
Kuhn Braun. A maioria das matérias insere fotos históricas e/ou desenhos que são registros de uma família ou de um lugar, com pequenos
artigos que desenvolvem a história ao redor de tal imagem – se não,
apenas imagens e uma pequena descrição no título (qual família, ano,
local), que podem ser facilmente acessadas na aba direita ao lado.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 83
Comunidade Alemã do Bairro Friburgo
(http://comunidadealemabairrofriburgo.blogspot.com.br)
Figura 39 – Comunidade Alemã do Bairro Friburgo
O blog Comunidade Alemã do Bairro Friburgo tem suas atividades
centradas na Igreja luterana, divulgando atividades e encontros – a igreja
se localiza em Campinas, São Paulo. O blog ainda publica fotos dos encontros, informativos sobre próximos os eventos, programações e um
mapa de como chegar à Sociedade Alemã do Bairro de Friburgo, Campinas/SP. No entanto, o blog é basicamente voltado para promover,
divulgar e catalogar esses encontros.
84 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Família Heringer
(http://afamheringer.blogspot.com.br)
Figura 40 – Família Heringer
Família Heringer é o blog dedicado a compartilhar e identificar as
histórias da família descendente de alemães, Heringer. A página é mantida por duas componentes da família, com fotos de encontros e matérias
relacionadas à cultura alemã. O blog ainda integra outras redes sociais,
como o Twitter e o antigo Orkut. Além disso, mantém ainda outro site,
no qual é possível cadastrar outros Heringer em um banco de dados
destinado a catalogar os descendentes dessa Família.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 85
Imigração Alemã no Brasil
(https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/imigracaoalema/info?yguid=
188086789)
Figura 41 – Imigração Alemã no Brasil - Fórum
Organizado em tópicos, o intuito do fórum Imigração Alemã no Brasil é circular comentários, sugestões, indicações bibliográficas, informar
sobre lançamento de livros e/ou pedidos de ajuda sobre a história da
imigração alemã para o Brasil. Foi fundado no dia 11 de agosto de 2004, e
hoje conta com aproximadamente 2234 participantes. É moderado pelo
historiador Toni Jochem.
86 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Pomeroder Zeitung
(https://www.facebook.com/pomeroder.zeitung?fref=ts)
Figura 42 – Pomeroder Zeitung
O Pomeroder Zeitung, de Pomerode, Santa Catarina, é um jornal
presente no Facebook, com notícias principalmente da cidade, atualizadas
e acompanhadas de imagens. A página traz eventos culturais da cidade,
questões públicas sobre a mesma e vários posts acerca da festa mais
famosa deles – a Festa Pomerana. Além disso, publica esporadicamente
conteúdo da rádio da cidade, além de tratar de temas variados, como a
segurança pública.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 87
Die Zeitung
(http://institucional.adjorisc.com.br/jornais/10/die-zeitung)
Figura 43 – Die Zeitung
De Blumenau, Santa Catarina, o jornal Die Zeitung tem 15 anos de
existência e é distribuído gratuitamente, sendo um dos mais antigos da
cidade. O site traz, principalmente, informações técnicas acerca do jornal
(como o número de tiragens e tabelas de preços para possíveis anúncios
publicitários veiculados em suas páginas). Informa sobre seu compromisso em abranger o grande público e estar voltado para notícias em
formato de tabloides.
88 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Imigração Alemã no Brasil
(https://www.facebook.com/ImigracaoAlemaNoBrasil?fref=ts)
Figura 44 – Imigração Alemã no Brasil
A página do Facebook intitulada Imigração Alemã no Brasil foca em
relações culturais e históricas entre Brasil e Alemanha. Traz para o público notícias relacionadas aos dois países, como conflitos religiosos,
questões econômicas, culturais e sociais, além de publicar vídeos de cunho educativo acerca da história da Alemanha e de seus símbolos
máximos (a bandeira e o hino nacional).
Deutsche in Brasilien
(https://www.facebook.com/groups/1408388342740078)
Figura 45 – Deutsche in Brasillien
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 89
A Deutsche in Brasilien é uma página no Facebook voltada para
alemães recentemente imigrados. Por ser fechado, não foi possível fazer
uma análise detalhada do conteúdo, uma vez que eles não aceitaram
nosso pedido para entrar como membro.
Schweizer, Deutsche und Österreicher in Brasilien
(https://www.facebook.com/groups/537170859676023/?fref=ts)
Figura 46 – Schweizer, Deutsche und Österreicher
A página do Facebook Schweizer, Deutsche und Österreicher in Brasilien é não é voltada apenas aos imigrantes alemães no Brasil, mas
também tem como público-alvo austríacos e suíços. Por ser um grupo
fechado, não foi possível fazer uma análise do conteúdo detalhada, uma
vez que os administradores não aceitaram nosso pedido para entrar
como membro.
90 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Descendentes de Alemães
(https://www.facebook.com/groups/descendentesdealemaes/?fref=ts)
Figura 47 – Descendentes de Alemães
Descendentes de Alemães é uma página do Facebook voltada à pesquisa história sobre a temática da imigração alemã para o Brasil. Por ser
fechado, não foi possível fazer uma análise detalhada do conteúdo, uma
vez que eles não aceitaram nosso pedido para entrar como membro.
Sociedade Cultural Alemã de Joinville
(https://www.facebook.com/pages/Sociedade-Cultural-Alem%C3%A3de-JoinvilleSCAJ/220298504761403?fref=ts)
Figura 48 – SCAJ
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 91
Sociedade Cultural Alemã de Joinville é uma associação fundada em
Joinville, Santa Catarina, em 1999, cujo objetivo é contribuir para o resgate da cultura germânica. Além disso, a página republica notícias
inerentes à comunidade, assim como fotos de encontros, cursos online
sobre a língua alemã, personalidades imigrantes de destaque dessa
comunidade e eventos culturais e/ou encontros
e lugares da parte Sul do Brasil que mantêm alguma tradição germânica, que tenha algum fator participativo de tal cultura.
5.3. Análise
As sete páginas analisadas 1 totalizaram 154 textos, que foram aplicados ao protocolo de pesquisa. Desse total, o assunto que mais se
repetiu ficou na categoria “Consumo e produção cultural” de análise, com
42 postagens. Em seguida, vêm a categoria “Famílias e relações transnacionais”, com 41 postagens, e a categoria “Outros” (39). Outros assuntos
foram recorrentes, no entanto, apareceram poucas vezes. É o caso das
categorias: “Companhia e ócio” (19 postagens), “Projeto de migração”,
com 7 postagens, e “Aprendizado do idioma” (6 postagens). As demais
categorias não foram contempladas.
A página do Facebook Imigração Alemã no Brasil pode ser considerada menos interativa que expositiva ao apresentar majoritariamente
informações culturais, como grupos de folclore, receitas e pinturas tipicamente alemãs. Assim, a relevância, além da difusão de conhecimentos,
é o acompanhamento da presença cultural germânica em movimentos e
instituições.
Também no Facebook, Deutsche in Brasilien tem, contudo, muito
mais interações entre seus participantes – que se comunicam principalmente em alemão –, interessados em informações sobre suas próprias
1
Rodrigo Trespach, Comunidade Alemã do Bairro Friburgo, Imigração Alemã no Brasil – Fórum, Pomeroder
Zeitung, Imigração Alemã no Brasil, Deutsche in Brasilien e Sociedade Cultural Alemã de Joinville.
92 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
condições de imigração. É interessante notar que mesmo que haja muitos
brasileiros na comunidade, o interesse histórico muito presente em outros grupos não se verifica nesta página. Entre os assuntos, dominam os
relacionados a empregos, idioma e companhia.
A Sociedade Cultural Alemã de Joinville, também com página no Facebook, tem os vínculos da tradição alemã associados a shows musicais,
especialmente de jazz.
O fórum de discussão Imigração Alemã no Brasil é a mais movimentada comunidade analisada. Quase totalmente voltado à pesquisa
genealógica tanto de parentes quanto de outras famílias, incluindo pesquisadores de diversas nacionalidades. A grande movimentação do site
parece estabelecer alguns contatos mais informais entre membros, que
acabam formando uma malha homogênea de pessoas buscando informações sobre imigrantes alemães e fatos históricos relacionados. Isto cria
certo peso político a esta comunidade, que pode articular-se em avaliar as
condições de pesquisa sobre o assunto.
O blog Comunidade Alemã do Bairro Friburgo trata essencialmente
da questão religiosa, especificamente a luterana. Convites e divulgações
são publicados, dando uma função de cordialidade e agregamento local
entre os associados identificados com a cultura alemã.
O jornal Pomeroder Zeitung, analisado a partir de sua página no Facebook, mescla informações culturais diversas com notícias políticas. O
foco não é exclusivamente voltado à cultura alemã, conquanto esta esteja
marcada em certos eventos, como por exemplo a Páscoa. A movimentação de acontecimentos da cidade – caracteristicamente alemã – é o
principal eixo central do jornal.
Finalmente, o site de Rodrigo Trespach traz com grande frequência
notícias culturais exclusivamente alemãs, sejam históricas (sobre vinda
dos imigrantes) ou atuais (exposições em museus e universidades). O
próprio autor inclui suas publicações no site, conduzido jornalisticamente
e abrangendo diversas regiões do país.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 93
5.4. Considerações finais
A partir desses levantamentos, é possível constatar duas vertentes
no uso das mídias de internet relacionadas à imigração de alemães no
Brasil. Uma primeira, representada por pesquisadores informais ou cientistas profissionais em busca de informações históricas e genealógicas de
famílias e eventos da Alemanha, em que há desde a troca de documentos
e identificação de parentes longínquos até a confirmação de fatos históricos na Alemanha nazista. Nesse sentido, pode-se ainda localizar
descendentes de imigrantes alemães que se interessam pela cultura típica
disponibilizada, da arquitetônica à gastronômica. Em um segundo aspecto, encontram-se, não descendentes ou pesquisadores, mas sim pessoas
que imigraram ou pretendem imigrar da Alemanha para o Brasil. Como
é relativamente fácil encontrar informações sobre a Alemanha em portais
renomados de instituições como o Instituto Goethe ou empresas de comunicação como a Deutsche Welle, o principal canal utilizado, Facebook,
serve para trocar informações relativas à estabilidade econômica e afetiva
do imigrante. Ou seja, predomina o uso com fins de veicular possibilidades de emprego e dicas para lazer.
É interessante associar esse primeiro segmento identificado com o
que Stuart Hall analisa em A identidade cultural na pós-modernidade,
entendendo que as mudanças estruturais globalizantes ocorridas nas
sociedades ocidentais do final do século XXI, não obstante terem fragmentado a antes centralizada identidade dos indivíduos (HALL, 1992, p.
12), levaram a um fortalecimento das identidades locais e até mesmo à
produção de novas identidades (HALL, 1992, p. 78). Dessa maneira, verifica-se neste trabalho uma notável intensidade de interesse na cultura e
nas raízes alemãs, e não uma simples dissolução destas.
Quanto ao segmento dos atuais imigrantes, podemos dizer que existe “uma multiplicidade de identificações, vínculos e cruzamentos
culturais e não apenas a polarização entre identidades nacionais homogêneas dos países de origem e de migração” (COGO, 2012, p. 47). Se se
94 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
pretendesse traçar uma categoria de imigrantes alemães que utilizam a
rede, esta deveria ser ampla a ponto de acomodar estudantes à procura
de indicações de atrações, e empresários sondando possibilidades de
transações.
Assim, uma dupla função da Webdiáspora deve ser compreendida
através deste estudo, quais sejam, a de mobilização e a de vínculo. Em
outras palavras, a possibilidade de troca de informações atualizadas e, no
limite, políticas, e a preservação da cultural tradicional original do imigrante.
6
Webdiáspora Italiana
6.1. Contexto histórico da imigração
Entre 1870 e 1970, 26 milhões de italianos emigraram. Desse grandioso número, boa parte voltou para seu país de origem. No entanto, de 7
a 8 milhões de pessoas não retornaram. O final do século XIX e o início
do século XX representaram o período áureo da imigração italiana para a
América, época conhecida pelos massivos fluxos imigratórios em toda a
Europa e na qual chegaram no Brasil mais de um milhão de imigrantes
italianos. Eis que os italianos representaram um grupo bastante peculiar
aqui no país, promovendo a italianidade brasileira.
O Segundo Reinado representou um período de contenção das revoltas provinciais que assolavam o império até então. Campanhas
militares sob a responsabilidade de Duque de Caxias no governo de Dom
Pedro II permitiram o país tivesse relativa estabilidade política. A crise do
império brasileiro, convencionalmente, dá-se por volta de 1870, quando
já se apontava para uma década política e economicamente turbulenta na
história do Brasil. O país, até então agrário e de mão de obra predominantemente escrava e negra, passou a sofrer pressões internacionais da
Inglaterra – até a década de 1888, quando a escravidão foi, em trâmites
legais, abolida pela Princesa Isabel – para acabar com esse tipo de trabalho. Iniciou-se, então, uma política de substituição da mão de obra
escrava e, juntamente com o ideal de branqueamento da população, os
dois foram fatores para impulsionar o incentivo aos fluxos migratórios
europeus em direção ao Brasil.
96 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
O Império Brasileiro entrou em crise devido às questões escravocrata, religiosa e militar, o último sendo o grupo do qual surgiu o
movimento que proclamaria a República, em 1889. E foi justamente na
República Velha que os italianos se tornaram o grupo de maior quantidade de imigrantes a se deslocar para o Brasil. Com a primeira grande
guerra, o Brasil sofreu um surto de industrialização, visto que as importações reduziram em quantidade. Isso favoreceu ainda mais o uso de mão
de obra imigrante.
Concomitantemente ao período de crise do Segundo Reinado havia,
na Europa, uma Itália assolada pelas lutas de unificação do país. Assim, a
população rural e pobre não conseguia conviver com suas pequenas propriedades, e a população que se deslocava para as cidades em busca de
trabalho não obtinha subsídios suficientes. Além disso, como é possível
observar no livro Os Italianos, de João Fábio Bertonha, o italiano é culturalmente peculiar: naturalizou-se a ideia de que o processo de migrar
para trabalhar ou, em alguns casos, estudar, era um processo necessário
na vida de qualquer italiano. Aliando-se essa questão da cultura a problemas locais como fome e pobreza, é possível entender os motivos que
levaram o governo italiano a estimular a emigração como solução de
sobrevivência. Através da imigração subvencionada, milhares de famílias
tinham financiados os gastos com transporte e moradia, daí o uso do
imigrante como mão de obra assalariada. Assim, foram promovidos os
fluxos imigratórios da Itália para o Brasil. Posteriormente a 1920, os
fluxos tornaram-se cada vez menores e, hoje, os italianos que vêm para o
Brasil representam um tipo de imigração na qual não há, necessariamente, uma fixação no território.
O IBGE estima que, durante a grande corrente migratória, cerca de
46% dos imigrantes que aqui chegaram eram italianos, o que corresponderia a cerca de 1,4 milhões do total de 3,3 milhões de imigrantes que
vieram para o Brasil. Diferentemente do que se pensa, os italianos que
vinham para cá não se destinavam apenas às lavouras ou ao campo:
muitos imigrantes iam para colônias de povoamento ou traziam suas
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 97
economias para o Brasil, de modo a terem dinheiro suficiente para conseguirem comprar pequenas propriedades. Além disso, a proximidade
com a língua e a religião predominantes no Brasil teria feito com que o
italiano, além de corresponder ao requisito de branquear a população,
fosse facilmente assimilável. Os italianos passaram a ser vistos como um
povo de trabalhadores caracteristicamente fortes e produtivos.
Ainda que fluxos de italianos tenham vindo de toda a Europa, a
maior parte dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil vieram das
regiões de Vêneto, Lombardia, Câmpania e Calábria. Foi nas regiões Sul e
Sudeste que a maior parte dos imigrantes se dirigiu quando chegou ao
país. As cidades que mais receberam italianos foram São Paulo e Rio de
Janeiro. Enquanto na primeira chegaram a construir o rótulo de “cidade
italiana” com cerca de 90% dos 50 mil funcionários empregados nas
fábricas brasileiras pertencentes à esta nacionalidade, na segunda dividiam espaço com portugueses, espanhóis e brasileiros. No que tange às
cidades, a questão das moradias era bastante complicada e fazia com que
fosse crescente o surgimento de cortiços em determinados bairros étnicos, como Brás e Bixiga, em São Paulo.
Politicamente, os italianos que aqui chegavam eram bastante ativos.
Resquícios das inseguranças do cenário político europeu e a revolta com
as condições de trabalho faziam com que italianos constantemente participassem de grupos grevistas. Além disso, muitos estavam ligados a
lideranças, associações operárias, ligas e sindicatos, majoritariamente de
orientações socialistas ou anarquistas.
A identificação italiana, o orgulho de ser italiano ou a italianidade,
foi um processo que ressignificou a cultura dos italianos em terras brasileiras, para além das influências do fascismo de Mussolini, pelo
entendimento do que caracterizava a Itália e os indivíduos oriundos do
país. Assim, sempre fiéis à sua nacionalidade, produzindo e consumindo
cultura, os italianos foram responsáveis por construir o Brasil como um
país de cultura intrinsecamente ligada às questões imigratórias. A questão da religiosidade e a ligação dos italianos com o catolicismo, por
98 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
exemplo, influenciaram muito e têm papel fundamental no que temos
como Brasil católico nos dias de hoje. Além disso, é impossível pensar a
cultura gastronômica brasileira sem considerar a cultura de massas,
molhos e vinhos dos italianos. Os italianos, sempre mantendo vínculos
informativos fortes com a Itália, também influenciaram a arte brasileira
com as mudanças europeias proporcionadas pelo resorgimento.
O site migramundo.com estima que, hoje, 30 milhões de brasileiros
sejam oriundi ou ítalo-descendentes. Em termos de fluxos imigratórios, o
número de imigrantes italianos que chegam ao Brasil é muito inferior ao
número de ítalo-descendentes que partem daqui para a Itália. Daí o
grande interesse dos brasileiros na dupla cidadania. Os italianos correspondem ao segundo maior grupo de imigrantes que veio para o Brasil,
estando atrás apenas de Portugal.
6.2. Mapeamento
Portal Itália Brasil
(http://portalitalia.com.br/)
Figura 49 – Portal Itália
O Portal Itália Brasil traz um rico conteúdo para os imigrantes italianos que vieram para o Brasil, independentemente da época. O
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 99
interessante é que se trata de um portal que não se limita apenas à
transmissão de notícias sobre a Itália ou à documentação que envolve a
obtenção da cidadania italiana, tão procurada ultimamente. Traz, também, dados culturais acerca da ideia da comunidade, envolvendo
informações como a história da imigração italiana e a genealogia de famílias, até associações e instituições ligadas às questões de imigração,
passando por assuntos como vestuário, esportes, artes, artesanato, shoppings e restaurantes. A página apresenta divisões e subdivisões bastante
informativas, porém com layout pouco claro.
Oriundi
(http://www.oriundi.net/site/oriundi.php e https://www.facebook.com/
pages/ORIUNDINET/136162189729037?ref=ts)
Figura 50 – Oriundi
O site Oriundi.net se propõe a fazer jornalismo para indivíduos oriundos da Itália que moram no Brasil. A página não se limita apenas à
transmissão de notícias sobre os naturais italianos. Tornou-se um portal
de distribuição de notícias sobre e para a Itália. O conteúdo é veiculado
tanto em português quanto em italiano. No entanto, a predominância do
idioma estrangeiro dificulta o uso por parte de quem não tenha conhecimento da língua. A página no Facebook universaliza mais seu conteúdo,
100 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
visto que a maior parte das postagens é em língua portuguesa. O site e
página são bastante interativos, e têm muitas visualizações.
Insieme – A revista italiana daqui
(http://www.insieme.com.br/)
Figura 51 – Insieme
O site Insieme – A revista italiana daqui traz conteúdo sobre a Itália,
sobre a comunidade ítalo-brasileira e sobre os processos de fluxos migratórios, formação cultural e de cidadania jurídica. É disponibilizado na
página um conteúdo bastante variado e bastante informativo, principalmente para aqueles que têm algum projeto de migração ou que possuem
vínculos fortes com a Itália, oriundos ou descendentes. É bastante informativo, interativo, organizado e dá a possibilidade de uma assinatura da
revista impressa.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 101
Imigração Italina no Brasil
(http://imigracaoitalinanobrasil.blogspot.com.br/)
Figura 52 – Imigração Italina no Brasil
O blog da descendente de italianos Marcela Cocco, intitulado Imigração Italina no Brasil, trata da imigração em seu viés cultural. Há um
especial interesse na região da Sardenha, área de proveniência da família
da autora. A página possui design simples, com o conteúdo dividido em
sessões. Há listagem em ordem alfabética dos nomes dos migrantes com
detalhes do ano da chegada ao Brasil, dos navios e os estados de destino.
Além disso, há uma sessão em construção que estuda os sobrenomes
italianos analisando não só região de origem como, em alguns casos,
significado do nome. Os imigrantes têm perfil traçado através de dados
como estado civil, cidade de origem, idade e cidade de destino. Há fotografias e o relato pessoal da jornada dos tataravôs da autora, da
Sardenha até a atual cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
102 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Portal da Família Strapazzon
(http://www.portalstrapazzon.cgst.com.br/)
Figura 53 – Família Strapazzon
O Portal da Família Strapazzon tem como objetivo unir a linhagem
de descendentes dessa família de italianos migrantes no Brasil, para
promover encontros familiares. Além disso, oferece informações a respeito da família, com uma lista detalhada dos imigrantes e dos seus
respectivos descendentes, alguns contando com data de nascimento, local
de proveniência e história dos antepassados, estudo da origem do nome
da família e da história do brasão. Contém, ainda, informações gerais a
respeito da imigração italiana para o Brasil, como por exemplo listas de
navios e uma grande seleção de links para sites de outras famílias. O site
é particularmente interessante ao disponibilizar diversas histórias de
vida de migrantes e seus motivos para mudarem de país. Alguns sociais,
como a dificuldade de manutenção da vida na Itália da época, e outros
particulares, como brigas e tragédias familiares, o que também constitui
um relato histórico que, de certa forma, nos aproxima da realidade da
época.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 103
Itália Amiga
(http://www.italiamiga.com.br/)
Figura 54 – Itália Amiga
O site Itália Amiga é bastante desorganizado no que tange ao seu layout e ao seu potencial de interatividade. A disposição das notícias, sobre
a Itália e sobre acontecimentos que giram em torno da relação ItáliaBrasil, é confusa e atrapalha na visualização do que é veiculado. O que
permite uma maior organização é o fato de haver uma barra superior
com uma divisão por temas e subtemas. As cores da página são contrastantes demais e acabam por ofuscar a visão do visitante.
104 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Comunità Italiana
(http://www.comunitaitaliana.com/site/ e https://www.facebook.com/
comunitaitalianapage)
Figura 55 – Comunità Italiana
O site Comunità Italiana é a página virtual da famosa revista feita
para a comunidade italo-brasileira. O conteúdo disponível é veiculado
tanto em italiano quanto em português, o que dificulta no entendimento
das postagens daquele que é leigo no idioma. O site é bem organizado,
bem interativo e traz as notícias das edições mensais da revista, que também é veiculada impressa, de forma bem dinâmica. A página no
Facebook é atualizada com bastante frequência e traz um conteúdo bastante variado e mais descontraído do que o site, além das últimas edições
e da comunicação entre site oficial e fanpage.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 105
Família Briatore
(http://familiabriatore.blogspot.com.br/)
Figura 56 – Família Briatore
A página virtual Família Briatore, de Geucimar Briatore, é pertencente à quarta geração da família no Brasil e tem como objetivo reunir
informações a respeito da origem dos Briatore, desde o sobrenome até a
árvore genealógica. Possui relativamente poucas publicações, mas ainda
assim contém conteúdo relevante, de caráter histórico e atual. O blog traz
o interessante relato de imigração dos primeiros membros da família que
deixaram a Itália, delineando o momento histórico pelo qual o país passava. Também há outras informações, como por exemplo a primeira lei
de incentivo à imigração do Estado do Paraná, na íntegra, e o contrato
entre Brasil e Itália, que regularizou as relações de emigração/imigração.
106 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Família Perini
(http://www.familiaperini.com.br/)
Figura 57 – Família Perini
O site Família Perini, sem informações a respeito da autoria, tem
como objetivo formar uma rede de comunicação entre os familiares, para
realizar encontros. Diferentemente dos demais site deste tipo, neste endereço o fórum é o foco, sendo possível se cadastrar para publicar
conteúdo e cadastrar sua família. A página possui algumas informações
incompletas ou vagas, como a aba “Perini nel Mondo”, que cita outros
locais onde é possível encontrar membros dessa família. Além de informações específicas, o site também disponibiliza conteúdo a respeito da
cultura italiana, como músicas e informações turísticas sobre locais usualmente visitados do país. O site também possui conteúdo em italiano,
além do português.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 107
Circolo Sardo de Minas Gerais
(http://www.circolosardomg.com.br/)
Figura 58 – Circolo Sardo de Minas Gerais
O site Circolo Sardo de Minas Gerais é a página virtual de uma associação de descendentes de migrantes oriundos da ilha de Sardenha. Seus
conteúdos são voltados à organização de encontros e à manutenção da
cultura italiana no Brasil. A página também concentra informações diversas, em português e italiano, como histórias de vida de famílias, os
motivos da sua emigração e o percurso até a cidade de destino final. São
publicadas fotos de locais turísticos da ilha de Sardenha e informações
gerais a respeito da geografia, da cultura e dos costumes locais. É disponibilizada, na página, uma lista de sobrenomes sardenhos. O site também
traz um ótimo relato histórico a respeito dos italianos na ilha. A sessão de
links do site é particularmente interessante, uma vez que é possível encontrar desde links para dicionários online, sites sardenhos e outros com
conteúdo a respeito da imigração.
108 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Família Fantini
(http://www.familiafantini.com.br/capa.asp)
Figura 59 – Família Fantini
O site Família Fantini, de interface interativa e de fácil acesso, foi
criado para reunir informações a respeito da história dessa família de
descendentes de imigrantes italianos. A página contém o histórico da
família na Itália e no Brasil apresentando relatos que narram os motivos
que levaram à imigração dessas pessoas. O site também tem informações
relevantes a respeito do processo de obtenção de cidadania italiana. Além
disso, há informações gerais a respeito da Itália, com sessões sobre cultura, gastronomia, esporte e outras características culturais e sociais do
país. A sessão “Comacchio”, que trata da cidade de origem dos antepassados da família, é particularmente interessante, visto que publica belas
fotos e curiosidades sobre a Itália. Há, também, uma sessão à parte, que
se dedica a contar a história da genealogia dos sobrenomes italianos
desde a época do Império Romano.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 109
Blog do Ale – Itália
(http://blogdoaleitalia.blogspot.com.br/)
Figura 60 – Blog do Ale - Itália
O Blog do Ale – Itália foi criado por Alexandre Larena, também fundador do grupo Ale’Itália. Hoje é coordenada por Leila Ossola, professora
e pesquisadora em genealogia, a página traz postagens diversas e divisão
variada: arte, esporte, gastronomia, questões judiciais, notícias, fotos,
histórias de famílias, links úteis, música, língua, literatura e fatos históricos. Tanto há conteúdo em italiano quanto em português. Há cobertura
de eventos e festas feitas por e para imigrantes, assim como de festas
organizadas na própria Itália. A página divide seu conteúdo por mês de
postagem. Além disso, por se tratar de um site vinculado ao grupo
Ale’Italia, especializado em genealogia, há a propaganda do fornecedor de
serviços.
110 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Famiglia Chiaramonte
(http://famigliachiaramonte.wordpress.com/)
Figura 61 – Família Chiaramonte
O site Famiglia Chiaramonte é voltado à produção de conteúdo relacionado à família de imigrantes Chiaramonte, além de se tratar de uma
página onde o encontro familiar do grupo é organizado. A página possui
dados históricos da linhagem e uma fototeca. Além disso, o endereço
eletrônico disponibiliza documentos e a lista de vapores que trouxeram a
família para o Brasil. Para os usuários interessados em se informar acerca dos Chiaramonte, a própria família disponibiliza seu contato.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 111
Sardegna Terramía
(http://sardegnaterramia.wordpress.com/)
Figura 62 – Sardegna Terramía
O site Sardegna Terramía é de autoria de Lucinha Dettori, sarda de
origem. A página traz conteúdo relacionado à Sardenha e aos imigrantes
provenientes dessa ilha. A maior parte do material disponibilizado são
artigos, em português e em italiano, de caráter informativo acerca de
questões culturais enaltecedoras da região italiana. A página tem a intenção de exaltar a cultura sarda em suas especificidades dentro da cultura
italiana. O design não oferece interatividade e não possibilita uma leitura
clara do conteúdo disponibilizado, por conta do site utilizar cores muito
saturadas.
112 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Família Pierdoná
(http://familiapierdona.blogspot.com.br/)
Figura 63 – Família Pierdoná
O blog Família Pierdoná é de autoria de Cristyan Pierdoná. O layout
simples e de cores delicadas permite que o leitor encontre bastante conteúdo espalhado pela página. O blog é apresentado como colaborativo e
abre espaço para que seus leitores participem da produção de conteúdo,
tendo em vista que ele é focado na linhagem dos Pierdoná. Há postagens
sobre a imigração italiana em seu campo mais genérico. Há, também,
narrativas da família e de eventos específicos que ocorreram nesse grupo. O blog disponibiliza vídeos informativos sobre a família e também
uma lista genealógica com nome dos imigrantes Pierdoná que chegaram
no Brasil.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 113
Família Guadagnin
(http://familviaguadagnin.com.br/)
Figura 64 – Família Guadagnin
O site Família Guadagnin apresenta um bonito e bastante chamativo layout. A família Guadagnin é responsável pela manutenção do
endereço virtual que funciona como um mediador dos encontros nacionais dos Guadagnin pelo Brasil. A página possibilita o acesso aos dados
históricos da chegada da família ao Brasil, além de possibilitar o contato
do leitor com os administradores da página, para a produção de conteúdo colaborativo. Há o ideal de formação de um grupo de origens comum,
e a exaltação do ideal de italianidade. Disponibilizam-se orientações para
aqueles que se interessam pela dupla cidadania e pelas questões das leis,
tanto brasileiras quanto italianas. O site denota a existência de um Conselho formado apenas por Guadagnins, que organizaria e coordenaria
todas as questões relacionadas à família.
114 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Familia Baldissera
(http://www.familiabaldissera.com.br)
Figura 65 – Família Baldissera
O site Família Baldissera é administrado pela própria família Baldissera e fundamenta-se na pesquisa iniciada por Rafael Baldisserra acerca
da imigração dessa família para o Brasil. A página possui um design bastante chamativo e dinâmico, oferecendo uma biblioteca de documentos e
imagens não apenas sobre a família, mas também sobre a questão da
imigração (vapores e imigrantes direcionados para regiões mapeadas no
território brasileiro). É curioso como o autor do conteúdo organiza as
narrativas, de modo a contar a história e a trazer os antepassados como
personagens ativos na consolidação da cultura italiana em colônias brasileiras, exaltando a importância da mão de obra do grupo na construção
do país.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 115
Caminhos da Itália
(http://www.caminhosdaitalia.com.br/)
Figura 67 – Caminhos da Itália
O site Caminhos da Itália foi criado em junho de 2011 por Mariluci
Friia, que faz pesquisas genealógicas há 12 anos. A descendente de italianos passou a ter um interesse maior na língua, na cultura e na história
da Itália e dos imigrantes, e isso fez despertar nela a vontade de criar um
portal que interligasse brasileiros e italianos. O Caminhos da Itália é uma
página bastante completa, que envolve tanto questões culturais como
gastronomia, danças, música e peculiaridades regionais, quanto questões
sociopolíticas, como busca por genealogia, navios que vieram até o Brasil,
listagem de imigrantes que aqui chegaram, métodos para a obtenção da
cidadania italiana e locais de trabalho na Itália para aqueles que saem
daqui. Há, no site, um mapeamento bem definido, dividido por regiões.
As postagens não são datadas.
116 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Itália Na Alma
(https://www.facebook.com/pages/It%C3%A1lia-Na-Alma/7039341896
32557)
Figura 68 – Itália Na Alma
A página Itália Na Alma foi criada no final de outubro de 2013 e hoje
(2014) tem 370 curtidas. O grupo de maior interação é o de jovens de 15
a 24 anos. A página possui um conteúdo voltado para a apresentação de
curiosidades sobre a Itália. Apresenta invenções italianas e produtos
personalizados. Há, nas postagens, relatos de viajantes que foram para a
Itália e de imigrantes que vieram de lá. Retratam-se cenas de de brasileiros morando na Itália e de italianos morando no Brasil. Trata-se de um
conteúdo mais próximo da transmissão de notícias pelos e para os próprios imigrantes. Assim como o fluxo de fotos, há um intenso número de
postagens de vídeos musicais. Há apresentação de conteúdo para aprendizado de italiano (escolas de língua) e a cobertura de alguns pequenos
eventos no país.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 117
Imigrantes Italianos no Brasil
(https://www.facebook.com/ImigrantesItalianosNoBrasil)
Figura 69 – Imigrantes Italianos no Brasil
A página do Facebook Imigrantes Italianos no Brasil, fundada em 15
de outubro de 2012, foi criada por Gilmar Bergamin, descendente de
italianos e residente no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma ferramenta
para que descendentes busquem suas origens contratando o dono da
página para pesquisas em árvores genealógicas. Analisando-se as postagens, nota-se uma tentativa saudosista de retratar a Itália com belas
paisagens de regiões específicas do território italiano. É a maneira que
Gilmar encontrou para fazer com que as pessoas contratem seus serviços. Além disso, apesar de uma quantidade reduzida, a página apresenta
propagandas de eventos, gráficos com dados sobre imigração e também
figuram páginas da Constituição Italiana. O fluxo de vídeos disponibilizados pelo administrador é baixo e tem como conteúdo a exaltação da
cultura italiana. A página tem 2192 curtidas e apresenta grande percentual de crescimento do número de curtidas. O maior número de curtidas
é proveniente de São Paulo, e o grupo de maior interação é o de adultos
entre 25 e 44 anos.
