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Entre discursos loucos e nobres, para onde
Como a Palestina ocupada foi convertida num laboratório onde se experimentam — em seres
devemos olhar para entender as chaves das
humanos — técnicas e dispositivos exportados para dezenas de países
políticas migratórias dos EUA – Controvérsia em
Por Arturo Hartmann e Bruno Huberman
O discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no último 22 de setembro,
Entre discursos loucos e nobres, para onde
devemos olhar para entender as chaves das
políticas migratórias dos EUA
como parte da 71ª Assembleia Geral da ONU, expôs a responsabilidade internacional para a
manutenção do impasse político à respeito da questão Palestina/Israel. Segundo o líder
Chute 020 - Paulo Pereira fala sobre Drogas e
israelense, está em curso uma mudança profunda na forma das nações ao redor do mundo
Relações Internacionais - Deviante em Drogas e
relacionarem-se com Israel. “Nada menos do que uma grande revolução”, a rmou. “Abaixem
suas armas. A guerra contra Israel na ONU acabou. Talvez vocês ainda não saibam, mas eu
estou con ante que um dia, em um futuro não tão distante, vocês recebam a mensagem de
seus presidentes ou de seus primeiros-ministros informando que a guerra contra Israel nas
Nações Unidas tenha acabado”, declarou Netanyahu, possivelmente referindo-se à votação na
Assembleia Geral, em 2012, que por 138 votos a favor e 9 contrários reconheceu a Palestina
como Estado observador, além das dezenas de resoluções condenatórias das políticas de
colonização de Israel nos Territórios Palestinos Ocupados (TPO) desde 1967.
capitalismo em Toronto (1) : as mortes da Rua
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De Gaza a Porto Alegre, a lei como arma de
guerra – Praia de Xangri-Lá em De Gaza a Porto
Alegre, a lei como arma de guerra
Leitor em Trump não é louco: entenda a razão
por trás da decisão de reconhecer Jerusalém
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solução de dois Estados, na prática contribuem para o aprofundamento e normalização da
colonização israelense dos TPO. Neste processo de construção do Estado palestino, a
comunidade internacional tornou-se parceira de Israel na continuada exploração da população
e dos territórios palestinos, partilhando os lucros e produtos da indústria israelense de
ocupação, assim como provendo os meios para manter a resistência palestina sob controle. Ao
nosso ver, a cumplicidade internacional com os crimes em curso nos TPO e a mudança de
posição prevista por Netanyahu em seu discurso na ONU são resultado do sucesso de duas
políticas israelenses: a reestruturação de poder contida no processo de paz de Oslo e a
“diplomacia das armas” que emergiu após o 11 de setembro de 2001.
O processo de paz entre israelenses e palestinos teve início em 1991, quando, por pressão das
principais potências internacionais foi realizada a Conferência de Madrid. O mundo estava
escandalizado com a violência vista nos TPO durante a Primeira Intifada, que havia começado
quatro anos antes, em 1987, e exigia uma solução para o impasse político que já durava
Estados Unidos
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perante à questão Palestina/Israel: enquanto declaram-se a favor do processo de paz e da
Con itos
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Nas últimas décadas, as principais nações do mundo assumiram uma posição contraditória
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décadas.
Havia, aparentemente, um consenso de que a criação de um Estado palestino soberano nos
territórios ocupados por Israel na guerra de 1967 seria a melhor solução para a questão
palestina. O processo de paz, de nido em seu espírito nal em um canal secreto em Oslo,
ganhou sua efetividade prática nas negociações mediadas pelos EUA, quando decidiu-se que o
Estado palestino seria estabelecido gradualmente. Foi então criada a Autoridade Palestina (AP),
que seria responsável por administrar a vida da população palestina — como educação, saúde e
segurança pública — em algumas zonas autônomas e desconexas entre si, nos territórios
ocupados, denominadas Área A, permeadas por uma área contínua sob o controle direto civil e
militar israelense — a Área C. A movimentação da população palestina dentro do território e
entre este e Israel seria monitorada por checkpoints (postos militares) — localizados em Área B
—, compostos pelas burocracias israelense e da AP. Israel, desta forma, manteve o controle
sobre todas as fronteiras dos territórios palestinos, assim como o espaço aéreo e os aquíferos
subterrâneos.
