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Academia.eduAcademia.edu
unidos pela música F I L A R M Ô N I C A E VO C Ê DEZEMBRO2013 S É R IE V I VA C E , 3 D E D E Z E M B R O antonín DVORÁK “O maior dos nacionalistas tchecos”, como se costuma dizer, foi também o compositor mais versátil da segunda metade do século XIX e, nesse sentido, o mais universal. Dvorák expressou-se em quase todos os gêneros de seu tempo. REPÚBLICA TCHECA, 1841 – 1904 Concerto para piano em sol menor, op. 33 (1876) Instrumentação: 2 lautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos e cordas. PARA OUVIR CD Dvorák Piano Concerto; Schubert “Wanderer” Fantasy – Orchester des Bayerischen Rundfunks – Carlos Kleiber, regente – Sviatoslav Richter, piano – EMI Great Recordings of the Century – 1999 (Gravado em Munique, Bürgerbräukeller, em 1976; remasterizado em 1998) CD Dvorák – Piano Concerto in G minor, op. 33; The Golden Spinning Wheel, op. 109 – Royal Concertgebouw Orchestra – Nikolaus Haenoncourt, regente – Pierre-Laurent Aimard, piano – Teldec – 2003 (Gravado em Amsterdã, em outubro de 2001) PARA LER Richard Taruskin – The Symphony Goes (Inter) National – The Oxford History of Western Music – v. 3 – p. 745-801 – Oxford University Press – 2005 Antonín Dvorák começou a projetar-se internacionalmente em 1877, como resultado indireto da quarta de cinco solicitações sucessivas de bolsa – todas atendidas – que enviou anualmente ao governo austríaco entre 1874 e 1878: os Duetos Morávios, apresentados ao comitê de seleção, caíram nas mãos de Johannes Brahms, que os recomendou a Fritz Simrock, editor e amigo. Como mostram as primeiras publicações, o exotismo era então o caminho mais óbvio para um jovem compositor cuja língua materna não fosse o alemão. O fato de que os Duetos Morávios e as Danças Eslavas de Dvorák sirvam para caracterizar o nacionalismo da Europa Central, enquanto seus equivalentes quase exatos na carreira de Brahms – as Liebeslieder-Walzer e as Danças Húngaras – preigurem o universalismo germânico, mostra os dois pesos e duas medidas da historiograia musical. “O maior dos nacionalistas tchecos”, como se costuma dizer, foi também o compositor mais versátil da segunda metade do século XIX e, nesse sentido, o mais universal. Dvorák expressou-se em quase todos os gêneros de seu tempo. O Concerto em sol menor foi escrito entre o inal de agosto e 14 de setembro de 1876. Trata-se de um trabalho sinfônico que faz grandes exigências ao pianista, sem recompensá-lo com o protagonismo habitual. Karel Slavkovsky estreou-o em Praga com Adolf Cech à frente da Orquestra do Teatro Provisório, em março de 1878. Oscar Beringer introduziu-o no circuito internacional com August Manns em outubro de 1883. Em vida do compositor, ele foi ouvido ainda em Praga, na interpretação da pianista Ella Modricka, com Adolf Cech; em Berlim com Anna Grosser-Rilke e Dvorák; e ainda em Londres e Praga. Além do texto original, o manuscrito contém anotações a graite, lápis vermelho e azul, tinta vermelha, bem como passagens corrigidas com papel colado. Nem todas as anotações são do compositor, e nem sempre é possível saber se as modiicações ocorreram durante o processo de criação ou por ocasião da primeira publicação, em 1883. Parece razoável supor que algumas resultem de sugestões dos executantes iniciais. Pianistas manifestaram-se com restrições: Slavkovskya achou que o Concerto oferecia “poucas oportunidades ao virtuosismo”; Harriet Cohen reclamou da “inadequação da maior parte da escrita pianística”; e Alec Robertson encontrou nele “menos um coração caloroso que um pé frio”. Durante a Primeira Guerra, Vilém Kurz reescreveu a parte do piano, versão estreada por Ilona Stepanova-Kurzova, sua ilha. Essa adaptação manteve a obra viva nas mãos de eminentes pianistas, alunos de Stepana-Kurtzova ou de Kurtz, como R. Firkusny. Por outro lado, Sviatoslav Richter encarregou-se de preservar a memória do texto original de Dvorák em quatro registros, entre 1961 e 1976. Já András Schif não se limitou a gravá-lo em 1986, mas inanciou a publicação do manuscrito em fac-símile, no centenário da morte do compositor. Obra de um músico da Europa Central, o opus 33 foi empurrado pelo século XX para o fogo cruzado de um debate característico, de acordo com o qual o século anterior conhece dois tipos de concerto: o sinfônico, na tradição de Mozart e Beethoven, e o virtuosístico, na de Chopin e Liszt. Em última análise, o que esse embate coloca em jogo é o sinfonismo de Dvorák diante da tradição germânica e a própria autoridade de toda “edição original” (Urtext). C A R L O S PA L O M B I N I Professor de Musicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. 13