118 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Imigrantes Italianos
(http://www.imigrantesitalianos.com.br/)
Figura 70 – Imigrantes Italianos
O site Imigrantes Italianos é voltado para aquele público de brasileiros que se interessa pela cidadania italiana. A página define a imigração
italiana como sendo o processo que trouxe para o Brasil a “brava gente”
que ajudaria a construir nossa nação – fotos, poesias e letras de música
exaltam essa ideia. No conteúdo, traz listas de passageiros que desembarcaram no Brasil, classificados por navios, porto, data (ano) e
sobrenomes. Contém também a relação de sites feitos para a manutenção
da cultura familiar italiana (ex: site da família Beraldo ou Berardo). Além
disso, apresenta uma tabela que fundamenta e explica as pesquisas do
site, no que diz respeito à genealogia. O site possibilita que o usuário
encontre arquivos do Estado italiano para orientar em sua própria pesquisa genealógica. Disponibiliza contatos de cartórios, endereços de
dioceses, listas telefônicas e arquivos do Estado de São Paulo. Há indicação de livros, de textos e de músicas que contam a história da Itália e da
imigração, além da recomendação de alguns nomes de pesquisadores do
tema.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 119
Benvenuti Cidadania
(http://benvenuticidadania.blogspot.com.br/)
Figura 71 – Benvenuti Cidadania
O Benvenuti Cidadania é um blog voltado para que usuários contratem serviços de pesquisa para retirada da cidadania italiana. As
postagens são datadas e permitem que o usuário entre em contato com o
administrador para contratar serviços de pesquisa genealógica. Nesse
site, no entanto, é interessante verificar que além das postagens que
apresentam conteúdo de pesquisa genealógica, os posts de maior popularidade são aqueles que possuem alguma fundamentação teórica no que
diz respeito às questões diaspóricas. Como exemplo de postagens que
fogem do padrão voltado para a retirada da cidadania italiana, podemos
citar “Os italianos no Paraná”, “Os italianos em Santa Catarina” e “Imigração italiana – A viagem de navio”. Um bom diferencial do blog são as
tags com opções como: “voto”, “aprender italiano” e “legislação” que
facilitam o uso do site, uma vez que as postagens acabam se diferenciando por assuntos. Além disso, o blog oferece uma lista de links úteis. Há
aproximadamente 50 mil visualizações na página.
120 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Italianadas em Sampa
(http://italianadas.blogspot.com)
Figura 72 – Italianadas em Sampa
O blog Italianadas em Sampa foi criado em 2008 e tem como principal objetivo retratar a vinda e a chegada de imigrantes italianos no
Brasil, mais especificamente na cidade de São Paulo. Apesar de estar no
ar há seis anos, o site tem apenas 49 postagens, sendo a última delas em
março de 2014. Os posts têm seu conteúdo dividido entre propagandas,
curiosidades sobre imigrantes, sobre a imigração para a cidade de São
Paulo e fotos antigas de italianos trabalhando em sua construção. Há
indicação de links relacionados ao tema da imigração que podem vir a ser
úteis para os usuários. Além disso, o blog divide suas postagens em tags
que facilitam a organização do usuário.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 121
Itália Catarinense
(http://www.italiacatarinense.com.br)
Figura 73 – Itália Catarinense
O site Itália Catarinense traz em seu conteúdo a Itália para os olhos
daqueles que querem ir daqui para lá. Trata-se, no entanto, de uma página que, apesar de orientar imigrantes brasileiros, foca no desejo de
retratar a colônia italiana na região sul do país. Há, no site, subdivisões
que dividem o conteúdo que retrata a cultura italiana. Há um espaço
voltado apenas às influências da Itália em Santa Catarina e, com isso,
oferecem-se oportunidades para descendentes, desde entretenimento até
cursos que envolvem a cultura italiana. Além disso, o site ajuda nos processos de obtenção de cidadania. É bem organizado, bem datado e tem
temas e seções bastante diversificadas. Contém também uma área só
para sites oficiais que possam vir a interessar ao usuário.
122 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Família Sarno
(http://familiasarno.blogspot.com.br/)
Figura 74 – Família Sarno
O blog Família Sarno é antigo, de 2009. Tem como intenção apresentar histórias e crônicas sobre a chegada dos imigrantes italianos no
estado da Bahia, mais especificamente na cidade de Jequié. A página foi
criada por Eduardo Sarno, que, em 2009, já contava 27 anos de pesquisa
sobre a imigração italiana para o Brasil. Apesar de ser um blog que diz
bastante sobre a família Sarno-Sangiovanni, as postagens as postagens
não se limitam apenas às questões da família. O blog era relativamente
movimentado quando ativo, e trazia em seu conteúdo diversos assuntos
relacionados à história da imigração e à distribuição de italianos pela
região nordeste do país. Hoje, a página está desativada. No entanto, o
contador indica que o espaço virtual já recebeu cerca de 30 mil visitantes.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 123
Saudosa Mooca
(http://moocasaudosamooca.wordpress.com/)
Figura 75 – Saudosa Mooca
O site Saudosa Mooca é produzido com foco no bairro italiano da
Mooca, da Zona Leste de São Paulo. Apesar de ser bastante focado em
noticiar as novidades que acontecem no bairro, trata-se de um site bastante informativo no que diz respeito ao tema da imigração italiana. Há
seções do site que são voltadas apenas para a narrativa da história da
Mooca a partir da chegada dos imigrantes. Além disso, não é difícil encontrar, na página, alguns setores relacionados à manutenção da cultura
italiana no bairro. Como exemplos, pode-se citar as seções: História da
Mooca e Antigos Logradouros, para a chegada dos imigrantes; e Revista
Virtual Saudosa Mooca, para assuntos atuais que não são compreendidos
na temática (matérias como “Mooca Intocada” e “Clube Juventus, por
exemplo).
124 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Portal da Mooca
(http://www.portaldamooca.com.br/)
Figura 76 – Portal da Mooca
O Portal da Mooca é um site bastante interativo acerca do que foi e
de como é a Mooca, bairro da Zona Leste de São Paulo. O site é dividido
em seções de fácil acesso e que são esquematizadas em pop-ups de interatividade. É bastante organizado e traz fortemente a retratação do
conteúdo da imigração italiana como fator de influência na formação do
bairro. A página é bem ativa, apresenta livro de visitas e espaço para que
o visitante se cadastre e ajude a produzir conteúdo (“Eu me lembro...”).
Além disso, a produção de conteúdo visual é muito forte, com fotos ilustrativas sobre os temas tratados em cada postagem. Há produção de
conteúdo atual, voltado para entretenimento e também relacionado à
manutenção da cultura italiana, assim como anúncios do mesmo tipo.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 125
Coisas da Itália
(http://coisasdaitalia.blogspot.com.br/)
Figura 77 – Coisas da Itália
O blog Coisas da Itália foi criado e administrado por Kel Menichelli,
consultora da prática de reconhecimento de cidadania italiana. Trata-se
de mais uma página voltada para a produção de conteúdo para quem se
interessa pela dupla cidadania. No entanto, é importante que a página
seja estudada uma vez que também traz conteúdo acerca do que foi e
como ocorreu a imigração. O blog disponibiliza seu conteúdo através de
seções. Como já foi dito, a maior parte das seções volta-se aos assuntos
relacionados à dupla cidadania. Ainda assim, há setores que contam a
história da imigração, como a imigração se deu em Minas Gerais, e que
indicam sites para estudo de genealogia. O blog está desativado desde
agosto de 2013, quando houve a última postagem. Ainda assim, a administradora continua disponibilizando contato em Facebook e telefone.
6.3. Análise
Foram analisadas 10 páginas 1 dentro das categorias propostas pela
metodologia inicial da Webdiáspora.br. Assim, protocolou-se postagens
1
Benvenuti Cidadania Italiana, Imigração Italina no Brasil, Imigrantes Italianos no Brasil, Imigrantes Italianos,
Itália Catarinense, Itália na Alma, Oriundi, Portal da Mooca, Portal Família Strapazzon e Portal Itália.
126 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
de outubro de 2013 a fevereiro de 2014, ou, em casos de postagens não
datadas, a interface inicial de cada site, blog ou página, na tentativa de
conseguir realizar uma análise de conteúdo. Posteriormente, há de se
realizar uma análise do conteúdo selecionado para entender de que forma imigrantes italianos usam a internet para, além de criar novos laços,
manter os laços com seu país de origem.
Foram analisados, no total, 421 itens das 10 páginas. As postagens
pairaram entre todas as categorias: 1) “Projeto de migração”; 2) “Famílias e relações transnacionais”; 3) “Vínculos informativos com o país de
nascimento”; 4) “Consumo e produção cultural”; 5) “Aprendizado do
idioma”; 6) “Cidadania jurídica”; 7) “Usos de mídias de migração”; 8)
“Companhia e ócio”; 9) “Participação política”; 10) “Associativismo”; e 11)
“Outros”. No entanto, as categorias 3, 4, 6, 8 e 11 foram as mais reincidentes.
Em “Vínculos informativos com o país de nascimento”, tivemos um
total de 100 postagens entre os dez sites, sendo a página no Facebook
intitulada Italianos no Brasil a com o maior frequência – 35 postagens. A
especificidade do conteúdo dessa página é a intensa utilização de imagens
que funcionam de maneira informativa. A grande dinamicidade proporcionada pelas postagens com grande número de “curtir” promove
conversas acerca dos lugares, criando um vínculo informativo com a
Itália. A postagem mais curtida, comentada e compartilhada foi o álbum
de fotos de Ravenna, Emília-Romagna (37 curtidas, 1 comentário e 1
compartilhamento).
Já em “Consumo e produção cultural”, verificamos 70 postagens,
com maior frequência no site Itália Catarinense. É curioso como o site
traz em si propagandas que, além de fazerem a manutenção dos vínculos
com a Itália através do consumo, também são uma forma de estruturação da comunidade ítalo-catarinense. É através do consumo de língua,
vestimenta, objetos culturais e eventos sobre a Itália e de imersão na
cultura que surge a organicidade da comunidade. A página só apresenta
links direcionados a matérias de produção bastante antigas. Ainda assim,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 127
é interessante se estudar a localidade da fixação de imigrantes italianos e
a forma como usam a internet. Um exemplo de consumo, produção e
também de estímulo cultural é quando a página fornece dados sobre a
exposição do artista Plínio Verani Júnior.
Desenhista, escultor, gravador, cenógrafo, professor, ator. Estas são algumas
definições que podem ser usadas para apresentar o artista plástico catarinense Plínio Verani Júnior a quem ainda não o conhece. Outra forma
interessante é ir descobrindo e enumerando dezenas de suas obras, espalhadas por várias cidades catarinenses e pelo país afora (Fonte: ITÁLIA
CATARINENSE).
Apesar de ter uma frequência de 88 postagens, a categoria “Cidadania jurídica” é mais concentrada no site Imigrantes Italianos, que detém
79 postagens de todo o total de incidência. São 68 postagens de “Outros”,
com temas bastante variados: eventos, indicações de sites oficiais e curiosidades. A página em que mais aparecem postagens da categoria “Outro”
é o Portal da Mooca. Em “Companhia e ócio”, há significativa reincidência, pois os autores geralmente acreditam que imagens divertidas,
postagens de conversas e vídeos conferem maior dinamicidade e integração na página. São 21 postagens, com maior concentração em Imigrantes
Italianos no Brasil e Itália na Alma, com 10 postagens cada. Um exemplo
é a postagem de 9 de novembro de 2013, da página Imigrantes Italianos
no Brasil, em que o administrador conversa com os usuários: “Podem
comentar fotos, sugerir tópicos, dar ideias; mas nada que se refira a política, religião, futebol ou assuntos que gerem polemica e discussão.
Grazie”.
A maior parte das páginas apresenta alguns itens na língua italiana,
o que representa um vínculo forte com a Itália. Há um maior número de
blogs – ou semelhantes – ainda que o Facebook apresente maior dinamicidade e apareça como um potencial de aumento do número de páginas
de italianos. Páginas no Facebook apresentam-se como as ferramentas
mais bem exploradas, visto que por se tratar de uma rede social, consegue interligar as pessoas de forma mais rápida e interativa – inbox,
128 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
videoconferência, curtidas, compartilhamentos e postagens que permitem comentários. A única categoria que não apareceu nas análises foi a
categoria “Usos de mídias de migração”. Uma hipótese que pode explicar
a não recorrência desse uso nos protocolos é que, apesar de acontecer, a
categoria não se mostra uma especificidade de nenhuma postagem. Ou
seja, nenhuma página traz uma postagem exclusiva no que tange às mídias de migração.
A contagem das demais categorias ficou assim: 35 textos em “Projeto de imigração”; 2 em “Participação política”; 21 em “Família e relações
transnacionais”; 5 em “Associativismo” e 11 em “Aprendizado do idioma”.
6.4. Considerações finais
Os dados levantados pela análise nos mostraram que os imigrantes
italianos usam a internet, principalmente, para a criação de novos vínculos culturais e para a manutenção de laços com seu país de origem. Os
levantamentos específicos possibilitam constatar que os vínculos informativos com o país de origem, assim como consumo e produção cultural
e a busca pela dupla cidadania são os principais fatores de uso e de objetivo nas páginas. Permite-se considerar, portanto, que o processo de
utilização da rede pelos usuários é intrinsecamente relacionado aos fluxos migratórios partidos da Itália e ao panorama de interculturalidade e
de transculturalidade existente no Brasil.
Abdelmalek Sayad (1998) discorre sobre a participação da comunicação como fator de influência nos processos imigratórios. O autor
demonstra a importância de tecnologias, o que envolve desde a evolução
do boca a boca até meios mais individualistas, como a carta e a fita cassete, na importância dos estudos de comunicação como mais uma área de
conhecimento ligada ao ato de migrar. O estranho nas duas terras – a de
origem e a de recepção – passaria a participar da liquidez do mundo
globalizado, dependendo de todos os enraizamentos relacionados ao
termo.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 129
No caso específico dos italianos, a popularização das TICs coincide
com uma drástica redução no fluxo de imigrantes italianos para o continente americano e para o Brasil, uma vez que os fluxos migratórios mais
intensos ocorreram no fim do século XIX e no início do XX. Assim, é
possível perceber como o conteúdo produzido, aqui no Brasil, está relacionado a este cenário. Por se tratar de um fluxo migratório antigo, a
maior parte das páginas não é produzida por imigrantes, mas sim por
descendentes de imigrantes que fazem o fluxo bidimensional ItáliaBrasil. Daí o interesse em informações envolvendo os dois países, do
consumo da cultura italiana e do desejo da dupla cidadania.
As variações nas identificações e nos vínculos – tanto de exaltação
dos antigos quanto de formação dos novos – promovem uma necessidade
de flexibilização cultural, sem polarizações identitárias. Paralelo a isso,
fica evidente que a participação do imigrante na produção do conteúdo
digital acerca da imigração italiana é favorecida pelo quadro intercultural
do Brasil. De acordo com Canclini (2005, p. 15), a interculturalidade não
deixa de ser um sintoma do mundo globalizado: “algo que pareça real,
tão real como um mapa, este feixe de comunicações distantes e incertezas cotidianas, atrações e desenraizamentos, que se nomeia como
globalização”. O processo de imigração dos italianos permitiu que houvesse confronto, mescla e formação de uma cultura brasileira com
italianidade. Daí o consumo de informações e de cultura da Itália e também o desejo de se viver a italianidade de que se é descendente.
A internet contribui para uma “nacionalidade intercultural”. Tratase do contexto dos usuários e produtores de conteúdo digital apontados
também por Stuart Hall (1992, p. 89) como aqueles que viveriam em
culturas híbridas e que constituiriam um novo padrão identitário, sendo
produto das novas diásporas criadas pelas migrações pós-coloniais: “(...)
devem aprendem a habitar pelo menos duas culturas, a traduzir e negociar entre elas”. Nessa mesma linha de pensamento, Amparo Huertas
Baillén, em Diásporas, migrações, TICs e identidades transnacionais,
estuda os padrões de sociabilidade na internet. A identidade, constante-
130 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
mente em transformação, principalmente no que tange às questões imigratórias, sofre, no mundo globalizado, as influências do movimento
tecnológico na comunicação. Assim, o estudo das relações sociais na internet levou a concluir que a influência das novas TICs na construção
identitária, na configuração do quadro nacional brasileiro e nos efeitos
nas vidas dos imigrantes: a internet é um fenômeno essencial para a
manutenção de antigos laços e na criação de novos. Além disso, a rede é
uma forma de inserção e de contribuição. No caso dos italianos, por
exemplo, o imigrante que aqui chega já consegue se integrar culturalmente através dessa ferramenta e também pode contribuir para a
formação de um novo quadro cultural nacional com o que irá apresentar
através dela.
Mohammed ElHajji (2012) toma o Brasil como sendo um país
transnacional, ou seja, aqui o imigrante é regionalizado. O italiano já faz
parte desse quadro nacional estatal modificado que representa a mescla
das culturas. Assim, se houvesse como produzir uma definição classificatória dos usos da internet por parte dos imigrantes italianos, seria ela a
emergência de uma sociedade digital orgânica pautada pelas transformações do mundo globalizado nesse cenário transcultural brasileiro. A
dinamicidade social na rede engloba a diversidade da mescla entre brasileiros e italianos, o que, levando-se em consideração a formação
identitária como em constante transformação, representa um movimento em que não é possível se ter uma definição fixada acerca do produto.
Por isso, ainda no fim da pesquisa, é possível encontrar a emergência de
novos sites e páginas que, ainda que não tenham sido protocolados,
apresentam o mesmo perfil de vínculos informativos com o país de origem, consumo e produção cultural, assim como busca pela dupla
cidadania.
7
Webdiáspora Muçulmana
7.1. Contexto histórico da imigração
No registro simbólico, a presença islâmica no Brasil se confunde
com a própria chegada da esquadria de Álvares Cabral a Porto Seguro, no
dia 22 de abril de 1500. Entre seus navegadores, se encontravam alguns
muçulmanos de origem árabe ou ibérica, como Chuhabiddin Bem Májid
e Mussad Bem Saté – fato comum naquela época, devido à importância
dos navegadores e cientistas muçulmanos. Além disso, o comércio com
as Índias, em particular, tornava imprescindível a presença de navegadores que dominavam a língua árabe, muitos deles muçulmanos. Contudo,
durante muitos séculos, a Igreja Católica impunha a conversão ao catolicismo. Especula-se que os muçulmanos (árabes ou africanos) que
chegaram ao Brasil tiveram que se converter e mudar de nome ao aportar em território pertencente à Coroa Portuguesa, conhecida por sua
forte religiosidade Cristã.
O próximo registro encontrado sobre a presença muçulmana em
terras brasileiras data do início do século XIX, época da Guerra Santa no
Sudão Central, em que guerreiros adversários capturados eram frequentemente vendidos como escravos para portugueses. Assim, foram
trazidos para o Brasil grupos de diversas vertentes do Islã. Muitos dos
que aqui chegaram logo se assimilaram ou não tornaram de conhecimento público a sua fé. Outros, porém, principalmente os que dominavam a
leitura e a escrita em árabe e possuíam importante conhecimento do
Islamismo, mantiveram a prática da religião e gozavam de forte prestí-
132 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
gio, tanto entre a população de origem africana quanto aos olhos dos
próprios colonos lusos.
Conforme analisou Gilberto Freire em Casa-Grande e Senzala
(2006):
(...) verdade é que importaram-se para o Brasil, da área mais penetrada pelo
Islamismo, negros maometanos de cultura superior não só à dos indígenas
como à da grande maioria dos colonos brancos — portugueses e filhos de
portugueses quase sem instrução nenhuma, analfabetos uns, semianalfabetos na maior parte. (p. 299)
Entretanto, como as escrituras sagradas do Islamismo proibiam a
escravidão dos muçulmanos, esse grupo, conhecido como “malês”, acabou promovendo vários levantes contra os senhores escravocratas e teve
papel determinante no sucesso de vários quilombos do país. O mais conhecido desses movimentos foi a “Revolta dos Malês”, consequência
direta da expansão da religião islâmica entre os escravos africanos, principalmente na Bahia. Uma vez reprimida a revolta, muitos participantes,
para fugir da perseguição implacável empreendida pelas autoridades na
Bahia, vieram para a capital, o Rio de Janeiro.
Em plena Belle Époque carioca, a presença de muçulmanos não provocava qualquer tipo de alarde, mesmo com suas práticas exóticas.
Existiam na cidade várias machacalis (mesquitas domésticas) e apenas
no primeiro ano de presença muçulmana no Rio de Janeiro foram vendidos cerca de 100 exemplares do Alcorão para escravos e libertos.
Mas, por se tratar de uma comunidade pequena e com poucos sacerdotes, seus descendentes acabaram se integrando, aos poucos, à
paisagem religiosa local. Não seria, portanto, pertinente ligar genealogicamente a atual presença islâmica no Brasil a esse episódio, certamente
marcante, na formação da cultura brasileira e afro-brasileira em particular. Hábitos e práticas foram incorporados e continuam vivos no
imaginário popular, pela força da miscigenação e dos sincretismos constitutivos da identidade brasileira, mas não são mais reconhecidos ou
rotulados como islâmicos ou de matriz muçulmana.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 133
A identidade e a cultura muçulmanas voltam a se destacar de forma
significativa no Brasil a partir do início do século XX, quando o governo
brasileiro, promovendo a “purificação da raça” com o estímulo à vinda de
europeus, efetuou tamanha propaganda das benesses nacionais, que o
país acabou recebendo imigrantes de outros povos e regiões, como do
Império Turco-Otomano.
Ainda que a maioria fosse cristã, alguns eram muçulmanos, mas,
outra vez, a força da assimilação brasileira acabou apagando grandes
segmentos dessa comunidade, antes mesmo que conseguisse se organizar e se auto-identificar como tal. Lesser (2001) relata que, muitas vezes,
os nomes dos muçulmanos foram traduzidos para o português ou “aportuguesados”, transformando, por exemplo, os “Taufik” e “Taufil” em
“Teófilo” e “Mohammed” em “Manuel”; o que impede o esboço de uma
cronologia contínua da presença islâmica no Brasil. Todavia, um marco
significativo no processo de constituição de uma comunidade religiosa
islâmica no Brasil pode ser encontrado na fundação da primeira sociedade beneficente muçulmana e na construção oficial da primeira mesquita
no país.
Durante a Primeira Guerra Mundial, no final do século XIX e início
do XX, com a vinda de imigrantes sírios e libaneses para o Brasil, o segmento muçulmano cresceu. Em 1927, foi fundada a Sociedade de BemEstar Palestina Muçulmana, em São Paulo, cujo nome sofreu uma modificação com a chegada de outros povos seguidores do Islã, tornando-se
Sociedade do Bem-Estar Muçulmano, em 1929. Hoje, são mais de 50
mesquitas e uma centena de centros islâmicos espalhados pelo Brasil.
Mais recentemente, o fluxo imigratório oriundo do Oriente Médio,
originalmente de maioria cristã, inverteu-se e passou a ser, majoritariamente, islâmico. Oswaldo Truzzi (1997) explica, a esse respeito, que
“desde a Guerra Civil do Líbano se tem a tendência a receber árabes de
crença muçulmana no Brasil, em particular em São Paulo”. Nem todos os
que imigraram nas últimas décadas, porém, são libaneses. Também vieram muitos sírios e palestinos. De acordo com Truzzi, os muçulmanos,
134 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
assim como os cristãos, procuraram o Brasil para crescer financeiramente. “Eles encaram o Brasil como um país propício para ganhar dinheiro”,
afirma ele. Mas, diferente dos primeiros, muitos dos que chegaram depois vieram ancorados por parentes que já estavam por aqui.
A população islâmica no Brasil não é, todavia, exclusivamente árabe.
As recentes e atuais levas de imigrantes oriundas da África vêm se juntando à tradicional fonte médio-oriental e reforçando a comunidade
islâmica. No Rio de Janeiro, por exemplo, o sermão de sexta-feira não é
mais feito em árabe, mas sim em português, devido à forte presença de
senegaleses e outras nacionalidades da África Ocidental e Austral. Provavelmente mais um dado que dificulta a quantificação dessa presença
entre nós. Assim, se o IBGE estima menos de 40 mil seguidores da religião islâmica no Brasil, a Federação Islâmica Brasil avalia que essa
comunidade tenha em torno de um milhão e meio de fiéis.
7.2. Mapeamento
Ordem de dervixes Halveti Jerrahi
(http://www.masnavi.org/jerrahi/index.htm)
Figura 78 – Ordem de dervixes HJ
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 135
O site Ordem de dervixes Halveti Jerrahi é a principal ferramenta de
comunicação da Ordem Sufi tradicional, que está presente em diversos
países do globo. No Brasil, a organização é atualmente conduzida pelo
Sheikh Muhammad Ragip, que disponibiliza seus contatos para possíveis
diálogos. O endereço virtual tem como objetivo disseminar os valores e
as práticas do Sufismo, assim como informar a população muçulmana
em geral a respeito de questões sobre a religião islâmica, através da disponibilização de textos em variadas línguas. É igualmente possível ter
acesso a dados básicos sobre as atividades da organização, tais como o
horário das orações e transcrições de palestras oferecidas.
Centro de Divulgação do Islã para América Latina
(http://www.islambr.com.br/)
Figura 79 – Centro de Divulgação do Islã para AL
O portal CDIAL é uma iniciativa do Centro de Divulgação do Islã para América Latina. É uma organização beneficente que promove
discussões, cursos e encontros internacionais para divulgar a cultura e os
princípios da fé islâmica. Além destas ações, a CDIAL está voltada para o
aprendizado do idioma Árabe e do Alcorão, e colabora na construção de
mesquitas. O objetivo fundamental da organização é disseminar uma
visão positiva do Islamismo, com o intuito de desfazer preconceitos dis-
136 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
seminados pela mídia. No site, é possível encontrar indicações de blogs e
colunas de conteúdo islâmico, assim como uma biblioteca com artigos
que versam sobre temáticas ligadas à religião.
Associação Ahmadia do Islã
(http://www.ahmadia.org.br/)
Figura 80 – Associação Ahmadia do Islã
A página Associação Ahmadia do Islã é o site oficial da instituição
homônima que representa um ramo pacifista da religião muçulmana.
Atualmente, possui sede em mais de 180 países e conta com milhares de
missionários dedicados à tarefa de disseminar os preceitos do Alcorão e
da vertente Ahmadia. No Brasil, a organização tem sede na cidade de
Petrópolis. No site, é possível encontrar livros e artigos, além de conteúdo multimídia e imagens sobre a religião islâmica.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 137
Wamy
(http://www.wamy.org.br/)
Figura 81 – Wamy
A página Wamy pertence à instituição saudita homônima que tem
sede em diversos países e foi fundada na década de 1970, com o intuito
de dar suporte aos muçulmanos e, principalmente, à juventude islâmica.
Ela possui uma série de atividades e presta auxílio a órfãos, estudantes e
muçulmanos em geral, através de ações educativas e sociais. No site, é
possível ter acesso a um dicionário islâmico e a textos em diversos idiomas, além de ser possível assistir vídeos, ouvir áudios sobre questões da
religião e obter informações concernentes às rezas. Também há uma
seção de textos que relacionam o Islamismo aos grandes temas do mundo moderno.
138 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Mesquita do Brás
(http://www.mesquitadobras.org.br/)
Figura 82 – Mesquita do Brás
A Mesquita do Brás é uma instituição muçulmana da cidade de São
Paulo sob a tutela da Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil
(ARBIB). A mesquita é um espaço de sociabilidade da comunidade muçulmana da localidade e conta com uma série de atividades educativas,
recreativas e religiosas, com o objetivo de congregar aqueles que professam a fé islâmica e aproximar outros interessados. O site da entidade,
homônimo, conta com seções regularmente atualizadas, nas quais é possível ter acesso a artigos, transcrições de palestras, horário das orações,
um dicionário islâmico e outras informações relevantes sobre a religião
muçulmana.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 139
Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos
(http://www.ibeipr.com.br/)
Figura 83 – IBEI
O site IBEI é a página oficial do Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos. O tradicional ícone “quem somos”, presente na maioria das
páginas e principalmente em sites de instituições, começa com uma oração e não com a história ou a missão da entidade. É importante destacar
que o nome utilizado para o discurso foi Deus, e não Alá. Essa característica expõe uma espécie de sincretismo religioso, mas parece mais para
adaptação do nome da divindade a um lugar onde Deus é considerado
um nome muito mais poderoso que Alá. A página oferece diversos serviços e documentos como, por exemplo, o Corão em português, totalmente
disponível na plataforma digital. Também é possível consultar o calendário islâmico, os horários das orações e visitar uma loja virtual. Na
subdivisão “conhecimento”, alguns temas pertinentes à religião são tratados. Há textos sobre os profetas, a economia no Islã e também sobre a
presença de Jesus no Corão.
140 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Federation of Muslims Associations in Brazil
(http://www.fambras.org.br/)
Figura 84 – FAMBRAS
FAMBRAS é o site oficial da Federation of Muslims Associations in
Brazil. A entidade foi fundada em 1979, por representantes da comunidade muçulmana no Brasil, para que a religião pudesse alcançar uma
maior expressão nacional. O projeto “Conheça o Islam”, de autoria da
Federação, foi lançado na Bienal do Livro de São Paulo, em agosto de
2010. O objetivo consiste na distribuição gratuita de livros islâmicos,
tanto para adeptos quanto para não adeptos, em diversos locais e eventos
no território nacional. A própria página disponibiliza alguns, como o
Corão e “A mensagem do Islam”. Também é possível rastrear, no menu
“Entidades do Brasil”, as entidades, escolas e mesquitas localizadas no
Brasil. Para quem ainda não conhece as práticas islâmicas, a subdivisão
“O Islam” explica os principais conceitos da religião.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 141
Arresala – Centro Islâmico no Brasil
(http://www.arresala.org.br/)
Figura 85 – Arresala
O site Arresala está disponível em cinco idiomas: português, inglês,
espanhol, árabe e urdu. A opção é escolhida antes que a página principal
seja aberta. Nela, muitas informações sobre o Islam estão disponíveis:
princípios, práticas, dizeres, etc. O Arresala possui também um canal no
Youtube e contas no Flickr, Facebook e Twitter, algumas das mais populares redes sociais. No Facebook, por exemplo, são mais de sete mil
curtidas (em outubro de 2014). No tópico “Perguntas e Respostas”, algumas dúvidas recorrentes são respondidas de acordo com a posição da
religião islâmica. Uma delas se refere ao papel da mulher. A resposta
desvia de qualquer tipo de polêmica, reforçando a importância da presença feminina no Islam. Ao final, é recomendado o livro “Os Direitos da
Mulher no Islam”.
142 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro
(http://sbmrj.org.br/)
Figura 86 – SBMRJ
A Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro (SBMRJ) foi
fundada em 1951 por um grupo de imigrantes. No entanto, uma informação que vale ser destacada é que, segundo dados da Sociedade, 70% do
círculo atual é composto por brasileiros convertidos, e não mais por imigrantes. A instituição costuma traduzir livros do Islam para o português,
com o intuito de divulgar suas práticas religiosas.
Uma característica de sua página oficial, homônima, é o canal multimídia, com vídeos de sermões, entrevistas e documentários. Em
“Milagres Científicos”, vários trechos do Corão são provados por descobertas científicas recentes. Além disso, o site tem a opção de ser
navegado ao som de uma playlist com músicas típicas.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 143
Religião de Deus
(http://www.religiaodedeus.net)
Figura 87 – Religião de Deus
O site Religião de Deus, que afirma não estar vinculado a nenhum
grupo ou instituição religiosa islâmica, possui como subtítulo, na página
inicial: “A Voz Muçulmana Na Internet”. Ele tem a finalidade de divulgação do Islam. Apresenta informações básicas e explicações sobre os mais
diversos temas do Islamismo, horários de rezas e espaço para pedidos
das mesmas, arquivos de aulas para download, áudios de palestras, links
para filmes e uma série de links recomendados sobre o tema. Além disso,
o endereço apresenta uma parte específica destinada a conteúdos sobre a
mulher no Islam, descrições das orações, das práticas desejáveis, e um
fórum para comentários, relatos e discussões.
144 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Rádio Islã BR
(http://www.radioislambr.com.br/)
Figura 88 – Rádio Islã BR
A rádio de conteúdo religioso Islam BR expõe em sua página na internet a programação da rádio e informações básicas com o tema
musical. Mas também há notícias, vídeos e fotos de conteúdos diversos e
espaços destinados à publicidade. Além disso, é possível deixar recados
na página principal e entrar em contato com os responsáveis.
Islamismo BR
(http://islamismobr.blogspot.com.br/)
Figura 89 – Islam Brasil
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 145
O blog Islam Brasil (Islamismo BR) é administrado por Hussein Al
Rafail, que se descreve como “um brasileiro muçulmano revertido”, e
conta com postagens iniciadas em setembro de 2011. O seu objetivo com
o blog é a veiculação de matérias e informações sobre o mundo islâmico.
A página apresenta dados e notícias ligadas ao Islamismo referentes,
principalmente, ao Brasil, como a série sobre as mesquitas do país realizada pelo administrador. Além de conter a divulgação de campanhas,
aulas, cursos, congressos, palestras e encontros pelo país em suas publicações.
Casadas com Muçulmanos no Brasil
(https://www.facebook.com/pages/Casadas-com-Mu%C3%A7ulmanosno-Brasil/244448078944436)
Figura 90 – Casadas com Muçulmanos no Brasil
A página do Facebook Casadas com Muçulmanos no Brasil se propõe a realizar uma interação entre muçulmanos e brasileiros, a e
divulgar informações sobre o Islamismo, além de incluir cultura e comida
típica turca, árabe e marroquina em suas postagens. E, principalmente,
esse é um espaço para mulheres casadas com muçulmanos no Brasil
interagirem, discutirem e expressarem suas opiniões. Criada em novem-
146 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
bro de 2011, a página possui fotos e textos de notícias e conhecimentos
relacionados ao mundo islâmico, além de relatos e experiências de mulheres sobre o casamento com homens muçulmanos.