Blindados comprados pela PM de São Paulo para reprimir periferias e protestos. Vendidos por Israel, cada um custou
R$ 5 milhões, o equivalente a cem casas populares
As questões econômicas do acordo foram de nidas no Protocolo de Paris, assinado em 1995. O
orçamento da Autoridade Palestina seria formado pelo repasse israelense de impostos
coletados nestas zonas autônomas palestinas e pela ajuda nanceira internacional. A gestão da
economia dos TPO seria partilhada com as instituições nanceiras internacionais, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Seguindo o receituário neoliberal vigente e
impulsionado pelas milionárias doações externas, os TPO experimentaram uma falsa sensação
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de desenvolvimento econômico. Entre 1995 e 1999, os TPO tiveram um crescimento acumulado
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do PIB ANÁLISES
de 82% (Banco RESENHAS
Mundial, 2015). EVENTOS
Durante as negociações políticas, entretanto, Israel manteve a colonização dos territórios
palestinos. Nos sete anos de Oslo, a população de colonos judeus na Cisjordânia cresceu 91%,
chegando a um total de 195 mil nos TPO, excluindo Jerusalém Oriental (GORDON, 2008, p. 193).
Após o fracasso das negociações de status nal de Camp David, em 2000, seguido pela erupção
de uma nova revolta popular palestina, a Segunda Intifada (2000-06), os TPO mergulharam em
uma crise política, econômica e social. A insatisfação da população palestina, assim como a
responsabilidade para o fracasso do processo de paz, voltaram-se desta vez para a incapaz AP
e, por extensão, para a comunidade internacional.
O cientista político israelense Neve Gordon (2008, p. 169-196) observa que o processo de Oslo
não foi concebido como uma retirada do poder soberano israelense, mas como uma
reorganização deste poder, possibilitando a manutenção da colonização dos territórios
palestinos, enquanto que a administração da vida da população ocupada foi terceirizada para a
AP. Dentro deste raciocínio, o aumento do número de colonos judeus nos TPO faz todo o
sentido. Essa reorganização promovida pelo processo de paz quebrou o contato direto entre a
população ocupada e a força ocupante. Durante todas as negociações, o Estado e as
corporações israelenses mantiveram o controle militar sobre todo o território palestino, assim
como a exploração dos seus recursos naturais, enquanto que a comunidade internacional teve
e continua a ter um papel central na sustentação e administração da ocupação israelense
mesmo após o fracasso dos acordos de paz.
Desde Oslo, 40 países e 20 agências multilaterais, incluindo agências da ONU, deram a sua
contribuição para governança, desenvolvimento e atividades humanitárias nos TPO. A
assistência internacional cresceu de 178,74 milhões de dólares, em 1993, para 2,011 bilhões de
dólares, em 2009 (TURNER, 2014). Desta forma, os palestinos viram a sua dependência
econômica transferida de mãos, passando para a da comunidade doadora internacional
(HEVER, 2010). Estes recursos internacionais aumentaram a desigualdade social e a percepção
de corrupção na sociedade palestina, além de in uenciar na democracia e em instituições
políticas e na resistência palestina, ao nanciar ONGs que adotam as agendas políticas de seus
investidores (FARSAKH, 2009). Como resultado, a economia palestina passou por um processo
de deterioração estrutural, inviabilizando qualquer possibilidade de desenvolvimento
econômico sustentável no médio e longo prazo. Desde a Segunda Intifada, a economia palestina
demonstra uma incapacidade estrutural de desenvolvimento (ROY, 1999). Segundo Hever
(2010), a economia israelense também só não entrou em colapso e o governo pode manter as
suas intervenções militares nos territórios ocupados durante a revolta palestina dos anos 2000
graças às maciças doações militares dos EUA.