Concerto para Piano e Orquestra em Sol Menor, Op. 33, B. 63 (1876), de Antonín Dvořák (1841–1904) Antonín Dvořák começou a projetar‐se internacionalmente em 1877 como resultado indireto da quarta de cinco solicitações sucessivas de bolsa — todas atendidas — que enviou anualmente ao governo austríaco entre 1874 e 1878: os “Duetos Morávios” (1875–77) apresentados ao comitê de seleção caíram nas mãos de Johannes Brahms, que os recomendou a Fritz Simrock, editor e amigo. Como mostram as primeiras publicações, o exotismo era o caminho mais óbvio para um jovem compositor cuja língua materna não fosse o alemão. Que os “Duetos Morávios” e as “Danças Eslavas” sirvam para caracterizar o nacionalismo da Europa Central, enquanto seus equivalentes quase exatos na carreira de Brahms, as Liebeslieder‐Walzer e as “Danças Húngaras”, prefigurem o universalismo germânico, mostra os dois pesos e duas medidas da historiografia musical. “O maior dos nacionalistas tchecos”, como se costuma dizer, foi também o compositor mais versátil da segunda metade do século dezenove, e, nesse sentido, o mais universal. Dvořák expressou‐se em quase todos os gêneros de seu tempo. O Concerto em Sol Menor foi escrito entre o final de agosto e 14 de setembro de 1876. Trata‐se de um trabalho sinfônico que faz grandes exigências ao pianista, sem recompensá‐lo com o protagonismo habitual. Karel Slavkovský estreou‐o em Praga com Adolf Čech à frente da Orquestra do Teatro Provisório em 24 de março de 1878. Oscar Beringer introduziu‐o no circuito internacional com August Manns em 13 de outubro de 1883. Em vida do compositor, ele foi ouvido ainda em Praga na interpretação de Ella Modricka com Adolf Čech em 1884; em Berlim com Anna Grosser‐Rilke e Dvořák em 1884; em Londres com Franz Rummel e Dvořák em 1885; e em Praga com Josef Ruzicka e Oskar Nedbal em 1898. Além do texto original, o manuscrito contém, sobretudo na parte do piano, anotações a grafite, lápis vermelho, lápis azul, e tinta vermelha, bem como passagens corrigidas com papel colado. Nem todas as anotações são do compositor, e nem sempre é possível saber se as modificações ocorreram durante o processo de criação, depois da estreia, ou por ocasião da primeira publicação, em 1883. Parece razoável supor que algumas resultem de sugestões oferecidas pelos executantes iniciais. Slavkovský achou que o Concerto oferecesse “poucas oportunidades ao virtuosismo”; Harriet Cohen reclamou da “inadequação da maior parte da escrita pianística”; e Alec Robertson encontrou nele “menos um coração caloroso que um pé frio”. Durante a Primeira Guerra, Vilém Kurz (1872–1945) reescreveu a parte do piano, estreada por Ilona Štěpánová‐Kurzová, sua filha, em 1919. Essa adaptação manteve a obra viva nas mãos de alunos seus como Rudolf Firkušný e František Maxián, ou de Štěpánová‐Kurzová, como Ivan Moravec. Por outro lado, Sviatoslav Richter encarregou‐se de preservar a memória do texto de Dvořák através de quatro registros entre 1961 e 1976. Já András Schiff não se limitou a gravá‐lo em 1986, mas financiou a publicação do manuscrito em fac‐símile por Henle no centenário da morte do compositor. Obra de um músico da Europa Central, o século vinte empurrou o Opus 33 para o fogo cruzado de um debate característico, de acordo com o qual o século anterior conhece dois tipos de concerto: o sinfônico, na tradição de Mozart e Beethoven, e o virtuosístico, na de Chopin e Liszt. Em última análise, o que esse embate coloca em jogo é o sinfonismo de Dvořák diante da tradição germânica e a própria autoridade de toda a “edição original” (Urtext). Movimentos (durações na versão Richter/Kleiber) I. Allegro agitato 18:34 II. Andante sostenuto 8:54 III. Finale: Allegro con fuoco 11:15 Total: 38:43 Leitura Richard Taruskin, “The Symphony Goes (Inter)National”, The Oxford History of Western Music, Nova York, Oxford University Press, 2005, vol. 3, 745–801. Gravações Dvořák Piano Concerto, Schubert ‘Wanderer’ Fantasy, Sviatoslav Richter, Carlos Kleiber, Orchester des Bayerischen Rundfunks. Gravado em Munique, Bürgerbräukeller, 18–21 de junho de 1976. Remasterizado em 1998: EMI Great Recordings of the Century, 1999. 2 Dvořák, Piano Concerto in G minor, Op. 33, The Golden Spinning Wheel, Op. 109, Pierre‐ Laurent Aimard, Royal Concertgebouw Orchestra, Nikolaus Harnoncourt. Gravado em Amsterdã: Concertgebouw, 20–26 de outubro de 2001. Teldec, 2003. 3