Federação Muçulmana do Estado do Rio de Janeiro – FMERJ
(https://www.facebook.com/pages/Federa%C3%A7%C3%A3o-Mu%C3
%A7ulmana-do-Estado-do-Rio-de-Janeiro-FMERJ/263776280321405)
Figura 91 – FMERJ
A página do Facebook intitulada Federação Muçulmana do Estado
do
Rio
de
Janeiro,
vinculada
ao
site
da
FMERJ
(http://www.fmerj.org.br/), não possui uma explicação clara e direta
sobre o seu objetivo e o sobre o conteúdo presente na página em seções
próprias, como a subcategoria de descrição presente em muitos sites e
blogs. O que pode ser observado é que ela apresenta fotos e textos ligados
a opiniões sobre temas importantes do Islamismo, divulgação de ensinamentos da religião em questão e diversas publicações com abordagem
política. Além de registros de manifestos e participações da FMERJ em
eventos e debates.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 147
Egito e Brasil
(http://egitoebrasil.com/)
Figura 92 – Egito no Brasil
O site Egito e Brasil é produzido por uma brasileira convertida casada com um egípcio há cinco anos. Na página, criada em 2008, ela
escreve sobre sua vida familiar e sobre experiências vividas, fornecendo
informações sobre o Egito e o Brasil para seu público. Há uma parte
exclusiva para as dúvidas mais comuns, na qual os principais temas do
Islamismo, entre eles o papel da mulher muçulmana e o relacionamento
entre duas pessoas de culturas muito diferentes são discutidos. A maioria
das postagens possui um número razoável de comentários, os quais também são espaços comuns para dúvidas. O site possui uma página no
Facebook, com 2.861 curtidas (em outubro de 2014) e uma conta no Instagram, ambos com fotos de viagens e do cotidiano da família da
administradora, além de pequenos relatos sobre sua vida.
148 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Islam Brasil
(http://www.islambrasil.com/br/)
Figura 93 – Islam Brasil
O portal Islam Brasil foi desenvolvido por Muneer Nijm e Nidal
Nijm, que se denominam muçulmanos brasileiros, com a finalidade de
fornecer e esclarecer informações sobre o Islam no Brasil, porque seus
criadores acreditam que elas não são muito divulgadas na internet. Os
administradores contam que o único objetivo é o de proporcionar conhecimento sobre o Islam para as pessoas, sem fins lucrativos, não estando
ligados a entidades, grupos ou organizações. O site auxilia na prática de
súplicas e orações, conta com uma seção de perguntas e respostas, informações sobre diversos temas islâmicos, uma biblioteca virtual de
livros ligados ao Islamismo e reproduções de artigos com a temática
muçulmana. Além de Islam Brasil, os responsáveis possuem outros sites
de
destaque,
como
o
Centro
Islâmico
(http://www.centroislamico.com.br/) e o Brasileiros Muçulmanos
(http://www.brasileirosmuculmanos.net/brasileiro/index.php).
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 149
Denise Bomfim – Salam e Salamaleques
(http://denisebomfim.blogspot.com.br/)
Figura 94 – DB: Salam e Salemaleques
O blog Denise Bomfim – Salam e Salamaleques é organizado pela
muçulmana Denise, e o seu lema é que “Compreender a cultura e religião
do próximo promove a paz na Terra”. Através de suas publicações, ela
pretende auxiliar na divulgação e em esclarecimentos sobre religião e
cultura islâmicas, para que assim o mundo possa se aproximar do objetivo de conquista da compreensão, quebra de preconceitos e paz. O blog é
voltado para a veiculação de notícias, artigos e poesias sobre a cultura e
temas do Islamismo. Inclui, também, diversas postagens sobre trajes,
hijab e moda em geral, postagens sobre costumes, hábitos e culinária,
além de um amplo conteúdo com a temática da mulher.
150 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
União Nacional das Entidades Islâmicas
(http://www.uniaoislamica.com.br/)
Figura 95 – UNI
A UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas) é uma organização
que representa os muçulmanos nacionalmente há 8 anos e tem sede em
São Paulo – SP. Atua em Ações Comunitárias de divulgação dos temas do
Islamismo e de acompanhamento de jovens do país e em atividades sociais. Seu objetivo é unir as entidades do país e apoiar no fortalecimento
dos valores islâmicos. Em seu site oficial, homônimo, é responsável por
divulgar valores, princípios e conceitos, assim como por explicar informações sobre o Islamismo, visando à eliminação de possíveis
preconceitos criados sobre a religião. A página apresenta informações
sobre a religião para iniciados e informações básicas para leigos, além de
dados sobre mesquitas no país, sermões (em português e em árabe), uma
biblioteca virtual de livros ligados ao Islamismo, reprodução de conteúdo
jornalístico com a temática muçulmana e publicidade de eventos da comunidade muçulmana.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 151
7.3. Análise
Foram analisadas, no total, 79 postagens de 8 sites, blogs, páginas e
fóruns brasileiros sobre diversos temas ligados aos muçulmanos 1. Cada
postagem, compreendida no período de outubro de 2013 a fevereiro de
2014, foi encaixada em uma das 11 categorias estabelecidas. São elas: 1)
“Projeto de migração”; 2) “Famílias e relações transnacionais”; 3) “Vínculos informativos com o país de nascimento”; 4) “Consumo e produção
cultural”; 5) “Aprendizado do idioma”; 6) “Cidadania jurídica”; 7) “Usos
de mídias de migração”; 8) “Companhia e ócio”; 9) “Participação política”; 10) “Associativismo”; e 11) “Outros”.
Destes 79 textos submetidos ao protocolo de pesquisa, 15 apresentaram assuntos que foram identificados em mais de uma classificação. A
publicação contendo o guia para torcedores muçulmanos na Copa do
Mundo do site Fambras, por exemplo, se encaixou nas categorias “Vínculos informativos com o país de nascimento”, “Usos de mídias de
migração” e “Companhia e ócio” ao mesmo tempo.
Do total de postagens e textos analisados, a maior parte (45) era sobre “Consumo e produção cultural”, sendo 34 pertencentes
exclusivamente a esta categoria e 11 vinculadas também a outras. O fato
de grande parte das publicações se encontrar nessa categoria pode estar
relacionado ao “dever” de divulgação do Islam e à importância de discussões a respeito de temas do Islamismo e da cultura islâmica para os
muçulmanos. O que pode ser verificado no seguinte trecho da seção
“Quem Somos” do site Islam Brasil, de autoria de Muneer Nijm e Nidal
Nijm:
Somos muçulmanos brasileiros que através do nosso trabalho de internet
percebemos a carência de informações sobre o islam no Brasil. Decidimos
criar esses sites islâmicos com o objetivo de levar para as pessoas informa-
1
Ordem de dervixes Halveti Jerrahi, Centro de Divulgação do Islã para América Latina - CDIAL, Mesquita do Brás,
Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos - IBEI, Federation of Muslims Associations in Brazil – FAMBRAS, Arresala
– Centro Islâmico no Brasil, Islamismo BR e Islam Brasil.
152 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
ções sobre o islam através do trabalho de Dawah (Divulgação do Islam) na
internet, sem benefícios financeiros, tudo por nossa conta, com o único objetivo de levar o islam para as pessoas. Nós não estamos ligados a nenhuma
entidade, grupo ou organização (ISLAM BRASIL, seção “Quem Somos”).
Em seguida, vieram as categorias: “Associativismo” (14), “Famílias e
relações transnacionais” (13) e “Outros” (6). Os temas “Vínculos informativos com o país de nascimento” (3), “Companhia e ócio” (3),
“Aprendizado do idioma” (2), “Usos de mídias de migração” (2) e “Participação política” (2) tiveram participações menos expressivas. E as
categorias “Projeto de migração” e “Cidadania jurídica” não foram contempladas, provavelmente devido ao fato de que os sites analisados eram
predominantemente de natureza informativa acerca da religião islâmica
e da presença da mesma no Brasil, sem foco em situações voltadas para o
jurídico e sem o acompanhamento da migração como projeto.
As publicações sobre “Consumo e produção cultural”, presentes em
7 dos 8 sites e páginas analisados, apresentaram, muitas vezes, a divulgação do Islamismo como objetivo e interesse principais, como já foi dito
anteriormente. E, sobretudo, ensinamentos da cultura e da religião islâmica, visando a um aprendizado pleno das questões e temas comuns
para o público leitor que nasceu e/ou vive no Brasil. Dessa maneira, elementos sobre o Islamismo (como o Alcorão, as datas e meses sagrados, o
jejum, as orações, a peregrinação à Makkah, os hábitos, comportamentos
e rituais em geral) são sempre citados, assim como a divindade e figuras
as relacionadas a ela (principalmente Allah, Profeta Muhammad, Imam
Ali Ibn Al-Hussein e Fátima Azzahrá). Além de postagens sobre os temas
e personalidades essenciais do Islamismo, dois tópicos bastante explorados nessa categoria foram a questão da mulher no Islam, com
publicações sobre as virtudes e os direitos femininos, a utilização da figura de Fátima como exemplo do gênero e outros pontos específicos (como
trabalho, relações conjugais, família e lar), e a questão Palestina, com
textos sobre a tragédia e as consequências dos conflitos. A publicação
“Vice-presidente iraniana fala na ONU sobre a mulher”, do site do IBEI,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 153
aborda a fala da vice-presidente iraniana em Assuntos de Mulheres e
Família sobre a mulher, e ilustra o primeiro dos dois temas destacados.
Segue um trecho da postagem:
“A vice-presidente iraniana em Assuntos de Mulheres e Família, Shahindojt
Molaverdi, anunciou na última segunda-feira, em Nova Iorque, que dar poder e capacitar as mulheres em diversos âmbitos é um elemento importante
da política de governo da República Islâmica. Durante a 58ª Sessão da Comissão da Organização das Nações Unidas sobre o Estatuto da Mulher,
Molaverdi sustentou que Teerã considera o maior poder cultural, social, econômico e político das mulheres e meninas um elemento chave da
planificação, legislação e política nacionais.” (INSTITUTO BRASILEIRO DE
ESTUDOS ISLÂMICOS, “Vice-presidente iraniana fala na ONU sobre a mulher”, 14/03/2014).
Nas postagens de “Associativismo”, os temas foram desde divulgações sobre inaugurações de centros islâmicos e mussalas até notas sobre
datas marcantes, como nascimento e falecimento de personalidades extremamente conhecidas no meio islâmico, além de martírios e festivais. A
categoria “Famílias e relações transnacionais” apresentou, em sua maioria, notícias sobre visitas internacionais e negociações com diversos
países. A publicação do site Fambras sobre a colaboração para o incremento dos negócios brasileiros com o Suriname, que abordou a presença
do Embaixador da República do Suriname em São Paulo e a discussão
acerca do intercâmbio comercial entre os dois países, é um exemplo disso. Na categoria “Outros”, foram identificadas postagens sobre o envio de
formulários para participação e colaboração no próprio site (CDIAL),
seção de perguntas e respostas (Islam Brasil), relações inter-religiosas e
entre instituições (Aressala e Fambras, respectivamente), artigo sobre a
mesquita de Foz do Iguaçu (Islamismo BR) e um texto que se enquadrou
em autoajuda religiosa (Ordem Jerrahi no Brasil).
A maioria dos textos analisados foi escrita no idioma português,
com exceção dos pertencentes ao site Mesquita do Brás, que contou 3 das
4 publicações analisadas no idioma árabe, além do português. As publica-
154 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
ções analisadas nos outros sites utilizaram poucas palavras em árabe em
suas escritas, como aconteceu no site CDIAL, que frequentemente apresentou nomes importantes no idioma em questão, mas mesmo nesses
casos a língua predominante foi, indubitavelmente, o português.
O conteúdo das publicações pesquisadas é objetivo e informativo.
Muitas delas abordaram a presença islâmica e o crescimento da mesma
no Brasil. É interessante notar a ideia de união entre os muçulmanos
presente em algumas publicações através de simples expressões, como
na felicitação pelo Ano Novo do site Arresala, na qual constava: “O Centro Islâmico no Brasil parabeniza a nação islâmica pela chegada no ano
novo muçulmano de 1435 Hejrita” (Arresala, “Ano Novo Islâmico e Início
de Muharam”, 05/11/2013). Também é relevante citar a existência de
publicações sobre a Copa do Mundo de 2014 na pesquisa, com guias para
muçulmanos durante o evento, visto que o período analisado permitiu
esse fato.
Em uma análise dos sites e páginas, é possível perceber que eles
apresentaram, de maneira geral, poucos comentários quando os mesmos
foram possíveis. Quando isso ocorreu, foi para parabenizar pela postagem realizada na maioria das vezes. Outra informação relevante sobre os
portais é que alguns deles disponibilizam livros/conteúdos informativos e
seções especificamente de perguntas e respostas sobre o Islamismo, o
que é muito interessante e reforça a ideia de divulgação e propagação de
conhecimento da religião.
7.4. Considerações finais
Conhecer de perto os diversos espaços virtuais voltados para muçulmanos no Brasil, além de uma verdadeira viagem a outra cultura,
sociedade, religião, organização social etc. nos confirmou que as TICs
operam para um reordenamento territorial das experiências dos imigrantes no âmbito global, compondo verdadeiros espaços transnacionais,
especialmente no que diz respeito à manutenção de laços (simbólicos e
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 155
ou reais) com o país de origem, e da construção de uma identidade diaspórica.
Tal identidade contém, no caso dos muçulmanos, diversas vertentes, passando especialmente por: consumo e produção cultural,
associativismo e família, amizade e outros tipos de relações que ultrapassam fronteiras físicas. Afinal, como diz Hall (2014), a identidade cultural
compõe aqueles aspectos de nossas identidades que surgem do nosso
“pertencimento” – a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e
nacionais. Assim, podemos falar de uma identidade fragmentada, composta não de uma, mas de várias identidades, algumas vezes
contraditórias, mostrando que a identidade é formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.
Outra percepção após esse trabalho é que os muçulmanos fixados
no Brasil e explorados através da análise desses espaços virtuais caracterizam um novo tipo de população imigrante que está emergindo,
composta de redes, atividades e parceiros, que envolvem suas vidas do
local de origem e do local de acolhida num único campo social. É o que
Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992) chamam de transnacionalismo, ou
seja, pessoas que desenvolvem e mantêm múltiplas relações – familiares,
econômicas, sociais, organizacionais, religiosas e políticas – para além
das fronteiras. São sujeitos que tomam ações, tomam decisões, se preocupam e desenvolvem identidades com as quais formam uma rede de
conexão que envolve dois ou mais países.
Uma vez envolvendo uma ou mais nações – especialmente no caso
dos muçulmanos, uma identidade que não conta com um espaço físico
delimitado –, compreende vários estados ou nações. O intercuturalismo,
do qual nos fala Néstor García Canclini (2005), apesar de certa resistência em algumas ocasiões, é notório e crucial para a identidade e para a
representação em questão. A ideia de interculturalismo do autor remete à
mistura de sujeitos e sociedades, ou seja, ao que acontece quando as
diferenças se encontram, convivendo em situações de negociações e tro-
156 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
cas recíprocas. Para Canclini, tal situação ganha relevância não só dentro
de uma etnia ou nação, mas em “circuitos globais, superando fronteiras,
tornando porosas as barreiras nacionais ou étnicas e fazendo com que
cada grupo possa abastecer-se de repertórios culturais diferentes”
(CANCLINI, 2005, p. 43), numa reelaboração intercultural do sentido de
práticas culturais, num cenário de “diferenças, desigualdades e desconexões” (idem.).
Por fim, cabe ressaltar que a virtualização analisada no caso diaspórico ganha o status de produtor de vínculos cognitivos e produz uma
dinâmica pela qual compartilhamos uma realidade, nesse caso, a realidade dos muçulmanos que escolheram o Brasil para viver.
8
Webdiáspora Espanhola (Galega)
8.1. Contexto histórico da imigração
A questão da identidade nacional parece imprescindível quando se
trata de estudos de processos migratórios. No caso da imigração espanhola para o Brasil não é diferente. Por mais que o fluxo tenha se
intensificado com a crise econômica que a Espanha vem enfrentando
desde 2008, a vinda de espanhóis para cá integra a chamada “corrente
migratória europeia em massa”, ocorrida entre o final do século XIX e
principalmente o início do XX, quando a abolição da escravatura fez
emergir a necessidade de mão de obra barata aliada a um conceito de
“branqueamento” da população, ação do governo brasileiro para tentar
favorecer a entrada do país no hall das nações civilizadas.
A trama envolvia uma política com dois nortes: força de trabalho,
com o processo de industrialização e as lavouras de café, e o combate à
mestiçagem pela própria mestiçagem. Nesta política, não valiam, por
exemplo, os alemães, que pelas diferenças culturais e a distância do idioma, isolaram-se em um grupo fechado em lugares não tão acessíveis do
território brasileiro. É neste contexto que os espanhóis entram em cena.
Como lembra Mariana Novaes (2013), era preciso que o povo brasileiro tivesse uma identidade, ou seja, finalmente se formasse enquanto um
grupo unificado. Mas essa identidade, obviamente, deveria ter sangue
branco. Esse panorama ganha força com a Era Vargas, quando o ideal
nacionalista chegou a proibir a imigração para o país e rejeitar o uso de
línguas estrangeiras. Outro acontecimento relevante foi que, como aconte-
158 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
ceu em outros períodos, a partir da década de 1960, há uma queda nesse
fluxo por outro motivo, quando muitos espanhóis preferem migrar para
países mais próximos, especialmente Suíça e Alemanha. Isso aconteceu em
um período de recuperação econômica da Europa no pós-guerra.
De uma forma ampla, a emigração galega atravessa todos os aspectos da história contemporânea da Galícia. O processo inicia-se no século
XVIII, em direção a Portugal e a outras regiões da Espanha, expande-se
no século XIX para as Américas, é interrompido durante a Guerra Civil
(1936-1939) e a etapa inicial do governo de Francisco Franco. Então,
volta a ganhar importância nos anos 1940 e chega à Europa desenvolvida
na década de 1960, como citado no parágrafo anterior.
Segundo dados da Polícia Federal, em maio de 2013 havia cerca de
60 mil espanhóis com visto de permanência no Brasil. O número é bem
abaixo dos registrados no início da imigração. De acordo com o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1890 e 1899 foram
102.142 espanhóis desembarcando no país. O aumento foi considerável
na década seguinte, correspondendo a 224.672. Nos anos de 1910, o grupo que decidiu vir para o Brasil aumentou ainda mais e chegou a 815 mil.
De 1920 até 1929 foram 846 mil novos imigrantes. Era uma clara consequência da falta de mão de obra do período pós-abolição e do fim da
Primeira Guerra Mundial, que recolocou o território na rota migratória.
Depois do amplo crescimento, a década de 1930 representou uma queda
brusca. A época foi marcada pela Guerra Civil Espanhola. O Brasil sofreu
impacto direto quando os Estados Unidos, por razões da crise de 1929,
deixam de ser o principal consumidor do nosso café. Para completar, a
política nacional do então presidente Getúlio Vargas foi outro fator de
explicação para a diminuição. A chegada de espanhóis só voltou a ser
registrada em 1950, e a contagem foi bem mais tímida: 92.176. Os números voltam a baixar em 1960, quando o país passa a perder mão de obra
para a Europa recém-recuperada da Segunda Guerra Mundial. De 1970
até 1979, 115.493 estavam em terras brasileiras. Faz-se importante ressaltar que a partir deste ano os órgãos oficiais mudaram os critérios de
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 159
contagem. Em vez de avaliarem os estrangeiros que chegaram ao Brasil,
passaram a contar os estrangeiros residentes. Nesse contexto histórico, o
milagre econômico foi um chamativo para muitos trabalhadores de outras nacionalidades. Nos anos de 1980 houve mais saída que entrada, os
altos índices de inflação deixaram apenas 81.290 espanhóis no país. A
queda continuou na década seguinte e na posterior: 47.047 e 35.809
residentes respectivamente. A crise econômica enfrentada a partir de
2008 elevou a média para 60 mil.
Também segundo o IBGE, as principais cidades escolhidas no início
do século XX, período de imigração mais massiva, foram Santos, Rio de
Janeiro e Salvador. No Rio, os galegos representavam a maioria dos imigrantes espanhóis. A afinidade ética, linguística e cultural com os
portugueses foi o motivo que se atribuiu à presença massiva do grupo na
cidade. Trabalharam em atividades não qualificadas, em profissões tais
como estivadores e ensacadores de café, em bares, tavernas, botequins,
pensões ou no comércio ambulante. As moradias na maioria das vezes
eram os cortiços, os mesmos do segmento mais pobre da população. As
caixas de socorros mútuos foram outra opção de habitação e ajuda. O
objetivo era oferecer auxílio médico, financeiro e jurídico. No Brasil são
exemplos o Grêmio Espanhol de Socorros Mútuos em Minas Gerais e a
Casa de España de São Paulo, fundada em 1898.
A necessidade do “olhar para fora” (CONDE, 2010) é algo que se expressa em várias formas: o morador pobre olha para fora porque quer
tentar uma vida melhor em outro país, os políticos também, pois já são
muitos emigrantes e é preciso enxergar os que sobram como um novo
nicho de eleitores que configuram o retrato de uma comunidade que não
comporta seus cidadãos. Por último, estão os parentes e amigos, sempre a
mirar o horizonte, esperando a volta daqueles que estão fora de seu país.
Segundo a estudiosa Ana Paula Conde (2010) 1, a Galícia é parte da
Espanha, mas suas fronteiras são seus imigrantes e descendentes. Existe
1
Jornalista, mestre em ciência política pela Universidade Federal Fluminense (UFF), doutora em História, Política e
Bens Culturais do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio
160 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
uma tradição imigratória que acaba por divulgar a cultura galega pelo
mundo. Principalmente depois que a Espanha passou a ser parte da União Europeia e sinônimo de país desenvolvido. O orgulho fez com que os
galegos não se escondessem e propagassem sua região e cultura de forma
mais ativa. Igualmente importantes foram o barateamento dos transportes e a evolução dos meios de comunicação, que fizeram com que os
emigrantes se mantivessem atualizados com suas origens.
A questão regionalista é forte em toda a Espanha. Na Galícia não é
diferente. A começar pela língua, ser galego é algo muito próprio diante
de toda a Espanha. O idioma galego, bastante próximo ao português, não
identifica os moradores da Galícia à Espanha. Por isso muitas vezes é um
motivo de distinção social negativa.
O que é ser galego? No nordeste brasileiro, galego é aquele que possui pele e cabelos claros, mas o termo não é tão usual assim no resto do
país. Antigamente, e segundo Érica Sarmiento (2006, p. 44-47), galegos
eram também os portugueses, numa forma pejorativa de homogeneizar
povos de cultura e língua muito próximas. Esse muito provavelmente é o
motivo pelo qual a cultura galega não está muito clara no imaginário
brasileiro, apesar da forte presença desse povo no país. Camuflados entre
os portugueses, acabaram não sendo reconhecidos em suas diferenças.
A gaita galega e o Camiño de Santiago são alguns dos marcos da cultura da Galícia. A morriña, de acordo com Fernando Iglesias 2, é um
sentimento muito parecido com a nossa palavra saudade, só que no caso
deles está exclusivamente relacionada à terra natal. Alguns centros fazem
questão de garantir a perpetuação da cultura espanhola, como a Casa de
Espanha do Rio de Janeiro, fusão entre o Centro Espanhol de Rio de Janeiro e a Casa de Galícia. O dia da hispanidade também oferece um memorial
anual e apresentações que exploram o que a Espanha tem de típico. Nada
disso, entretanto, possui grande expressividade no cenário nacional.
Vargas e professora do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio).
2
Entrevista concedida à autora Beatriz Araújo, no dia 14 de março de 2014.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 161
Na análise das duas grandes levas de espanhóis que recebemos, ou seja, entre o emigrante do início do século XX e o do XXI, há muita história.
Por isso, um importante paralelo se faz necessário quando a comparação
inevitável com os novos imigrantes espanhóis surge. Ambas as levas são
atraídas por condições melhores de vida. Os povos galegos de meados do
século XX vinham de uma vida simples e repleta de dificuldades, o que os
fazia ansiar por uma vida melhor, ambientada por automóveis e objetos
modernos. Os imigrantes do século XXI vêm para recuperar a boa vida. A
aposta partiu não só dos trabalhadores, como também das grandes empresas, que acuadas na economia europeia, passaram a enviar seus executivos
para a América Latina e a destinar uma maior parte dos recursos às filiais
brasileiras. Dentre elas estão a Telefónica, do setor de comunicação; Santander, do setor financeiro; e Iberdrola, do ramo da eletricidade. Antes
disso, na década de 1990 as relações entre as duas nações começaram a se
estreitar no ramo dos negócios. A economista Zilneide Ferreira (2012) faz
referência ao período:
Até o final da década de 1970 a Espanha era um país agrícola, com baixos índices de desenvolvimento. As relações Brasil-Espanha se caracterizavam por
mútua irrelevância. A partir de então, a Espanha passou por profunda modernização e as relações entre estes dois países foram ganhando
instrumentalidade [...] De fato, a partir de 1995, coincidindo com as transformações introduzidas pelo Plano Real e pelo Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado (Plano Diretor) no Brasil e com o processo de internacionalização das empresas espanholas, houve maior aproximação e dinamismo
nas relações hispano-brasileiras (FERREIRA, 2012, s/p).
Os espanhóis correspondem ao terceiro grupo de maior imigração
para o Brasil, atrás apenas de Portugal e Itália, respectivamente. Esse
dado reforça a importância da cultura hispânica na mistura de comunidades que compõem o povo brasileiro.
162 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
8.2. Mapeamento
Amigos en Brasil
(http://amigosenbrasil.com/)
Figura 96 – Amigos en Brasil
Amigos en Brasil é um fórum criado por Fernando Iglesias, imigrante espanhol da Galícia e que atualmente mora em Balneário Camboriú,
Santa Catarina. Como muitos outros europeus, veio para o Brasil depois
que a crise econômica mundial atingiu a Espanha, em 2008. Segundo ele,
o processo de criação do site durou dois anos. Fernando pesquisou sobre
as leis de imigração brasileiras e sobre assuntos que poderiam ser interessantes para estrangeiros com planos de emigração. O projeto é
exclusivamente voluntário, envolvendo apenas a boa vontade do espanhol. Fernando e a esposa, brasileira, que durante nove anos morou na
Galícia, hoje experimentam a morriña, uma palavra galega que envolve o
apego à terra e às tradições da região. Da mesma forma, o blog, que também conta com um fórum, uma página no Facebook e um grupo, ajuda a
transformar esse mesmo sentimento coletivo em solidariedade ao novo
imigrante.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 163
Caballeros de Santiago
(https://www.caballeros.com.br/)
Figura 97 – Caballeros de Santiago
A Associação Cultural Caballeros de Santiago foi fundada em 22 de
novembro de 1960 por um grupo de imigrantes espanhóis da Galícia
interessados em divulgar a cultura e a língua espanhola para a população
de Salvador. Além do espanhol, o contato com as tradições galegas na
Associação está ligados à música, à dança, aos filmes, ao artesanato e à
também culinária. Desta forma, a maioria das publicações do blog tem a
ver com a divulgação dos cursos oferecidos, bem como dos eventos realizados. Informações sobre o funcionamento do lugar também foram
encontradas. As principais comemorações espanholas são comemoradas
entre os associados no salão de festas da Caballeros de Santiago. Além
disso, a Biblioteca possui um acervo de cerca de 7.000 exemplares, CDs e
DVDs, além de receber periodicamente jornais e revistas vindos diretamente da Espanha. Existe um setor de cultura galega, que dispõe das
mais variadas informações sobre a Galícia, sua cultura e seu idioma, o
galego.
164 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Cámara Oficial Española de Comercio en Brasil
(http://www.camaraespanhola.org.br/)
Figura 98 – Cámara Española de Comercio em Brasil
A Cámara Oficial Española de Comercio en Brasil é uma associação
sem fins lucrativos com quase 300 integrantes que atua há mais de 50
anos na promoção das relações econômicas e comerciais entre Espanha e
Brasil. No portal da entidade, é possível informar-se sobre os dois países.
Há notícias sobre comércio, indústria, economia, leis que interfiram em
suas relações etc. Dentre os serviços disponíveis estão: acompanhamento
e abertura de empresas, busca de importadores e parceiros comerciais,
informações sobre visto, comércio exterior e estudos setoriais. A Cámara
também contribui para a divulgação das empresas por meio de suas
publicações e veículos de comunicação internos, além de disponibilizar l
istagens de empresas associadas e espanholas instaladas no Brasil. A
Cámara Española faz parte da rede internacional de 38 Câmaras de Comercio Espanholas no Exterior (CAMACOES), as quais se relacionam
com o Conselho Superior de Câmaras da Espanha.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 165
Casa de Espanha
(http://www.casadeespanha.com.br/)
Figura 99 – Casa de Espanha
A Casa de Espanha do Rio de Janeiro foi fundada em 27 de março de
1983. O portal é basicamente um site de divulgação do clube. Há informações principalmente sobre gastronomia espanhola, cursos de
espanhol, eventos no salão de festas do clube e notícias. No período de
análise da página (setembro de 2014), foi encontrada uma notícia sobre o
Caminho de Santiago, algo frequentemente associado à cultura do país.
Não há interação entre associados no site. Há apenas a divulgação dos
encontros pessoais que acontecem no clube. Nesse caso, a função da Web
é trazer o conhecimento para galegos, espanhóis, brasileiros e demais
interessados acerca da Casa de Espanha e atraí-los para a cultura espanhola no espaço físico.
166 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Centro Espanhol de Santos
(http://www.cesantos.com.br/)
Figura 100 – Centro Espanhol de Santos
O Centro Espanhol de Santos é mais um exemplo de clube. Sua origem é bem antiga e está associada à Sociedade Española de Repatriación
de Santos. Como em qualquer “clube”, havia uma mensalidade e casos
como os de espanhóis que solicitavam repatriação. Mais tarde, com a
epidemia de febre amarela em 1918, o espaço transformou-se em um
hospital. Suas instalações foram oferecidas às autoridades sanitárias, que
implantaram leitos no salão de bilhar, no teatro, no salão nobre e na
secretaria. Durante 15 dias, ali ficaram internados 128 enfermos. Antes
disso, em 1916, o Centro Espanhol já havia servido de abrigo para os
sobreviventes do naufrágio do vapor Príncipe de Astúrias, que afundou
na Ponta do Boi, no dia 4 de março de 1916. Atualmente, a associação é
composta por grupos folclóricos, uma biblioteca, cursos, salões de festas
e até um colégio, chamado Alfonso X. As notícias veiculadas no portal
incluem apenas informações sobre o clube, como a abertura de novas
turmas para os cursos ofertados, por exemplo.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 167
Españoles en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/espanolesenbrasiloficial/?fref=ts)
Figura 101 – Españoles en Brasil
O grupo do Facebook Españoles en Brasil possui aproximadamente
quatro mil membros (dado de agosto de 2014) e foi criado para que imigrantes espanhóis possam compartilhar informações e experiências
sobre o país. Dentre as postagens há todo tipo de assunto, desde informações sobre vistos e documentos, passando por notícias que de alguma
maneira envolvem os dois países até a divulgação de objetos à venda. De
uma forma geral, o grupo trata bastante de assuntos polêmicos e políticos. Uma das postagens que se destaca, por exemplo, é uma que faz
duras críticas ao sistema de saúde no Brasil. Seu administrador é Fernando Iglesias, espanhol engajado, responsável por diversos espaços de
informação e discussão entre imigrantes. Dentre eles está o
www.amigosenbrasil.com.br.
168 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Expatriado en Brasil
(www.expartiadosenbrasil.com.es)
Figura 102 – Expatriados en Brasil
O blog Expatriado en Brasil é mais uma página de responsabilidade
de Fernando Iglesias. Ainda que com menos conteúdo que o fórum, o site
possui um formato mais amigável. Por outro lado, sem a categorização
não fica tão fácil encontrar postagens sobre um determinado assunto.
Em comparação ao grupo no Facebook, é perceptível que o teor crítico
seja bastante inferior ou nulo. O caráter positivo fica ainda mais claro no
texto sobre Balneário Camboriú, lugar para onde mudou-se com a esposa
há alguns anos. Dentre os sites analisados, este provavelmente é o de
maior utilidade ao imigrante no Brasil ou àquele que planeja sua vinda.
Há dicas sobre o envio de comida e de dinheiro, além de esclarecimentos
sobre a documentação necessária para a empreitada migratória.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 169
Galegos en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/gallegosenbrasil/?fref=ts)
Figura 103 – Galegos en Brasil
Galegos en Brasil é mais um grupo do Facebook voltado para imigrantes. Nesse caso em específico, as postagens e as discussões são
direcionadas para a parcela do povo galego que emigrou para o país. Os
temas expostos são geralmente leves, tendo mais a ver com humor e
curiosidades. Em todos os sites e entrevistas analisados fica claro que a
Galicia é lembrada de uma forma muito positiva e nostálgica por parte
dos galegos. Todos parecem compartilhar da morriña, inclusive brasileiros que por algum tempo moraram por lá. Alguns dos assuntos
observados foram: a presença de jovens galegos ao redor do mundo,
opiniões diversas sobre o Rio de Janeiro, imagens da Galícia, vídeos de
humor e a presença de centros galegos no Brasil.
170 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Grêmio Espanhol
(http://www.gremioespanhol.com.br)
Figura 104 – Grêmio Espanhol
A história do Grêmio Espanhol de Belo Horizonte está muito ligada à
primeira grande leva de espanhóis a desembarcar no Brasil. No início do
século XX, pouco tempo depois da abolição da escravidão, muitos europeus vieram ao país para trabalhar. Dos espanhóis, a maior parte migrou
para cá vindo da Galícia. Talvez por isso, o sentimento da morriña tenha
movido aqueles imigrantes para a construção de um pedaço da cultura
galega em suas novas terras. O portal na internet contém notícias em
espanhol e em português, sendo o único site analisado a mesclar as duas
línguas. Também há informações sobre pedido de cidadania e sobre como tornar-se sócio do Grêmio. O Caminho de Santiago aparece
novamente e reforça a importância da jornada para a cultura da Espanha. Outros traços tradicionais também são representados, como por
exemplo a gastronomia, a dança e a língua.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 171
Quilombo Noroeste
(http://quilombonoroeste.wordpress.com)
Figura 105 – Quilombo Noroeste
O blog Quilombo Noroeste se autodefine como um “Espazo para a
cultura galega no Rio de Janeiro”. Ou seja, já de cara atrai a atenção por
utilizar o idioma galego em sua descrição. O autor, Denis Vicente, conta
que a intenção é difundir o conhecimento da relação entre Galícia e Rio
de Janeiro. Não apenas as relações linguísticas e culturais, mas também
as diferentes histórias pessoais dos galegos que vivem na cidade carioca.