Simultaneamente, os territórios palestinos tornaram-se um importante espaço para o
desenvolvimento de mecanismos e tecnologias de segurança, vigilância e controle social,
principalmente a partir da explosão da Segunda Intifada, nos TPO, e da Guerra Global ao Terror,
após o 11 de setembro de 2001. A capacidade israelense de capitalizar a sua “experiência de
laboratório” ao demonstrar estas tecnologias em uso nos con itos com os palestinos e seus
vizinhos árabes se tornou um importante fator de marketing dos produtos israelenses. A
aliança próxima entre Israel e os Estados Unidos abriu portas para o mercado global, como os
próprios Estados Unidos, o Canadá, a União Europeia, a China, o Brasil, a Índia e até mesmo
antigos inimigos, como a Rússia. No centro desta cooperação estavam os novos imperativos da
vigilância e controle social: como preventivamente identi car, seguir e destruir guerrilheiros e
terroristas que se escondem no meio da multidão. Segundo Graham (2011), estes
conhecimentos seriam utilizados tanto em Gaza e Bagdá, como nas ações de contraterrorismo,
segurança de fronteira e segurança nacional nos EUA, em Israel e em todo Ocidente. O autor
avalia que essa exportação da experiência israelense estaria “palestinizando” diversas regiões
do mundo como, por exemplo, o Iraque ocupado pelos EUA. Não é de espantar que os EUA
aumentaram a sua ajuda militar a Israel para 3,8 bilhões de dólares neste ano.
Além de impedir que a economia palestina entre em total colapso através das continuadas
doações, as principais nações do mundo passaram a se bene ciar das tecnologias de segurança
desenvolvidas nos territórios palestinos, partilhando os seus lucros. O ativista e antropólogo
israelense Je Halper (2015) argumenta que o emprego dos mecanismos e tecnologias
israelenses pelas elites nacionais para o controle social e vigilância das suas próprias
populações tornou interessante a perpetuação da ocupação israelense dos territórios
palestinos. Desta forma, nas últimas décadas, a exportação de armas e outros dispositivos de
guerra passou a ocupar uma centralidade cada vez maior na diplomacia israelense. Quando
Netanyahu a rma do palanque da ONU que uma nova era para Israel está chegando, é porque
sabe que há uma rede que internacional que sustenta e tem interesse na manutenção da
ocupação dos territórios palestinos.
Referências Bibliográ cas
FARKSAH, Leila. From Domination to Destruction: The Palestinian Economy under the Israeli
Occupation. In: OPHIR, Adi; GIVONI, Michal; HANAFI, Sari (Orgs.). The power of inclusive
exclusion: anatomy of Israeli rule in the occupied Palestinian territories. New York: Zone
Books, 2009. p. 379-404.
GORDON, Neve. Israel’s Occupation. Berkeley: University of California Press, 2008.
. Israel’ emergence as homeland security capital. In: ZUREIK, Elia; LYON, David; ABU-LABAN,
YASMEEN. Surveillance and Control in Israel/Palestine: population, territory, and power.
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London and New York: Routledge, 2011. p. 153-170
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GRAHAM, Stephen. Laboratories of war: surveillance and US-Israeli collaboration in war and
security. In: ZUREIK, Elia; LYON, David; ABU-LABAN, YASMEEN. Surveillance and Control in
Israel/Palestine: population, territory, and power. London and New York: Routledge, 2011. p.
133-152
HALPER, Je . War Against the People: Israel, the Palestinians and Global Paci cation. Pluto
Press, 2015.
HEVER, Shir. The Political Economy of Israel’s Occupation: Repression Beyond Exploitation.
New York: Pluto Press, 2010
ROY, Sara. De-development revisited: Palestinian economy and society since Oslo. Journal
of Palestine studies, v. 28, n. 3, p. 64-82, 1999.
TURNER, Mandy. The Political Economy of Western Aid in the Occupied Palestinian Territory
Since 1993. In: TURNER, Mandy; SHWEIKI, Omar. Decolonizing Palestinian Political Economy:
De-development and Beyond. Springer, 2014.
WORLD BANK. World Bank national accounts data, and OECD National Accounts data les,
2015. Disponível em: < http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG?
end=2015&locations=PS&start=1961&view=chart>. Acesso em: 6 de outubro de 2016.
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Bruno Huberman é jornalista e doutorando em Relações Internacionais pelo
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