Dentre as postagens, há muita divulgação sobre eventos que envolvam a
discussão de temas relacionados à Galícia em universidades, como por
exemplo, cursos e palestras. Em uma das oportunidades era anunciada
uma aula na UERJ sobre o Camiño de Santiago. Denis também faz entrevistas e sugere filmes aos leitores.
172 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Diário Liberdade
(http://www.diarioliberdade.org)
Figura 106 – Diário Liberdade
O site Diário Liberdade se autointitula um “portal anticapitalista da
Galiza e os países lusófonos”, aqueles que têm o Português como língua
oficial. São informações sobre diversas regiões do mundo, em sua maioria de cunho político. As notícias estão divididas em tópicos por região:
Galícia, Portugal, Brasil, África/Ásia, América Latina e Mundo. Além
disso, a página também disponibiliza entrevistas, materiais audiovisuais
e quadrinhos. As matérias divulgadas tratam principalmente de temas
polêmicos, como o próprio subtítulo do site adianta. População LGBT,
saúde, educação, racismo, direito nacional e imperialismo são alguns
subtópicos que pontuam bem o objetivo da página. Um exemplo que
merece destaque é o “Batalha de Ideias” da seção Brasil, que em 2014
abordou principalmente as eleições presidenciais. Há textos de ataque ao
Partido Social Democracia Brasileira (PSDB) e de incentivo a candidatos
de partidos mais alternativos, como Mauro Luís Iasi, presidenciável pelo
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Zé Maria, do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificados (PSTU).
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 173
O Patrimônio
(http://www.opatrimonio.org/pt/patrimonio.asp?ver=brasil)
Figura 107 – O Patrimônio
O Patrimônio é um site de candidatura da manifestação oral galegoportuguesa a Patrimônio Imaterial da UNESCO. Segundo a própria página, a tradição oral seria uma manifestação original da cultura de um
povo. Sendo assim, a justificativa dada para a iniciativa expressa que as
regiões do Norte de Portugal e da Galiza conservam, ainda, um conjunto
de práticas sociais e uma tradição oral que, de alguma forma, as individualiza no conjunto das demais regiões portuguesas e espanholas. O
leitor é convidado a participar e a apoiar a candidatura através do fórum,
do chat ou por mensagens. Apesar de ser direcionado à exaltação do
idioma galego-português, o portal disponibiliza a leitura para quatro
idiomas ao todo: Galego, Português de Portugal, Espanhol e Inglês.
174 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Salvador Galega
(http://salvadorgalega.wordpress.com)
Figura 108 – Salvador Galega
Salvador Galega é uma página na internet sobre a cultura galega,
mais especificamente sobre a emigração do povo da Galícia e para Salvador cidade que recebeu muitos espanhóis provenientes dessa região.
Eram pessoas muito pobres e jovens. Uma das histórias contadas trata de
uma criança de 12 anos que veio para o Brasil trabalhar. As jornadas
contabilizavam até 16 horas por dia, e as camas muitas vezes eram sacos
de feijão. Esse menino chegou à Bahia em 1925. Em 1974 comprou o
Hotel Chile, depois o vendeu e abriu o Grande Hotel Da Barra, que atualmente é administrado por seus filhos e netos. Salvador Galega é um
portal criado para homenagear o povo galego emigrante.
8.3. Análise
Foi analisado um total de 10 páginas 3, dentre sites, blogs, fóruns e
grupos no Facebook, totalizando 100 textos. Cada postagem, relacionada
3
Amigos en Brasil, Centro Espanhol de Santos, Grêmio Espanhol, Caballero de Santiago, Espanhol en Brasil,
Quilombo Noroeste, Cámara Oficial Española de Comercio en Brasil, Expatriados en Brasil, Casa de Espanha e
Galegos en Brasil.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 175
ao período de outubro de 2013 a fevereiro de 2014, foi encaixada em uma
das 11 categorias estabelecidas. São elas: 1) projeto de migração; 2) famílias e relações transnacionais; 3) vínculos informativos com o país de
nascimento; 4) consumo e produção cultural; 5) aprendizado do idioma;
6) cidadania jurídica; 7) usos de mídias de migração; 8) companhia e
ócio; 9) participação política; 10) associativismo; e 11) Outros.
A maioria dos temas não seguiu um padrão de assunto e por isso foi
encaixada na categoria “Outros”. Foram 39 neste caso. Muito comum
também foi encontrar um mesmo assunto que pudesse ser identificado
em mais de uma classificação. A publicação sobre os cursos de cultura
hispânica na Casa de Espanha é um exemplo, pois nos protocolos foi
agrupada em “Consumo e produção cultural”, mas ao mesmo tempo
também está intimamente relacionada aos “Vínculos informativos com o
país de nascimento”. A forma livre de Facebook e blogs permite uma
generalidade de conteúdos, por isso 39 postagens sejam definidas na
categoria 11.
Em segundo lugar estão as publicações sobre “companhia e ócio”.
Nas dez páginas analisadas, oito apresentaram postagens sobre a questão. Em seguida vêm “Consumo e produção cultural” (16 postagens),
“Vínculos informativos com o país de nascimento” (9), “Aprendizado do
idioma” (9), “Cidadania jurídica” (7) e “Associativismo” (7). Os outros
temas tiveram participação mais tímida. “Famílias e relações transnacionais” foi marcado três vezes, “Usos de mídias de migração” e
“Participação política” apenas uma. A categoria “Projeto de imigração”
não foi contemplada.
A maioria dos textos foi escrita em português, com exceção dos sites
Câmara Espanhola e Grêmio Espanhol, que disponibilizam algumas notícias em espanhol, e do blog Quilombo Noroeste, que usa o galego em seu
subtítulo “Espazo para a cultura galega no Rio de Janeiro” e em alguns
posts. Nas páginas do Facebook, observamos uma mistura de idiomas,
mas as fontes de discussão quase sempre são acontecimentos brasileiros.
176 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
O Camiño de Santiago foi certamente o lugar de referência na Espanha. Apareceu diversas vezes em muitas das páginas analisadas. Segundo
a crença, a Igreja de Santiago de Compostela, localizada na Galícia, guarda os restos mortais de Tiago, um dos apóstolos de Cristo. Fernando
Iglesias 4, galego que atualmente vive no Brasil, conta um pouco sobre o
percurso e acaba por explicar o porquê de ser tão repetidamente citado
por espanhóis:
Gente de toda a Europa vai até a cidade de Santiago de Compostela. Mas não
vão de carro nem avião, eles vão andando ou de bicicleta. A gente pega uma
sacola com roupa e pode demorar vários meses para chegar. Gente de todo
tipo, ricos, pobres, gente sem emprego, gente em cadeira de rodas etc. Mas
ninguém é diferente quando faz o "Caminho de Santiago". Há caminhos curtos e caminhos muito longos. Há gente que caminha e dorme em albergues
muito econômicos. Há gente desconhecida que se junta pelo caminho com
mais gente e faz amizade, compartilha coisas. Muitas pessoas falam que depois de fazer o caminho, se tornam pessoas diferentes e melhores. O objetivo
de chegar a Santiago de Compostela é purificar a alma.
Alguns grupos de espanhóis/galegos ultrapassam os limites do que
seria uma comunidade de imigrantes que desejam trocar dicas sobre o
novo país e relembrar a terra natal. É o caso da Caballeros de Santiago,
por exemplo, uma associação cultural hispano-galego de organização
bem definida, com presidente, tesoureiros, diretores e secretárias. Dentre
os conveniados estão Petrobrás, Peixe Urbano e AMBEV.
As páginas do Facebook constituem o território mais rico para análises e interpretações variadas. Na página Españoles en Brasil, por
exemplo, os integrantes fizeram duras críticas ao sistema de saúde no
Brasil, exaltaram a superioridade dos hospitais espanhóis e culparam os
brasileiros por escolherem políticos despreparados. O interessante das
redes sociais é que a pessoalidade e o falso anonimato deixam a página
repleta de opinião. Vale destacar também a veiculação de um vídeo de
um pastor evangélico pedindo dízimo. As imagens foram encaradas pelos
4
Entrevista concedida à autora Beatriz Araújo, em 14 de março de 2014.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 177
usuários de forma cômica e mais uma vez os imigrantes se viram superiores diante da cultura brasileira.
8.4. Considerações finais
No caso da presença espanhola no cenário brasileiro, sua importância encontra-se dentro do que foi definido como a identidade nacional, a
mistura entre índio (nativo), branco (europeu) e negro (escravos africanos). Ou seja, uma conjuntura que só foi estabelecida no início do século
XX, quando a massa europeia se juntou às outras etnias já estabelecidas.
Para Lesser (2000), este foi o caminho para uma identidade hifenizada.
Uma população que tem por essência justamente a mestiçagem e as múltiplas combinações entre diferentes povos pode encontrar unidade nas
dessemelhanças (FREIRE, 2006).
A identidade cultural hifenizada se constrói, portanto, através da
montagem de etnias e classes. Quer dizer, quando trabalhadores europeus foram trazidos ao Brasil, a intenção não era apenas “embranquecer”
a população, mas principalmente que entrássemos no hall dos países
desenvolvidos economicamente. Neste caso, o hífen de um hispanobrasileiro estará sempre aparente para que se lembre da heterogeneidade
de sua origem.
O teórico cultural e sociólogo Stuart Hall, que nasceu na Jamaica,
mas viveu e atuou no Reino Unido, falou desse sentimento com conhecimento de causa no livro Da diáspora – Identidades e Mediações
Culturais: “Conheço intimamente os dois lugares, mas não pertenço a
nenhum deles” (2003, p. 415). Eis um dos dilemas do imigrante.
Não é possível sair ileso em meio às trocas culturais (Hall, 2003). As
migrações mantêm a cultura viva e ilimitada, infinita em suas possibilidades de combinações e resultados. No que diz respeito ao povo galego, a
forte identificação com a terra de origem pode ser expressa em um termo
que Hall nomeou de “identidade associativa”, uma forma de elo umbilical
que perdura por gerações. Mas não intacto, no mundo globalizado e di-
178 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
aspórico, tudo é vivo e móvel. “Em suas muitas variantes, a “tradição” e a
“tradução” são combinadas de diversas formas” (2003, p. 75). Na coexistência, de acordo com o "ponto de vista de partida", cada sociedade será
marcada de uma forma distinta. Essas são as características de um mundo intercultural (Canclini, 2005), em que as diversidades étnicas não
apenas convivem entre si (ambiente multicultural), como também se
entrelaçam e promovem mudanças no olhar de ambas, desconstruindo o
que há visto como dado, óbvio ou tipicamente genuíno. Neste contexto, o
global e o local perdem uma fronteira mais evidente. No caso dos galegos, a conexão se dá no sentimento da morriña, ao mesmo tempo em que
a tradição de emigrar os desprende da origem comum.
Em razão dessas novas configurações, novos conceitos surgiram e
tornou-se necessária uma análise do novo quadro. As autoras Nina Glick
Schiller, Linda Basch e Cristina Blanc-Szanton chamaram a coexistência
entre culturas de “transnacionalismo” (1992), um processo que permite o
vínculo entre país de origem e país de acolhimento. Fernando Iglesias,
imigrante espanhol entrevistado para o presente trabalho, vive essa experiência em seus diversos blogs e páginas nas redes sociais, em que se
dedica a informar novos imigrantes espanhóis sobre o modo de vida no
Brasil.
No século XXI, no momento em que as tecnologias de deslocamento
e comunicação atingem o estágio atual, o sentimento nacional de um
imigrante ignora os limites territoriais, mistura as experiências e vira
símbolo do transnacional e do transcultural. Apesar da morriña, o pertencimento de um imigrante torna-se esparso na medida em que cresce o
tempo longe de sua terra natal. Um galego que acumulou anos no Brasil
será sempre visto como estrangeiro, ainda que não seja mais o espanhol
da chegada ao país. Muda o olhar e muda a posição assumida no meio
social, a partir da identificação com as especificidades.
A volta ou a naturalização faz parte do dilema que é ser um imigrante. Por mais que muitas vezes a primeira opção seja a intenção
inicial, no fundo, mesmo sendo uma imigração a trabalho, esta acaba se
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 179
transformando em imigração familiar ou povoamento, na medida em
que os contatos se estreitam e a vivência se intensifica, principalmente
quando neste processo a família viaja como acompanhante. O imigrante
tende a retornar pouco e a ficar de vez no novo país.
A ideia de fazer dinheiro e voltar acaba por não se concretizar, porque na verdade, na aldeia de onde vieram é que estavam só de passagem.
E ainda assim, se voltarem, e quando voltam, continuam a se portar
como imigrantes, pois o país não é mais o mesmo. É-lhes estranho agora
o país de origem, mas também ainda são estranhos para o país de migração. A experiência da emigração provoca transformações e a construção
de novos significados nos dois âmbitos.
9
Webdiáspora Russa e Ucraniana
9.1. Contexto histórico da imigração
A comunidade russa no Brasil se formou durante praticamente um
século de processo imigratório. Anastassia Bytsenko (2006) destaca dados do Memorial do Imigrante (São Paulo): do Império Russo e da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) vieram, de 1870 a 1953,
118.600 imigrantes. Foram direcionados principalmente para Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.
As primeiras vindas massivas destes imigrantes ocorreram a partir
da política brasileira de ocupação de terras, principalmente as do Sul, na
segunda metade do século XIX. Apesar de a Rússia ter alcançado altos
níveis de progresso tecnológico e econômico, o país permanecia agrícola,
com enormes contingentes de camponeses e trabalhadores sem qualificação ocupando terras pouco rentáveis.
De acordo com Guerios (2008), há relatos dos próprios imigrantes
sobre as necessidades financeiras que famílias camponesas passavam na
região. Eles ilustram os motivos pelos quais optaram por migrar para o
Brasil. Miséria, pobreza e dificuldades faziam parte do cotidiano dessa
população. Esses relatos também dão conta de uma busca pela felicidade
reservada por Deus aos povos soviéticos. Foram, então, guiados por propagandas que declaravam incontáveis vantagens de se estabelecerem no
Brasil e pelos subsídios oferecidos para o trabalho nas lavouras.
Cabe ressaltar que esses povos eram provenientes do Império Russo
(1721 – 1917), mas não eram somente de etnia russa. Foram assim classi-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 181
ficados quando se deu sua chegada ao país, mas nessa categoria estavam
incluídos poloneses, ucranianos, alemães e outros grupos étnicos provenientes do Império.
Na literatura e em dados disponíveis na internet são reconhecidos
três principais momentos em que foi notável a taxa de imigração russa
rumo ao Brasil. O primeiro a partir da situação econômica russa e a já
mencionada política brasileira de povoamento; o segundo, após a Revolução Russa de 1917; e o terceiro, após a II Guerra Mundial.
9.2. Mapeamento
Feijoada Tchaikovsky
(http://feijoadatchaikovsky.com.br)
Figura 109 – Feijoada Tchaikovsky
O site Feijoada Tchaikovsky é um blog pessoal da jornalista russa
Sasha Yakovleva que cresceu na Ucrânia e mora no Brasil há aproximadamente cinco anos. Ela conta que a ideia do diário virtual surgiu a partir
de seu projeto anterior, uma página em que enumerava 51 diferenças
entre Brasil e Rússia. Ela usa o espaço para dar sua opinião sobre assuntos relacionados a seu país de origem, como
182 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
costumes, curiosidades, situação política, turismo e música. Entre as
várias postagens, destaca-se uma na qual Sasha conta que foi fazer uma
visita à colônia russa mais tradicional do Brasil, um vilarejo bem afastado, localizado numa cidade do Mato Grosso. A jornalista também
mantém uma página do blog no Facebook, na qual conta experiências
ainda mais pessoais para ilustrar o modo de vida russo. O primeiro post
é datado de 12 de junho de 2013 e o último, de 18 de março de 2014.
Voz da Rússia
(http://portuguese.ruvr.ru/)
Figura 110 – Voz da Rússia
Voz da Rússia é um grande veículo jornalístico com periodicidade
diária que atua no Brasil e em outros países, divulgando notícias tanto da
Rússia quanto de relevância internacional. Originalmente, é uma emissora de rádio russa, existente há 84 anos, e que atualmente transmite o
noticiário em 40 línguas. As editorias são Rússia, Internacional, Economia, Sociedade, Defesa, Ciência e Tecnologia e Mundo Insólito (que trata
sobre acidentes). Há também cinco colunistas no portal, dentre os quais
russos e brasileiros. A maioria das notícias é composta por notas curtas;
o conteúdo escrito pelos colunistas é mais extenso. Há um link no cabeçalho no qual se pode escolher entre opções de leitura em diversas línguas
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 183
(o site é redirecionado a um novo endereço), dentre elas, o próprio russo,
chinês, húngaro, eslovaco, finlandês, vietnamita e até mesmo persa. A
Voz da Rússia tem como projeto o site Diário da Rússia, no qual parece
que a temática do próprio país é mais destacada em detrimento de outras
notícias internacionais. Enquanto o primeiro tem cinco colunistas, o
segundo site apresenta 24, também russos e brasileiros. Não há a opção
de leitura em outro idioma.
Russobras
(http://www.russobras.com.br/)
Figura 111 – Russobras
O projeto do site Russobras foi concebido pelo Centro Científico do
Instituto de Direito e Economia de Moscou e é dedicado a divulgar informações sobre povo, natureza, língua, história, ciência, cultura e
economia russos. Segundo os criadores, o objetivo é desenvolver relações
em nível cultural e não governamental entre as comunidades da Rússia,
Brasil e seus vizinhos. O cabeçalho é uma composição de duas fotos de
monumentos russos e uma do astronauta Yuri Gagarin, primeiro homem
a fazer uma viagem espacial. O layout do site é bastante simples, contando com seis páginas principais (menu de navegação), mas que trazem
dentro delas outros links não listados na página principal (mas listadas
184 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
na seção “Mapa do site”, no rodapé). Há também uma página Russobras
na Rússia, dedicada ao Brasil. Outra questão relevante é o anúncio na
página principal, de que pessoas jurídicas podem solicitar através do site
a divulgação de produtos brasileiros no mercado russo. Não há espaço
dedicado à discussão (fórum ou comentários). O portal existe desde
2009.
Associação Russo Brasileira
(http://www.associacaorussobrasileira.com.br/)
Figura 112 – Associação Russo Brasileira
A ARB (Associação Russo Brasileira) é uma entidade cultural situada
em São Paulo. Em seu site, o grupo se propõe a divulgar informações
sobre cultura e idioma russos, além de eventos promovidos no Brasil pela
comunidade russa em busca de “perpetuar” suas tradições. A página
principal apresenta um grande número de postagens (“Notícias”) que
vão da mais recente (que se refere a um evento ocorrido em São Paulo no
dia 30 de agosto de 2014) às mais antigas. No entanto, elas não são datadas. Pode-se notar que há um mal aproveitamento de praticamente todas
as seções do site, pois o mesmo conta com um menu do lado esquerdo e
um quadro de eventos no direito, mas eles não estão atualizados como a
coluna central (“Notícias”). Ao mesmo tempo em que as atualizações
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 185
trazem diversas fotos junto aos textos, por exemplo, a seção “Arquivo
Fotográfico” não contém sequer uma imagem. O mesmo acontece com os
eventos divulgados: aparecem como postagens, mas não estão organizados no quadro fixo no lado direito, que ainda divulga fatos ocorridos em
2012 e 2013. Não há opção de comentários. No canto superior direito há
um link para o portal Diário da Rússia.
Grupo Volga
(http://www.grupovolga.com.br/ | https://www.facebook.com/grupovo
lga?fref=ts)
Figura113 – Grupo Volga
A Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo situa-se em
São Paulo e foi fundada em 1981, com o objetivo de incluir a comunidade
russa nos eventos culturais paulistas, por meio de atividades de dança e
canto, exposições de artesanato, culinária e atividades esportivas. Além
do portal, o grupo possui página no Facebook. A descrição do Grupo
Volga conta que a Associação é composta por crianças e adolescentes,
ainda que isso venha se tornando mais difícil com o passar dos anos. O
portal conta com um menu lateral no qual algumas seções trazem conteúdos que não têm caráter de atualidade, como curiosidades, datas
importantes na Rússia e endereços de cursos de idiomas e paróquias. A
186 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
seção “Fotos” exibe somente uma mensagem de erro. A página do grupo
no Facebook tem 183 curtidas, até novembro de 2014, e foi criada em
junho do mesmo ano. Na seção de informações, o grupo afirma que sua
missão é “divulgar e preservar a cultura russa no Brasil”. Entre as fotos
publicadas estão algumas do I Seminário Internacional Brasil Rússia:
Migrações no Século XXI e de eventos culturais dos quais o grupo folclórico participou, sendo algumas das suas descrições feitas em português e
em russo.
Curso Russo
(http://www.cursorusso.com.br/ | www.facebook.com/ClubeEslavo)
Figura 114 – Curso Russo
O Curso Russo é o site de um curso do idioma russo com sede em
São Paulo, que conta com professores nativos para o ensino da língua e
também de português para estrangeiros. O site fala sobre a estrutura dos
cursos oferecidos e tem uma seção de blog, na qual há atualizações periódicas relacionadas à cultura, à história e ao idioma da Rússia. O layout
é bastante profissional em relação aos outros, já que se trata de um estabelecimento com fins comerciais. Seu endereço no Facebook leva a um
grupo chamado Clube Eslavo, que conta com mais de 4,2 mil membros.
Também há, na mesma rede social, a página, que possui mais de 2,3 mil
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 187
curtidas. Ao olharmos a descrição dos professores do curso no site, há
tanto aqueles que nasceram na Rússia quanto os que passaram grande
parte da vida em outras repúblicas soviéticas à época da URSS. Por isso,
o nome Clube Eslavo no Facebook (embora a maioria das postagens seja
relacionada à Rússia).
Russia-Brasil
(www.facebook.com/ROSSIYA.BRASIL)
Figura 115 – Russia-Brasil
A página do Facebook intitulada Russia-Brasil existe desde 2011. Segundo a descrição, o objetivo da página é divulgar os interesses da
comunidade russa no Brasil. Destina-se a russos, descendentes e “russófilos”. Em novembro de 2014, tinha pouco mais de 1.150 curtidas, e as
últimas 10 postagens têm uma média de 11 curtidas cada. Nos últimos
meses, quase todas as atualizações são sobre datas importantes para a
história do país. Em seus álbuns, chama atenção a quantidade: mais de
mil imagens e fotos. A Russia-Brasil também administra um grupo de
discussão na rede social, onde compartilha as postagens da própria página e recebe também conteúdo de outros membros. Nesse grupo há pouco
mais de 260 participantes, e as postagens de outros membros acontecem
com bastante regularidade.
188 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Ucranianos no Brasil
(https://www.facebook.com/groups/121467614542628/)
Figura 116 – Ucranianos no Brasil
O que mais chama atenção sobre o grupo público do Facebook
Ucranianos no Brasil é a quantidade de membros: mais 6,5 mil (em novembro de 2014). Sua descrição é bastante extensa, tocando em questões
como quantitativo e localização dos descendentes de ucranianos no Brasil, associações representativas da comunidade, religião e história da
imigração. Entre o conteúdo compartilhado pelos membros estão notícias sobre a Ucrânia, comentários sobre a questão política no país e
eventos — diferente de outros grupos ou páginas, neste grupo são divulgados eventos e encontros promovidos na Ucrânia pelos brasileiros.
Alguns links estão em idioma ucraniano. Ucranianos no Brasil tem sete
administradores.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 189
Folclore Ucraniano Solovey
(www.solovey.com.br | www.facebook.com/FolcloreSolovey/info)
Figura 117 – Solovey
O Folclore Ucraniano Solovey é o site do grupo gaúcho homônimo,
que também possui uma página no Facebook. A estrutura do site é simples, porém limpa e atualizada. O fundo é branco, há uma grande área
para posts e fotos em destaque (slideshow), apresenta um menu superior, uma coluna para últimas notícias, ao lado a agenda e, abaixo, uma
galeria de fotos e outra para vídeos. As fotos e vídeos são de eventos dos
quais o grupo participou. A página do Facebook conta com 526 curtidas.
Os posts se dedicam a divulgar eventos dos quais o grupo de dança participa no Rio Grande do Sul. Há uma seção onde um aplicativo do Youtube
disponibiliza os vídeos de apresentações do grupo.
190 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Rússia e Brasil Cultural
(www.facebook.com/groups/261961070512488/)
Figura 118 – Rússia e Brasil Cultural
O grupo público sobre cultura russa no Facebook intitulado Rússia e
Brasil Cultural tem 1,4 membros (até novembro de 2014). Tem um único
administrador e conta com regras especificadas no post fixado no topo da
página: são proibidas propagandas políticas, e aqueles que querem divulgar cursos de idiomas devem oferecer algum tipo de exclusividade ou
desconto. No entanto, há, sim, pessoas que fizeram propaganda política
ou críticas aos candidatos à presidência do Brasil das eleições de 2014.
Tal fato é curioso, porque nenhuma outra comunidade de discussão como essa no Facebook define regras aos membros, e a propaganda política
só está presente neste, que a proíbe. Além desse tema, estão presentes
outros como campanha a para que a bandeira russa seja incluída no
Monumento aos Pracinhas, críticas à situação entre Israel e Gaza, além de
notícias variadas.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 191
Gazeta Russa
(http://br.rbth.com/)
Figura 119 – Gazeta Russa
O Gazeta Russa é um grande veículo de informação multilíngue que
trata sobre questões culturais, políticas, econômicas e sociais da Rússia. O
site tem a estrutura típica de um portal jornalístico, com editorias como
Política, Internacional, Cultura, Opinião, Ciência e Tecnologia, etc. Além
do português, o portal pode ser acessado em 16 outras línguas. Seu nome
original é Russia Beyond the Headlines, e no Brasil a versão impressa é
um suplemento do jornal Folha de S. Paulo. Na Rússia, é parte de um
jornal estatal, e em outros 12 países circula como suplemento mensal
junto a jornais locais com conteúdo específico para cada público. No Facebook, a Gazeta Russa tem mais de 69,7 mil curtidas (em novembro de
2014) e afirma que pretende manter diálogo direto com os leitores. As
publicações se referem exclusivamente ao conteúdo publicado em seu
portal.
192 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Grupo Folclórico Ucraniano Poltava
(https://www.facebook.com/GrupoPoltava/timeline)
Figura 120 – Poltava
O Grupo Folclórico Ucraniano Poltava é o site do grupo paranaense
de dança e canto ucraniano homônimo, que existe desde 1981 e está no
Facebook desde 2012. A página tem mais de 1,3 mil curtidas e realiza
postagens com regularidade. A maioria das postagens divulga eventos
dos quais o grupo participou ou participará. Fotos das apresentações e
ensaios também são compartilhadas na fanpage. As atualizações têm
uma média de 50 a 100 curtidas.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 193
Blog do Lar São Nicolau
(http://residenciaparaidosos-larsaonicolau.blogspot.com.br/)
Figura 121 – Lar São Nicolau
O Lar São Nicolau é mantido pela Sociedade Filantrópica Paulista. É
uma residência de longa permanência para idosos que foi fundada pela
comunidade russa nos anos 1940. A sede é em São Paulo. Utiliza o blog
desde 2011 para divulgar assuntos de interesse da comunidade no Brasil
e assim preservar essa cultura. Lá pode-se encontrar a divulgação de
eventos folclóricos, de datas comemorativas e textos sobre personalidades de ascendência russa. No cabeçalho está o endereço da instituição,
com dados para a realização de doações.
9.3. Análise
Foi analisado um total de 8 páginas 1, dentre sites, blogs, fóruns e
grupos no Facebook. Cada postagem, relacionada ao período de outubro
de 2013 a fevereiro de 2014, foi encaixada em uma das 11 categorias estabelecidas. São elas: 1) projeto de migração; 2) famílias e relações
transnacionais; 3) vínculos informativos com o país de nascimento; 4)
1
Feijoada Tchaikovsky; Voz da Rússia; Russobras; Associação Russo Brasileira; Ucranianos no Brasil (Facebook);
Gazeta Russa; Grupo Poltava (Facebook) e Blog do Lar São Nicolau.
194 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
consumo e produção cultural; 5) aprendizado do idioma; 6) cidadania
jurídica; 7) usos de mídias de migração; 8) companhia e ócio; 9) participação política; 10) associativismo; e 11) Outros.
Das 90 postagens e textos analisados somando todas as 8 páginas, a
maior parte delas (43) era sobre “Consumo e Produção Cultural”. Em
seguida, as categorias mais expressivas foram “Vínculos Informativos
com o País de Nascimento” (19) e “Outros” (14). As demais categorias
contabilizaram os seguintes textos: “Família e relações transnacionais” e
“Associativismo”, 4 textos cada; “Participação política” 3; “Aprendizado
do idioma” 2; e “Companhia e ócio” 1.
A comunidade russa, como se autodescreve, parece prezar muito por
suas manifestações culturais. Foram encontradas muitas associações de
grupos de dança folclórica russa, assim como outros sites e páginas que
divulgavam suas apresentações em eventos relacionados à Rússia. Segundo
eles, essa é uma maneira de reunir a comunidade e preservar suas raízes
entre os descendentes, já que a imigração russa é muito antiga e os jovens
são uma parte significativa desta população. Páginas como a Associação
Russo Brasileira comprovam essa afirmação: 7 de 12 postagens analisadas
se referem à produção cultural da comunidade russa, dividindo-se em
convites para eventos e coberturas daqueles que já aconteceram.
As categorias “Projeto de Migração”, “Cidadania Jurídica” e “Usos de
Mídias de Migração” não foram contempladas nos canais de comunicação
destes grupos. Como já foi citado anteriormente, o fluxo imigratório de
russos e ucranianos ao Brasil se deu especialmente em finais do século
XIX. Essas comunidades, algumas vezes conhecidas como “colônias”, já
estabeleceram moradia no país desde 1870, constituindo família, associações e uma considerável linhagem de descendência. Acredita-se que é por
essa razão que não seja tão expressiva a existência de canais informativos
sobre cidadania jurídica, projeto de migração e mídias de migração.
Um aspecto notável entre os conteúdos investigados – com exceção
dos dois veículos jornalísticos – é a intenção de ilustrar os costumes e o
modo de vida na Rússia. A tentativa de mostrar aspectos sobre o país e
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 195
sua sociedade é uma constante. Um caso que exemplifica essa situação é
o blog Feijoada Tchaikovsky. A criadora do site, na maior parte das postagens analisadas (6 de 10), falava sobre a cultura da Rússia e da Ucrânia
para mostrar aos brasileiros o que consome, produz e pensa a população
desses países.
No final do ano de 2013 e no início de 2014, ocasião em que os conflitos entre Rússia e Ucrânia estavam acirrados, pode-se perceber a
comoção que a comunidade ucraniana desenvolveu em torno do assunto.
No grupo Ucranianos no Brasil, no Facebook, as questões políticas eram
pontos frequentemente abordados, somente dando-se intervalo às discussões e homenagens na época do Natal e do Ano Novo. Novamente,
manifestações culturais, como cânticos tradicionais, eram compartilhadas como manifestação de apoio à população residente na Ucrânia.
9.4. Considerações finais
A pesquisa envolvendo russos e ucranianos ocorreu em um momento complicado no que se refere às relações entre os dois países. A decisão
de aproximar a Ucrânia da Rússia, ao invés de assinar um acordo com a
União Europeia, deflagrou um intenso conflito na Ucrânia. Em fevereiro
de 2014, houve um derramamento de sangue e o então presidente Viktor
Yanukovych foi destituído. A população, dividida entre pró-russos e próUE, tenta sobreviver a ataques de todos os lados, com militantes armados
e força do Exército. Na Criméia, um referendo decidiu que a região pertence à Rússia, agravando ainda mais a situação e mantendo um
desfecho cada vez mais distante. Numa situação de conflito, acaba aumentando índices de emigração e mesmo de pedidos de refúgio.
Tal situação, como não poderia deixar de ser, apareceu em todo material analisado, revelando que a Webdiáspora pode ser uma plataforma
da representação da realidade e/ou mesmo da identidade cultural envolvida. Estas, por sua vez, estão apoiadas na concepção binária de
diferença, conforme nos explica Hall (2003, p. 33):
196 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
[Representação e identidade estão fundados] sobre a construção de uma
fronteira de exclusão e depende[m] da construção de um ‘Outro’ e de uma
oposição rígida entre o dentro e o fora. Porém, as configurações sincretizadas
da identidade cultural requerem a noção derridiana de différance – uma diferença que não funciona através de binarismos, fronteiras veladas que não
separaram finalmente, mas são também places de passage, e significados que
são posicionais e relacionais, sempre em deslize ao longo de um espectro sem
começo nem fim. A diferença, sabemos, é essencial ao significado, e o significado é crucial à cultura.
Outra percepção de destaque é que, uma vez superadas as dificuldades do processo imigratório, o interculturalismo de Canclini (2005)
aparece de maneira quase que natural, apesar de estarmos falando de
culturas tão distantes em relação à brasileira, como a russa e a ucraniana. O próprio título do blog da jornalista russa Sasha Yakovleva, Feijoada
Tchaikovsky, ilustra que tal situação ganha relevância em “circuitos globais, superando fronteiras, tornando porosas as barreiras nacionais ou
étnicas e fazendo com que cada grupo possa abastecer-se de repertórios
culturais diferentes (...), numa reelaboração intercultural do sentido de
práticas culturais” (CANCLINI, 2005, p. 43)”.
Por fim, conforme lembram Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992) –
ao proporem o conceito de transnacionalismo, vale ressaltar que, com
práticas e conceitos elaborados dentro do país de origem, os migrantes
transnacionais inserem-se em atividades complexas através das fronteiras
nacionais que potencialmente moldam e transformam suas identidades,
sendo necessária uma análise adequada para se compreender esse fenômeno e suas implicações. Para analisar o transnacionalismo é preciso
observar as forças econômicas que conduzem os fluxos migratórios internacionais e localizar as repostas que os migrantes dão a essas forças, bem
como entender suas estratégias de sobrevivência, práticas culturais e identidades no contexto da desigualdade, que é histórica no mundo.
10
Webdiáspora Árabe
10.1. Contexto histórico da imigração 1
A imigração de libaneses e sírios para o Brasil começa a crescer às
vésperas do século 20, vindo a atingir seu auge mesmo antes do início da
Primeira Guerra Mundial. Segundo o historiador e sociólogo Osvaldo
Truzzi (1997), o ano de 1913, por exemplo, registra a entrada de 11.101
imigrantes árabes. No entanto, é necessário ressaltar que a presença da
cultura árabe em todo o continente americano antecede, em vários aspectos, a imigração inaugurada ao final do século XIX, assim como
ressalta a grande maioria dos pesquisadores do tema.
Por meio de vínculos religiosos ela já se mostrava presente, com a
presença desde o século XVIII dos africanos mulçumanos malês na Bahia
escrava. Pode-se também afirmar que desde o início da chegada dos portugueses e espanhóis (principalmente no Sul), a cultura árabe já estaria
presente, manifestada na língua (muitas palavras no idioma português
derivam do árabe), na culinária, na arquitetura, nas técnicas agrícolas e
de irrigação, na medicina, na música etc. Tal fato se dá porque os árabes
dominaram, por quase oito séculos, a Península Ibérica, marcando culturalmente nossos colonizadores. Segundo o antropólogo norte-americano
John Tofik Karan (2005), “significativamente Granada, o último reduto
árabe em solo europeu, foi conquistada pelos cristãos em 1492, no mesmo ano em que Colombo chegava à América” (2005, p. 65).
1
Colaborou neste capítulo Guilherme Curi, doutorando em Comunicação Social na Escola de Comunicação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ).
198 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
De acordo com Truzzi (2008), ao final do século XIX, muitos navios
do oriente aportaram nos portos de Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Rio
Grande (RS) com indivíduos que buscavam refazer suas vidas longe do
Império Turco-Otomano. Mais precisamente, a principal época de entrada de sírio-libaneses no Brasil se deu na metade do século XIX, por volta
de 1880, quatro anos após a visita de D. Pedro II ao Líbano. Essa foi considerada a grande onda migratória daquela região, composta
principalmente por cristãos que buscavam maior liberdade de império
regido por leis mulçumanas.
Alguns autores, como Amorim (2010), afirmam que a grande maioria dos sírio-libaneses que vieram para cá enfrentavam uma difícil
situação econômica, política e religiosa em seus países de origem. Segundo a pesquisadora, em 1861 houve uma grande perseguição de libaneses
cristãos, fazendo com que muitos destes migrassem. No entanto, Truzzi
(2008) ressalta que há certa construção mítica em torno das perseguições que os cristãos sofriam na Grande Síria, algo até mesmo forjado por
políticos árabes na América que defendiam o Líbano sobre protetorado
francês, principalmente após o fim da Primeira Guerra Mundial. O autor
defende que os cristãos emigraram em maior número devido, também,
ao fato desta comunidade possuir uma mentalidade mais progressista e
menos apegada ao solo do que os mulçumanos. Ainda segundo Truzzi, é
possível concluir que, basicamente, a união de fatores econômicos, demográficos e políticos desencadearam a onda migratória na grande Síria
(Cham) – nome dado à região onde estão hoje os países Síria e Líbano
(2008, p. 26). O que justifica a escolha por usarmos a hifenização para
caracterizarmos a imigração sírio-libanesa no Brasil na primeira metade
do século passado, mesmo sabendo da existência de diferenças entre
ambas as culturas.
Outra questão a ser ressaltada sobre o início da imigração árabe no
Brasil é o fato de que os primeiros imigrantes sírio-libaneses se empregaram como colonos. No entanto, como a maioria deles possuía certa
facilidade para o comércio, logo começaram a se deslocar para os centros
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 199
urbanos mais próximos. E, a partir da acumulação de capital por meio da
mascateação (prática de vender produtos manufaturados nas ruas que
fez com que circulassem por todo o Brasil), os imigrantes também passaram a estabelecer locais fixos para comercialização, geralmente no ramo
de secos e molhados e de vestuário, principalmente tecidos. Amorim
(2010) observa que a imigração sírio-libanesa foi principalmente urbana,
composta em sua maioria por solteiros do sexo masculino.
Os que aqui chegavam eram chamados de turcos por possuírem
passaporte do império turco-otomano. Truzzi aponta que “todas as estatísticas a respeito são imprecisas, pois foram registrados como turcos,
turco-árabes, turco-asiáticos, sírios ou libaneses” (2008, p. 45). Tal forma de identificação causava um grande desconforto em praticamente
toda a comunidade migrante sírio-libaneses pelo fato de justamente tentarem escapar de algo que os oprimia e os estigmatizava - um dos fatores
chaves para a compreensão da reconstrução identitária dos imigrantes
sírio-libaneses no Brasil.
Já a partir de 1970, outro fator político contribui para vinda de migrantes árabes para o Brasil: a guerra civil libanesa. Truzzi (2008)
ressalta que o conflito foi marcado por batalhas de várias correntes políticas e religiosas entre cristãos maronitas e muçulmanos. Ao contrário do
que havia acontecido anteriormente, em 1976, um massacre de mil pessoas pelas forças cristãs causou um grande êxodo do país de
mulçumanos.
Já a Síria, desde 2011 vive uma intensa guerra civil devido às disputas étnicas e religiosas entre as forças leiais e contrárias (Coalizão
Nacional) ao governo de Bashar Al–Assad na região. O Líbano, por sua
vez, desfrutou ao longo dos últimos anos de alguns períodos de prosperidade e paz, porém, marcados por bruscas interrupções como a guerra
civil entre os anos de 1975 a 1990 e também, recentemente, em 2006, o
conflito bélico entre Israel e o grupo rebelde mulçumano Hezbollah.
Atualmente, de acordo com dados publicados pelo controle de imigração do governo brasileiro, até o ano passado havia cerca de 15 mil
200 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
imigrantes libaneses permanentes no Brasil, enquanto o número de sírios seria de 314.92. Outro dado importante é a crescente taxa de
refugiados sírios desde o início dos conflitos, que aumentou significativamente.
Passado mais de um século, por não haver dados oficiais, o número
total de descendentes de sírio-libaneses é uma estimativa. Calcula-se que
hoje vivam no Brasil em torno de sete milhões de pessoas, o maior número de descendentes de imigrantes da Síria e do Líbano no mundo. Só
no Estado de São Paulo cogita-se existir em torno 500 mil descendentes.
10.2. Mapeamento
Somos Arabes Livres
(https://www.facebook.com/groups/337929629722849/)
Figura 122 – Somos Arabes Livres
Somos Arabes Livres é um grupo fechado que faz parte do Facebook,
possuindo 82 membros (em dezembro de 2014). Apesar de ser fechado,
são aceitos não apenas árabes ou seus descendentes, mas também simpatizantes da cultura. O grupo tem a proposta de reunir árabes que moram
2
http://oestrangeiro.org/
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 201
principalmente no Brasil e que se comunicam por meio do idioma português. Todos os membros podem postar vídeos, textos e imagens, além de
poderem se expressar através das curtidas e dos comentários, não havendo assim uma hierarquia na comunidade. As postagens variam entre
mensagens de motivação, vídeos aleatórios que não necessariamente têm
a ver com o mundo árabe (vídeos engraçados de animais, por exemplo),
postagens de caráter político (notícias do Oriente Médio, fotos de indignação com a corrupção no Brasil etc.), fotos de crianças e mulheres
árabes, fotos de comidas típicas árabes e vídeos que compartilham alguma tradição, como músicas árabes.
Portal da Comunidade Árabe
(http://www.portaldacomunidadearabe.jex.com.br/)
Figura 123 – Portal da Comunidade Árabe
O site Portal da comunidade árabe é um jornal voltado para os árabes que vivem no Brasil. Seu conteúdo é produzido em língua
portuguesa. Foi criado em 18 de junho de 2014. Possui 9 sessões, sendo
elas: Arábia Saudita, Brasil e Mundo Árabe, Culinária, Cultura e Música,
Líbano, Marrocos, Oriente Médio e Golfo, além de Portal Árabe – Saúde.
Já foram publicadas (até dezembro de 2014) 53 notícias. O jornal Virtual
busca informar seus leitores sobre os principais acontecimentos que se
passam no mundo árabe, além de aproximá-los com a cultura árabe,
202 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
como por exemplo em postagens de receitas que fazem parte da culinária
típica e na divulgação de artistas árabes. Na sessão “Brasil e Mundo Árabe” há uma predominância de notícias políticas, enfocando, por exemplo,
a questão das eleições e como elas se refletiram nos países árabes.
ARAB 4EVER
(https://www.facebook.com/groups/170940573111700/)
Figura 124 – ARAB 4EVER
ARAB 4EVER corresponde a um grupo fechado do Facebook, possuindo 2.245 membros (até dezembro de 2014). É voltado para a
comunidade árabe. A maioria de suas postagens é em português, contendo algumas em árabe e outras (raras) em inglês. Nas postagens,
predominam mensagens de motivação, vídeos de músicas árabes, notícias ligadas à tradição do mundo árabe, mensagens religiosas –
principalmente vindo do livro Jardim dos Virtuosos – , fotos de crianças
(em trajes árabes), fotos de doces e comidas típicas da culinária árabe e
fotos de paisagens e lugares, principalmente de países árabes. Seu conteúdo é diverso. O curioso é perceber que as postagens de cunho de
entretenimento são as que causam mais reação: recebem mais curtidas e
são as postagens mais comentadas. Dois exemplos disso são, primeiramente, um vídeo de comédia em árabe, que recebeu 13 curtidas e 11
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 203
comentários; outro foi uma postagem em que o membro pedia para os
outros adivinharem qual era a planta na foto, alegando que quem acertasse ganharia um milhão de reais. Essa postagem recebeu 34 curtidas e
34 comentários. Postagens de comida típica e lugares de fácil reconhecimento pela comunidade árabe também fazem parte das que mais
repercutem.
Árabes no Brasil e no mundo
(https://www.facebook.com/arabesnobrasil?fref=ts)
Figura 125 – Árabes no Brasil e no mundo
Árabes no Brasil e no mundo é uma página/comunidade no Facebook, que até dezembro de 2014 contabilizava 399 curtidas. Suas principais
postagens são fotos de lugares em países árabes, de imagens que fazem
referência a eles. Uma foto de uma bandeira do Líbano no topo do monte
Everest, ou então uma simples fotografia de uma caneca escrito “Lebanon” e o país de fundo, por exemplo, mostram essa ligação com o país
árabe que a página se preocupa em compartilhar. Outros lugares, como a
Palestina, cidades do Egito e Dubai, também são destaques na página.
Fotos de lugares turísticos e belos que estão atrelados à cultura árabe e a
divulgação de personalidades e artistas árabes são os conteúdos predominantes da página. Aparece, por exemplo, uma foto de Georgina Rizk, a
204 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
primeira mulher do Oriente Médio a ganhar o título de Miss Universo, e
outra foto do poeta, pintor e escritor Gibran Khalil Gibran, um árabe
libanês.
Somos Árabes
(https://www.facebook.com/groups/218225451556192/)
Figura 126 – Grupo Somos Árabes
“Comunidade voltada para os árabes e seus descendentes e todos
que gostarem do nosso povo, que sem falsa modéstia e um povo maravilhoso”. Tal frase é a descrição do grupo fechado Somos Árabes no
Facebook. Possuindo 12.828 membros (até dezembro de 2014), trata-se
de um grupo com conteúdos bem diversos, devido à grande quantidade
de participantes. A maioria das postagens se encontra no idioma português. Na página há postagens como por exemplo o vídeo de uma menina
dançando dança do ventre, passando por mensagens motivacionais e
divulgando outras com caráter político. Um fato interessante foi a iniciativa de criar um amigo oculto à distância. Os membros participantes da
brincadeira recebiam um e-mail dizendo quem era o amigo oculto e qual
presente ele escolheu, e em seguida mandava o presente pelos correios
para o sorteado. Para completar a brincadeira, quem recebia o presente
deveria tirar uma foto com ele e postar no grupo, agradecendo. No caso,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 205
uma das participantes tirou uma foto com seu presente, um forno elétrico. Outras postagens que se destacam também são as ligadas à culinária
árabe. Mais uma característica importante encontrada nesse grupo é o
cuidado da moderação com postagens de cunho religioso. “ATENÇÃO:
Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem
um povo ou uma religião como superiores serão apagados. Tampouco
ataques entre leitores”. Tal aviso também se encontra na descrição do
grupo.
Presença Árabe no Brasil
(https://www.facebook.com/presencaarabe?fref=ts)
Figura 127 – Presença Árabe no Brasil
Presença Árabe no Brasil corresponde a uma página/comunidade no
Facebook, com 8.508 curtidas (até dezembro de 2014). Com a maioria
das postagens em português, o conteúdo da página é variado, porém,
sempre relacionado ao mundo árabe. A página foi fundada em 2011, e faz
parte de uma pesquisa de doutorado que busca investigar a presença de
árabes no território brasileiro. Para isso, o idealizador pede para quem
quiser contribuir enviar até três fotos que expressem essa presença. Voltando ao conteúdo da comunidade, percebemos nos álbuns de fotos uma
grande quantidade de elementos artísticos e tradicionais da cultura ára-
206 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
be: culinária típica, exposições vinculadas a artistas árabes, indicações de
filmes, documentários e séries que se passam em uma atmosfera árabe,
lugares no Brasil que foram construídos ou inspirados nos árabes etc. A
página conta com dicas musicais, homenagens a artistas árabes, notícias
políticas, vídeos de árabes realizando tradições (dançando alguma música
típica, por exemplo), dicas de eventos (foi vinculado na página o evento
da I Semana e Fórum da Solidariedade ao Povo Palestino, em São Paulo),
além de ser uma plataforma que permite que outras pessoas publiquem
postagens sobre a presença árabe no país.
Icarabe
(http://www.icarabe.org/)
Figura 128 – Icarabe
“O Instituto da Cultura Árabe, baseado em São Paulo, Brasil, é uma
entidade civil, autônoma, laica, de caráter científico e cultural. Visa integrar, estudar e promover as várias formas de expressão da cultura árabe,
antigas e contemporâneas, e encorajar o reconhecimento de sua presença
na sociedade brasileira. Está aberto à participação de todos os que acreditam ser premente assegurar o respeito às diferenças”. Tal trecho foi
retirado da apresentação do site Icarabe, que, na verdade, também possui
como função uma comunicação com o Instituto. O site divulga, por
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 207
exemplo, como o indivíduo pode se associar ao Instituto, virando sócio
(existe mais de um tipo de sócio). A página também é rica em conteúdo,
possuindo diversas sessões, entre elas: artes visuais, cadernos ICArabe,
ciência, cinema e teatro, ICArabe na mídia, dança e música, educação,
gastronomia, geral, história, imigração, literatura, mídia, mulher, palestras e debates, política e sociedade e religião, além de publicações de
artigos, entrevistas, um álbum de fotos e enquetes. Na parte de imigração, que nos interessa aqui, o site divulga informações e eventos que
podem ser de grande interesse para os imigrantes. Um exemplo foi a
divulgação de um curso gratuito oferecidos pelos Sesc e pela Cáritas, em
que o idioma português é ensinado no nível básico para refugiados. São
divulgados também eventos culturais, como a 16º Festa do Imigrante, em
São Paulo, e a reabertura do Museu da Imigração, também na cidade
paulista.
Eu amo o Líbano
(https://www.facebook.com/groups/EUAMOOLIBANO.EAL/)
Figura 129 – Eu Amo o Líbano
O grupo Eu amo o Líbano no Facebook possuía 8.141 membros até
dezembro de 2014, e tem como descrição ser um espaço para pessoas
que, definitivamente, possuam amor pelo Líbano, suas terras e cultura.
208 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Entre as publicações ali presentes, algumas chamam bastante a atenção.
Entre elas, é possível notar que muitos que ali estão não necessariamente
são libaneses, mas sim filhos de libaneses. O grupo realizou um amigo
oculto virtual no Natal, no qual os presentes eram entregues pelos correios – quem recebia postava mensagens de agradecimento. Os
moderadores, vendo que o número de postagens diário estava impossibilitando que cada integrante do grupo tivesse uma noção do conteúdo
transmitido, resolveram impor um limite de 3 postagens por dia, por
pessoa. Alguns dos participantes têm também inclinação à religiosidade
árabe. Encontramos, entre as publicações, uma senhora divulgando que
há em Laranjais, no Rio de Janeiro, o cedro-do-líbano, que ornamenta
uma construção feita por um libanês, em 1917. Por fim, a publicação mais
recente é de uma excursão ao Líbano que está sendo programada para
julho de 2015. A excursão poderá levar até 48 pessoas, e os pontos turísticos nos quais os viajantes passarão já são pré-determinado pelos
moderadores responsáveis pela viagem.
Gazeta de Beirute
(http://www.gazetadebeirute.com)
Figura 130 – Gazeta de Beirute
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 209
A Gazeta de Beirute, como o próprio site descreve, é um “portal semanal de notícias do Líbano para a comunidade brasileira”. Navegando
pelo seu conteúdo, pode-se encontrar características pertinentes ao estudo da relação árabe-brasileira. Ele é mais voltado para brasileiros que
emigram para Beirute, logo, as informações ali presentes estão em português. Porém, o movimento contrário também é válido. Já na página
inicial, aparece o número de visualizações da página que até dezembro de
2014 contabilizava 1.254.295 visitantes. A primeira aba, chamada de
“Tudo sobre o Líbano” é bastante útil no sentido de que auxilia brasileiros que desejam ir a Beirute, ao passo em que fornece informações
pertinentes, como por exemplo os valores de estadia na cidade, além de
dados sobre transportes, bancos, correios, saúde, universidades, telefones
de emergência, religião e meios de comunicação. Neste penúltimo item,
Beirute é chamada de cidade multi-religiosa. Eles explicam que o adhan
de mesquita toca para lembrar as orações realizadas cinco vezes ao dia e,
no Islã, o dia sagrado mulçumano é a sexta-feira. Na aba “Eventos no
Líbano” são mostradas algumas informações sobre acontecimentos da
cidade que interessariam brasileiros. Entre eles, uma feira de livros, a
programação de uma rádio na qual haveria participação de uma banda
afro-brasileira, além da exibição do filme brasileiro “Nosso Lar”.
Árabes no Brasil 3
(https://www.facebook.com/groups/166329963482508/)
Com 208 membros até dezembro de 2014, o grupo Árabes no Brasil
no Facebook não possui um número muito grande de publicações. Sua
descrição já denota que também são aceitas pessoas que, apesar de não
serem árabes, simpatizam com a etnia. Ofensas são proibidas. Algumas
das postagens estão em português, outras em árabe. Algo que chama a
atenção são pessoas que se sentem incomodadas com o preconceito que
3
No período da captura das imagens para ilustração desse trabalho (de 27/01/2014 a 15/02/2104), a página não
estava disponível.
210 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
há com os palestinos, então neste grupo estão pessoas que defendam
esses indivíduos. Uma imigrante árabe que reside em São Paulo questiona se há venda de carne e frango Halal no Brasil, uma vez que é
mulçumana. Algumas postagens mais antigas são de mulheres que tiveram relacionamentos com árabes, e o interessante é que elas reclamam
bastante sobre o tratamento que receberam destes por conta, muitas
vezes, das diferenças culturais.
Revolução Síria no Brasil
(http://revolucaosiria.blogspot.com.br)
Figura 131 – Revolução Síria no Brasil
O blog Revolução Síria no Brasil é essencialmente uma página que
foi criada para divulgação de ataques que são feitos contra os sírios. O
conteúdo exposto nela está em português e funciona como uma frente
para que os brasileiros estejam por dentro dos acontecimentos brutais
que acontecem na Síria. As publicações ali presentes são mais antigas,
sendo a maioria do ano de 2011. Uma delas é sobre uma manifestação
que foi planejada pelos administradores da página e ocorrida na avenida
Paulista, como forma de apoio à revolução do povo sírio e contra a ditadura do chamado assassino Bashar al-Assad. Na aba “Fotografias”, todas
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 211
as imagens são de pessoas brutalmente feridas em meio aos ataques na
Síria. As descrições clamam por liberdade e bons tratos.
Portal Comunidade Árabe
(https://www.facebook.com/portalcomunidadearabe)
Figura 132 – Portal da Comunidade Árabe
O Portal Comunidade Árabe está presente tanto na rede social Facebook como na Web, e é descrito como o “primeiro departamento
jornalístico e imprensa internacional de notícias diárias árabe em língua
portuguesa”. Até dezembro de 2014, havia 2.849 curtidas na página. O
portal é frequentemente atualizado, e busca divulgar acontecimentos dos
países árabes, como por exemplo o sofrimento dos cristãos iraquianos
em seu país. Nesta publicação, há a seguinte frase acerca do assunto, dita
por um entrevistado: “Qualquer cristão ainda em nossa casa agora é
muçulmano ou morto”. Sobre as questões sociais, há também a notícia
de um torneio de basquete para órfãos, que ainda oferece bolsas para as
crianças viajarem para o campus de verão do Real Madrid. Outras postagens variam em seu teor, como o político, o cultural ou o culinário. No
entanto, notícias que criticam algum movimento cultural radical que
causa violência, maus tratos, preconceito e prisões injustas são as mais
divulgadas diariamente.
212 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Frente Brasileira de Solidariedade com a Síria
(https://www.facebook.com/solidariedadecomasiria?fref=ts)
Figura 133 – Frente Brasil. De Solidaried. Com a Síria
Criada em agosto de 2013, a página do Facebook Frente Brasileira de
Solidariedade com a Síria compartilha mensagens de fomento ao nacionalismo, como já é dito em sua descrição: “Na Síria uma Nação inteira
defende seu país e sua soberania contra o terrorismo ocidental e a propaganda de guerra midiática!”. Na página constam mensagens de
frequente periodicidade que têm relação ao número de pessoas que a
“curtem” – eram 2.143 em dezembro de 2014. A página não oferece informações que se relacionem exclusivamente à vivência em solo
brasileiro, e também compartilham dados sobre o contexto geopolítico da
Síria. Elas são feitas pelos sírios que se encontram no Brasil e, também, a
partir de pessoas que disponham dessas informações. As postagens têm
conteúdos bem diversificados, como por exemplo denúncias de assassinatos, crítica à falta de democracia em Israel e fotos dos “guerreiros do
Hezbollah protegendo o Líbano”, por exemplo. O conteúdo também é
composto por artigos, vídeos, eventos e principalmente notícias sobre
política.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 213
Coordenação da Revolução Síria no Brasil
(https://www.facebook.com/www.coordenacaodarevolucaosiria.com.br?
fref=ts)
Figura 134 – Coord. da Revolução Síria no Brasil
Fundada em junho de 2011, a comunidade do Facebook intitulada
Coordenação da Revolução Síria no Brasil parte do objetivo inicial de
agrupar a maior quantidade de pessoas de todas as nacionalidades que
querem ajudar o povo “massacrado” da Síria. O objetivo maior, conforme
descrito, seria libertar o povo sírio da ditadura e, também, mudar a posição do governo brasileiro “para o lado do povo sírio”. Essas metas são
propostas mediante o trabalho coletivo, já que a palavra “juntos” aparece
acompanhando todos os objetivos revolucionários. A comunidade usa na
maioria de suas postagens o idioma português, entretanto, por vezes
também há presença de conteúdo em árabe. As postagens são compostas
por conteúdo apelativo e de indignação em que é usado, muitas vezes,
vocabulário de baixo calão para denunciar consequências da ditadura
síria, como fotos de crianças subnutridas, moradores de rua em péssimas
condições e assassinatos em massa. O conteúdo fomenta o ódio a Assad,
atual ditador sírio, com provocações e ameaças como “o regime de Assad
tem que ser eliminado, ou se preparem para terceira guerra mundial”, ou
214 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
“pensamento Crianças da Síria. Sabe o que significa isso?” seguida de
fotos de desenhos de crianças que retratam guerra, morte e sofrimento.
Revolução Síria no Brasil
(http://revolucaosiria.wordpress.com/)
Figura 135 – Revolução Síria no Brasil
Criado em outubro de 2011, o site se utiliza do português, do inglês
e, principalmente, da língua árabe para fazer suas postagens, apesar de
haver pouco conteúdo escrito, sendo mais comum conteúdo audiovisual.
A página é composta por denúncias de atos terroristas cometidos contra
os sírios. O conteúdo é muito pesado, contendo vários vídeos de homicídios radicais. O site critica muito a imprensa por supostamente não
divulgar a realidade da Síria, assim como pela mídia supostamente não
levar essas questões a debate a âmbito mundial. Para fazer isso, utiliza-se
de informações sobre os massacres que estão acontecendo a partir dos
governos ditatoriais. Os posts mais recentes são de fevereiro de 2013,
mostrando que houve um abandono do moderador do site desde então.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 215
Árabes no Brasil - ’’اﻟﻌﺮب ﻓﻲ اﻟﺒﺮازﯾﻞ
(https://www.facebook.com/pages/%C3%81rabes-no-Brasil-%D8%A7
%D9%84%D8%B9%D8%B1%D8%A8-%D9%81%D9%8A-%D8%A7
%D9%84%D8%A8%D8%B1%D8%A7%D8%B2%D9%8A%D9%84/
214369198687192?sk=timeline)
Figura 136 – Árabes no Brasil
A comunidade no Facebook intitulada Árabes no Brasil, composta
por postagens em inglês, árabe e, principalmente, português dispõe de
um conteúdo fortemente cultural. Seus posts trazem vídeos de danças
típicas como o Mevlevi, textos sobre personalidades árabes de referência
que vão de Georgina Rizk – Miss Universo 1971 – aos samaritanos, e
dizeres sobre diferentes países árabes. As mídias são diversificadas, contendo vídeos, fotos e conteúdo literário. Há uma aproximação da
comunidade com seus participantes, percebida a partir da observação de
troca de mensagens desejando feliz Páscoa, feliz Dia das Mães e boa tarde. Com 6.371 curtidas até dezembro de 2014, a frequência dos posts é
intermitente, variando de mês em mês.
216 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Árabes de Chuí
(https://www.facebook.com/clubearabe.chui?fref=ts)
Figura 137 – Árabes de Chuí
A página da Sociedade Árabe Palestino Brasileira Beneficente, a
SAPBB, localizada em Chuí, no Estado do Rio Grande do Sul, tinha 1.088
amigos até dezembro de 2014. Surgiu em julho de 2011, com a intenção
de integrar e informar os membros do Clube. Com esse fim, são postados
eventos, principalmente churrascos, vídeos com partidas de futebol realizadas no campo do clube e mensagens de motivação para que o espaço
seja cada vez melhor utilizado. Também é comum a presença de posts
lembrando de datas simbólicas para os árabes, como os 30 anos da chacina em Sabra e Shatila, e de posts com conteúdo cultural a exemplo de
vídeos com jovens tocando e cantando músicas árabes. Apesar da página
não ser atualizada com tanta frequência, o que é disponibilizado acaba
proporcionando à comunidade árabe, em escala regional, uma integração
e uma vivência de sua cultura no solo que imigraram, no caso, no Brasil.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 217
Revista Chams
(http://www.chams.com.br/)
Figura 138 – Revista Chams
Em circulação desde 1991, a Revista Chams publicava mensalmente
eventos, festas, entidades e personalidades da imigração árabe no Brasil.
Há destaque de matérias para brasileiros que mantêm a cultura, as tradições, a gastronomia e a língua árabe no Brasil, com toda a sua
diversidade religiosa e nacional, e que formam a imensa coletividade que
conhecemos como “colônia árabe”. Entretanto, desde novembro de 2013
que não são feitas mais postagens e desde a edição de dezembro do
mesmo ano que a revista não publica mais edições no site pelo ISSUU.
Destaca-se, porém, que o conteúdo publicado era bem diverso, e alguns
exemplos são um documentário egípcio inédito que seria passado no
Brasil, ou a divulgação da campanha de um chá beneficente realizado por
uma liga feminina árabe e de exposições com artistas árabes no Brasil.
Utilizando uma linguagem de fácil leitura e de grande conteúdo informacional, o site e as edições disponibilizadas são sempre escritas em
português. Apesar das datas dessas postagens serem antigas, a Revista
Chams continua divulgando conteúdo e cultura árabe em sua página no
Facebook.
218 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Esperança Refugiados Árabes no Brasil
(https://www.facebook.com/pages/Esperanca-refugiados-Sirios-noBrasil/478025062331774?sk=timeline)
Figura 139 – ERAB
A comunidade do Facebook Esperança Sírios refugiados no Brasil
surgiu em julho de 2014, com a intenção de criar um meio para que as
pessoas se solidarizem com os sírios refugiados no Brasil. Por ser uma
comunidade, o internauta tem a possibilidade de curtir ou não. Partindo
dessa ferramenta que mostra manifestação de interesse, a página tinha
até dezembro de 2014, 238 curtidas. Segundo os moderadores, conforme
descrito na página: “Somos uma entidade de promoção social, ajudando
as famílias sírias refugiadas no Brasil a encontrar trabalho e moradia
temporária”. São disponibilizados um e-mail e um número de telefone
para possibilitar contato com a comunidade e, assim, oferecer auxílio aos
refugiados atendidos por eles. Abaixo dessa apresentação citada, são
postadas mensagens relatando a situação e as necessidades do povo sírio
refugiado. Além disso, há fotos de doações variadas como remédios, caixas de leite, livros infantis, colchões e também fotos da construção de
moradias para tais refugiados. Seguido delas, são escritas mensagens de
agradecimento para os doadores, que são enumerados pelos nomes.
Também são postadas fotos de jantares beneficentes entre os sírios, além
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 219
de mensagens carinhosas em datas simbólicas. A frequência de postagens
é intermitente e proporcional às doações que recebem.
10.3. Análise
Para esta etapa da pesquisa com o grupo árabe de imigrantes, foram
analisadas 8 páginas 4, entre blogs, sites e grupos do Facebook. As postagens que inicialmente foram sujeitas à análise correspondem ao período
entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014. Porém, uma vez que algumas
delas não eram datadas, foram estudadas algumas publicações de cada
seção do site em questão. Cada postagem foi encaixada em uma das 11
categorias estabelecidas. São elas: 1) “Projeto de migração”; 2) “Famílias
e relações transnacionais”; 3) “Vínculos informativos com o país de nascimento”; 4) “Consumo e produção cultural”; 5) “Aprendizado do
idioma”; 6) “Cidadania jurídica”; 7) “Usos de mídias de migração”; 8)
“Companhia e ócio”; 9) “Participação política”; 10) “Associativismo”; e 11)
“Outros”.
No total, foram analisados 181 textos. A categoria que obteve maior
número de postagens foi a “Consumo e produção cultural”, com 45 delas.
Enquanto alguns sites tinham claramente um tema no qual eram mais
focados, outros tipos de página, em especial as do Facebook, envolviam
diversos assuntos, talvez por ser justamente um meio onde o conteúdo
circula mais livremente. Apesar de ter sido um objetivo categorizar as
publicações, algumas delas se encaixavam em mais de um tema como,
por exemplo, uma notícia publicada na Gazeta de Beirute que informava:
"Omã pretende incentivar estudo do idioma árabe no Brasil". Esta notícia
engloba tanto a categoria “Consumo e produção cultural” quanto
“Aprendizado do idioma”.
Em segundo lugar, vem a categoria “Outros”, com 28 publicações.
Após, segue “Companhia e ócio”, com 24 postagens. Juntas vêm as catego4
Icarabe, Somos Árabes, Presença Árabe, Eu Amo o Líbano, Gazeta de Beirute, Portal da Comunidade Árabe,
Esperança Refugiados Árabes no Brasil e Árabes de Chuí.
220 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
rias “Famílias e relações transnacionais” e “Vínculos informativos com o
país de nascimento”, cada uma com 22 publicações. Depois seguem “Participação política” (19 postagens) e “Associativismo” (17 postagens). A
categoria “Cidadania jurídica” não foi contemplada. As que obtiveram
participação menos frequente nos protocolos foram “Projeto de migração"
(2), “Aprendizado do idioma” (1) e “Usos de mídias de migração” (2).
A maioria quase absoluta das postagens encontradas tinha seu conteúdo escrito em português e não em árabe. Porém, esta realidade não
impedia a circulação de notícias e músicas, por exemplo, nos grupos no
Facebook, no idioma árabe. Vale destacar que na página desta mesma
rede social, Esperança dos Refugiados Sírios no Brasil, o idioma da maioria das postagens continuava em português, mas com a presença
constante de erros gramaticais. Tal fato mostra que, provavelmente, o
moderador da página possa ser um imigrante ainda não totalmente fluente no idioma português. No grupo fechado do Facebook Somos árabes,
foram encontradas também mensagens em inglês.
Dentre os sites analisados, um dos mais interessantes foi o Portal da
Comunidade Árabe, que é também presente em uma página no Facebook.
Nele, foram publicadas mais de dez notícias sobre as eleições para a Presidência da República do Brasil de 2014. A página possuía inclinação à
eleição do então candidato Aécio Neves, o que não deixa de indicar engajamento político. Foram feitas, na mesma página, postagens referentes à
questão terrorista que os iraquianos enfrentam, como a informação de
que terroristas do grupo ISIL buscavam escravas sexuais. No que diz
respeito à cultura árabe, destaca-se a notícia de que os árabes visitam um
cemitério em Rabat para discutir sobre diversos assuntos, como por
exemplo a existência de espíritos, acreditando ser um local adequado
para este tipo de reunião.
Já no grupo do Facebook Somos Árabes, o que mais se destaca é a
interatividade entre os membros, como a criação do concurso infantil de
Mr. ou Miss, em que as crianças mais votadas através das curtidas ganhariam o título. Percebemos tal espírito de solidariedade uns com os
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 221
outros no crescente número de mensagens motivacionais, destinado para
todos os membros. Na comunidade Presença árabe no Brasil, do Facebook, são divulgados eventos, trabalhos artísticos, notícias políticas, dicas
de lugares e assim por diante. No site Icarabe também encontramos assuntos de diversos campos. O site, que representa o Instituto da Cultura
Árabe (entidade civil), funciona como um portal, já que seu conteúdo é
bem completo, tratando de assuntos desde a imigração até gastronomia.
Percebeu-se também, durante a análise, que todos os assuntos possuem o
mesmo valor de importância, e portanto não há apenas um tema que se
sobressaia.
É interessante perceber, na página do Facebook intitulada Esperança dos Refugiados Sírios no Brasil, o sentimento de solidariedade e de
cooperativismo dos imigrantes em busca de uma vida melhor no Brasil,
após tantos traumas advindos da luta contra o governante vigente em
seu país de origem, a Síria. Além disso, nota-se como as doações (de
livros infantis, por exemplo), são importantes e calorosamente agradecidas pelos membros. Na página do Facebook Árabes do Chuí, é curiosa a
intenção de integração em escala regional dos árabes dessa cidade localizada no Sul do Brasil, que se dá a partir de mensagens de motivação e do
incentivo para utilizarem o Clube Árabe.
Partindo dessas análises, fica evidente que a principal fonte do material obtido no decorrer do trabalho foi proveniente das redes sociais,
com destaque para o Facebook. Neste espaço digital, devido à facilidade
de manuseio e por seu abrangente alcance, os imigrantes conseguem
ocupá-lo de forma mais confortável, criando espaços para exporem suas
necessidades, suas realidades e, principalmente, se integrarem e vivenciarem sua cultura no Brasil, local de sua imigração. Já que nos grupos há
o diferencial interessante de cada membro possuir a oportunidade de
participar, acabam sendo criadas relações interpessoais e o associativismo torna-se onipresente. Com essa troca de informações e de conteúdos
entre os membros do grupo, nota-se que os imigrantes desenvolvem um
sentimento maior de acolhimento.
222 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
10.4. Considerações finais
Acerca dos resultados obtidos durante a presente pesquisa, que relaciona a imigração árabe com a rede virtual de comunicação, podem ser
citados pontos que apresentam maior destaque. Basicamente dois foram
os tópicos capazes de englobar a diversidade do conteúdo encontrado na
Webdiáspora árabe: cultura e cooperativismo. A questão cultural abordada nas redes definidas como alvos do trabalho se fez presente tanto
numa perspectiva árabe quanto em uma brasileira, apesar da primeira
ter sido encontrada em maior escala. Os sites árabes demonstram certo
mecanismo de defesa, ao ponto em que difundem características de sua
realidade nativa para conhecimento de outros. Esta exposição de costumes árabes pôde ser encontrada relacionada à religião e às tradições –
como a de reunir-se em um cemitério para conversar sobre diversos
assuntos, como espíritos, já que acreditam ser um local adequado. Notícias sobre práticas terroristas em países árabes também são publicadas
com teor de preocupação. Já sobre o cooperativismo, este é encontrado
em maior grau nas páginas e grupos do Facebook. Os usuários demonstram preocupação com questões intrínsecas à política brasileira,
mostrando engajamento político.
Além disso, as pessoas costumam compartilhar dicas para outros
que planejam viver nos países árabes, além de haver apoio notável na
direção oposta também: os indivíduos anseiam que os árabes que imigram para o Brasil sejam capazes de encontrar uma vida melhor, já que
sofreram traumas na luta contra o governante da Síria, por exemplo.
Além disso, nesses espaços virtuais cria-se um ambiente favorável a doações e à troca de mensagens motivacionais, o que demonstra a
interatividade e a solidariedade presentes nesses grupos. O Facebook cria
uma esfera na qual a troca de informações, de ajuda e de afetividade
ocorre mais naturalmente, já que o espaço de certa forma é mais confortável e possui livre acesso. O contato, ainda que virtual, parece suprir as
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 223
necessidades relacionais dos indivíduos que ali compartilham de suas
realidades. O canal possibilita a troca de informações de diversos segmentos, desde a gastronomia até eventos e lazer. Todas essas coisas
constroem harmonia afetiva para imigrantes, descendentes e aqueles que
se interessam pelo universo árabe.
Amparo (2012) discorre sobre o importante papel que a internet
possui para construir novas identidades culturais. De acordo com a autora, imigrantes buscam no ciberespaço, além de manter contato com
família e amigos que ficaram no país de origem, informações e aspectos
que contribuam para a manutenção das tradições provenientes de suas
culturas originais. Tal busca é bem evidente na amostra estudada, em
que há grande presença de materiais vinculados à cultura árabe, como
músicas, receitas típicas, notícias, entre outros. Interessante é notar também, que, apesar da presença de elementos árabes, também existem
conteúdos focados no país de destino, no caso o Brasil. Postagens como a
divulgação de eventos e fatos que acontecem no país são sinais de que há
a formação de uma identidade híbrida, uma formação de identidade nova
que é estimulada graças ao espaço virtual.
Ao aprofundar os conteúdos dos sites que fizeram parte da Webdiáspora árabe, é perceptível como o processo de imigração atinge diversos
âmbitos da sociedade, como diz Abdelmalek Sayad (1998). Segundo o
autor, o ato de imigrar é um “fato social completo”. Eventos como a Semana Árabe, realizada em Brasília e fortemente divulgada por algumas
páginas no Facebook voltadas para imigrantes e para pessoas interessadas na cultura árabe, refletem que a imigração dialoga com vários
campos, tais como Economia, Sociologia, Psicologia e outros, não podendo ser considerada, dessa forma, um simples processo de deslocamento.
Segundo Néstor García Canclini (2005) a imigração geralmente é
condenada como um processo que sublinha as diferenças e reforça a
segregação. Como proposta melhor para encarar a integração mundial, o
autor reforça o processo de interculturalidade como o fenômeno de transição capaz de integrar o mundo sem diminuir nenhuma cultura. Tal
224 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
processo remete à confrontação e ao entrelaçamento, ou seja, o que se
sucede quando os grupos entram em relações e troca, é o processo mais
indicado para lidar com as migrações do mundo atual. Partindo dessa
premissa é possível traçar um paralelo com a Webdiáspora árabe que,
como consta em diversas páginas do Facebook, o incentivo a povoados
árabes de integrarem sua cultura à brasileira, como por exemplo, proporcionando partidas de futebol em campos de clubes árabes. Dessa
maneira, os imigrantes vivenciam sua cultura mesclando-a com a do país
em que estão, sem intenção de dominação ou supremacia, criando uma
interseção entre elas. Vivem, então, de maneira intercultural, não esquecendo suas raízes e, ao mesmo tempo, absorvendo os hábitos e os
costumes locais.
Outra questão abordada por Canclini (2005) e que pode ser relacionada à imigração árabe no Brasil é o fato dos partidos políticos e dos
sindicatos nacionais não conseguirem formular elaborações alternativas
sobre questões globais de ampla escala, que só parcialmente são assumidas por ONGs e movimentos ecológicos ou de direitos humanos. Tal fato
faz sentido diante do grande número de comunidades independentes do
Facebook que buscam doações e atitudes solidárias com diversos imigrantes árabes no Brasil que estão em péssimas condições sociais após
virem de seus respectivos países onde, por exemplo, fugiram de guerras
proporcionadas pelo governo vigente.
11
Webdiáspora Andina
11.1. Contexto histórico da imigração
A chamada América Andina é formada pelos países sul-americanos
cujos territórios são atravessados pela Cordilheira dos Andes. São eles:
Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela que, juntos, totalizam 5,5 milhões de km2 e 135 milhões de habitantes.
Além do aspecto físico-geográfico, esses países têm outras características em comum. A população é formada, na maioria, por
descendentes de espanhóis, indígenas, sul-americanos e africanos, e a
religião predominante é a católica. Além disso, a economia desses países
é baseada, principalmente, na agricultura (voltada para a exportação), no
extrativismo (mineral e vegetal), na pesca (principalmente Peru e Chile)
e na indústria (principalmente bens de consumo). Apesar das origens
indígenas, o espanhol é a língua principal, já que todos os países foram
colonizados pela Espanha.
A crescente presença destes grupos de imigrantes hispanoamericanos no Brasil, caracterizados pela cultura andina em comum,
levanta uma série de questões não só sobre a identidade cultural andina,
mas sobre a latino-americana como um todo.
As tradições e a diversidade cultural de Bolívia, Peru e Chile são aspectos amplamente exaltados por esses três povos, que ganham novas
dimensões em situação de diáspora. Ao utilizar os adjetivos bolivianos,
peruanos e chilenos para caracterizar estes imigrantes, porém, é preciso
pensar na efetividade da cultura nacional da formação do indivíduo –
226 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
apesar de grupos, seus membros são heterogêneos. Considerando esta
formulação para o caso de imigrantes oriundos de um mesmo país ou
região, é um equívoco pensar neles como uma comunidade coesa e unitária. As diferenças regionais, sociais e étnicas, marcadas muitas vezes
por preconceito e hierarquização, não desaparecem no contexto migratório. Além disso, são países com grande histórico de conflitos entre eles.
A questão étnica e a origem indígena são variáveis fundamentais
para entender a construção da identidade dos imigrantes andinos no
Brasil. Grande parte dos nacionais destes dois países é descendente de
indígenas e apresentam fenótipos específicos caracterizados pelos cabelos
lisos e pretos, a pele cafuza, as maçãs do rosto salientes e os olhos puxados. Segundo Silva (2007), “a origem étnica passa a ser um elemento
diferenciador entre os brasileiros que se consideram brancos e os hispano-americanos, considerados por aqueles como índios” (p. 81).
Entretanto, no artigo “Convivência, alteridade e identificações. Brasileiros e bolivianos nos bairros centrais de São Paulo” (2012), Dominique
Vidal salienta que estas características físicas também são comuns a muitos brasileiros oriundos das regiões Norte e Nordeste, principalmente.
Por isso, outras categorias são invocadas para classificar alguém como
“andino”, como vestimentas típicas, cortes de cabelo, postura corporal e a
língua, atreladas aos fenótipos indígenas.
É preciso destacar ainda que entre brasileiros, chilenos, peruanos e bolivianos compartilha-se as influências de três matrizes formadoras de
nossas culturas latino-americanas: a ibero-americana, a indígena e a africana. Para Silva (2012, p. 32), há maiores chances de diálogo intercultural em
razão de elementos culturais comuns, perceptíveis nos costumes, nas crenças, na música, na gastronomia e nas danças que foram sendo incorporadas
e ressignificadas ao longo da história dos povos latino-americanos.
Neste início de século, o cenário da imigração mundial foi alterado
pela crise econômica nos países desenvolvidos e pela ascensão de países
emergentes. A Europa e os Estados Unidos deixaram de monopolizar a
rota de migração entre os sul-americanos e os movimentos intrarregio-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 227
nais se intensificaram a ponto de, em 2012, superar em números a saída
de pessoas para os países do hemisfério norte 1.
Neste panorama, o fenômeno da imigração entre nações latinoamericanas torna-se cada vez mais significativo para a sociedade brasileira. Para Rosana Baeninger (2008), que analisou dados do
IMILA/CELADE 2, é a partir da década de 80 que o número de imigrantes
da América do Sul vivendo no Brasil começa a aumentar significativamente, enquanto o número de brasileiros nestes países diminuiu ou se
estabilizou. De 1970 a 2000, o estoque de brasileiros na Argentina foi
reduzido de 48 mil para 33 mil, ao passo que o de argentinos no Brasil se
elevou de 17 mil para 27 mil no mesmo período. Esse mesmo fenômeno
ocorreu com o Peru, onde o número de brasileiros diminuiu de 3 mil
para quase 2,5 mil; enquanto o número de peruanos em território brasileiro aumentou de 2,5 mil para 10 mil.
No Uruguai, o número de brasileiros se estabilizou desde 1975 até
1990 (em torno de 14 mil pessoas); já os 11 mil uruguaios no Brasil, em
1960, passaram para 22 mil em 1991. A quantidade de paraguaios no país
também aumentou, de 1990 a 2000, de 19 mil para 28 mil pessoas, respectivamente.
O Chile e a Bolívia também apresentaram um grande aumento no
número de residentes no Brasil. De 1,4 mil, em 1960, os chilenos passaram para 17,8 mil, em 1980 e mantiveram o número estabilizado até o
fim do século XX. Já os bolivianos, de 8 mil, em 1960, passaram para 20
mil até 2000.
Os países do Mercosul e associados, beneficiados pelo Acordo de Residência e Livre Trânsito 3, correspondem a mais de um quinto da soma
dos imigrantes estabelecidos no Brasil com visto permanente até 2012,
1
Fonte: Panorama Migratorio de América del Sur 2012. Disponível em: http://www.iom.int/files/live/
sites/iom/files/pbn/docs/Panorama_Migratorio_de_America_del_Sur_2012.pdf. Acesso em: outubro de 2014.
2
IMILA é um projeto de pesquisa sobre migração internacional na América Latina do Centro Latino-Americano e
Caribenho de Demografia (CELADE), que por sua vez é um órgão da CEPAL - Comissão Econômica das Organizações das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe.
3
Assinado em 2002, o Acordo assegura a todos os migrantes nacionais de um Estado Parte residentes no território
de outro Estado a igualdade de direitos, com exceção daqueles barrados pelas constituições
228 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
um total de 237.318. Os principais representantes são a Bolívia, com
50.240, e a Argentina, com 42.202 4.
Bolivianos – Responsáveis pela principal corrente migratória para
o Brasil na atualidade, os bolivianos formam a maior comunidade de
latino-americanos e andinos residentes no país. São mais de 50 mil com
o visto permanente concedido pela Polícia Federal até 2012. Do total de
44.878 pedidos de anistia cadastrados pelo governo federal entre 2009 e
2011, mais de 18 mil eram de cidadãos bolivianos 5.
Os números oficiais sobre a imigração deste grupo estão muito
aquém das avaliações de pesquisadores e entidades especializadas no
assunto. Estima-se que haja em torno de 350 mil imigrantes da Bolívia
no Brasil, sendo apenas 100 mil documentados 6.
A cidade de São Paulo é o principal destino destes estrangeiros. Entre 2000 e 2010, o Censo registrou um aumento de 173% no número de
bolivianos na capital paulista, de 6.578 para 17.960. O Consulado da Bolívia calcula que esse número seja, atualmente, cinco vezes maior,
ultrapassando 100 mil, se considerados os imigrantes em situação irregular 7. A instituição ainda avalia que 75% da comunidade boliviana no
Brasil está concentrada no estado de São Paulo.
Segundo Silva (2012), a imigração boliviana para o Brasil pode ser
identificada a partir da década de 1950, quando vários estudantes vieram
estudar estimulados por convênios de intercâmbio e acordos bilaterais entre
os dois países. Além de pessoas nestas condições, também foi identificado
por Freitas (2012) o fluxo de profissionais liberais que saíam da Bolívia por
motivos políticos, e de mulheres para trabalhar em casas de família.
O perfil característico dos imigrantes atuais começa a ser construído
nos anos 80, com a chegada dos grupos com menor qualificação para o
4
Disponível em http://oestrangeiro.org/2013/05/22/exclusivo-os-numeros-exatos-e-atualizados-de-estrangeirosno-brasil-2/. Acesso: agosto de 2014.
5
Disponível em http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/bolivianos-sao-comunidade-estrangeira-que-maiscresce-em-sao-paulo-20110819.html. Acesso: agosto de 2014.
6
7
Disponível em http://oestrangeiro.org/2013/08/28/panorama-atual-da-imigracao-boliviana/. Acesso: agosto de 2014
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/revista/saopaulo/2013/06/16/1294913-a-bolivia-e-aqui.shtml.
Acesso em: agosto de 2014.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 229
mercado de trabalho. “São jovens de ambos os sexos, solteiros e de escolaridade média, e vieram atraídos principalmente pelas promessas de
bons salários feitas por empregadores coreanos, bolivianos e brasileiros
da indústria da confecção” (SILVA, 2012, p. 20-21).
Durante a década de 90, a leva de imigrantes bolivianos era basicamente formada por ex-trabalhadores de minas e fábricas que sofreram
com o êxodo rural e o desemprego urbano causados pela recessão econômica e pelos desastres naturais provocados pelo El Niño (FREITAS,
2012). Em São Paulo, eles passaram a se concentrar em alguns bairros
centrais da cidade, como o Pari, o Brás e o Bom Retiro, onde se aglomera
a produção e a comercialização da indústria das confecções.
Segundo dados do Censo 2000, destacados por Silva (2007),
22,48% dos imigrantes bolivianos têm entre 5 e 8 anos de formação, o
que corresponde ao Ensino Médio no Brasil. A maior parte, 42,14%, tem
entre 9 e 11 anos de escola (ensino médio no Brasil). Aqueles com 12 a 15
anos de escolaridade, que equivale à frequência em curso superior, são
9,72% dos bolivianos imigrantes.
Com o processo de terceirização do trabalho nas confecções, os imigrantes tornaram-se trabalhadores temporários sem regulamentação, já
que uma grande parte deles está irregular no país. “Eles são atraídos por
promessas de moradia, alimentação e salário e, muitos com a ajuda de
recrutadores, chegam ao país pelas fronteiras de Corumbá, Cáceres e
Guarajá-Mirim”, afirma Daniel Salgado (2013).
No esquema dos recrutadores, os recém-chegados na capital paulista
são cobrados pelo uso das máquinas de costura, despesas de luz, água e
aluguel. A consequência do salário reduzido e as dívidas é o excesso de horas de trabalho, que os coloca em condições análogas à escravidão. Muitos
não denunciam a exploração devido à situação irregular de seus documentos. Estes casos são recorrentemente denunciados pela imprensa brasileira.
Os imigrantes do século XXI são oriundos de diversas partes da Bolívia, com predominância dos pacenhos (distrito de La Paz) e
cochabambinos. Uma grande parte é de origem rural e não fez um pro-
230 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
cesso migratório dentro do próprio país. Segundo Silva (2012), eles deixam suas localidades e seguem diretamente para a metrópole paulistana,
uma mudança radical que traz problemas de adaptação.
Uma característica de parte deste grupo é que eles deixam seus familiares na Bolívia, que em alguns casos chegam a emigrar depois. É
comum encontrar pessoas analfabetas e com a faixa etária acima dos 45
anos nos mais novos fluxos migratórios. Isto revela a dinâmica das redes
familiares nas oficinas de costura, cujos filhos residentes acabam trazendo seus pais para serem incorporados (SILVA, 2012). Também é possível
encontrar aqueles que permanecem por pouco tempo no Brasil, tendo
sempre em vista um retorno ao país de origem.
O histórico de exploração e “ilegalidade” não é a única realidade que
permeia a vida dos bolivianos em São Paulo. Há algumas mudanças recentes no perfil destes estrangeiros, exemplificadas pela criação da
primeira cooperativa de imigrantes bolivianos no país, em maio de 2012,
a Cooperativa de Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em Vestuários
e Confecções. O movimento é um passo organizado da comunidade contra milhares de oficinas de costura que abrigam funcionários em
condições insalubres e ilegais de trabalho.
Além disso, na última década, os bolivianos passaram a ocupar funções além da tecelagem, como os serviços gerais e a construção civil.
Alguns deixam de ser apenas força de trabalho recrutada e se tornam
microempreendedores. Dentre os pequenos negócios realizados pelos
imigrantes, Freitas (2012) destacou os seguintes: estabelecimentos comerciais, investimento em serviços de telefonia e transporte próprios
para conectar os bolivianos e outros imigrantes hispano-americanos aos
seus lugares de origem; formação de rádios piratas que transmitem programas em espanhol e em aimará 8 com informações sobre serviços (de
saúde, educação, lazer) e questões relativas aos trabalhos nas oficinas.
8
Um dos idiomas oficiais da Bolívia e do Peru. De origem indígena, o aimará é falado por cerca de 2,5 milhões de
pessoas no mundo, concentradas nos Andes sul-americanos.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 231
Peruanos – Assim como os bolivianos, os peruanos começaram a
chegar ao Brasil em maiores fluxos a partir da década de 1950, principalmente por conta de intercâmbios acadêmicos. Atualmente, os
números relativos à imigração peruana são muito inferiores àqueles
relacionados ao outro país andino. São 15.459 com visto permanente no
Brasil, segundo dados da Polícia Federal de 20129.
O projeto de Flávia Fávari e Rosana Baeninger, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cruzou dados do Censo Demográfico
2000 (Brasil) e do Instituto Nacional de Estatística e Informática – INEI
(Peru) e percebeu um aumento de 10 mil para 30 mil no número de peruanos residentes no Brasil.
Com números mais atualizados, a pesquisa “Perú: Estadísticas de la
Emigración Internacional de Peruanos e Inmigración de Extranjeros 1990
– 2012”, também da instituição peruana INEI, assinala que o Brasil é o
país que concentra o maior número dos “novos imigrantes peruanos”,
recebendo 20% do total dos emigrantes saídos do Peru nos últimos anos.
O documento revela ainda que mais de 70% dos que decidiram se radicar no Brasil chegaram entre 2006 e 2011. Este levantamento sugere um
crescimento exponencial dos imigrantes peruanos durante este período
determinado, mas não há dados que permitam caracterizá-lo como um
movimento ainda contemporâneo ou apenas sazonal.
Entre 1970 e 2000, o fluxo desses imigrantes era bem inferior, apesar de crescente. Baeniger (2008) analisou dados do IMILA/CELADE que
indicam o aumento no número de peruanos de 2.410, em 1970, para
5.833, até 1991.
A imigração peruana no Brasil não se caracteriza por uma centralização em determinada região ou cidade brasileira. Ainda assim, as duas
maiores metrópoles do país, Rio de Janeiro e São Paulo, são os principais
destinos dos peruanos. “De acordo com o Consulado Geral do Peru no Rio
de Janeiro, há cerca de 5.000 peruanos registrados nos Estados do Rio de
9
Disponível em http://oestrangeirodotorg.files.wordpress.com/2013/05/nc3bamero-de-imigrantes-no-brasilatc3a9-2012-por-pac3ads.pdf. Acesso em: agosto de 2014.
232 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Janeiro e Espírito Santo” (DANIEL, 2013, p. 54). Na cidade de São Paulo
existem, atualmente, quase 8.000 peruanos morando regularmente 10.
Silva (2007) analisou a origem destes imigrantes das décadas de 90
e início dos anos 2000. Segundo o autor, ela é bem diversa, incluindo a
capital Lima e os departamentos de Arequipa, Cusco, Callao, La Libertad,
Cajamarca, Lambayeque, Ayacucho, Junin, entre outros. Ele também
destacou dados do Censo 2000 sobre escolaridade dos imigrantes:
16,03% dos peruanos têm de 5 a 8 anos de formação; 38,81% têm de 9 a
11 anos de estudo; e com 12 a 15 anos de escolaridade são 24,10% dos
imigrantes peruanos.
A metrópole paulistana também tem atraído os peruanos que se dedicam aos setores da educação e dos serviços, entre eles os relacionados
às demandas domésticas, como postos de babás, diaristas, cozinheiras,
entre outras. Frequentemente relacionado aos bolivianos, o ramo da
costura também era uma opção aos peruanos que chegavam à cidade. A
cidade também é o principal destino escolhido por peruanos ligados à
produção artística. “A imigração peruana em São Paulo é bastante diversificada, em termos de classe social, objetivos que motivaram a saída do
Peru e a região de origem” (DANIEL, 2013, p. 54).
Chilenos – A presença de chilenos no exterior tornou-se um elemento estrutural do país a partir da década de 1970. São inúmeras razões
que levaram à saída massiva de chilenos do país, entre elas a conturbada
conjuntura política, econômica e social em que viviam, principalmente
após a instauração da ditadura militar em 1973. Exilados, foragidos, voluntários e demais indivíduos insatisfeitos com o contexto vigente no
período, no caso cerca de 500 mil chilenos, se deslocaram, durante as
três últimas décadas do século XX, a diversos países.
Atualmente, o Chile possui cerca de 18 milhões de habitantes e estima-se que um milhão de chilenos residam no exterior. Os 10 países com
maior número de chilenos no mundo são Argentina, Estados Unidos, Suécia, Canadá, Austrália, Brasil, Venezuela, Espanha, França e Alemanha.
10
Disponível em http://noticias.uol.com.br/infograficos/2014/01/21/imigrantes-sp.htm. Acesso em: agosto de 2014.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 233
Ainda que o Brasil também estivesse sob um regime militar (1964 –
1985), o país foi polo de atração de fluxos de emigrantes provenientes da
América Latina, principalmente de chilenos, argentinos e uruguaios,
quando ditaduras foram instauradas em vários países da região, provocando a saída de pessoas por motivos políticos e/ou econômicos.
A quantidade de chilenos no Brasil de 1960 a 1970 muito baixa, não
passando de 2 mil pessoas. O número deu um salto no censo de 1980, que
registrou cerca de 18 mil chilenos vivendo no país. Em 1991, a taxa subiu
para um pouco mais de 20 mil imigrantes, o que indica que a maior quantidade de migrações ocorreu durante a década de 70. No censo de 2000,
houve queda de 20.437 para 17.131 chilenos residindo no país, indicando um
possível retorno de alguns a seu país de origem. Existem estimativas não
oficiais que registram um número maior de chilenos vivendo no Brasil, já
que tais números buscam abarcar aqueles imigrantes que se encontram em
situação irregular no país segundo a sua política migratória, também sendo
chamados de “indocumentados” ou “ilegais”.
As “redes de imigrantes”, que são constituídas entre aqueles que
chegam ao país de destino e aqueles que estão no país de origem, também foram fator fundamental no movimento migratório chileno e, até
hoje, em menor número, atuam na emigração de chilenos para o Brasil.
No caso desse grupo nacional específico, o ato migratório foi organizado,
predominantemente, pelo homem, a quem coube a tarefa de, se casado,
deslocar-se primeiramente sem sua família e, posteriormente, quando já
instalado residencial e profissionalmente, reunir a família no novo país.
Podem-se estabelecer três fluxos na corrente emigratória chilena
do período entre os anos 1970 e hoje: 1) Aqueles que emigraram antes de
1970 ou 1973, em busca de melhores condições de vida, um fluxo pequeno; 2) Aqueles que emigraram após o início do regime militar, por razões
políticas, econômicas e/ou sociais, com a importância das redes de imigrantes, o maior fluxo do período; e 3) Aqueles que emigraram após o
fim da ditadura militar, depois da década de 1990, devido predominan-
234 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
temente às redes de imigrantes, um fluxo pequeno e que acontece até a
atualidade, em menor escala.
A imigração chilena diferencia-se de outras do mesmo período devido ao fator político que engendrou esse movimento e à condição social
da maioria desses imigrantes, que eram pessoas não muito pobres e com
uma boa formação educacional, sendo muitos qualificados profissionalmente e com diploma universitário.
A escolha pelo Brasil como país de destino deu-se principalmente pelos seguintes motivos: pelas oportunidades de trabalho oferecidas pelo país,
pela oferta de adentrarem ao território brasileiro já com a documentação
regularizada – o que não alcançou a todos – e pelas redes de imigrantes.
Os chilenos emigraram com uma intenção de retorno iminente,
quando acabasse o governo militar. Não foi o que aconteceu com a maioria,
pois se adaptaram ao novo país, assumiram novos compromissos e deram
início a uma nova vida, o que é comum entre quase todos os movimentos
migratórios. Atualmente, o retorno ainda é o desejo de algumas pessoas.
11.2. Mapeamento
Sayari-Danças Peruanas
(http://sayari-danzasperuanas.blospot.com.br/)
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 235
Figura 140 – Sayari-Danças
O blog Sayari-Danças Peruanas funciona como extensão do grupo
de danças homônimo, que foi formado no ano de 2009, nascendo do
propósito de expressar e difundir a arte e o folclore peruanos a partir do
eixo da dança. O grupo está composto por jovens brasileiros e peruanos
residentes na cidade de Rio de Janeiro, e se apresenta em diversas regiões, utilizando-se deste site para basicamente divulgar seus trabalhos e
interagir com o público através da internet. Com exceção de uma “nota
de reflexão” – trazendo um belo texto em prosa intitulado El valor de la
amistad, totalmente escrito em espanhol, o restante do conteúdo está em
português, contando apenas com palavras hispânicas como nomes, tratamentos ou mesmo termos soltos (caracterizando, em alguns casos,
quase uma espécie de “portunhol”). A maioria das publicações conta com
imagens, sendo, que muitas delas (aquelas que divulgam eventos já realizados pelo coletivo) as fotografias como elemento central.
Estrangeiros no Brasil
(www.facebook.com/estrangeirosnobrasil)
Figura 141 – Estrangeiros no Brasil
A página do Facebook Estrangeiros no Brasil, criada em 9 de maio
de 2012, surgiu a partir do desejo do autor (um imigrante peruano no
236 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Brasil) de compartilhar informações que fossem úteis aos demais usuários em sua condição. Com 291 curtidas (em dezembro de 2014) e uma
proposta bastante humilde de construção colaborativa, ela veicula tanto
notícias quanto mensagens de pessoas que precisam ou oferecem trabalho. Encontra-se um caso específico de campanha de auxílio a uma
família residente no país que perdera tudo num incêndio. O principal
tipo de postagem encontrada na página, contudo, são mensagens de
auto-ajuda e encorajamento. Porém, nota-se que o objetivo principal da
página é trazer à comunidade peruana residente no Brasil as principais
oportunidades voltadas especificamente para esses grupos, assim como
guias práticos para questões de cidadania jurídica, imposto de renda etc.
Peruanos en Brasil
(www.peruanosenbrasil.com)
Figura 142 – Peruanos en Brasil
O portal Peruanos en Brasil não possui datação exata nem das postagens nem de sua própria história, porém apresenta uma interface bem
autêntica e remetente à cultura peruana, com certo ar de tradição. Disponibilizando links para Web Rádio CAMI, eventos gratuitos de cursos de
português e cidadania brasileira para estrangeiros e até algumas leis e
regulamentos (como tratados do Mercosul) nacionais e transnacionais, o
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 237
foco principal das narrativas próprias que produz é de fato a cultura
cristã regional do Peru. O site representa uma espécie de recanto para os
imigrantes ligados às questões de religiosidade e institucionalidade cristã;
mais que meramente ao lado espiritual do catolicismo, à prática sociocultural da fé. Todo o site está em espanhol, porém disponibiliza uma aba
“Mais notícias”, voltada especificamente para notícias do Peru, do Brasil,
em São Paulo, Atividades, Curiosidades etc.
Peruanos en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/peruanos.brasilmundo/?fref=ts)
Figura 143 – Peruanos en Brasil
O grupo de mais destaque dentre os peruanos no Facebook é o Peruanos en Brasil. Ele é fechado, possui 4.262 membros (em outubro de
2014) e uma frequência de cerca de oito posts por dia. Na descrição está
especificado que “grande parte dos integrantes do grupo são estudantes
de pós-graduação, graduação e intercâmbio, assim como trabalhadores
residentes de diversas áreas profissionais e outros grupos de turistas”. As
principais questões tratadas na página são sobre documentação, locação
de moradias e divulgação de eventos voltados à comunidade peruana/latina/imigrante.
238 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Inmigrantes Peruanos
(www.inmigrantesperuanos.com)
Figura 144 – Inmigrantes Peruanos
O site Inmigrantes Peruanos apresenta um corpo bastante diversificado de temáticas pertinentes à condição migrante de seu público alvo.
Criado por Carlos Palma Lovón, é uma realização do “Ideasperu Producines Multimedia”. Apesar de não possuir nenhuma datação exata
observada em suas publicações, ele é recheado de conteúdos lúdicos,
culturais e práticos de amparo aos peruanos residentes em outros países,
como o Brasil. Na sua distribuição por abas, encontram-se referências a
charges, noticiários de celebridades, de esportes, de economia e política,
arquivos com relações de músicas típicas regionais, gastronomia, fotos
dos locais de origem (na aba “Fotos del Peru” e na “Fotos de mi bairro”,
sobretudo), e um convidativo livro de visitas para contagem interna dos
acessos. O projeto é bastante interessante, apesar das lacunas básicas de
interatividade e administração da própria produção – como a ausência de
datação e a interface razoavelmente obsoleta.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 239
Peruanos viviendo en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/251847274971891/?fref=ts)
Figura 145 – Peruanos viviendo em Brasil
O grupo fechado do Facebook Peruanos viviendo en Brasil tem 2.397
pessoas e quase dez publicações por dia. Voltado para imigrantes peruanos no Brasil, ele foi criado para gerar comunicação e troca de
informações interessantes sobre o país de origem dos membros e o país
que os acolhe, segundo a descrição do próprio administrador. Escritas
majoritariamente em português, as postagens tratam de diversos assuntos, como gastronomia e cultura peruana, exaltação do Peru e de suas
regiões, arte e educação, tanto do país de origem quanto do Brasil. Abordam temas leves relacionados com humor e curiosidades através de
textos e imagens, e divulgam notícias importantes sobre a situação dos
imigrantes no país. O grupo contém mensagens religiosas e de solidariedade, além da comemoração de datas importantes. Há também casos
recorrentes de posts sobre o aprendizado do português.
240 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Peruanos en Rio de Janeiro
(https://www.facebook.com/groups/peruanosenrio/?fref=ts)
Figura 146 – Peruanos en Rio de Janeiro
O grupo fechado do Facebook Peruanos en Rio de Janeiro, único de
peruanos no Rio de Janeiro analisado na pesquisa, tem 1.384 membros e
aproximadamente um post por dia. Dentre os assuntos das publicações,
estão: comunicados de venda de objetos usados, anúncios de aluguel de
vagas e quartos e propagandas de determinados locais no Rio de Janeiro,
como restaurantes. É bastante comum encontrar Postagens, em espanhol, sobre divulgações de festas e eventos relacionados à cultura
peruana, assim como o compartilhamento de notícias do país de origem
e da situação dos imigrantes no Brasil. Pedidos de auxílio em temas conhecidos e de interesse entre os membros, como questões de
regularização de documentos, também estão presentes no grupo.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 241
Peruanos en São Paulo – Brazil
(https://www.facebook.com/groups/628777207146429/?fref=ts)
Figura 147 – Peruanos en São Paulo
O grupo público do Facebook PERUANOS EN SÃO PAULO –
BRAZIL, voltado para a comunidade peruana em São Paulo, possui 449
integrantes. Ele apresenta um espaço para troca de informações e auxílio
entre os imigrantes. As postagens de destaque são notícias sobre o Peru
compartilhadas na página, posts sobre culinária tradicional do país e
dicas interessantes para os imigrantes, como as de viagem. São comuns,
também, publicações relativas à comercialização de produtos eletrônicos,
imóveis à busca por serviços específicos em São Paulo, como por exemplo restaurantes veganos. Há, além disso, solicitações e trocas de contato
entre os membros.
242 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Peruanos en São Paulo
(https://www.facebook.com/groups/135970299764485/?fref=ts)
Figura 148 – Peruanos en SP
O grupo público do Facebook Peruanos en São Paulo possui como
foco a comunidade peruana em São Paulo e conta com 845 integrantes. O
objetivo do grupo, segundo a própria descrição da página, é reunir os
peruanos que vivem em São Paulo, para que possam se encontrar, conhecer, compartilhar dicas e informações e conceder ajuda de modo
geral. Em suas postagens, de maioria escrita em espanhol, há vários
assuntos, desde posts de gastronomia, passando por notícias de vagas de
emprego a divulgação de imóveis à venda. Dentre outros conteúdos, nele
foram compartilhadas informações e dicas úteis sobre o país de origem e
o local de residência atual, além de fotos de encontros entre alguns
membros.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 243
Culinária Peruana no Brasil
(http://chaskay-peru.blogspot.com.br/)
Figura 149 – Culinária Peruana no Brasil
O blog Culinária Peruana no Brasil, disposto na plataforma Blogspot, é de autoria de uma bióloga peruana residente no Rio de Janeiro,
segundo a descrição disponível na página. A apresentação está em português, enquanto o espanhol domina as postagens. O blog começou em
2007 e seu último texto foi publicado em março de 2011, totalizando 27
postagens. Os artigos exaltam a culinária peruana, o valor nutricional
dos alimentos produzidos no país e descreve a história e a receita dos
pratos típicos.
244 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Peruanos en el Brasil
(https://www.facebook.com/PeruanosNoBrasil?fref=ts)
Figura 150 – Peruanos en el Brasil
Peruanos en el Brasil é a única fan page de destaque encontrada na
pesquisa, com 759 curtidas. Segundo sua própria descrição, a página é
uma comunidade criada para integração dos imigrantes peruanos através de compartilhamento de notícias sobre Peru e Brasil. Possui o
objetivo de ser um espaço de encontro e comunicação entre peruanos
que residem no Brasil. Os temas expostos são diversos, como direitos dos
imigrantes, auxílio em pedidos de vistos e outros documentos, música,
semelhanças e diferenças entre os idiomas português e espanhol, e economia e política de ambos os países. Muitas das notícias divulgadas se
enquadram na categoria curiosidades. Fotos de encontros e reuniões
entre alguns dos membros também são comuns na página.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 245
Agenda Colômbia Brasil
(http://agendacolombiabrasil.org)
Figura 151 – Agenda Colômbia Brasil
A Agenda Colômbia Brasil descreve-se como “um espaço social e político que busca dar visibilidade à realidade colombiana e gerar
solidariedade do povo brasileiro aos movimentos da sociedade civil e
organizações políticas democráticas colombianas”. Para este fim, trabalha
suas produções e matérias a partir dos seguintes eixos: Divulgação e
informação, Memória histórica, Direitos Humanos, Paz duradoura, Ajuda
a exilados, perseguidos e refugiados, Intercâmbio de experiências e convênios. Contando com uma eficaz e constante atualização dos conteúdos,
seu objetivo é criar solidariedade nas organizações sociais e políticas do
povo brasileiro ao povo colombiano para apoiar as lutas das colombianas
e dos colombianos.
246 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Dialogo Americas
(http://dialogo-americas.com/)
Figura 152 – Diálogo Americas
O Dialogo Americas é um espaço virtual que abrange uma ampla
gama de áreas de interesse, mas atua no clássico eixo de prioridade, focando, por exemplo, em abordar as questões militares, cartéis latinos e
diálogos transnacionais entre governos. No período analisado, as notícias
sobre a Colômbia em si não protagonizavam o corpo editorial. Perdiam
para declarações da ONU e para as notícias especificamente voltadas às
relações do tráfico (atuante no país, mas também relacionado aos cartéis
de outros países, como por exemplo Honduras). No entanto, o portal se
apresenta sem pudor como um informativo genérico, que abrange também a questão migratória entre países sul-americanos. É um noticiário
direto e objetivo, sob perspectiva e lógica informacional militarista.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 247
Colombianos en Brasil
(https://www.facebook.com/ColombianosEnBrasil)
Figura 153 – Colombianos en Brasil
A página do Facebook Colombianos en Brasil tem 746 curtidas e um
caráter bastante simplório de diálogo com o íntimo aspecto da realidade
de imigrante: a motivação necessária diante das adversidades do estrangeirismo. A maior parte das postagens analisadas possuía cunho de
reflexão motivacional. Criada em 25 de maio de 2012, a página é escrita
totalmente em espanhol. Na data de sua criação, o autor publicou um
pequeno texto com o objetivo geral do espaço: “trocar informações, conversas e ajuda entre imigrantes colombianos residentes no Brasil e
demais vinculados a estes grupos”. Também se apresentam na comunidade virtual propagandas de livros e de eventos, dicas turísticas e
classificados para artistas colombianos.
248 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Colombianos en Rio de Janeiro
(https://www.facebook.com/groups/colombianosnorio/)
Figura 154 – Colombianos en Rio de Janeiro
O grupo Colombianos en Rio de Janeiro presente na rede social Facebook contava com 5.826 membros até dezembro de 2014. As postagens
seguem um ritmo acelerado, e partem dos mais diversos tipos de assuntos e usuários. A partir de um conjunto simples de 3 regras gerais,
colocado na descrição do grupo, essas interações se articulam de maneira
harmônica e produtiva, funcionando como uma verdadeira rede de relações pertinentes à comunidade migrante colombiana. Por se tratar de um
recorte territorial bem definido, é possível, na comunidade, dialogar com
assuntos específicos da cidade do Rio e de seus arredores, tornando a
proximidade geográfica um fator incentivador dessas relações.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 249
Colombianos en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/18339657608/)
Figura 155 – Colombianos en Brasil
O grupo do Facebook Colombianos en Brasil se descreve como uma
comunidade para todos os colombianos que se encontram neste “maravilhoso país” e, para os simpatizantes destes. Em outras palavras, seus
1.247 membros estão entre imigrantes e aqueles interessados em migrar
para o país – por vezes, trata-se aqui de assuntos pertinentes a um projeto de imigração para o Brasil. O grupo também se representa enquanto
espaço de diálogo e de planejamento de festas, eventos e encontros. As
postagens têm um caráter acelerado e não ritmado, afinal, trata-se de
uma produção de conteúdo totalmente comunitária – o “cargo” de administrador do grupo ou criador não infere uma responsabilidade geral de
postagem; todos postam e interagem livremente.
250 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Bolivianos no Brasil
(http://bolivianosnobrasil.blogspot.com.br/)
Figura 156 – Bolivianos no Brasil
O blog Bolivianos no Brasil, hospedado na plataforma Blogspot, tem
a bandeira da Bolívia como plano de fundo. A primeira postagem foi
realizada em março de 2012 e a última em maio do mesmo ano, totalizando oito. As publicações são sobre a história da Bolívia, notícias atuais
sobre o país e a imigração boliviana para São Paulo. A língua utilizada é o
português. Não há descrição ou apresentação própria sobre a página.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 251
El Merengue de la Tarde
(http://www.elmerenguedelatarde.com/)
Figura 157 – El Merengue de la Tarde
O portal da web radio de São Paulo El Merengue de la Tarde conta
com a transmissão da programação em espanhol, iniciada assim que o
ouvinte entra no domínio. São 24 horas com músicas hispânicas, notícias, humor e sorteios. Além disso, também há transmissão de partidas
de futebol, como por exemplo Bolívia X Venezuela pelas eliminatórias da
Copa de 2014. O site também dispõe de espaços de interação com o Facebook; anúncios de empresas; divulgação de eventos e serviços; um curso
de informática gratuito disponibilizado pelo Centro de Apoio e Pastoral
do Migrante (CAMI); links para outras rádios bolivianas; notícias sobre a
Bolívia direcionadas para sites oficiais do governo; áudios de entrevistas
com personalidades como o cônsul boliviano em São Paulo, artistas de
música andina do grupo Kjarkas e o secretário nacional de justiça do
Brasil; além de vídeos; entre outros. O portal disponibiliza dados percentuais sobre a origem dos visitantes, indicando que 87% são do Brasil,
4,5% dos Estados Unidos e 2,7% da Bolívia. El Merengue de la Tarde
ainda possui uma fan page no Facebook, um perfil no Twitter e um blog
na plataforma Blogspot.
252 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Cooperativa dos Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em Vestuário e Confecção (Coebiveco)
(http://waqhanque.wix.com/coebiveco)
Figura 158 – Coebiveco
A página da Cooperativa dos Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em Vestuário e Confecção (Coebiveco), disponível na plataforma Wix,
está escrita em português. O site fala sobre a história da tradição da região do Brás (São Paulo) no setor de confecção, do papel dos imigrantes
nesta atividade econômica, dos problemas que os microempreendedores
bolivianos enfrentam (como segurança e os altos preços dos aluguéis),
além dos objetivos e da história da cooperativa. O portal ainda comporta
vídeos oficiais de incentivo ao turismo para a Bolívia (Campanha Bolívia
Te Espera); ícones de parceiros, como o Centro de Direitos Humanos e
Cidadania do Imigrante (CDHIC) e o Ministério do Trabalho; e cartões
virtuais das oficinas sócias da cooperativa. A Coebiveco também possui
um perfil no Facebook.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 253
Centro de Apoio Comunitário Inti Wasi
(http://intiwas6.wix.com/intiwasi)
Figura 159 – Inti Wasi
O Centro de Apoio Comunitário Inti Wasi, com página hospedada na
plataforma Wix, se descreve como uma Organização Não-Governamental
da cidade de São Paulo voltada para imigrantes latinos falantes da língua
espanhola. Alternando o espanhol e o português entre suas seções, a
página funciona como um canal de comunicação da organização, além de
veicular informações relativas às políticas de de imigração e de direitos
humanos. A instituição também conta com uma fan page no Facebook e
um espaço no Forum. Em ambos os meios, o espanhol é o idioma dominante. O principal objetivo desta mídia é chamar o público para
colaborar e conhecer os projetos relacionados à organização. Apesar da
ONG ser direcionada a todos os imigrantes hispano-americanos no Brasil, algumas de suas características sugerem uma identificação mais
profunda com a comunidade peruana. O nome Inti Wasi significa “casa
do sol” em quéchua; quase todas as notícias na página inicial são sobre o
Peru; e, segundo o site, a equipe da instituição é formada por duas peruanas e um brasileiro.
254 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Bolivianos en São Paulo-Brasil
(https://www.facebook.com/groups/%20bolivianosensaopaulobrasil)
Figura 160 – Bolivianos en São Paulo-Brasil
Bolivianos en São Paulo-Brasil é o grupo do Facebook com maior
número de membros dentre os pesquisados, totalizando 6.097 pessoas
(em agosto de 2014). A página tem uma frequência média aproximada de
40 posts por dia. Os temas variam de anúncios de trabalho; informações
sobre a política e a sociedade boliviana; exaltação da Bolívia e de suas
cidades; piadas; cumprimentos; eventos da comunidade boliviana ou
imigrante; etc.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 255
Bolivianos en Brasil
(https://www.facebook.com/groups/bolivianosenbrasil)
Figura 161 – Bolivianos en Brasil
Bolivianos en Brasil é o segundo grupo do Facebook com mais
membros nesta seção do trabalho sobre a Webdiáspora, 2.737 (em agosto
de 2014). As publicações são bem menos frequentes, cerca de 12 por mês.
Também aqui se repetem anúncios de postos de trabalho, a exaltação da
pátria boliviana e de suas regiões, a divulgação de eventos e notícias de
interesse dos imigrantes bolivianos. Destacam-se, além disso, os posts de
discussão sobre política relativos às eleições na Bolívia; postagens de
pessoas com dúvidas relativas ao projeto de imigração para o Brasil;
questões de documentação e de cidadania jurídica; prestação de solidariedade com situações de sofrimento relatadas por outros bolivianos ou
imigrantes.
256 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Bolivianos en Brasil-Sao Paulo
(https://www.facebook.com/groups/521915077880170/?fref=ts)
Figura 162 – Bolivianos em Brasil-SP
O grupo público do Facebook BOLIVIANOS en BRASIL-sao paulo
conta com 310 integrantes e é um espaço de interação voltado para os
imigrantes que saíram da Bolívia para viver em São Paulo. Seus principais posts são críticas ao atual governo boliviano e notícias sobre Bolívia
e Brasil. Além disso, o grupo apresenta publicações acerca de temas políticos gerais, como eleições, e de temas variados, como
postagens com humor, imagens e vídeos comuns em compartilhamentos na internet, curiosidades e publicações sobre o amor ao país de
origem. As publicações e os comentários são feitos em espanhol, com
raras exceções. E a maior interação observável entre os membros ocorre
via comentários de publicações, nos quais os usuários expressam suas
opiniões sobre temas do cotidiano e debatem entre si, principalmente
sobre questões políticas. É interessante ressaltar que inicialmente as
postagens eram realizadas quase exclusivamente pelo criador da página
e, depois, a participação de outros integrantes aumentou consideravelmente.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 257
Bolivianos(as) na República Federativa do Brasil
(https://www.facebook.com/groups/632899750078472/?fref=ts)
Figura 163 – Bolivianos na Rep. Fed. Do Brasil
O grupo público do Facebook BOLIVIANOS(AS) NA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL possui 246 membros e foi criado para interação e compartilhamento de informações e experiências entre bolivianos
que residem no Brasil. Nele há postagens majoritariamente em espanhol
e sobre diversos assuntos, como notícias de portais sobre bolivianos no
Brasil, divulgação de serviços importantes para os membros, informações úteis sobre documentos, questionamentos acerca da condição de
imigrantes análoga à de escravidão e publicações sobre política e esporte
de ambos os países. De uma forma geral, o grupo destina a maior parte
das suas publicações para demonstrar sua opinião sobre o atual presidente boliviano Evo Morales. É interessante notar que o papel do criador
da página na produção das postagens tem muito destaque, já que grande
parte do conteúdo veiculado na página é de sua responsabilidade.
258 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Bolívia Cultural
(http://www.boliviacultural.com.br/)
Figura 164 – Bolívia Cultural
O Bolívia Cultural é um dos sites mais completos, atualizados e
abrangentes dentre os verificados. Trata-se de um projeto de comunicação criado em abril de 2009 em São Paulo, pelo imigrante boliviano
Antonio Andrade Vargas, natural de Sucre. Segundo a descrição da fan
page no Facebook, trata-se de uma “agência de notícias e promotora da
diversidade cultural boliviana no Brasil”. A equipe atual é formada por
seis pessoas, entre brasileiros e bolivianos. O site se apresenta em português, apesar de veicular alguns textos em espanhol esporadicamente. As
notícias que alimentam a página são divulgadas em redes sociais próprias e domínios de organizações associadas. Na página inicial destacamse as chamadas das matérias no formato de banners que se alternam
automaticamente. Também na homepage estão dispostas uma lista de
notícias e um espaço para interação com o Facebook. Na seção “Bolívia
naturalmente multicultural”, o público tem acesso ao mapa da Bolívia
dividido em departamentos. Cada um deles direciona a uma página em
manutenção. Já em “Imagens Bolivianas”, estão disponíveis fotografias
da Bolívia em alta resolução, sugeridas como papel de parede do compu-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 259
tador. O portal possui ainda o site Planeta América Latina, voltado para
todos os países do continente.
Cámara Chileno Brasileña de Comércio
(www.camarachilenobrasilena.cl)
Figura 165 – CCBC
Fundada há 34 anos, a Cámara Chileno Brasileña de Comércio –
CCBC é uma associação que busca agrupar um setor representativo do
empresariado chileno e brasileiro. Seu objetivo é o de intensificar as relações comerciais, industriais, turísticas e de transporte entre as repúblicas
do Chile do Brasil. O site é inteiramente dedicado à Associação e, por ser
voltado ao público executivo, possui um design sóbrio e moderno, sendo
dinâmico e fácil de navegar. A página contém publicação de notícias em
relação ao mundo empresarial chileno-brasileiro, além de informações de
interesse sobre negócios e uma página para busca e divulgação de oportunidades comerciais.
260 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Chilenos en Brasil
(http://www.chilenosenbrasil.net/)
Figura 166 – Chilenos em Brasil
Com o apoio do “Consulado General de Chile – São Paulo”, o site
Chilenos en Brasil presta um serviço de utilidade pública à comunidade
chilena no Brasil. Seu conteúdo varia desde eventos e atividades culturais
à gastronomia, indústria, negócios, empregos e saúde. Oferece uma série
de links essenciais, como páginas de instituições chilenas, sites de envio
de dinheiro ao país de origem e o “Guía de profesionales chilenos em
Brasil”. A página principal fornece espaço para que membros da comunidade possam colocar anúncios, assim como destaca o “funcionário
chileno do mês no Brasil”. O site também conta com uma página do Facebook para a divulgação de informações de interesse à comunidade
chilena.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 261
Comunidade Chilena
(http://www.comunidadechilena.com.br)
Figura 167 – Comunidade Chilena
Segundo o próprio site Comunidade Chilena, seu objetivo é de ser
um espaço a todos os chilenos e descendentes que residem no Brasil. Visa
a unir a comunidade chilena através de informações “que podem vir a
servir a um compatriota, como aposentadoria, subsídio habitacional,
serviços consulares, reuniões das associações/comunidades que venham
a acontecer, encontros festivos”. O site também convida os membros da
comunidade chilena contribuirem com informações, divulgação de serviços ou com qualquer tipo de auxílio. Há uma série de outros links
atrelados à página principal, entre eles encontra-se o site do consulado
chileno no Brasil, o consulado brasileiro no Chile e o site
www.chilenosenbrasil.net.
262 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Sabores do Chile 11
(http://www.saboresdochile.com.br)
O Sabores do Chile, evento que reúne autoridades e empresários
chilenos e brasileiros, tem como objetivo diversificar e aumentar as exportações chilenas nos setores agrícola, alimentício e de bebidas para o
Brasil. O evento do ano de 2014 ocorreu em São Paulo, nos dias 7 e 8 de
maio, e o site é inteiramente dedicado a ele, além de conter seções de
“Análise econômico comercial”, “Como se estabelecer” e “Como fazer
negócios”, além de notícias e links ligados ao mercado. Assim como o
CCBC, o site se dedica ao mundo comercial/empresarial e tem apoio do
Governo do Chile.
Universidad de Chile Brasil
(http://udechilebrasil.blogspot.com.br)
Figura 168 – Universidad de Chile Brasil
O blog Universidad de Chile Brasil é inteiramente dedicado a um
dos mais conhecidos times do futebol chileno: Universidad Catolica de
Chile, mais conhecido como “La U”. A página é dedicada aos torcedores
11
No período da captura das imagens para ilustração desse trabalho (de 27/01/2014 a 15/02/2104), a página não
estava disponível.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 263
brasileiros e residentes no Brasil, com notícias inteiramente em português. O site é simples, com uma interface que se resume a um feed de
notícias, basicamente o único conteúdo do site.
11.3. Análise
Foram analisadas, no total, 10 páginas 12, dentre sites, blogs, fóruns e
grupos no Facebook das nacionalidades: peruana, boliviana, colombiana
e chilena. Cada postagem, relacionada ao período de outubro de 2013 a
fevereiro de 2014, foi encaixada em uma das 11 categorias estabelecidas.
São elas: 1) “Projeto de migração”; 2) “Famílias e relações transnacionais”; 3) “Vínculos informativos com o país de nascimento”; 4)
“Consumo e produção cultural”; 5) “Aprendizado do idioma”; 6) “Cidadania jurídica”; 7) “Usos de mídias de migração”; 8) “Companhia e ócio”;
9) “Participação política”; 10) “Associativismo”; e 11) “Outros”.
Das 178 postagens, analisadas, 60 se encaixaram na categoria “Vínculos informativos com o país de nascimento”; 29 em “Consumo e
produção cultural”; e 19 em “Companhia e ócio”. As categorias “Participação Política” e “Associativismo” somaram 14 textos cada. “Cidadania
Jurídica” contemplou 5 textos; seguida de “Projeto de Migração” com 4;
“Aprendizado do Idioma”, com 2; e “Famílias e Relações Transnacionais”,
com 1. Vinte textos foram classificados na categoria “Outros”. Apenas a
categoria “Uso de mídias de migração” não foi contemplada.
Pelo conteúdo do blog Sayari-Danças Peruanas, podemos ver que a
página se apropria de diversas tradições da cultura latina e andina do
Peru para compor suas apresentações musicais, com figurinos, maquiagens, dançarinos etc., articulando-se em eventos que possuam também
outros tipos de manifestações com este fim. Orgulhosos das suas raízes,
os participantes declaram, na própria descrição do blog, que desejam
“manter viva parte dos costumes peruanos, tentando levar um pouqui12
Bolívia Cultural, Camara Chilena de Comercio, Universidad de Chile Brasil, Chilenos en Brasil, Colombianos en
Brasil, Estrangeiros no Brasil, Agenda Colombiana, Peruanos en Brasil, Diálogo Américas e Inmigrantes Peruanos.
264 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
nho da cultura do Peru através das danças e da música”. Apesar de possuir pouquíssimas publicações e um grande intervalo entre elas, a
característica mais interessante do grupo é que, no blog, está o convite a
qualquer um que deseje compor essa equipe de dança ou mesmo participar de alguma outra forma dos encontros, ensaios e apresentações.
Sayari forma também vínculos de amizade e parceria – “somos uma
família e cada um dos integrantes é parte fundamental do grupo” – uma
verdadeira rede de relações, estendida à ‘world wide web’”.
O aspecto emotivo presente em algumas postagens, no que tange às
dificuldades da situação de imigrante, foi o que pôde ser observado no
site Estrangeiros no Brasil. Essa característica confere credibilidade e
apego à página por parte daqueles que a “curtem”, sobretudo porque
permite criar com o público um vínculo de projeção e identificação, uma
semelhança latente uma vez que o autor também é um sujeito comum,
imigrante, e com experiências pessoais acerca do tema presente em suas
postagens. O destaque fica por conta de breves textos escritos pelo próprio administrador da página. Muitas das vezes, apenas um toque
pessoal acompanha um texto padrão copiado e compartilhado, mas já é o
suficiente para criar um vínculo e uma marca. Um episódio em particular
chamou nossa atenção por seu caráter solidário: o caso de uma campanha de auxílio a uma família peruana residente no Brasil que perdera sua
casa e praticamente todos os seus pertences num incêndio.
Já a página Peruanos en Brasil, por ser atravessada fortemente pelo
viés cultural, com uma abordagem calcada nos sólidos pilares do catolicismo e das demais tradições peruanas, podemos dizer que representa,
de maneira geral, uma espécie de recanto para os imigrantes bastante
ligados às questões de religiosidade e institucionalidade cristã (mais que
meramente o lado espiritual do catolicismo, a prática sociocultural da fé),
que é marcada por sua presença tanto na sociedade peruana como na
brasileira. Porém, em cada comunidade, essas práticas se constroem e
constituem de maneiras diferentes, e aqui é possível sentir de fato a devoção e as preces dos fiéis que escrevem, administram e aparecem nas
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 265
matérias da página. É evidente que o site não deixa de lado notícias de
importância geral e de interesse humanitário, mesmo as páginas não se
propondo a um papel na esfera do que se chama “notícias quentes” ou
breaking news (por exemplo, no caso da entrevista com um sobrevivente
do famoso acidente com mineradores soterrados). Mas também é nítido
que esse não é seu objetivo primário.
Com relação ao aspecto político e à cidadania comunicativa, destacamos o site Agenda Colômbia Brasil. Apesar de declaradamente ser um
espaço apartidário, horizontal e autônomo, o corpo editorial do site o
mostra sensível às sutilezas e gravidades da política colombiana – talvez
até mais do que às questões políticas que envolvem a cidadania dos imigrantes colombianos no Brasil. O site deixa claro, por exemplo, seu
repúdio – em diversos momentos – à perseguição realizada à Unión Patriótica (UP). Podemos compreender, a partir daí, que a intenção deste
portal já está presente no logotipo que encabeça a página: “agenda Colômbia-Brasil; a solidariedade é dos povos – la solidariedad es de los
pueblos”. Ela passa próxima às questões que muitas vezes figuram como
causa da migração, e não tanto àquelas que compõem o acervo de obstáculos do migrante após sua partida. Todavia, há de ser ter a sensibilidade
de notar que estes temas são, por vezes, extremamente relevantes para a
relação do sujeito migrante com a família que deixou para trás, ou mesmo com sua condição jurídica internacional. Outro exemplo nesse
sentido é o site Diálogo Américas – revista militar digital que tem a guerra civil nacional entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (FARC) como um dos principais assuntos tratados. Em algumas matérias, inclusive, observa-se a atenção às questões da fronteira –
visto que a guerrilha do narcotráfico é um dos principais motivadores da
migração colombiana pelo norte do Brasil.
A aspereza da vida estrangeira e sua natureza duplamente problematizada, complexa, são a matéria-prima no subtexto implícito das
postagens de Colombianos En Brasil, fazendo com que a página do Facebook assuma um caráter de auto-ajuda. Por sua vez, essas palavras não
266 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
são ditas, essa ferida não é tocada diretamente. Ao contrário, o autor
parece saber que o universo em que se insere o imigrante que passa por
essa dificuldade já faz lembrá-lo disso o tempo todo, e portanto, oferece
aqui apenas o consolo. Nas palavras, sempre na língua nativa, se dando
ao luxo de algumas expressões de linguagem mais populares, se encontra
o caráter acolhedor da página, com preocupações até mesmo fraternas
(como um recado natalino à comunidade colombo-brasileira todos os
anos).
A interação entre os usuários é que chama a atenção na página do
Facebook Colombianos en Brasil. É possível deduzir, a partir da análise
dos posts, que os conteúdos compartilhados por seus membros são pertinentes não apenas para aqueles que já vivenciam a condição de
imigrantes, mas também àqueles que se interessam – por vezes, tratamse aqui de assuntos pertinentes a um projeto de imigração para o Brasil.
De maneira geral, o ponto alto dessa página são as relações diretamente
estabelecidas entre usuários. Uma boa ilustração desse elemento está em
uma das postagens analisadas: uma colombiana residente no Brasil pergunta (próximo ao fim de ano) sobre as opções de deslocamento
rodoviário entre Brasil e Colômbia.
Com relação às páginas dos imigrantes chilenos, a categoria mais
ressaltada na análise de conteúdo é a de “Vínculos informativos com o
país de origem”, revelando o papel principal da webdiáspora chilena:
manter a comunidade em contato com o país de origem, divulgando
informações para aqueles que estão longe da terra natal.
Os sites Camara Chilena de Comercio e Universidad de Chile Brasil
proporcionam informações de temáticas muito específicas: o primeiro
trata de informações empresariais a respeito das relações econômicas
estabelecidas entre Chile e Brasil (por isso muitas de suas postagens se
vinculam, também, à categoria “Associativismo”), o segundo trata-se de
um blog com extenso conteúdo informativo (em português) a respeito do
time de futebol Universidad Católica de Chile.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 267
A maioria do conteúdo analisado no protocolo é proveniente da página de Facebook Chilenos en Brasil, maior grupo da comunidade chilena
no país. As postagens livres da rede social, que não seguem uma regra ou
padrão, expõem temáticas que transitam entre informação, ócio, humor,
produção e consumo de conteúdo cultural e uma série de outros temas
que não se enquadram nas categorias específicas do protocolo, sendo
colocados, portanto, na categoria “Outros”, a segunda mais utilizada na
análise.
É no conteúdo das postagens da página Chilenos en Brasil que se
encontra, portanto, a maior riqueza de conteúdo necessária para compreender a webdiáspora chilena no Brasil. Com 10.894 seguidores (em
dezembro de 2014) e com atualização frequente do feed de notícias, a
página é a maior fonte de informação e interação virtual para a comunidade chilena no país. Muitas postagens apresentam, além de notícias,
informações de utilidade pública como questões jurídicas relacionadas a
documentação e emprego (tendo inclusive uma postagem regular que
destaca o funcionário chileno do mês no Brasil). Há, também, muito
conteúdo humorístico, com piadas que são muito específicas da cultura
chilena.
Destaca-se um vasto conteúdo de postagem que revela características muito marcantes entre os chilenos, que são o patriotismo e a
valorização de seu país: postagens enaltecendo as belezas naturais no
Chile, as tradições, as festas e os hábitos dos quais os imigrantes sentem
falta no país de acolhimento tomam boa parte do conteúdo da página.
Há, também, postagens com o objetivo de “explicar” determinados comportamentos dos brasileiros, e que dão indicações de “como se portar” no
Brasil e de como se relacionar com os brasileiros, de modo que sejam
aceitos e acolhidos pelo país.
Por fim, com relação aos bolivianos, verificamos que a identidade do
Bolívia Cultural está diretamente vinculada à comunidade boliviana imigrante. Esta relação atribui ao projeto, em alguma medida, o status de
representante deste grupo social, que em contrapartida cobra e opina
268 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
sobre diversos aspectos. Notamos que o portal deixou de ser uma mídia
periférica para se tornar uma mídia de fato, uma vez que se transformou
em fonte de informação, e não é mera reprodutora de conteúdo. Um dos
grandes destaques desse projeto é a campanha “Eu Amo Bolívia”. Lançada em 2011, trata-se de uma ação desenvolvida com o objetivo de
promover a cultura boliviana no Brasil. Para divulgar a marca, foram
criados produtos com a estampa da logo criada para a campanha, como
camisetas e chaveiros. Durante a pesquisa, o Bolívia Cultural se destacou
pelo seu caráter profissional e comercial.
11.4. Considerações finais
O panorama atual da imigração andina para o Brasil está inserido,
conforme dissemos anteriormente, em um contexto no qual os fluxos
migratórios entre nações da América do Sul superam em números a
saída para Estados Unidos e Europa. Neste cenário, o Brasil aparece como receptor dos novos imigrantes sul-americanos, tendo registrado o
aumento no número destes estrangeiros.
No geral, o processo identitário que permeia esses grupos no Brasil
é determinado pela afirmação e exaltação da cultura milenar da terra
natal, especialmente em relação à Bolívia, ao Peru e à Colômbia; a questão étnica e racial, já que muitas vezes tratam-se de indivíduos com
fenótipos indígenas; e a possibilidade de diálogo a partir das semelhanças
com a cultura brasileira, oriundas das influências ibero-americanas, indígenas e africanas. A partir de Hall (2003 e 2006), discutem-se
características gerais das minorias étnicas e comunidades diaspóricas.
Com Silva (2007 e 2012), Vidal (2012), Daniel (2013) e outros, são descritas algumas das manifestações culturais dos andinos na sociedade
receptora e a importância de entender as complexidades destes grupos a
partir de sua heterogeneidade.
O tema principal da pesquisa é iniciado a partir da percepção da
importância da internet para a imigração contemporânea. Neste cenário,
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 269
Escudero (2014) utiliza o termo webdiáspora para conceituar a rede
formada pelos conteúdos criados na internet a partir universo da migração. Dentre as características destacadas por diferentes autores, a
apropriação da web por imigrantes é percebida como forma de novas
narrativas jornalísticas, possibilidade de manter os laços identitários com
local e cultura de origem, possibilidade de participação política através do
“ativismo em redes”, comunicação contra-hegemônica, comunicação
comunitária, prestação de serviços, entre outros aspectos.
Durante o mapeamento e a análise da webdiáspora andina no Brasil, confirmou-se a estrutura de uma rede, pois há interconexão e
interação entre as páginas. Em determinado momento, as produções se
encontram na webdiáspora latino-americana. São utilizadas as mais
variadas ferramentas disponíveis na internet: fóruns, webrádios, blogs,
grupos no Facebook. O idioma escolhido pelas páginas dos imigrantes
andinos varia de acordo com o objetivo e o público que desejam alcançar.
As páginas que buscam levar os brasileiros para conhecer o universo e a
cultura dos imigrantes preferem o português para chegar aos dois públicos. É o caso do Bolívia Cultural. Aquelas que se propõem a ser um
canais de comunicação apenas entre os imigrantes escolhem o espanhol.
De um modo geral, as mídias destacam aspectos positivos dos imigrantes e são muito interessantes para pensar a virtualização de
comunidades estrangeiras. A proposta dos grupos é unir pessoas que
muitas vezes não se conhecem pessoalmente, que têm em comum apenas
a origem nacional e a condição migratória. Majoritariamente, as páginas
de imigrantes andinos encontradas na internet evitam estimular rivalidades regionais, étnicas e sociais pré-existentes no país de origem.
Apesar dos desvios realizados por alguns membros, trata-se de um consenso que estimula a integração entre os imigrantes oriundos da mesma
nação.
Considerando ainda as limitações de acesso à web por parte de algumas camadas de imigrantes, seja por hábito ou por situação
socioeconômica, a atuação dos produtores em eventos e organizações de
270 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
imigrantes é fundamental para o sucesso das mídias e para sua consolidação como um referencial para a comunidade latina no Brasil. O
discurso contra-hegemônico é um dos aspectos analisados durante o
estudo de caso. A necessidade de ser uma alternativa à grande mídia
brasileira é afirmada pelos estudos de Manetta (2012) e Duarte & Dutra
da S. (2012). Por fim, a imigração de latino-americanos para o Brasil
levanta a questão do pertencimento ao continente latino-americano, o
quanto há de identificação e de distanciamento.
12
Webdiáspora Japonesa (Okinawana)
12.1. Contexto histórico da imigração
A política de enviar trabalhadores para outras partes do mundo adotada pelo governo japonês acompanhou o início da modernização do país com
a chamada Restauração Meiji, a partir da segunda metade do século XIX. O
expressivo crescimento demográfico, em virtude da melhora da qualidade
de vida da população, combinado à entrada tardia do Japão na economia
mundial capitalista, em 1868, culminaram no esforço do país em incentivar
a emigração, o trabalho temporário no exterior e até mesmo a anexação (e
colonização) de territórios, como ocorreu na Manchúria e na Coreia.
A aprovação da Lei de Proteção aos Emigrantes, em 1896, pela Câmara dos Deputados do Japão, é fundamental para a compreensão do que
definiria, posteriormente, a entrada de trabalhadores japoneses no Brasil.
O documento estabelece uma legislação de amparo e defesa do emigrante,
oficializando o incentivo do governo com relação à saída do território.
O primeiro grupo de imigrantes japoneses chegou ao Brasil em
1908, a bordo do navio Kasato Maru. Antes, em 1894, um enviado especial do governo japonês já havia desembarcado no país, a fim de tratar de
assuntos imigratórios. Os 781 imigrantes aportaram em Santos e se estabeleceram em todas as partes do país, mas principalmente nos estados de
São Paulo e Paraná.
Sakurai (1998) define esse primeiro momento, compreendido entre
1908 e 1924, como um estágio experimental da imigração, pois, a fase
ainda é de insegurança com relação ao sucesso da empreitada. No Brasil,
272 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
a preocupação com a miscigenação ainda é constante; o governo japonês,
mais otimista, confia na receptividade brasileira e acredita no sucesso da
incursão. Nesta primeira fase, chegaram ao Brasil cerca de 6.200 famílias, totalizando 32.267 imigrantes.
Tabela 1
Ano em que chegou ao Brasil
Nome do Navio
Imigrantes Trazidos
1908
Kasato Maru
780
1910
Ryojun Maru
960
1912
Itsukushima Maru
1432
1912
Kanagawa Maru
1412
1913
Daí-no-unkai Maru
1506
1913
Wakasa Maru
1588
1913
Teikoku Maru
1946
1913
Wakasa Maru
1808
Fonte: “Resistência & Integração: 100 a nos de imigração japonesa no Brasil” (IBGE, 2008).
A partir de 1924, os subsídios do governo japonês aumentaram exponencialmente o fluxo de imigrantes ao Brasil, bem como o
fortalecimento da rede de famílias oriundas de várias províncias do Japão: das regiões com tradição de emigração como Kagoshima,
Kumamoto e Okinawa, até áreas mais urbanas como Tóquio e Osaka. O
trabalho dos agentes das companhias de emigração, que faziam propaganda da possibilidade de mobilidade internacional e convenciam as
pessoas a migrarem para o Brasil, também contribui para esse crescimento. A característica marcante desta fase é a emigração espontânea de
trabalhadores, a fim de ocupar e colonizar terras adquiridas pela Kaigai
Kogyo Kobushiki Kaisha (K.K.K.K.), uma empresa estatal controlada
diretamente pelo governo japonês, fundamental nesta segunda fase,
caracterizada por Sakurai (1998) como imigração tutelada.
Desde a chegada do navio Kasato Maru, São Paulo concentra até hoje o maior número de imigrantes japoneses e de seus descendentes no
país. Segundo tabela divulgada pelo IBGE em 2008, que comparou o
contingente populacional brasileiro e de nikkeys de 1960 a 2000, além do
estado paulista, Mato Grosso do Sul e Paraná são as unidades federativas
que registram o maior número desses imigrantes, com colônias estabele-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 273
cidas em suas cidades. Os estados do Norte e Nordeste também apresentam aumento do número de imigrantes no período.
Tabela 2
1960
Áreas Consideradas
População Brasileira
2000
População Nikkey
Absoluta Percentual
População Brasileira
População Nikkey
Absoluta Percentual
Total
69.387.691
439.416 0,6%
167.909.995
1.405.685 0,8%
Norte (1)
1.380.091
2.341
0,2%
6.715.207
54.161
0,8%
Pará
1.526.325
2.592
0,2%
6.195.965
39.353
0,6%
Nordeste (2)
16.236.378
629
0,0%
34.696.719
147.112
0,4%
Bahia
5.910.429
582
0,0%
13.085.769
78.449
0,6%
Sudeste (3)
11.197.675
3.612
0,0%
21.117.838
84.076
0,4%
Rio de Janeiro
6.601.038
7.274
0,1%
14.392.105
63.470
0,4%
São Paulo
12.775.121
336.338 2,6%
37.035.456
693.495
1,9%
Sul (4)
7.479.906
1.261
0,0%
15.545.705
35.862
0,2%
Paraná
4.259.610
81.205
1,9%
9.564.642
143.588
1,5%
Centro-Oeste (5)
2.021.118
3.582
0,2%
9.560.589
66.119
0,7%
Mato Grosso do Sul
568.983
8.896
1,6%
2.078.069
29.805
1,4%
(1) Considerados os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Tocantins. (2) Considerados os estados
do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. (3) Considerados os estados
de Minas Gerais e Espírito Santo. (4) Considerados os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (5) Considerados
os estados de Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Em 1960, foram realizados os desmembramentos dos estados de
Mato Grosso e de Goiás, retirando-se os municípios que vieram a compor, respectivamente, os estados de Mato Grosso
do Sul, criado em 1977, e de Tocantins, criado em 1988. Em 1980, foi realizado o desmembramento do estado de Goiás.
Fonte: “Resistência & Integração: 100 a nos de imigração japonesa no Brasil” (IBGE, 2008).
12.2. Mapeamento
Made in Japan
(http://madeinjapan.uol.com.br/)
Figura 169 – Made in Japan
274 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
O portal Made in Japan é uma das principais fontes informativas da
comunidade japonesa no Brasil. Parte de seu conteúdo é compartilhado
com a versão impressa, na forma de uma revista (criada em 1997), com
circulação nas principais capitais de Brasil e Japão. Possui redações nos
dois países. Compreende diversos temas, desde questões sobre a economia e política (acordos diplomáticos entre as nações) até informes
culturais, divulgação de eventos e entretenimento. Tem uma interface
jovem, com cores equilibradas e possibilita uma navegação, até certo
ponto, intuitiva. Uma ressalva à organização do “arquivo” de notícias e à
busca por palavras chaves que não permitem a fácil localização de assuntos específicos.
Cultura Japonesa
(http://www.culturajaponesa.com.br/)
Figura 170 – Cultura Japonesa
O site Cultura Japonesa apresenta uma interface similar a um blog,
com estrutura fixa, porém, com pouca interatividade. Dedica-se, basicamente, a divulgar eventos paulistas da comunidade japonesa (“Temaki
Fest”, radio taissô, feiras de mangás e livros), eventuais informes sobre a
atuação do consulado brasileiro no Japão e programas de intercâmbio.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 275
Uma matéria em especial chamou atenção durante a pesquisa: “Dicas de
etiqueta para não cometer gafes no Japão”, uma série de orientações
(posturas, expressões) para evitar “constrangimentos” no contato com os
japoneses. O site possui um menu confuso, com diversos subtemas na
parte superior da página. Ainda assim, a busca nos arquivos de notícias é
simples, a partir do menu datado na coluna à direita. A equipe também
promove eventos voltados à comunidade nipônica, com apoio da NSP
Hakkosha Editora e Promoções Ltda., além de cursos e consultoria para
escolas e empresas.
Portal Mie
(http://portalmie.com/)
Figura 171 – Portal Mie
O Portal Mie é uma página dedicada a publicações de notícias sobre
o Japão. Desde assuntos de repercussão internacional (vazamento de
radiação em Fukushima), atuação da polícia japonesa, até temas culturais
e de entretenimento. Possui a “TV Portal”, com cobertura de eventos e
entrevistas. Chama a atenção o número de matérias que tratam diretamente sobre questões migratórias, de caráter estatístico (número de
estrangeiros no país) e de utilidade pública (atuação dos consulados itinerantes e seminários sobre documentação de brasileiros). Possui uma
276 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
área específica só para notícias (http://atualidade.portalmie.com/), mais
organizada que o portal, com menus de fácil localização.
Nikkey Brasil
(http://www.nikkeybrasil.com.br/)
Figura 172 – Nikkey Brasil
Autointitulado “o site do japonês no Brasil”, o portal Nikkey Brasil é
uma página dedicada, principalmente, aos anúncios da comunidade japonesa que reside no país, em sua maioria na região sul. Possui um
índice extenso, que vai de informações sobre cursos de cultura japonesa,
agências de turismo, entidades beneficentes até boates e casas noturnas;
uma espécie de banco de dados, uma lista de contatos de serviços prestados para a comunidade. O site possui um cadastro para empresas
interessadas fazer propagandas de sua atuação, com cerca de 8.000 inscrições até o momento (em agosto de 2014).
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 277
Miss Nikkey
(http://www.missnikkey.com.br/)
Figura 173 – Miss Nikey
O site Miss Nikkey dispõe-se a divulgar o concurso que destaca anualmente a “Beleza Nikkey em Evidência” no Brasil. Possui um menu
simples, com o calendário das seletivas estaduais, fotos e vídeos, reportagens e cadastro de modelos que desejam seguir uma carreira no Japão.
Há ainda bastante espaço para os patrocinadores, geralmente empresas
ligadas ao Japão, como Yamaha e Sakura.
278 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Rádio e TV Nikkey Brasil
(http://www.radioetvnikkey.com.br)
Figura 174 – Rádio e TV Nikkey Brasil
A Rádio e TV Nikkey Brasil existe há mais de duas décadas e abrange assuntos relativos à cultura, informações, músicas e bate-papo com o
público. Segundo informações do próprio site, grande parte da audiência
da RTV Nikkey é composta por não descendentes de japoneses que são
fascinados pela cultura nipônica. Possui ainda um canal no YouTube com
reportagens e cobertura de eventos da comunidade.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 279
Nikkey Web
(http://www.nikkeyweb.com.br)
Figura 175 – Nikkey Web
O site Nikkey Web é uma página dedicada a divulgar atividades desenvolvidas por entidades nipo-brasileiras, ligado ao Instituto Nikkey
Web e mantido pelo Instituto Ícaro, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Possui uma lista de “canais”, subcategorias
com informações relativas aos dekasseguis, gastronomia, turismo, memória e outros temas de interesse da comunidade.
Entidades sem fins lucrativos podem se associar ao portal, criar
uma página própria e divulgar eventos; a página permanece vinculada ao
Nikkey Web e recebe apoio na publicidade. Possui uma ferramenta de
integração entre associados de uma entidade, o Renik, baseado no sistema do Orkut, mas em uma versão simplificada.
Nikkey News 1
(http://www.nikkeynews.com.br/)
O Nikkey News é um portal de notícias de Maringá (PR), relativo à
comunidade nipo-brasileira. Apesar de desatualizada (a última postagem
1
No período da captura das imagens para ilustração desse trabalho (de 27/01/2014 a 15/02/2104), a página não
estava disponível.
280 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
data de 2009), a página tem um banco de dados de empresas que prestam serviços de naturezas diversas (alimentação, advocacia, engenharia
etc.). Atua como fonte notícias de entidades nipo-brasileiras como a Seichi-no-ie, o Instituto Tomodati e a ABD (Assiciação Brasileira de
Dekasseguis), além de associações regionais como a Acema e a Fundação
Luzamor.
Portal Nippon
(http://portalnippon.com)
Figura 176 – Portal Nippon
O Portal Nippon foi criado em 2008 com conteúdo dedicado à cultura japonesa e notícias sobre a comunidade latino-americana no Japão. O
portal funciona como uma ferramenta de divulgação de eventos da comunidade nipo-brasileira, com cobertura fotográfica e vídeos, e conta
com uma equipe de blogueiros/colaboradores que tratam de diversos
assuntos como: tecnologia, esporte, vida e estilo, e entretenimento. Promove concursos (NipponGirl) e produz um podcast (NipponCast).
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 281
AOKB – Associação Okinawa Kejin do Brasil
(http://www.okinawa.com.br/index2.htm)
Figura 177 – AOKB-CCOB
O AOKB-CCOB é a página oficial da Associação Okinawa Kejin do
Brasil e do Centro Cultural Okinawa do Brasil. Escrita em português,
apresenta também algumas informações no idioma nativo. A página
contém uma coluna de links no lado esquerdo e informações do tipo
destaques, galeria de fotos, eventos, notícias, fórum etc. Há ainda informações sobre serviços em geral e enquetes voltadas ao público. É fácil
encontrar espaços de interação social, como forma de aproximar a comunidade akinawana, e, até mesmo, links que permitem o feedback do
público em relação ao site da Associação. Além de um blog informativo
(http://aokb-ccob.blogspot.com.br/), a AOKB mantém um perfil no
Twitter (https://twitter.com/OkinawaKenjin), com 206 seguidores (em
dezembro de 2014).
282 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Associação Okinawa da Vila Carrão (SP)
(http://www.associacaookinawa.com.br/pt-br/index.php)
Figura 178 – Associação Okinawa da Vl.Carrão
O site Associação Okinawa da Vila Carrão, de São Paulo, apresenta
um layout intuitivo e simples. A página principal concentra algumas
informações importantes, como: notícias, artigos, calendário de eventos e
destaques (entre esses, a história da associação, cultura, galeria de fotos e
atividades que acontecem na associação). No menu do lado esquerdo
estão links do próprio site, enquanto do outro lado, pequenos ícones
levam para outras páginas que oferecem serviços, como uma forma de
publicidade. No rodapé da página, está o endereço físico da Associação.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 283
Jornal Utiná-Press
(http://www.utinapress.com.br)
Figura 179 – Utiná-Press
O Utiná-Press apresenta bastante informação, de forma que é necessário ter atenção para navegá-lo. As cores usadas são fortes, como o
amarelo, laranja, preto e branco, para contrabalançar. O site funciona,
assim como outros, a fim de perpetuar e informar acerca da história,
cultura, dialeto e cultura dos Okinawa. A primeira página apresenta o
jornal impresso de uma forma digital, com as notícias da primeira capa e
as mais importantes. O menu fica no topo da página, do lado direito.
284 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Memorial do Imigrante Okinawano (MIO)
(http://www.memorialokinawano.wordpress.com)
Figura 180 – MIO
O MIO apresenta um layout elaborado, com cores e bem construído
visualmente. O menu, assim como a ferramenta de pesquisa, fica na
parte direita da página. Não apresenta nenhuma divisão de conteúdo por
tópico ou tag, mas por arquivos referentes aos meses. Apresenta-se como
um blog, ainda que seja um site. Apesar do título, o site apresenta, na
maior parte, notícias vinculadas ao que é de interesse para a cultura
okinawana, assim como posts dedicados a tratar sobre algum evento
histórico e/ou cultural importante para a mesma. As postagens também
se intercalam com relatos pessoais que auxiliam no entendimento da
cultura, assim na compreensão do vínculo que esses imigrantes mantêm
com sua cultura de origem. O Memorial do Imigrante Okinawano (MIO)
conta ainda com a página no Facebook https://www.facebook.com/
MIO.MemorialdoImigranteOkinawano. Porém, a última atualização foi
em 2012.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 285
Okinawa Brasil
(http://okinawabrasil.wordpress.com)
Figura 181 – Okinawa Brasil
A página Okinawa Brasil, apesar de ser um site, funciona como um
blog, no intuito de documentar e contar a história dos imigrantes de
Okinawa no Brasil, partindo dos próprios Okinawas e seus descendentes,
considerando a comunidade Uchinanchu e o seu lugar de tradição no
mundo globalizado. Surgiu para comemorar o centenário da imigração
japonesa no Brasil (2008). As postagens são, em sua maioria, pequenas,
mas também há fotos e vídeos. É interessante observar como os voluntários e até mesmo os autores do blog usam de seu próprio cotidiano para
exemplificar a cultura okinawana em suas vidas. Além desses relatos, há
indicações de filmes e narrações de eventos culturais afins que acontecem
nas cidades em que os voluntários moram (predominantemente São
Paulo). Em geral, o blog apresenta um layout bem simples e intuitivo,
onde o visitante pode se orientar pela coluna de informações à esquerda,
como também nas ferramentas usuais do wordpress.
286 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Uchina
(http://uchina.com.br)
Figura 182 – Uchina
Dentre todos os sites e blogs visitados, o Uchina é o que se encontra
mais atualizado (2014). Utiliza-se de cores suaves e de um layout mais
limpo, alinhado à esquerda, apresentando, desse lado, a coluna de informações do próprio site, enquanto do outro se pode encontrar um espaço
para publicidade. A primeira página apresenta as notícias de destaque de
alguns canais da página. De modo geral, o site é bastante intuitivo, com
seções bem divididas, que vão de culinária e esoterismo a notícias sobre
intercambio, consulado e afins.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 287
Associação Okinawa de Guarulhos
(http://www.nikkeyweb.com.br/sites/okinawaguarulhos)
Figura 183 – Associação Okinawa de Guarulhos
O site Associação Okinawa de Guarulhos possui um layout bem
simples. No entanto, não se diferencia do site anterior, com relação à sua
estrutura. Seu conteúdo não fica disponível, inicialmente, na primeira
página – tudo está dividido na coluna à direita, como a parte institucional
do site, outras páginas afins e uma parte mais social, como um link para
“fale conosco” galeria de fotos. Assim como outros sites, este é voltado
para a celebração de eventos culturais que unam a comunidade Okinawa
no Brasil.
288 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Okinawa – Reflexões sobre a cultura japonesa no Brasil
(http://a-cultura-japonesa-no-brasil.blogspot.com.br)
Figura 184 – Okinawa
O blog Okinawa permaneceu atualizado até maio de 2014. Possui
uma configuração simples, predominantemente com um estilo dark e
com um contador/localizador de visitantes do lado direito da página. As
postagens nesse blog funcionam mais como um acervo composto por
fotos de eventos e encontros onde a cultura japonesa estava inserida. Por
ser um blog pessoal possui, também, alguns posts dedicados a poesias
que sejam relacionadas à cultura nipônica. O blog tem como principal fio
condutor a documentação de eventos da Associação Okinawa de Santo
André.
12.3. Análise
Foram analisadas, no total, 10 páginas 2, dentre sites, blogs, fóruns e
grupos no Facebook. Cada postagem, compreendida no período entre
outubro de 2013 e fevereiro de 2014, foi encaixada em uma das 11 catego2
Cultura Japonesa, Portal Mie, Made In Japan, Portal Nippon, Blog Kenji no tabe, Nikkey Web, Sanwa Gakuin, além
das páginas do Facebook: Comunidade Nikkey do Brasil e Japão, Nikkeys do Brasil e Comunidade Oriental e a
Cultura.
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 289
rias estabelecidas. São elas: 1) projeto de migração; 2) famílias e relações
transnacionais; 3) vínculos informativos com o país de nascimento; 4)
consumo e produção cultural; 5) aprendizado do idioma; 6) cidadania
jurídica; 7) usos de mídias de migração; 8) companhia e ócio; 9) participação política; 10) associativismo; e 11) Outros.
Das 324 postagens e textos analisados e submetidos ao protocolo da
pesquisa, a maior parte deles era sobre “Vínculos Informativos com o
País de Nascimento” (278), seguido de “Consumo e Produção Cultural”
(22), “Projeto de Migração” (12), “Cidadania Jurídica” (8) e “Aprendizado
do Idioma” (2). Nota-se que no período analisado, a maior parte dos
informativos localizados dizia respeito ao país de origem (Japão), e apenas uma pequena parcela das matérias era sobre imigrantes
estabelecidos no Brasil, políticas e articulação da comunidade.
A página com maior quantidade de conteúdo localizado no período
foi Portal Nippon, criada em 2008 com conteúdo dedicado à cultura japonesa e às notícias sobre o país. Todas as matérias analisadas dedicamse a noticiar fatos sobre o Japão, a política do país, acordos diplomáticos,
economia e eventos ligados à Família Imperial. Parte considerável dos
artigos encontrados, não apenas no Portal Nippon, mas em outros sites
também, tratava do desastre ambiental em Fukushima (2011), que com o
vazamento de material radioativo, ainda hoje registra contaminação do
solo e da população estabelecida na região.
Ao observar esse padrão nas postagens, o interesse da comunidade
estabelecida no Brasil e de seus descendentes na cultura japonesa fica
bastante evidente. Interesse esse que pode ser analisado a partir de duas
perspectivas: os primeiros migrantes japoneses, a bordo do navio Kasato
Maru, chegaram ao Brasil no início do século XX, e sua fixação no país
ocorreu com características únicas: a formação de colônias, geralmente
com apoio e tutela do governo japonês (desde o projeto de migração).
Assim sendo, a manutenção de hábitos e costumes, em geral, foi bemsucedida; adaptados à nova terra, mas com fortes laços com seu país de
origem, ainda hoje. Nesse ponto, a questão identitária é ressaltada pela
290 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
busca e acompanhamento das notícias sobre o Japão. Seguem algumas
notícias que consideramos ilustrar bem essa questão:
• Fusão de bancos locais de Tokyo pode encorajar consolidações (Portal Nippon,
News, 10/10/13)
• Controle de radiação vai ser reforçado em Fukushima (Portal Nippon, News,
14/10/13)
• Tufão em direção a Okinawa (Portal Mie, Notícias, 06/10/13)
• Palácio Imperial de Tóquio poderá ser aberto ao público (Portal Mie, Notícias,
18/12/13)
• Carta do Imperador Akihito com a tradicional mensagem de Ano Novo (Made in
Japan, Notícias, 08/01/14)
Outro ponto de análise é o projeto de migração de dekasseguis (contingente de nipo-brasileiros que migram para o Japão para trabalhar),
que atingiu seu auge na década de 90, e ainda hoje representa um caminho possível para os descendentes. Prova disso é a quantidade de
anúncios de ofertas de empregos no Japão encontrados nos grupos de
discussão e propagandas de agências que oferecem assistência ao trabalhador interessado em emigrar. Assim, o acompanhamento de notícias
sobre a economia e a política japonesa é bastante proveitosa, nesse caso,
para aqueles que pretendem colocar em curso seu projeto de migração.
Junto às classificações Projeto de Migração e Cidadania Jurídica, essa
categoria foi encontrada nas páginas Cultura Japonesa, Portal Mie e Kenji
no Tabe, este último um blog de um estudante de doutorado nipobrasileiro que concluiu seus estudos no Japão e relata em suas postagens
o dia a dia no país, dando dicas para quem pretende estudar numa universidade japonesa. São exemplos de notícias que ilustram esse ponto de
vista:
• Os decasséguis que receberam ajuda para deixar o Japão em 2009 agora podem
retornar (Cultura Japonesa, Notícias, 17/10/13)
• Curso para futuros bolsistas no Japão (Cultura Japonesa, Notícias, 08/11/13)
• Japão lança novo programa para aumentar o número de estudantes estrangeiros
no país (Portal Mie, Notícias, 23/12/13)
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 291
• Solicitações de refúgio no Japão atingem novo recorde (Portal Mie, Notícias,
30/12/13)
• Japão contratará mais trabalhadores estrangeiros para acelerar economia (Portal
Mie, Notícias, 22/01/14)
• Gasshuku, viagem com o objetivo de estudar, um retiro educacional (Kenji no
Tabe, 13/10/13)
A segunda categoria com mais textos foi “Consumo e Produção Cultural”. Matérias que abordam de eventos e festivais de cultura japonesa a
oficinas de costura e adaptação para o cinema de clássicos nipônicos. As
festas temáticas são atividades bastante presentes nas comunidades de
migrantes – japoneses e uchinanchus. Além do caráter propagador de
cultura, para dentro e fora da comunidade, esses eventos criam espaços
de conciliação entre gerações de migrantes e seus descendentes. Ainda
que com elementos miscigenados, evidentes na culinária, por exemplo,
que já sofreu transformações, assim como nas apresentações de dança
que já incorporam estilos tipicamente brasileiros como o samba e o forró,
as festas, sem dúvida, reafirmam a identidade dessas comunidades.
O 29º Festival Akimatsuri de Mogi das Cruzes é um exemplo dessa
miscigenação. O tema dessa edição foi “Gambarê Brasil” (“Força, Brasil”
ou “Boa Sorte, Brasil”), em apoio à Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
Outra matéria chamou atenção na análise: uma cantora japonesa que
criou uma versão da música “Resposta” do grupo Skank, em homenagem
aos 20 anos da banda.
A cantora japonesa Tsubasa Imamura, traz mais uma novidade para os fãs
no seu canal do Youtube. Desta vez, o cover da música Resposta, sucesso da
banda brasileira Skank ganha um trecho cantado em japonês e um novo ritmo levado pela japonesa Konakade Senda, com as notas do acordeon. A
versão acústica de Tsubasa é uma homenagem aos 20 anos da banda mineira
no mainstream da música brasileira (...) (Fonte: Made in Japan, Música,
01/10/13).
292 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
A contagem das demais categorias ficou da seguinte forma: “Companhia e ócio” e “Outros” contabilizaram um texto cada; as demais
categorias não foram contempladas.
12.4. Considerações finais
Esta pesquisa teve como objetivo identificar e analisar a articulação
da comunidade de imigrantes japoneses e de seus descendentes, a partir
da produção e interação em sites, blogs e grupos de discussão, localizados
dentro da perspectiva de webdiáspora. Realizando a análise do material
publicado nas páginas, foi possível investigar a dinâmica de troca de
informações da comunidade japonesa na web, evidenciando os aspectos
atuais do processo migratório inaugurado em 1908, com a chegada dos
primeiros imigrantes a bordo do navio Kasato Maru.
O primeiro ponto a destacar diz respeito à categoria de análise que
mais caracterizou as publicações: “Vínculo informativo com o país de
origem”. A constante sistematização de notícias sobre o Japão revelou a
vívida ligação que o imigrante e seus descendentes mantêm com a “pátria mãe”. Seja como forma de acompanhar o cotidiano dos familiares
que estão no país ou como parte de um possível projeto de “migração de
retorno” (como é o caso dos dekasseguis). Essa conexão pode se manifestar de outras maneiras, ressaltando a identidade cultural do grupo. Os
festivais que reúnem toda sorte de atrações culturais, artísticas e gastronômicas representam o momento de afirmação identitária dos
imigrantes e de seus descendentes; de conciliação entre gerações, e também uma forma de propagação da cultura para aqueles que não possuem
vínculo pátrio com o Japão.
Fica claro, desse modo, o papel da webdiáspora na mobilização do
imigrante com relação ao seu país de origem, de afirmação de imaginários e perspectivas para seus descendentes e de exaltação de sua cultura,
ainda que com visíveis pontos de hibridação com outras manifestações.
13
Considerações finais
Grosso modo, a imigração é o deslocamento de pessoas em espaço
físico. No entanto, por se tratar de um “fato social completo” que se dá
no cruzamento das ciências sociais com inúmeras disciplinas: História,
Geografia, Demografia, Economia, Direito, Sociologia, Psicologia, Psicologia social, Antropologia, Linguística, Sociolinguística, Ciência política
etc., como nos diz Sayad (1998), é possível estudá-la de diversas e surpreendentes formas. Neste trabalho, nos deparamos com 188 páginas
virtuais entre sites, blogs, fóruns e grupos no Facebook criados e compartilhados por diversos tipos de imigrantes – entre africanos, portugueses,
alemão, italianos, muçulmanos, espanhóis (galegos), russos e ucranianos,
árabes, andinos e japoneses (okinawanos) – que se estabeleceram no
Brasil. Deste total, cujas características principais foram detalhadas de
maneira qualitativa nos respectivos textos, 87 páginas tiveram seu conteúdo submetido aos protocolos de análise, o que totalizou a classificação
de 1.896 textos (também chamados no decorrer do trabalho de posts).
Tamanha quantidade de material analisado, vale destacar, só foi possível
porque a pesquisa contou com uma equipe grande e um prazo adequado
de coleta e interpretação do material (durante todo o ano de 2014).
A tabela abaixo dá uma dimensão geral da análise em termos quantitativos.
294 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
Tabela 3
Grupo
Páginas
Descritas
Páginas
“protocoladas”
Número de textos
(posts) classificados
Africanos
14
9
87
Portugueses
14
7
282
Alemães
21
7
154
Italianos
29
10
421
Muçulmanos
18
8
79
Espanhóis (Galegos)
13
10
100
Russos e Ucranianos
13
8
90
Árabes
19
8
181
Andinos
30
10
178
Japoneses (Okinawanos)
17
10
324
TOTAL
188
87
1.896
Esses espaços reúnem sujeitos que se utilizam da aceleração das
comunicações vivenciada na atualidade para transcender o alcance nacional ou étnico e abarcar o interculturalismo e transnacionalismo, muitas
vezes, por questões de sobrevivência num mundo em que, mediado pelas
TICs, a virtualização ganha o status de produtora de vínculos cognitivos e
produz uma dinâmica pela qual compartilhamos uma realidade.
Sabemos que uma vez imigrante, a pessoa está em constante deslocamento, ainda que tenha se estabelecido e criado raízes em outro
território e nunca mais se mudado. Isso porque a bagagem cultural carregada e sua representação frente ao outro, dentro de tantos contrastes e
de tantas misturas, será sempre estrangeira. Trata-se da dupla face da
mesma realidade, pois o que chamamos de imigração (e que tratamos
como tal em um determinado lugar e em uma determinada sociedade) é
chamado em outro lugar e em outra sociedade de emigração (SAYAD,
1998).
Navegar por esses espaços virtuais foi como fazer uma viagem a todos esses países, uma vez que a internet nos proporcionou um contato
direto com cada cultura, cada realidade, cada sistema de representação
retratado por idiomas, conteúdos textuais, cores, elementos gráficos e
visuais, sons, imagens etc, ou, resumidamente, por um discurso. E, se
olharmos de forma mais cuidadosa, mesmo agrupando todos numa cate-
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 295
goria que denominamos “imigrantes estrangeiros”, identificar de onde
procedem as coisas, as pessoas e as identidades foi uma tarefa, em muitos momentos, extremamente complexa. No entanto, pudemos observar
em que medida e de que modo esses espaços – marcados pela diversidade virtual e mobilidade digital – formam a base material dos quadros de
identificação dos grupos étnicos oriundos das diásporas transnacionais.
Tal integração e interação do imigrante com o mundo não é estática,
porque dessa relação do imigrante com o ambiente surgem possibilidades de recriações e, como lembra Canclini (2005), cada troca enriquece a
condição da espécie, a transforma e lhe dá novo significado.
De maneira mais prática, observamos também que a webdiáspora
se configura, dentro de processos migratórios, não só como um espaço
transnacional e intercultural, mas como um recurso para interação e
compartilhamento de vínculos sociais (reais ou imaginários, com o país
de origem ou de destino), no qual fluxos de informação acabam não só
por construir uma identidade diaspórica, mas por participar da negociação de direitos cidadãos e garantir a existência de um cidadão do mundo.
Prova disso foram os resultados de todo conteúdo categorizado nos protocolos de pesquisa, conforme tabela abaixo:
Africanos
Portugueses
Alemães
Italianos
Muçulmanos
Espanhóis (galegos)
Russos e ucranianos
Árabes
Andinos
Japoneses
wanos)
(Okino-
Tabela 4
de
6
32
7
35
0
0
0
2
4
12
98
2. Família e
relações transnacionais
2
0
41
21
13
3
4
22
1
1
108
3.
Vínculo
informativo
26
50
0
100
3
9
19
22
60
278
567
4. Consumo e
produção
cultural
6
42
42
70
34
16
43
45
29
22
349
5. Aprendizado
do idioma
0
1
6
11
2
9
2
1
2
2
36
Categorias
1. Projeto
imigração
Total
296 | Webdiáspora.br: migrações, TICs e identidades transnacionais no Brasil
6.
Cidadania
jurídica
7
10
0
88
0
7
0
0
15
8
135
7. Uso de mídias
0
16
0
0
2
1
0
1
0
0
20
8. Companhia e
ócio
11
13
19
21
3
8
1
24
19
0
119
9. Participação
política
5
23
0
2
2
1
3
19
14
0
69
10. Associativismo
3
16
0
5
14
7
4
17
14
0
80
11. Outros
21
79
39
68
6
39
14
28
20
1
315
Total
87
282
154
421
79
100
90
181
178
324
1896
Claro que, reconhecemos, que a categorização de grupos tão heterogêneos e nacionalidades distintas reunidas num só grupo (como, por
exemplo, o caso dos Andinos e dos Africanos) pode não considerar suas
particularidades. Nosso objetivo não é generalizar, e sim, reconhecer,
dentro de categorias amplas, as especificidades de cada recorte da análise.
Assim, reconhecemos que os espaços analisados, ao privilegiar certas categorias, dão conta dessas novas experiências e da nova consciência
dessas populações, que se estabelecem numa realidade transnacional. De
acordo com Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992), tudo se concentra
num processo por meio do qual os imigrantes constroem campos sociais
que conectam, “linkam” seu país de origem e o país de acolhimento. Os
imigrantes tornam-se então os “transmigrantes”, aqueles que desenvolvem e mantêm múltiplas relações – familiares, econômicas, sociais,
organizacionais, religiosas e políticas – que se estendem além das fronteiras, estando conectados a duas ou mais sociedades ao mesmo tempo.
Vale ressaltar ainda que mesmo negociando e conectado a duas ou
mais sociedades ao mesmo tempo, no caso migratório, não impera apenas o lado burocrático e funcional de fazer parte de um Estado – ainda
que com todas as mudanças que o conceito de Estado-Nação implique
atualmente –, e sim um sentimento de familiaridade e uma crença no
pertencimento a uma comunidade imaginada, formada com laços de
lealdade e identificação. Esta representação é fruto de um discurso que
concebemos como sendo a cultura de um povo. É construído um passado
Mohammed ElHajji; Camila Escudero | 297
comum, ou seja, um universo simbólico em torno de uma determinada
percepção de si mesmo é constantemente acionado (HALL, 2005). Essa
“História nacional” é repetida e interiorizada por seus membros. Contudo, o que a fachada de comunhão esconde são as diferenças e cisões
dentro da unidade nacional, além de diferenças históricas. Foi o que
aconteceu, por exemplo, quando agrupamos chilenos, colombianos, peruanos e bolivianos na webdiáspora Andina; ou ainda quando falamos de
galegos e espanhóis como um único grupo.
O fato é que, no momento em que o deslocamento passa a ser uma
constante e o desenvolvimento dos meios de comunicação oferece possibilidades de conexão nunca antes imaginadas, os imigrantes são o
símbolo maior do transnacionalismo e do interculturalismo que sempre
esteve presente, mas que se torna, agora, cada vez mais visível.
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